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Mauro Santos 09
Acto Terceiro
CENA XII
(Modificada)
D. JOÃO DE PORTUGAL, TELMO, MANUEL DE SOUSA, MARIA e
MADALENA
Nessa mórbida e escura noite D. João e Telmo entram na igreja. No breu vêem-se
as faces constritas de D. João e Telmo, quais máscaras que se desvanecem pela luz dos
bastões.
D. JOÃO
MANUEL DE SOUSA
TELMO
MARIA
- Meu pai, que fazes? Como grande Português, amado e respeitado pelo povo,
decerto D. João te perdoará.
MANUEL DE SOUSA
MARIA
1
- Para onde ides?
MANUEL DE SOUSA
- Vou com vossa mãe para a floresta, no escuro ninguém nos poderá ver. Tu
ficas aqui, na igreja ninguém te faz mal.
MARIA
Em hora oportuna D. Madalena e Manuel de Sousa saem pela porta das traseiras
da igreja, evitando o confronto.
Bernardina Moreira 03
Acto Quarto
Na intensa escuridão da noite, já no meio da grande floresta que ficava nas
traseiras da Igreja de S. Paulo dos Domínicos d’Almada, estavam, agora a sós, D.
Manuel de Sousa e D. Madalena.
Com a ajuda de Telmo, tinham conseguido sair da igreja e montados em dois
cavalos, que haviam sido antecipadamente preparados pelo mesmo. A galope
embrenharam-se floresta adentro.
CENA I
MANUEL DE SOUSA, MADALENA
(Madalena nada disse durante os primeiros minutos de fuga, mas de repente pára o
seu cavalo ….)
MADALENA
(…aflita …)
- Manuel…. e nossa filhinha…?
MANUEL DE SOUSA
- Bem sei o que quereis dizer, minha Madalena!... (silêncio) Que Deus nos
perdoe… mas agora não poderá ir connosco!
MADALENA
(Em grande ansiedade)
- Mas … Oh meu Deus! Eu não conseguirei viver sem o nosso anjo! Não
Manuel … por Deus não!
2
MANUEL DE SOUSA
MADALENA
(ainda inquieta)
MANUEL DE SOUSA
(tentando calmá-la)
MADALENA
- Que assim Deus queira também, Manuel de Sousa, meu amado marido!
Quando virá a tranquilidade?
Jorge Bernardo 17
CENA II
Manuel de Sousa e Madalena, após longas horas de cavalgada pela gélida noite,
atravessando a neblina, mais não viam que os vultos e sombras fantasmagóricos das
árvores que sobre as suas cabeças se debruçavam. Era seu objectivo alcançar uma
esquecida cabana de caça onde outrora El-Rei D. Sebastião pernoitava nos tempos em
que por aquelas bandas caçava. Até que de repente…
3
MADALENA
(Ofegante e seguindo atrás de Manuel de Sousa.)
- Manuel, Manuel…meu adorado marido, amor da minha vida. Não posso
mais…não posso mais…o cansaço não me permite seguir-vos e o desgosto apodera-
se do meu coração…parai…parai.
MANUEL DE SOUSA
(Preocupado e também exausto.)
- Minha doce madalena, perdoais o esforço que vos faço passar. Já não
faltará muito para alcançar a cabana mas já vai sendo hora de dar descanso aos
nossos corpos e aos pobres cavalos. Paremos aqui. (Manuel de Sousa e Madalena
apeiam-se das montadas, junto a um riacho onde os cavalos aproveitam para saciar
a sede.)
MADALENA
(Aproximando-se de Manuel e segurando-lhe na mão…)
- Manuel, meu marido, meu coração enegrece ao pensar no nosso anjo que
para trás ficou sem mãe… sem pai… sem ninguém…apenas com o bom e fiel
escudeiro…nosso Telmo…Oh meu Deus…que desgosto…
MANUEL DE SOUSA
- Sei o que sentes minha adorada esposa…mas sossegai…ela está em boas
mãos…nosso Telmo tomará bem conta do nosso anjo e… (Pára de repente e
assustado sussurra) Calai-vos mulher…parece que não estamos sós…
MADALENA
(Abraçando o marido e com grande ansiedade…)
- Que foi Manuel…que foi meu amor? …(À sua frente no meio da densa
vegetação surge aos poucos diante dos seus olhos, um vulto à mediada que a neblina se
dissipa)
MANUEL DE SOUSA
(Assustado e de tom forte)
- Quem vem lá…quem vem lá?...respondei ou trespassar-vos-ei com a
minha espada!
