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História do Yôga

Esclarecimentos introdutórios
Inicialmente, é importante ressaltar que existem vários estudos no que tange
à história do Yôga, e que muitas das vezes encontramos algumas contradições entre
uma linhagem e outra.

Nas minhas várias formações em Yôga, sempre entrava para aprender como
um caderno vazio. Não questionava a linhagem e nenhum professor, mas ia
questionando aquilo que não fazia sentido e estudando para encontrar algo que se
alinhasse com a minha consciência.

O importante quando estudamos a história do Yôga é perceber que não existe


teoria certa ou errada. Se abra aos vários estudos que se mostrarem disponíveis a
você, caso você tenha interesse em caminhar e se aprofundar ainda mais.

Busque fortalecer o seu conhecimento com aquilo que faz sentido para a sua
consciência, mas, no que tange à história do Yôga, não se encha de certezas e se
afaste de linhas que te dão a fórmula certa, pois ela não existe.

Origem do Yôga
É difícil apontar exatamente qual é a origem do Yôga, uma vez que a sua origem
vem antes de qualquer registro. É certo que os primeiros Yogis praticavam um Yôga
bem diferente do atualmente praticado, mesmo em linhas mais tradicionais.

Pode se dizer que os primeiros Yogis eram verdadeiros observadores da


Natureza e dos obstáculos que a Natureza oferecia. A busca era a libertação das
amarras da matéria para se alcançar o sagrado.

Nesse curso, vamos analisar amplamente cada uma das “eras” do Yôga,
incluindo a teoria que mais fez sentido para os meus estudos, que entendem que o
Yôga originário vem de uma linha matriarcal, desrepressora e natural, com
embasamentos tântricos, como será amplamente estudado nas próximas páginas.

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Paramparā
Da observação e da vivência dos primeiros Yogis em busca de Moksha
(libertação), surgiu a necessidade de passar os seus ensinamentos para as próximas
gerações através do sistema de transmissão oral do conhecimento, ou Paramparā.
Essa técnica de transmissão do conhecimento atravessa gerações, e ainda é utilizada
dentro das várias linhagens.

Era Pré Védica – ( 6.500- 4.500 a.C.)


Folcrole
Certa vez um famoso dançarino improvisou alguns movimentos instintivos,
porém, extremamente sofisticados. Emocionava a todos que assistiam. Era algo
espontâneo, que só encontrava eco no coração daqueles que também tinham uma
sensibilidade apurada. O dançarino conseguiu transmitir boa parte do seu
conhecimento. Até que um dia, muito tempo depois, o Mestre morreu.

Os discípulos preservaram a arte intacta e assumiram a missão de retransmiti-


la. Seu fundador ingressou na mitologia com o nome de Shiva e com o título de
Natarája, Rei dos Dançarinos. Esses fatos ocorreram há mais de 5000 anos a
Noroeste da Índia, no Vale do Indo, que era habitado pelo povo Drávida, a civilização
do Rio Indo.

O que mais caracteriza os povos antigos, dravídicos e pré-dravídicos da Índia,


é a relevância da mulher no contexto social. As divindades femininas do hinduísmo,
as shaktís, simplesmente representam a forma mitológica e simbólica daquela
sociedade matriarcal primitiva. Por força do matriarcalismo tântrico, evidenciam-se
as outras duas características: a sensorialidade e a desrepressão.

Esta foi uma civilização relacionada com as origens do Yôga, pois


encontraram-se vários vestígios arqueológicos que demonstram que este povo
era Shivaísta (Shiva - o criador do Yôga), como são os casos de selos com a figura
de Pashupati, o senhor dos animais.

Segundo o arqueólogo, Sir John Marshall, no vale do hindu havia o culto a


‘Grande Deusa-Mãe’, sendo às vezes representada por estatuetas de figuras
femininas grávidas, a maioria nuas, com gargantilha alta e ornamento na cabeça. O

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deus masculino é identificado como Shiva, sentado com as plantas dos pés tocando
uma na outra (um dhyanásana), foram encontradas muitas figuras de pedra do falo
e da vulva, que apontam para o culto do lingam e da Yoni representando Shiva e
Shakti (sua consorte).

Para algumas linhagens, foi nessa civilização que o Yôga surgiu, e essa foi a
teoria que mais fez sentido para a forma como percebo o Yôga. Uma civilização
tântrica (matriarcal) e sámkhya (naturalista). Vamos estudar mais profundamente os
conceitos de tantra e sámkhya ainda nesse módulo.

Algumas teorias dizem que o povo ariano invadiu as terras Dravidianas e


massacrou o seu povo.

Existem algumas teorias que, no entanto, lutam por contrariar esta dualidade
entre drávidas e arianos, invasores e massacrados, bárbaros e civilizados, fazendo
passar a ideia de que nunca existiu nenhuma invasão e de que na realidade são uma
e a mesma coisa.

Era Védica (4.500 – 2.500 a.C ) - Civilização Védica

Os estudiosos Feuerstein, Kak e Frawley dizem que o modelo de invasão ariana


se apropriou dos estudos de culturas nativas, apagando qualquer traço dessa
apropriação, e tomando os estudos como se deles fossem. Alguns estudiosos
entendem que essa invasão e apropriação jamais existiu, pois os Arianos
supostamente sempre foram indianos e habitantes do Vale do Indo (como os
Dravidianos), sendo o Yôga um fruto da civilização Indo-Sarasvati.

Nessa época, o Yôga era praticado somente por homens, tendo em vista a
sociedade patriarcal que imperava na Índia. O termo Vedas provém do sânscrito, cuja
raiz “vid” significa “sabedoria” “conhecer a Sabedoria Divina”, por isto os Vedas são
traduzidos como Sabedoria Divina ou Suprema. Os Vedas são a base do hinduísmo
contemporâneo.

A Era védica é fartamente documentada em textos sagrados, conhecidos como


Vedas. O Rigveda (Livro dos hinos) foi o primeiro Veda, e possuía um texto em forma
de revelações. É uma coleção de 1028 hinos (Sukta), divididos em dez livros
(Mandala), nos quais encontramos épicos, lendas antigas, encantamentos, mitos,

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regras de comportamento social e religiosos, poesias etc. nele aparecem muitas
variações de linguagem devido a variação cronológica e diversidade de autores. O
RigVeda é a base de todas as concepções filosóficas do solo indiano. Contém as
primeiras perguntas que o homem fez em relação a criação, à natureza do universo e
de sua própria função existencial. Nele, há um verbo que é a raiz da palavra, Yôga:
YUJ, que significa atrelar, ajustar e conectar. Esse seria o atrelamento ao Dharma.

O Sama Veda contém uma coletânea de melodias (Mantras) cantadas pelos


sacerdotes da classe Udgatar, durante as oferendas sacrificiais. Estes hinos
reverenciam uma bebida chamada Soma. É composta de duas partes: Arcita com 585
cantos, classificados conforme o ritmo ou os deuses aos quais se referem;
Utthararcika com 400 cantos de três estrofes em geral, agrupados segundo a ordem
dos principais sacrifícios.

O Yajur Veda contém formulas que os sacerdotes murmuravam nos ritos de


sacrifício. Existem duas versões do Yajur Veda. A primeira, conhecida como Negra, é
a mais antiga, chamada assim porque suas fórmulas estão mescladas e sem
ordenação clara.
A segunda versão, conhecida como Branca é assim chamada porque suas fórmulas
possuem ordenação clara e sistemática.

O Atharva Veda contém cerca de seis mil versículos sobre os mais diversos
temas, mas sobretudo ensinamentos de magia e medicina popular, destinados a
promover a paz, a saúde, o amor e a prosperidade material e espiritual.

Era Brahmânica ( 2.500 – 1.500 a.C )

De acordo com alguns estudiosos, o fim da Era Védica foi marcada pela famosa
guerra que consta no Mahabharata e que a tradição data de 3102 a.C. Isso coincide
com o início de Kali Yuga. Escrituras como o Mahabharata apresenta Kali Yuga como
uma era de crescente degradação humana, cultural, social, ambiental e espiritual,
sendo, simbolicamente, referida como Idade das Trevas porque, nela, as pessoas
estão tão longe quanto possível de Deus.

Ainda de acordo com estudiosos, especificamente Feuerstein, com o colapso


do abastecimento de água dos rios Indo e Sarasvathi, os povos se viram obrigados a

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se deslocar para o leste, ao redor das áreas férteis do rio Ganges, dando início assim à
Era Brahmânica.

O sistema social torna-se cada vez mais complexo na Era Brahmânica e neste
período o conhecimento védico ficou reservado aos Brahmanes ou casta dos
sacerdotes. Aqui, o Yôga aparece como forma de se ligar à Brahma (criação).

Nos últimos séculos desse período, os brâhmanes iniciam a escritura de textos


que deram início à Era Upanishádika, cujo preceito tinha como base ideológica a
renúncia às coisas do mundo. Assim vemos os primórdios da tecnologia
psicoespiritual indiana propriamente dita.

Era Pós-Védica ou Upanishadika (1500-1000 a.C.)

Apesar de haver documentos que atestam a existência do Yôga na época


Védica, como por exemplo no RigVeda, as primeiras alusões explícitas ao Yôga
encontram-se nos Upanishad mais antigos, também conhecidos por Upanishad. A
palavra Upanishad significa aproximar-se, sentar-se aos pés de alguém para ouvir as
suas palavras.

Considerado por alguns como parte dos Vedas, os primeiros Upanishads foram
escritos no primeiro milênio a.C como parte de um movimento espiritual em que
dependência de rituais secretos deram lugar à práticas internas.

Nos Upanishads podemos encontrar explicações detalhadas da prática do


Yôga, embora focada na meditação. Considerada a essência e a palavra final dos
Vedas, que ficou conhecido como a filosofia do Vedanta (“o fim dos Vedas”).

Como expressão da filosofia religiosa hindu, os Upanishads expuseram a


crença em um espírito universal, Brahman e uma alma individual, Atman. Brahman
é o absoluto infinito, tudo o que sempre foi e tudo o que sempre será. Atman, ou o eu
interior, é o eu que experimentamos em nossa consciência limitada, em que é dito
que nós experimentamos alienados do verdadeiro eu: o absoluto, ou Brahman. As
práticas ritualísticas e contemplativas descritas nos Upanishads pretendem unir
Atman e Brahman para atingir libertação dos constrangimentos mundanos e da
consciência limitada que nos impedem de perceber o verdadeiro estado de unidade.

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Os Upanishads são também a fonte escrita mais antiga que descreve o que é
referido hoje como a anatomia do yôga tradicional – Corpo Sutil. O conceito do corpo
em três partes (causal, sutil e físico) e koshas. O conceito de Prana, ou “força vital”,
é encontrado em várias Upanishads.

Nos Upanishads posteriores, começamos a ver a evidência de experimentações


em várias práticas do yôga, utilizando respiração e som como instrumentos de
transformação física. Muita desta exploração foi associada com a ascensão do tantra
e criou as bases para o desenvolvimento futuro do Hatha Yôga. Isso culmina na
descrição do Darshana Upanishad sobre ásanas específicos, posturas sentadas em
que a prática é essencialmente pranayama.

A mente precisa se assentar (ásana) perto do Samadhi (integração entre corpo,


mente e coração).

Era Pré-Clássica ou Épica ( 1.000- 100a.C )

Durante a Era Pré-Clássica, o pensamento metafísico e ético entrou em


efervescência na Índia o que permitiu um confronto entre as diversas escolas
religiosas e filosóficas (darshanas).

Ao mesmo tempo, nessa época surge também uma tendência de integração de


muitos caminhos psicoespirituais, particularmente de duas grandes correntes que
eram, por um lado, a renúncia ao mundo, e por outro, a aceitação das obrigações
sociais (dharma). Foi neste contexto que ocorreu o desenvolvimento Pré Clássico do
Yôga. Um exemplo da integração das doutrinas encontra-se numa das principais
epopeias da Índia, o “Mahâbhârata” do qual faz parte o Bhagavad-Gîta, onde
podemos encontrar inúmeras alusões ao Yôga, nomeadamente ao Karma
Yôga, Jñâna Yôga e Bhakti Yôga.

O Bhagavad Gita, a Divina Canção é assim chamada por conter as palavras de


Krishna, a Divindade encarnada, e por ensinar o homem a elevar-se acima da
consciência humana até uma consciência divina superior, realizando dessa forma na
terra o reinado dos Céus. O Bhagavad Gita explora o mistério da mente, fornecendo
um conjunto de princípios orientadores para uma vida de ação consciente. Embora
possa ser baseado em um evento histórico, o simbolismo do Bhagavad Gita é um guia
para a libertação espiritual. As práticas descritas no Bhagavad Gita oferecem um
caminho para a “paz interior”, através da conexão com o divino.

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A história se desenrola no meio do épico Mahabharata como uma conversa
entre o príncipe Arjuna e seu cocheiro, Krishna. Espiando pelo campo de batalha,
Arjuna vê aqueles que conhece e ama. Eles tentavam matá-lo e fizeram sua vida
miserável, mas ele acha que é errado lutar na guerra e matá-los para reconquistar o
reino. Ele se vira para Krishna para obter conselhos. Krishna expõe a ideia de dharma
ou maneira certa de viver. Ao se identificar com o “eu” imortal, com brahman, a
consciência divina final, podemos transcender nossa mortalidade, a nossa ligação
com o mundo material e viver no amor do infinito. Com Arjuna querendo abster-se
da ação, Krishna adverte que é através da ação que o nosso dever e natureza divina
se manifesta. Para esclarecer esse ponto, Krishna explica os três caminhos yogue
correspondentes aos dharmas associados com as naturezas variadas das pessoas.

O Karma Yôga, o yôga do serviço. Traduzido literalmente como o caminho da


“união através da ação”, karma yôga envolve agir sem levar em conta o desejo ou
necessidade egoísta. Diz Krishna, purifica a mente e torna mais clara a natureza
divina da existência de uma pessoa.

Jñana Yôga, o Yôga do conhecimento. Exercitando as faculdades de


discriminação e desapego, é possível transcender as limitações temporais que
ocupam o “Eu” mente. Krishna explica que jñana yôga traz um intelecto que livra de
delírios e cria uma consciência da diferença entre o corpo e a alma. Nessa
consciência, torna-se indiferente aos resultados de todas as ações através do
conhecimento do absoluto.

Bhakti Yôga, o yôga da devoção. Ficar constantemente em contato com Deus,


o yogue bhakti, nas palavras de Krishna, é guiado pelo amor e pura inocência na vida
espiritual.

Era Clássica ( 100 a.C. – 500 d.C )

Nessa época encontramos um dos mais importantes tratados sobre o yôga, os


Yoga-Sûtras que foi sistematizado por Patañjali (supostamente um Brâmane). Este
texto é considerado um texto essencial do Yôga Clássico. Vamos estudar em um
módulo os Yoga Sutras mais profundamente.

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Nessa fase também surge o termo Raja Yôga, o Yôga real - da realeza. O que
antes era praticado pelos marginais e povos da floresta começa a ser praticado pela
alta sociedade. O yôga vira um darsana - um sistema filosófico.

Era Puránica ou Tântrica ( 500 d.C – 1300 d.C )

Aqui, chegamos em uma Era em que a relação com o corpo é sacralizada. Aqui
surge o Hatha Yôga e seus três principais livros: Hatha Pradipika, Gheranda Samhita
e Shiva Samhita.

Historicamente, Tantra denota um estilo particular ou gênero de ensinamentos


espirituais que afirmam a continuidade entre Espírito e matéria.

Ao contrário do Yôga de Patanjali que via o corpo como um empecilho para o


crescimento espiritual, no Tantra o corpo é a única ferramenta para ascender
espiritualmente. Este também é o período em que o Yôga chegou ao Ocidente, no
início do século 19 como uma prática filosófica através de Sivananda, Yogananda,
Vivekananda e outros mestres espirituais.

Aqui se inicia uma prática de se diferenciar o Raja yôga (O Yôga real, dos
amigos do rei) e do Hatha Yôga (Yôga da violência, dos bruxos, feiticeiros e bandidos)
– uma forma de distanciar os praticantes do corpo. Claramente, sem êxito.

Era Moderna ( 1.700 – Época atual )


O yôga moderno é a herança do caminho de luta dos indianos contra os
britânicos, uma “arma” em favor da independência da Índia.

Aqui, vemos uma modernização e diversificação do Yôga, tendo em vista a


chegada da prática ao Ocidente. Neste período pode-se dizer que houve o
renascimento do Hatha Yôga e do nascimento de várias outras linhas influenciadas
pelo Hatha.

O homem que veio a ser conhecido como o pai da renascença de Hatha Yôga
nos tempos modernos foi Sri Krishnamacharya (1888-1989). Em 1937 os primeiros
estudantes ocidentais chegaram para estudar com ele, entre os quais Indra Devi.
Nesse tempo, BKS Iyengar e Pattabhi Jois, que viriam a ser professores reconhecidos
pelo seu mérito, começaram os estudos com Krishnamacharya.

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Vamos cessar por aqui a conceituação histórica, pois ao longo dos módulos
vamos nos aprofundar sobre a história de cada linhagem de Yôga.

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Notas de Esclarecimento sobre as Filosofias – Sistemas Filosóficos

Os cinco sistemas acima são independentes uns dos outros, mas influenciam-
se reciprocamente devido à proximidade territorial e às épocas em que foram
preponderantes. Cada um teve a sua origem separada e existe independentemente
dos demais.

Os dois de cima são linhas teóricas. O Yôga, linha prática, e os dois abaixo são
linhas comportamentais.

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O que é Yôga?

O termo Yôga deriva da raiz sânscrita Yuj, associado ao conceito de conexão,


atrelamento, união. Pode ser conceituado como um movimento cultural que se
desenvolveu ao longo de milênios na região da Índia.

O Yôga é uma filosofia de vida, um movimento ideológico que visa a


identificação do ser humano com a sua própria natureza e a sua união com o cosmos,
com o Universo e com a energia criadora.

O Yôga nos permite assumir a consciência do estado de libertação (moksha)


ou independência (kaivalyam).

No Bagavadguitá: "É dito que Ioga é equanimidade da mente". (II, 48) "Ioga é a
excelência nas ações". (II, 50)

No Ioga Sutra:"Ioga é o recolhimento das atividades da mente" (I, 2)

Comentários de Vyasa aos Sutras de Patanjali: "Ioga é Samadhi". (I, 1)

Nos Upanishades: "Não conhece doença, velhice nem sofrimento aquele que
forja seu corpo no fogo do Ioga. Atividade, saúde, libertação dos condicionamentos,
circunspecção, eloquência, cheiro agradável e pouca secreção, são os sinais pelos
quais o Ioga manifesta seu poder." Upanishad Shvetashvatara (II:12-13).

"A unidade da respiração, da consciência e dos sentidos, seguida pela


aniquilação de todas as condições da existência: isso é o Ioga." Upanishad Maitri,
VI:25

"Quando os cinco sentidos e a mente estão parados, e a própria razão descansa


em silêncio, então começa o caminho supremo. Essa firmeza calma dos sentidos
chama-se Ioga. Mas deve-se estar atento, pois o Ioga vem e vai." Upanishad Katha,
VI

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Mitologia do Yôga

Ao praticar Yôga sempre nos deparemos com nomes de Deuses que são
relacionados com a Mitologia hinduísta e com a cultura indiana. Assim, é de suma
importância entendermos o que estamos entoando, no caso dos mantras, ou o motivo
de direcionar a nossa consciência para alguns desses nomes.

No item interior, estudamos a história do Yôga e a ampla influência da história


e cultura indianas nessa prática. Não é por menos, afinal a Índia é o berço do Yôga.

É muito importante salientar que a Mitologia Indiana é uma representação da


energia criadora e das várias formas de consciência que se manifestam. Toda a
riqueza de detalhes nas imagens e nas histórias contadas, se profundamente
estudadas, demonstram o quanto a cultura e o conhecimento indiano se debruçam
em conceitos muitos refinados do mundo holístico/espiritual.

Estudar sobre a Mitologia do Yôga é despertar vários aspectos da nossa


consciência sobre a verdadeira representação de cada imagem, de cada conto, de
forma a alinhar a nossa vibração em todos os níveis com essas energias tão elevadas,
que contam a história e a vibração de todo o Universo.

Todo o olhar simbólico, filosófico e devocional da cultura indiana não deve ser
visto como uma mera crença, pois na verdade se trata de uma linguagem capaz de
transmitir conhecimentos riquíssimos acerca do funcionamento do Universo.

Dentro do nosso estudo, vamos nos ater às representações mais utilizadas


dentro do Yôga.

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Shiva e as origens do Yôga. O grande Mestre, o primeiro Yôgui

Estudamos nas origens do Yôga o conto acerca de um dançarino que a muitos


tocavam o coração, e que passou os seus ensinamentos para outros discípulos.
Consta que Shiva foi um dançarino nascido na civilização Harappiana (Dravídica) e
que com os movimentos inspirados na dança alcançava estados muito expandidos de
consciência. Esses registros mostram Shiva como o primeiro Yôgui, já que, nessa
época, as práticas como jejum, exercícios respiratórios e meditação conviveram lado
a lado com a dança. Primeiramente foi cultuado pelos povos nativos da índia, os
Dravidianos, e logo também pelos arianos (nômades).

