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GESTÃO DE COMPETÊNCIAS E
GESTÃO DE DESEMPENHO:
tecnologias distintas ou
instrumentos de um mesmo
construto?
RESUMO ABSTRACT
Este artigo discute até que ponto a gestão de competências e a gestão This article discusses in what sense competence-based management
de desempenho constituem tecnologias gerenciais distintas ou partes and performance-based management are independent managerial
interdependentes de um mesmo construto. Os autores apresentam uma technologies or parts of the same construct. The authors present a
revisão da literatura sobre os conceitos que permeiam esses modelos literature review upon the concepts of these management methodologies,
de gestão, suas características e aplicações no campo organizacional e their characteristics and applications in the organizational field, and
analisam as principais semelhanças e diferenças entre eles, sendo pos- analyze the main similarities and differences between them. It is possible
sível concluir que, mais que tecnologias independentes, a gestão de to conclude that, more than independent technologies, competence-
competências e a gestão de desempenho parecem complementar-se based and performance-based management methodologies appear to
em um contexto mais amplo de gestão organizacional. Ao final, é pro- be complementary and part of a wider organization management model.
posta uma nova abordagem conceitual que procura considerar a rela- A new conceptual approach, leading to emphasize the interdependence
ção de interdependência entre esses modelos de gestão. relationship between these management methodologies, is proposed.
PALAVRAS-CHAVE
Competência, gestão de competências, gestão de desempenho, gestão estratégica de recursos humanos, tecnologias de gestão.
KEY WORDS
Competence, competence-based management, performance-based management, strategic human resource management, managerial technologies.
©
RAE
2001,
v.RAE
41 - Revista
n. 1 de
Jan./Mar.
Administração
2001 de Empresas / EAESP / FGV, São Paulo, Brasil. 9
Organização, Recursos Humanos e Planejamento
Ropé e Tanguy (1997), um dos aspectos essenciais da ser atribuída tanto a um indivíduo quanto a um grupo
competência é que esta não pode ser compreendida de de trabalho. Durand (2000) chama a atenção para esse
forma separada da ação. aspecto ao afirmar que crenças e valores compartilha-
Durand (1998), por sua vez, seguindo as chaves do dos pela equipe de trabalho influenciam sobremaneira
aprendizado individual de Pestalozzi 1, construiu um a conduta e o desempenho de seus componentes.
conceito de competência baseado em três dimensões Prahalad e Hamel (1990) tratam do conceito no ní-
conhecimentos, habilidades e atitudes , englobando vel organizacional, referindo-se à competência como um
não só questões técnicas mas também a cognição e as conjunto de conhecimentos, habilidades, tecnologias,
atitudes relacionadas ao trabalho, como mostra a Fi- sistemas físicos e gerenciais inerentes a uma organiza-
gura 1. Nesse caso, competência diz respeito ao con- ção. Assim, competências essenciais organizacionais são
junto de conhecimentos, habilidades e atitudes neces- aquelas que conferem vantagem competitiva, geram va-
sários à consecução de determinado propósito. lor distintivo percebido pelos clientes e são difíceis de
Tais dimensões são interdependentes na medida em serem imitadas pela concorrência. O design de motores
que, para a exposição de uma habilidade, se presume leves da Honda e a capacidade de miniaturização da Sony
que o indivíduo conheça princípios e técnicas específi- são exemplos de competência citados pelos autores. É
cos. Da mesma forma, a adoção de um comportamento possível, portanto, classificar as competências como hu-
no trabalho exige da pessoa, não raras vezes, a detenção manas aquelas relacionadas ao indivíduo ou à equipe
não apenas de conhecimentos mas também de habilida- de trabalho ou organizacionais aquelas que dizem
des e atitudes apropriadas. Abordagens como essa pare- respeito à organização como um todo.
