Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
Vou tentar trabalhar com essas duas definições com o propósito básico de mostrar
que o matrimônio delas é, até certo ponto, impossível. Assim, à medida que a
formação do economista se orienta, ou o economista opta pelo caminho da análise
econômica, isso implica uma determinada visão de mundo que não é possível
integrar com a da segunda rota, a economia política. A evolução do pensamento
econômico coloca ênfase ora num ora noutro objeto e o fato de pôr ênfase num ou
outro objeto, reflete um processo social na hora em que os sistemas econômicos e
sociais estão atravessando.
À primeira vista, pode-se dizer que não parece haver tanta discrepância entre os
objetos. Afinal de contas, é verdadeiro que em toda a sociedade organizada há
escassez de bens. Então alguém poderia dizer que se tratam de duas manifestações
simultâneas e a escolha de um ou outro objeto de reflexão não deve gerar conclusões
diametralmente opostas, ou pelo menos incompatíveis. Não é assim, entretanto, em
primeiro lugar por características notadamente metodológicas. Reparem bem:
quando nós definimos que o objeto do conhecimento é de análise econômica, ou
seja, o estudo da escassez e da opção, há um alto nível de abstração. A escassez se
manifesta numa sociedade de coletores primitivos, nos impérios clássicos, na
economia feudal, no início do capitalismo mercantil; acompanhou a revolução
industrial, assistiu à aparição da sociedade capitalista numa etapa madura, e também
está presente numa sociedade socialista. Dito de outra maneira, a escassez é um dado
à primeira vista a-histórico. Então a construção teórica a partir desse conceito
permitiria ou proporia à economia uma ciência que em sua proposição primeira seria
a-histórica. Dito de outra forma, a ciência econômica poderia pretender-se universal e
Reparem bem: há uma tese bastante difundida que diz: “não é possível compatibilizar
o objetivo de máximo crescimento econômico com o objetivo de melhor justiça
social”. Por quê? Porque se admite que o crescimento se dá em função da taxa de
Agora, uma geladeira é acumulada assim como um trator, mas há uma diferença
fundamental entre a geladeira e o trator. Com a geladeira, a acumularão é
improdutiva, enquanto que com o trator é produtiva. Se nós tomarmos a estrutura
de consumo, os grupos de baixa renda consomem a totalidade de suas rendas, porém
o grosso de seu consumo é formado de bens não-duráveis. À medida que subimos a
escala de repartição de renda, os grupos superiores são consumidores de bens
duráveis. Dito de outra maneira, os grupos que fazem acumulação improdutiva são os
grupos de altas rendas. Quanto mais alta a renda, mais que proporcionalmente cresce
a acumulação improdutiva por estrato de renda. Se a economia tem uma
determinada capacidade de produção, esta capacidade de produção pode ter ou não
uso alternativo. Por exemplo, a capacidade de produzir alimentos não teria uso
alternativo, ou se produzem alimentos ou então se desvia para a produção de bens
duráveis. Mas uma indústria de automóveis pode produzir automóveis ou caminhões,
pode produzir bens para uma acumulação produtiva ou improdutiva. A indústria de
construção civil pode fazer mais um edifício de apartamentos (acumulação
improdutiva) ou mais um edifício industrial (acumulação produtiva). A industria de
eletrodomésticos, produzir geladeiras ou instalações elétricas.
Houve um grego que disse o seguinte: dêem-me uma alavanca e um ponto de apoio
que eu desloco o mundo. Com a teoria econômica acontece o seguinte: dêem-me a
possibilidade de manter oculto meu critério de partição que o demonstro qualquer coisa.
Em segundo lugar, se afirma em relação ao conceito que ele é ou não é, não existe
uma terceira possibilidade, o principio do terceiro excluído. Ao fazer isso, o que é que
ocorre? Nós vamos substituindo um processo social vivo, cheio de inter-relações, por
uma bateria de conceitos. Tendo isso, vamos teorizar. O que é teorizar numa
perspectiva de análise econômica? É estabelecer relações funcionais de
comportamento pelo qual determinada variável tem o seu comportamento
justificado por outra. Isto é, estabelecer relações de causalidade entre variáveis
econômicas. Você coloca que a variável dependente tem o seu comportamento como
um efeito da variável independente. Quando você encontra uma articulação desse
tipo, você diz que fez teoria.
Reparem bem: esta teoria está toda construída a partir do principio de causalidade.
Esse princípio é um dos mais tramposos que existem, conduz a armadilhas
tremendas. A essa altura vocês dirão: se as construções analíticas têm tão grandes
limitações de caráter metodológico, por que são tão utilizadas? Em primeiro lugar
porque é a lógica da infância. Em toda construção intelectual a primeira coisa que
nós fazemos é utilizar linguagem. Toda, qualquer linguagem é construída de
conceitos, ou seja, todo processo de comunicação é dependente num primeiro
momento de conceitos. Nesse sentido, é um primeiro passo indispensável ao
problema da especulação. Mas é um passo extremamente limitado, porque toda
Eu queria, antes de seguir nesse nível, tentar ilustrar com um exemplo elementar
onde é que se poderia dar a diferença entre um raciocínio analítico e uma tentativa
de abertura critica.