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Nome : Evandro Silva Frias Garcia

O caráter crítico da filosofia


Abílio Azambuja

I. O que é a filosofia?
Sempre que vamos estudar alguma disciplina, a primeira coisa que fazemos é procurar
saber o que é aquilo que vamos estudar. O mesmo se passa com a filosofia. Mas nesse momento
surge um problema: explicar o que é a filosofia. Quando estudamos matemática, economia ou
biologia, por exemplo, já sabemos desde o início, ou pelo menos já temos uma idéia
aproximada, daquilo acerca de que essas ciências tratam: a matemática lida com números,
enquanto a economia estuda as relações econômicas e a biologia estuda os seres vivos. Em
outras palavras, isso significa que cada uma dessas ciências é definida em função do setor de
objetos que lhe diz respeito. A realidade como um todo pode ser dividida em diferentes setores
de objetos, os quais, por sua vez, podem se tornar temas de investigação científica1. Segue-se
que sabemos o que é a matemática porque sabemos quais são os objetos que ela estuda, da
mesma forma que sabemos distinguir perfeitamente um problema de biologia de um problema
econômico. Sabemos que a botânica estuda as plantas e a física estuda os fenômenos da matéria,
e jamais confundiríamos um problema jurídico com um de medicina. Entretanto,
diferentemente, a filosofia não é definida por um determinado setor de objetos.
Poderíamos começar buscando uma série de definições de filosofia, preferencialmente
aquelas fornecidas pelos próprios filósofos − Kant, Hegel, Aristóteles, Nietzsche, etc. O
problema é que encontraríamos definições, à primeira vista, muito diversas. Nesse estágio
inicial de contato com a filosofia dificilmente podemos perceber uma característica fundamental
que costure todas essas definições e reúna as diferentes reflexões dos diferentes filósofos em
uma única classe, a filosofia propriamente dita. Deveria haver, contudo, uma característica
fundamental e comum que diferenciasse a reflexão filosófica dos outros setores do saber.
Poderíamos também começar pela discussão de temas filosóficos. Esse é um bom
caminho, não resta dúvida, pois somente o estudo demorado dos problemas com os quais se
ocupou a filosofia, desde o seu surgimento na antiga Grécia até os dias de hoje, pode propiciar
uma adequada introdução ao tipo de reflexão e de discurso essencialmente filosóficos. Por outro
lado, tendo em vista que um questionamento filosófico pode ser aplicado nas mais diferentes
áreas do conhecimento humano, do direito à matemática, passando pela lingüística e até mesmo
pela medicina, é importante que tenhamos uma noção inicial daquilo que caracteriza
essencialmente esse questionamento. Precisamos saber o que torna a filosofia propriamente
filosofia, e não sociologia, história ou direito, mesmo quando o questionamento filosófico se
dirige para cada umas dessas disciplinas.
O filósofo alemão Ernst Tugendhat nos indica o caminho que possibilita compreender a
diferença entre a filosofia e as ciências positivas.
“O que se dá previamente numa ciência é apenas o âmbito de objetos. Em contrapartida,