cem possuir aceitação mais ampla tanto no ambiente A gestão de competências pode ser visualizada
empresarial como no meio acadêmico, visto que procu- como uma tecnologia derivada da Resource-Based
ram integrar diversos aspectos relacionados ao trabalho. Management Theory. Essa teoria argumenta que certos
Além do nível individual, o conceito de competên- atributos organizacionais (recursos) são condicionantes
cia aplica-se também à equipe de trabalho e à organi- do sucesso da empresa com relação à concorrência. O
zação como um todo. Zarifian (1996) sustenta que não pressuposto é o de que o domínio de recursos raros, va-
se deve desconsiderar a dimensão da equipe no pro- liosos e difíceis de serem imitados confere à organiza-
cesso produtivo e sugere que uma competência pode ção certa vantagem competitiva (Taylor, Beechler e
{
Informação
Conhecimentos Saber o quê
Saber o porquê
COMPETÊNCIA
Habilidades Atitudes
{
{
Napier, 1996; Barney citado por Raub, 1998). Essa cor- gestão de carreira e formalização de alianças estraté-
rente sugere, ainda, que a gestão estratégica de recursos gicas, entre outras, para a captação e o desenvolvimento
humanos contribui para gerar vantagem competitiva sus- das competências necessárias para atingir seus objeti-
tentável por promover o desenvolvimento de habilida- vos. Esse processo pode proporcionar a consistência
des, produzir um complexo de relações sociais e gerar interna da estratégia (Tilles, 1997, p. 6), ou seja, um
conhecimento, ou seja, desenvolver competências. impacto positivo cumulativo dessas ações sobre o de-
Diversas empresas têm recorrido à utilização de mo- sempenho organizacional.
delos de gestão de competências, objetivando plane- Seria temerário afirmar que o processo de gestão
jar, selecionar e desenvolver as competências necessá- de competências é do tipo top-down, em que as com-
rias ao respectivo negócio. Um modelo sugerido por petências essenciais da organização determinam as
Ienaga (1998) tem como passo inicial a identificação competências humanas, ou o contrário, que esse pro-
do gap (lacuna) de competências da organização, como cesso seria do tipo bottom-up, em que estas determi-
mostra a Figura 2. Esse processo consiste em estabele- nam aquelas. A gestão de competências deve ser vista
cer os objetivos e as metas a serem alcançados segun- como um processo circular, envolvendo os diversos
do a intenção estratégica da organização e, depois, iden- níveis da organização, desde o corporativo até o indi-
tificar a lacuna entre as competências necessárias à con- vidual, passando pelo divisional e o grupal. O impor-
secução desses objetivos e as competências internas tante é que a gestão de competências esteja em perfei-
disponíveis na empresa. Os passos seguintes compre- ta sintonia com a estratégia organizacional (missão,
endem o planejamento, a seleção, o desenvolvimento visão de futuro e objetivos). A visão determina o esta-
e a avaliação de competências, buscando minimizar a do futuro desejado pela organização, sua intenção es-
referida lacuna, o que pressupõe a utilização de diver- tratégica, e orienta a formulação das políticas e dire-
sos subsistemas de recursos humanos, entre os quais, trizes e todos os esforços em torno da captação e do
recrutamento e seleção, treinamento e gestão de de- desenvolvimento de competências.
sempenho. A idéia é que a organização e seus profissi-
onais eliminem as lacunas entre o que podem fazer e GESTÃO DE DESEMPENHO: PRINCIPAIS
o que os clientes esperam que eles façam (Stewart, CARACTERÍSTICAS E APLICAÇÕES
1998, p. 84).
Nesse sentido, a gestão de competências faz parte Embora mecanismos de avaliação de desempenho
de um sistema maior de gestão organizacional. Ela toma tenham sido utilizados para o controle dos trabalhado-
como referência a estratégia da organização e direciona res desde a Antigüidade, foi com o surgimento do ca-
suas ações de recrutamento e seleção, treinamento, pitalismo e das grandes indústrias que a avaliação do
Visão dinâmica
Competências
necessárias
Gap0 Gap1
Competências
atuais
Tempo
T0 T1
desempenho humano ganhou maior significado. A uti- desvios para assegurar que a execução corresponda ao
lização ampliada de processos e escalas para avaliar que foi planejado (Lucena, 1977; Aluri e Reichel,
o desempenho de empregados tomou corpo com o 1994). O termo gestão dá ao mecanismo de avaliação a
advento do taylorismo, no início do século passado. conotação de um processo que envolve atividades de
As pesquisas de Taylor para a racionalização do traba- planejamento, de acompanhamento e de avaliação pro-
lho deram origem às primeiras escalas de avaliação de priamente dita (Guimarães, 1998).
