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Von Wright sugeriu que um sistema modal satisfatório deveria ser capaz de eliminar as modalidades de re em favor das modalidades de dicto equivalentes. A questão sobre a possibilidade da construção destas equivalências é de difícil resposta e este artigo pretende analisar brevemente algumas abordagens ao problema.
Titolo originale
Considerações sobre a Eliminabilidade de Modalidades de re em Sistemas Modais
Von Wright sugeriu que um sistema modal satisfatório deveria ser capaz de eliminar as modalidades de re em favor das modalidades de dicto equivalentes. A questão sobre a possibilidade da construção destas equivalências é de difícil resposta e este artigo pretende analisar brevemente algumas abordagens ao problema.
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Von Wright sugeriu que um sistema modal satisfatório deveria ser capaz de eliminar as modalidades de re em favor das modalidades de dicto equivalentes. A questão sobre a possibilidade da construção destas equivalências é de difícil resposta e este artigo pretende analisar brevemente algumas abordagens ao problema.
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Vincius Moraes de Mattos Graduando em Filosofia pelo Instituto de Filosofia e Cincias Sociais (IFCS) da UFRJ viniciusmoraes@ufrj.br RESUMO Uma formula da lgica modal de primeira ordem chamada de re se contm variveis livres no escopo de seu operador modal. Caso contrrio, chamada de de dicto. A distino de dicto/de re tem o papel fundamental de explicar algumas perplexidades semnticas que surgem na epistemologia, lgica modal quantificada e metafsica quando frases em contextos modais so submetidas a interpretaes e avaliao de suas condies de verdade. Von Wright sugeriu que um sistema modal satisfatrio deveria ser capaz de eliminar as modalidades de re em favor das modalidades de dicto equivalentes. A questo sobre a possibilidade da construo destas equivalncias de difcil resposta e este artigo pretende analisar brevemente algumas abordagens ao problema. PALAVRAS-CHAVE: Modalidades, distino de dicto/de re, Sistemas modais A distino de dicto/de re se refere a duas modalidades caractersticas de contextos intensionais, nos quais esto associadas a determinados operadores intensionais. Os operadores que nos interessam no momento so aqueles que dizem respeito s modalidades alticas, como necessidade e possibilidade. Esta distino modal pode ser compreendida sob uma perspectiva sinttica ou uma perspectiva semntica. Em um primeiro momento, discutirei a abordagem sinttica das modalidades em questo. Considere, pois, o seguinte par de enunciados: (1) Possivelmente, todo objeto material (2) Todo objeto possivelmente material No enunciado (1), a modalidade atribuda a um dictum, i., expresso componente todo objeto material e predica-se desta expresso a propriedade modal de ser possivelmente verdadeira. Por esta razo, dizemos que um enunciado da forma apresentada em (1) exprime uma modalidade de dicto. Por outro lado, em (2) temos uma modalidade de re, pois a modalidade atribuda a uma coisa (do latim res) ou a cada um dos objetos pertencentes ao domnio considerado. A propriedade modal de ser possivelmente verdadeira predicada de cada uma das coisas pertencentes ao domnio. Em lgica modal, os enunciados citados seriam representados pelas frmulas (1a) ^xFx (2a) x^Fx onde F o smbolo da propriedade ser material. A partir destas frmulas podemos constatar que no nvel sinttico a distino de dicto/de re corresponde a uma distino relativa ao mbito dos operadores intervenientes. Enquanto no enunciado (1) o operador de possibilidade tem mbito longo, em (2) o operador tem mbito curto. Do ponto de vista formal, a caracterstica do enunciado que o levou a ser chamado de uma modalidade de re que a expresso no escopo do operador de possibilidade contm uma varivel livre. 1 Em contrapartida, se uma frmula no satisfaz essa condio, isto , se todas as variveis esto ligadas a quantificadores no mbito do operador modal ela exprime uma modalidade de dicto.