1
Conforme Heidegger, Ser e Tempo, p. 35.

1
na filosofia não pensamos num âmbito determinado de objetos, mas num modo de saber
ou de questionar, portanto, numa determinada atividade”2.
O que caracteriza a filosofia é ser um modo de questionamento, uma determinada
postura com a qual podemos nos colocar diante dos conhecimentos científicos em geral, das
ações humanas e normas que as regulam, dos conceitos fundamentais das diferentes ciências, da
arte, da cultura, da religião, etc. Mas o que é esse modo característico de questionar? Como se
dá o questionamento genuinamente filosófico? Resposta: a filosofia é pensamento crítico.
“A filosofia, ao contrário do saber científico, dirige um olhar crítico a qualquer hipótese
ou princípio (inclusive sobre si mesma). Trata-se, assim, de um pensar radical. Não
apenas porque não aceita nenhuma afirmação ‘porque sim’, mas porque revisa e discute,
em cada caso, as razões que pretendem justificá-las. Em filosofia, qualquer afirmação é
suscetível de reflexão e revisão. Em cada caso será preciso explicitar e debater
hipóteses, conseqüências, implicações. É assim que se manifesta seu caráter
essencialmente crítico”3.
A filosofia revisa e discute as razões, busca as conseqüências, não aceita afirmações não
justificadas. Questionar criticamente é perguntar pela legitimidade, pelos limites de validade e
pela fundamentação de alguma coisa. Esse questionamento pode ser direcionado para qualquer
âmbito do saber em geral, dos conhecimentos científicos às máximas do senso comum. Das
ciências sociais às ciências exatas, passando pelas ciências da natureza e pelo estudo das artes,
toda disciplina pode ser abordada conforme uma perspectiva filosófica. Quando perguntamos
pela legitimidade, pelos limites e pela fundamentação dos conhecimentos e dos métodos de uma
disciplina estamos fazendo filosofia. É importante observar, contudo, que não estamos diante de
três perguntas distintas e independentes. Verificar a legitimidade de uma lei, por exemplo, só é
possível através de uma fundamentação, isto é, de um esclarecimento dos princípios jurídicos
fundamentais em que essa lei se baseia. Essa investigação, por sua vez, vai simultaneamente
determinar, se existirem, os limites de validade e de aplicabilidade dessa lei.

II. A positividade do caráter crítico da filosofia


Desconfiar de tudo aquilo que é simplesmente dado e costuma ser aceito como um
pressuposto é um elemento fundamental do questionamento filosófico. A indiferença diante da
realidade, inversamente, indica um estado de espírito acrítico, não questionador. De fato, é
muito mais fácil, pelo menos inicialmente, aceitar a realidade da forma como ela nos é dada.
Agimos e pensamos de determinada forma simplesmente porque sempre se pensou e agiu
assim4. Nós nos agarramos a opiniões prontas porque elas, supostamente, nos fornecem
segurança, na medida em que nos dão a impressão de que nossas idéias e nossas ações são
previsíveis e, conseqüentemente, são as mais adequadas. Esse modo impessoal de pensar e agir
é um conjunto de regras e expectativas de ação que aceitamos, pelo menos em um primeiro
momento, sem maiores questionamentos. Mas será que a forma mais adequada de agir e pensar
é mesmo o modo como sempre se agiu e pensou?
Quando seguimos costumes e regras preestabelecidas nem sempre percebemos que

2
Tugendhat, E. Lições Introdutórias à Filosofia Analítica da Linguagem, p. 28, grifo meu.
3
Cerletti, A.A. & Kohan, W.O. A Filosofia no ensino médio, p. 25.
4
Conforme Heidegger, Ser e Tempo, cap. 4.

