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A nova era do povo: uma


rede mundial de indivíduos
conscientes e fortes
por Daisaku Ikeda
Presidente da Soka Gakkai Internacional

Enviada à Organização das Nações Unidas (ONU)


por ocasião do 31º aniversário da SGI, em 26 de janeiro de 2006.

Tradução: René Takeuti


Elizabeth Miyashiro

Revisão: Thiago de Mello

Colaboração: Gláucia Yassuco Shirayama


Anderson Félix Nunes

Arte: Iusse José Filho

Capa: Henrique Kubota

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ção local, mataram dezenas de milhares de pes-


A nova era do povo: soas e deixaram aproximadamente dois milhões
de desabrigados. Essas condições, que os inspe-
Gripe espanhola
A pandemia da gripe espanhola (1918–1919) foi a mais devastadora
já registrada em toda a história da humanidade, matando entre 20 e

uma rede mundial de indivíduos tores das Nações Unidas chamaram de “a mais
grave crise humanitária do planeta”,1 não têm
40 milhões de pessoas, número este superior aos mortos na Primeira
Guerra Mundial. O nome deve-se ao fato de ter irrompido na Espanha,

conscientes e fortes melhorado, nem têm suas causas resolvidas.


Crimes abomináveis se sucedem à feição dos
causando cerca de 8 milhões de óbitos em maio de 1918. Acredita-
se que a pandemia tenha se originado na China e se propagado ao
longo das rotas marítimas e comerciais, chegando à América do Norte,
ataques terroristas de setembro de 2001, com
Neste aniversário de fundação da Soka Gak- mente 3 milhões de pessoas desabrigadas. uma crescente onda de violência e discrimina- Europa, Ásia, África, Brasil e sul do Pacífico.
kai Internacional (SGI), eu gostaria de apresen- O impacto do furacão Katrina, nos Estados ção contra os muçulmanos. Enquanto isso, em O vírus infectou um quinto da população mundial e foi mais letal para
outubro e novembro do ano passado, jovens des- as pessoas de 20 a 40 anos. Esse quadro de morbidade é incomum para
tar algumas idéias com a esperança de servir à Unidos, que paralisou uma das maiores cidades
a gripe, que normalmente mata idosos e crianças. A taxa de mortalidade
construção de uma sociedade humana de paz e americanas, deixando-a totalmente inundada, contentes tomaram as ruas, causando tumulto por
pela contaminação do vírus da gripe espanhola foi de 2,5% em comparação
coexistência criadora. com seus cidadãos indefesos em condições ater- toda a França, impondo o toque de recolher em
a menos de 0,1% dos casos de epidemias de gripe anteriores.
radoras, tentando salvar-se por si próprios —, re- muitas cidades e regiões.
Resposta à crise mundial velou de forma dolorosa a vulnerabilidade aos O avanço a passos rápidos da globalização
Dois mil e cinco foi um ano histórico: o do 60º desastres naturais, mesmo de sociedades indus- tem aumentado o risco de doenças infecciosas nas finanças ou na tecnologia de informação (IT),
aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial. triais avançadas. que se desdobram em epidemias. A pandemia da com as quais são comumente associadas. É ur-
Foi, sobretudo, o ano em que ocorreram fatos ter- O terrorismo continuou apavorando o mundo Aids afeta severamente a África Subsaariana. No gente uma resposta holística que trate de ambos
ríveis, que ameaçaram a vida de milhares de se- com ataques que mataram e feriram elevado nú- mundo inteiro, a Aids já matou mais de 25 mi- os aspectos, negativo e positivo, da globalização.
res humanos. mero de civis inocentes, lançando profunda in- lhões de pessoas, deixou cerca de 15 milhões de Essas questões vão até a essência da história
Nada foi mais assustador do que a série de segurança na vida das pessoas no decorrer de órfãos. Atualmente, por volta de 40 milhões de humana e integram os esforços para criar uma
desastres naturais em diferentes regiões do mun- 2005. Em julho, homens-bomba causaram a mor- pessoas estão infectadas com o vírus HIV. Tam- nova civilização mundial. Visto a escala desse
do. Antes mesmo de começar a se recuperar dos te de dezenas e feriram centenas de pessoas com bém cresce a preocupação com o surgimento de desafio, uma busca por resultados rápidos pode-
danos do terremoto em Sumatra e do tsunami, a ataques ao sistema de transporte público de Lon- novos vírus da gripe. A mutação do vírus da gri- ria facilmente surtir o efeito contrário, lançando
Voluntários da SGI
distribuem suprimentos Índia foi vítima, em julho de 2005, da grande dres. Os ataques ganharam mais impacto porque pe animal, que poderia permitir a transmissão de as pessoas num estado de desespero e impotên-
às vítimas do tsunami inundação e, no final de agosto, furacões causa- foram perpetrados durante a Cúpula do G-8, cer- pessoa a pessoa, viria a causar vítimas nas pro- cia ainda maior. Essa inquietude terrível confli-
(dezembro de 2004). ram enormes estragos na cada por medidas de alta segurança. Numa se- porções da gripe espanhola de 1918-1919. ta com a esperança que bem merecia o início des-
costa sudeste do Golfo qüência perturbadora, a violência crescente e in- Todos esses fatos representam questões glo- te século. Em contrapartida, faríamos bem em
dos Estados Unidos. discriminada — no Egito, na Indonésia, no Ira- bais que, direta ou indiretamente, afetam a todos concordar com a advertência que ganhou fama
Grande parte da África que e em outras partes mais — ceifou a vida de nós. Em momento algum podemos considerá-los pelo movimento ambiental: pensar globalmente,
Ocidental continua a so- tantos seres humanos. como se estivessem dissociados de nós, como fo- agir localmente.
frer de fome em virtude A intolerância para com as diferenças étni- go lá do outro lado do rio, conforme afirma o adá- De fato, quando enfrentamos um impasse des-
da seca e da praga de ga- cas ou nacionais, freqüentemente agravadas por gio japonês. Como o aquecimento global e a con- ta escala, nada é mais eficaz do que voltar nos-
fanhotos. Em outubro, movimentos populares internacionais, tem sido tínua pobreza, que serve de solo fértil para o ter- sa atenção do macro para o micro — de eventos
um grande terremoto no a causa de conflitos e da violência criminal, e rorismo, essas questões estão organicamente li- de escala vasta e esmagadora para outros mais
nordeste de Caxemira muitas sociedades atravessam graves divisões. gadas ao processo de globalização. Devem ser vis- imediatos e, portanto, tratáveis. Quando trans-
deixou mais de 73 mil Na região de Darfur, no oeste do Sudão, ataques tas como seus produtos intrínsecos, muito mais portamos questões globais para a realidade tan-
mortos e aproximada- da milícia árabe, a Janjaweed, contra a popula- do que mudanças revolucionárias na economia, gível da vida diária, mesmo a maior e mais gra-
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ve delas pode ser compreendida em sua essên- Engenharia Genética e muitos outros fatos terríveis antes inimaginá- Por esta razão, essas ações não são “incompreen-
cia. Este modo de ver os fatos é a maior esperan- A engenharia genética torna possível introduzir veis. Com freqüência, ouvimos a respeito desses síveis”, mas podem perfeitamente ser compreen-
ça para abrir o caminho em direção a soluções ou remover informação genética específica em incidentes, expressões como “inacreditáveis” e didas — quase como uma realidade sentida e
sustentáveis e produtivas. células vivas. “incompreensíveis”. Esses lamentos revelam o tangível. Desse modo, eles se referem aos crimes
A engenharia genética somática possibilita mudar modo como as pessoas tentam se agarrar à com- como “infortúnios” e seus autores como “desa-
O indivíduo livre e o a constituição genética de células específicas do preensão de eventos anormais que fogem ao sen- fortunados”. Dostoiévski oferece um retrato ví-
individualismo exacerbado corpo que compreendem órgãos e tecidos — fígado, tido comum. vido e irresistível da comunicação de coração a
No outono passado, uma resenha literária pu- cérebro, ossos — de um indivíduo em particular. Em 1997, a cidade japonesa de Kobe foi ce- coração, que atravessa as barreiras dos altos mu-
blicada no Seikyo Shimbun (jornal diário da So- Isso possibilitaria tratar enfermidades como fibrose nário de uma série de assassinatos de crianças ros e do arame farpado.
ka Gakkai) chamou minha atenção para a obra de cística inserindo um gene “corretivo” em células praticados por um rapaz, ele próprio com apenas Comparando isto com a patologia da socieda-
doentes. As mudanças afetam somente esse indivíduo
Bill McKibben, Basta: Mantendo-se Humano em 14 anos. Conforme se comprovou, isso era ape- de contemporânea, onde a criminalidade juvenil
e não são transmitidas às crianças.
uma Era Engenhada.* McKibben trata de desa- nas o início de uma série de crimes cometidos representa apenas a ponta visível do iceberg, evi-
A engenharia genética das células germinais tem
fios fundamentais da humanidade, criados por por crianças e adolescentes. O escritor e crítico dencia-se como sintoma principal a quase total
como alvo os genes em óvulos, esperma ou células
avanços da tecnologia de ponta — como, por exem- Kunio Yanaguida estudou esses incidentes e suas ausência de solidariedade. No Japão também, fre-
não-diferenciadas de um pré-embrião. As alterações
plo, a possibilidade de manipulação genética das causas, e apresentou esta análise: “Embora seja qüentemente imagens de TV nos mostram pes-
afetam cada célula no corpo do indivíduo resultante,
células germinais humanas. Ele adverte que se o e são transmitidas a todas as futuras gerações. impossível chegar à causa real, já se pode afir- soas que ocupam posição de responsabilidade
uso dessa tecnologia não for bem controlado po- Embora a engenharia de células germinais seja em mar que, virtualmente, todas as crianças que pra- procurando explicar suas más ações. Quando no
derá provocar a extinção dos seres humanos. alguns casos sugerida como um meio para evitar ticaram esses crimes horrendos possuem estru- final são encurraladas, abaixam a cabeça para pe-
Examinando o progresso da civilização moder- a transmissão de doenças genéticas, o fato de que tura espiritual egocêntrica, que revela total in- dir desculpas — como se isso bastasse para se
na desde a Revolução Industrial, McKibben escre- isso alteraria permanentemente a constituição diferença à dor alheia”.4 redimir de seus atos premeditados. Que benevo-
ve: “O interessante é que todas essas mudanças genética da espécie humana torna impossível prever Esses incidentes mostram a característica mar- lência ou afeto algum jovem poderia vislumbrar
tomaram a mesma direção: trocaram o valor con- seu impacto a longo prazo. cante do crime dos dias modernos. Fico pensan- nas expressões horrendas e relapsas no rosto des-
textual por liberdade individual”.2 Ao nos aproxi- De forma esmagadora, líderes das áreas política, do se não estaria aí a razão para o medo e a in- ses adultos? Essa incapacidade para perceber e
marmos deste limite, ele alerta: “Mas agora — e religiosa e científica opõem-se à manipulação das quietação que sentimos em nossa própria vida. sentir a dor dos outros cada dia se aprofunda mais.
por fim, aqui está a essência do argumento — cor- células germinais. Pode ser instrutivo o contraste com os costu- Se a nossa humanidade for desenvolvida den-
remos o risco de desaparecer até como indivíduos”.3 mes de épocas e lugares muito diferentes. É o tro do contexto das relações com as outras pes-
Ao buscar a máxima liberdade para o indiví- de não passaria de individualismo exacerbado, a que mostra Fédor Dostoiévski (1821-1881) em soas, o individualismo exacerbado perderá sua
duo, a civilização moderna tem focalizado pessoas materialização de desejo irrefreável? seu clássico Recordações da Casa dos Mortos, no influência. O reconhecimento da existência e do
sarcásticas, livres de restrições e de nossos vários Vivemos numa era repleta de perigos impre- qual relata suas experiências durante quatro anos respeito pelos outros é sempre firmado na capa-
“contextos”. Os ganhos materiais e de conveniên- visíveis, que o sociólogo Ulrich Beck chamou de de trabalho árduo na Sibéria. cidade de controlar os desejos particulares de
cia pessoal têm sido realmente grandes. Mas o que “sociedade de risco”. Transportando essas ques- O que Dostoiévski expressa nesta obra é a uma pessoa, e isso só pode ser desenvolvido den-
seria, de fato, um “indivíduo livre”, despojado de tões para a dimensão individual, é possível es- empatia estendida pelos habitantes dessa terra tro da estrutura de interação humana. Há, por-
*Título traduzido
todo contexto — sem os laços de família, vizinhan- clarecer sua essência. Se isso não for devidamen- de exílio aos criminosos que se encontram entre tanto, um vazio intolerável no âmago desse indi-
conforme o artigo de
ça, da comunidade nacional, do ambiente profis- te compreendido, continuaremos incapazes de eles. Apesar de reconhecerem o mal das ofensas vidualismo extremo, uma instabilidade e insegu-
Marcelo Gleiser,
sional e regional, de associações religiosas e ou- encontrar a saída do impasse esmagador de nos- cometidas, essa simpatia dos moradores locais rança que o ronda e mostra a dimensão da alie-
“Medo da Ciência”,
publicado no tras, e da convivência com a própria natureza? Afi- sa realidade mundial. Tudo recairá no indivíduo. permite imaginar como alguém — incluindo eles nação de qualquer comportamento normal e sau-
Jornal da Ciência, de nal, não seria uma ficção esse indivíduo livre? Se- Em anos recentes, ocorreram no Japão uma próprios — poderia acabar cometendo um crime dável. Em última análise, é incompatível com a
28 de julho de 2003. rá que o resultado lógico dessa busca de liberda- série de crimes brutais, praticados por crianças, terrível se estivesse nas mesmas circunstâncias. nossa própria condição humana.
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Essa realidade não tem escapado dos olhos desenvolver a vontade requerida para serem pró- Esta observação corresponde à essência de ele é mais conhecido, Montaigne declara: “Em
da sociedade. O escritor e ex-chefe de gabine- ativas, fortes e engajadas. Este é o caminho cer- nosso movimento. Historicamente, as religiões verdade o homem é de natureza muito pouco de-
te Taichi Sakaiya, por exemplo, observou a de- teiro que levará ao horizonte de uma nova civi- japonesas apresentam uma tendência para a su- finida, estranhamente desigual e diverso. Dificil-
generação dos laços tradicionais, como os das lização, de uma nova era das pessoas. Esta é a bordinação ao Estado. Isso ocorreu particular- mente o julgaríamos de maneira decidida e uni-
relações de família, comunidade e local de tra- convicção que venho mantendo já faz tempo. mente com o budismo no período Edo (1603- forme”.7 A começar por esta declaração — que
ILUSTRAÇÃO: HENRIQUE KUBOTA
balho, e visualizou uma sociedade solidária, or- As atividades da SGI constituem um movi- 1867), quando se consagrou efetivamente à sub- ressoa com a visão budista da imper-
ganizada em torno de interesses compartilha- mento humanístico, fundamentado no budismo, serviência das autoridades. Um dos maiores in- manência — toda a obra de Montaig-
dos. Da mesma forma, o crítico e dramaturgo que visa a desenvolver indivíduos fortes, capa- telectuais do início da ocidentalização no Japão, ne é imbuída de um senso da relativi-
Masakazu Yamazaki retrata a intensa sensação zes de responder aos desafios de nossa era. Pou- Yukichi Fukuzawa (1835-1901), descreveu esse dade e mutabilidade dos fenômenos.
de isolamento que a globalização pode provo- cos descreveram isto de forma tão incisiva quan- estado: “Eu diria que a religião desapareceu do Embora mais tarde esse pensamen-
car: a sensação de existir em um vazio infinito to o Dr. Jan Swyngedouw, professor emérito da Japão”.6 Imagino que o Dr. Swyngedouw perce- to fosse caracterizado como “oriental”,
em que as pessoas “gritam, mas não obtêm res- Universidade de Nanzan, em entrevista para o beu que nosso movimento, baseado no Budismo Montaigne não buscou o tipo de vida
posta”.5 Ele defende o desenvolvimento de re- Seikyo Shimbun no início dos anos 1980. de Nitiren Daishonin, pode servir como antítese sugerido pelas idéias budistas ociden-
lações sociais alicerçadas na confiança e nas Depois de uma convivência de vinte anos com eficaz dessa subserviência. tais — de ser impelido pela aversão à
responsabilidades recíprocas inevitáveis da vi- a sociedade e as religiões japonesas, o Dr. Swynge- Se a missão primordial da religião é formar natureza da vida efêmera, retirando-
da. Conforme esses observadores nos confir- douw considerou a diferença entre as atitudes indivíduos fortes e engajados, capazes de dar res- se em uma montanha isolada. Apesar
Michel de Montaigne
mam, nós somente podemos viver dentro do con- dos membros da Soka Gakkai em relação à fé e postas criativas aos desafios da vida, então, mais de confessar sentir-se mais à vontade quando es-
texto da relação. Somente neste contexto pode- à prática religiosa e às daquelas tradicionalmen- do que nunca, ela deve se levantar para essa ta- crevia em seu castelo, ele se dedicava ao servi-