Algum tempo depois, como estudado, o Yôga foi incorporado ao Hinduísmo


como um dos seis pontos de vista, ou darshanas (escolas filosóficas), graças à sua
sistematização. A partir desse momento Shiva passa a fazer parte do panteão de
Deuses hindus, mas, falando em termos da origem do Yôga, Shiva foi um homem
reconhecido como o primeiro Yôgui, e que morreu na Índia antiga.

A primeira imagem acima, chamada de Shiva Nataraja, representa o rei da


dança ou o senhor da dança cósmica. Sua dança, chamada em sânscrito
de Tandava, retrata um ciclo contínuo e eterno de criação, preservação e destruição
tanto do Universo como de seus elementos. Nessa imagem vemos o senhor dessa
dança envolto em um círculo de fogo que simboliza a natureza transitória dessa
manifestação. Ele carrega em uma das mãos o tambor que emite os sons primordiais
e dita o ritmo da criação. Em outra, uma chama que representa sua força de

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dissolução. Abaixo de seu pé um anão que representa nosso ego, que assume seu
lugar diante da compreensão dessa ordem cósmica muito maior do que a nossa
representação na matéria.

O autor Fritjof Capra, em o Tao da Física, analisa cientificamente a


representação dessa imagem, assim dizendo: “A dança de Shiva simboliza a base de
toda a existência e nos lembra que as múltiplas formas do mundo não são
fundamentais, mas ilusórias e em constante mudança. A física moderna tem
mostrado que o ritmo de criação e destruição não é apenas algo manifesto na virada
das estações e no nascimento e morte de todas as criaturas vivas, mas é, também, a
própria essência da matéria inorgânica. De acordo com a teoria quântica de campos,
a dança da criação e destruição é a base da própria existência da matéria. A física
moderna revelou, assim, que cada partícula subatômica não apenas realiza uma
dança energética, mas também é, em si, uma dança energética; um processo pulsante
de criação e destruição. Para os físicos modernos a dança de Shiva seria então a
dança da matéria subatômica, a base de toda a existência e de todos os fenômenos
naturais”.

A segunda representação, com Shiva meditando, representa a forma como o


Yôga era praticado em suas origens. A imagem representa o estado de tranquilidade
e de plenitude. E mostra, pela simbologia, como nós atingimos esse estado.

Brahma, o Criador

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Brahma é considerado o Deus criador do Universo e sua esposa é Saraswati.
Brahma surgiu, segundo os hinduístas, como encarnação do espírito universal
Brahman, e representa o equilíbrio do Universo.

Sua representação tem quatro cabeças e está sentado em uma flor de lótus.
As quatro cabeças representam os quatro vedas e todas as quatro direções do
conhecimento possíveis, e também os quatro pontos cardeais.

A visão de universo pelos hindus é cíclica. Depois que um universo é destruído


por Shiva, Vishnu (mantenedor do Universo) se encontra dormindo e flutuando no
oceano primordial. Quando o próximo universo está para ser criado, Brahma aparece
montado numa flor de lótus brotada do umbigo de Vishnu e recria todo o universo.

Vishnu, o Mantenedor

Vishnu representa o poder de manutenção do Universo e sua consorte é


Lakshmi. É responsável pela sustentação, proteção e manutenção do universo.

As quatro mãos de Vishnu simbolizam além das quatro direções do espaço, os


quatro estágios da vida. Vishnu guia o mundo contra as forças malignas que assolam
os homens sob a forma de suas encarnações. Na Índia, Vishnu é muito popular,
especialmente sob a forma de Krishna e Rama, seus dois principais nomes. Assim,
sua fama se espalha e o contato com essa divindade se torna mais próximo por meio
dos seus mantras e adorações em templos.

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Parvati, a Deusa da Matéria

É a segunda consorte de Shiva, mãe de Ganesha. Muitas vezes, ela é


considerada a Mãe Suprema – Maha Devi, que acolhe a todos os filhos, com seu
infinito amor maternal.

Ela é também a deusa da beleza, a virtuosa, e ressurge com diferentes


manifestações, na forma de outras deusas, sendo chamada de deusa das mil faces.
Tem muitos atributos e, desde a era védica, um dos principais é a fertilidade, a força
que gera a procriação no mundo e nas espécies. É a própria geração da energia
criadora, em sânscrito chamada de Shakti.

Possui as faces de Durga e Kali, que representam os aspectos da Mãe Divina.

Durga, a Deusa do inacessível e da proteção

A Deusa Durga aparece como umas das principais Devi e tem um papel muito
importante como guerreira e protetora do mundo, sendo por isso conhecida como
uma Deusa Guerreira e também uma Deusa da Proteção. Está muito ligada à
eliminação dos sofrimentos e à segurança como figura de porto seguro.

Deusa protetora de seus devotos removendo todos os mistérios e intrigas,


Durga é a deusa dos três olhos (representando o desejo, a ação e a sabedoria). Além
disso, ela é o princípio do feminino e da natureza cósmica feminina. Durga é
considerada a mãe do Universo. Ela representa a força que gera e concretiza a
vontade divina e manifesta todas as formas pelas quais a vida se expressa.

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A deusa Durga representa o poder de ação supremo que revela a
espiritualidade, inspira a ética e preserva a ordem moral e a consciência do homem.
Ela protege a humanidade do mal, das tristezas e das doenças, destruindo as energias
negativas e outras manifestações do ego que fazem mal às pessoas e à boa
convivência consigo mesmo e com os outros.

Mãe Durga é também uma figura iluminada e resplandecente como a Lua,


podendo estar montada em um leão ou tigre, o que mostra seu domínio sobre o ego
e as emoções. Suas égides são símbolo de sua prontidão e força de guerreira.

Kali, a Destruidora do Ego

Apesar de sua imagem assustadora, Kali se apresenta aos seus devotos de


uma forma muito íntima e compassiva, pois apresenta Moksha, ou libertação aos
seus filhos. A Deusa Kali não nos ensina sobre morte ou maldade, e sim sobre
transformação. Como um contraponto ao Deus Shiva, o destruidor, ela traz a morte
do ego e do a pego, e não morte física.

Uma pessoa apegada ao seu ego não será receptiva à Mãe Kali e ela aparecerá
de uma forma assustadora. Uma alma madura que se envolve em prática espiritual
para remover a ilusão do ego vê a Mãe Kali como muito doce, afetuosa e

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transbordando de amor incompreensível por Seus filhos. Kali traz a transformação
que cria iluminação e liberdade, sendo também percebida como forte e poderosa,
como o divino feminino, como guerreira energética, como a pura manifestação de
Shakti.

Kali vem para nos lembrar que tudo é cíclico, que o velho precisa ser tirado de
cena para dar lugar ao novo. Nascimento e morte são ciclos naturais da vida e nós
devemos permitir que eles aconteçam.

Ganesha, aquele que abre os caminhos

As histórias mitológicas contam que Ganesha é filho de Shiva.

Ganesha representa a boa sorte e a prosperidade, além de eliminar os


obstáculos, abrindo caminhos aos adeptos. Ganesha promove a boa sorte, a
positividade, a prosperidade individual e familiar, a compaixão, a força e remove a
dor, trazendo equilíbrio. A cabeça de elefante simboliza Atman ou alma, que é a
suprema realidade da existência humana e o corpo de humano representa Maya, a
ilusão da matéria.

Saraswati, a Deusa do conhecimento e das artes

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Na mitologia hindu, Saraswati é a esposa do grande deus Brahma. É a Deusa
da sabedoria, do conhecimento, da aprendizagem, música e estética. Representa a
qualidade de discriminação entre o bom e o mau. A Deusa Sarasvati é aquela que
deixa o conhecimento divino fluir, sem barreiras e está ligada a toda a manifestação
de conhecimento e arte que possui fluidez. Todo o conhecimento deve seguir seu
caminho, assim como o rio, e inundar outros seres com sua sabedoria.

Lakshmi, a Deusa da Abundância

Lakshmi é a esposa do deus Vishnu. É a personificação da beleza, da fartura


e da generosidade. Um de seus principais ensinamentos é que com esforço constante,
governado com sabedoria e pureza e de acordo com o dharma próprio, a prosperidade
espiritual e material são facilmente atingidas. O desapego é uma característica muito
importante relacionada às bençãos de Lakshmi, e para recebê-las é fundamental ter
compaixão da necessidade alheia e ajudar ao próximo tanto quanto possível.

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Os Yoga Sútras de Patãnjali

Vimos no módulo de História do Yôga a importância dos Yoga Sútras de


Patãnjali e a contribuição dessa escritura para a formalização e sistematização da
prática. Fato é que os Yoga Sútras são estudados por muitas linhas de Yôga
contemporâneas, sendo de suma importância nos aprofundarmos nos estudos desse
texto.

Afinal, quem foi Patãnjali?

Mais uma vez, a história do codificador do Yôga clássico gera inúmeras dúvidas
e contradições, inclusive a data em que o mesmo viveu. Novamente aqui, navegamos
por águas turvas, e as especulações são tantas, que se pergunta se Patãnjali
efetivamente existiu.

O Patãnjali histórico teria nascido no noroeste do subcontinente indiano, na


região de Ghandara. Pouco se sabe de sua vida, além do que contam as lendas
populares.

Na página 33 do livro indicado para estudo, vocês encontrarão a lenda popular


sobre Patãnjali, cerceada de misticismo e folclore.

Os Yoga Sútras são aforismos que se distribuem em quatro seções temáticas.


Tanto a ordenação dos aforismos quanto os temas de cada seção foram dispostos
sequencialmente com a finalidade de proporcionar ao leitor o entendimento do
sistema. Cada frase é individualmente chamada de sútra, e carregam uma grande
quantidade de conhecimento oculto resumidos em poucas palavras.

A palavra sútra deriva do verbo “siv”, que significa costurar. Cada frase em
uma composição literária do tipo sútra surge como um ponto adicional que se
alinhava em uma “costura” de ideias.

O conhecimento inserido em cada sútra não pode ser alcançado por sua
simples leitura, ou até mesmo pela leitura das várias obras comentadas por inúmeros
autores. Fato é que a prática e o aprofundamento na prática dão ao aluno
embasamento para a sua própria interpretação.

20
As quatro seções dos Yoga Sútras são: Samádhi Páda, Sádhana Páda, Vibhuti
Pádha e Kayvaliam Páda.

O Samádhi Páda elucida o conceito de Samádhi e a maneira pelo qual o Yogi


pode alcança-lo. O Sádhana Páda trata do que deve ser feito de forma prática para se
obter as condições ideais para o Yôga. O Vibhuti Páda descreve o estágio mais
adiantado da prática, Samyama (uma forma avançada de meditação) e também os
resultados (Siddhis). Por fim, o Kaivalyam Pádha trata do objetivo final do Yôga.

Ashtanga Yôga é o sistema organizado por Patañjali nos Yoga Sútras. Aqui
cabe uma importante diferenciação do Ashtanga Yôga enquanto sistema dividido em
oito partes e a linha de Ashtanga Yôga, mundialmente conhecida. Essa diferenciação
será melhor explicada na nossa vídeo aula.

O sistema de Ashtanga Yôga é dividido em oito angas, ou partes: Yama,


Niyama, Ásana, Pranayama, Pratyahara, Dhárana, Dhyana e Samádhi. Tão vasto é o
estudo de cada anga da prática que teremos módulos específicos para esse
aprofundamento.

É de suma importância entendermos que a simples leitura da tradução


indicada poderá gerar um grande nó de dúvidas na consciência de cada um de vocês,
mas esse é o intuito: entender que os ensinamentos são muito profundos, com uma
infinidade de conceitos e entendimentos que são assimilados a medida que o
praticante avança na senda.

Também é importante mencionar que esse estudo se inicia agora, e se revelará


a medida que vocês sentirem de fazer esse aprofundamento teórico. Fato é que os
Yoga Sutras demonstram uma prática ortodoxa, rígida, referente ao período pré-
clássico já estudado e toda a referência histórica que imperava na época de sua
sistematização. Não nos deixemos, enquanto praticantes, nos enrijecer pela simples
leitura dos sútras, que são de linha tradicional. Também se policie ao pensar em
desistir diante do árduo entendimento desse texto, afinal o Yôga vai muito além dessa
importante escritura.

A leitura da bibliografia indicada será o caminho para aqueles que quiserem


se aprofundar, juntamente com o nosso encontro mensal, que será quase que
integralmente destinado aos esclarecimentos de dúvidas desse módulo, que

21
certamente é um pouco mais denso, diante da quantidade de informações a serem
passadas, bem como dos esclarecimentos necessários.

Para afins de formalização na nossa apostila de estudos, gostaria de deixar


dois sútras, de suma importância registrados:

Yogash chitta vritti nirodhah.

Tada drashtuh svarupe avasthanam.

Yoga é o recolhimento [nirodhah] dos meios de expressão [vrttis] da


mente [citta]

Então, aquele que vê se manifesta em sua verdadeira natureza.

Existe uma simplicidade na prática de Yôga que é sistematizada nos Yoga


Sútras. Embora o processo possa parecer muito complexo, o tema central é a remoção
e a transcendência dos obstáculos, véus ou falsas identidades.

Uma vez que os obstáculos e as falsas identidades sejam temporariamente


postos de lado, percebidos, o Eu autêntico ganha espaço de percepção.

No restante do tempo, estamos tão envolvidos com nossas falsas identidades


que, literalmente, não vemos que um erro de identificação aconteceu. Este despertar
para o Eu é o significado do Yoga.

22
Ashtanga Yôga de Patãnjali
Prathyahara e Dharana

Conforme vimos no módulo anterior, o sistema de Ashtanga Yôga


sistematizado nos Yoga Sutras é dividido em oito angas, ou partes: Yama, Niyama,
Ásana, Pranayama, Pratyahara, Dhárana, Dhyana e Samádhi.

Vamos iniciar os estudos do Ashtanga Yoga de Patãnjali, base de criação dos


métodos da maioria das linhas de Yôga estudando Prathyahara e Dharana.

Como você pode perceber o estudo não será feito na ordem correta dos angas.
Isso porque ao iniciar uma prática de Hatha Yôga e de várias outras linhas acabamos
praticando esses angas primeiro. Esse esclarecimento foi será amplamente trazido
na introdução da nossa aula prática do módulo.

Prathyahara

O conceito de Prathyahara é trazido por inúmeros autores como cessação ou


abstração dos sentidos, mas particularmente gosto de usar a expressão
direcionamento dos sentidos para explicar o conceito de Prathyahara.

Vivemos em um mundo onde o excesso de informações é regra, e, assim sendo,


nossos sentidos são diariamente bombardeados com diversas sensações, trazendo a
nossa atenção e a nossa mente para o externo.

Esse excesso acaba viciando a mente, que busca incessantemente vários


estímulos e novas informações e também os sentidos, nos condicionando de várias
formas.

Prathyahara antecede Dharana, e tem como objetivo perceber como os nossos


sentidos movem a nossa atenção para fora, aprendendo, com a prática, a direcioná-
los para nos auxiliar na percepção de nosso mundo interior.

A prática de Prathyahara visa ainda perceber de forma atenta tudo o que


estamos colocando para “dentro” através dos nossos sentidos. Observar a qualidade

23
das impressões que chegam na nossa vida nos permite conhecer a nossa mente, os
seus padrões, condicionamentos e os motivos que nos levam à esses padrões.

Atualmente no Ocidente a prática de Yôga é heterodoxa, e podemos perceber


a prática de Prathyahara no início da aula, nos movendo dos estímulos externos da
vida cotidiana ao convite do olhar do mundo interior e da autopercepção. Também
podemos trabalhar Prathyahara durante a prática de posturas, através do
direcionamento do olhar e da visão (drishti), durante a prática de Pranayama ao ouvir
o som da nossa respiração e direcionar o sentido da audição ou ainda durante o
relaxamento final (shavasana), amortecendo os sentidos.

Sva vishaya asamprayoge chittasya svarupe Ivã anukarah indryanam


pratyaharah: Quando os órgãos dos sentidos já não em contato com os seus próprios
objetos e assumem a natureza da mente, isso é pratyahara Yoga Sutra II:54

Tatah Parama vashyatenindryánám. Com isso se obtém um supremo


controle sobre os sentidos Yoga Sutra II:55

Pratyahara, portanto é a preparação para concentrar a mente, retrair os


sentidos para que a mente possa focar em Dharana.

Dharana

Através da prática de direcionamento dos sentidos, começamos a mover o


nosso foco dos estímulos externos para o mundo interior, preparando a nossa mente
para entrar em Dharana, concentração mental.

A prática de Dharana consiste em fixar a mente em algum ponto, gerando um


aspecto de estabilização de foco, mesmo que de forma intermitente e variável.

Por meio dessa concentração, o praticante abstrai a sua psique das dispersões
inerentes à condição terrena, conseguindo assim lograr um estado de unificação do
fluxo consciente.

A prática de Dharana pode acontecer ao direcionar a mente para um objeto ou


tema, como a própria respiração, pensamentos e sentimentos vivenciados no
momento presente, parte do corpo, visualizações, etc.

24
Yamas do Yôga

Podemos conceituar os Yamas como os preceitos éticos do Yôga, atitudes que


devemos evitar para avançar na senda e elevar a nossa consciência. Os Yamas podem
ser percebidos e vivenciados dentro e fora da prática (shadana) em si, como veremos
adiante.

Precisamos sempre ter em mente que os Yamas e Nyamas são os dois primeiros
angas, partes ou passos da visão do Yôga segundo os Yoga Sútras de Patãnjali.
Portanto, são indispensáveis ao praticante que deseja alcançar o objetivo do Yôga.

A palavra Yama significa controle ou domínio. Ao todo, temos cinco Yamas, ou


preceitos éticos dentro do Darshana, da visão do Yôga: Ahimsa (não violência), Satya
(verdade), Asteya (não roubar), Brahmacarya (conservação da energia) e Aparigraha
(desapego).

Vamos vivenciar cada um dos Yamas dentro dos próximos módulos. Esses
preceitos visam purificar o praticante de atitudes que devem ser evitadas e que
moldam a nossa consciência, pois controlam alguns impulsos naturais destrutivos

Ahimsa (não violência)

O primeiro Yama, Ahimsa, traz o conceito de não infligir qualquer dor ao


praticante, se estendendo a todos os seres.

Dentro da prática em si, Ahimsa, ou não violência nos ensina a respeitar o


nosso corpo (veículo de expressão do nosso Eu Superior) e as nossas limitações,
evitando assim lesões dentro da prática.

Quando conjugamos esse Yama com os dois próximos, percebemos a clara


necessidade de perceber a guiança interior e os motivos que nos levam a praticar
cada postura. Praticando Ahimsa, o Yogi trabalha um campo profundo de
autoconhecimento, que evita o domínio do ego dentro da prática de posturas,
trazendo a leveza de se praticar de acordo com o que seu corpo pede e é capaz de
fazer naquele momento.

25
Entender esse Yama fora do mat e de maneira mais profunda implica na
prática ativa do aspecto de compaixão por você e por todos os seres. Praticar Ahimsa
requer uma análise das nossas atitudes internas e com toda a vida que nos cerca.

A dieta vegetariana comum aos praticantes tem embasamento nesse conceito


de não infligir dor física ou psicológica em qualquer ser vivo.

Ainda dentro desse Yama, podemos praticar Ahimsa através de atitudes


diárias, que passam a guiar a nossa vida cotidiana, como o cultivo de pensamentos
elevados e amorosos, a comunicação não violenta nos nossos relacionamentos e com
toda a sociedade, o cuidado que temos com o nosso planeta, que é a grande casa que
nos acolhe e principalmente cultivar um estado interior pacífico, e ser um ser que
promove a paz e a não violência em todos os níveis.

Satya (verdade)

O segundo Yama, Satya ou verdade, deriva do primeiro e está intimamente


ligado à prática de não violência.

Satya nos ensina a ser autênticos e íntegros com o nosso mundo interior,
fazendo essa atitude reverberar na forma como direcionamos a nossa energia em
sociedade.

Praticar Satya é perceber a visão do Yôga como filosofia que te direciona para
um campo de plena conexão com a sua integridade interior. Ser verdadeiro consigo é
aproximar-se da sua essência. A mentira interior para ser socialmente aceito ou bem
visto é uma das formas mais cruéis de violência que praticamos.

Dentro da prática em si, Satya nos leva ao aspecto de ampla percepção dos
motivos que te levam a estender o mat. Também nos guia a entender o que é possível
e alinhado com o nosso corpo físico, e também com os nossos estados emocionais.

Não existe prática que se sustente em mentiras. A prática de Satya cria um


campo sólido que te auxilia a avançar no caminho, percebendo com autenticidade
as suas virtudes e também as suas sombras e limitações. Ser íntegro com o seu
mundo interior é o caminho que te aproxima de uma vida mais leve e conectada.