1 Mais precisamente, temos uma modalidade de re se e somente se no mbito do operador modal se encontra: (a) uma constante individual; (b) uma varivel livre; ou (c) uma varivel ligada por um quantificador fora do escopo do operador. Acredito que a condio (c) pode ser dispensada se considerarmos que, p. ex., na frmula xFx a expresso componente Fx contm uma varivel livre. Von Wright 2 sugeriu que em um sistema modal satisfatrio, todas as modalidades de re poderiam ser eliminadas de forma que s permaneceriam modalidades de dicto nas sentenas vlidas do sistema. Isso significa que para toda wff o que contenha uma mo- dalidade de re, seja possvel construr uma wff 3 o que no contenha modalidades de re e seja equivalente a o. Entretanto, apesar de ningum ter demonstrado que se trata de uma tarefa impossvel, parece que at mesmo em sistemas fortes como LPC + S5 a eliminao no pode ser feita (Hughes & Cresswell, 1968). 4 O Princpio da Predicao (Pr) sugerido por Von Wright, se adotado como uma frmula vlida, surge como uma maneira de possibilitar a eliminao das modalidades de re em alguns sistemas, mas a eficcia dessa medida at este ponto controversa. Segundo esse princpio, as proprie- dades dos objetos se dividem nas categorias de propriedade formal e propriedade mate- rial. O primeiro tipo se refere a propriedades que necessariamente so satisfeitas pelos objetos ou necessariamente no so satisfeitas pelos objetos, i.., so propriedades necessrias ou impossveis. 5 O segundo tipo se refere a propriedades que so contingentes, ou seja, so satisfeitas (ou no) pelos objetos de modo no necessrio. Assim, segundo essa definio se F uma propriedade formal, temos x(Fx v Fx) e se F uma propriedade material temos x(^Fx . ^Fx), e o Princpio da Predicao pode ser formulado como se segue: x(Fx v Fx) v x(^Fx . ^Fx) Essa frmula pode ser generalizada para um esquema como: Pr: x(o v o) v x(^o . ^o) Para Von Wright, Pr tornaria a combinao de modalidades de re e quantificaes desinteressante, isto , poderiam ser dispensadas, pois as mesmas consequncias lgicas de frmulas dessa forma seriam produzidas por sentenas equivalentes de dicto, onde houvesse uma combinao de quantificao com sentenas que expremissem propriedades formais ou materiais.
2 Von Wright (1951) p. 26-28. 3 Abreviao do ingles well-formed formula. 4 LPC uma abreviao para Lower Predicate Calculus, o clculo de primeira ordem clssico. LPC + S5 o clculo de primeira ordem com o sistema modal S5. (cf. Hughes & Cresswell, 1968, p.141). 5 No discutirei aqui o mrito desta noo devido ao provvel comprometimento desta com alguma forma de essencialismo. O Princpio da Predicao no uma frmula vlida de LPC + S5, contudo, pode ser adicionado como um axioma extra, de forma que temos como resultado o sistema modal LPC + S5 + Pr e podemos perguntar se nesse sistema as modalidades de re podem ser eliminadas. Pode ser provado que de LPC + S5 + Pr podemos derivar a frmula (3) (o o) v (o (| . |) Onde o smbolo da equivalncia estrita, o e | so quaisquer wffs, inclusive, | pode ser qualquer frmula que contenha modalidades de re. Se o contm uma varivel livre, ento no lado esquerdo da frmula h modalidades de re e no lado direito da frmula no h. Se a frmula (4) o (o v (| . |) fosse uma frmula vlida em S5, certamente poderamos eliminar modalidades de re facilmente ao substituir as ocorrncias de o por o v (| . |). Mas (4) no uma frmula vlida e no devemos confundir (3) com ela. Hughes & Cresswell (op. cit., p.186) observam que nem mesmo com o Princpio da Predicao adicionado a LPC + S5 possvel derivar a frmula ELC: -x Fx -xFx que Prior (1955) e Von Wright (1951) acreditavam ser necessria para a eliminao de modalidades de re. A despeito da importncia que esta frmula teria para concluir a tarefa, pode ser demonstrado que ela invlida. Pois da frmula de Barcan