mos ser realmente humanos. te mantidas pelo povo japonês. refa agora, quando os ventos da incerteza e da ço público em vários postos, como conselheiro
O primeiro ponto observado por ele foi a pro- mudança açoitam cada canto do planeta, cada do Tribunal de Périgueux, prefeito de Bordeaux
A essência consistente e a fundidade e autenticidade da convicção susten- aspecto de nossa vida. e conselheiro de vários reis da França. Ele ain-
convicção da Soka Gakkai tada pelos membros. O segundo: a essência re- da apreciava e procurava manter contato com as
Essas idéias são de grande interesse, mas não ligiosa vital da filosofia da Soka Gakkai consis- Montaigne: modelo de pessoas comuns. Digno de um representante da
podemos perder de vista o fato de que os prota- te em despertar as pessoas para o valor que têm humanismo tradição moralista, não se incomodava de ser co-
gonistas de toda e qualquer reestrutura da socie- dentro de si mesmas como seres humanos. O Dr. Nos muitos anos que já se passaram, tentei, berto pela poeira deste mundo.
dade sempre será cada um dos cidadãos. Se real- Swyngedouw declarou que a formação e o desen- com estas propostas, espalhar a luz do humanis- A vida de Montaigne coincidiu quase total-
mente chegarmos a ser ameaçados, conforme volvimento dessa espécie de “espinha dorsal”, mo budista. Fiel a meu propósito, este ano eu
McKibben diz, de “desaparecermos até como in- do caráter, possibilita à Soka Gakkai criar pes- gostaria de examinar a vida e as idéias do escri-
divíduos”, é somente reconsiderando o signifi- soas capazes de prestar contribuições reais para tor do século XVI, Michel de Montaigne (1533-
Tradição Moralista Francesa
A origem da tradição moralista francesa é geralmente creditada
cado de ser um indivíduo que poderemos encon- a paz no mundo. 1592), conhecido como o “Pai da Tradição Mo-
aos ensaios de Montaigne. Na segunda metade do século XVII,
trar a saída da escuridão. Só com o forte desejo ralista Francesa”. Montaigne é famoso neste as-
escritores como Pascal (1623–1662), La Rochefoucauld (1613–1680)
de cada um de nós, de participar ativamente das Dizem que a sociedade japonesa valoriza a pecto porque, apesar de não ter ligação compro-
e Nicole (1625–1695) reviveram essa tradição de engajamento
relações sociais, é que a sociedade unida pode- “harmonia” (wa, em japonês), mas essa harmo- vável com o budismo, suas idéias são incrivel- humanista com o mundo e a levaram ao pleno florescimento. No
rá existir como um todo funcional. nia não se limita apenas ao Japão. A harmonia mente semelhantes ao humanismo expresso na século XVIII, os escritores moralistas clássicos franceses foram
Surge aqui a necessidade crucial de uma es- pela qual o presidente Ikeda e os membros da So- tradição do Budismo Mahayana, especialmente considerados como filósofos por leitores na Inglaterra, Escócia e
trutura que impeça indivíduos livres de caírem ka Gakkai se dedicam tem como objetivo a paz do aquela que se origina do Sutra de Lótus e que foi América — apesar da tendência da França em vê-los principalmente
no egoísmo incontrolável. Precisamos encontrar mundo, e acredito que representa importante re- desenvolvida por Nitiren Daishonin (1222-1282). como grandes estilistas — e essa interpretação anglo-americana deu
o ponto de apoio sobre o qual as pessoas possam volução na atitude religiosa do Japão. No primeiro de seus ensaios, obra pela qual surgimento ao que veio a ser conhecida como filosofia moral.
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mente com as guerras religiosas que arruinaram inferiores”.10 “Não há hostilidade mais eficaz renças étnicas e nacionais que ainda hoje conti- de imitar a realidade, de fazer avançar gradativa-
a Europa no século XVI. Contra esse cenário san- que a dos cristãos. Nosso zelo é capaz de mara- nuam a aprisionar tantas pessoas. Essa liberda- mente a causa de alguém enquanto evita os hor-
grento, o tom e linguagem ponderados de seus vilhas quando secunda nossa inclinação natural de de espírito motivou o seu sincero apreço por rores da violência e do derramamento de sangue.
Ensaios tiveram importância e brilho particula- para o ódio, a crueldade, a ambição, a avareza, outro cidadão mundial, o grego Sócrates. Outro aspecto único do pensamento de Mon-
res. Suas palavras são, de fato, como a flor de ló- a intriga, a rebeldia... Nossa religião tem por ob- “Perguntaram a Sócrates de onde era e ele taigne é que o seu olhar penetrante não se diri-
tus, cujas flores brancas emergem das profunde- jetivo extirpar os vícios; mas faz com que os dis- não respondeu: de Atenas, mas: do mundo. Pa- gia unicamente aos seres humanos, mas também
zas das águas lamacentas. simule, os alimente e os incentive.”11 ra ele, cuja inteligência mais vasta e aberta que ao mundo natural, à vida animal e vegetal.
Frisei anteriormente a importância de trazer Embora Montaigne se auto-identifique como a de outrem abarcava o universo e dele fazia sua “Cumpre-nos ter certo respeito não somente
para perto os desafios globais por meio das len- um católico, ele era totalmente livre de sectaris- cidade, o objeto de sua afeição era o gênero hu- pelos animais, mas também por tudo o que en-
tes da realidade pessoal imediata. Essa essência mos. Comedido e tolerante em todas as questões, mano.”13 cerra a vida e sentimento, inclusive árvores e
do projeto de Montaigne fez dele um extraordi- era inclemente em condenar aqueles que des- A visão universal de Montaigne também não plantas.”17
nário pensador, que trouxe como foco o tipo de prezavam seus semelhantes por discórdias reli- o deixava se influenciar pelas diferenças de pa- O pensamento de Montaigne difere nitida-
humanismo — o ethos de cidadania mundial — giosas. Cerca de 200 anos antes da Revolução drão social. As seguintes passagens demonstram mente das visões estabelecidas de sua época, que
próprio de uma era de globalização. Francesa e da Declaração dos Direitos do Ho- isso claramente: “Quando consideramos um cam- estabelecem distinções hierárquicas bem defini-
mem e do Cidadão, num tempo em que o concei- ponês e um rei, um nobre e um plebeu, um ma- das entre os humanos e o resto da natureza. Sua
Uma visão universal to de “liberdade religiosa” não tinha sido defi- gistrado e um simples particular, um rico e um visão apresenta profunda similaridade com os
Não podemos escapar da realidade pessoal nido, ele incluiu em seu livro um ensaio intitu- pobre, uma enorme diferença nos salta aos olhos. ensinamentos do budismo — de que todos os se-
pura e imediata da nossa própria vida. Se tentar- lado “Da Consciência”, ato de extrema coragem Mas essa diferença não consiste por assim dizer, res vivos possuem a natureza de Buda e que plan-
mos fugir, pagaremos um preço inevitável. Como para a época. senão na diversidade de calçado que usam uns tas e árvores são capazes de atingir a ilumina-
Montaigne afirma: “As pessoas obcecadas por A universalidade de Montaigne atravessa os e outros”.14 E: “Cem artesãos conheci, e cem la- ção. Acredito que essa perspectiva sobre a rela-
essa idéia de separar o corpo do espírito, de se limites da cultura e etnia com igual facilidade. A vradores, mais prudentes e felizes do que profes- ção entre os homens e a natureza pode nos aju-
tornarem diferentes e de deixar de ser homens distinção entre o civilizado e o bárbaro, que viria sores universitários. Com os primeiros gostaria dar a resolver a crise ambiental do planeta.
não passam de loucos; não se transformam em a sustentar séculos de colonialismo e que foi uma de me parecer”.15 Há outras passagens interessantes que demons-
anjos e sim em feras; em lugar de se elevarem, verdade aos olhos da maioria dos europeus, era, Deste modo, Montaigne era capaz de rejeitar tram como o ceticismo de Montaigne levou-o a re-
abaixam-se. Esses humores transcendentes apa- para ele, uma invenção absurda. Sua descrição as distinções de classe feudal com risos. Mas is- examinar até mesmo a rotina do dia-a-dia. No
voram-me, como os sítios excessivamente altos dos nativos brasileiros é audaciosa, imparcial e, so não significa que ele era um anarquista. Não mais longo de seus ensaios, escrito em defesa do
e inacessíveis...”.8 ao mesmo tempo, cheia de entusiasmo. “Não ve- negava a ordem social à qual, como um aristo- teólogo Raymond Sebond, lemos o seguinte:
Consta nos ensinamentos budistas: “O exem- jo nada de bárbaro ou selvagem no que dizem da- crata, pertencia. Montaigne era, portanto, uma “Quando brinco com minha gata, sei lá se ela não
plo de um único indivíduo serve igualmente pa- queles povos; e, na verdade, cada qual conside- pessoa que abraçava a liberdade e generosidade se diverte mais do que eu?”18 Dessa declaração
ra todos os seres vivos”.9 Do mesmo modo, por ra bárbaro o que não se pratica em sua terra... A de espírito e, ao mesmo tempo, um conservador ingênua pode ser obtida uma consciência da na-
meio da observação da humanidade de um úni- essa gente chamamos selvagens como denomina- ferrenho. tureza, da realidade e uma sensibilidade aguça-
co indivíduo, ele próprio, Montaigne revelou uma mos selvagens os frutos que a natureza produz No escrito “A seleção do tempo”, Nitiren Dai- da para com a vida, sem falar da afinidade entre
visão universal de toda a humanidade. Ele foi, sem intervenção do homem. No entanto aos ou- shonin declara a respeito do governante Hei no os seres humanos e seus animais de estimação.
portanto, capaz de enxergar as diferenças e dis- tros, àqueles que alteramos por processos de cul- Saemon: “Pode parecer que, por ter nascido den- Desta forma, Montaigne ilustra o ethos da
criminações religiosas do passado, a partir do tura e cujo desenvolvimento natural modificamos, tro de seu domínio, eu o siga em minhas ações, cidadania mundial, que considero ser a pró-
cruel conflito entre católicos e protestantes. “Com- é que deveríamos aplicar o epíteto.”12 mas jamais o seguirei em meu coração.”16 Mon- pria essência do humanismo, incluindo nor-
parai nossos costumes”, escreveu, “aos dos mao- Montaigne era totalmente livre de discrimi- taigne faz declarações de efeito semelhante. Ele mas práticas e guias de comportamento. Mes-
metanos e pagãos e vede quanto os nossos são nação e preconceitos fundamentados nas dife- parece ter considerado isso como o melhor meio mo tendo escrito há mais de 400 anos, Mon-
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taigne oferece um exemplo inspirador. De novo se trata da natureza ilusória do indi- te...”25 Esta desconfiança um tanto extrema em Ensaios nos permite reconhecer o sofrimento, a
Há, creio eu, três aspectos cruciais em rela- víduo livre, desimpedido de todos os laços ou com- relação à mudança demonstrada por Montaigne paciência e a perseverança de Montaigne como
ção à prática e normas de um humanismo funda- promissos. As pessoas não podem simplesmente certamente era uma reação ao massacre e à con- uma figura pública que afirmava que “o cami-
mentado no budismo: (1) uma aproximação gra- ser “reajustadas” a uma condição de nulidade, vulsão social que ele havia testemunhado. Pode- nho da lei é doloroso, imparcial e impositivo”,
dativa; (2) uma ênfase no diálogo; e (3) um enfo- como uma folha de papel em branco, esperando mos concordar ou discordar dele neste ponto, de- em contraste com a violência e o poder que, para
que no caráter ou integridade pessoal como va- pacientemente a caneta do escritor. “Quaisquer pendendo muito de nossa opinião sobre mudan- ele, eram “caminhos ilegais e bárbaros”.27 Esta
lor central. Isto é algo que enfatizo há anos e do que sejam as possibilidades que tenhamos de cor- ças revolucionárias, como ocorreu na França e fórmula contém importantes lições, que espero
qual tratei num discurso proferido em janeiro de rigi-lo e reorganizá-lo, não podemos, sem o que- na Rússia séculos mais tarde. Mas acerca de um sejam acatadas no Japão e no mundo inteiro.
1993 na Faculdade Claremont McKenna, nos Es- brar, dobrá-lo até perder o vinco antigo.”22 ponto pode haver um pouco de controvérsia, is-
tados Unidos. Estes também são temas freqüen- Quando lidamos com a realidade macro, por to é, que os modernos proponentes de mudanças Ênfase no diálogo
tes na filosofia de Montaigne. exemplo, de uma nação ou Estado, precisamos revolucionárias têm sido superotimistas em afir- Na busca de uma aproximação gradativa, o
nos lembrar de que isto representa a interação mar a maleabilidade da natureza e da sociedade diálogo é o meio mais eficaz que temos à nossa
Uma aproximação gradativa complexa de muitas realidades pessoais, locais humana. Este tipo de arrogância tem levado a ra- disposição. Montaigne expressou seu puro amor
Ao ler os Ensaios, observa-se de imediato o e culturais. Como tal, é possível obter medidas dicalismos irracionais, violências, torturas e mas- pelo diálogo da seguinte forma: “O mais provei-
valor que Montaigne confere, talvez de forma exa- específicas e graduais de experiências passadas sacres, deixando um rastro de sangue. toso e natural exercício de nosso espírito é, a meu
gerada, ao hábito ou costume — um poder e uma e aplicá-las cuidadosamente. Mas qualquer ten- Gostaria aqui de referir-me ao capítulo dos ver, a conversação. É-me a sua prática mais agra-
importância enormes às questões humanas. “Em tativa de derrubar e reconstruir o estado em sua Ensaios em que Montaigne, com base em sua dável do que qualquer outra”.28 Neste capítulo,
suma, a meu ver, não há o que o costume não fa- totalidade de acordo com “medidas imaginadas própria experiência no serviço público, discu- Montaigne entra numa explanação detalhada do
ça ou não possa fazer; e com razão afirma Pínda- artificialmente”23 é uma expressão da arrogân- te sobre a virtude política. Acredito que o se- espírito com o qual devemos nos aproximar do
ro, ao que me disseram, ser o hábito o rei e im- cia humana destinada ao fracasso. guinte trecho oferece uma descrição da aproxi- diálogo, num engajamento com os outros. Gosta-
perador do mundo.”19 “Nossos hábitos moldam Esta é uma lição escrita nas profundezas do mação gradativa: “A virtude que as coisas des- ria de enfocar aqui dois pontos em particular.
nossa vida a seu bel-prazer, como a bebida de Cir- ser de Montaigne pelas guerras religiosas infer- te mundo exigem é uma virtude flexível, capaz Primeiro, apesar de o próprio Montaigne ser
ce que modifica a nossa natureza a seu talante.”20 nais que o assolou e que o deixou cético quanto de se adaptar à fraqueza humana; não é pura um membro da aristocracia, como já mencio-
O foco constante na pessoa é a característica a quaisquer esforços por uma reforma radical. nem simples; não é reta, constante, imaculada. nado, ele considerava a diferença entre bem-
da filosofia de Montaigne. Isto porque nossa rea- “Mas querer refundir tão grande massa e tro- (...) Quando nos misturamos à multidão, cabe- nascidos e malnascidos como algo essencial-
lidade pessoal é diversa em todos os aspectos; nun- car os alicerces de tamanho edifício é fazer co- nos abrir o caminho aos empurrões, avançar e mente irrelevante — não mais que uma ques-
ca é idêntica para duas pessoas. Ela pode contras- mo os que, para melhorar, apagam tudo, para cor- recuar e por vezes tomar por atalhos; e viver, tão dos sapatos que eles usavam. Humanista en-
tar completamente e, em grande parte, pode ser rigir um defeito tudo desmantelam, para curar não como desejaríamos, mas como querem os gajado, ele declarou que era preferível ser um
decisivamente influenciada e moldada pelas tra- matam o doente: ‘Não é bem mudar que preten- outros; não segundo o que nos propomos e sim bom escudeiro a ser um bom lógico.29 Ele pre-
dições e costumes particulares de certa localida- dem; é destruir’.”24 de acordo com o que nos impõem; segundo o feria conversar com as pessoas comuns, pois era
de. “Em verdade, como ingerimos com o primei- Esta é a mesma pessoa que expressou idéias tempo, os homens e as coisas”.26 nelas que encontrava o verdadeiro diálogo e re-
ro leite hábitos e costumes, e o mundo nos apare- que pressupôs, há uns 200 anos, a Declaração Conforme ele indica, vale a pena lembrar que finamento de caráter.
ce sob certo aspecto quando o percebemos pela dos Direitos do Homem e do Cidadão. Conforme política é uma questão de habilidade e técnica, “Admiraria um espírito constituído de vá-
primeira vez, parece-nos não termos nascido se- observei anteriormente, Montaigne teve a capa- de dar e tomar, de encontrar um equilíbrio entre rios andares e que, desmontável à vontade, se
não com a condição de nos submetermos também cidade única de adotar idéias que hoje seriam o interesses conflitantes e de reunir várias opiniões. adaptasse a tudo o que o acaso lhe apresentas-
aos costumes; e imaginamos que as idéias aceitas extremo oposto do espectro conservador-liberal. É a arte de fazer acordos e de encontrar o ponto se; que pudesse conversar com o vizinho acer-
em torno de nós, e infundidas em nós por nossos Montaigne declarou: “A novidade, qualquer para evitar que expectativas elevadas irreais pos- ca de construções, caça, demandas e com car-
pais, são absolutas e ditadas pela natureza.”21 forma que assuma, me aborrece profundamen- sam levar ao desastre. Uma leitura cuidadosa dos pinteiro ou jardineiro.”30
14 15