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É importante também saber equilibrar a prática da verdade interior e a verdade
que guia as nossas relações com o outro com a prática da não violência: ser autêntico
e sempre se guiar pela atitude de não ferir o outro, afinal o Yôga também é a prática
de compaixão, discernimento e cuidado.

Asteya (não roubar)

O terceiro Yama também está intimamente ligado aos dois anteriores, e diz
sobre a prática de se contentar com aquilo que é seu, evitando tirar ou cobiçar aquilo
que é do outro, em todos os níveis.

Podemos perceber essa Yama em seu sentido literal, diante de uma lógica
óbvia. Mas, principalmente, precisamos vivenciar esse Yama em aspectos mais sutis,
como a simples tendência dos nossos pensamentos em querer algo que não nos
pertence.

Dentro da prática de Yôga, praticar Asteya significar não almejar a prática do


outro. Precisamos entender cada praticante como um universo próprio, com as suas
virtudes, dons e limitações. Assim, a prática de Asteya dentro do mat evita o
surgimento de qualquer tipo de comparação entre a sua prática e a prática do seu
irmão.

Fora do Mat, a prática de Asteya guia as nossas ações que devem ser pautadas
no preceito de não tirar do outro aquilo que não é seu.

Brahmacharya (conservação de energia)

Este Yama pode ser interpretado sob vários olhares e aspectos. No aspecto
mais tradicional, Brahmacharya versa sobre conservação da energia sexual (vamos
lembrar da época clássica em que os sútras surgem, bem como o conservadorismo
inerente à época).

O sentido da palavra original é “caminhar para Brahma”, ou seja, para a


energia criadora.

Em algumas linhas tradicionais se defendia inclusive a abstinência sexual, ou


celibato. Mas em linhas tântricas, a energia sexual (que é diferente do sexo em si)

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representa a maior potência criadora energética. Vamos estudar sobre a energia
Kundaliní e sua potência nos módulos de sistema energético.

Em relação ao tema sexo em si, Brahmacharya significa ver o sexo como ato
de amor verdadeiro, uma troca energética potente e profunda entre almas.

Em um sentindo mais amplo Brahmacharya fala sobre a capacidade de se


perceber o seu mundo energético, tomando consciência da sua necessidade de
nutrição, e nutrindo-o através da visão do Yôga, o que inclui praticar os demais
Yamas. Seria o domínio da energia, no sentido sutil da palavra.

Esse Yama nos faz perceber também os nossos excessos, e como esses
excessos acabam drenando a nossa energia. Assim, somos convidados a praticar a
moderação e o equilíbrio através da identificação e controle dos desejos que nos
movem para um estado de ilusão e não satisfação. Essa prática de moderação deve
guiar os nossos hábitos, atitudes, pensamentos, alimentação, etc.

E qual o motivo do controle dos desejos e dos sentidos dentro da visão do Yôga?
Se mover da busca material e exclusivamente prazerosa para uma visão espiritual do
todo.

Dentro do mat, esse Yama nos convida a praticar sempre visando uma
conservação energética, respeitando o que os seus corpos te pedem naquele dia, sem
excessos.

Aparigraha (não apego)

O último Yama traz ensinamentos muito profundos sobre desapego. Podemos


analisar esse Yama em uma perspectiva bem material, como o desapego aos bens
materiais, mas muito além dessa perspectiva esse Yama traz o desapego à matéria e
a conexão com aquilo que não é material. Assim, Aparigraha em sentido mais amplo
trabalha a remoção dos veús de Maya, a grande ilusão do excesso de identificação ao
“eu” ao “meu”. Vamos trazer uma reflexão profunda sobre esse aspecto na nossa aula
teórica.

Dentro do mat, praticar Aparigraha é principalmente se desapegar dos


resultados e trabalhar presença, contentamento e consciência na jornada que te guia

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à libertação, a jornada do Yôga como visão. Muitas vezes nos vemos apegados,
querendo conquistar uma postura a qualquer preço. Esse é o momento perfeito para
olhar para as nossas expectativas, para os motivos que nos levam à prática, e
principalmente para trabalhar o desapego aos resultados. Esse é o momento perfeito
para direcionar a nossa atenção para o caminho que levamos para conquistar alguma
postura. O olhar sempre é interior.

Durante a execução de posturas e meditação obtemos resultados


surpreendentes quando aprendemos estar no momento presente sem expectativas
futuras.

Pensar nesse Yama te traz essa reflexão para a vida: desapegar dos resultados
dos nossos esforços e das nossas ações.

Os Nyamas do Yôga

Em seu sentido mais clássico, os Nyamas seriam os preceitos morais do Yôga.


Gosto de ver os Nyamas como virtudes que devemos despertar e conservar
interiormente e individualmente para evoluir dentro da visão do Yôga. Essas atitudes
cumprem a função de domínio sobre os sentidos ou
jñanendriyas: olhos, ouvidos, nariz, língua e pele. Nessa linha de pensamento,
exercem controle direto sob os desejos, clareando a nossa jornada em direção à
conexão direta com a fonte originária.

Saucha (Pureza)

Saucha significa pureza. Podemos analisar esse Yama em nossos corpos, ou


koshas. Assim, saucha se aplica ao corpo físico, energético, emocional e mental e
também espiritual. Saucha nos traz uma reanálise de todos os nossos hábitos,
principalmente daqueles que intoxicam os nossos corpos de alguma forma. Um
organismo (em sentido amplo) poluído por hábitos “impróprios”, gera
comportamentos e condicionamentos que se mostram como empecilhos para a
prática do Yôga como visão.

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A pureza do corpo físico é aplicada através da purificação do nosso veículo com
práticas que aprenderemos no módulo de Kriyás, e também através da prática de
ásanas e pranayamas. A pureza do corpo é essencial para o bem estar, longevidade e
purificação dos outros corpos.

A pureza do corpo energético se dá através da purificação do nosso corpo de


energia, desbloqueando os nossos centros energéticos, os chakras, bem como os
nossos meridianos e nadis.

A pureza do nosso corpo mental e emocional se dá através da purificação dos


nossos pensamentos e das nossas emoções, sendo o caminho de autopercepção e
autoconhecimento os grandes responsáveis por essa purificação.

E finalmente, a pureza do nosso corpo espiritual se dá através da purificação


da nossa conexão com o Divino, estreitando os laços com a fonte criadora e com o
grande cosmos.

Aqui é muito importante percebermos a completa conexão de todos os corpos


acima mencionados, pois eles estão intimamente ligados, e portanto, se influenciam
mutuamente. O cuidado do Ser integral é o cuidado de todos os corpos visando uma
harmonia e um equilíbrio que traz paz a leveza em todos os níveis, além de uma
alegria genuína. Essa purificação em todos os níveis afastam os estados de
sofrimento.

Santosha (Contentamento)

Santosha significa contentamento, e pode ser interpretado como um estado de


completude interna do Yogi. O Yogi não sente falta de nada, por estar preenchido
internamente, e assim é naturalmente contente. Esse Nyama acende o chamado para
o cultivo interno da alegria, independentemente das circunstâncias externas, o que
traz uma equanimidade inabalável pelas circusntâncias da vida.

Você já parou para sentir a palavra contente? Se perceber preenchido


internamente, independentemente dos obstáculos e dos desafios do mundo exterior
é um grande desafio diário que traz leveza, alegria e conexão para a alma.

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Santosha também traz o olhar de se sentir feliz com as nossas habilidades e
dons, exercendo o contentamento com aquilo que somos.

“Quando o Yogi não mais está à mercê das ondas de emoção que o excitam ou
o deprimem, quando se mantém acima das alterações e mudanças exteriores e pode
conservar um equilíbrio interior em meio aos golpes e imprevistos da vida, ele
alcançou a equanimidade absolutamente indispensável para atravessar ileso e
vitorioso todos os obstáculos que se levantam sobre seu caminho.”

Tapas (Esforço Consciente)

O termo tapas deriva da raiz “tap”, que significa arder, queimar, brilhar ou
consumir-se pelo fogo. Tapas é o esforço consciente para se atingir a união tão
almejada no Yôga (consciência do Eu e consciência do Todo), queimando todos os
obstáculos para se alcançar essa união. Embora possamos de fato
traduzir tapas corretamente como disciplina ou austeridade, uma tradução mais
exata seria “esforço sobre si mesmo”.

Tapas é o esforço consciente sobre si visando queimar os desejos egocêntricos,


inferiores, instintivos e naturais, eliminando moleza, debilidade, preguiça e outros
estados que nos afastam da evolução interior.

Por meio de tapas o Yogi desenvolve força física, mental e de caráter.

Svadhyaya (Autoestudo)

Esse é um Nyama chave da visão do Yôga. A palavra é composta por Sva “seu
próprio” e adhyaya “entrar em” e denota o ato de penetrar no sentido oculto de si.

O Yôga como escola filosófica, bem como prática em si gira em torno do


autoconhecimento ou autoestudo. Praticamos Yôga como uma busca interior. Somos
diariamente convidados a trazer a atenção pro externo, buscando estudos que vão
nutrir o intelecto e o racional. Mas o estudo que advém da visão do Yôga tendo a
prática em si como ferramenta não se aprende em livros.

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Quantas vezes você estendeu o seu mat e se sentiu profundamente impactado
pelas suas percepções e pela ampla consciência que você desperta de si? Aqui
acontece a grande mágica: somos completamente nutridos por esse estudo interior.

Yôga é caminho de autoconhecimento. Um esforço diário e consciente para se


perceber e assim se transformar, com verdade e consciência.

Esse olhar é um desenvolvimento gradual e saudável de uma construção sua


sobre si. Não é mais uma construção social sobre você. Não é mais uma infinita rede
de influências que o mundo externo exerce sobre você. Esse estudo é pessoal,
intuitivo e não pode ser apropriado por ninguém: ele é a sua conquista. Você se
empodera do seu poder pessoal e percebe todas as dominações sociais exercidas
através da prática de Svadhyaya.

A prática de Svadhyaya forma seres conscientes e independentes.

Íshvara Pranidhana (Entrega ao absoluto)

Encerramos os estudos dos Nyamas com Íshvara Pranidhana e o puro conceito


sutil de entrega e fé. A palavra vem da raiz do sânscrito Ish, que quer dizer governar.
Assim, Ishvara são as leis que governam o Universo e toda a criação. Íshvara
Pranidhana é a pura entrega à essas leis. No português, trazendo a cultura comum,
podemos traduzir como “seja o que Deus quiser”. Ocorre que dentro da visão do Yôga
trabalhamos o conceito de Deus e Divino como uma conexão que se desperta
interiormente, como uma plena entrega (alinhada com um esforço consciente) às
forças superiores, à energia originária, ao absoluto.

Quando nos entregamos à essa lei percebemos que não existe separação. A
separação é fruto dos estímulos externos. Dentro da visão do Yôga buscamos
novamente a união com o todo através do autoconhecimento. Se não estou separado
do todo, quando me conheço eu conheço o todo.

Íshvara Pranidhana acontece quando entregamos o fruto da prática às


energias superiores, ou ao seu próprio Deus interior, à sua parte essencial. Tal ato é
fruto de um verdadeiro e forte desapego (aparigraha). É o pleno entendimento, em
todos os níveis e na sua própria experiência pessoal, na existência de uma

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inteligência superior universal que cuida do fluxo de cada forma de vida e da conexão
existente entre tudo.

Nas palavras de Feuerstein: “ A devoção e entrega deixa-nos abertos à sensação


de que há algo cuidando de nós. Percebemos o vínculo que interliga todas as coisas
e sustenta todo este Universo”.

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Mudrás – Os Gestos que Expandem

O termo mudrá significa gesto, selo. Outro significado para a palavra pode ser
magia ou encanto, pois ao assumir determinado gesto o praticante assume
imediatamente um novo estado consciencial.

Os mudrás são gestos reflexiológicos carregados de simbologia feitos com as


mãos e com os dedos e nos fazem acessar diversos aspectos conscienciais tendo em
vista o seu aspecto arquetípico. O estudo dos mudrás nos envolve em um mergulho
de estudo simbólico.

A nossa mente possui uma infinidade de nervos ligados às mãos e as nossas


mãos possuem centenas de chakras e são conhecidas pela ampla irradiação
energética e pelo poderoso potencial de cura nelas contidas.

A ciência dos mudrás é baseada nos cinco elementos da Natureza, quais sejam,
terra, fogo, água, ar e éter. O equilíbrio desses elementos em nosso corpo físico,
energético, mental, espiritual e emocional são o segredo para a saúde em todos os
níveis. Assim sendo, os mudrás auxiliam na manutenção desse equilíbrio, e são
utilizados por diversas doutrinas, filosofias e egrégoras como o Yôga, a quiromancia,
a reflexologia, o Ayurveda, o Budismo, a dança indiana, dentre outras várias.

Tocar pontos específicos em nossas mãos faz com que a energia possa circular
corretamente, sendo direcionada para um bem específico fundamentado nos cinco
elementos.

Os cinco elementos são representados por cada um de nossos dedos e também


possuem conexão com os nossos chakras, ou centros de energia, conforme tabela
abaixo:

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Na antiguidade os mudrás eram utilizados juntamente com os mantras para
selar os padrões energéticos. Assim a energia era invocada e direcionada ao centro
de energia correspondente. Juntamente com a nossa intenção, os mudrás são
poderosas ferramentas de proteção, cura, selamento, direcionamento energético,
nutrição energética, dentre outros.

Existe também a relação dos dedos e outras partes das mãos com os planetas,
sendo esse um forte estudo da quiromancia e reflexologia das mãos.

Nas palavras de Caio Miranda os mudrás, “encerrando um profundo


simbolismo, têm por objetivo unificar dualidades, como por exemplo, unir a
consciência individual à consciência cósmica, o prana solar ao prana lunar, a matéria
ao espírito, etc”.

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As três características mais importantes dos mudrás são: reflexologia,
simbolismo e magnetismo. Através da reflexologia os gestos que fazemos durante a
prática de Yôga desencadeiam estados de receptividade dentro de nós.

Mais uma vez ressalto em nosso curso que conhecimento é poder. Cientes de
cada significado dos gestos praticados, o aluno pode colocar a sua firme intenção e
presença durante a prática de mudrás, o que gera toda uma nova potência de
direcionamento energético, trazendo força para os gestos assumidos.

A simbologia do mudrá com toda a sua riqueza de significados nos conecta


com aquele segmento do registro akáshico onde está armazenado o conhecimento
oculto desses gestos, sintonizando-nos com a egrégora respectiva. Aqui estamos
falando do inconsciente coletivo, e da forma como acessamos uma energia gerada por
inúmeros praticantes assumindo certo gesto com determinada intenção. Vocês
conseguem acessar o poder dessa força coletiva direcionada?

Inúmeros são os mudrás utilizados dentro da egrégora do Yôga. Nessa jornada


nos aprofundaremos nos mudrás mais utilizados nas práticas, bem como o seu
significado e simbologia.

No contexto do Hatha Yoga, os mudrás são elementos que dão suporte à


prática. No Gheranda Samhita, texto clássico do Hatha Yoga, encontramos que “o
processo útil que colabora nas práticas de Pranayama, Pratyahara, Dharana, Dhyana
e Samadhi se denomina mudrá” (Souto, 2002). Constatamos, assim, que os mudrás
estão ligados às principais técnicas utilizadas no Hatha Yoga, e em geral são
praticados com elas, incluindo a prática de ásanas.

Associados à entoação de sons e à visualização mental, simbolizando o corpo


(mudrá), a palavra (mantra) e o espírito (visualização), acontece a invocação da
divindade que se deseja estar em comunhão (Kupfer, 2001). Os gestos, como selos,
fixam na mente um estado particular e favorável ao praticante.

Passada a parte conceitual, vamos aos estudos de cada gesto selecionado para
aprofundamento.

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Shiva Mudrá

A mão direita descansa sobre a esquerda, ambas em forma de concha, apoiam-


se sobre as pernas ou pés. A polaridade para as mulheres é oposta, ficando a mão
esquerda por cima da direita. Esse gesto nos conecta com a energia de origem e
criação do Yôga, nos trazendo para a energia de Shiva.

Energeticamente esse gesto representa um cálice, e nos conecta com a energia


de disponibilidade e receptividade para receber os ensinamentos da visão do Yôga em
todos os níveis, sintonizando o praticante com esse mar de conhecimento.

Esse gesto é muito utilizado no início da prática, já que nos conecta à toda
essa sabedoria. Assim facilita a prática de Prathyahara, Dharana e Dhyana
(meditação) uma vez que gera um estado de aquietamento e percepção interior.

Pronam ou Ãnjali Mudrá

União das palmas das mãos frente ao peito, com os cotovelos para as laterais.

Esse gesto transmite sentimentos muito elevados e representa a união das


nossas polaridades masculinas e femininas, nosso Ha e nosso Tha. Assim ativa o

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estado de união com a nossa própria consciência Divina e toda a criação. Também é
um gesto que conecta a Unidade que somos, onde saudamos a existência divina que
habita em todos nós.

A palavra Pronam pode ser traduzida como ‘saudar’, ‘elevar’, ‘invocar’,


‘cultivar’, e a palavra Ãnjali, pode ser entendida como ‘orar’ ou ‘agradecer’. Ao
unirmos as mãos em frente ao coração espiritual, no centro do peito, os 35 chakras
localizados nas mãos se conectam, potencializando o fluxo de energia vital ou Prana
Divino em nós, e promovendo nossa própria reconexão.

Nesta senha, a mão de polaridade positiva se espalma na de polaridade


negativa, fechando um importante circuito eletromagnético que faz circular a energia
dentro do próprio corpo e recarregá-lo.

Jñana Mudrá

Os dedos indicador e polegar se unem formando um círculo e os outros


permanecem alongados. A cultura tradicional da Índia nos diz que o dedo indicador
representa o Jivatma (alma individual em evolução) e o polegar Paramatma (a
Consciência Suprema). Portanto a união destes dois dedos significa a nossa união
com a Consciência Suprema. Apoiados sobre os chakras dos joelhos, que são
secundários e responsáveis pelas relações de aprendizagem e ensino, potencializam
a flexibilidade em lidar com grandes quantidades de energia.

Jñana significa conhecimento.

Este gesto é muito utilizado para a prática de Pranayama, pois fecha um


circuito eletromagnético dentro do corpo que evita que o prana se dissipe durante a
prática. Existem as variações Surya Jñana mudrá, feitas nas práticas diurnas com

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as palmas das mãos voltadas para cima e Chandra Jñana mudrá feitas nas práticas
noturnas com as palmas das mãos voltadas para baixo.

Padma Mudrá

Conhecido como o gesto da flor de lótus. Os pulsos e base das mãos se tocam,
bem como as extremidades dos dedos mínimos e polegares. Os demais dedos ficam
alongados e separados uns dos outros. Nesse gesto os dedos representam as pétalas
da flor de lótus e a base das mãos representam a base da flor de lótus.

Simboliza a transformação da energia densa em energia sutil, uma verdadeira


alquimia simbólica com as mãos. É o símbolo máximo da transmutação energética.

Esse símbolo tem o poder de guiar as nossas energias mais densas em direção
à luz, assim como a flor de lótus, gerando um campo de conexão direta com o amor
divino. Nessa conexão somos guiados a um olhar de compaixão e unidade com tudo
o que existe. Sua prática melhora os relacionamentos, desenvolve a bondade, o afeto
e a comunicação.

No oriente, a flor de lótus significa pureza espiritual. A água lodosa que acolhe
a planta é associada ao apego e aos desejos carnais, e a flor imaculada que
desabrocha sobre a água em busca de luz é a promessa de pureza e elevação
espiritual. O caminho que nos leva da lama à flor é o cerne do desenvolvimento
espiritual, também através da visão do Yôga.

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Kapota Mudrá

Junte as palmas das mãos unindo as pontas dos dedos e abra um espaço entre
elas com as laterais dos dedos polegares e mínimos das duas mãos unidas.

Simboliza um embrião, algo que está para nascer ou renascer.

Esse gesto também representa a proteção energética de algo muito sagrado: o


conhecimento interior, especialmente no nosso caso o conhecimento sagrado da visão
do Yôga. Um gesto que desperta paz, benevolência, reconhecimento do valor do
conhecimento interior.

Quando praticado em frente ao peito, direciona o ar e o prana para essa região,


despertando o centro de energia cardíaco, gerando um estado de conforto e
pertencimento.

Pushpaputa Mudrá

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As mãos ficam voltadas para cima assumindo a forma de um pote. O nome se
traduz como mãos cheias de flores.

Esse gesto é uma verdadeira oferenda ao grande cosmos e às energias sutis e


superiores. Representa entrega, devoção e elevação espiritual.

Perceba que quando usando dentro da prática tem a seguinte representação:


você é a oferta, vocês são as flores, a sua conexão e entrega dentro da prática é
ofertada ao grande cosmos sem expectativa de retorno.

Trimurti Mudrá

Trimurti significa “três faces”, mas também é traduzido como trinidade. As


mãos formam um triângulo, com os dedos polegares e indicadores se tocando e
demais dedos alongados e unidos.