2
esses costumes e regras são, em grande medida, arbitrários e contingentes. Usualmente, a
realidade nos é apresentada, não somente pelas ciências mas também pelo senso comum, a
partir de um único ponto de vista, como se somente essa perspectiva fosse possível, como se
nada muito diferente pudesse nem mesmo ser concebido. O olhar crítico da filosofia torna
visível o que está oculto nos modos de agir e pensar em meio aos quais estamos desde sempre
inseridos e, por conseguinte, possibilita que eles sejam questionados, avaliados e transformados.
Descobrir falhas nos conhecimentos e métodos das ciências, assim como descobrir injustiças
nas leis, exige que reconheçamos essas falhas e injustiças, o que, por sua vez, implica um
trabalho intelectual, teórico e sistemático, de determinação de critérios e avaliação segundo
esses critérios. Nossos modos de pensar e agir só podem ser modificados se forem antes
questionados, se tiverem sua legitimidade e seus limites de validade postos em questão – isto é,
se forem criticados. O filósofo francês Michel Foucault, ao esclarecer o significado da palavra
crítica, indica o seu caráter positivo.
“Uma crítica não consiste em dizer que as coisas não estão bem como estão. Consiste
em ver sobre que tipo de evidências, de familiaridades, de formas de pensar adquiridas e
não pensadas repousam as práticas que se aceitam. (...) O pensamento existe aqui, muito
mais além ou mais aquém dos sistemas e das construções discursivas. É algo que se
esconde com freqüência, mas que anima todos os comportamentos cotidianos. (...) A
crítica consiste em fazer sair este pensamento e tentar mudá-lo: mostrar que as coisas
não são tão evidentes quanto parecem, procurar que o que se aceita como evidente já
não seja tão evidente”5.
A filosofia tem, de início, um caráter negativo, na medida em que começa colocando em
questão tudo o que sabemos (ou que pensávamos saber). Por outro lado, tem também um caráter
positivo que se revela na possibilidade de transformar os valores e as idéias predominantes que,
a partir do momento em que são questionados, podem ser modificados. O lado positivo da
postura crítica da filosofia consiste na possibilidade de construir novos valores e idéias. Mas
não resta dúvida de que essas novas formas de pensar, num segundo momento, serão também
colocadas em dúvida e questionadas.
A positividade do questionamento filosófico, contudo, somente se concretiza se for
adotado, juntamente com o olhar crítico, um procedimento investigativo sistemático, metódico,
causal e lógico:
Sistemático na medida em que procura estabelecer as relações mútuas entre diferentes aspectos
de um problema e entre diferentes problemas.
Metódico, porque é um caminho ordenado, que pretende obter seus resultados procedendo
segundo critérios e evitando possíveis erros.
Causal, porque busca as causas, no sentido daquilo que torna possível e determina que uma
coisa seja o que é e como é (os primeiros princípios).
Lógico, porque obedece a certos princípios lógicos, isto é, pretende basear-se em argumentos
válidos e evitar contradições.
A filosofia estabelece conexões e distinções entre diferentes contextos e diferentes objetos
porque possui uma visão de conjunto que é perdida pelas ciências positivas, na medida em que
estas restringem a sua investigação a setores delimitados da realidade. A filosofia nos fornece
5
Foucault, citado por Cerletti & Kohan, p. 92.

3
instrumentos tanto para criar, utilizar e julgar critérios de avaliação, quanto para analisar e
avaliar argumentos, de forma que possamos reconhecer e evitar raciocínios que levem a
conclusões erradas ou indevidamente justificadas. Podemos, dessa forma, distinguir razões
efetivas, devidamente fundamentadas e válidas, de falsas razões e discursos puramente
retóricos6.
Em suma, a filosofia utiliza procedimentos racionais para tratar dos problemas que
aborda, é sempre e necessariamente uma reflexão racional. Segue-se que fazer filosofia não é
apenas desconfiar de tudo, levantar questões, colocar em dúvida princípios e normas. Fazer
filosofia é mostrar por que se duvida de algo, por que as questões são levantadas, por que tais
princípios e regras devem ser colocados em dúvida. O questionamento crítico, para ser
essencialmente filosófico, exige a sua própria fundamentação através de argumentos racionais,
claros, inteligíveis e fundamentados.
A filosofia, é importante observar, em função do seu próprio caráter crítico,
freqüentemente se volta sobre si mesma e faz perguntas como: quais são os limites entre o
racional e o irracional? A realidade pode ser totalmente abarcada em princípios racionais?
Procedimentos metódicos rigorosos são necessariamente o melhor caminho para se chegar a
conhecimentos novos e seguros? Quais os limites do princípio da contradição? O que
fundamenta o princípio da causalidade? Devemos aceitar sem mais o princípio segundo o qual
tudo o que acontece tem uma causa? Até que ponto esse princípio é legítimo? O que significam,
afinal, as palavras verdade, causa e razão?
Por outro lado, as respostas a essas perguntas, sejam quais forem, têm de ser
fundamentadas, justificadas. Se é verdade que a aplicabilidade do princípio da contradição tem
limites, é necessário expor e justificar esses limites, se é verdade que o princípio da causalidade
não tem um fundamento legítimo, deve-se explicar o porquê, e assim por diante. Toda crítica
deve ser fundamentada em razões. Somente dessa forma o questionamento crítico, inclusive nos
momentos em que se dirige para a própria filosofia, pode ser considerado genuinamente
filosófico.