A aproximação gradativa, fundamentada em de é hoje mais relevante do que nunca. O impul- cernimento para reconhecer que tudo, incluindo É neste aspecto que encontramos sua estrutu-
nossa realidade imediata, somente pode ser efi- so para moldar até mesmo os nossos filhos aos ele próprio, era inconstante e sujeito a mudar, ra, o esteio de suas convicções. Foi isto que o pos-
caz quando praticada por uma pessoa controla- nossos desejos, por meio de tecnologias como as continuou a manter o mesmo interesse por ele sibilitou a continuar a dirigir críticas mordazes às
da e magnânima, cujo interesse principal é o ser da engenharia genética, é exemplo típico da ar- próprio. Sua preocupação principal era a busca guerras religiosas, à exploração gananciosa das
humano. rogância humana mais terrível e catastrófica. do caráter e da integridade das pessoas. “A mais colônias, ao sistema de classes — males que até
Montaigne admirava Sócrates como o “mes- admirável obra-prima do homem consiste em vi- hoje ameaçam a vida e a dignidade humana.
tre dos sábios”.31 Isto porque “Sócrates expri- Caráter como valor principal ver com acerto. Em outras palavras, fazer cada
mia-se de um modo natural e simples; assim fa- Gostaria agora de falar a respeito do caráter coisa em seu devido tempo. Tudo mais — reinar, A religião a serviço
la um campônio, assim fala uma mulher”.32 Em como valor principal. Como já observei, a obra juntar, edificar — não passa de acessório e de da humanidade
outras palavras, o homem louvado como o mes- Ensaios é repleta de expressões de visão mun- minúcia.”40 O poeta e escritor Shigueharu Nakano (1902-
tre número um da humanidade não tinha neces- dial, que de várias formas são análogas à com- Com seu famoso lema “Que sais-je?” (O que 1979) escreveu um ensaio no qual comparou So-
sidade de termos filosóficos sofisticados, trans- preensão oriental da impermanência e transito- eu sei?), Montaigne assumiu o desafio de Sócra- seki Natsume (1867-1916) e Lu Xun (1881-1936),
punha facilmente o mar da linguagem, o mar das riedade de todas as coisas. Mas não é o tipo de tes, engajando-se em um incessante processo de gigantes da literatura japonesa e chinesa, res-
pessoas, repartindo a sua sabedoria com todos visão sentimental ou emotiva de impermanência, autoquestionamento. Qual era o estado de vida pectivamente. Nakano conclui que Lu Xun vai
que encontrava e onde quer que fosse. comumente observada no Japão. Tampouco é um interior, a relação com a verdade, que Montaig- além disso e “chega a ponto de lutar pró-ativa-
A seguir, Montaigne declara que, quando en- desejo ardente por salvação que submete a pes- ne — o cético e relativista — atingiu mediante mente contra o mal, a ponto de realmente odiar
gajado em diálogo: “Vã é a empresa de quem pre- soa a alguma vasta e inescrutável entidade, co- sua busca obsessiva e indagação inflexível? No o mal. Ainda que não consiga vencer em sua ba-
sume abraçar causas e conseqüências e condu- mo um “céu” ou “natureza”, que domina nosso final do capítulo dos Ensaios encontramos estas talha, ele [Lu Xun] está determinado a marcar
zir os fatos pela mão...”33 Nesta frase, Montaig- ser individual. Ao contrário, possui um senso palavras: “Saber lealmente gozar do próprio ser, politicamente seus oponentes, ele não os deixa-
ne nos clama a deixarmos de lado a arrogância concreto da realidade da existência diária. eis a perfeição absoluta e divina. Nós só deseja- rá desapercebidos”.42
humana e a nos engajarmos com aquelas forças Virtualmente, todos os 107 capítulos dos três mos condições diferentes das nossas porque não Apesar do cenário histórico e cultural de am-
que superam nossos poderes de discernimento e volumes de Ensaios possuem títulos que consti- sabemos tirar partido daquelas em que nos acha- bos os escritores diferirem totalmente e de seu
entendimento racional. tuem conselhos de como melhorar a vida neste mos. Saímos de nós mesmos porque ignoramos o temperamento serem contrastantes, Lu Xun e
“Quando me consulto, esboço apenas o tema mundo, temas e advertências que estão em sin- que nos compete fazer. Embora usemos pernas Montaigne eram moralistas eminentes. A limita-
de minhas reflexões e o encaro superficialmen- tonia com as percepções do cotidiano das pes- de pau, temos de mexer as do corpo para andar, ção que Nakano identifica em Soseki Natsume é
te nos seus primeiros aspectos; o principal da ta- soas. Encontramos aqui a verdadeira essência de e é com o traseiro que nos sentamos no mais al- certamente uma reflexão do senso de imperma-
refa, tenho por hábito confiá-lo ao céu.”34 Montaigne, o grande moralista francês, que sen- to trono do mundo”.41 nência japonesa, que tendia a encorajar a passi-
Em termos religiosos, esta atitude pode ser tia um orgulho insuperável por ser um partici- Dedicando-se ao processo inexorável de dú- vidade ou mesmo a resignação. Em uma linha si-
comparada à oração. Se perdermos de vista esse pante engajado na realidade da vida diária. vida e questionamento, Montaigne exterminou o milar, o Dr. Jan Swyngedouw, sociólogo da reli-
tipo de humildade, aplicando fé indevida no po- Montaigne abre os Ensaios com esta frase: dogmatismo e o fanatismo. Ele esmigalha a hi- gião, o qual mencionei anteriormente, declarou
der das palavras, podemos ser facilmente arras- “Leitor, sou eu mesmo a matéria deste livro...”,35 pocrisia arrogante. Por sua compreensão do ab- que a preocupação dos japoneses pela harmonia
tados por um cinismo destrutivo quando nossos e continua: “Deparamos em qualquer homem com soluto ser algo emanado de seu interior — cul- é típica, limitando-se ao Japão. Em contraparti-
esforços para o diálogo chegarem a um impasse. o Homem”.36 “Quero permanecer senhor de mim tivado colocando-se o relativo em confronto com da, o movimento da Soka Gakkai aspira a uma
Deste ponto há um único passo para a rejeição mesmo.”37 “Eu que sou rei no assunto de que o relativo, empilhando dúvida sobre dúvida —, harmonia mais ampla, mundial. Neste sentido,
ao diálogo. Isto é algo que vivemos diariamente. trato...”,38 e “Quem não se conhece pode empa- ele era capaz de evitar a armadilha de tratar co- pergunto se ele estaria percebendo um compro-
É óbvio que, em escala macro, pode resultar em turrar-se com elogios imerecidos; eu não, porque mo absoluto aqueles processos que são relativos misso moral com o diálogo, um espírito de com-
guerras, revoluções, violências e conflitos. me vejo, me analiso e sei muito bem o que sou”.39 por natureza própria (como muitos marxistas, por bater o mal sustentado pela força do caráter. A
A advertência de Montaigne contra a vaida- Assim, embora Montaigne tivesse o claro dis- exemplo, fizeram posteriormente). missão da fé religiosa é fortalecer as pessoas in-
16 17