mérito, aplicadas, na época, para disciplinar o traba- As organizações modernas necessitam de mecanis-
lhador e interferir no seu modo de realizar o trabalho. mos de avaliação de desempenho em seus diversos ní-
Ao longo do século XX, a avaliação de desempe- veis, desde o corporativo até o individual, pois, como
nho passou das metodologias de controle dos tempos e sugerem Oliveira-Castro, Lima e Veiga (1996), o de-
movimentos para processos que consideram o empre- sempenho no trabalho é resultante não apenas das com-
gado e seu trabalho como parte de um contexto organi- petências inerentes ao indivíduo mas também das rela-
zacional e social mais amplo (Guimarães, Nader e Ra- ções interpessoais, do ambiente de trabalho e das ca-
magem, 1998). A partir da necessidade das organiza- racterísticas da organização. Um sistema de gestão de
ções de contar com instrumentos para estimular o tra- desempenho, conforme descrito por Guimarães, Nader
balhador a adotar ou reforçar determinadas atitudes, e Ramagem (1998), mostra que, no nível corporativo,
as técnicas de avaliação de desempenho foram sendo o planejamento, o acompanhamento e a avaliação res-
aperfeiçoadas, valendo-se, principalmente, de contri- tringem-se à missão, à visão e aos objetivos macro,
buições das Ciências Sociais. tendo a sustentabilidade da organização como resulta-
No que diz respeito à responsabilidade pela avalia- do esperado. No nível divisional ou funcional, o inte-
ção, por exemplo, essas técnicas evoluíram de um mo- resse recai sobre os objetivos e as metas de cada uni-
delo de avaliação de mão única, por meio do qual o dade produtiva da empresa, visando à eficácia organi-
chefe realizava unilateralmente um diagnóstico dos pon- zacional. No nível grupal, a avaliação concentra-se
tos fortes e fracos do subordinado, para outros modelos, sobre os projetos e processos de trabalho, isto é, sobre
como a avaliação bilateral, em que chefe e subordina- as equipes. Finalmente, no nível individual, o objeto a
do discutem em conjunto o desempenho deste último, e, ser avaliado é o resultado do trabalho do indivíduo, do
mais recentemente, a avaliação 360°, que propõe a uti- seu comportamento no ambiente de trabalho ou de
lização de múltiplas fontes, ou seja, a avaliação do em- ambos. Nestes dois últimos níveis, busca-se a qualida-
pregado por clientes, pares, chefe e subordinados, con- de dos produtos e serviços gerados pela organização.
forme proposto por Edwards e Ewen (1996). Como visto, a gestão de desempenho faz parte de
Assim, diversos têm sido os mecanismos utilizados um processo maior de gestão organizacional, uma vez
pelas organizações para a avaliação do desempenho que permite rever estratégias, objetivos, processos de
humano no trabalho, cada qual procurando desenvol- trabalho e políticas de recursos humanos, entre outros,
ver metodologias adequadas às suas necessidades e fi- objetivando a correção de desvios e dando sentido de
nalidades. Enquanto, na perspectiva funcionalista, a continuidade e sustentabilidade à organização.
avaliação é vista como um processo que visa ao desen-
volvimento de recursos humanos e à melhoria da GESTÃO DE COMPETÊNCIAS VERSUS
performance no trabalho (Goodale, 1992; Lucena, GESTÃO DE DESEMPENHO
1977), na perspectiva crítica, a avaliação é entendida
como um mecanismo utilizado pela organização para Com base na revisão realizada, é possível indagar
exercer o controle psicossocial sobre os trabalhadores até que ponto a gestão de desempenho é algo diferente
(Pagès et al., 1993). da gestão de competências. Ambas as tecnologias pro-
A gestão de desempenho surgiu nos últimos anos põem a necessidade de associar a performance ou as
como um conceito alternativo às técnicas tradicional- competências da organização com as de seus membros.