O trimurti representa os três gunas, elementos sutis que configuram, a partir


da sua interação, tudo o que existe.

Também é o gesto da grande tríade divina (Brahma, Vishnu e Shiva) e


representa o equilíbrio das forças de criação, manutenção e destruição do Universo
a nível macro e também de cada consciência.

Quando as mãos se voltam para baixo, em direção ao solo, denomina-se


trimurti mudra ajna e representa a conexão com a Terra. Quando voltadas para cima,
com os braços elevados, chama-se trimurti mudra vayu e representa a conexão com
o cosmos. É a parte manifesta tripla da divindade suprema, fazendo-se tripla no
intuito de liderar os diferentes estados do universo.

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Garuda Mudrá

Conhecido como o gesto da águia. Com as palmas das mãos voltadas para o
peito, os polegares se entrelaçam e os demais dedos permanecem unidos e alongados.
Os dedos representam o bico da ave, e os dedos as suas asas.

Representa o equilíbrio e a paz interior, bem como o estado de liberdade


consciencial. Quando colocamos as nossas mãos direita e esquerda em conexão,
conectamos os dois pontos de contatos de cada hemisfério do corpo. E, neste laço, os
dedões são os mantedores.

Kali Mudrá

Nesse gesto todos os dedos ficam entrelaçados, exceto os dedos indicadores e


médio, que apontam para cima ou para baixo, caso o praticante opte por uma
descarga energética.

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Kali Mudrá tem a mesma representação arquetípica da Deusa Kali, que
estudamos no módulo de mitologia. Esse gesto é um convite para a destruição de
tudo aquilo que te impede de avançar no caminho de encontro com a sua versão mais
elevada. É uma autorização para que a limpeza, a transformação e a transmutação
aconteçam. A principal qualidade deste gesto é a purificação, e assim é
frequentemente realizado durante a execução de posturas.

Kali Mudrá também te empodera no caminho de encontro com a sua verdade,


e traz resiliência e força para enfrentar os obstáculos, pois cultiva a coragem e a força
interior.

É um ótimo Mudrá para ser utilizado em práticas de conexão com o feminino


sagrado e suas forças arquetípicas.

Mushti Mudrá

Neste mudrá o polegar cobre os quatro dedos fechados. Mushti significa


literalmente punho fechado.

Esse gesto trabalha muito no campo emocional, e auxilia a liberar emoções


guardadas. Também simboliza a força, constância, garra, coragem e perseverança.
Assim, é muito utilizado na prática de posturas de força com longa permanência.

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Yoni Mudrá

A palavra Yoni significa vagina e útero, os grandes portais criadores. Esse gesto
é muito profundo, e traz a consciência de liberdade, desapego, tranquilidade e
conexão, assim como um bebê sendo gerado. O feto está totalmente livre das tensões,
conflitos e apegos do mundo exterior. Ao assumir esse gesto, o praticante se conecta
com essas qualidades.

Também é um excelente mudrá para ser utilizado em práticas de sagrado


feminino para honrar os portais iniciáticos, os órgãos do sistema reprodutor feminino
e todo potencial criativo e empoderado das mulheres, já que esse gesto invoca todo o
potencial representado por esses órgãos.

Trishula Mudrá

Esse gesto representa o tridente de Shiva. Por ser um tridente, cada ponta de
sua lança tem seu significado, sendo diretamente relacionadas com as três
qualidades da matéria: tamas, rajas e sattva. Possui significado muito próximo de
Trimurti Mudrá, já estudado.

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O Tridente era a arma de combate utilizada pelos drávidas na luta contra os
invasores arianos, como estudado no módulo de história do Yôga.

Esse gesto também representa o lugar onde os três principais nadis, ou canais
de energia (ida, pingala e shushmana) se encontram.

É conhecido também como o gesto da proteção, pois cria um campo


eletromagnético de força e proteção.

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Kriyás – Exercícios de Purificação

Os Kriyás são exercícios de purificação e limpeza do corpo, especificamente do


sistema respiratório, do tubo digestivo, do estômago, dos olhos, do cólon e do cérebro.
reverberando nos níveis mais sutis. O objetivo de se praticar os Kriyás é auxiliar a
natureza a eliminar as toxinas e resíduos do corpo.

Os Kriyás não estão previstos nos Yôga Sutras de Patãnjali, mas o Hatha Yoga
Pradipika e também o Gheranda Samhitá, dois dos livros clássicos de Hatha Yoga,
prescrevem seis principais kriyás para purificação do corpo, também chamados de
Shatkarma (seis purificações). Esses textos colocam a purificação como o primeiro
passo para o Yôga.

É importante ressaltar que algumas técnicas de Shatkarma são muito


populares na cultura hindu e nada populares na cultura ocidental, razão pela qual
apenas algumas ganharam espaço na prática de Yôga ocidental.

Vejamos abaixo quais são as seis técnicas de purificação de Shatkarma:

• Dhauti – Os Dhautis estimulam a eliminação de impurezas no


corpo e equilibram os Vayús (vamos estudar profundamente esse
conceito no módulo de Bandhas). Esses exercícios são classificados em
quatro tipos:

a) Antar-dhauti – Limpeza interna – Nenhum exercício de limpeza


interna é frequentemente utilizado no ocidente, mas à título de
curiosidade vamos mencionar alguns na aula teórica.

b) Danta-dhauti – Limpeza dental – Aqui temos duas limpezas: a da


língua, feita com raspador de língua de cobre e a limpeza dos dentes em
si.

c) Hrid-dhauti – Limpeza do esôfago usando as técnicas da haste, água


ou tecido, proporcionando a remoção do excesso de mucosidade e de
comida das paredes do esôfago e estômago. Na visão do Yôga,

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praticamente toda a nossa saúde é influenciada pela nossa digestão.
Assim o estômago é visto como um segundo coração pelos Yogis.

d) Múla-shoddhana – Limpeza do reto com o objetivo de desobstruir o


fluxo de apana vayú.

• Basti – Essa técnica promove a limpeza do cólon (parte média do


intestino grosso) ao criar um vácuo que suga a água para dentro. O
vácuo é criado pelo uso de Nauli Kriyá (vamos estudar a frente)
através da manipulação central dos músculos abdominais. Para
manter os esfíncteres abertos se usa um pequeno tubo no reto. Essa
técnica só deve ser praticada com indicação de um professor
experiente.

• Neti – Essa técnica promova a limpeza das mucosas nasais e das


vias aéreas. A técnica mais praticada, inclusive no ocidente se
chama jala-neti, e é feita com a utilização do lota (pequena vasilha
com bico afunilado). Quando praticado diariamente esse exercício
ajuda a neutralizar os efeitos da poluição e da poeira. É
especialmente benéfico para as pessoas com asma, alergia, rinite,
sinusite e outros problemas respiratórios.

Como usar o lota?


Aqueça, em uma vasilha, 500mL de água filtrada ou mineral até ficar
levemente morna. Adicione uma colher de chá rasa de sal de cozinha
e misture bem até dissolver todo o sal. Coloque a água com sal no
Lota até encher o vasilhame. Encoste o bico do aparelho numa das
narinas de modo que se encaixe perfeitamente. Incline a cabeça para
frente e para o lado, deixando a boca entreaberta, e respire pela boca
devagar. Vá inclinando o Lota para que a água entre pela narina e
espere que ela saia pela outra narina. Use todo o conteúdo de um
lado e assoe o nariz devagar. Repita o procedimento para o outro
lado. Em seguida, assoe o nariz vigorosamente várias vezes, sem
tampar nenhum dos lados.

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• Lauliki – Essa técnica também é conhecida como Nauli Kriyá, com o
objetivo de massagear e revigorar todos os órgãos internos,
aumentado a concentração de prana no Plexo Solar. A vigorosa
massagem promovida por essa técnica estimula o metabolismo e o
sistema digestório.

Como praticar Nauli Kriyá?


Um vídeo com explicação do professor Pedro Kupfer será enviado
para dar clareza à forma de prática dessa técnica.

• Tratakas – Técnica de limpeza dos canais lacrimais e fortalecimento


da musculatura ocular e estimula os nervos óticos.

• Kapalabháti – Esse exercício respiratório também pode ser


considerado um pranayama. Purifica as passagens nasais e os
pulmões, ajudando o corpo a eliminar grandes quantidades de
dióxido de carbono e outras impurezas. A absorção aumentada de
oxigênio enriquece o sangue e renova as células corporais enquanto
o movimento do diafragma massageia o estômago, o fígado e o
pâncreas. De mais a mais, a prática frequente dessa técnica ativa as
correntes prânicas, clareando a mente.

Existem, além das técnicas acima citadas, parte do Shatkarma, outras


técnicas poderosas de purificação e limpeza, que não são considerados Kriyás, mas
que serão estudados, como alguns pranayamas (respiratórios) e também alguns
ásanas (posturas) em si.

O caminho de realização (sádhana) é muitas vezes concebido com um caminho


de ampla purificação (shodana). Para trabalhar a energia na forma mais sutil,
primeiro se torna necessário promover a desobstrução dos caminhos internos. Esse
é o objetivo final da prática de Kriyás dentro do Yôga.

Todos os kriyás são especialmente benéficos quando praticamos jejum. E isso


porque eles aceleram o processo de desintoxicação que ocorre quando não comemos
por um certo tempo. Praticar o jejum incorporando kriyás é a cura da natureza para
muitas doenças causadas por toxinas no corpo.

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Os Bandhas

Os Bandhas são contrações (travas) realizadas em pontos específicos do corpo


que envolvem a ativação de importantes grupos musculares. Ao realizar o movimento
a nível físico ocorrem importantes movimentos também a nível sutil e energético.

Antes de falar especificamente dos Bandhas, precisamos entender o


movimento do Prana (vamos mergulhar nesse conceito no módulo de Pranayamas,
mas já fazer alguma introdução nesse módulo) e dos Prana Vayus.

O Prana, força vital que tece toda a criação circula através dos nossos corpos
através de correntes energéticas, chamadas de Vayus ou ventos. Ou seja, o Prana é
uma só energia que gera diversos movimentos energéticos pelo corpo. Essas correntes
energéticas governam e influenciam diversas áreas do nosso corpo físico, atuando
também a nível sutil.

Quando os Vayus estão circulando de forma harmoniosa eles asseguram a


saúde e vitalidade do nosso corpo físico e também dos nossos corpos sutis.

A Yoga Chudamani Upanisad declara: “Aquele que possui o conhecimento


sobre os Vayus é um Yogui no sentido verdadeiro”.

Está escrito no Hatha Yoga Pradipika: “Enquanto o prana se move, citta (a


força mental) se move. Quando o prana se aquieta, a mente se aquieta”. Por essa
razão no Bhagavad-Gita, Arjuna diz (6:34): “Pois a mente ó Krsna é inquieta,
turbulenta, obstinada e muito forte e subjugá-la é, assim me parece, mais difícil que
controlar o vento (vayu). Essa passagem nos indica que o controle dos nossos ventos
internos nos auxilia no direcionamento da nossa mente, emoções e sentidos.

Existem cinco Prana Vayus considerados mais importantes para os nossos


estudos, conforme imagem e descrições abaixo:

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a) Apana Vayu: Pode ser traduzido como o ar que se move para fora. O seu
movimento predominante é descendente e exterior. Se origina na altura do
umbigo e região baixa do abdômen e se move para baixo na exalação,
nutrindo e purificando a pelve, assoalho pélvico, pernas e pés.
Apana é o aspecto da energia vital capaz de promover a
eliminação daquilo que não é mais necessário ao corpo. Esse vento está
associado à excreção. No psiquismo é dveṣa, a aversão. O organismo se
apropria do que gosta e expele ou repele o que não precisa. É composta por
todos os tipos de expulsão e eliminação como urina, fezes, suor, excreção
nasal, expulsão do sêmen e o parto.
No plano macrocósmico da natureza vemos, por exemplo, seu
movimento gerar a erupção de vulcânicas.
O funcionamento saudável de Apana Vayu é tão importante
quanto de Prana Vayu. Sem o bom funcionamento de Apana Vayu a pessoa
perde energia e sente falta de determinação, preguiça, confusão mental. Por
outro lado, quando esse vento flui livremente experimentamos segurança e
confiança no fluxo da vida.

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b) Prana Vayu: Pode ser traduzido como o vento que nos move para frente. É
a corrente ascendente de energia, que se origina na altura do umbigo e se
move para cima durante a inalação, nutrindo os órgãos da região torácica.
Move-se internamente e é responsável por receber o alimento,
a água, pela inalação e pela percepção. É uma energia propulsora de vida.
Prana e Apana Vayus se movem de forma complementares em direções
opostas durante nossa inalação e exalação.
Prana Vayu é responsável pela saúde dos sistemas
cardiovascular, respiratório e imunológico.

c) Udana Vayu: Pode ser traduzido como aquele que leva para cima. Se origina
na altura da clavícula e sobe na inalação, nutrindo o pescoço e garganta.
Na exalação a energia circula na região da cabeça. Governa o pensamento
e a comunicação.

d) Samana Vayu: Pode ser traduzido como o ar que equilibra. É a corrente


horizontal de energia que se irradia do plexo solar na inalação e se recolhe
de volta do plexo solar na exalação. É totalmente relacionado ao nosso
sistema digestivo. o centro que controla o fogo digestivo, a função da
digestão e o metabolismo.
Essa força que seleciona ou rejeita o alimento, transforma-o
através da digestão e então assimila. É a força que unifica as duas forças
opostas, prana e apana.

e) Vyana Vayu: Pode ser traduzido como o movimento externo do ar. Se move
do centro do corpo para a periferia. A cada inalação se recolhe ao centro do
corpo, e a cada exalação se irradia para as extremidades.
Ele permeia todo o corpo, é a energia que conecta e que
coordena. Não tem local específico, mas coordena todas as capacidades,
como os órgãos de percepção e flui por todas as nadis (canais
energéticos) conectando todas as funções nervosas, venais, musculares,
articulares e de circulação de nutrientes no corpo.

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É, em termos gerais, a função de distribuição. O que foi
apropriado pelo Prana e que não foi rejeitado por Apana; o que foi
assimilado por Samana é distribuído por Vyana.
Quando este Vayu flui livremente experimentamos as
extremidades do corpo normalmente aquecidas. Seu equilíbrio é
fundamental para que a pessoa se sinta integrada. Governa as interações
da pele com o meio ambiente. Está associado ao nosso senso de limite
através do qual nós nos definimos enquanto pessoa.

Os Vayus se movem espontaneamente pelo corpo, mas podem ser controlados


através da prática de Yôga, usando as ferramentas dos Bandhas, dos Pranayamas e
dos Ásanas.

A palavra Bandha significa em sânscrito “fecho” ou “fixação”. Traduz-se como


“contração”. Os Bandhas são contrações de determinadas áreas do corpo físico, como
plexos, nervos, órgãos e glândulas, que estão relacionadas aos chakras, centros da
energia vital, e que funcionam como canalizadores do fluxo energético.

Na dimensão do corpo físico, os Bandhas têm o objetivo de manter o calor no


corpo de maneira a evitar lesões, além de possibilitar a estabilização do praticante
nas posturas.

Na dimensão energética, os Bandhas são usados para evitar a dispersão da


força vital e conduzi-la pelos canais adequados. As Upanisads dizem que estas
práticas tendem a ser utilizadas para reverter as forças de prana e apana que movem
em sentidos opostos, objetivando sua união no manipura chakra. A seguir, ele leva
essas duas forças vitais a se concentrar na área do períneo, no chakra básico,
produzindo desta maneira o despertar da força potencial Kundaliní. O Haṭhayoga
Pradīpikā chega a afirmar no terceiro capítulo que o despertar da energia
Kundaliní depende diretamente da prática dos Bandhas.

Os Bandhas podem trazer diversos benefícios do ponto de vista físico, como o


fortalecimento de músculos mais profundos, o massageamento dos órgãos internos.
É possível perceber melhoras no sistema endócrino, no funcionamento dos órgãos
internos, no sistema nervoso, bem como no funcionamento da própria mente, que
fica mais focada e torna-se assim mais apta para a concentração.

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Seguimos então para o entendimento de cada uma das travas do Yôga:

Mula Bandha – Pode ser traduzido como fecho raiz, já que se relaciona
amplamente com o chakra raiz. É a contração que ativa a musculatura do assoalho
pélvico e esfíncteres do ânus e da uretra. Muito mais do que uma contração, acessar
a potência dessa trava também é, por outro lado, acessar a sua sutileza, trabalhando
o conceito de sucção dessa musculatura para cima.

A nível físico, essa trave fornece uma maior irrigação sanguínea na região
pélvica, tonificando os sistemas urogenital e excretório. Protege homens e mulheres
de doenças relacionadas ao sistema reprodutor.

A nível energético, o curso natural descendente de Apanavayu é invertido,


forçando-o a elevar-se em direção a Pranavayu na região do tórax. Ativa o nosso
chakra raiz, auxiliando também no despertar sutil e gradual da energia Kundaliní.

Para praticar esse Bandha, temos uma ótima alternativa de iniciar na postura
de cócoras (Malásana). a) Inicie com uma longa inspiração e ao exalar faça a sucção
da musculatura do períneo, assoalho pélvico, esfíncteres da uretra e do ânus. b) Tente
não soltar a musculatura durante a exalação e, ao inalar novamente, relaxe a zona
contraída. c) Quando estiver com essa etapa segura, tente inalar e exalar mantendo
a ativação do Bandha.

Na medida em que o Bandha for dominado poderá ser praticado em qualquer


postura, inclusive na prática de pranayamas, meditação, etc.

Existe uma variação desta técnica, chamada Asvinimudra, que consiste em


fazer sucessivas contrações da musculatura anal e uretral (como um pulso). Este
exercício de contração rítmica fortalece a musculatura da base do tronco e é mais
fácil de acessar que o próprio Mula Bandha, razão pela qual essa técnica é excelente
para acessarmos o Bandha em si.

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Uddiyana Bandha – O termo Uddiyana significa ascender. Este é o Bandha da
retração abdominal.

Essa trava trabalha os músculos abdominais e do diafragma, massageando as


vísceras abdominais. Aumenta o suco gástrico, melhora a digestão e assimilação, e,
purifica o sistema digestivo de toxinas prejudiciais. Estimula a circulação do sangue
na região abdominal e o fluxo sanguíneo para o cérebro.

Energeticamente, esse Bandha aumenta o fluxo de Prana Vayu na região


toráxica e assim essa corrente sobre pelo canal central. Aumenta também o fogo
interior.

Para a sua realização deve se recolher a parede abdominal em direção à coluna


vertebral e às costelas, dirigindo o musculo do diafragma para cima. Existem duas
formas de se praticar esse Bandha:

Contração total (com os pulmões vazios) – Como se pratica antes do Nauli


Kriyá, após a exalação durante a retenção com os pulmões vazios pelo tempo que for
confortável para o praticante.

Contração parcial (com a respiração livre) – Muito utilizada nas práticas de


ásanas contemporâneas, principalmente na linha de Ashtanga Yôga e Vinyasa Flow.
Nessas modalidades esse Bandha é incorporado na prática dinâmica de posturas,
aprofundando seus benefícios. Dessa maneira, a contração na região inferior do
abdômen é maior que nas demais regiões, de forma a permitir que a respiração ocorra
livremente com o Bandha ativo.

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Jalandhara Bandha – É o fecho que controla a rede de nadis (canais por onde
flui o prana) da região da garganta. É o fecho da garganta e da glote.

Seu principal efeito no corpo físico se dá na região da garganta, auxiliando no


equilíbrio hormonal decorrentes da tireóide e paratireóides, além das carótidas e veia
jugular.

A nível energético, essa trava impede a ascensão da energia e a direciona para


o tórax. Assim, as correntes de Apana e Prana Vayus direcionadas pelos demais
Bandhas podem restar centralizadas no tronco.

Para a sua ativação o queixo é direcionado ao peito. Para maior segurança, o


praticante deve manter o peito aberto e a coluna ereta.

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Jiva Bandha – Para algumas linhas não é conhecido como Bandha, mas para
nossos estudos sim. É a trava da língua no palato mole.

A nível físico esse Bandha beneficia os músculos do pescoço e da língua, torna


os nervos cervicais e gânglios linfáticos mais saudáveis assim como as glândulas
salivares e tireóides.

Para sua ativação coloque a língua no palato mole (parte de trás do céu da
boca) e pressione essa região com a ponta da língua.

Essa região no fundo da boca é a área descrita nos textos de yoga como
reunião (sangam), pois é ali que se unem as três principais nadis. Acredita-se que o
massageamento da língua no palato mole ativa um ponto reflexiológico via
propagação da pressão intracraniana chamado lalana chakra. Ele é um chakra
menor composto por doze pétalas vermelhas de lótus, que funciona como um
reservatório desse néctar, produzindo indiretamente a ativação das glândulas pineal
e pituitária, as quais são responsáveis pelas percepções energéticas e espirituais.
Ativa os chakra frontal e coronário, desenvolvendo assim os poderes extra-sensoriais.