teriormente. Do início ao fim de seus Ensaios, O ano de 2005 marcou o 60º aniversário das Sobre o Conselho de Segurança, os líderes A proteção dos direitos humanos
Montaigne lança seu claro brado por este exato Nações Unidas, e isto ofereceu um estímulo adi- mundiais somente puderam expressar apoio pe- As atividades da Comissão de Direitos Hu-
propósito: a religião a serviço da humanidade. cional ao debate sobre a reforma. Em março, o la “reforma antecipada” e falharam por não dis- manos das Nações Unidas, como constituída atual-
O Buda, em sua última advertência a seus se- secretário-geral da ONU, Kofi Annan, lançou o cutir propostas debatidas há tempos, como a am- mente, incluem: direcionar questões de direitos
guidores, pediu a eles e, conseqüentemente, a relatório “Um conceito mais amplo de liberda- pliação de seus membros. De minha parte, apóio humanos em países específicos, e também as
nós: “Vivam como ilhas em relação a si mesmos, de: desenvolvimento, segurança e direitos huma- a reforma total do Conselho de Segurança — vi- questões comuns a diversos países e regiões, de-
sejam seu próprio refúgio, sem ninguém mais co- nos para todos”. Nele, Annan amplia a missão sando a uma divisão maior de responsabilidades bater e examinar meios para a promoção dos di-
mo seu refúgio, tenham o Darma como uma ilha, das Nações Unidas e as metas da reforma: liber- com uma perspectiva global. reitos humanos, recomendar a adoção de resolu-
o Darma como seu refúgio e nenhum outro mais”.43 dade para viver sem miséria, liberdade para vi- Outras discussões são necessárias para obter ções e tornar públicos os abusos com o intuito de
Assim, o budismo ressalta a autoconfiança, a ver sem temor e liberdade para viver com digni- um consenso sobre o tipo de reforma que irá equi- expor os responsáveis, coibindo essas práticas.
crença espontânea na verdade do Darma, como dade. par fundamentalmente as Nações Unidas para Contudo, ocorre uma forte tendência de poli-
a base para elevar o caráter humano ao estado de O relatório apresenta, em termos resolutos e enfrentar os desafios deste mundo. Um aspecto tizar as questões dos direitos humanos — um re-
absoluta fruição, conhecido como iluminação. enérgicos, a relação interdependente entre essas crucial para isso é a solidificação da base da re- flexo direto da dinâmica da diplomacia entre os
Este é o eixo em torno do qual tudo gira. três liberdades: “A humanidade não desfrutará ceita das Nações Unidas. Em adição às contri- Estados representados na Comissão — além do
É meu sincero desejo que este despertar, o de segurança sem desenvolvimento, não desfru- buições financeiras dos Estados-Membros, me- insistente impasse dos governos, o que também
florescimento do caráter individual, torne-se a tará de desenvolvimento sem segurança, e não didas como a criação de um fundo popular para causa essa paralisia. Desta forma, há muito se
essência e a convicção das pessoas do mundo in- desfrutará de nenhum dos dois sem o respeito as Nações Unidas, sugerida em minha proposta reconhece a necessidade de se restaurar a con-
teiro, à medida em que avançam para assumir pelos direitos humanos”. de 2001, poderia ser considerada. fiança na Comissão e em seu trabalho.
seu verdadeiro papel como cidadãos pró-ativos De minha parte, venho continuamente enfa- Apesar dessas deficiências, a Cúpula viu pro- Gostaria de apresentar algumas sugestões em
e engajados. tizando que o desenvolvimento humano, a segu- gressos em outras áreas. Os mais notáveis foram relação às funções e à estrutura do novo Conse-
rança humana e os direitos humanos devem ser- acordos sobre medidas para estabelecer um Con- lho de Direitos Humanos, que os líderes mun-
Liberdade, segurança vir como princípios condutores para a reforma selho de Direitos Humanos das Nações Unidas diais se comprometeram em estabelecer na Cú-
e dignidade das Nações Unidas. A missão fundamental da para substituir a Comissão de Direitos Humanos; pula, em substituição à Comissão.
Gostaria de falar a seguir sobre áreas especí- ONU é simbolizada nas palavras iniciais da Car- criar uma nova Comissão de Consolidação da Paz; Em primeiro lugar, a educação para os direi-
ficas nas quais cidadãos comuns — pessoas for- ta: “Nós, os povos...”. Ela deve dedicar-se ao e reformar o Fundo Rotativo Emergencial Cen- tos humanos e a informação pública deveriam ser
tes, engajadas, vivendo como indivíduos solidá- bem-estar de todos os cidadãos do mundo e à eli- tral para possibilitar respostas rápidas e efetivas itens permanentes da agenda do Conselho.
rios — podem trabalhar na construção de uma co- minação do sofrimento desnecessário da face da às crises humanitárias. Examinar abusos específicos e reparar os da-
munidade global de paz e coexistência criadora. Terra. É uma triste realidade das Nações Unidas, nos causados às vítimas estão entre as tarefas
As Nações Unidas devem servir como foro vi- Após o debate contínuo das propostas do se- como uma organização intergovernamental, que mais importantes a serem herdadas da Comissão
tal e ponto de convergência de nossos esforços. cretário-geral e de outros, a Reunião Plenária de essas idéias e empreendimentos por reformas de Direitos Humanos. Mas, além disso, são ne-
A humanidade enfrenta uma variedade de ques- Alto Nível da Assembléia Geral realizada em se- inovadoras inevitavelmente enfrentem obstá- cessários esforços constantes para mudar os pa-
tões complexas que ignoram totalmente frontei- tembro adotou o documento Cúpula 2005. É real- culos inflexíveis de interesses nacionais con- radigmas sociais e a cultura política que toleram
ras nacionais — ameaças como o terrorismo, con- mente lamentável que negociações difíceis e de- flitantes. Contudo, o pessimismo nada constrói as violações aos direitos humanos. Esta é a úni-
flitos armados, pobreza, degradação ambiental, moradas sobre seu teor tenham resultado na su- e, assim sendo, devemos focalizar a melhor for- ca forma de evitar que os abusos ocorram e que
fome e doença. Uma Organização das Nações pressão de toda menção de desarmamento e não- ma para implementar planos adequados e es- essas práticas tão arraigadas se repitam.
Unidas reformada e fortalecida é essencial para proliferação de armas nucleares e acabaram sen- tabelecer mecanismos efetivos para proteger e O Programa Mundial de Educação para os Di-
reunir sugestões eficazes e enfrentar os desafios do vistas como apenas mais um acordo geral so- melhorar a vida dos membros vulneráveis da reitos Humanos foi iniciado no ano passado. Tor-
globais da nova era. bre várias questões. família humana. nar a educação para os direitos humanos um item
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permanente na agenda do Conselho de Direitos questões específicas de direitos humanos, como gurar auxílio sustentado da comunidade interna- ampliar o acesso a esta assembléia da humani-
Humanos asseguraria seu consistente engaja- as relacionadas aos povos indígenas, às mino- cional durante todo o período necessário para o dade conduzirão ao fortalecimento de todo o sis-
mento com o programa e o encorajaria a monito- rias, entre outras. processo de reconstrução da paz. tema das Nações Unidas.
rar ativamente sua implementação. 3. Abrir as portas para as pessoas de países O relatório do secretário-geral Kofi Annan ci-
Em segundo lugar, gostaria de propor que re- A consolidação da paz com experiência em recuperação pós-conflito e tado anteriormente, “Um conceito mais amplo de
presentantes da sociedade civil tivessem ampla De acordo com as Nações Unidas, quase me- na construção da paz, para que contribuam com liberdade”, esclarece o seguinte sobre a direção
oportunidade de participar dos trabalhos do Con- tade dos países que emergem dos conflitos des- os povos de outras nações que sofrem as conse- da reforma da Assembléia Geral: “Deve concen-
selho de Direitos Humanos. É fato que os esfor- cobrem-se novamente emaranhados neles num qüências do conflito. trar-se nas principais questões do dia e estabele-
ços das Nações Unidas para promover os direi- prazo de cinco anos. É imperativo que esse ciclo A construção da paz e a reabilitação pós-con- cer mecanismos para engajar-se plena e sistema-
tos humanos vêm sendo apoiados de forma sig- mortal de violência seja rompido. Para isso, nos flito geralmente são consideradas sob os aspec- ticamente com a sociedade civil”. Embora seja
nificativa por muitas organizações não-governa- últimos dias de 2005, a Assembléia Geral da tos gerais da reconstrução nacional, como a rea- igualmente frustrante o fato de que nenhuma me-
mentais (ONGs) e outras organizações da socie- ONU e o Conselho de Segurança agiram em con- lização de eleições, a formação de novo governo dida específica tenha sido aprovada na Cúpula
dade civil. Como uma das comissões funcionais junto para estabelecer uma Comissão de Conso- e a adoção de uma constituição. Mas a experiên- Mundial 2005, indubitavelmente, esta medida é
do Conselho Econômico e Social (Ecosoc), a Co- lidação da Paz. Esse organismo fornecerá acon- cia do século XX atesta que a trágica armadilha a chave para fortalecer ainda mais a Assembléia
missão de Direitos Humanos vem trabalhando selhamentos e recomendações para que a Assem- da história não pode ser desarmada, a menos que Geral. Assim, sugiro que sejam criadas oportu-
com ONGs em caráter consultivo. É meu since- bléia Geral e o Conselho de Segurança apóiem, o processo de recuperação seja baseado nas pers- nidades freqüentes para que o presidente da As-
ro desejo que o Conselho de Direitos Humanos de forma sustentada, coordenada e integrada, pectivas e nas preocupações das pessoas comuns. sembléia Geral e os integrantes de cada um de
mantenha e fortaleça a sua estrutura, de forma ações de auxílio internacional para todos os es- Com esta lição em mente, penso que a Comissão seus comitês consultem mais as ONGs, para es-
que as ONGs possam continuar a falar nas ses- tágios de recuperação dos conflitos violentos — de Consolidação da Paz deve ver como seu o pa- tabelecer uma relação de efetiva colaboração com
sões plenárias, e se engaje em efetivas consultas desde a construção da paz pós-conflito até a re- pel de assegurar que a cooperação internacional a sociedade civil.
aos Estados e representantes das Nações Unidas. construção. tenha objetivos mais arrojados — que abrace a Em junho de 2005, a Assembléia Geral orga-
Em terceiro lugar, gostaria de apoiar as rei- Apóio completamente a criação da Comissão reconstrução do cotidiano das pessoas, a recons- nizou dois dias de audições informais com a so-
vindicações para a criação de um organismo con- de Consolidação da Paz, que assumirá funções trução da felicidade delas. ciedade civil, criando uma oportunidade para
sultivo de especialistas, subordinado ao Conse- semelhantes àquelas do Conselho de Implemen- que representantes de ONGs e especialistas de
lho de Direitos Humanos. tação da Paz, que ressaltei em minha proposta O engajamento da todo o mundo expressassem uma ampla gama de
Mais especificamente: gostaria que a já exis- de 2004. sociedade civil opiniões com relação à Cúpula Mundial 2005.
tente Subcomissão para a Promoção e Proteção As Nações Unidas encarregaram a Comissão Enquanto procuramos por uma reforma das Foi a primeira experiência desse tipo na história
dos Direitos Humanos continue seus trabalhos, de Consolidação da Paz de uma série de tarefas. Nações Unidas que reflita as perspectivas e preo- da ONU, posteriormente recebida positivamen-
ou que seja criado um organismo com funções Acredito que os três seguintes papéis são de im- cupações dos cidadãos comuns, gostaria de en- te pelos participantes da Cúpula como um pas-
equivalentes. Além de suas funções investigati- portância particular, e espero que todos os esfor- focar a revitalização da Assembléia Geral. so rumo a um engajamento interativo entre a so-
vas e de pesquisa em apoio aos processos deli- ços sejam feitos para concretizar estes objetivos: Embora seja desnecessário dizer que o Con- ciedade civil e os Estados-Membros. Foi real-
berativos do Conselho de Direitos Humanos, o 1. Engajar não apenas os líderes dos gover- selho de Segurança continuará a desempenhar mente um avanço pioneiro.
organismo que antevejo deveria servir para re- nos ou grupos envolvidos num conflito, mas tam- um papel central na manutenção da paz e da se- Ao mesmo tempo, as ONGs empreenderam a
fletir as visões e preocupações da sociedade ci- bém homens e mulheres que vivem nas áreas con- gurança globais, a Assembléia Geral é também corajosa iniciativa de organizar a Rede de ONGs
vil.Também proponho que qualquer desses orga- flitadas e empenhar-se para eliminar as ameaças crucialmente importante: é o único foro univer- Millennium+5. Este grupo informal de ONGs reu-
nismos consultivos conduza os mecanismos, de- e os temores que enfrentam. sal de diálogo onde os Estados-Membros podem nirá as opiniões da sociedade civil e as levará às
senvolvidos a partir da subcomissão, dos relató- 2. Consultar a sociedade civil e as ONGs e participar e propor soluções aos desafios mun- Nações Unidas. Acredito que estes esforços pa-
rios especiais e dos grupos de trabalho sobre coordenar ações com esses atores, a fim de asse- diais. Estou convencido de que os esforços para ra estabelecer foros de diálogo entre os cidadãos
20 21