MADALENA
(Recolhida atrás de seu marido.)
- Manuel…Manuel…que piores males ainda nos esperam?... Que nos
esconde este Destino adverso?
EREMITA
(Mostrando-se ao pouco luar existente na noite escura, surge diante dos olhos
de Manuel e de Madalena, um homem de vestes longas e cinzentas tal como as barbas
que lhe emolduravam o rosto. Na mão um cajado que o apoiava nos seus passos
inseguros à medida que se aproximava de ambos)
- Acalmai-vos nobres senhores. Que todos os males que vos surjam sejam
iguais a estes que vos trago!
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MANUEL DE SOUSA
(Hesitando…)
- Quem sois vós?... (…protegendo Madalena atrás de si.)
EREMITA
- Alguém que como vós se refugiou na escuridão da floresta…não receeis…
sou um pobre homem que aqui vive há muitos anos… isolado… e de quem o
mundo já se esqueceu…em mim não existem más intenções…e vós nobre senhor,
acompanhado de tão frágil dama…o que fazeis nesta floresta…precisais de
auxílio?...
MANUEL DE SOUSA
(Mais tranquilo mas ainda hesitante…)
- Eu e minha esposa parámos para descansar e dar de beber aos cavalos…é
nossa intenção alcançar uma cabana de caça outrora refúgio de El-Rei D.
Sebastião…sabeis onde fica?...
EREMITA
- Sim eu sei onde fica, meu nobre homem… esse esquecido refúgio que vós
procurais tem servido de abrigo a esta pobre alma que aqui vedes diante de vossos
olhos…sossegai que estamos perto…se ainda assim o quiserdes é de bom grado que
vos acolherei.
MADALENA
(Assustada e falando baixo.)
- Manuel…Manuel…receio por nós…
MANUEL DE SOUSA
- Madalena aquietai-vos senhora…que esta pobre figura mais não parece
que um velho honrado homem sem más intenções…
EREMITA
- Acompanhai-me senhores…segui-me…
MANUEL DE SOUSA
- Assim seja…indicai-nos o caminho… (Manuel ajuda Madalena a subir para
a sua montada e segura as rédeas de ambos os cavalos, seguindo, apeado, a par do
eremita, que entre a neblina e escuridão da noite vai indicando o caminho)
MADALENA
(Em tom baixo para Manuel de Sousa)
- Ainda falta muito meu amor? …
EREMITA
(Apercebendo-se da aflição de Madalena)
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- Sossegai nobre senhora…estamos perto…olhai!... (Madalena e Manuel
erguem seus olhos e vislumbram por entre o nevoeiro os contornos de uma sombria
cabana que surge no meio da vegetação)
MANUEL DE SOUSA
- Ali está…Madalena…olhai…
EREMITA
(num tom baixo…)
- Ali podeis descansar…e não vos preocupeis…a vossa filha…está bem!
(Madalena e Manuel olham atónitos um para o outro…)
Luísa Pinto 34
CENA III
MADALENA
(com voz muito tremida)
- Manuel. Oh, meu esposo! Meu fiel marido... por Deus! Levai-me,
levai-me de volta meu senhor, que não suporto esta essência, que me lembra
a nossa filhinha, que está sozinha, combalida e tão longe de seus pais. (deixa
cair a cabeça, soluçando) Talvez não viva para voltar a vê-los...
MANUEL DE SOUSA
MADALENA
MANUEL DE SOUSA
(Segurando a mão de Madalena.)
6
- Madalena, não o ouviu dizer-vos que nossa filha está bem?
MADALENA
(agarra também as mãos de Manuel)
- Mas quem é ele para que confie? De onde veio? Surgiu da névoa, no fim
da noite, vagueando como um espectro na escuridão. Só as barbas
mostrou por descuido, e a sua voz dissimulada, denunciava medo em ser
reconhecido. E se tem vivido aqui... como pôde ele saber?