mente utilizadas para a avaliação de desempenho. Ava- No caso da gestão de desempenho, por exemplo, al-
liar significa, em síntese, comparar os resultados al- guns autores (Guimarães, 1998; Oliveira-Castro, Lima
cançados com os esperados (planejados), de forma que e Veiga, 1996) sustentam que as organizações deveri-
apenas o trabalho previamente planejado deve ser ob- am dispor de instrumentos de avaliação de desempe-
jeto de avaliação. Isso pressupõe não só a comparação nho em seus diversos níveis, do corporativo ao indivi-
entre o que se espera do indivíduo em termos de reali- dual. Da mesma forma, na gestão de competências, as
zação (resultado esperado) e a sua atuação efetiva (tra- proposições de Prahalad e Hamel (1990) e Durand
balho realizado) mas também a existência de algum (1998) seguem o mesmo caminho, sugerindo a exis-
mecanismo de acompanhamento que permita corrigir tência de competências organizacionais e humanas.
Essas tecnologias de gestão parecem estar baseadas identificar seu gap (lacuna) de competências, tanto
em um mesmo pressuposto: a competência ou o desem- no nível individual como no organizacional. Infere-
penho do indivíduo exercem influência na competência se, portanto, que a identificação de necessidades de
ou desempenho da organização e são influenciados por desenvolvimento de competências acontece por meio
ela. Enquanto a corrente da gestão de competências ar- da gestão de desempenho.
gumenta que a competência humana, aliada a outros re- Um outro aspecto que merece ser considerado é
cursos, dá origem e sustentação à competência organi- a possibilidade de a gestão de desempenho e a de
zacional, os autores que defendem a gestão de desem- competências contribuírem para o que Pagès et al.
penho alegam que a performance no trabalho é resul- (1993) denominaram processos de objetivação e
tante não apenas das competências inerentes ao indiví- individualização do trabalho e, dessa forma, acabarem
duo mas também de atributos organizacionais. constituindo-se em mecanismos de controle social de
A necessidade de associar o desempenho ou as com- trabalhadores e de manutenção das estruturas de poder
petências humanas com o desempenho ou as compe- das organizações. Nesse caso, a objetivação refere-se
tências da organização como um todo faz com que tan- ao processo de traduzir, em termos quantitativos, o
to a gestão de desempenho como a de competências desempenho e as competências do indivíduo, buscan-
estejam inseridas em um contexto de gestão estratégi- do estimar o valor de sua contribuição para atingir os
ca de recursos humanos, entendida como a função de objetivos organizacionais. A individualização, por sua
atrair, desenvolver e manter o pessoal necessário para atin- vez, nada mais é que o reforço ao individualismo como
gir os objetivos organizacionais, por meio da utilização estratégia para evitar a mobilização de trabalhadores
de sistemas de recursos humanos consistentes entre si e em torno de reivindicações coletivas.
coerentes com a estratégia da organização (Taylor, Sob esse ponto de vista, tais tecnologias teriam
Beechler e Napier, 1996). Em outras palavras, as duas uso eminentemente patronal e, mais que instrumen-
tecnologias de gestão propõem integrar os subsistemas tos de gestão estratégica de recursos humanos, re-
de recursos humanos gestão de carreira, remuneração, presentariam apenas um exercício convencional de
recrutamento e seleção, treinamento e desenvolvimento, pragmatismo, buscando intensificar o controle social
entre outros e a estratégia organizacional. sobre o trabalhador. Segundo Legge (1995), certas
Além disso, ambas as tecnologias podem empregar práticas de recursos humanos conferem um aspecto
indicadores relacionados tanto ao resultado do traba- de modernidade aos estilos administrativos, mas, na
lho como ao comportamento ou processo utilizado para realidade, não negam os princípios fundamentais do
alcançá-lo. Quando a gestão de desempenho ocorre no taylorismo e do fordismo nem alteram as estruturas
nível individual, por exemplo, é possível avaliar o tra- de poder nas empresas.