comuns do mundo e as Nações Unidas ajudarão O combate à mudança climática Movimento Cinturão Verde
a consolidar as bases da ONU como um organis- Agora, gostaria de voltar a atenção para a cri- A bióloga e ambientalista Wangari Maathai criou
mo internacional sustentado por dois pilares gê- se ambiental que preocupa nosso planeta. o Movimento Cinturão Verde no Quênia, em 1977,
meos: seus Estados-Membros e a sociedade civil. Em fevereiro de 2005, encontrei-me com a como um organização não-governamental de raízes
Fundamentada na filosofia do humanismo bu- ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, professora populares que reuniu mulheres quenianas das áreas
dista, a SGI vem apoiando consistentemente as Wangari Maathai, que estava em visita ao Japão rurais e as incentivou a plantar árvores, com o objetivo
atividades das Nações Unidas. Como ONG, atua- na ocasião em que o Protocolo de Kyoto entrou de combater o desmatamento, restaurar sua principal
mos ativamente de várias formas. Exemplo re- em vigor. Durante nosso encontro, a professora fonte de combustível no preparo de alimentos e evitar
cente foi a eleição de nosso representante como Maathai falou das milhares de pessoas envolvi- a erosão do solo.
presidente do Comitê de ONGs Religiosas nas das no movimento mundial em prol do meio am- O Movimento desenvolveu um programa formado
por quatro projetos principais: plantio de árvores em
Nações Unidas, em junho do ano passado. biente, e afirmou que seu Prêmio Nobel serviu
terrenos públicos; proporcionar segurança alimentar
para transmitir uma forte mensagem: proteger o
às famílias; defesa do meio ambiente e conscientização;
Comitê de ONGs Religiosas das Nações Unidas ambiente é de importância crucial para a con-
e educação cívica e ambiental. O Movimento tem
O Comitê de ONGs Religiosas (RNGO) das Nações Unidas é cretização da paz. Realmente, resolver a crise Wangari Maathai e
mais de 3 mil viveiros e oferece oportunidades de
composto por representantes de organizações nacionais e internacionais ambiental global é parte integrante do desafio de agora os esforços internacionais não se harmoni- Daisaku Ikeda
trabalho para mais de 80 mil pessoas.
registradas na ONU e que definem seu trabalho como de natureza se construir um mundo pacífico. zam para enfrentar a mudança climática. O Pro- (fevereiro de 2005).
Desde 1977, mais de 30 milhões de árvores foram
religiosa, espiritual ou ética.
A professora Maathai é mundialmente conhe- plantadas e mais de 30 mil mulheres foram treinadas tocolo de Kyoto, que finalmente entrou em vigor
O Comitê vem se reunindo regularmente desde 1972 e partilha
cida pela fundação do Movimento Cinturão Ver- em administração florestal, processamento de em 2005, obriga seus signatários industrializa-
informações e opiniões sobre questões complexas e eventos da ONU.
de, que tem como objetivo combater a desertifi- alimentos e em vários outros negócios que as auxiliam dos a reduzir, até 2012, suas emissões de gases
Seu foco de atuação é duplo: serve como um foro para informar seus
cação em sua terra natal, o Quênia. Durante os na obtenção de renda, ao mesmo tempo em que que provocam o efeito estufa em pelo menos 5%,
integrantes religiosos sobre os atuais desafios globais e sobre o importante
últimos trinta anos, as muitas mulheres envolvi- preservam suas terras e seus recursos. O Movimento comparadas com o nível de 1990.
papel que as Nações Unidas podem desempenhar no direcionamento
das no movimento plantaram 30 milhões de ár- expandiu-se para além do Quênia como uma Rede Contudo, o consenso científico é de que es-
dessas questões. Também divulga e promove valores religiosos e éticos
vores em toda a África. Pan-Africana do Verde que congrega 36 organizações sas medidas são insuficientes, e as emissões pre-
nas deliberações das Nações Unidas.
A desertificação é um problema sério e cres- em 15 países africanos, além do Movimento Cinturão cisam ser reduzidas no mínimo pela metade do
www.rngo.org
cente, particularmente nas regiões secas e ári- Verde Internacional. nível atual para controlar o aquecimento global.
Em 2004, Wangari Maathai recebeu o Prêmio
Da mesma forma, em feve- das da África e da Ásia. Há uma forte evidência Hoje, o primeiro desafio é convencer novamen-
Nobel da Paz por seu trabalho no Movimento
reiro deste ano, em comemora- de que essa mudança climática antropogênica te os Estados Unidos e reunir os países em de-
Cinturão Verde.
ção de seu décimo aniversário, está exacerbando o problema e seu impacto. A senvolvimento, como a China e a Índia — cujas
www.greenbeltmovement.org
o Instituto Toda para a Paz Glo- desertificação é um dos temas da Avaliação de emissões estão crescendo rapidamente — em al-
bal e Pesquisa Política realiza- Ecossistemas do Milênio, conduzida sob os aus- gum projeto de cooperação internacional. Essa
rá uma conferência internacio- pícios da ONU. O modo de vida de quase 2 bi- cooperação internacional e lidar com esse desa- questão foi levantada pela Cúpula do G8 duran-
nal em Los Angeles, que trata- lhões de pessoas, habitantes das regiões secas fio. É meu desejo que esforços contínuos sejam te o encontro em Gleneagles, em julho de 2005.
rá da reforma e do fortalecimen- do mundo, correrá grandes riscos se o aqueci- empreendidos para descobrir novas abordagens Durante a 11ª sessão da Conferência das Par-
Conferência
to da ONU. Esta conferência, elaborada com ba- mento global continuar agravando a desertifica- capazes de enfrentar as mudanças climáticas, ao tes da Convenção-Quadro de Mudança Climáti-
Internacional
se no sucesso dos projetos de pesquisa desse ins- ção no ritmo atual. mesmo tempo em que apoiamos os objetivos des- ca de 1992, realizada junto com o primeiro En-
realizada pelo
Instituto Toda tituto, explorará as iniciativas de transformação Foi diante deste cenário que as Nações Uni- te Ano Internacional. contro das Partes do Protocolo de Kyoto em de-
(Moscou, da ONU em uma organização que trabalhe real- das declararam 2006 o “Ano Internacional dos Como aconteceu com a questão da chuva áci- zembro de 2005, em Montreal, no Canadá, foi
junho de 2001). mente para e pelas pessoas. Desertos e da Desertificação” para promover a da e do buraco na camada de ozônio, também criado um grupo de trabalho para discutir, nos
22 23

