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"YouTube: 100 milhões de vídeos por dia é uma moda ou um fenómeno

imparável?" - Público, por João Pedro Pereira, 24 de Setembro de 2006

(Respostas na integra)

- A utilização da televisão é ainda eminentemente individual e passiva. É expectável


que a curto ou médio prazo este tipo de utilização se inverta, com uma eventual
massificação de sistemas de televisão interactiva?
CQ: Em primeiro lugar, tenho grandes dúvidas sobre se a utilização da televisão é
sobretudo individual e passiva: investigadores como Ien Ang, David Morley, Henry
Jenkins - entre muitos outros -, têm vindo a demonstrar que as audiências são activas e
das mais diferentes formas. Em particular, Henry Jenkins defende os padrões de consumo
de Media têm vindo a ser profundamente alterados por uma sucessão de novas
tecnologias, que permitem ao cidadão médio participar no arquivo, anotação,
apropriação, transformação e recirculação de conteúdos. A ideia de que as audiências são
passivas - como esponjas que absorvem tudo o que vêem no televisor -, faz pouco sentido
para quem estuda as audiências de forma séria e rigorosa. A questão essencial não é se as
audiências são activas ou passivas, mas de que modo são activas.

Em Portugal, a compreensão das audiências de televisão é muito limitada e passa


sobretudo pelos dados obtidos pela empresa de estudos de audiências Marktest: sem
dúvida dados relevantes, mas que apenas dão uma visão parcial da realidade. Depois, nas
nossas Universidades ainda há pouca investigação no terreno sobre os padrões de
consumo de televisão e a sua contextualização no dia-a-dia das pessoas. Esta é uma
situação que contrasta com países como o Reino Unido ou os Estados Unidos da
América, nos quais o corpo de conhecimentos sobre o consumo de televisão é vasto e,
para mais, é sobretudo baseado na investigação empírica. Assim, os investigadores vão
ao terreno conhecer a realidade, através de estudos etnográficos, entrevistas, inquéritos ou
de outros métodos que permitam ter uma leitura mais aprofundada e qualitativa dos
padrões de consumo de televisão.
Ainda que esteja numa fase inicial do trabalho de campo da minha investigação tendo em
vista a obtenção do grau de doutoramento em Ciências da Comunicação, no decorrer das
sessões de observação etnográfica em casa de diferentes famílias tive oportunidade de
observar comportamentos e actividades que não confirmam a noção de que os
espectadores são passivos e de que estão isolados. Em muitas situações o grau de atenção
dado à televisão é mínimo, funcionando mais como luz ou ruído ambiente, enquanto
decorrem outras actividades. As pessoas mantêm conversas enquanto vêem televisão ou
lêem revistas e jornais, os mais jovens enviam SMS, as senhoras fazem tricot ou malha e
vão espreitando o que está a dar na televisão. Durante os blocos de publicidade há quem
aproveite para fazer soduku e palavras cruzadas. Ainda curioso foi observar os mais
jovens a desempenhar múltiplas tarefas em simultâneo: no PC a “falar” como os amigos
no Messenger, a ouvir música, a jogar ou a fazer trabalhos escolares, e de vez em quando
a espreitar a televisão. O modo “multi-tasking” de consumir Media é uma tendência
crescente, já documentada em diversos estudos efectuados nos Estados Unidos, por
exemplo, mas que em Portugal está por estudar e por compreender. Em síntese, sabemos
muito pouco sobre o que é isso de ver televisão em Portugal …

- A personalização do acesso aos conteúdos, nomeadamente através de sistemas de


conteúdo "on-demand", poderão estar a ditar a morte do "zapping" e o fim das
grelhas de programação?
CQ: Declarar a morte ao “zapping” e das grelhas de programação é algo que não arrisco,
pelo menos por enquanto. Com os conteúdos “on-demand” e com a possibilidade de
gravação de conteúdos para um suporte de arquivo, os utilizadores já não têm que ficar
subordinados aos horários dos canais para ver o que querem à hora que querem e,
mesmo, através do equipamento que lhes seja mais conveniente. No entanto, lá por a
tecnologia permitir fazer algo tal não implica que as pessoas em massa queiram usufruir
dessa possibilidade: é expectável que haja quem prefira continuar a fazer “zapping” como
hoje e a não optar por personalizar o acesso aos conteúdos. Agora, também é expectável
que haja quem prefira fazer a sua própria grelha de programação e para quem o
“zapping” seja tão bizarro como fazer pesquisa no Google utilizando só a opção de
pesquisa aleatória “I’m felling lucky”.

