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Gabriel o Pensador, nome artístico de Gabriel Contino, filho da jornalista Belisa Ribeiro, é
um artista que segue caminhos diversos àqueles paradigmáticos à juventude pertencente à classe
média-alta brasileira: surfista e morador do bairro de São Conrado, por ter um grande convívio com
os moradores da favela da Rocinha, passou também a gostar de rap, ritmo musical da cultura hip-
hop norte-americana, transplantada com sucesso às terras tupiniquins1
Em Um garoto chamado Rorbeto, o autor narra a história de Rorbeto, um garoto de um
bairro periférico de alguma cidade que devido ao analfabetismo de seu pais teve uma letra de seu
nome colocada “fora do lugar”: a letra fora fora do lugar já antecipa o tema principal do livro, que
narra como Rorbeto lida com a alteridade, e mais ainda, como ele lida com o fato de ele se enxergar,
a determinada altura da obra, diferente.
Uma das maiores dificuldades humanas é justamente lidar com a diversidade, com as
diferenças do Outro; mais difícil ainda é quando nós somos o outro, o diferente, o “fora-do-padrão”.
Se em Drauzio e Procurando Firme os obstáculos a serem superados são os preconceitos da
sociedade retratados como externos aos protagonistas, em Retratos de Carolina já observamos uma
problematização da personagem principal e também um retrato de como a heroína se vê envolvida e
emaranhada nestes mesmos paradigmas psicossociais. Em Um garoto chamado Rorbeto o
paradigma ainda vigente no senso comum, de criança como símbolo de inocência e pureza é
questionado, ao retratar a personagem lidando com a questão das diferenças. O preconceito é
retratado por Gabriel o Pensador, não como algo externo à personagem, mas, antes como algo
intrínseco a natureza humana.
O convite ao universo do outro já se faz presente na capa da obra analisada: as mãos
retratadas na capa e contracapa do volume são as de Rorbeto quando adulto: notamos este detalhe
apenas se olhamos atentamente os detalhes da capa; já na capa está o recado de que para
percebermos e enxergamos o outro são necessárias muita atenção e disposição em enxergar o
significativo expresso nos detalhes.
A ilustração da obra ficou a cargo de Daniel Bueno, paulista, ilustrador e designer gráfico,
formado na FAU-USP e ilustrador de outra obra infantil, O pequeno fascista, de Fernando Bonassi.
1
MARCONDES, Marcos Antônio. (Ed.). Enciclopédia da música Brasileira - erudita, folclórica e popular. 3. ed. São
Paulo: Arte Editora/Itaú Cultural/Publifolha, 1998.
ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira - Criação e Supervisão Geral
Ricardo Cravo Albin. Edição: Instituto Antônio Houaiss, Rio de Janeiro, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora
Paracatu, 2006.
O livro, em linhas gerais, conta a história de Rorbeto desde seu nascimento, registro (e o
fatídico deslocamento o erre em seu nome), sua infância pobre, a descoberta de que havia um dedo
a mais em sua mão direita, a vergonha e tentativa de ocultá-lo e, ao final da narrativa, a aceitação de
sua peculiaridade.
3.2.2.2. Prólogo
3.2.2.3. Narrativa