Avaliação de Ecossistemas do Milênio centivem o plantio de árvores e tomem outras me- Mecanismo de Desenvolvimento Limpo lo governo japonês na Conferência Mundial sobre
A Avaliação de Ecossistemas do Milênio foi estabelecida pelo secretário- didas para reduzir as emissões e aumentar a re- O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) é Desenvolvimento Sustentável de 2002, em Joha-
geral das Nações Unidas, Kofi Annan, em junho de 2001 e completada moção do dióxido de carbono da atmosfera. Pa- um dos três assim chamados “Mecanismos de nesburgo. Posteriormente, foi adotada formalmen-
em março de 2005. Constitui-se na “primeira auditoria abrangente da ra facilitar esses esforços, também faz uso de um Flexibilidade” do Protocolo de Kyoto, junto com o te pela Assembléia Geral das Nações Unidas.
situação do capital natural da Terra” e foca os “serviços” (benefícios) sistema chamado Mecanismo de Kyoto, que per- Comércio de Emissões (o comércio de compensações Como defensora da Deds, a SGI continuará a
que os ecossistemas proporcionam às pessoas, além de analisar como mite a absorção do carbono pelas florestas, atuan- de emissões entre as nações desenvolvidas) e a trabalhar para promovê-la, por exemplo, por meio
as mudanças na qualidade desses serviços podem afetar o bem-estar do como escoadouros de carbono para se chegar Implementação Conjunta (a transferência de com- da exposição “Sementes da Mudança: A Carta
humano hoje e no futuro. A Avaliação também examina as respostas aos objetivos de redução das emissões. O Japão, pensações de emissões entre as nações desen- da Terra e o Potencial Humano” e do documen-
que podem ser adotadas no âmbito local, nacional e global para além de empenhar o máximo esforço para alcan- volvidas). Esses mecanismos estão destinados a tário “Uma Revolução Silenciosa”, cuja produ-
melhorar a administração dos ecossistemas. çar seus próprios objetivos, deve tomar a inicia- facilitar e a baratear os objetivos de redução de ção apoiamos.
O Relatório Sintético da Avaliação de Ecossistemas do Milênio, lançado emissão de gases do efeito estufa que os países
tiva de auxiliar os outros países a preservar e res- Em outubro de 2005, a Organização das Na-
em março de 2005, revelou que aproximadamente 60% dos “serviços” industrializados concordaram no Protocolo de Kyoto.
taurar suas florestas e criar novas fontes de ener- ções Unidas para a Educação, a Ciência e a Cul-
dos ecossistemas que mantêm a vida na Terra estão sendo degradados O MDL é o único mecanismo de flexibilidade que
gia renovável. tura (Unesco) elaborou o Plano Internacional de
ou utilizados de forma não-sustentável. Ele adverte que essas conseqüências envolve os países desenvolvidos, e também objetiva
Além do Mecanismo de Kyoto, há ainda o Me- Implementação da Deds. Ela definiu seu objetivo
nocivas podem crescer significativamente nos próximos 50 anos. Isso “auxiliar os países em desenvolvimento a alcançar
canismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), que geral como sendo “integrar os princípios, valores
inclui o surgimento de novas doenças, mudanças repentinas na qualidade um desenvolvimento sustentável”. Atualmente, os
da água, formação de “zonas mortas” ao longo das costas, o colapso possibilita os países desenvolvidos a investir em países em desenvolvimento não possuem obrigações e práticas do desenvolvimento sustentável em to-
da pesca e mudanças nos padrões regionais do clima. projetos que reduzam a emissão dos gases do efei- para restringir suas emissões de gases do efeito estufa, dos os aspectos da educação e do ensino”,44 e, com
www.maweb.org/en/index/aspx to estufa nos países em desenvolvimento. Tam- mas o MDL os possibilita a contribuírem volunta- esse objetivo, mudou os padrões de comportamen-
bém merece todo nosso apoio a proposta feita pe- riamente com a redução global de emissão. to e criou um futuro mais sustentável. A Unesco
próximos dois anos, sistemas sucessores do pro- los países desenvolvidos durante a Conferência De acordo com as regras do MDL, um país também solicitou aos governos que formulassem
tocolo para o período após 2012. É significativo sobre Mudança Climática, em Montreal: acres- industrializado com um objetivo de redução de gases sistemas de implementação nacional e estruturas
que a conferência tenha propiciado um foro no centar os programas de conservação das flores- do efeito estufa pode investir em um país em para promover a Deds, a fim de elevar a conscien-
qual os representantes de todos os partidos pu- tas aos já incluídos no MDL. desenvolvimento sem um objetivo de redução, e obter tização sobre desenvolvimento sustentável.
dessem se encontrar e conversar. A participação Estou convencido de que é crucial encorajar créditos para emissões, utilizando esses créditos para Como patrocinador da Deds, o Japão tem a par-
dos Estados Unidos e dos principais países de- os países em desenvolvimento a participarem nos suas próprias metas. Exemplos típicos nesse sentido ticular responsabilidade de fornecer um modelo
são projetos nos países em desenvolvimento que
senvolvidos — embora condicionados à nature- programas de redução de emissão, oferecendo de implementação local e internacional. Ele to-
reduzem as emissões ou removem o CO2 da atmosfera.
za não obrigatória das conversações — foi sufi- mecanismos construtivos que respondam às suas maria a forma de cooperação e auxílio aos países
http://cdm.unfccc.int/
ciente para salvar a convenção do colapso, o que necessidades específicas. asiáticos e africanos, cujos cidadãos e modo de vi-
parecia iminente. Estima-se que o desmatamento seja respon- da são influenciados pelos efeitos da desertifica-
Como país-sede, que fez importantes contri- sável por 10% a 20% do aumento total de emis- Educação para o ção e por outras formas de degradação ambiental.
buições para a consecução do Protocolo de Kyo- são de gases do efeito estufa no mundo. Há uma desenvolvimento sustentável Tenho declarado em muitas ocasiões que o
to, acredito que o Japão tem um papel importan- extrema necessidade de se construir um sistema Em paralelo a estes esforços de combate ao caminho que o Japão deve trilhar no século XXI
te a desempenhar no desenvolvimento de um sis- global de cooperação para a conservação das flo- aquecimento global, penso que o Japão tem um é fazer do compromisso com o meio ambiente e
tema sucessor. Certamente, será muito mais efe- restas. É com essas considerações em mente que importante papel a desempenhar no campo da edu- com o humanitarismo sua raison-d’être. Esses
tivo o trabalho com países com um forte compro- insisto na adoção de um Tratado Internacional pa- cação. A Década das Nações Unidas da Educa- compromissos se juntam aos esforços para for-
metimento com as questões ambientais. ra o Desenvolvimento de Energia Renovável e pe- ção para o Desenvolvimento Sustentável (Deds) necer auxílio e assistência e possibilitarão às pes-
O Protocolo de Kyoto estabelece que todas as lo estabelecimento de um Fundo Verde Global, iniciou-se no ano passado. A idéia, originalmen- soas e sociedades avançarem no caminho do de-
partes desenvolvam sua eficiência energética, in- conforme apresentei em minha proposta de 2002. te criada pela SGI e outras ONGs, foi proposta pe- senvolvimento sustentável.
24 25