Em países onde já existe uma base instalada significativa de gravadores de vídeo digital
(Personal Video Recorders ou Digital Video Recorders), os anunciantes e canais de
televisão observam com preocupação a emergência de formas de consumo de televisão
que colocam em causa o seu actual modelo de negócio. Por exemplo, o operador de TV
via satélite Sky revelou que 76% das pessoas ao aceder aos conteúdos gravados no PVR
“saltam” os anúncios através da opção de “fast forward”. No entanto, o que à partida
poderia ser visto como uma grave ameaça para o negócio também está a ser visto como
uma oportunidade: em Fevereiro deste ano, a KFC lançou um anúncio no qual escondeu
um código secreto que dava direito à oferta de uma nova sanduíche da KFC, código esse
só acessível a quem visse o anúncio em “slow-motion” num PVR ou mesmo num VCR.
Portanto, há sempre forma de dar a volta ao problema.

No caso concreto de Portugal, ainda não surgiram ofertas comerciais de PVRs e de


conteúdos “on-demand” por parte dos operadores de televisão paga: de momento existe
“pay-per-view” (acesso a conteúdos em horários fixos, de forma semelhante às salas de
cinema), enquanto os serviços de “video-on-demand” estão ainda em fase de teste. Se o
que foi anunciado pelos diversos operadores de televisão paga se vier a materializar,
iremos ter um ano muito interessante em termos de oferta de serviços de televisão digital
interactiva: só depois se poderá analisar devidamente o impacto dos conteúdos “on-
demand” e da gravação de conteúdos junto dos utilizadores Portugueses. Os canais de
televisão dominantes no nosso país podem ver estas novas tecnologias como uma forte
ameaça, mas também como uma grande oportunidade.

- Que tipo de convergência se pode esperar entre web e televisão? É possível afirmar
que o futuro da televisão passará pela Internet?
CQ: O futuro da televisão já está a passar pela Internet – basta ver os casos do Google
Vídeo (http://video.google.com/) e do iTunes da Apple, nos quais a par dos “downloads”
pagos de filmes e de programas de televisão, o utilizador também pode fazer “download”
de conteúdos produzidos por amadores de forma gratuita e mesmo fazer “uploads” dos
seus próprios conteúdos.

A partilha de vídeos na web é hoje algo muito sério. O destaque vai para o site YouTube
(http://youtube.com/), um caso de sucesso surpreendente: o site foi lançado em Maio de
2005 e no início de Abril de 2006 anunciaram que os seus utilizadores estão a publicar
cerca de 35.000 novos vídeos por dia, atraindo uma audiência que acede a mais de 35
milhões de vídeos por dia. Para se ter um termo de comparação, em Fevereiro último, o
YouTube teve 176 milhões de páginas visitadas, enquanto o site MSN Vídeo ficou-se
pelas 38 milhões de páginas e o Google Vídeo pelas 76 milhões de páginas visitadas, de
acordo com um recente artigo da Associated Press sobre sites de partilha de vídeos na
web.

Ainda na área dos conteúdos gerados pelos próprios utilizadores, depois dos blogs
surgem agora em força os vlogs – diários na web em vídeo -, sendo de destacar o caso do
vlog Rocketboom (http://www.rocketboom.com/vlog/ . Há dias foi divulgado que o
Rocketboom tem em média 300.000 visitantes por dia – um número impressionante tendo
em consideração que se trata de um conteúdo de certa forma amador e cuja a divulgação
está baseada no boca-a-boca.

Outro fenómeno não negligenciável é o dos ”downloads” ilegais de conteúdos de


televisão e cinema: os produtores de conteúdos de televisão e cinema que não
compreendam esta realidade arriscam-se a trilhar o mesmo caminho da indústria
discográfica, ou seja, a perder receitas todos os anos e a entrar em litígio com os alegados
prevaricadores.