MANUEL DE SOUSA
MADALENA
EREMITA
(Completamente enterrado na sua capa, aproxima-se em passo ritmado)
MANUEL DE SOUSA
EREMITA
(Sem se afectar com a arrogância de Manuel)
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(Ainda mais confusos, Manuel de Sousa e Madalena saem da cabana atrás do
Eremita, sem ousar discutir a ordem do Eremita.)
OFÍDIA
(Perante o som de passos demanda com a sua voz rouca.)
EREMITA
- Sou eu, o Eremita, cara Ofídia, comigo trago duas pessoas que precisam da
sua ajuda.
OFÍDIA
MADALENA
(soluçando)
- Temos uma filha muito doente, e de acordo com o Eremita o único sítio onde
poderíamos encontrar a cura seria aqui!
MANUEL DE SOUSA
(Reforçando as palavras proferidas por Madalena.)
- Sim, Sra. D. Ofídia haverá alguma hipótese de cura para a nossa filha?
OFÍDIA
(Após escutar pormenorizadamente todos os detalhes da doença de Maria.)
- Creio que sim, existe ainda uma réstia de esperança para a vossa filha Maria,
existe uma planta muito rara que se encontra para além desta floresta num
pântano inóspito. Se conseguirdes encontrá-la, talvez seja possível fazer uma poção
para a curar.
MANUEL DE SOUSA
(Arranjando-se prontamente e escutando todos os detalhes sobre a planta e o local
onde esta se situava)
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- Partirei já, Madalena aguardai por mim que voltarei brevemente com os
ingredientes da cura para a nossa Maria!
MADALENA
(Receosa de que algo acontecesse a Manuel.)
(Manuel de Sousa partiu então em busca da tal planta na qual residia a única
esperança de salvação de Maria)
MANUEL DE SOUSA
(Já na floresta, uma mão invisível cravara-se funda no seu ombro…)
DR. MEDO
- Eu sou aquele outro a quem vós outros chamais Medo! Estou aqui para vos
dificultar a vida, para encarecer o que procurais com tanto afinco! Ah, ah, ah, ah,
ah, ah…
(A mão soltou-se mas dor funda permanece! Com dificuldade continuou a viagem
resoluto.)
Sandra Féria 26
CENA V
MANUEL DE SOUSA
DR. MEDO
– Foi só uma partida que te quis fazer… Ah, ah, ah, ah, ah, ah…
–
9
MANUEL DE SOUSA
DR. MEDO
- Ah, ah, ah… Ainda agora começou… E para chegares à planta ainda vais
ter que ultrapassar mais obstáculos… E se conseguires ai sim vais obter o que
quereis. Vamos ver até onde consegue ir a tua coragem, Ah, ah, ah, ah, ah, ah…
MANUEL DE SOUSA
MANUEL DE SOUSA
- Sai daí… Vais ferir o meu cavalo! (Manuel de Sousa pára sai do cavalo e
luta com o lobo ficando ferido num braço, mas vence-o e prossegue o seu caminho.)
DR. MEDO
MANUEL DE SOUSA
- Porque me fazeis isto? Porque quereis tirar a vida a uma pobre criança?
DR. MEDO
MANUEL DE SOUSA
- Pois ficai a saber que medo não tenho nenhum. E pela minha rica filha sou
capaz de tudo…
DR. MEDO
MANUEL DE SOUSA
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- Esta é a planta que vai salvar a minha filha!!! Olha, sinto-me leve! O que é
isto? Agora sinto-me a voar…
André Lopes 13
CENA VI
MANUEL DE SOUSA
- Mas que sensação é esta a minha? Além de me sentir leve, tenho forças
para enfrentar tudo e todos.
DR. MEDO
(Com ar sério.)
- Sim. É esta a planta que vai salvar tua filha. E essa sensação que por
agora estais passando é traiçoeira, não vos deixeis enganar por ela, pois continuais
o mesmo homem.
MANUEL DE SOUSA
(Depois de se recompor.)
DR. MEDO
MANUEL DE SOUSA
(Subindo para o seu cavalo.)
Cena VII
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TELMO PAIS
-Mas que estais vós aqui fazendo? Não sabeis que correis perigo se D. João
vos encontra?
MANUEL DE SOUSA
(Com grande ferocidade e bravura.)
-Agora não tenho tempo para pensar nisso. Estou mais preocupado com
minha filha. Ele que me mate, que me torture. Mas que ao menos me deixe curar
aquele pobre anjo.