A construção de uma Índia, Nova Zelândia e Austrália assinaram o Tra- nal. O acordo para estabelecer a Cúpula da munidade regional, na qual a guerra é virtual-
comunidade do Leste Asiático tado de Amizade e Cooperação (TAC) no Sudeste Asean+3 e a Cúpula do Leste Asiático de forma mente impensável, um processo que continua por
Quero agora tratar da Ásia, onde as relações da Ásia. Isto ampliou a zona de países comprome- regular vai além do cumprimento da primeira meio de desafios, como a busca pela ratificação
ainda estão muito fragilizadas pelos conflitos e tidos com os princípios do TAC, os quais incluem dessas três condições. Com relação ao secreta- da constituição da União Européia por todos os
tensões da Guerra Fria. “a resolução de diferenças e disputas por meios riado, o grupo encarregado de debater o conteú- Estados-Membros.
Em dezembro de 2005, foi realizada a primei- pacíficos” e “a renúncia à ameaça ou uso da for- do e desenvolver a linguagem para a segunda De- Assim, não seria agora a ocasião para que os
ra Reunião de Cúpula do Leste Asiático na Malá- ça”.45 Os mesmos princípios estão consagrados claração Conjunta sobre a Cooperação no Leste países do Leste Asiático lidassem definitivamen-
sia, com a presença de líderes de dezesseis paí- na Carta das Nações Unidas. E se a consolidação Asiático poderia se ampliar e se tornar uma co- te com o legado de conflito e tensão que conti-
ses: os dez membros da Associação das Nações desses princípios nos países dessa região ajudar missão permanente do Leste Asiático no futuro. nua a assolar a região, a despeito do fim da Guer-
do Sudeste Asiático (Asean) mais o Japão, a Chi- a construir a paz e relacionamentos cooperativos, Uma alternativa seria reorganizar o Comitê Per- ra Fria, e se unissem para dar o primeiro passo
na, a Coréia do Sul, a Índia, a Austrália e a Nova então estará aberto o caminho para a institucio- manente da Asean e seu secretariado, hoje res- rumo à construção dessa comunidade? Os esfor-
Zelândia. Com certeza, a maior realização dessa nalização da renúncia à guerra na região. ponsáveis em administrar o dia-a-dia da Asean ços para a construção de uma Comunidade do
cúpula foi iniciar um processo de diálogo entre os Para assegurar progressos nessa direção, é es- para que cumpra sua função maior. Leste Asiático devem estar baseados em uma vi-
chefes de governo da região com o objetivo de for- sencial que haja diálogos regulares entre os che- Essa comissão serviria para desenvolver as são de longo prazo, antevendo-se em 50 ou 100
mar uma Comunidade do Leste Asiático. fes de governo, junto com um secretariado, que estruturas regionais e assim direcionar questões anos um “Estados Unidos da Ásia”, similar aos
Durante a Cúpula da Asean+3 (Japão, China trate de colocar em prática a cooperação regio- comuns entres os países. Isso incluiria: comba- “Estados Unidos da Europa” imaginado por Vic-
e Coréia do Sul), reunida pouco antes da Cúpu- ter a propagação de novas epidemias de gripe e tor Hugo (1802–1885). Em uma união dessa es-
la do Leste Asiático, os participantes adotaram Associação das Nações do Sudeste outras ameaças na área da saúde pública e ser- pécie, elevados níveis de integração regional for-
a Declaração de Kuala Lumpur, comprometen- Asiático (Asean) viço sanitário; implementar plenamente as lições neceriam um cenário onde cada nação com sua
do-se, entre outras ações, a: (1) realizar a Cúpu- A Associação das Nações do Sudeste Asiático do terremoto e do tsunami de Sumatra de dezem- cultura, brilhe, radiosa, com suas qualidades e
la da Asean+3 anualmente, junto com a Cúpula (Asean) foi estabelecida em 8 de agosto de 1967, bro de 2004 para fortalecer a cooperação regio- individualidades únicas, ao mesmo tempo em
da Asean, oferecer incentivo político para a for- pela Indonésia, Malásia, Filipinas, Cingapura e nal na prevenção de desastres e a recuperação; que se enriqueça com os frutos da coexistência
mação da Comunidade do Leste da Ásia, e (2) Tailândia. Brunei juntou-se em 8 de janeiro de 1984; e evitar a destruição e degradação ambiental. pacífica e do florescimento mútuo.
o Vietnã em 28 de julho de 1995; Laos e Mianmar
iniciar os esforços de todos para preparar uma Trabalhar juntos em questões de interesse co- Naturalmente, devemos nos lembrar de que
em 23 de julho de 1997; e o Camboja em 30 de
segunda Declaração Conjunta sobre a Coopera- mum certamente auxiliaria a forjar a confiança o processo de integração européia foi facilitado
abril de 1999. Hoje, a região da Asean possui uma
ção no Leste da Ásia em 2007, e assim, estabe- na região, fortalecendo as bases de qualquer co- por uma base espiritual comum: o legado da ci-
população de 500 milhões de habitantes, uma área
lecer o direcionamento futuro para a formação da munidade futura. E unir esta cooperação regio- vilização cristã. Qual é, então, o equivalente no
total de 4,5 milhões de quilômetros quadrados e um
Comunidade do Leste Asiático. PIB de 737 bilhões de dólares.
nal à iniciativa política resultante do diálogo no Leste Asiático? As tentativas históricas de se cla-
Para alguém que há muito trabalha para pro- O Tratado de Amizade e Cooperação (TAC) do âmbito da Cúpula certamente acelerará o pro- mar por uma identidade comum subjacente, co-
mover a paz e a amizade na Ásia, este consenso Sudeste da Ásia foi assinado durante a Primeira Cúpula gresso em direção ao estabelecimento de uma mo a afirmação do autor japonês Tenshin Oka-
não poderia ser mais bem-vindo. Espero sincera- da Asean, em 24 de fevereiro de 1976. Dentre seus Comunidade do Leste Asiático. kura (1863–1913) de que a “Ásia é uma só”,46
mente que todos os envolvidos possam ver além princípios-chave estão o respeito mútuo pela podem ser criticadas como fantasia retórica, sem
dos limites de seus interesses nacionais e façam independência, soberania, igualdade, integridade Um ethos de coexistência substância real.
um esforço concentrado para construir uma co- territorial e identidade nacional de todos os países. No próximo ano, será celebrado o cinqüente- Comentei no passado (em um discurso em
munidade de nações livres da ameaça da guerra. China, Coréia do Sul e Japão (os países que compõem nário da Comunidade Econômica Européia (CEE), outubro de 1992 na Academia de Ciências So-
As bases para isso já foram estabelecidas. Co- o “+3”) juntaram-se aos líderes da Asean em 2001, a precursora da atual União Européia (UE). Na ciais da China) que, no Leste da Ásia, diferen-
mo uma condição para a participação na Cúpula em uma reunião ampliada da Cúpula. Europa, meio século de contínuo diálogo e coo- tes povos desenvolveram suas próprias cultu-
do Leste Asiático, China, Japão, Coréia do Sul, www.aseansec.org peração construiu uma sólida base para uma co- ras e tradições e que, portanto, eles não deve-
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riam ser considerados do mesmo modo. Contu- passe, é hora de retornar ao começo. Para encon- vras naquele encontro inspiraram meus esforços
do, na mesma ocasião, também expressei mi- trarmos um caminho de volta no atual impasse para construir laços culturais e educacionais en-
nha crença de que explicar todas essas cultu- das relações sino-japonesas, talvez a melhor ma- tre os cidadãos de ambos os países e forjar uma
ras e tradições seria também a explicação de neira seja recomeçar, relembrando aquele espí- amizade duradoura entre a China e o Japão.
um “ethos de coexistência”. rito que prevalecia quando as relações diplomá- Numa analogia, se as relações políticas e eco-
Com isto, quero dizer que viver em uma re- ticas foram normalizadas pela primeira vez, no nômicas fossem navios, as relações entre as pes-
gião que em sua maior parte desfruta de um início da década de 1970. soas comuns seriam como os oceanos. Enquan-
ambiente natural relativamente hospitaleiro e Pouco antes disso, quando, em 1968, clamei to os oceanos da compreensão mútua e da ami-
compartilha de uma visão de natureza humana pela normalização dessas relações, entre o po- zade continuarem a ligar as pessoas, as intera-
que, em contraste com a ênfase ocidental no vo japonês havia medo e desconfiança dos chi- ções amigáveis permanecerão mesmo em meio
individualismo, experimenta uma identidade neses, mesmo em âmbito individual, havia um às crises em que os navios ficam encalhados. Es-
pessoal por meio de um engajamento íntimo clima exacerbado pelo choque da Revolução ta fé na importância das relações de pessoa a pes-
com os outros, faz com que adquiramos uma Cultural. Todos me criticaram por assumir es- soa é a base de todas as minhas ações.
tendência psicológica de ver a cooperação em sa posição, mas acreditava firmemente, como No ano passado, designado como o “Ano da Cho Moon-Boo
(à esquerda) e
vez do conflito, a união em vez da fragmenta- ainda hoje acredito, que sem relações amigá- Amizade Nipo-Coreana”, publiquei o segundo amigável, normal e estável é bom para a China e
Daisaku Ikeda
ção, o “nós” em vez do “eu”. veis entre a China e o Japão jamais haverá paz volume de diálogos com Cho Moon-Boo, ex-pre- bom para o Japão, para a Ásia e para o mundo.
(abril de 2005).
Experiências anteriores sugerem que qual- na Ásia, ou no mundo. sidente da Universidade Nacional de Cheju, na
quer espécie de integração no Leste da Ásia di- A Cúpula Sino-Japonesa, que propus, foi rea- Coréia do Sul. No momento, estou engajado num A maior prioridade da diplomacia japonesa
ficilmente será atingida da noite para o dia, e lizada em 1972, iluminando o caminho para um diálogo com Zhang Kaiyuan, professor da Uni- desde o fim da Segunda Guerra Mundial foi man-
se provará como sendo muito difícil de susten- histórico comunicado conjunto anunciando a nor- versidade Normal da China Central, um dos maio- ter uma relação de cooperação com os Estados
tar, sem compreensão mútua, valores e uma ba- malização das relações naquele mês de setem- res historiadores chineses. Unidos. Mas talvez essa época tenha terminado,
se filosófica comum — e é precisamente por is- bro. Em maio de 1974, visitei a China pela pri- Quando ele visitou o Japão em dezembro de embora se mantendo a mesma estrutura geral pa-
to que dedico tanta energia para encorajar as meira vez, a convite da Associação da Amizade 2005, o professor Zhang comentou que muitos ra desenvolver outras relações internacionais di-
relações de pessoa a pessoa. Sempre acreditei Sino-Japonesa. japoneses ajudaram e apoiaram o movimento re- nâmicas, centralizadas na Ásia.
ser este o melhor caminho para alcançar uma Quando retornei à China em dezembro, o pre- volucionário de Sun Yat-sen (1866–1925) que O recente acordo entre os governos chinês e
paz duradoura na Ásia. miê Chu Enlai (1898–1976), que lutava contra derrubou a última dinastia imperial da China e japonês para uma série de intercâmbios educa-
a doença, insistiu em se encontrar comigo, ape- em 1912 estabeleceu a república. Ele repartiu cionais recíprocos, envolvendo cerca de dois mil
Uma amizade duradoura sar dos conselhos de seus médicos. Nosso diálo- os seguintes pensamentos, com os quais concor- estudantes anualmente é de alta importância. Faz
entre a China e o Japão go abrangeu vários tópicos, mas tinha um tema dei plenamente: tempo que peço intercâmbios educacionais en-
Creio que as relações entre o Japão, a China básico: o destino da Ásia e do mundo no século tre os jovens da China e do Japão, como forma
e a Coréia do Sul constituem um fator crítico na XXI. “Agora é a época de construir uma amiza- Embora seja preciso respeitar a história, deve- de olhar para o futuro, ao mesmo tempo em que
construção de uma ampla comunidade no Leste de que atravesse as gerações entre a China e o mos nos mover para além dela. A maior parte dos confrontamos as lições do passado. Portanto, con-
Asiático. Infelizmente, em anos recentes, as re- Japão”, disse-me ele. “O último quarto do sécu- dois mil anos em que a China e o Japão estive- sidero que esta experiência é muito bem-vinda.
lações entre os três países, em particular as re- lo XX será o período mais crítico na história do ram em contato foi caracterizada pela amizade. Recomendo, com toda a veemência, que o Japão
lações sino-japonesas, esfriaram consideravel- mundo. Todas as nações devem se posicionar co- Se essas duas grandes nações, separadas por uma reconheça o valor da construção de amizades du-
mente. Elas precisam urgentemente voltar aos mo iguais e ajudar umas às outras.” pequena porção de água estiverem em paz, ambas radouras que atravessem as gerações: é realmen-
trilhos generosos. Infelizmente, o premiê Chu faleceu um ano prosperarão. Se entrarem em conflito, será pior te o melhor curso a seguir no século XXI. O Ja-
Um ditado afirma: quando se chega a um im- depois, mas no transcorrer do tempo suas pala- para as duas. Um relacionamento de cooperação pão, a China e a Coréia do Sul devem trabalhar
28 29