III. Qual a utilidade da filosofia?


Quando o assunto é filosofia, uma questão recorrente é aquela acerca da sua utilidade,
posto que, decorridos mais de 2500 anos, os filósofos ainda não foram capazes de responder
definitivamente a uma série de perguntas feitas pela primeira vez na antiga Grécia. Essa
afirmação, entretanto, precisa ser atentamente examinada. Precisamos investigar por que a
filosofia não apresenta respostas conclusivas para as questões por ela mesma elaboradas.

6
Retórica: arte de utilizar a linguagem em um discurso persuasivo, por meio do qual visa-se convencer
uma audiência da verdade de algo. Técnica argumentativa, baseada não na Lógica, nem no conhecimento,
mas na habilidade em empregar a linguagem e impressionar favoravelmente os ouvintes. Conforme
Japiassú, H. & Marcondes, D. Dicionário Básico de Filosofia. Jorge Zahar Editor, RJ, 1996. Note-se,
entretanto, que a palavra retórica pode significar também um conjunto de regras cujo objetivo é tornar
mais clara a expressão dos argumentos. Nesse sentido, evidentemente, a retórica não é apenas um
instrumento para convencer os outros sem que tenhamos boas razões para sustentar nossas posições.
Podemos diferenciar, portanto, uma boa retórica de uma má retórica. Formular argumentos e teorias com
clareza, precisão e criatividade é o objetivo da boa retórica. (Conforme Murcho, Desidério. Limites do
papel da lógica na filosofia. Artigo publicado na Revista Filosófica de Coimbra, número 14, 1998,
disponível em www.criticanarede.com).

4
Em primeiro lugar, devemos examinar o significado da palavra ‘utilidade’. Perguntar
pela utilidade da filosofia é o mesmo que perguntar para que serve a filosofia. Segundo o
filósofo francês Gilles Deleuze,
“os ‘para quê’ são vistos quase que exclusivamente sob o prisma da utilidade imediata,
ou da produtividade mercantil e do benefício econômico. Esta grosseira utilidade regula
os ‘para quê’, que devem ser medidos, quantificados e, sobretudo, rentáveis. (...) Neste
contexto, as escolas trabalham, predominantemente, para que possam melhor satisfazer
os ‘para quê’ socialmente reconhecidos; para que aqueles que passam por suas aulas
possam inserir-se ‘melhor’ na sociedade e em suas leis de mercado. Para que ‘saibam
escolher’ o que na verdade já foi escolhido por eles”7.
Será que é mesmo segundo esses critérios, que determinam o que é útil em função da
eficácia para a obtenção de resultados imediatos, que devemos avaliar a utilidade da filosofia?
Ou, inversamente, não será que a filosofia serviria justamente para questionar esses critérios de
avaliação? A filosofia não pode ser avaliada em função dos mesmos critérios de produtividade e
eficácia que servem de parâmetro, de um modo geral, para atestar o sucesso das engenharias, da
informática ou da medicina.
A filosofia, compreendida como pensamento crítico, é uma atividade constante, um
caminho a ser percorrido, constituído sobretudo por perguntas que são mais essenciais do que as
suas possíveis respostas. Por sua própria natureza, a filosofia transforma cada resposta em uma
nova pergunta, na medida em que o seu papel é questionar tudo o que é pressuposto ou
simplesmente dado. Por isso, costuma-se dizer que as perguntas, para o filósofo, são mais
importantes do que as respostas. Segundo Deleuze,
“O que pode acontecer de melhor a muitas perguntas é não poderem ser respondidas
definitivamente. Com outras perguntas, é a única coisa possível de acontecer. Porque
são inesgotáveis ou, simplesmente, porque sua maior razão encontra-se na pergunta que
propõem. E, embora se pretenda esgotá-las, como se se quisesse acabar com uma
irreverente doença, reaparecem de vez em quando em lugares diferentes”8.
O caminho aberto pela filosofia, portanto, é marcado sobretudo por debates e
controvérsias, e não por unanimidades e certezas. O método é a discussão das teorias propostas
para resolver os problemas, a formulação de argumentos e a análise dos argumentos
apresentados para atacar e defender essas teorias. Agora podemos ver com clareza por que
filósofos diferentes podem oferecer definições tão diferentes da filosofia, e também por que as
investigações filosóficas são freqüentemente inconclusivas: o problema de definir a si própria,
assim como o fato das suas investigações não chegarem a resultados universalmente aceitos,
indica algo da própria essência da filosofia – seu caráter crítico.
A filosofia, desde as suas origens gregas, foi sempre um instrumento de crítica e
reflexão acerca dos mais variados setores do mundo humano: as ciências, as leis, as instituições,
as práticas sociais e econômicas, a organização política. Para que serve, então, a filosofia? Cito
a filósofa brasileira Marilena Chauí:
“Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil; se não se
deixar guiar pela submissão às idéias dominantes e aos poderes estabelecidos for útil; se

