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Conspiração que inicia com o coronel da Brigada Militar Waldir João Reis Cerutti, então
comandante do CRPO Planalto, dois meses antes deste se licenciar para concorrer a
deputado estadual pelo Partido Progressista – PP – em maio de 2006, quando formulou o
dossiê intitulado ¨Situação do MST na região norte do RS¨. Este dossiê é uma
sistematização de uma investigação por ele comandada e que teve por investigados o
INCRA, a CONAB, o MST, MAB, MPA e a Via Campesina.
Este documento foi entregue em "caráter confidencial" aos juízes e juízas que
concederam ordens de busca e apreensão, interdito proibitório, ordens de prisão e
reintegração de posse contra integrantes do MST na comarca de Carazinho, que o
remeteram a Superintendência de Polícia Federal e a Promotoria de Justiça Especializada
Criminal do MPE.
As teses e informações constantes do documento foram utilizadas em 1º de junho de
2006, pelo proprietário da Fazenda, integrante da FARSUL, para formular representação
contra o MST junto ao MPE.
Em função desta ação da Brigada Militar, o MPE ingressou com ACP impedindo as
colunas do MST de entrarem nos quatro municípios da comarca de carazinho no RS, e
foram ingressadas com várias ações para impedir que as crianças que acompanhavam
suas famílias permanecessem nas marchas.
Desde a formulação destes relatórios, perceberam-se mudanças nas ações da polícia civil
e brigada militar, em relação a protestos realizados por professores, pequenos
agricultores, sindicalistas, trabalhadores, acusados de delitos, pessoas pobres e
principalmente contra os integrantes da via campesina.
A partir destes documentos a Brigada Militar passou a adotar aquilo que o Centro de
contatos de movimentos sociais da fração Die Linke no Parlamento Alemão, chama de
¨práticas rígidas em reuniões¨.
Esta menção é importante porque o que vem acontecendo nos últimos dois anos do RS,
aconteceu na Alemanha (ocidental) nos anos 80 e (unificada) nos anos 90, quando a
polícia alemã adotou a chamada "Estratégia preventiva da polícia" em relação aos
movimentos sociais.
Nível inicial:
Num segundo nível, dirigido contra as organizações que não foram dizimadas com as
práticas anteriores, a estratégia envolveu:
A execução desta estratégia, na Alemanha, ocorreu por uma unidade especial ou uma
espécie de autoridade especial, chamada KAVALA, criada na polícia, na qual todas as
autoridades governamentais (em um intercambio intensivo) cooperam e que recebem
tarefas da polícia. A KAVALA se transformou numa autoridade superior com atuação
autônoma, na qual a separação entre a polícia civil e a militar, entre as unidades federais
e estaduais e entre o serviço secreto e a polícia desapareceu. Todas as exigências de
separação e principio de separação de poderes que segundo a constituição alemã
serviriam para evitar medidas excessivas do executivo ou da polícia, foram
desrespeitadas. Estes princípios haviam sido inseridos na constituição alemã devido às
experiências do fascismo, justamente para evitar a formação de um aparato policial
descontrolado. A kavala assumiu a liderança, não só no planejamento, mas também nas
medidas operacionais. Assim ela se tornou destinatário do reconhecimento ou não do
direito de manifestação, agindo sempre conforme sua previsão própria do risco de
conflitos. Quem quisesse permanecer nas áreas definidas como de risco de conflitos,
interferia na concepção de segurança da polícia, tornando-se criminoso ou terrorista em
potencial. A kavala não só suspendeu a separação entre polícia e jurisdição, mas também
passou a descrever em seus "relatórios de situação" a verdade para juízes e juíza – com
todas as conseqüências que isso acarreta para a liberdade de reunião, a proteção legal
de medidas da polícia e a ações do processo penal. Outra novidade foi o fato da Kavala
preparar e publicar autonomamente comunicados de imprensa ofensivas, caracterizados
por mensagens incorretas e previsões de risco enganosas, dirigidas á mídia e a opinião
publica. Disso resultou a criação de "zonas especiais" onde estão suspensos o direito de
reunião e manifestação e na identificação de centenas de líderes e mais de 1000 pessoas
em processos judiciais.
No RS, nos últimos dois anos, ocorreu a KAVALIZAÇÃO da Brigada Militar. A execução
desta estratégia, ocorreu inicialmente pelo BOE – Batalhão de Operações Especiais e
agora, diretamente pelo comandante geral da Brigada. Ocorre um intercâmbio intensivo,
entre MPE, Brigada, MPF, PF e Poder Judiciário, que cooperam e que recebem tarefas da
BM. O BOE se transformou numa autoridade superior com atuação autônoma, na qual a
separação entre a polícia civil e a militar, entre as unidades federais e estaduais e entre o
serviço secreto e a polícia desapareceu. Exemplo disso foi o despejo dos dois
acampamentos do MST em áreas arrendadas, próximas a fazenda coqueiros na semana
passada, onde promotor, juiz, procuradora federal, auditoria militar e comando militar,
polícia civil estavam presentes. Todavia, o direito dos acampados de terem um advogado
não foi garantido. É prática do BOE, congelar a área, impedindo os advogados dos
acampados acompanhar as operações. Todas as exigências de separação de poderes
que segundo a constituição brasileira serviriam para evitar medidas excessivas do
executivo ou da polícia, estão sendo desrespeitadas. A constituição federal de 1988
proíbe as policias militares de atuarem na investigação de infrações penais e de
movimentos sociais ou partidos políticos. O art. 144 da constituição federal estabelece
que às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública. A
brigada militar invadiu a competência da policial civil e da polícia federal. Estes princípios
haviam sido inseridos na constituição devido às experiências da ditadura militar brasileira,
justamente para evitar a formação de um aparato policial descontrolado. O BOE-EMBM
assumiu a liderança, não só no planejamento, mas também nas medidas operacionais.