D. JOÃO
(Passado um pouco, D. João entra no palácio e encontra D. Manuel.)
MANUEL DE SOUSA
(Manuel responde-lhe sem pestanejar.)
- Venho salvar a minha filha. E nem vós nem ninguém me impedirá de tal
feito.
- Dizei-me imediatamente onde ela está. Se é que tendes coração.
D. JOÃO
- Quereis salvar a vossa filha? Vós que a deixastes aqui e fugistes como um
cobarde.
MANUEL DE SOUSA
(Sem qualquer medo, desembainha a sua espada.)
TELMO PAIS
(Intervém, para tentar evitar este duelo.)
D. JOÃO
(A pedido de Telmo Pais, ele concede-lhe esse desejo.)
- Meu bom Telmo, como percebo a vossa preferência. Não sei por que me
fizestes voltar do meu caminho… Nunca conseguiria matar uma inocente! Esta é a
minha casa, contudo, Manuel de Sousa Coutinho, ide curar a vossa filha que eu já
não pertenço ao mundo dos vivos. Não quero que uma menina inocente morra por
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minha culpa. Mas, não vos esqueçais do desafio, D. Manuel. (Impondo um ar
autoritário e valente.) Por esse repto, há muito que espero!
Sandra Soares 27
CENA VIII
MANUEL DE SOUSA, TELMO PAIS E MARIA
TELMO PAIS
(Depois de conseguir acalmar os ânimos.)
MANUEL DE SOUSA
(Um pouco mais calmo e menos ansioso.)
TELMO PAIS
(Enquanto percorriam os corredores escuros e sombrios do palácio…)
MANUEL DE SOUSA
MARIA
(Acordando um pouco sobressaltada.)
- Meu pai…oh meu querido pai, és mesmo tu ou estou a sonhar? E a
senhora minha mãe?
MANUEL DE SOUSA
(Emocionado.)
- Não Maria, não estás a sonhar. Sou eu e vim salvar-te. Tua mãe encontra-
se bem, aguarda ansiosamente por notícias vossas.
- Meu bom Telmo, tomai este saco e ide rapidamente preparar um chá com
essas plantas. Mas Telmo, peço-te que te despaches e por favor não cheires as
plantas…por favor não te esqueças do que te peço! Agora vai, ligeiro… D. Maria
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encontra-se na flor da idade e precisa de ficar boa rapidamente, para poder viver
sua vida… precisa de começar a sair, a divertir-se, a ir para a desbunda. Ide...ide
Fernando Marques 15
CENA IX
TELMO PAIS
MANUEL DE SOUSA
(Introspectivo)
MARIA
(Contemplando assombrosamente Telmo.)
-Telmo, que tendes? Porque me olhais assim? Porque chamais pelo nome de
minha mãe?
TELMO PAIS
(Prolongando o olhar embevecido perante Maria.)
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Cena X
D. JOÃO
MANUEL DE SOUSA
(Reage enraivecidamente às palavras de seu adversário.)
D. JOÃO
- Mas que sortilégio vem a ser este, Manuel de Sousa? Como ousais utilizar
as artes obscuras para me vencer?
MANUEL DE SOUSA
VORIK
(Duende pendurado numa árvore do pátio. Observa o duelo com uma expressão
divertida, irónica e tresloucada.)
MANUEL DE SOUSA
(Indignado.)
-Então eras tu, infame criatura, quem estava a atrapalhar o nosso combate!
No entanto, foste-me útil ao informar-me da fuga da minha amada. (Virando-se
seguidamente para D. João)
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- Terminemos o duelo que tenho de socorrer a mulher da minha vida.
D. JOÃO
(Cabisbaixo, desarmado e com um olhar soturno.)
- Vou-me embora para não mais regressar. Dizei a Telmo que parti.
Cena XI
MADALENA, VORIK E MANUEL DE SOUSA
D. MADALENA
(Assustada, atrás de uma árvore na floresta, avista Manuel de Sousa.)
- Estou aqui meu amor! Aquele eremita queria obrigar-me a comer olhos de
esquilo, por isso fugi!
VORIK
(Novamente com um olhar de escárnio.)