xo xo podemos derivar facilmente xo xo e pelas definies do operador ^, do quantificador existencial e equivalncias da lgica clssica, derivamos ^-xo -x^o. Da temos duas frmulas relacionadas, (5) ^xo x^o e (6) -xo -xo, cujas conversas no so demonstrveis mesmo com a frmula de Barcan. Para ver que a conversa de (6) no vlida, considere a sentena -xFx -xFx, onde Fx corres- ponde a x o nmero de planetas. Ento o antecedente verdadadeiro, j que necessrio que deve haver um nmero que seja o nmero de planetas. Entretanto, o consequente obviamente falso, pois dado um nmero x, no necessrio que ele seja o nmero de planetas, quer dizer, contingente que x seja o nmero de planetas; suponha que esse x 9, neste caso, o que a frmula diz que 9 necessariamente o nmero de planetas, o que falso. 6
6 Este exemplo elaborado originalmente por Quine (1943) se revelou proftico, pois recentemente a comunidade cientfica confirmou empiricamente o argumento ao excluir Pluto da categoria de planetas. Um procedimento anlogo prova que a conversa de (5) invlida. Apesar de Prior (1955, p. 211-214) crer que a invalidade de ELC prova a impossibilidade de eliminao de todas as modalidades de re, Hughes & Cresswell argumentam que isto no constitui tal prova. possvel ainda que haja alguma frmula alm de -xFx que no contenha modalidades de re e seja equivalente a -xFx. A suposio de Hughes & Cresswell, porm, de que no exista um mtodo efetivo para construir tal frmula. Mesmo no sistema LPC + S5 + Pr. Contra a suposio de Hughes & Cresswell, Broido (1976) forneceu uma prova da eliminabilidade das modalidades de re no sistema LPC + T + Pr + ELC. Alm disso, demonstrou um teorema segundo o qual LPC + S5 + ELC deriva Pr, o que significa que a adio de ELC ao sistema S5 o suficiente para a eliminao das modalidades de re. Broido pode usar ELC produtivamente porque, como Cresswell (1969) tambm indicou, no necessrio que se use o esquema ELC em sua forma completa para alcanar a eliminabilidade das modalidades, inclusive, desta maneira evita-se a invalidade da frmula. No pretendo reproduzir a prova de Broido neste trabalho, mas apenas ressaltar a importncia de seus resultados. Desde as crticas de Quine, tem-se dado muita importncia s dificuldades de interpretao dos sistemas quantificados de lgica modal e a dissoluo da dicotomia nesses sistemas pode trazer benefcios de clarificao filosfica dessas interpretaes. Broido justifica os seus esforos ao ressaltar que a propriedade de ser eliminvel por uma frmula de dicto tem um anlogo semntico que faciliitaria as discusses de problemas relacionados a quantificao em contextos modais e nos permitiria avaliar mais precisamente o custo da abolio da quantificao. Ademais, sob uma perspectiva matemtica, mesmo que no trabalho de Broido essa demonstrao seja feita no terreno de sistemas exticos, que incorporam princpios intuitivamente implausveis como Pr e ELC, os resultados dessa investigao podem fornecer pistas para que o mesmo seja realizado em sistemas mais naturais da lgica. REFERNCIAS Branquinho, J., De dicto/de re, Branquinho, J., Murcho. D. e Gomes, N. (eds.), Enciclopdia de Termos Lgico-Filosficos (2006), Martins Fontes, So Paulo. Broido, J., On the Eliminability of de re Modalities in Some Systems, Notre Dame Journal of Formal Logic 17 (1976), pp. 79-88. Cresswell, M. J., On the Elimination of de re modalities, The Journal of Symbolic Logic, vol. 34 (1969), pp. 329-330. Haack, S. (2002) Filosofia das Lgicas, UNESP, So Paulo. Hughes, G. & Cresswell, M. (1968) An Introduction to Modal Logic, Methuen. Prior, A. (1955) Formal Logic, Oxford University Press. Quine, W. V. O., Notes on Existence and Necessity, Journal of Philosophy 40 (1943). Wright, G. H. Von., (1951) An Essay in Modal Logic, North Holland Publishing Co.
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