7
Deleuze, citado por Cerletti & Kohan, p. 99.
8
Deleuze, citado por Cerletti & Kohan, p. 98.

5
buscar compreender e significação do mundo, da cultura e da história for útil; se
conhecer o sentido das ações humanas nas artes, nas ciências e na política for útil; se dar
a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para serem conscientes de si e de suas
ações numa prática que deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil, então
podemos dizer que a Filosofia é o mais útil de todos os saberes que os seres humanos
são capazes”9.

IV. Ciência e Filosofia


Uma das críticas mais freqüentes à filosofia provém da comparação dos seus resultados
com os resultados das ciências, especialmente aquelas que obtiveram, nos seus respectivos
domínios, conhecimentos universalmente aceitos e baseados em princípios seguros e
fundamentados. Mas qual a diferença entre ciência e filosofia? A filosofia é ou não é uma
ciência?
Se considerarmos a palavra ciência no sentido lato de um conjunto de conhecimentos
metodicamente adquiridos e reunidos em uma unidade coerente, a filosofia é uma ciência. A
distinção entre ciência e filosofia surge se considerarmos que um tal conjunto de conhecimentos
só pode ser considerado uma ciência se possuir resultados universalmente aceitos e confirmados
por métodos de verificação definidos (ainda que possam eventualmente ser refutados e
substituídos por outros)10. Isso porque a filosofia não é nem uma ciência empírica, cujos
resultados podem ser confirmados experimentalmente, tampouco é puramente formal, como a
matemática, cujos resultados são comprovados por métodos definidos universalmente.
O trabalho das ciências pressupõe o trabalho da filosofia, tanto pelo caráter crítico que
estimula a investigação científica quanto pela definição de conceitos básicos com os quais as
ciências trabalham, nos mais variados setores. A definição dos conceitos de número, de
causalidade, de verdade, de justiça, de significado, entre outros, são problemas filosóficos.
Enquanto o físico lida com as equações de movimento como se o tempo e o espaço fossem
coisas simplesmente dadas, o filósofo pergunta: o que são o tempo e o espaço? O que torna
possível o conhecimento humano acerca do tempo e do espaço? Similarmente, enquanto o
jurista investiga o que um determinado sistema estabelece como direito, o filósofo pergunta: o
que é o direito do ponto de vista universal? O que caracteriza uma norma como uma norma
justa? A filosofia investiga os pressupostos e as condições de possibilidade das ciências
particulares.
“(...) em todos os campos da investigação, as pessoas procuram o conhecimento. Mas é
em filosofia que se pergunta o que é o conhecimento, ou sequer se tal coisa é possível.
Tais questões pertencem ao ramo da filosofia chamado epistemologia. Em alguns
domínios, na economia e na política, por exemplo, estudam-se as conseqüências causais
de diversas ações e políticas. Em filosofia, pergunta-se quais são as características
gerais que tornam as ações e as políticas justas ou injustas. Tais questões pertencem ao
domínio da ética. Finalmente, críticos, literatos, compositores e artistas perguntam se
um certo objeto é uma obra de arte. Os filósofos preocupam-se com a questão mais
geral de saber o que torna uma certa coisa um objeto de arte. Estas são as questões da

