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ALGUNS COMENTÁRIOS SOBRE O ESTATUTO DO DESARMAMENTO

EULER PAULO DE MOURA JANSEN


Juiz de Direito/PB
Professor de Direito Processual Penal e Técnica de Sentença Criminal da ESMA/PB
Professor do Módulo de Sentença Criminal e de Princípios do Processo Penal da FESMIP/PB
Especialista Lato Sensu em Direito Processual Civil pela PUC/RS
Especialista em Gestão Jurisdicional de Meios e Fins pelo UNIPÊ/PB
Autor do livro Manual de Sentença Criminal pela Renovar-RJ, 2006.

A Lei 10.826, de 22 de dezembro de 2003, chamada de Estatuto do Desarmamento,


trouxe várias mudanças com relação ao tratamento dos crimes derivados da posse, porte ou
utilização de armas de fogo. Observa-se que ela tratou com mais severidade e de melhor
explicitou algumas questões abordadas pela lei que até então disciplinava a matéria, a Lei
9.437, de 20 de fevereiro de 1997 – Lei de Armas de Fogo.
O art. 12 do estatuto mostra o cuidado em não sobre-onerar a pena daquele que,
apesar de estar com arma de uso permitido em situação irregular, a mantém em sua residência
ou trabalho, talvez demonstrando a idéia de facilitar sua autodefesa. Tal situação era
corriqueira no interior, onde, muitas vezes, o réu de idade já avançada afirmava que recebera
a arma se seu pai há mais de 30 anos e a mantinha apenas para sua própria proteção. Se não
fosse a pena mais branda para este artigo, sequer poderia ele ser agraciado com a suspensão
condicional do processo (art. 89 da Lei 9.099/95) e seria colocado em igual condição com
aquele que é preso portando uma arma e, além desta, muitas más intenções.
Outro exemplo dessa melhor abordagem foi quanto à supressão ou adulteração de
numeração ou sinal identificador de arma de fogo ou artefato. Na Lei 9.437/97, a questão era
assim disciplinada:
Art. 10. [...]
§ 2° A pena é de reclusão de dois anos a quatro anos e multa [...].
§ 3° Nas mesmas penas do parágrafo anterior incorre quem:
I - suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação
de arma de fogo ou artefato;
A Lei 10.826/03 não só explicita a conduta de suprimir ou alterar a marca ou
numeração (art. 16, parágrafo único, I), mas também criminaliza a conduta de “portar,
possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração, marca ou qualquer
outro sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado” (inc. IV do mesmo parágrafo).
O legislador, sem dúvida, levou em consideração a jurisprudência sobre o assunto,
que consignava pacificamente que somente o responsável pela adulteração ou supressão seria
punido e, mesmo que a arma em tais condições estivesse sendo portada ou possuída não
haveria nenhum plus legal de reprovabilidade em relação ao porte ou posse em
desconformidade com a regulamentação.
Muito difícil, quase impossível, é condenar alguém por haver suprimido uma
numeração, pois há a necessidade de se encontrar prova de que foi ele o autor, como uma
testemunha que visualizou o ato, o instrumento que o efetuou, a limalha resultante ou, ao
menos, indícios que a arma tinha numeração antes quando chegou às suas mãos e, sem
interrupção dessa posse, a perdeu.
Com o advento do Estatuto do Desarmamento, basta o porte, a posse, a aquisição, o
transporte ou fornecimento da arma ou artefato de numeração adulterada ou suprimida para a
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tipificação do crime.
Outra questão normalmente não abordada é se a arma referida nesse inciso IV é
somente a de uso proibido ou restrito ou pode ser também a de uso permitido. Veja-se que,
por técnica legislativa, deveria o conteúdo de o parágrafo restringir-se aos limites traçados
pelo caput do artigo. Entretanto, não nos parece correto este posicionamento. Inicialmente,
observamos que a intenção da lei é dar uma reprovabilidade maior à posse ou porte de arma
ou artefato adulterado, mesmo que se trate de arma de fogo de uso permitido e essa, para fins
de pena, equipara-se à posse ou porte de arma de fogo de uso proibido ou restrito. Inclusive,
este mesmo raciocínio é aplicável a outros incisos do mesmo parágrafo, pois não haveria
lógica em punir mais rigorosamente a venda, entrega ou fornecimento de arma ou munição a
menores apenas quando essa fosse de uso proibido ou restrito (inc. V).
Assim, nos pontos traçados, vê-se que o legislador realmente empenhou-se em bem
ajustar as reprimendas à reprovabilidade da conduta, criminalizando ações que apresentam
perigo concreto, apesar da atecnia de mantê-las como mero parágrafo de um artigo que trata
apenas de armas de uso restrito ou proibido.
Apesar de merecedor daqueles elogios, não se importou com a tormentosa questão da
arma desmuniciada e sem possibilidade de o sê-lo facilmente e, pior, da leitura do art. 14, vê-
se que tipificou, como crime, a conduta de posse ou porte munição, sem estabelecer
quantidades, espécies ou a necessidade de visar à alienação. A pena atribuída, ademais, não
foi razoável (de dois a quatro anos de reclusão), tornando melhor o furto de um caminhão
cheio de munição que ser encontrado com duas balas de calibre .22 numa gaveta velha.
Como já tivemos a oportunidade de expressar numa sentença, não há sentido na
criminalização dessa conduta, pois não acreditamos que a atual Constituição Federal -
inquestionavelmente garantista - recepcione a punição de crimes de perigo abstrato como
pode ser caracterizado o crimes de posse de munição desarmada.
Apesar de ser um bom passo, o Estatuto do Desarmamento ainda tem um caminho de
adaptações a percorrer para adaptar-se às reivindicações da sociedade da Constituição e do
sentimento de justiça.

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