Além desses quatro, existem algumas combinações de execuções entre eles


que recebem nomes diferentes: Bandha Traya (contração tríplice), consiste em fazer
simultaneamente Jalandhara, Uddiyana e Mula Bandha juntos; Maha
Bandha (grande contração), consiste em fazer os quatro Bandhas mencionados.

As combinações acima mencionadas visam a concentração do prana na região


de Manipura Chakra e Muladhara Chakra visando a ascensão da Kundaliní.

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Os Pranayamas

Antes de entender o conceito e o funcionamento dos Pranayamas, os


respiratórios do Yôga, vamos entender o conceito de Prana.

Prana é a energia que permeia todo o Universo. É energia física, mental,


espiritual, sexual e cósmica. Prana está associado a todas as formas de expressão e
movimentação. De acordo com os textos sagrados, Prana é o princípio da vida e da
consciência. Quando há prana no corpo, há vida; quando o prana o deixa, resulta na
morte. Não existe vida sem prana.

Prana pode ser também conceituado como bioenergia, ou seja, qualquer tipo
de energia manifestada biologicamente.

É importante destacar que o termo prana possui dois aspectos: o cósmico e o


individual. O prana cósmico abrange todas as formas de energia existentes: a matéria
(dinâmica na vibração das suas partículas atômicas) e as forças elementais da
Natureza (luz, calor, magnetismo, eletricidade, gravidade) são suas expressões
tangíveis. No plano sutil também designa os cinco elementos que constituem a
matéria.

No plano individual, prana é o substrato energético que forma o nosso corpo


tangível, regulador de todas as funções orgânicas e físicas. O volume de prana que
circula dentro do corpo determina o grau de vitalidade de cada indivíduo. Extraímos
essa bioenergia de diversas fontes: da luz e do calor do Sol, dos alimentos que
ingerimos, da água que bebemos, e, principalmente, do ar que respiramos. Ela circula
no corpo pelas nadis canais da fisiologia sutil que estudaremos em módulo específico.

Nos módulos dos Yoga Sutras de Patãnjali estudamos o conceito de “chitta”


(mente). Chitta e prana estão intimamente ligados. Segundo o Hatha Yôga de
Pradipika: “quando o prana flutua, a mente flutua. Quando o prana se torna estável,
a mente se torna estável.” A chitta (mente) é como um veículo guiado por duas forças
poderosas, que são prana e vasana (desejos), e se move em direção da força mais
poderosa. Assim, se o prana prevalece, os desejos são controlados e a mente se
aquieta.

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Como vimos no módulo anterior, o termo genérico prana pode ser subdividido
em cinco tipos de correntes energéticas ou vitais, os prana vayus. Os vayus são
aspectos específicos dessa força vital.

A palavra Pranayama é composta de dois termos: prana (energia vital) e ayáma,


que significa expansão ou ampliação. Assim sendo, o Pranayama é a expansão da
energia vital e a respiração é o mecanismo e o recurso utilizado pelo Yôga para a
manipulação dessa energia. É a capacidade de utilização consciente da respiração,
tida como uma percepção completa do ato de respirar, gerando todo um
recondicionamento respiratório.

Uma vez que a respiração esteja perfeitamente regulada, poderemos facilmente


controlar os processos conscientes, já que respiração, mente e emoções interagem
mutuamente.

A prática de Pranayama ajuda a limpar e purificar os canais por onde flui o


prana. O objetivo da prática de Pranayama é unir o prana individual ao prana
cósmico (quando tomamos a consciência de que a energia vital que compõe nosso
corpo é a mesma que configura e movimenta o Universo, mostrando-nos outra
dimensão de nós mesmos).

A nível físico, a prática de Pranayamas faz o sistema respiratório funcionar


em sua melhor capacidade, melhorando assim os demais sistemas do nosso corpo.
O sistema respiratório é um grande portal para purificação do nosso corpo físico,
além da mente e do intelecto.

Sabemos a importância da respiração para o funcionamento do nosso


organismo. Mas poucos tomam consciência do processo automático que a grande
maioria respira, gerando em nós a sensação de que é algo além do nosso controle. A
prática reiterada de Pranayamas faz a transição do automático para o esforço
consciente.

O Yôga define quatro etapas do ciclo de respiração: a) Púraka (inalação); b)


Kúmbhaka (retenção com os pulmões cheios); c) Rêchaka (exalação) e d) Shúnyaka
(retenção com os pulmões vazios). Assim sendo, um ciclo completo corresponde à
execução das quatro fases.

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A respiração Yôgi deve ser sempre nasal, silenciosa e completa, salvo
instrução em contrário. Deve ser realizada com a participação da musculatura
abdominal, intercostal e torácica, promovendo um maior aproveitamento da
capacidade pulmonar. A respiração completa atua eficazmente sobre o sistema
circulatório, digestório, nervoso e glandular.

Ocorre que a respiração completa é uma construção do praticante, conforme


veremos nas nossas aulas práticas. Assim, o primeiro treinamento de Pranayama
deve ser a conscientização da respiração, do seu processo e da sua localização.

Para o treinamento da respiração completa o praticante deve desenvolver a


percepção e a prática das três fases da respiração de forma independente, quais
sejam: a) Adhama Pranayama (respiração abdominal); b) Madhyama Pranayama
(respiração média ou intercostal) e c) Uttama Pranayama (respiração alta ou torácica).

Com o treinamento da percepção das três fases de forma independente, o


praticante deve fazer as três etapas conjuntamente.

Importante também é introduzir o conceito de Matra (ritmo), uma vez que os


respiratórios do Yôga trabalham com a relação de tempo entre as várias fases da
respiração e a adoção de ritmos respiratórios específicos. Quando alteramos
voluntariamente o nosso ritmo respiratório passamos a movimentar os nossos ritmos
biológicos, que por sua vez influenciarão os nossos estados mentais e psicológicos.
Com a prática constante e avançada de Pranayama o praticante poderá alterar
inclusive o ritmo cardíaco, o ritmo da pressão arterial, etc.

A respiração ritmada do Yôga utiliza as quatro fases anteriormente citadas. Os


exercícios com ritmo são representados por quatro números, que corresponde à
relação entre cada uma das fases. Os mais comuns estão descritos abaixo:

1-0-1-0 Inspiração em um tempo, sem retenção com ar, expiração em um


tempo, sem retenção sem ar;

1-1-1-1 Inspiração em um tempo, mesmo tempo para as demais fases da


respiração.

1-2-1-0 Inspiração e expiração no mesmo tempo. Retenção com pulmões


cheios no dobro do tempo. Sem retenção com os pulmões.

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1-4-2-0 Inspiração em um tempo. Retenção em quatro vezes o tempo da
inspiração. Exalação no dobro do tempo. Sem retenção de pulmões vazios.

Além dos ritmos acima narrados, podemos desenvolver vários outros ritmos,
combinando as fases da respiração e o tempo de cada uma delas.

Durante o Pranayama, o Prana Vayu (energia ascendente) é ativado pela


inspiração e o Apana Vayu (energia descendente) é ativado pela exalação.

Existem algumas regras de respiração durante a execução dos ásanas


(posturas), porém, a primeira delas praticamente engloba as demais e quase não tem
exceções. Assim sendo, entender essa regra facilita todo o processo de construção da
sua prática pessoal.

Primeira regra de respiração: Movimentos para cima são feitos com inspiração;
para baixo com expiração.

Flexões para frente e para os lados são feitas com expiração; para trás com
inspiração, exceto as de pé.

Ao torcer uma esponja molhada a água sai: ao torcer o tórax, cujos pulmões
são como uma esponja de ar, o ar sai. Ou seja, sempre entre nas torções exalando.

Ásanas em decúbito frontal (barriga no chão) são feitos com inspiração.


Posições musculares (posturas de força) são feitas com os pulmões cheios
(inspiração).

Ásanas de longa permanência, ou em que o tronco esteja ereto, têm respiração


fluindo normalmente.

Também é importante saber que alguns Pranayamas são introversores,


calmantes e sedativos, e outros são extroversores, energéticos e vitalizadores. Como
regra, as respirações rápidas ou vigorosas, como o bhastrikā e kapalabhati tendem a
esquentar e energizar. Aqui temos a exceção do Ujjayi Pranayama, que esquenta mas
que acalma ao mesmo tempo. Já as respirações lentas são calmantes e tendem a
esfriar.

Sobre a polaridade das narinas, é importante saber que os respiratórios feitos


pela narina direita esquentam e estimulam a energia. Já os respiratórios feitos pela

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narina esquerda esfriam e são sedativos. Já feitos pelas duas narinas tendem a
equilibrar essas polaridades.

Nosso lado direito está associado ao masculino/quente e nosso lado esquerdo


ao feminino/frio. Essa polaridade se reflete nas narinas, respirar pela narina direita
aumenta o fluxo de energia através dos canais e órgãos do lado direito ou solar do
corpo. Portanto, aumentam a temperatura e promovem os processos associados ao
calor, como a digestão e o metabolismo. Ao respirar pela narina esquerda
estimulamos os órgãos e os canais associados a esse lado, lunar, aumentando o
movimento de energia fria, que está associada à formação dos tecidos, à nutrição e
à estabilização da mente.

A seguir, vou deixar alguns dos Pranayamas mais importantes do Yôga. Para
mais técnicas basta acessar os livros de bibliografia complementar enviados no grupo
e disponibilizados no nosso drive.

Pranayamas que esquentam:

Ujjayi Pranayama (respiração ruidosa ou oceânica – esquenta e acalma).


Ujjayi significa “vitorioso”. Este pranayama consiste em fazer respirações profundas
com uma leve contração da glote, diminuindo a passagem do ar e com isto fazendo
um leve ruído. É um pranayama perfeito para a prática de ásanas, uma vez que
esquenta o corpo ao mesmo tempo que relaxa, acalma e foca a mente, facilitando a
sintonização da respiração aos movimentos do corpo durante a transição entre as
posturas. Esse pranayama pode ser praticado em pé, sentado ou até deitado.

– Sente-se numa postura estável e confortável. Observe a respiração natural e


perceba o relaxamento e estabilidade do corpo.

– Conduza, então, a sua atenção para a garganta. Imagine o ar entrando e


saindo não pelas narinas, mas pela garganta. Suavemente contraia a glote e perceba
um leve sussurro que esta contração produz. A inalação e a exalação devem ser
suaves e profundas.

– Faça a respiração completa e escute o ar passando pela garganta.

– Você pode iniciar essa prática com 10 respirações e aos poucos estendê-la
até 5 minutos.

61
Bhastrika Pranayama (respiração do fogo – esquenta e energiza)

Bhastrikā em sânscrito significa “fole”. Esse pranayama estimula o


metabolismo, produzindo calor, ajudando assim a liberar as toxinas do corpo.
Também massageia e estimula os órgãos abdominais, tonificando todo o sistema
digestivo. Ajuda no foco mental, energiza e traz concentração. De acordo com a Haṭha
Yoga Pradīpikā este pranayama purifica as nadis e estimula o fogo gástrico no corpo.

Esse pranayama não deve ser executado por pessoas que tenham hipertensão,
problemas cardíacos, hérnia, úlcera, pressão alta ocular, descolamento de retina,
epilepsia ou glaucoma. Também não deve ser praticado por gestantes.

– Sente-se numa postura estável e confortável. Inspire projetando a


musculatura abdominal para fora e em seguida expire vigorosamente contraindo
firmemente o abdômen que se projeta para dentro (o diafragma movimenta-se para
cima).

– Inicie com um ritmo lento e tranquilo, contraindo com relativa força o


abdômen para que o ar saia. A respiração deve ser rítmica, o tempo e a intensidade
da inalação dever ser igual ao da exalação. Aos poucos, comece a acelerar o ritmo,
contraindo ao máximo o abdômen a cada exalação. Lembre-se que essa força aplicada
nunca deve se exceder a ponto de criar tensão, especialmente da musculatura da
face. Os músculos da face devem permanecer relaxados e o semblante tranquilo
enquanto se executa a técnica.

– Continue a execução durante 10 respirações, uma inalação e uma exalação


conta-se 01. Você pode fazer 5 ciclos de 10 respirações.

– Pode-se fazer, após as 10 respirações, ou seja, ao final de cada ciclo, uma


retenção com pulmões cheios e ativar jalandhara bandha (contração da garganta,
aproximando o queixo no tórax) combinado com mula bandha (elevação do assoalho
pélvico).

– Retenha o ar de forma confortável e no final exale de forma lenta e controlada.

Kapalabhati Pranayama

Estudamos esse respiratório no módulo de Kriyás. Para algumas linhas de


Yôga também é considerado um Pranayama. Também é conhecido como respiração

62
do crânio brilhante, pois durante a técnica ocorre a super oxigenação do cérebro
(derivando daí a sensação de brilho). Esse exercício é um ṣaṭkarma, uma das seis
purificações do Haṭha Yoga, pois proporciona uma limpeza total das vias
respiratórias.

- Elimine todo o ar dos pulmões. Inspire lenta e profundamente e, sem reter o


ar, expire pelas narinas, bom bastante vigor e recolhendo com firmeza o abdômen.

- Volte a inspirar de forma completa, com suavidade, e solte o ar outra vez com
força, porém sem contrair a musculatura facial nem movimentar os ombros. Faça
isso pelo menos dez vezes.

- O intervalo entre duas expirações é bem maior que no bhastrika.

Pranayamas que esfriam

Sítali Pranayama

Sita quer dizer “frio”. É uma respiração refrescante. De acordo com o Haṭha
Yoga Pradīpikā este pranayama cura doenças do abdômen e do baço, evita febre e
transtornos biliares. Ou seja, refresca e apazigua pitta (estudaremos no módulo de
Ayurveda). Geralmente para resfriar quase que instantaneamente o corpo, usamos a
respiração pela boca. Por outro lado, essa respiração, como esfria, tende a criar muco,
por isso deve ser feita com cautela.
– Coloque a língua em forma de calha, projetando-a para fora da boca, sem
tensão;
– Faça uma inspiração completa pela boca, fazendo o ar atravessar o canal
formado pela língua;
– Feche a boca com a língua recolhida e retenha o ar;
– Expire lentamente pelas narinas.

Pranayamas que equilibram o solar e lunar

Nadi Sodhana Pranayama

X'

63
– Sente-se numa postura de meditação, de modo que o corpo esteja estável,
firme e confortável.

– Inspire pela narina esquerda, fechando a narina direita usando o dedo médio
de uma das mãos em jnana mudrá. Você pode optar por reter o ar com os pulmões
cheios ou não.

– Feche a narina esquerda e exale pela direita. Você pode optar por reter o ar
com os pulmões vazios ou não.

– Inale pela mesma narina (direita), e quando estiver com os pulmões cheios,
troque de narina, exalando pela esquerda.

Assim encerra-se um ciclo completo deste pranayama. Lembra se sempre


alternar a narina após a inalação ou retenção de pulmões cheios e inalar após pela
mesma narina que exalou. Faça entre 10 e 20 ciclos, lembrando que a troca de narina
acontece quando os pulmões estão cheios e nunca quando eles estiverem vazios.

Caso as duas narinas estejam obstruídas, você não conseguirá fazer


este respiratório. Porém se apenas uma delas estiver obstruída você pode fazer, mas
quando precisar respirar pela narina obstruída, você não irá fechar a narina oposta
completamente, apenas a metade dela. Então de fato estará respirando pela narina
não obstruída, mas irá imaginar o ar passando pela narina que está obstruída. Verá
que você consegue sentir como se estivesse respirando por ela, mesmo sem estar
fisicamente. Pode ser que ao longo da prática a narina desobstrua. Caso isso gere
desconforto, não precisa praticar. Lembre-se, deve haver estabilidade e fluidez na
prática, evitando a ansiedade e o desconforto.

Chaturanga Pranayama

É a respiração quadrada. Assim chamada pois todos os ciclos da respiração


(inalação, retenção com os pulmões cheios, exalação e retenção com os pulmões
vazios são feitos no mesmo tempo). Ideal para conquistar concentração, foco e
atenção.

Pranayamas e Bandhas

Bandha Kumbhaka Pranayama

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É a respiração completa, com ritmo e contrações. É um dos exercícios mais
importantes do Yoga, tendo uma forte atuação nos órgãos internos, glândulas
endócrinas e plexos nervosos. Controla os Vayus e direciona o prana. Proporciona
o bhuta shuddhi, a purificação dos elementos corporais e desperta a kundalini.
Exercita todos os músculos e articulações do aparelho respiratório, aumentando a
elasticidade da caixa torácica, eliminando tensões musculares e aumentando
a capacidade vital do praticante. Estimula o funcionamento do sistema endócrino e
do sistema nervoso, melhora a digestão e a excreção e otimiza a oxigenação do
sangue. Há ainda o estímulo produzido pela contração tríplice, bandha traya, que é
fortíssimo, tanto fisiológica quanto energeticamente. Dentre os efeitos sutis destaca-
se a estabilização dos pensamentos, a eliminação das flutuações da mente
(chittavrtti), a sensação de receptividade, alegria e expansão da própria consciência.

- Elimine o ar e inspire de forma profunda e completa. Ao concluir essa


inalação feche a glote e incline a cabeça para trás. Retenha o ar nos pulmões e
faça jiva bandha, pressionando a ponta da língua no palato mole. O tempo de
retenção poderá ser o dobro ou o quádruplo do da inspiração, conforme o ritmo que
você tiver escolhido.

- Ao exalar faça o bandha traya, a contração tríplice. Direcione o queixo para


o peito e pressione firmemente a glote em jalandhara bandha. Juntamente
faça uddiyana bandha, a contração dos músculos e plexos abdominais. A
seguir, mula bandha, sugando os esfíncteres do ânus e da uretra. A duração
associada a esses bandhas é livre, conforme a capacidade do aluno de permanência.
Pode adicionar a retenção de pulmões vazios ao exercício.

O praticante ou professor pode optar por adicionar ritmo a cada uma das fases,
com ou sem retenção.

Fisiologia Sutil

Os Chakras

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A palavra chakra vem do sânscrito e significa “roda”, “disco”, “centro” ou
“plexo”. Os chakras são percebidos como vórtices (redemoinhos) de energia vital,
espirais girando em alta velocidade, vibrando em pontos vitais de nosso corpo. Nosso
corpo físico tem uma ligação sutil com o mundo astral e os chakras são pontos de
interseção entre vários planos. O prana se move através do chakra e produz diferentes
estados psíquicos no ser.

O Yôga como visão de vida e escola filosófica dá grande ênfase no conhecimento


desses centros de energia e as suas técnicas como prática visam o trabalho
harmonioso dos chakras, uma vez que são o seu campo de ação.

É através do desequilíbrio desta energia vital que as pessoas adoecem e


acabam obstruindo a união com a fonte criadora (objetivo do Yôga).

Cada chakra tem a sua função e significado e está ligado a determinados


órgãos que desempenham funções específicas no plano emocional, psíquico e
espiritual.

Os bloqueios energéticos gerados por emoções e pensamentos negativos fixam-


se com bastante intensidade nos chakras, fazendo com que a energia não flua,
deixando nossos corpos em desarmonia.

Se você conhece bem o estudo sobre esses centros de energia, pode


compreender como montar uma prática pessoal que atuará de forma a purificar,
nutrir e ativar cada centro de energia.

Chakra Básico

Ele é chamado pelos hindus de Muladhara, e em sânscrito significa suporte.


Sua localização se relaciona com a base da coluna, mais exatamente na região do
períneo. Sua abertura está voltada para baixo, para a terra. É o responsável pela
absorção da energia telúrica.

Ele está ligado às glândulas suprarrenais, responsáveis pela liberação no


sangue do hormônio adrenalina, que nos impele a preservar a nossa vida diante de
situações de perigo ou de decisão. Assim, possui ampla relação com os nossos
instintos e pelo aspecto da sobrevivência.

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O chakra básico apresenta a cor vermelha, é ligado ao elemento terra e rege
também os órgãos que dão estrutura ao corpo (ossos, músculos, coluna vertebral,
quadris), às pernas e aos pés. Dessa forma, esse chakra nos oferece um suporte, uma
estrutura para vivermos no plano terrestre, pois é ele que nos conecta à terra, à
existência e à vida na matéria.

O bija mantra que ativa esse centro de energia é o “LAM”. Vamos estudar sobre
os bijas mantras com mais profundidade no módulo de mantras.

Quando esse centro de energia está em equilíbrio nos sentimos conectado com
a vida, com a natureza e com a matéria que nos circunda. Pessoas prósperas e com
boa saúde costumam ter um chakra básico igualmente saudável.

Em desequilíbrio esse centro de energia traz um desânimo perante a vida, com


sintomas como cansaço extremo, fadiga, depressão e completa desconexão com a
terra e com as formas de vida.

A missão desse chakra é fazer com que caminhemos com equilíbrio no planeta
Terra e ele expressa a saúde do corpo físico como um todo.

Chakra Sexual

Para os hindus, é o Swadhisthana (ou cidade do prazer, em sânscrito) e


encontra-se na região do baixo ventre (dois dedos abaixo do umbigo). É fisicamente
ligado às gônadas – testículos (homem) e ovários (mulher) – e à energia feminina, ao
útero materno, à procriação (à criação de outras coisas também, como projetos
pessoais, profissionais), à gravidez. É responsável pela reprodução, troca sexual e
pelo controle de líquidos em todo o corpo humano.

