Sei sulla pagina 1di 15

LINGUAGEM VISUAL

Estética e Desejo da roupa


Emanuella Scoz. IB Moda. Instituto Brasileiro de Moda.

“Para a humanidade, o vestir-se é pleno de um


profundo significado, pois o espírito humano não
apenas constrói seu próprio corpo como também
cria as roupas que o vestem, ainda que, na maior
parte dos casos, a criação e confecção das roupas
fiquem a cargo de outros. Homens e mulheres
vestem-se de acordo com os preceitos desse
grande desconhecido, o Espírito do Tempo”.
(Köhler, 2005, p. 58)

Esta frase representa o tamanho da complexidade envolvida na Criação. Ligado ao espírito


humano, que cria uma imagem que deseja representar, e a melhor forma que represente esta
imagem. Num exercício pleno de comunicação visual. Embute neste processo os preceitos do
Tempo, e tamanho é seu envolvimento, que se apega profundamente.
Em todos os momentos de nossa história, estivemos interligados a nossa roupa, e esta passou
a partir de um período, a nos suprir cada vez mais necessidades e utilidades. Aliada aos
avanços sociais, pode-se traduzir hoje, mais do que proteção e necessidade, mas estética.
Moda nada mais é que arte visual, cria sensações, exprime mensagens e supre o desejo
humano.
“Todas as ações do homem procuram superar a
sua condição natural, que é viver condenado à
morte – uma realidade sem sentido. A
comunicação, o acúmulo de informações e a
transformação do mundo de um modo geral são
tentativas de escapar a essa condição, de
trapacear a natureza, de afastar-se do mundo tal
como ele nos é dado. Por isso, entender os
produtos humanos é entender a essência de sua
existência."
(Vilém Flusser.)

Através da observação artística temos um grande acervo das construções que nos permitem
imaginar como era a vida e a sociedade de dado período, podemos observar qual condição nos
leva a fuga da realidade. Seria a roupa uma fuga? Certamente é a procura de algo que
completa a ação humana, une as sociedades e cria um escapismo em relação à morte pois,
nos leva a vivenciar o cotidiano com mais força.
O desejo humano de exprimir o que pensa é sanado quando a roupa faz seu papel
comunicador. Também este desejo é sanado quando a estética da roupa condiz com os ideais
contemporâneos.
De todos estes fatores: comunicação, estética e desejo alimenta-se o processo criativo.
Desvinculando a roupa de sua comunicação gráfica, partiremos para outra forma de processo
visual: a estrutura. A roupa é formada de um elo entre a idéia da roupa e seu aspecto final, e o
que definirá se esta ligação será feita é a estrutura da roupa. A estrutura fala pelo corpo, cria
sensações e exprime ideais, é capaz de transgredir ou impulsionar uma sociedade, pois,
transmite valores. Para analisar esta estrutura é preciso modificar o olhar. Não mais olhar a
roupa em sua função estética comum, mas olhar sob ótica antropológica, e com concepções
artísticas. O traço é muito importante, é o desenho da estrutura que fundamentará sua idéia,
ombro alto e amplo para os lados, por exemplo, dará atenção à curvatura do corpo, deixando
esguio, altivo, um sinal de ostentação, intelectualidade e altivez.
Ver a roupa sob ótica artística é trazer para a roupa mais sentimento, clareza de detalhes e
assim transformando-a em objeto de puro desejo, um objeto de expressividade e identidade.
Já citado o traço, analisamos a construção como um todo, o equilíbrio da base, a
transfiguração dos volumes em algo que se expresse, a sinalização do corpo.
“Ver precede as palavras. A criança olha e reconhece antes mesmo de poder falar” Nesta frase
Berger, 1999, introdução: trabalha a importância da imagem; entra no contexto deste projeto
para fundamentar importância dos valores empregados quando uma estrutura é criada. Surge
para suprimir um desejo, ou explorá-lo, para comunicar algo muito pessoal ou apenas mostrar
uma opinião de senso comum. A estrutura é envolta por diversos signos, algumas linhas estão
diretamente ligadas a sentidos: a linha do ombro, mais ampla, sugere domínio, isto porque em
momentos históricos estas linha ampla de ombros foi utilizada pela realeza, deixando para a
sociedade a estigma de poder.
A aparência da roupa transmite um significado subliminar, entendido pela mente; são
como falar com imagens, através dos sentidos, assim como alguém usando roupas pretas nos
remete a simbolismos obscuros, devido a relação que esta cor tem em nossa sociedade, nos
trás entendimentos, mesmo que não sejam falados, e poderiam em outros momentos da
história ter um significado diferente do atual. Assim, em cada momento da história, o
pensamento social, a cultura, ao ser transportada para a roupa pode se transformar em
símbolos, nos transmitindo então: mensagens. Trabalhar esta imagem também é de interesse
da estrutura da roupa, do seu projeto
Esta imagem pode transmitir a mensagem com mais força, pois imagens são
informações prontas, trazem num correr de olhos páginas de informação.