balhador tomando como parâmetro não só os resulta- Hirata (1997) e Spink (1997), por sua vez, afirmam
dos decorrentes do trabalho executado mas também a que os conceitos de competência, desempenho e em-
manifestação, por parte do indivíduo, de conhecimen- pregabilidade2 remetem, sem mediações, a um sujeito,
tos, habilidades e atitudes que se pressupõe serem re- à individualização do trabalho e a efeitos excludentes
levantes para a consecução dos objetivos organizacio- e marginalizadores. Para eles, a possibilidade de con-
nais. Da mesma forma, na gestão de competências, uma centrar a atenção mais sobre a pessoa que sobre o pos-
competência se traduz tanto pelo resultado alcançado to de trabalho e de associar as qualidades requeridas
como pelo conjunto de conhecimentos, habilidades e de um indivíduo fortaleceria a divisão da sociedade em
atitudes necessários para atingi-lo. Observam-se, en- um núcleo altamente capacitado (ou competente) e
tão, até mesmo semelhanças conceituais entre compe- uma periferia desqualificada e, portanto, excluída do
tência e desempenho. O resultado alcançado (desem- processo produtivo.
penho) representa, em última instância, a própria com- Para se configurarem como práticas gerenciais ino-
petência do indivíduo. vadoras, é possível inferir que a gestão de competências
Outra semelhança é que tanto a gestão de desem- e a de desempenho devam ter como objetivo maior não
penho quanto a de competências presumem um pro- somente a melhoria das performances profissional e or-
cesso que considera a interdependência entre os atos ganizacional, mas, principalmente, o desenvolvimento
de planejar, acompanhar e avaliar. Sob esse aspecto, das pessoas em um sentido mais amplo. Somente assim a
nota-se que os processos inerentes às duas tecnolo- competência e o desempenho representariam, ao mesmo
gias muitas vezes se sobrepõem, parecendo ser com- tempo, um valor econômico para a organização e um va-
plementares. Na gestão de competências, por exem- lor social para o indivíduo. Segundo Zarifian (1999), o
plo, faz-se necessário contar com algum mecanismo desafio é fazer com que a empresa seja não apenas qua-
de avaliação de desempenho que permita à empresa lificada, do ponto de vista da competitividade, mas tam-
bém qualificante, no sentido de oferecer diversas opor- muitas vezes, sendo utilizados de maneiras distintas
tunidades de crescimento a seus membros. Dessa for- tanto no ambiente empresarial como no meio acadê-
ma, seria possível assegurar certa autonomia às pesso- mico. A complexidade do tema tornou a fragmenta-
as, como contraponto ao controle social de que falam ção teórica inevitável, o que parece natural, pois con-
Legge (1995) e Pagès et al. (1993). cepções variadas e até mesmo contraditórias sobre um
A perspectiva sociológica da abordagem da compe- mesmo assunto talvez sejam a representação mais acu-
tência é também explorada por Tanguy (1997), para rada do mundo pós-moderno.
quem os discursos sobre competência proliferam tanto Embora a gestão de competências e a gestão de de-
nas empresas como na esfera educacional. Para ela, essa sempenho estejam inseridas nesse contexto de fragmen-
noção é invocada tanto pelas políticas de emprego ori- tação teórica, é possível perceber a relação de interde-
entadas pela busca da flexibilidade como pelas políticas pendência existente entre elas. Parece necessária a apli-
de mudança da organização do trabalho ou de gestão de cação concomitante dos pressupostos e processos sub-
pessoal (Tanguy, 1997, p. 167). Ainda segundo essa jacentes a ambos os instrumentos para integrar e
autora, ao mesmo tempo em que o domínio de uma pro- direcionar esforços, sobretudo os relacionados à ges-
fissão, uma vez adquirido, não pode ser questionado, as tão de recursos humanos. Mais que tecnologias inde-
competências são apresentadas como propriedades ins- pendentes ou distintas, a gestão de competências e a
táveis que devem ser sempre submetidas à objetivação de desempenho parecem complementar-se em um con-
e avaliação dentro e fora do ambiente de trabalho. texto mais amplo de gestão organizacional.