Cena XII
MARIA, MADALENA, VORIK, MANUEL DE SOUSA E TELMO PAIS
(Manuel de Sousa e D. Madalena galopam apressadamente para o palácio.
Quando chegam, dirigem-se desesperadamente aos aposentos de Maria, onde se
deparam com Telmo a tentar beijar a menina, com um ar alucinado.)
TELMO PAIS
(Apaixonado.)
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MANUEL DE SOUSA
(Com um olhar enfurecido.)
- Telmo, que dizeis? (Com a cara cada vez mais vermelha de raiva.)
- Parai!
Paulo Fernandes 23
Cena XIII
MANUEL DE SOUSA
(Ainda irritado.)
TELMO PAIS
D. MADALENA
(D. Madalena furiosa por tal desaforo pede satisfações a Telmo.)
- Zombais com minha cara, com certeza… ainda nem há cinco minutos
tentáveis beijar Maria como se de mim se tratasse, difamastes o nome do teu
honrado amo e agora fingis que nada se passou?
TELMO PAIS
(Telmo ainda zonzo estava a ficar cada vez mais confuso.)
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MANUEL DE SOUSA
- Mas se não vos lembráveis de nada como vos lembrais do beijo? Não fomos nós
que o referimos?
- SEU PULHA!!!!!!!
(Telmo começa a correr e passa pelo meio de Manuel de Sousa e D. Madalena
empurrando-os contra a parede).
Acto Quinto
Após a discussão entre Telmo, Madalena e Manuel de Sousa estes últimos vão
assegurar-se que tudo está bem com Maria; ao aproximarem-se do seu leito ouve-se
um grito forte, de extrema agonia).
Cena I
MANUEL DE SOUSA e MADALENA
(Agora mais calmos questionam-se sobre o sucedido.)
MANUEL DE SOUSA
- Madalena ouviu?
D. MADALENA
- Ouvi sim… o que terá sido isto? Não julgais que possa ser…
MANUEL DE SOUSA
- Não! Ele seria incapaz disso… Mas depois do sucedido… já espero tudo.
- Vamos ver o que se passou? Maria ficará bem por uns instantes.
A procura não foi grande… depressa viram a correria para as ameis e lá estava
Telmo. Encontrava-se inerte, espalmado nas rochas que envolviam o palácio. A
vergonha tinha-o consumido e a solução por ele encontrada foi a morte… Agora como
companhia tinha apenas os corvos que da sua carcaça faziam um festim.
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Tiago Silva 12
Cena II
MADALENA
(Muito combalida.)
- Ah! Porquê meu Telmo? Tu que foste a chave do meu cofre. Tantas
confissões! Ai! Meu amor, porque acontecem todos estes infortúnios?
MANUEL DE SOUSA
MADALENA
- Não pode ser, meu amor! Não digais isso, por favor! Não poderia ser o
meu bom Telmo. Era incapaz de tal barbaridade. Não aceito tal cousa! O meu
Telmo? Não!!! (chorando fortemente)
MANUEL DE SOUSA
- Sabeis, meu amor, nem sempre as gentes são o que aparentam, existe
sempre algo que nós desconhecemos.
MADALENA
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Elisabete Faustino 04
Cena III
MADALENA, MANUEL DE SOUSA e MARIA
MANUEL
(Tomando as mãos de Madalena.)
- E Maria, nossa querida filha que é todo o gosto e ânsia da nossa vida.
Abençoou-nos Deus na formosura daquele anjo, a quem Telmo chegou a pretender
ter mais amor que nós mesmos. Dói-me o coração e a alma quando lhe contar este
infortúnio. Temos de a consolar, minha querida Madalena.
MADALENA
(Caindo em si.)
MARIA
(Manuel revela a Maria a trágica notícia.)
MANUEL
(Com muito afecto.)
MARIA
(Escondendo a cabeça no seio de seu pai, chora gravemente.)
MADALENA
(Abraçando Maria.)
MARIA
(Enxugando as lágrimas e pressentindo algo no olhar de seu pai.)
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MANUEL
(Volta-se para Madalena.)
- É preciso sair desta casa…bem sei que é loucura, mas… não quero estar
aqui por muito mais tempo.
MADALENA
(Fazendo-se por alegrar.)
- Pois sairemos, sim; eu nunca me opus ao teu querer, estou pronta a
obedecer-te sempre, meu querido esposo.