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O chacra sexual energiza toda a área genital e urinária, também cuida da
filtragem e circulação de líquidos nos rins e por expelir todas as excreções do corpo.
É regido pela Lua (por isso tão vinculado ao feminino, à sexualidade, à maternidade
e à criação) e pelo elemento água (vinculado ao líquido amniótico, às relações
interpessoais, à autoestima, ao amor-próprio).

Esse chakra guia a saúde e a qualidade de nossa relação com a Terra, com a
família, com as pessoas em geral, e com nós mesmos.

Também pode ser chamado de chakra sacro, e apresenta a cor laranja.

É o chakra da troca sexual, da alegria e do prazer. Muitas escolas espirituais


evitam falar sobre este chakra e colocam em seu lugar o chacra esplênico (ou chacra
do baço), diante de algumas crenças de corpo e prazer como obstáculo da evolução
espiritual.

Quando está bloqueado, causa desânimo, falta de libido, problemas de


relacionamento amoroso e com pai e mãe, baixa autoestima e problemas de
criatividade. Quando hiperativo, causa intenso desejo sexual e outras compulsões
que caracterizam o prazer vicioso.

Se o chakra sexual estiver saudável, ele estimula o melhor


funcionamento dos outros centros de energia e ajuda no despertar da
kundalini, além de uma autoestima equilibrada, boa relação com os prazeres
da vida, criatividade fluindo, relacionamentos familiar e amorosos saudáveis
além da sexualidade equilibrada.

Plexo Solar

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Chamado de Manipura pelos hindus (em sânscrito, cidade das joias), fica um
ou dois dedos acima do umbigo e está ligado ao pâncreas. Esse chakra apresenta cor
amarela.

Ele influencia nossa relação com a matéria e com o poder pessoal. Também é
o centro das emoções e do relacionamento com o mundo e a troca energética entre
grande parte da humanidade. Neste chakra ficam retidas emoções densas como raiva,
mágoa, medo, tristeza, angústia, rancor, ansiedade.

É um dos chakras que mais precisam ser tratados e harmonizados sempre,


diante do seu fácil desequilíbrio e bloqueio, por ser o responsável pela interação
energética na maioria das relações.

O plexo solar controla a região das vísceras, e não é à toa que todas as emoções
densas e viscerais (como paixão e desejo) se acumulam nessa região. Ele é
responsável por absorver a energia dos alimentos e distribui-la para todo o corpo.

É o nosso Sol Central onde está localizado o nosso Agni (fogo interno). Também
é o nosso centro de poder pessoal e traduz muito a forma que expressamos a nossa
energia e potência no mundo.

É um dos chakras mais suscetíveis à nossa rotina, sendo esse mais um motivo
para seu fácil desequilíbrio.

Muitas pessoas sofrem com algum problema físico nesta região, como gastrite,
problemas estomacais, diabetes, ou outros problemas digestivos. Dessa forma é
sempre interessante também promover um olhar integral e holístico para tratamento
dessas enfermidades, de modo a tratar o plexo solar, chakra que influencia
diretamente no nosso metabolismo e sistema digestivo como um todo.

Quando está bloqueado, esse centro de energia pode gerar, a nível físico todas
as enfermidades já mencionadas acima. A nível emocional, sensações como
insegurança e baixa estima são totalmente relacionadas a esse centro de energia.

Quando em harmonia esse centro de energia nos dá um poder de realização


muito grande nos impelindo a agir em conformidade com os nossos projetos e ideais.
Também nos dá uma noção de potência máxima, segurança e auto estima.

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É comum sentir a sensação de estar uma esponja energética, absorvendo
energia do ambiente e das pessoas quando esse chakra está em desequilíbrio, bem
como se tornar um emanador de energia quando esse centro está equilibrado.

Chakra Cardíaco

Os hindus dão o nome de Anahata (câmara secreta do coração). Esse centro


de energia fica localizando no centro do peito. O chacra cardíaco apresenta cor verde,
e está ligado à glândula timo.

É responsável pela energização do sistema cardiorrespiratório, e toda a energia


do tórax.

Considerado o centro do amor e canal de expressão dos sentimentos, também


está vinculado ao equilíbrio, ao amor universal, à compaixão e ao altruísmo. É o
centro de amor incondicional, aquele que não cobra nada em troca e existe
simplesmente pelo fato de se estar vivo e em conexão com a vida.

O chacra do coração tem a função de equilibrar as energias de todos os outros


chacras, pois está no centro, tendo abaixo dele três chakras inferiores associados à
existência na Terra, e acima, três chacras superiores, mais sutis e associados ao
plano espiritual. É o coração que conecta o Céu com a Terra, é a conexão da
espiritualidade através da matéria.

É o verdadeiro centro de conexão sutil e elevada entre o Ser e todas as formas


de vida. A medida que a consciência se expande a relação entre os seres passa a se
expressar de maneira amorosa através desse centro de energia.

70
É um dos chakras mais fragilizados, assim como o Plexo Solar, se houver um
desequilíbrio emocional. Assim sendo, quando existe um bloqueio, a pessoa pode
sentir mágoas profundas, depressão, angústia e tristeza. Fisicamente, o bloqueio
pode gerar infarto, taquicardia, problemas relacionados ao coração e ao sistema
cardiovascular.

Quando em equilíbrio, esse centro de energia se torna um grande canal de


cura e ascensão planetária abrindo o ser para uma vida plena de amor.

Chakra Laríngeo

Recebe o nome de Vishuddha (o purificador do sangue, em sânscrito). Esse


nome já nos dá algumas pistas da glândula à qual se vincula: a tireoide e
paratireoides. Esse centro de energia está localizado na garganta e é responsável pela
expressão da nossa verdade na matéria, bem como nos conecta com o nosso propósito
e missão da vida (dharma).

Também é o centro de energia que se relaciona com a comunicação e


expressão das ideias, verbalização e concretização de projetos relacionados à missão.
Fisicamente, cuida da boca, garganta e vias respiratórias.

O chakra laríngeo representa o corpo etérico padrão e apresenta cor azul


celeste. Seu mantra é o HAM e seu elemento é o éter.

Quando apresenta boa saúde e desenvolvimento, facilita a psicofonia e a


clariaudiência. É considerado também como um filtro energético que impede que as
energias emocionais cheguem até os chakras da cabeça.

Quando apresenta desequilíbrio, pode causar a nível físico dor de garganta,

71
dores de dente e/ou gengiva, hiper ou hipotireoidismo, além de doenças das
vias respiratórias. Energeticamente, o desequilíbrio desse centro de energia afasta o
ser da expressão da sua verdade e da integridade interior. Assim, sem nutrição desse
centro de energia ficamos facilmente influenciados pelas regras sociais e nos
afastamos da nossa verdadeira missão de alma ou propósito. O desequilíbrio desse
centro também gera problemas na comunicação de forma geral.

Já o equilíbrio conecta cada ser com a sua verdade essencial, missão expressão
divina da sua energia na Terra. O equilíbrio desse centro traz saúde e harmonia para
as vias respiratórias, metabolismo e região da garganta e boca.

Chakra Frontal

O Ajna (centro de controle, em sânscrito) é também conhecido como terceiro


olho. Isso quer dizer que ele fica localizado no centro da testa, entre as sobrancelhas,
e vinculado à glândula pituitária ou hipófise.

Apresenta cor azul índigo e para algumas linhas pode se tornar prateado. O
seu Som é o mantra OM. Já não é representado por nenhum elemento, assim como
o chakra da coroa.

É o grande centro de energia responsável pela nossa intuição e por todo


conhecimento intuitivo, aprimorando a nossa visão interior. O chakra frontal também
representa o corpo celestial e é responsável pela saúde dos olhos e do nariz.

Quando está ativo e em equilíbrio esse centro começa a despertar os nosso


siddhis (poderes extrassensoriais) expandindo a nossa intuição. Também

72
proporciona maior clareza de ideias e se torna um grande portal de acesso a tudo que
é divino e espiritual.

Quando em desequilíbrio gera excesso de pensamentos caóticos, ideias que se


acumulam e não são colocadas em prática, desorganização e falta de foco.

Fisicamente pode surgir um quadro de sinusite, que é a somatização dessa


congestão mental. Também pode surgir a sensação de pânico, dores de cabeça e até
problemas mentais.

A meditação ao final da prática é uma ótima forma de purificar e ativar esse


centro de energia.

Chakra Coronário

O Sahashara (lótus das mil pétalas, em sânscrito) possui exatamente 972


pétalas. Está no topo da cabeça, ligado à pineal, que é a glândula que fica no centro
da cabeça e é considerada a glândula mestra do nosso corpo (a nível energético). É o

chakra por onde penetra a energia cósmica e a energia do Sol também.

Esse chakra forma uma coroa de luz, por isso também é conhecido como
chakra da coroa. Apresenta cor violeta, branco-fluorescente ou dourado. Seu mantra
é o OM.

Através desse centro de energia podemos alcançar a compreensão de tudo e é


por ele que nos conectamos com o plano espiritual, com o Eu Superior, com Deus o
divino em todas as coisas. Esse chakra está ligado à forma de exercermos a nossa fé
e evoluir espiritualmente.

Quando ele é trabalhado e desenvolvido, facilita a lembrança e a


conscientização das projeções da consciência. Tem muita importância na telepatia e

73
no desenvolvimento da mediunidade, nas expansões da consciência e na recepção de
temas elevados.

Esse chakra representa o corpo causal. A vibração dele também indica que
estamos vivos.

Quando está em desequilíbrio, a pessoa pode desenvolver fobias, problemas


neurológicos, falta de fé, depressão e completa desconexão com o plano espiritual.

Quando está saudável, ativamos toda nossa sensibilidade e vivemos alinhados


ao nosso propósito divino, com saúde, felicidade e muita disposição. A conexão
espiritual se torna algo natural e diário em nossas vidas. O divino se torna nosso
melhor amigo.

Representa a iluminação e integração com o todo.

74
Tabela Resumo

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Os cinco corpos (Koshas)

Ao se estudar a fisiologia sutil humana é possível entender que o ser humano


ainda não possui um corpo físico - é a princípio um ser espiritual. Com a necessidade
de formar um novo corpo físico para uma nova experiência, a Energia Universal, (bem
como dos elementos sutis da natureza) é utilizada para ir aos poucos condensando
as energias necessárias para a formação de cada um dos corpos, imbuídos das
características energéticas importantes para esta nova experiência. A cada corpo
formado, a energia vai se tornando mais densa, ou assumindo uma vibração de
frequência mais lenta, até a formação do corpo físico, que se apresenta como uma
materialização do outros corpos mais sutis. Esses corpos continuam funcionando
conjuntamente, durante toda a experiência do ser espiritual no plano físico.

Apesar de estudarmos os koshas separadamente por questões didáticas fato é


que eles se influenciam mutuamente todo o tempo, já que somos seres integrais.

Abaixo vamos descrever a energia de cada um desses corpos:

Annamaya Kosha (corpo físico) – É a dimensão da existência em que temos


a experiência da matéria. Anna significa alimento, que compõe e sustenta todos os
corpos físicos. Pode ser visto como o resultado final da interação entre os corpos
sutis.

É formado pela combinação dos elementos ar, fogo, água e terra.

A prática de Ásanas atua principalmente na manutenção e equilíbrio desse


Kosha, apesar de atuar em outros vários de forma secundária.

Pranamaya Kosha (corpo energético ou etérico) – É o corpo feito de prana.


É principalmente neste corpo que os vayus (correntes energéticas) atuam e aqui ficam
localizadas as Nadis e Chakras.

O prana vitaliza o corpo físico e os sutis e os mantém unidos. Não é por causa
do corpo físico que esse corpo energético existe, Pranamaya Kosha não é uma
emanação de Annamaya Kosha mas, ao contrário, vitaliza este último e é, portanto,
seu alento vital.

A prática de Pranayama atua principalmente na manutenção e equilíbrio desse


Kosha, apesar de atuar em outros vários de forma secundária.

76
Manomaya Kosha (corpo mental/emocional) - Na concepção hindu este
invólucro designa dois corpos, o emocional (também chamado de astral) e o mental
inferior, por agirem na maioria das vezes em conjunto. Os aspectos emocionais são
forças de energia vibratória que se formam no corpo emocional, e se expressam no
corpo físico. O corpo mental é a sede da personalidade humana, que em geral se
expressa por meio do intelecto concreto.

Aqui temos a noção de Ahamkara, ou sentido do Ego.

A manutenção e equilíbrio deste invólucro se dá pelos yamas, niyamas, asanas


e prathyahara.

Vijñanamaya Kosha (corpo de sabedoria ou intelectual) - Vijnana é o


conhecimento no mundo manifesto, a faculdade de avaliar e discernir que, se bem
direcionada, pode levar a jñana ou autoconhecimento, o conhecimento da Verdade,
daquilo que é Real, ou seja, à Consciência (superior, ou seja, além da consciência de
si como ego individual, que é mental).

Assim, vijnana abrange também as ciências, artes, e pode significar sabedoria


e entendimento. Portanto, vijnana é nossa faculdade mental discriminativa, que é
utilizada para propósitos nos mundos manifestos (físicos, extrafísicos), mas que
também pode nos direcionar para camadas mais profundas e próximas a nosso
verdadeiro Ser.

Se voltada para o intelecto inferior (externo, e corpos mais externos), a


experiência reforça a personalidade, o ego. No caso de um buscador, sua força
intelectual se voltará para as camadas “superiores” ou internas.

A manutenção e equilíbrio deste invólucro se dá principalmente pelos yamas,


niyamas, dharana, prathyahara e dhyana.

Anadamaya Kosha (corpo causal ou espiritual) - Em Anandamaya Kosha


não existe a percepção individual – na ordem da criação, ainda não surgiu o sentido
do ego. Aqui, então, sua “consciência do eu” ou “do corpo” pode não existir ou ser
muito expandida. É nele que podemos chegar no estado de meditação
profunda. Anandamaya Kosha é a camada mais profunda (interior) e próxima ao Ser
ou Atman. E aqui está o seu centro, o seu Ser ou Atman. Aquilo que você é, a
própria Consciência (Chit), antes de ser velada pelas camadas de ilusão (maya

77
koshas) citadas acima. Patãnjali emprega os termos Purusha (do Samkhya)
e Ishvara para esse nosso Ser.

A manutenção e equilíbrio deste invólucro se dá principalmente por dhyana.

Nadis

As Nadis são estruturas sutis que transportam o prana pelo corpo. São
verdadeiros canais condutores de energia. São aproximadamente 72 mil nadis pelo
corpo energético, que pode ser comparado ao sistema circulatório (que circula prana,
bioenergia).

Apesar das milhares de Nadis, três são as mais estudadas, por estarem
localizadas no canal central e por ter mais relação direta com a energia kundalini.

O canal central Sushumna é aquele que transporta a energia kundalini, que


se encontra adormecida no chacra básico. Ele sobe em direção ao chacra da coroa.

Do mesmo modo, a Nadi Pingala nasce à direita do canal central, é associada


ao Sol e possui características como: cor avermelhada; natureza masculina; energia
rajásica, quente, solar e lógica.

Ida é a nadi que nasce a esquerda do canal central, é simbolicamente


associada à lua pelas características energéticas que lhe são próprias: cor branca;
natureza feminina e maternal; energia sattvica; calmante, fria e intuitiva.

Ida e pingala formam uma espécie de helicóide, havendo um cruzamento entre


as duas na altura de cada chacra, sendo que o último encontro se dá no chacra Ajna,
no entanto as duas terminam na narina esquerda e direita respectivamente.

Kundaliní

A energia kundalini quando despertada sobe pela nadi central, sushumna até
o chacra coronário, experiência a qual se dá o nome de samadhi,

“Quando o corpo é serenado pela prática dos oito passos, um poder interior
desconhecido é liberado, que ajuda o corpo a manter um excelente estado de saúde
física e vitalidade, e a mente a se aquietar e livrar-se de flutuações. Nesse estado, a

78
mente exibe um maior controle quando funciona no nível sensorial. Esse controle
provoca um estado de imobilidade física e mental que permite que a energia estática
enrolada da Kundalini seja ativada e suba em direção ao local mais elevado, o sétimo
chacra”

Cada conhecimento já apresentado do yoga demonstra que aquilo que será


modificado no ser humano são a sua consciência e seu corpo, desde denso ao mais
sutil: estes são manipulados e purificados por meio do conhecimento filosófico, da
prática das técnicas, mas também e possivelmente pelo conhecimento/estudo da
fisiologia sutil humana.

79
Yoga e Ayurveda

Segundo o Samkhya – a filosofia pré-védica que embasa o Yoga e o Ayurveda


e que classifica e estuda todo o processo da manifestação do universo – a criação
começa a partir da interação de um princípio espiritual, transcedental – Purusha,
com um princípio vital, material – Prakriti.

A Prakriti manifesta três padrões de movimento universal. Estes padrões


chamam-se Gunas (ou qualidades da natureza material) e expressam a dialética da
Criação: Sattwa, é o padrão de movimento que faz com que, a partir do movimento
inicial, onde começa a expansão do Universo, já exista uma força operando no sentido
da volta ao estado primordial – a Pura Consciência. Expressa o movimento para cima
e para dentro. Sattwa é a sutileza, o elemento Éter (Espaço), a harmonia, o equilíbrio,
a luz, a paz, o amor. Sattwa é a tolerância, a compaixão, a não julgamento, a intuição,
o desapego, a honestidade e a ética. Sattwa é a porta, o último degrau que leva à
experiência do nosso estado original – a Unidade. Daí os hindus terem desenvolvido
toda uma cultura e toda uma filosofia que pretendem trazer a vida para uma
frequência vibratória mais sattwica. Assim é no Yoga (nos trabalhos psico-energético-
corporais) e no Ayurveda (na alimentação e na medicina), ou seja, tornar a vida cada
vez mais sattwica, mais dentro do Dharma (a virtude, a retidão). Sattwa pode ser
representada pela cor amarela, dentro das três cores básicas. Está relacionada a a
Anandamaya Kosha (corpo de bem-aventurança) e aos três Chakras superiores.

Rajas, que é a própria expressão do movimento, do karma, dos elementos Ar,


Fogo e Água. Rajas é o movimento da expansão do universo, o movimento centrífugo.
Rajas é a paixão, o impulso, a explosão, o calor, a força da construção, da
objetividade, da determinação. É a cor vermelha. Rajas, quando desequilibrado,
também é a raiva, a ansiedade, a pressa, a violência, a inveja, o ego inflado.
Está relacionada a Pranamaya Kosha (corpo de energia), Manomaya Kosha (corpo
mental-emocional) e Vijñanamaya Kosha (corpo de sabedoria); aos Doshas Pitta
(fogo/água) e Vata (ar/éter) e aos Chakras Swadhisthana (água), Manipura (fogo) e
Anahata (ar).

Tamas, representa a inércia, o movimento que estagna, a tendência de


paralisar. É o movimento descendente. Representa também a densidade material, a
estrutura física, o peso. É o movimento de retração do universo. Desequilibrado
Tamas é a preguiça, a avareza, o apego, a complacência, o ciúme. É o medo, a
80
angustia, a depressão, a tristeza, a baixa estima. A sombra. Fomenta a manutenção
das coisas como elas estão – na ignorância de nossa natureza real (ignorância
chamada pelos hindus de avidya). Tamas relaciona-se aos elementos Água e Terra e
à cor azul. Está relacionada a Annamaya Kosha (corpo físico), ao Dosha Kapha
(água/terra) e aos chakras Swadhisthana (Água) e Muladhara (Terra).

Na Mitologia Hindu, Sattwa se expressa através de Vishnu, o poder que


mantém e administra e relação desequilíbrio/equilíbrio no Universo. Rajas se
expressa no poder criador de Brahma (não confundir com Brahman, o Absoluto). E
Tamas se expressa através do poder destruidor de Shiva, que destrói para que haja
renovação.

A grande alquimia interna, a grande transmutação, é utilizar o movimento e o


impulso de Rajas equilibrado, para sedar Tamas e estimular Sattwa. Normalmente o
que se faz é justamente o contrário: Rajas desequilibrado estimula Tamas (que por
sua vez também desequilibra Rajas) e seda Sattwa.

O Ayurveda trabalha a partir do levantamento de uma tipologia básica. Esta


tipologia baseia-se nos cinco elementos, e expressa como estes elementos estão
atuando e se movimentando na fisiologia psicofísica humana. Assim, o Ayurveda
estabeleceu três tipos característicos: Vata, expressão dos elementos Espaço e Ar;
Pitta, Fogo e Água e Kapha, Terra e Água. Todos nós nascemos com os três Doshas
formando uma configuração que é pessoal e intransferível. E em cada um de nós os
elementos atuam e influem de maneiras absolutamente singulares.