Assim ela se tornou destinatário do reconhecimento ou não do direito de manifestação,
agindo sempre conforme sua previsão própria do risco de conflitos. Quem quisesse
permanecer nas áreas definidas como de risco de conflitos, interferia na concepção de
segurança da polícia, tornando-se criminoso ou terrorista em potencial. Isto foi visto
claramente quando os manifestantes foram impedidos de chegar ao palácio Piratini, e
com as marchas do MST que foram impedidas de chegar a Carazinho. A Brigada não só
suspendeu a separação entre polícia e jurisdição, mas também passou a descrever em
seus "relatórios de situação" a verdade para juízes e promotores – com todas as
conseqüências que isso acarreta para a liberdade de reunião, a proteção legal de
medidas da polícia e a ações do processo penal. A brigada também prepara e publicar
autonomamente comunicados de imprensa ofensivas, caracterizados por mensagens
incorretas e previsões de risco enganosas, dirigidas á mídia e a opinião publica. Disso
resulta a criação de "zonas especiais" onde estão suspensos o direito de reunião e
manifestação, e no RS, hoje existem quatro zonas especiais, ao redor das fazendas
Southal, Palma, Nene e Guerra, criadas por decisão judicial em ACP proposta pelo MPE,
onde num raio de dois quilômetros destas fazendas, está proibido o direito de reunião e
manifestação do MST. No ano passado toda a comarca de Carazinho era uma zona
especial por determinação da justiça. Deste processo todo está decorrendo na
identificação de milhares de pessoas em manifestações, para que posteriormente
respondam processos judiciais. Nos últimos anos tem ocorrido o cumprimento de
mandados de busca e apreensão na sede do Movimento de Mulheres Camponesas,
durante o Encontro Estadual do MST na COANOL – onde o congresso foi desbarato; e
nos acampamentos do MST na Southal e em Coqueiros do Sul. Também ocorreu a
decretação da prisão de dois supostos líderes, que foi revogada pelo STF. Ocorreram
também apreensões ilegais de agendas e documentos dos acampados, que são
utilizados nos informes secretos. Existem fortes indícios de grampos telefônicos ilegais e
monitoramento de pessoas. A brigada continua infiltrando agentes nos acampamentos
que são expulsos quando descobertos e aí dão declarações fantasiosas sobre o
movimento. Os que não são descobertos apresentam-se nos batalhões da brigada e
prestam depoimentos contra o movimento. Existem pelo menos dois casos documentados
desta situação embora não se possa provar que recebem dinheiro da força militar do RS.
Mas isto não é tudo e não é pior. Como a repressão policial com uso de força não
conseguiu extinguir o movimento e os acampados, o processo de kavalização foi para seu
segundo estágio que é a tentativa de decretar-se a proibição legal e da dissolução do
MST.
Uma pergunta que não quer calar: porque se invade uma fazenda-empresa, que é
altamente produtiva? O que representaria para a economia do país destruir fazendas
produtivas e entregá-las a vagabundos que jamais trabalham em terras e sequer
conhecem manejo de plantações?
"Porem o que mais preocupa é a ideologia que atualmente move o MST, caracterizando-
se como movimento revolucionário, com objetivo de tomada de poder, iniciando-se pelo
espaço territorial." Fls. 100
"O MST não está em busca de terras para assentar "colonos", mas quer conquistar
territórios pagos com o dinheiro do povo brasileiro. Estes territórios pasarão a ser
controlados pelos seus líderes e servirão para instalar um estado-paralelo, porque se trata
de áreas estrategicamente localizadas em espaço estratégico, servido por usinas de
energia, acesso por rodovias, e controle absoluto do território." – fls. 106
"É preciso adotar medidas para neutralizar o MST no RS, desconstituindo-o como um
"movimento legítimo de reivindicação". A medida é a mesa adotada para a torcida
organizada Mancha Verde em São Paulo, que trazia violência aos campos de futebol.
Pois bem, chegou a hora do BASTA." Fls. 107
"As ações predatórias do MST ... estão a exigir uma imediata e vigorosa ação
representada por um conjunto de providencias que levem à neutralizaçao de suas
atividades e declaração de ilegalidade do movimento.
- várias ACP para retirar as crianças da companhia de pai e mãe que estiverem
participando de marchas;
- 03 ACP que criaram zonas especiais ao redor das fazendas Palma, Nene e Southal.
Cabe destacar que a pedido da procuradora, a Polícia Federal investigou o MST durante
todo o ano de 2007, e concluiu inexistirem vínculos do movimento com as FARC,
presença de estrangeiros realizando treinamento de guerrilha nos acampamentos e
inexistir a pratica de crimes contra a segurança nacional.
Mesmo assim, a ação, que busca o reconhecimento de que os acusados são terroristas, é
condição e pré-requisito para a dissolução do movimento, foi proposta. Inclusive, nesta
data, está ocorrendo o interrogatório dos acusados.
Todos estes documentos que nos referimos, estão sendo entregues neste momento aos
senadores e ministro, foram repassados pela Procuradora Federal Patrícia Muxfeldt que
está utilizando os mesmos como prova contra os oito acusados de praticarem crimes
contra a segurança nacional, processo que tramita em sigilo na justiça federal de
Carazinho. Não fosse isso jamais teríamos acesso aos mesmos, pois possuem o caráter
de RESERVADO na Brigada Militar, e de CONFIDENCIAL no Ministério Público Estadual
(documentos confidenciais para o MPE só são divulgados depois de 10 anos de sua
elaboração). Meus clientes autorizaram e determinaram a divulgação destas informações,
principalmente depois que o próprio ministério público estadual divulgou parte delas na
imprensa na semana passada.