juntos para direcionar os desafios comuns que sa situação, se a nossa passividade permitir que blemas por meio de discussões regionais, sem o re- tão nuclear, no documento final da Cúpula Mun-
enfrentam, forjando relações cooperativas que ela fique à deriva, numa época em que há crescen- curso do hard power da força militar. Uma vez que dial, durante a Assembléia Geral das Nações Uni-
desbravem o caminho rumo à criação de uma Co- te preocupação quanto ao desenvolvimento do pro- esta abordagem se mostrar efetiva, crescerão mui- das, em setembro.
munidade do Leste Asiático. grama nuclear do Irã. Portanto, para que as con- to as chances de estabilidade e não-proliferação Este insucesso duplo é ainda mais trágico, à luz
versações atinjam o próximo estágio, proponho a das armas de destruição em massa, não apenas no das seguintes três tendências perturbadoras, iden-
Encarando o futuro realização de uma Cúpula de Chefes de Governo Leste da Ásia, mas também em outras regiões. tificadas pelo diretor-geral da AIEA, Mohamed El-
Atualmente o Japão, a China e a Coréia do das Seis Partes com a participação de altos repre- Por defender consistentemente que as con- Baradei: o surgimento de um mercado negro nu-
Sul se unem para resolver a delicada questão do sentantes das Nações Unidas e da AIEA, para en- versações das seis partes se desenvolvam como clear, os esforços de mais países, cada vez mais de-
desenvolvimento nuclear da Coréia do Norte. contrar a melhor forma de romper este impasse. um foro de diálogo construtivo e permanente, ob- terminados a adquirir tecnologia para produzir ma-
Desde o processo das Conversações das Seis Par- Um acordo alcançado pelos chefes de gover- jetivando manter a paz no nordeste da Ásia, fi- terial físsil necessário às armas nucleares, e o cla-
tes, em agosto de 2003, este tema prossegue, com no teria peso para gerar um impulso irreversí- quei particularmente gratificado ao ver que a de- ro desejo dos terroristas de adquirir armas de des-
idas e vindas. Cinco rodadas de discussões go- vel. Chegando-se ao consenso, as partes pode- claração conjunta, mencionada antes, incluíram truição em massa. O perigo colocado pelas armas
vernamentais já se realizaram. riam então formar comitês de trabalho para li- estas palavras: “As Seis Partes concordam em nucleares lança uma sombra extensa na comuni-
Por fim, na quarta rodada de negociações rea- dar com questões específicas, estabelecendo explorar modos e meios para promover a coope- dade internacional, e alerta para o fato de que os
lizada no ano passado, a primeira declaração con- prazos para cada estágio do processo, até que ração quanto à segurança no nordeste da Ásia”. esforços para o desarmamento mundial permane-
junta, que objetivou a resolução do problema nu- se verifique o abandono do programa de armas Especificamente com relação ao Japão, espera- çam numa conjuntura absolutamente crítica.
clear norte-coreano, foi adotada e editada. Nesta nucleares. Dividir o problema em passos dis- se que o relaxamento das tensões na região tam- Em parte, isto pode ser atribuído à falta de
declaração, a Coréia do Norte “compromete-se a tintos, com prazos concretos, parece ser a me- bém traga progressos na importante questão dos vontade política. Mas também é significativa a
abandonar todas as armas e programas nucleares lhor forma de atingir progressos nesse proble- cidadãos japoneses detidos pela Coréia do Nor- falta de um grande movimento da opinião popu-
existentes e retornar, o mais breve possível, ao Tra- ma aparentemente intratável. te e nas negociações para a normalização das re- lar mundial exigindo o desarmamento. Embora
tado de Não-Proliferação de Armas Nucleares (TNP) Desta forma, as conversações das seis partes lações diplomáticas entre os dois países. haja urgente necessidade de apoio ao sistema le-
e às salvaguardas da Agência Internacional de Ener- propiciariam um sistema para a resolução dos pro- gal internacional — por exemplo, ressuscitando
gia Atômica (AIEA). De sua parte, os Estados Uni- Educação para a paz o TNP —, ao mesmo tempo, a opinião pública
dos afirmaram que “não possuem armas nucleares Para concluir, gostaria de enfatizar a impor- deve elevar a sua voz. Em termos concretos, is-
na Península Coreana nem intenção de agredir ou
Conversações das Seis Partes tância da educação para o desarmamento, como to requer uma transformação fundamental nas
As Conversações das Seis Partes é o nome dado
invadir a República Democrática Popular da Co- caminho de transformação dos paradigmas da so- atitudes das pessoas, através da educação para
aos encontros de representantes da República Popular
réia com armas nucleares ou convencionais”. ciedade: que uma cultura de guerra, caracteri- a paz e o desarmamento. Nos últimos anos, as
da China, República Democrática Popular da Coréia,
Finalmente a declaração deu às seis partes zada pelo conflito e confrontação, torne-se uma Nações Unidas vêm reconhecendo esta necessi-
Coréia do Sul, Rússia, Japão e Estados Unidos. Esses
das conversações um ponto de partida comum. encontros buscam uma resolução para a crise
cultura de paz fundamentada na cooperação e na dade. E em 2002 a Assembléia Geral adotou um
O próximo passo, contudo, revela-se mais difí- relacionada ao programa de armas nucleares da coexistência criadora. relatório especializado sobre a questão, “Estudo
cil: nenhum prazo ou procedimento específico Coréia do Norte. Houve cinco rodadas de conversas No ano passado o mundo perdeu, por duas ve- das Nações Unidas sobre Educação para o De-
foi estabelecido para a Coréia do Norte abando- até o momento: em agosto de 2003, fevereiro de zes, a oportunidade de registrar o 60º aniversá- sarmamento e Não-Proliferação”.
nar de fato seu programa de proliferação de ar- 2004, junho de 2004, julho, agosto e setembro de rio do lançamento das bombas atômicas em Hi- Em minha opinião, é necessária uma mudan-
mas nucleares. Também permanece a questão 2005, e novembro de 2005. Na declaração roshima e Nagasaki como contribuição para o ça profunda nas idéias e na busca por novas abor-
crítica da criação de um sistema de inspeção. E, conjunta de setembro de 2005, as partes reafirmaram progresso positivo no desarmamento nuclear. Pri- dagens. Convocar a opinião pública para a cau-
o que é uma pena, as próprias conversações es- unanimemente que o objetivo das conversações é a meiro, pelo insucesso da Conferência de Revi- sa do desarmamento requer não apenas especia-
tão suspensas desde novembro do ano passado. “desnuclearização verificável da Península Coreana são do Tratado de Não-Proliferação Nuclear, em listas ou aqueles já envolvidos nos movimentos
Na verdade, são temíveis as implicações des- de forma pacífica”. maio. Depois, pela imperdoável omissão da ques- de paz, mas também pessoas de todas as esferas.
30 31

Em vez de dar ênfase a aspectos técnicos e físi- esforço inauguramos no ano passado os Centros poder de influenciar a sociedade... Se nos unir-
cos do desarmamento, é preciso uma transforma- de Recursos para a Cultura de Paz, em nossos mos, podemos transformar o mundo. Pode levar
ção revolucionária no modo como as pessoas pen- centros culturais de Nova York e Los Angeles. algum tempo, mas visto de uma perspectiva a lon-
sam a paz, de forma que esta seja sentida como No próximo ano, para marcar o 50º aniversário go prazo, as pessoas acabarão vitoriosas...
uma realidade imediata e pessoal. da Declaração pela Abolição das Armas Nuclea-
A paz não é simplesmente a ausência de guer- res feita por Jossei Toda (1900–1958), segundo Esta solidariedade de cidadãos conscientes, pe-
ra. Uma sociedade realmente pacífica é aquela presidente da Soka Gakkai, promoveremos ati- la qual o Dr. Rotblat tinha grandes esperanças, é
na qual todos podem maximizar seu potencial e vidades comunitárias de paz em todo o mundo, o que norteia o movimento do humanismo budista
construir vidas realizadas e livres de ameaças à ao mesmo tempo em que continuaremos a tra- da SGI em 190 países e territórios. Os próximos
sua dignidade humana. balhar para transformar a cultura global de guer- cinco anos, até 2010, serão uma oportunidade úni-
Como iniciativa prática, acredito que deve- ra numa cultura global de paz. ca. Com coragem e esperança, ansiamos trabalhar
mos integrar plenamente a educação para o de- com pessoas de igual mentalidade em todo o mun-
sarmamento, no sentido ampliado que descrevi, Trabalhando juntos por do. Só assim construiremos os alicerces de uma so-
à Década Internacional para uma Cultura de Paz um mundo sem guerras ciedade global de paz e coexistência criadora.
e Não-Violência para as Crianças do Mundo Uma transformação no íntimo de um indiví- Daisaku Ikeda e o

(2001–2010), e desenvolver atividades para es- duo pode encorajar mudanças similares em ou- Dr. Joseph Rotblat
(outubro de 1989).
te fim na sociedade civil. tros. E se isto se estende pela sociedade, gera um
A base para estas iniciativas deve ser a mu-
dança do conceito de soberania nacional para
poderoso raio de luz para a paz, que pode mol-
dar com firmeza a direção dos eventos. O impac-
notas
1. Pronk, "Relatório ao Conselho de v. I, p. 204, 2003. 30. Ibid., Da companhia dos homens,
soberania humana. A educação para o desarma- to coletivo de “cidadãos comuns”, conscientes e Segurança”, 2005. 18. Ibid., Apologia de Raymond das mulheres e dos livros, v. II, p. 99.
mento necessita de um movi- fortalecidos, pode impelir a humanidade rumo 2. McKibben, p. 45, 2003. Sebond, v. I, p. 211. 31. Ibid., Da experiência, v. II, p.
mento popular que ajude a edu- aos objetivos irmãos do verdadeiro desarmamen- 3. Ibid., p. 46. 19. Ibid., Dos costumes e da 223.
4. Yanaguida, p. 157, 2005. inconveniência de mudar sem maiores 32. Ibid., Da fisionomia, v. II, p. 189.
car os cidadãos do mundo que to e do florescimento de uma cultura de paz.
5. Yamazaki, p. 311-312, 2003. cuidados as leis em vigor, v. I, p. 60. 33. Ibid., Da arte da conversação, v. II,
estão firmemente comprometi- Uma de minhas maiores alegrias foi o meu en- 6. Fukuzawa, p. 227, 1997. 20. Ibid., Da experiência, v. II, p. 208. p. 147.
dos com os interesses da huma- contro e diálogo com o Dr. Joseph Rotblat, presi- 7. Montaigne, Ensaios, Por diversos 21. Ibid., Dos costumes e da 34. Ibid., p. 147.
nidade e do planeta, fortalecen- dente emérito das Conferências Pugwash sobre meios chega-se ao mesmo fim, v. I, p. inconveniência de mudar sem maiores 35. Ibid., Do autor ao leitor, v. I, p. 7.
10, 2003. cuidados as leis em vigor, v. I, p. 61. 36. Ibid., Do arrependimento, v. II, p.
do a solidariedade entre eles. A Ciências e Questões Mundiais, que, infelizmente,
8. Ibid., Da experiência, v. II, p. 224. 22. Ibid., Da vaidade, v. II, p. 156. 92.
disseminação do conhecimento faleceu no ano passado. Jamais me esquecerei de 9. Nitiren, p. 564, 1952. 23. Ibid., p. 156. 37. Ibid., A propósito de Virgílio, v. II,
e da informação sobre o desar- um certo comentário que ele me fez sobre como 10. Montaigne, Ensaios, Apologia de 24. Ibid., p. 157. p. 108.
mamento não deve ser um fim livrar o mundo das armas nucleares e da guerra: Raymond Sebond, v. I, p. 206, 2003. 25. Ibid., Dos costumes e da 38. Ibid., Da arte da conversação, v. II,
11. Ibid., p. 207. inconveniência de mudar sem maiores p. 51.
em si: a nossa maior prioridade
12. Ibid., Dos canibais, v. I, p. 101. cuidados as leis em vigor, v. I, p. 63. 39. Ibid., A propósito de Virgílio, v. II,
deve ser transformar a mente e Quando uma pequenina pedra é lançada num 13. Ibid., Da educação das crianças, v. 26. Ibid., Da vaidade, v. II, p. 170- p. 110.
o comportamento de forma que lago, as ondas viajam amplamente, a partir do I, p. 80. 171. 40. Ibid., Da experiência, v. II, p. 221.
estes possam estar fundamen- centro. Embora elas se tornem menos poderosas, 14. Ibid., Das desigualdades entre os 27. Ibid., Dos costumes e da 41. Ibid., p. 224.
tados em uma cultura de paz. não desaparecem completamente. Cada pessoa homens, v. I, p. 125. inconveniência de mudar sem maiores 42. Nakano, p. 35, 1996.
Jossei Toda, 15. Ibid., Apologia de Raymond cuidados as leis em vigor, v. I, p. 64. 43. Walshe, p. 245, 1995
segundo De nossa parte, a SGI vem promovendo ex- tem o poder de criar ondas que transformem a so-
Sebond, v. I, p. 226 28. Ibid., Da arte da conversação, v. II, 44. Unesco, p. 6, 2005.
presidente da posições como “Construindo uma Cultura de Paz ciedade. Se esses esforços forem concentrados e ca- 16. Nitiren, p. 579, 1999. p.142. 45. Tratado, Artigo 2, 1976.
Soka Gakkai. para as Crianças do Mundo”. Para apoio deste nalizados pelas ONGs, inevitavelmente crescerá o 17. Montaigne, Ensaios, Da crueldade, 29. Cf. Ibid., Da vaidade, v. II, p. 154. 46. Okakura, p. 1, 1903.
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Proposta de paz proferidas por
Daisaku Ikeda em 26 de janeiro, Dia da SGI
2005 — Uma nova era de diálogo: o triunfo do humanismo

2004 — Revolução interior: uma onda mundial pela paz

2003 — Por uma ética global — A dimensão da vida: um paradigma

2002 — O humanismo do caminho do meio — O alvorecer de uma civilização global

2001 — O desafio da nova era: construir a todo instante o “Século da Vida”

2000 — A paz pelo diálogo — É tempo de falar: uma cultura de paz

1999 — Pela cultura de paz — Uma visão cósmica

1998 — A humanidade e o novo milênio: do caos para o cosmos

1997 — Novos horizontes de uma civilização global

1996 — Rumo ao terceiro milênio: o desafio da cidadania global

1995 — Criando um século sem guerras através da solidariedade humana

1994 — A luz do espírito global: uma nova alvorada na história da humanidade

1993 — Rumo a um mundo mais humano no século vindouro

1992 — Uma Renascença de esperança e harmonia

1991 — O alvorecer do século da humanidade

1990 — O triunfo da democracia: rumo a um século de esperança

1989 — A alvorada de um novo globalismo

1988 — Entendimento cultural e desarmamento: os blocos edificadores da paz mundial

1987 — Propagando o brilho da paz: rumo ao século do povo

1986 — Rumo a um movimento global por uma paz duradoura

1985 — Novas ondas de paz rumo ao século XXI

1984 — Criando um movimento unido para um mundo sem guerras

1983 — Nova proposta para a paz e o desarmamento

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