Vata é composto por Vento primariamente, que se movimenta pelo espaço


(Éter), o elemento secundário. Controla o movimento e comunicação do corpo e
mente, o fluxo dos pensamentos e a fala. A homeostase, ou equilíbrio do corpo,
acontece por comunicação entre os diferentes órgãos e tecidos, por ação de
Vata. Quando por exemplo, a temperatura exterior aumenta, o hipotálamo precisa
receber essa informação para acionar os mecanismos que adéquam a temperatura
corporal. Sem comunicação, Pitta e Kapha não conseguem funcionar
adequadamente. Por isso, quando Vata entra em desequilíbrio estes logo
seguem. Vata é assim a raiz dos tecidos e responsável pelo seu equilíbrio. Por sua
energia móvel e sutil está relacionado à respiração e sistema nervoso. Seus atributos
são: agitado, seco, leve, frio, áspero e sutil.

81
Pitta é composto principalmente por Fogo, que faz a digestão tanto de
nutrientes como de impressões, pela mente. Controla o metabolismo e está por isso
relacionado à produção de hormônios, enzimas e sucos digestivos. Neste caso, a
Água, o elemento secundário, serve como proteção, para que o fogo não queime aquilo
em que toca. Pitta está muito ligado à visão, já que esta é o sentido que nos permite
digerir a luz. É também responsável pela fome, sede, brilho, cor, entendimento e
coragem. Seus atributos são: ligeiramente oleoso ou úmido, penetrante, quente, leve,
odor desagradável, móvel e líquido.

Kapha é composto por Água principalmente, que com a Terra, elemento


secundário, dá estrutura, nutrição e suporte. É o Dosha que compõe os tecidos como
o plasma, ossos e gordura. Também é responsável pela lubrificação, como no caso do
liquido sinovial nas articulações e proteção, no caso do muco. Dá-nos estabilidade
física e psicológica, assim como paciência e afetividade. Seus atributos são: oleoso ou
úmido, frio, pesado, denso ou lento, pegajoso, suave e estável.

Ou seja, precisamos dos três Doshas e dos cinco elementos para que o nosso
corpo e mente funcionem plenamente. Somos uma mistura dos três Doshas, ainda
que em diferentes proporções. Em todas as funções do organismo, podemos observar
a sinergia entre estas três forças e a forma como se complementam.

As pessoas com Vata predominante são normalmente magras e seus padrões


de fome, sede e sono são irregulares, tendo muitas vezes insônia e se esquecendo de
comer. A sua energia é variável e tendem a se cansar facilmente. Pelo seu atributo
seco, a sua pele costuma ser seca e têm tendência para constipação. A sua mente é
rápida para captar informações, mas também para esquecê-las. Caminham e falam
rápido. Os seus principais órgãos de sentido são os ouvidos e a pele e por isso são
pessoas que reagem a barulhos fortes e que se comunicam muitas vezes pelo toque.
Quando em equilíbrio, são pessoas com muita energia, entusiasmo e bom humor,
ágeis e leves, que gostam de se comunicar e mudar. Vata em desequilíbrio provoca
emagrecimento, digestão irregular, constipação, ansiedade, medos, desorientação e
dor.

A prática de Yoga para equilibrar Vata deve proporcionar concentração e


disciplina, com bastante enraizamento e produção de calor interno, de forma a
alcançar aos poucos uma mente mais tranquila. Para a prática não causar exaustão
a respiração deve ser calma e o descanso em Savasana por tempo prolongado.
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As pessoas com Pitta predominante têm uma estrutura mediana e
musculatura desenvolvida. A pele tem bastante cor (rosada ou com sardas), assim
como os olhos e o cabelo, que pode ser castanho claro ou ruivo e embranquecer cedo.
São sensíveis ao calor. Têm fome e sede intensas, não gostando de saltar refeições e
ficando irritados quando isso acontece. Pela sua característica penetrante costumam
ter suor e hálito com cheiro forte. Seu passo é determinado, assim como suas ações.
A visão é o seu órgão dos sentidos mais sensível e como tal, têm um forte sentido
estético. São inteligentes, justos, exigentes e competitivos. Pitta em desequilíbrio traz
fome, sede e sudorese excessivas, febre, hemorragias, sensações de ardência,
irritações de pele, icterícia (cor amarelada na pele e mucosas), inflamações,
agressividade e raiva.

São facilmente atraídos por práticas vigorosas como Ashtanga ou Vinyasa.


Porém, têm tendência a ser levados pela competitividade e preocupação com detalhes
técnicos dos ásanas, provocando lesões quando forçam para além do que deviam.
Ideal sempre intercalarem com práticas que acalmam esse fogo interior exacerbado,
ajudando-os a sair da lógica mental e a entregarem-se ao momento. O foco deve ser
não esquentar demasiado o corpo, respeitando seus próprios limites, aproveitando as
propriedades refrescantes das posturas de interiorização e fazendo um Savasana
longo.

As pessoas do tipo Kapha têm uma estrutura robusta, com bastante


resistência. A sua pele é macia, pálida, fria e oleosa. A sua fome é constante mas leve
e comem muitas vezes por questões emocionais, o que os leva a ganhar peso
facilmente. O sono é profundo e acordam devagar. O seu pensamento é lento, mas
conseguem memorizar por muito tempo as informações. São calmos, compassivos e
amorosos, mas podem se tornar apegados a pessoas queridas e bens materiais.
Relacionam-se com o mundo através do cheiro e paladar, gostando de roupas e
lugares confortáveis ou gostosos. Em excesso, Kapha cria um fogo digestivo baixo,
acúmulo de Amma, náuseas, sensação de peso, sono excessivo e letargia, congestão,
obesidade, excesso de muco, problemas respiratórios como bronquite, palidez,
lassidão dos membros, estagnação mental, possessividade, ciúmes e resistência a
mudanças.

Pela sua dificuldade em começar algo novo, podem ter dificuldade de iniciar
uma prática regular de Yoga. Quando conseguem persistir as melhores práticas são

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as que lhes dão força e agilidade, esquentam o corpo, aceleram o metabolismo e
diluem o muco acumulado. A rotina de acordar de manhã cedo para fazer algo físico
é ótima para as pessoas deste tipo, ajudando-os a dinamizar sua vida e sair do
sedentarismo. Para isso precisam vencer a preguiça, tentando ir para além daquilo
que acreditam ser seus limites e não se deixando ir demasiado devagar. Devem evitar
adormecer em Savasana, para não ficarem sonolentos depois da prática.

Porém, mais importante que tentarmos nos encaixar num tipo de constituição
é compreendermos como essas três energias nos influenciam e como podemos
trabalhar com elas para nos sentirmos mais dispostos e em consonância com a
Natureza. Ayurveda e Yoga caminham juntos quando entendemos que para termos
paz interior precisamos primeiro curar nosso corpo e mente.

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Yoganidrá

Yoganidrá é o anga (parte) do Yoga também conhecido como Sono Profundo


Consciente do Yoga. É um estado de profundo relaxamento como se no sono
estivéssemos, mas com ampla consciência e atenção plena.

O Yoganidrá é uma técnica que infelizmente não consegue ser guiada na


grande maioria das aulas de Yoga do Ocidente, devido ao tempo comumente dedicado
às práticas (cerca de 1 hora), uma vez que essa técnica, para ser efetiva, demanda
um tempo em torno de 30 a 60 minutos. Assim sendo, na grande maioria das aulas
o que se prática é um relaxamento consciente ou uma técnica de descontração. Não
estamos aqui julgando ou comparando as técnicas, já que o relaxamento consciente
também é muito efetivo na assimilação das outras técnicas que fazem parte da
prática. Estamos apenas trazendo a diferenciação para amplo conhecimento e
discernimento do aluno.

Para entender melhor o conceito do Yoganidrá completo, é importante ressaltar


que durante a meditação permanecemos no estado desperto de consciência e
gentilmente focamos a mente, enquanto permitimos que padrões de pensamentos,
emoções, sensações e imagens surjam e desapareçam.

Entretanto, no Yoganidrá, deixamos o estado desperto, passamos pelo estado


do sonho e vamos para o sono profundo, permanecendo sempre acordados (o que
diferencia do sono profundo da noite).

Inúmeros são os benefícios do Yoganidrá, mas seus efeitos mais profundos


estão na purificação dos Samskaras, que são como tendências inerentes acumuladas
em várias encarnações e acabam agindo inconscientemente.

Yoganidrá se refere a um estado de consciência e não somente aos métodos


que conduzem até lá. Assim sendo, para alcançar o estado de Yoganidrá como estado
de consciência o praticante deve por reiteradas vezes praticar os métodos de
Yoganidrá como técnica em si.

Tendo em vista os conceitos acima, percebemos que as técnicas de visualização


e relaxamento comuns não conduzem a um estado de sono profundo, já que nesse
estado não existem imagens mentais.

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Embora os objetivos do Yoganidrá sejam a experiência e o discernimento
espirituais, e não apenas mudar as atividades físicas do cérebro, existe alguma
correlação com os padrões de ondas do cérebro, quais sejam: Beta - Nível comum das
atividades mentais diárias, alertas, ativas. Também é o nível de atividade associada
com a tensão ou estresse; Alfa - Relaxado, passivo, considerado o objetivo dos
exercícios de relaxamento (esse é o estado geralmente atingido nas práticas
regulares). Embora seja um estado muito relaxante e útil de ser praticado, algumas
vezes é considerado incorretamente como sendo Yoganidrá; Teta - Normalmente
considerado como sendo inconsciente, talvez sonolento, ou meio adormecido.
Algumas vezes este nível também é incorretamente considerado como o nível
do Yoganidrá, onde ainda existem experiências com imagens e fluxos de
pensamentos; Delta - Considerado como sendo o inconsciente, sem sonho, sono
profundo (prājña). No Yoganidrá as ondas cerebrais estão neste nível, enquanto o
praticante permanece em sono consciente profundo, além das atividades
experimentadas nos outros níveis.

O que acontece com muita frequência é experenciar os níveis alta e teta, ou


ainda cair no sono profundo e adormecer, permanecendo na inconsciência. Por isso
o estado de Yoganidrá requer prática e disciplina.

O relaxamento que acontece nos níveis Alfa e Teta é muito útil para a saúde
física, emocional e mental, e por isso é considerado de grande valia nas aulas
usualmente praticadas no Ocidente.

A posição para fazer Yoganidrá, descontração ou relaxamento se chama


Savasána, deitado em decúbito dorsal, com as palmas voltadas para cima, a cabeça,
região cervical, costas e ombros apoiados e as pernas separadas uns três palmos,
com as pontas dos pés para fora. Os maxilares se soltam, os lábios ficam fechados e
os dentes separados.

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As linhas de Yôga

Esse estudo demandará uma certa revisão do nosso estudo inicial referente à
cronologia do e história do Yôga. Lembrando que os primeiros Yogis praticavam um
Yôga bem diferente do atualmente praticado, mesmo em linhas mais tradicionais.
Ressaltando também que a prática de ásanas (posturas) também demandou toda
uma construção histórica.

Na era pré-clássica, em textos como o Bhagavad-Gita encontramos inúmeras


alusões ao Yôga, como Karma Yôga, Jñana Yôga e Bhakti Yôga. Iniciamos com esses
conceitos:

Karma Yôga - Karma quer dizer ação, trabalho, atividade, e também os efeitos
das ações passadas. Karma Yôga é o yôga da renúncia aos resultados da ação, em
outras palavras, realizar ações não para obter alguma recompensa ou vantagem para
si, mas oferecendo-as aos outros. É servir ao Supremo ou à Totalidade através do
serviço ao próximo. O segredo da ação e do Karma Yôga é retirar o seu ego (sentido
de separatividade) do que você está fazendo. Nessa visão, você não está realizando
coisa alguma para o outro, mas para você mesmo, como Ser Uno manifesto. Você
utiliza os órgãos de ação a seu dispor para executar o que julga correto e não espera
por recompensa alguma. Assim, à medida que você (personalidade) não espera
recompensa por suas ações, não se prende aos frutos que elas produzem, sejam eles
bons ou ruins. Portanto, caminha ou habilita-se passo a passo, dia a dia, para a
autopercepção de sua Unidade e para escapar da roda de samsara.

Jñana Yôga - É o yôga do conhecimento (jñana) ou, melhor dizendo, do


autoconhecimento, pois jñana não é somente o saber intelectual, mas também e
principalmente aquele conhecer, experienciar, vivenciar para compreender, que é
atingido com a combinação do saber filosófico com a dedicação prática e meditativa
para alcançar ou realizar a Consciência (Cósmica ou Una). Assim os praticantes se
dedicam muito às escrituras sagradas.

Bhakti Yôga – Bhakti significa devoção. Conforme diz Vivekananda, Bhakti é


intenso amor a Deus; quando um homem o alcança, ele ama todos, não odeia
ninguém; torna-se satisfeito para sempre. Bhakti Yôga, o sentimento vivo de unidade,
também é conhecido como um caminho de devoção, levando à autorrealização

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enraizada no amor, e a um estado de completa entrega a Deus. Bhakti é basicamente
um estado de coração cheio de amor, devoção e entrega. Muitos experimentam
o Bhakti Yôga através de cantos e devocionais ou orações em formato de música.

Em seguida, no período clássico surge o Raja Yôga, ou Yôga da realeza. Em


seu início possuía apenas 04 angas (partes) e depois assumiu os oitos angas previstos
nos Yoga Sútras. Seguimos com a conceituação:

Raja Yôga - Raja Yôga (Real, Soberano) é o caminho da meditação. Também


chamado de Ashtanga Yôga (não confundir com o método Ashtanga Vinyasa Yôga).
Ashtanga significa literalmente oito membros. O caminho óctuplo, ou os oito
membros do Raja Yôga, conforme descrito pelo sábio Patanjali, nos Yoga Sútras. O
Raja Yôga ocupa-se do mental e produz resultados espirituais por meio da
discriminação, da concentração e da meditação.

Laya Yôga - Laya, em sânscrito, significa dissolução. Laya Yôga é, assim, o


caminho para a dissolução da mente e da individualidade (ego) no Todo. Durante
práticas de Laya Yôga, o iogue experimenta momentos de dissolução e
experimentação da realidade ao elevar Kundalini aos chakras mais altos. Na
conclusão do Laya Yôga, ocorre a dissolução do Universo para si mesmo ou, em
outras palavras, a dissolução de todos os elementos e da mente (com sua
personalidade) no Todo.

Kundalini Yôga - Kundalini Yôga é o Yôga que trata do despertar da Shakti


Kundalini adormecida e sua união com o Senhor Shiva no Chakra Sahasrara, no topo
da cabeça. Os seis chakras principais ao longo do canal central Sushumna são
perfurados por Shakti Kundalini, cujas passagem e energia lhes iluminam e
permitem que siga seu caminho para o topo da cabeça. Sua prática pode envolver o
uso de mantras e Kriyás, além de possuir diversas práticas,
como ásanas, pranayamas, mudrás, etc. em comum com o Hatha Yôga.

Hatha Yôga – Aqui vamos considerar o Hatha Yôga como gênero amplo, de
onde surgirão as linhas contemporâneas mais difundidas e estudadas no mundo
moderno (tanto no Ocidente como no Oriente). São linhas de Yôga que percebem o
corpo como templo sagrado, veículo máximo de expressão e expansão da nossa
consciência e da energia divina ou primordial. Da linhagem do Hatha Yôga como
gênero, que surge juntamente com os movimentos do tantrismo vamos nos

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aprofundar durante alguns módulos nas principais linhas praticadas e estudadas no
Ocidente, iniciando os nossos estudos com o Ashtanga Yôga.

a) Ashtanga Vinyasa Yôga – O Ashtanga Vinyasa Yôga foi difundido por Sri K.
Pattabhi Jois. Pattabhi Jois nasceu no ano de 1915 e começou com 12 anos
seus estudos de Yoga com seu mestre, Sri T. Krishnamacharya. Os
ensinamentos nos quais eles se basearam estão nos textos conhecidos
como Yoga Korunta, escritos por Ramana Rishi. Uma das características
do Ashtanga é o fato de existirem séries fixas (no total de 6 séries de
ásanas), que devem ser aprendidas de forma sequencial, ou seja, um
praticante só passa a aprender a série seguinte, uma vez que finalizou a
série anterior. Os ásanas de cada séries são passados um por um, de forma
individual para cada aluno, e o próximo ásana só é passado quando
conquistado o anterior. O Ashtanga é um sistema de Vinyasa, ou seja, um
método que flui através da coordenação entre movimento e respiração. Para
cada movimento corresponde uma respiração. O propósito é a limpeza
interna, pois esta sincronia cria calor interno e limpa o sangue, livrando-o
de impurezas e doenças. Com a melhora na circulação do sangue todo
nosso corpo é lubrificado, iniciando um processo de cura. Também nossos
órgãos internos são beneficiados com este calor e maior circulação de
sangue, promovendo a eliminação de impurezas e doenças. A prática do
yoga através do vinyasa promove uma grande transpiração e este é um
processo importante de purificação do corpo. Todo este aprendizado é
passado de forma individual para cada aluno, uma vez que as aulas não
são guiadas, mas acontecem no estilo Mysore, em que cada aluno realiza
sua prática de forma independente, no seu ritmo, até onde foi passado pelo
professor. O papel do professor é acompanhar este processo de aprendizado
e evolução, incentivando que cada praticante memorize a série. É a partir
da construção desta memória que a evolução na série acontece, de forma
gradual, sem pressa, dentro do tempo da respiração. É a partir, também,
desta memória construída que o praticante (sadhaka) tem a possibilidade
de entrar em estágios mais profundos de concentração (dharana). A prática
pessoal passa a ser uma meditação em movimento, revelando-se como um
caminho espiritual (sadhana).

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b) Iyengar Yôga – desenvolvido por B. K. S. Iyengar, é uma forma de Hatha
Yôga que enfatiza precisão e alinhamento no desempenho dos ásanas.
Essa precisão gera força e estamina, equilíbrio e flexibilidade, evita lesões
e maximiza benefícios, provendo uma profunda sensação de bem estar. Há
três aspectos únicos que podem distingui-lo de todos os outros sistemas:
1. Tecnicalidades: são os aspectos técnicos dos āsanas, por meio dos quais
o praticante tem acesso ao corpo que está além do corpo esquelético e
muscular periférico, com o propósito de atingir a consciência por meio da
prática dos ásanas, deste modo obtendo seus benefícios psicológicos e
mentais. 2. Sequenciamento: Nesse método se entende que a prática dos
ásanas sem um método de sequenciamento pode ser muito contra
producente quando os ásanas são feitos com envolvimento e complexidade,
podendo subverter o desenvolvimento psicomental do ásana precedente. O
sequenciamento ajuda a desenvolver um estado psicomental sereno,
sublime, claro e pronto para a coletar e acumular os benefícios dos ásanas.
3. Tempo: é o aspecto da cronometragem que ajuda a construir,
desenvolver e concretizar os efeitos dos ásanas. O aspecto da
cronometragem serve à criação de uma determinada circulação de energia
dentro de nós que é peculiar àquele ásana. Isso é muito importante para a
evolução da consciência ou para a alteração do estado da mente. A medida
de tempo, de permanência em um ásana não é estabelecida aleatoriamente,
mas é a extensão de tempo no qual a postura é realizada metabolicamente,
celularmente, com todas as interações internas. É o metabolismo e não o
cronômetro que dita a extensão do tempo de permanência. Esses três
aspectos estão tão integrados que não funcionam de uma maneira isolada.
A integração desses três aspectos é a quarta característica diferenciadora
do sistema Iyengar. Porém, uma das razões para a adesão maciça ao
método é o fato de Iyengar ter desenvolvido acessórios próprios para a
prática de yoga (cadeiras, cintos, cordas, blocos, etc), de modo a tornar
acessível para toda e qualquer pessoa, independentemente de idade e
condição física, o estudo, a prática e a possibilidade de beneficiar-se das
posturas e técnicas respiratórias de yoga, o que revolucionou seu ensino.