MANUEL
(Como que preparando desde já a partida.)
Cena IV
MARIA, MANUEL DE SOUSA E MADALENA
(Depois, de uma noite profunda de sono, Maria acorda em pleno oceano, com
seus pais a seu lado…)
MARIA
MANUEL
MADALENA
(Madalena interrompe a conversa)
- Manuel a nossa filha está curada, pois já não tem febre a sua cor parece
outra.
MANUEL
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MADALENA
- Meu querido marido, que Deus esteja com os ouvidos aqui mesmo para te
ouvir, meu amor, meu querido esposo.
MANUEL
MADALENA
MANUEL
- Madalena estas palavras transportam todo o meu amor por ti, pois tu és o
sol da minha vida, és a água que me tira a sede, és pão que me mata a fome, enfim
és todo o meu ser!
MADALENA
- Meu pai se a minha mãe é a tua vida, e eu, que sou para ti?
MANUEL
(Manuel surpreendido com a pergunta)
MARIA
- Oh meu pai!!! Dizeis coisas tão lindas… Mas pai, conta-me mais sobre
essa terra, o paraíso?
MANUEL
– Minha filha, Africa é a terra onde o azul do mar é o mais lindo que
possas imaginar, onde o cheiro da terra tem o perfume das rosas mais cheirosas
que alguma vez tenhas sentido, onde nascem os mais belos frutos deste mundo,
onde tudo é puro, onde até a chuva quando cai parecem pingos de prata, tal é o
seu brilho…
–
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MARIA
MANUEL
- Não minha rica filha, ainda temos mais de trinta dias de viagem para lá
chegar!
Pedro Colaço 39
Cena V
MANUEL
(Desembarcando na praia, aproxima-se uma figura enorme, ricamente pintada
e adornada com artefactos macabros: caveiras à cintura, um colar de orelhas
humanas…)
-Olá! Eu sou Manuel de Sousa, Português, e Vós, quem sois?
ZÁZU
-Sou Zázu, o chefe desta colónia e vocês, a partir deste momento, passam a
ser todos meus convidados vou já mandar servir um banquete. (Zázu pensou em
engordá-los para estarem mais saborosos!)
MARIA
-Ó paizinho, parece-me que ele tem um olhar esquisito!
MANUEL
-Não te apoquentes Maria, ele é bastante simpático! Além disso, temos todos
estes escudeiros que nos protegem. (Faz sinal à comitiva para desembarcar.)
(Zázu dá ordens à sua tribo para que cozinhem alguns dos escudeiros, depois de
os fazer desaparecer sem dar muito nas vistas)
Tiago Carvalh0 38
Cena VI
MANUEL
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-Sr. Zazú! Qual é o significado daquele letreiro?!
ZÁZU
-É um idioma utilizado pelos os nossos antepassados, que significa: “Não
tenhas mais olhos do que barriga.”
MANUEL
-Hum!...
MARIA
-Meu pai, qual a razão destes senhores estarem com a cara pintada?!
MANUEL
-Faz parte da cultura deles, minha querida filha.
Cena VII
MANUEL DE SOUSA
-Sr. Zabú, desculpe incomodar, mas tem ali uma caveira no meio do seu
jardim?!
ZÁBU
-Sim, foi o nosso último rei, meu pai. Todos os reis que morrem, nesta tribo,
os seus restos mortais permanecem no jardim até o seguinte falecer. Já estamos a
chegar.
MADALENA
-Que horror!!!
Cena VIII
ZÁBU, MANUEL, MARIA, MADALENA E TÁTÁ.
(Quando chegaram ao salão de jantar ficaram impressionados, com
o enorme espaço com que se depararam. As paredes eram altas, todas
forradas em ouro, o tecto continha pinturas africanas dos seus
antepassados, todo aquela salão era um requinte de arte. Sentada na mesa
ao centro encontrava-se a rainha da tribo, a Dona Tátá Insaciável
Esfomeada Comilona, que aguardava ansiosa, pelos os convidados.)
ZÁZU
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-Esta senhora é minha esposa, Dona Tátá Insaciável Esfomeada Comilona.
Sentemo-nos.
MANUEL
-Boa noite Senhora Dona Tátá. Quero agradecer esta gentileza, esta honra
que nos dá.