Atenta a estas novas tendências, a Disney anunciou recentemente que vai permitir o
acesso gratuito de séries populares como “Desperate Housewives” e “Lost”, um dia
depois da sua exibição na ABC. Este projecto piloto tem início já a partir de dia 1 de
Maio e irá decorrer durante um período experimental de 2 meses, sendo o acesso feito a
partir do site da ABC (http://abc.go.com/fes/index.html ). Se este exemplo vai ser seguido
por outros grandes produtores de conteúdos só o futuro o dirá, mas neste momento pode
ser considerado como um forte indicador de que o futuro da televisão irá cada vez mais
passar pela Internet.

- Na sua opinião, é mais provável que o utilizador passe a usar o PC e a Internet


para ver televisão, ou que, pelo contrário, a televisão passe a ser usada para aceder à
Internet? Podemos esperar que os dois aparelhos se fundam num futuro próximo?
Ou vamos assistir à multiplicação de dispositivos?
CQ: Actualmente, a tendência parece ser mais a da multiplicação de dispositivos para
acesso a conteúdos de televisão. Os lançamentos de serviços de Mobile TV são um bom
exemplo dessa tendência, possibilitando o acesso a um pacote de canais de televisão ou a
excertos de vídeo a partir do telemóvel.

Sinceramente, a questão que para mim é apaixonante não tanto qual a tecnologia
dominante ou qual o “gadget” que vai permitir ver televisão, mas sim quais os
comportamentos, actividades, mudanças culturais que vão emergir, no fundo, qual o
impacto destas novas tecnologias no nosso dia-a-dia? Julgo que a máxima “cyberpunk”
do autor de ficção científica William Gibson é cada vez mais verdadeira: “the street finds
its own uses for things" – a “rua”, as pessoas comuns encontram por si próprias a
utilidade para as coisas. O caso da utilização do SMS é exemplar, mas acredito que
vamos continuar a assistir a mais utilizações inesperadas e surpreendentes destas novas
tecnologias de consumo, produção e distribuição de conteúdos digitais.

- Quanto tempo poderão estas mudanças no panorama televisivo demorar a ser


implementadas e massificadas?
CQ: Pergunta difícil, para a qual a resposta que primeiro me vem à cabeça são as
inesquecíveis palavras de João Pinto: prognósticos, só no fim do jogo. Agora a sério,
ainda que a futurologia não seja o meu forte, julgo que há uma série de factores a
considerar para que estas novas tecnologias sejam adoptadas pela larga maioria das
pessoas: preço justo, qualidade do serviço e do apoio ao cliente, disponibilidade em todo
o território, adequação às necessidades e preferências dos utilizadores podem ser
considerados como os principais factores.
Em particular, a adequação às necessidades e preferências dos utilizadores parece-me ser
crítica. Em traços largos, hoje em dia na generalidade dos países assistimos à
fragmentação das audiências de televisão, com a subida continuada das audiências nos
canais temáticos. As gerações mais jovens são as que menos vêem televisão e as que mais
tempo dedicam à utilização da Internet. A taxa de penetração da Internet de Banda Larga
continua a aumentar: a importância da Banda Larga não se limita ao acesso mais rápido a
conteúdos, como também à possibilidade de partilhar de conteúdos produzidos pelos
próprios utilizadores de forma simples e barata. O telemóvel é hoje um equipamento
multimédia e multi-funções, que para além da voz, suporta texto, fotos, música, jogos,
vídeo.

A BBC já percebeu a importância destas novas tendências de consumo de Media e está,


de facto, atenta às necessidades e preferências dos utilizadores-finais. Sendo na
actualidade uma referência mundial em televisão, a BBC está claramente a posicionar-se
como líder nesta nova fase da evolução dos Media. No passado dia 25 de Abril, a BBC
revelou os seus planos para refazer o seu site (www.bbc.co.uk ) tendo por base os
conteúdos gerados pelos próprios utilizadores, incluindo vídeos amadores e blogs, com o
objectivo de criar algo na linha do site MySpace (www.myspace.com ) mas com uma
missão de serviço público. Também anunciou que o público vai ter a possibilidade de
fazer o “download” de toda a programação dos oito canais da BBC, até sete dias após a
sua exibição, através do BBC iPlayer.

Em Portugal, seria óptimo termos uma entidade ou empresa com a visão e arrojo da BBC.
No entanto, julgo que também é necessário que os utilizadores sejam mais participativos
e mais exigentes, sabendo pressionar as empresas na área dos Media a estarem mais
atentas às suas expectativas e a agirem em conformidade ou, melhor ainda, superando
essas mesmas expectativas.

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