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c) Yin Yôga - É considerada uma prática de yôga complementar aos estilos
mais dinâmicos e revigorantes muito praticados na atualidade. As aulas
são compostas por posturas realizadas passivamente no chão por alguns
minutos, objetivando aplicar de forma segura e positiva uma suave e
moderada tensão nas camadas mais profundas do tecido conjuntivo do
corpo, dos tendões e ligamentos. A prática do Yin Yôga difere de outras
práticas por apresentar uma característica passiva e silenciosa que
estimula a auto-observação e introspecção. O trabalho feito com o tecido
conjuntivo é diferente do trabalho feito com os músculos. O tecido
conjuntivo não responde tão rápido quanto os músculos por isso a
necessidade de serem exercitados de maneira distinta.
Ao invés de sessões repetitivas e dinâmicas como no trabalho muscular,
durante as práticas, alunos permanecem nas posturas por 3 a 5 minutos
(geralmente exercícios no chão), relaxando todos os músculos. Pode-se
dizer que este é um exercício de ‘tração’ (usando o peso corporal juntamente
com a gravidade) e tempo nas posições, para que o tecido conjuntivo possa
se mover lentamente, de maneira segura. Durante a prática, na maioria das
vezes, o foco das posturas é na região lombar e do quadril, para deixá-las
mais flexíveis/ ‘abertas’. Esta ‘abertura’ da região lombar e do quadril traz
benefícios para a prática de meditação, que se faz com mais conforto e
estabilidade na postura sentada. Como a prática é menos dinâmica do que
uma prática de natureza Yang, muitas vezes o enfoque é no silêncio, e na
conexão física e mental.

d) Yôga Restaurativa - É uma linha de yoga terapêutico que busca o


relaxamento físico, mental e emocional. Utiliza-se como ferramenta,
materiais que proporcionam apoio necessário ao corpo, facilitando a
permanência nas posturas e o relaxamento fisiológico. Quanto mais
conforto o corpo encontrar nas posturas, maior e mais profundo será o
relaxamento. De acordo com a professora Judith Hanson Lasater, Ph.D, o
desenvolvimento dessas posturas é creditado ao mestre de Yoga, BKS
Iyengar, reconhecido como uma autoridade em todo o mundo por seus
ensinamentos e conhecimentos profundos da Yoga. Ele ensinou seus
alunos a usarem vários materiais para aperfeiçoar as suas posturas. Os

91
ensinamentos de BKS Iyengar inspiraram Judith Lasater Ph.D a
desenvolver as posturas da Yôga Restaurativa. As posturas restaurativas
ajudam a cultivar o hábito de manter a atenção na respiração. Essa
consciência será a segunda ferramenta para aliviar a tensão. Quando o
sistema parassimpático está atuando, ele permite que o controle
automático do corpo, entre poupar e gastar energia, seja ativado. Além
disso, reduz o nível de substâncias liberadas na corrente sanguínea
derivadas do estresse e, ao retornar para o estado de equilíbrio, o corpo
poderá curar-se. Deve ser feita sempre que o corpo precisar eliminar a
fadiga e o estresse. Ela poderá ajudar na recuperação de doenças físicas,
mentais e emocionais, assim como controlar ou reduzir o nível de ansiedade
causados por eventos traumáticos, relacionados às mudanças geradas pela
impermanência da vida. A prática regular tornará o corpo menos vulnerável
a doenças autoimunes e as relacionadas com o estresse.

e) Hatha Yoga – A palavra “hatha” é compreendida como a união de “ha”, sol


e “tha”, lua. É umas das linhas mais conhecidas e difundidas no mundo. É
uma prática que utiliza o corpo como veículo através da prática de posturas
com total consciência da respiração. É uma prática muito acessível porque
geralmente enfatiza posturas terapêuticas e de baixo impacto. A sua prática
incorpora posturas, exercícios de respiração e meditação/concentração
/relaxamento. A estrutura da aula é de sequência lenta, espaçada e de
permanência prolongada. Quando o nível da pratica aumenta, o objetivo é
uma permanência ainda maior, o que não quer dizer que a intensidade seja
menor, pois os ásanas vão se tornando mais complexos conforme sua
flexibilidade, força e concentração vão aumentando.

f) Vinyasa Flow - O Vinyasa Flow Yoga abrange diversidade e evoca os


ensinamentos clássicos de Krishnamacharya, as raízes Tantra. Segundo
ele, os princípios fundamentais do Hatha Yoga estão na prática de Vinyasa
Krama (estágios), em que os ásanas são unidos de forma sequencial,
intercalados repetitivamente, na passagem de uma postura a outra. A
prática é inspirada no Asthanga Vinyasa Yoga (método criado por Sri K.
Pattabhi Jois) e também nos alinhamentos do Iyengar (método criado por

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B.K.S. Iyengar). É uma linhagem de Hatha yoga em que a prática de
posturas (ásanas) é vigorosa e intensa, unificando o movimento respiratório
ao corporal criando uma experiência libertadora e purificadora conhecida
como flow. Cada ásana possui vários estágios (krama) de evolução, com
modificações que respeitam as possibilidades de cada um, e com o tempo,
o aluno aprende a se respeitar e dar um passo adiante somente quando
este atingir (estabilidade e conforto) em cada um desses estágios evolutivos.
Vinyasa é a conexão entre mente, corpo e respiração. A sincronização entre
a respiração e o movimento.

Teoria Geral dos Ásanas

Chegamos em um ponto crucial dos nossos estudos que é o grande cartão de


visita do Yôga. Deixar para falar sobre ásanas no final da nossa jornada foi escolha
sábia e pensada, pois somente após o nosso estudo aprofundado sobre o que é Yôga
e a sua amplitude conseguimos acessar o conceito mais profundo da prática de
posturas. O praticante de Yôga acessa o seu corpo de maneira consciente, divina e
faz dele um veículo adequado para manifestação dos seus corpos mais sutis.

No ritmo da sua respiração, na consciência refinada da sua musculatura, da


sua estrutura óssea e do pulsar do seu coração, o praticante reconhece o fluxo de
energia e da vida cósmica e universal. O corpo do praticante de Yôga acaba sendo
percebido como um verdadeiro templo, representação na matéria de toda a centelha
divina. E nesse novo olhar, o corpo jamais será obstáculo – na verdade se torna
grande ferramenta de realização espiritual.

Se voltarmos nos estudos de história do Yôga, percebemos que a prática de


Yôga estava muito mais vinculada aos conceitos de meditação, iluminação,
transcendência, conhecimento, ação e atitude do que ao uso de técnicas corporais ou
ásanas. Os ásanas centravam-se principalmente em torno de um pequeno conjunto
com atuação mais direta sobre as energias do corpo e outros conjuntos de posições
sentadas para a prática de meditação e dos respiratórios – dhyánásanas.

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Nos Yoga Sutras Patañjali descreve o ásana como “a postura, firme e
confortável” (sthirasukham ásanam, YS, II:46). B.K.S. Iyengar, no seu comentário
ao Yogasūtra, II, 46, escreve: “Mas āsana não faz só referência às posições sentadas
utilizadas para meditação. Alguns dividem os āsanas entre os que cultivam o corpo
e os que se utilizam na meditação. Mas em qualquer āsana o corpo deve ser tonificado
e a mente sintonizada de maneira que possa permanecer mais tempo com um corpo
firme e uma mente serena”.

Com o surgimento do Hatha Yôga o número e a importância dos ásanas


aumentaram consideravelmente. Como bem expôs Georg Feuerstein: “As disciplinas
do Haṭha foram criadas para facultar a manifestação da realidade suprema no corpo
e na mente humanos e finitos. Neste ponto, o Haṭha Yôga expressa o ideal do Tantra,
que é o de viver no mundo a plenitude da realização do Si Mesmo, e não o de fugir da
vida para chegar à iluminação. O praticante do Hatha Yoga quer construir um ‘corpo
divino’ (divyaśarīra) ou ‘corpo adamantino’ (vajradeha) para si mesmo. Não se
interessa em obter a iluminação mediante o prolongado descuido o corpo físico. Quer
tudo: a realização do Si Mesmo e um corpo transmutado no qual possa gozar do
universo manifesto nas suas diversas dimensões”.

Assim, ásana é a postura do corpo que seja bastante estável e cômoda,


atuando de forma terapêutica e corretivamente sobre todos os sistemas, órgãos,
tecidos e funções orgânicas. Os ásanas eliminam os comuns distúrbios que o corpo
físico causa à mente; além disso, otimizam a circulação energética (prânica) porque
atuam sobre os nadis (canais sutis), limpando-os, desobstruindo-os, e sobre os
chakras (centros psíquicos e energéticos), ativando-os.

Nas palavras de Pedro Kupfer: “O propósito é descobrir a inteligência que está


escondida no corpo, a consciência que está escondida no corpo; este é o ponto de
partida para poder achar a verdadeira identidade”.

Nos estudos das mais variadas formações, os ásanas são conceituados como
posturas psico-físicas, já que a sua finalidade principal está além do corpo –
possuindo natureza mental. Segundo o professor Hermógenes os ásanas “vencendo
a inquietude e a fragilidade da mente, facilitam a concentração criando condições de
administrá-la”. Apesar de parecer simplesmente uma atitude do corpo, é uma

94
expressão do homem holístico, manifestando-o em todos os seus níveis: no corpo, no
pensamento, na emoção, na ação, no corpo sutil e no espírito.

Orientações Gerais para execução dos ásanas

Os Yamas e Niyamas na prática do ásana

Os Yamas e Nyamas do Yôga devem ser observados em todos os ángas (partes)


da prática. Assim sendo, a prática de ásanas deve ser acompanhada da observação
desses aspectos:

Yamas

a) Ahimsa ou não violência – o praticante deve se tornar o melhor amigo


do seu corpo. A prática em si deve acompanhar os limites do seu corpo, de forma a
não o violentar sobre nenhum aspecto. Entender os limites do nosso corpo também
nos faz entender os motivos da prática: estou alimentando a identificação com o ego
ou estou me libertando das expectativas? Praticar com liberdade é saber ouvir e
respeitar o seu corpo.

b) Satya ou verdade – decorrendo do entendimento do Yama anterior,


praticar com Satya é deixar a sabedoria guiar a sua prática de ásanas. Praticar
posturas que estejam condizentes com o seu momento, com o seus ciclos, com a sua
vontade interior e genuína e principalmente respeitando os seus limites, que são
pessoais e subjetivos. Você é o único capaz de guiar a sua própria prática com
inteireza.

c) Asteya, não roubar/honestidade - Dentro da prática de Yôga, praticar


Asteya significar não almejar a prática do outro. Precisamos entender cada praticante
como um universo próprio, com as suas virtudes, dons e limitações. Assim, a prática
de Asteya dentro do mat evita o surgimento de qualquer tipo de comparação entre a
sua prática e a prática do seu irmão. O praticante precisa de se libertar da ânsia

alcançar esta ou aquela posição, neste ou naquele grau de adiantamento.

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d) Brahmacharya, conservação de energia - Dentro do mat, esse Yama nos
convida a praticar sempre visando uma conservação energética, respeitando o que os
seus corpos te pedem naquele dia, sem excessos, de forma a não ir para além do que,
sem prejuízo próprio, sabemos poder ir. O Yoga não visa desperdiçar energia e sim o
contrário.

e) Aparigraha ou desapego –Dentro do mat, praticar Aparigraha é


principalmente se desapegar dos resultados e trabalhar presença, contentamento e
consciência na jornada que te guia à libertação, a jornada do Yôga como visão. Muitas
vezes nos vemos apegados, querendo conquistar uma postura a qualquer preço. Esse
é o momento perfeito para olhar para as nossas expectativas, para os motivos que
nos levam à prática, e principalmente para trabalhar o desapego aos resultados. Esse
é o momento perfeito para direcionar a nossa atenção para o caminho que levamos
para conquistar alguma postura. O olhar sempre é interior.

Durante a execução de posturas e meditação obtemos resultados


surpreendentes quando aprendemos estar no momento presente sem expectativas
futuras. Pensar nesse Yama te traz essa reflexão para a vida: desapegar dos
resultados dos nossos esforços e das nossas ações.

Nyamas

a) Sauchan, a limpeza e a pureza – Uma lembrança desse Yama que


sempre faz o praticante se questionar porque está praticando ásanas. Praticar
Saucha é purificar as suas intenções com a prática de posturas. Também se refere à
correta prática de Kryiás para a execução dos ásanas.

b) Santosha, o contentamento – Uma lembrança para a celebração de cada


conquista em todos os níveis, além da ampla satisfação com aquilo que se tem na
sua prática a cada dia, sem almejar a prática do outro, sem almejar que o seu corpo
seja diferente daquilo que é – sentir-se completo e satisfeito com a sua prática pessoal
de ásanas.
c) Tapas ou auto-superação – Praticar tapas na execução dos ásanas é
direcionar o esforço consciente para trazer para o seu corpo os aspectos da disciplina

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e da força de vontade. Não é um esforço no sentido de conquistas para o corpo e sim
esforço consciente para assumir um estado de pura presença e consciência corporal.
É um esforço para estender o mat, fortalecer o corpo para fortalecer outras camadas
do ser, vencer a preguiça, os desejos e também os impulsos. É a motivação real e a
busca do direcionamento do esforço para o verdadeiro sentido da prática.

d) Svádhyáya ou auto-estudo – O auto-estudo na execução dos ásanas


abrange um processo de ampla percepção de todos os processos físicos, mentais e
emocionais que estão sendo empreendidos na execução das posturas, o que aumenta
a consciência sobre nós mesmos em todas as camadas do nosso ser. A percepção do
corpo em um estudo refinado abre as portas para a percepção de aspectos mais sutis
da nossa consciência.
e) Ishvara pranidhana, a entrega a Ishvara, ao Absoluto – A entrega é
perceber que o corpo é um verdadeiro templo que nos leva à Deus e nos faz acessar
o absoluto, a origem. É essa entrega que torna a postura uma verdadeira meditação
e uma forma de conexão com as esferas superiores.

Regras e princípios para execução dos ásanas

Conforto e segurança
O ásana deve ser uma postura firme e confortável. Mais do que confortável,
deve ser uma postura segura para o praticante. Se houver dor excessiva em alguma
parte do corpo, o ásana deve ser terminado imediatamente e, se necessário, deve ser
feita uma verificação médica. Não devemos permanecer em uma postura se um
desconforto excessivo for sentido. Todo e qualquer ásana deve ser prazerosamente
executado. O praticante deve diferenciar o desconforto natural de um alongamento
um de uma postura de força de dor. A dor não deve ser sentida pelo praticante e é
sinal de alerta.
O treinamento exagerado de permanência, como iniciante, também produzem
estresse e desconforto. O tempo não importa: o conforto é fundamental, inclusive a
nível mental.
É necessária especial atenção à coluna vertebral, aos joelhos e às articulações
de um modo geral: qualquer dor nessas regiões deve ser evitada e, caso sinta algum
desconforto o praticante deve pedir orientação imediata à algum instrutor qualificado
e abandonar a postura imediatamente.

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É importante que o praticante fique atento à execução das posturas. Se alguma
postura provocar dor ou desconforto, é conveniente evitar fazê-lo nas práticas
seguintes. O praticante não deve ultrapassar os limites razoáveis a sua resistência e
deve adaptar a prática à sua condição física.
O ideal é parar antes mesmo de sentir dor. Se esta observação é importante no
que se refere à dor muscular, ela deve ser obrigatória no que toca à dor articular. A
prática sempre deve iniciar-se com posturas mais simples e ir progredindo no grau
de dificuldade aos poucos e com total consciência.

Regularidade e permanência
A regularidade produz muito mais efeito que um esforço concentrado e
irregular. Para qualquer tipo de técnica – alongamento, flexibilidade, técnicas
musculares e outras mais sutis – a regularidade é o primeiro e o mais importante
elemento.
A permanência pode dinamizar ainda mais a prática, mas só deve ser ampliada
na medida em que permita manter uma regularidade não exacerbada nas práticas.

Compensação dos exercícios


É importante que o programa seja formado de maneira que flexões atrás sejam
seguidas por flexões à frente, e vice-versa, e o que quer que seja praticado para um
lado do corpo, seja repetido para o outro lado. Esse conceito de compensação é
necessário para trazer o corpo de volta ao estado balanceado. Qualquer postura em
que o corpo esteja numa posição assimétrica deve ser compensada. É conveniente
que o tempo de permanência nas flexões seja igual ou superior ao das extensões.
Também é conveniente que, quando o tempo de permanência num ásana seja
relativamente grande, se faça em seguida uma posição neutra.
É importante também trazer o conceito de encadeamento das posturas na
regra de compensação dos ásanas. Não é errado compensar a postura imediatamente
depois da postura assimétrica, mas a prática se torna muito mais fluida, completa e
interessante caso o praticante opte por adicionar posturas neutras antes da
compensação.

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Encadeamento de Posturas
O objetivo do encadeamento de posturas é mostrar ao aluno que o corpo se
move através de uma ação sinérgica onde a postura anterior prepara a posterior e a
posterior restaura da anterior. Nenhum movimento é desperdiçado, todos fazem parte
de uma rede única onde o trabalho de cada parte individual do corpo está envolvido
em um resultado global.
O encadeamento de posturas se desenrola de uma maneira criativa que
demanda alta consciência corporal e percepção intuitiva do corpo e do que o corpo
demanda dentro de uma sequência tecnicamente planejada para certa finalidade.
As posturas se encadeiam dentro desta lógica sinérgica, utilizando todas as
possiblidades do corpo e explorando todos os pontos do mat.
O objetivo do encadeamento de posturas é que todo o efeito, energia e atuação
de um ásana se transfira para o outro ásana de maneira fluida, conectada e bela.
Assim um ásana não é desfeito para montar o próximo - um ásana se transforma em
outro através de uma passagem que tenha o mínimo possível de movimentação do
corpo (os movimentos adicionais desnecessários diminuem o efeito cumulativo da
permanência nos ásanas).

Gradação de intensidade
Sempre que o ásana permitir, inicie a execução pela variação de menor esforço,
ou em relaxamento (variação sukha), e progressivamente execute as variações mais
intensas. Como as demais orientações gerais, esta é passível de exceções de acordo
com o estágio do praticante e o objetivo da prática.
Em relação às regiões mais solicitadas do corpo normalmente a intensidade
maior é sobre os membros e posteriormente sobre a coluna; e em relação à coluna
vertebral (ou em relação aos chakras) os ásanas devem ser encadeados de forma que
sua atuação se concentre preferencialmente no sentido ascendente.

Permanência nas posições e coordenação da respiração


De um modo geral aos movimentos para cima associa-se a inspiração e aos
movimentos para baixo a expiração. As flexões do corpo para a frente e para os lados
são feitas com expiração, já as extensões (flexões do corpo para trás) com expiração.
As torções são feitas com expiração.

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Movimentos de flexão da coluna para trás, são indicados com inspiração. Essa
recomendação de fazer retroflexões da coluna, enchendo os pulmões, é importante
para preservar a coluna vertebral, pois protege a lombar e a coluna, aumentando os
espaços dos discos vertebrais e limitando o movimento ao patamar de segurança.

T.K.V. Desikachar expõe o seguinte princípio geral: “Quando contraímos o


corpo expiramos e quando expandimos o corpo inspiramos”. E acrescenta: “Não
inspiramos e expiramos sem atenção, em vez disso asseguramos que a respiração
inicia o movimento”.

Em relação ao tempo de permanência em cada postura, existem diversas


variáveis que atuarão na resposta dessa pergunta. Moderação e bom sendo são as
regas de ouro para estabelecer o tempo pessoal de cada praticante em determinada
postura. Devemos sempre adaptar, individualizar e personalizar a permanência em
casa postura de acordo com as características e necessidades de cada corpo.

Posturas com maior estabilidade e menor esforço, como as sentadas ou


deitadas, permitem uma permanência maior. Posturas de equilíbrio num pé só, ou
sobre as mãos e outras de estabilização ou força pedem uma permanência mais
breve. É necessário ter bastante cuidado em relação às posições de inversão: um
tempo bem legal é algo entre três e cinco minutos, lembrando sempre de que não
pode haver compressão cervical, em nenhum caso, nessas posturas.

É importante lembrar que a compensação de posturas assimétricas deve ter o


mesmo tempo.

Uma boa forma de contar o tempo de permanência na postura é utilizar a sua


respiração – ela será o seu norte.

Focalização da consciência
O que efetivamente diferencia o ásana de um exercício físico qualquer é a
respiração consciente e coordenada e a focalização da consciência. O ásana não é
uma simples posição pois envolve uma ação mental muito relevante durante a
permanência.

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O praticante deve fixar o pensamento na região do corpo que está sendo mais
solicitada no ásana. “Focalizar a consciência em determinado órgão ou membro
significa sentir o praticante que todo o seu Ser está resumido ao órgão visado”. Caso
haja solicitação de várias regiões do corpo a fixação do pensamento é feita numa das
regiões, de acordo com o estágio e a proposta da prática. Uma vez dominada a técnica
de fixação do pensamento, pode ser executado um estágio mais profundo, no qual a
própria consciência é focada no ásana e seus efeitos sutis. A nível do corpo o ásana é
um ekagrata, uma concentração num único ponto: o corpo e a amente
estão concentrados em uma única posição”.

Onde está a atenção, a mente, está o praṇa. E onde está o praṇa está o
potencial acrescido para se aprofundar a vivência do ásana.

Como montar a sua prática pessoal


Inicialmente é muito importante que vocês assistam aos vídeos do curso para
estabelecer liberdade, criatividade e presença na criação da própria prática pessoal.
O que vamos passar abaixo é um simples direcionamento que auxiliará o praticante
na criação das primeiras práticas.

Sequências da prática de ásana


Para estruturar sua prática inclua os 4 movimentos da coluna em posturas
de: flexão para frente, extensão de coluna, inclinação lateral e rotação (ou torções).
Inclua também posturas de equilíbrio, força, alongamento e posturas invertidas.
Não deixe de explorar todos os planos possíveis, que incluem posturas em pé,
sentadas e deitadas, além de explorar os planos verticais e sagitais do mat.
A construção da sua prática pessoal demandará a revisão de todo o curso
para que você possa incluir todos os “angas” ou partes da prática que vão além da
prática de posturas.

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