9
Chauí, M. Convite à Filosofia, p. 18.
10
Conforme distinção feita por Reale, M. Filosofia do Direito, p. 13.

6
estética (...)
A filosofia é o lugar de acolhimento dos problemas intelectuais com os quais as outras
disciplinas são incapazes de lidar. Em conseqüência disso, está cheia do interesse
intelectual da controvérsia e da disputa que têm lugar nas fronteiras da investigação
racional”11.

V. Conclusão
Dizer que a filosofia não se caracteriza em função de um setor determinado de objetos
não significa que a filosofia não tenha objetos no sentido de temas com os quais ela se ocupa.
Os conceitos fundamentais utilizados nas diferentes ciências, nas artes, e até mesmo na nossa
vida cotidiana são estudados pela filosofia12. Por isso, costuma-se dizer que a filosofia é o
estudo dos primeiros princípios, isto é, princípios a partir dos quais outros saberes são
fundamentados ou justificados. Exemplos de primeiros princípios são os axiomas da geometria
euclidiana, a declaração universal dos direitos humanos, os princípios lógicos da contradição e
do terceiro excluído, entre outros.
Pretender esvaziar a importância da reflexão filosófica porque depois de 2500 anos os
filósofos não chegaram ainda a conclusões definitivas é desconhecer a natureza dos problemas
com os quais a filosofia lida. O fato de não se ter até hoje um conceito definitivo de justiça, por
exemplo, não pode nem tornar dispensável a busca por tal conceito nem diminuir a importância
desse problema. É verdade que muitos dos problemas debatidos hoje são os mesmos que eram
discutidos na antiga Grécia. Mas é um erro pensar que tais problemas estão, hoje, no mesmo
ponto em que estavam no primeiro momento em que foram colocados. E, por fim, afirmar que
não é possível saber o que é a filosofia porque os filósofos não apresentam uma única definição
do seu próprio objeto de estudo é desconhecer a característica comum que costura toda a
investigação filosófica, desde a antigüidade grega – o caráter crítico.

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Bibliografia
Tugendhat, E. Lições Introdutórias à Filosofia Analítica da Linguagem. Editora Unijuí, Rio
Grande do Sul, 1992.
Heidegger, M. Ser e Tempo - vol. I. Editora Vozes, Petrópolis, 1997.
Chauí, M. Convite à Filosofia. Editora Ática, São Paulo, 2002.
Reale, M. Filosofia do Direito. Editora Saraiva, São Paulo, 1991.
Cerletti, A.A. & Kohan, W.O. A Filosofia no ensino médio. Editora da Universidade de Brasília,
Brasília, 1998.
Almeida, A., et alii. A Arte de Pensar. Didáctica Editora, Lisboa, 2003.

11
Cornman, Lehrer, Pappas, Philosophical Problems and Arguments: An introduction, New York,
Macmillan Publishing Co., 1982, in www.terravista.pt/aguaalto/5159/TextFil.htm).
12
Conforme Aires A., et alii, A Arte de Pensar, p. 11.

7
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