TÁTÁ
-Ora meu caro nobre Manuel de Sousa é uma honra recebermos uma visita
de sangue azul, uma vez que nunca provei “carninha azul”… Ups! Que tolice! Peço
perdão pelo o meu português. O que eu queria dizer, era que nunca recebemos
visitas tão importantes como vós.
MANUEL
(intrigado)
-Hum… Sim, obrigado.
ZÁZU
- Fume aqui, o nosso cachimbo, para celebrarmos a vossa chegada a África.
MANUEL
-Desculpe, mas eu não fumo.
ZÁBU
-Mas tem de fumar, faz parte do protocolo ofical, os nossos convidados são
obrigados a fumar do cachimbo que simboliza a paz. Se não o fizer, estará a violar
uma lei muito antiga da nossa tribo, que dá direito à forca.
MANUEL
(Sem hesitar)
-Já que insiste, não seja por isso.
MANUEL
-Hihihihihihi, ahahahahahahaha! Epá, Zábu, tem aqui bom material!
Grande moca que vou apanhar! Ahahahahahahahah.
MADALENA
-Oh Manuel! Meu marido, deixa a tua querida esposa dar um sorvo para
desconstrair, pois ando muito tensa…
25
(Manuel passa o cachimbo a Madalena. Madalena dá um bafo e
ficou branca como a cal.)
MADALENA
-Zázu, grande pomada que arranjou! Em África vive-se bem! Grande
pedra que eu vou apanhar! Hihihihihihihi.
ZÁBU
-Aqui em África é tudo assim, à grande. Agora não seja forreta, passe o
cachimbo à sua filha.
MADALENA
-Mas… Ela ainda é muito nova!
ZÁBU
-Não é nada. O produto é 100% natural. Aqui em África, as crianças
começam a fumar aos três anos. Confie em mim.
MARIA
-Cof cof cof. Ui, já estou a ver o que de bom se produz aqui, em África. Hi
hi hi…
MADELENA
-Maria!
MARIA
-Mas mamã… Eu já tenho 14 anos.
MANUEL
-Deixa a tua filha gozar a vida.
Cena IX
ZÁBU, MANUEL
(Acabaram de jantar, e Zábu e Manuel retiraram-se para uma sala
ao lado para fumarem uns charutos. A sala era pequena, escura. As
paredes eram vermelhas, sentia-se um ar exótico no ar. No chão
encontravam-se peles de animais. Toda a sala transbordava um ar de
colchão. A sala tinha dois sofás e no canto um divã esplêndido…)
ZÁBU
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Vamos fumar estes charutos cubanos e beber um James Martins com vinte
anos. Isto é África, mas temos tudo.
MANUEL
Estou a ver sim!
(Zábu bate uma vez as palmas e entram na sala sete belas escravas
africanas. Elas pareciam ser mulheres do outro mundo, tal era a sua
perfeição. Eram altas, os seus enormes seios pareciam querer saltar dos
seus decotes. As suas coxas tinham a forma da deusa de “Vénus”. Todas
elas emanavam erotismo, desejo, calor, paixão… O queixo de Manuel
ficara caído, tal era o seu espanto perante toda esta beleza tão natural.)
ZÁZU
-Manuel. Tens aqui estas escravas para te satisfazerem. Sim, porque em
África um homem tem no mínimo sete mulheres.
MANUEL
-Sete?! Nós em Portugal, só temos uma. E já não nos podemos queixar.
Mas… Eu não posso Zázu! Eu sou um homem casado.
ZÁZU
-Mas tem de ser Manuel. Já sabe que o protocolo...
Cena X
TÁTÁ
-Baltazar. Sirva-nos o chá ranhoca. Imediatamente.
BALTAZAR
-“Xim patroa, é prá já.”
(O empregado retira-se do salão e torna a entrar com duas
bandejas. Numa trazia os bules com o chá e na outra as chávenas.)
TÁTÁ
- Bebam este chá delicioso!
MADALENA
-Sim, tem bom aspecto. Depois daquela cachimbada vai-me saber bem.
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MARIA
-Eu também quero mamã.
(Depois de beberem o chá, Madalena e Maria desmaiam, caem para
o lado)
Pelos alunos
João Ferreira 16 e Paulina Cativa 21
Cena XI
JM
-Até sempre!
NOVO FIM
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