Como instrumentos de um mesmo construto, me-
CONCLUSÕES lhor seria cunhar o termo gestão de desempenho ba-
seada nas competências, uma vez que este considera
O interesse recente sobre a gestão estratégica de o caráter de complementaridade e interdependência en-
recursos humanos deu origem a uma série de teorias tre competência e desempenho. Parece preciso integrar,
e práticas de recursos humanos, fazendo com que con- em um único modelo de gestão, as atividades de pla-
ceitos como o de competência, desempenho e empre- nejamento, acompanhamento e avaliação de desempe-
gabilidade passassem a fazer parte da retórica de mui- nho, a partir de um diagnóstico das competências es-
tas organizações, adquirindo diversas conotações e, senciais à organização, desde o nível corporativo até o
Formulação da
Formulação dos
estratégia organizacional
Identificação e planos
desenvolvimento operacionais
Definição da visão de futuro, de competências de trabalho e
negócio e modelo de gestão internas de gestão
da organização Diagnóstico
das
competências
Diagnóstico das competências
humanas Definição de
essenciais à organização Seleção e
indicadores de
desenvolvimento
desempenho e de
de competências
Definição de objetivos e remuneração de
externas
indicadores de desempenho equipes e
organizacionais indivíduos
Acompanhamento e avaliação
individual, conforme sugerido por Guimarães et al. vez mais intensos de trabalho com o objetivo de alcançar
(2000), justificando-se, portanto, a reconceituação ou níveis crescentes de produtividade.
releitura de conceitos aqui proposta (ver Figura 3). Para finalizar, é possível inferir que o desafio das
Quando utilizados com a finalidade de objetivação e organizações está relacionado à utilização de tais ins-
individualização do trabalho, esses instrumentos apenas trumentos associados a práticas de aprendizagem cole-
aprofundam o controle psicossocial da organização sobre tiva, desenvolvimento de equipes e gestão do conheci-
seus empregados, o que pode até ser legítimo do ponto de mento, dentre outras, que ofereçam múltiplas oportuni-
vista patronal, mas retira a roupagem moderna da ges- dades de crescimento profissional e estimulem as pes-
tão estratégica de recursos humanos. Nesse caso, estaría- soas não apenas a desenvolver coletivamente compe-
mos diante de uma espécie de neofordismo, como o defi- tências mas também a compartilhá-las. Do contrário,
ne Legge (1995), ou de novas formas de controle da mão- esses instrumentos de gestão poderiam até apresentar-
de-obra, sob a perspectiva de uma flexibilidade nas rela- se com uma roupagem moderna, mas, de fato, não re-
ções de trabalho que submete o empregado a ritmos cada presentariam inovações nas práticas de gestão. m
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NOTAS
Os autores agradecem as críticas e sugestões recebidas 1. Henri Pestalozzi (1746-1827), pedagogo suíço, idealizou 2. Empregabilidade diz respeito à probabilidade que pode ter
dos professores Waldyr Viegas e Guillermo Asper, da Uni- a educação como o desenvolvimento natural, espontâneo e um indivíduo à procura de um emprego de encontrá-lo, isto
versidade de Brasília, e do professor Mozar José de Brito, harmônico das capacidades humanas que se revelam na é, refere-se à probabilidade de reinserção no mercado formal
da Universidade Federal de Lavras. tríplice atividade da cabeça, das mãos e do coração (head, de trabalho. Quanto mais qualificado ou competente for o
hand e heart), isto é, na vida intelectual, técnica e moral do indivíduo, maior sua empregabilidade. Ver CASALI, A. et al.
indivíduo. Ver LARROYO, Francisco. História geral da pe- (Orgs.). Empregabilidade e educação: novos caminhos no
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