“Qual é a diferença entre linhas escritas e ler


uma pintura? Seguimos a linha de um texto da
esquerda para a direita, mudamos de linha de
cima para baixo, e viramos as páginas da direita
para a esquerda. Olhamos uma pintura: passamos
nossos olhos sobre sua superfície seguindo
caminhos vagamente sugeridos pela composição
da imagem. Ao lermos as linhas, seguimos uma
estrutura que nos é imposta; quando lemos as
pinturas, movemo-nos de certo modo livremente
dentro da estrutura que nos foi proposta....
precisamos seguir o texto se quisermos captar sua
mensagem, enquanto na pintura podemos
apreender a mensagem primeiro e depois tentar
decompô-la.”
(FLUSSER, 2007, p. 105)

Através da compreensão histórica cronológica é possível compreender os simbolismos que


envolvem a criação da roupa. As datas expressas nas pinturas podem ter um século de
defasagem, ato comum para pintores dos séculos passados representar as roupas de períodos
anteriores aos de suas pinturas, porém trazem muita riqueza de detalhes e é válido a análise
desta cronologia com auxílio de imagens.

Palavras-chave: Linguagem Visual, Desejo, Óticas.

1. A construção da roupa sob ótica antropológica:

Tem por trás desta estrutura um processo histórico social culturalmente


integrado com o processo de estruturação, seu começo e sua evolução, gradativa, até
a contemporaneidade, e continua alterando-a gradativamente seguindo nossos valores
sociais, pensamento coletivo. Momentos de evolução da estrutura estão interligados
aos fatos históricos, momentos de mudança do pensamento coletivo, avanços da
ciência, itens que construíram também a sociedade. Os conceitos passados de
utilização e estética são muito diferentes dos atuais, porém percebe-se que a estrutura
inicial da peça rumou por uma única linha, evoluindo em volta do corpo, e se aprimora
a fim de melhorar a sua integração com ele. A modelagem em si é o molde do projeto,
o processo que permite que a estrutura seja montada, tem datas imprecisas, mas
mostra evolução gradativa e por meados do século XVIII já existem comprovações do
uso de moldes e réguas nos ateliês.
Entre os séculos XI e XII a roupa formulou um conceito de estruturar. Entre os
séculos XII e XIV a roupa teve uma mudança relevante em seus cortes, surgiram
pences e pregas que retiravam o excesso que se formava nas curvas do corpo, os
desconfortos nas junções eram aliviados, sobretudo nos cotovelos, com aberturas. A
vinda de costureiros do oriente, mantidos nas côrtes, modifica a estrutura, eles tinham
conhecimentos sobre técnicas de corte e costura que contribuíram para a mudança
estética.
A modelagem seria a evolução do conceito de perfeição de medidas. Que
tornou-se fundamental durante a idade média, com a abertura do comércio europeu ao
oriente, este já mostrava rigor e requinte na construção, em parte pelo uso de tecidos
preciosos e que necessitavam de mais técnica, em geral seda, por vezes com fios de
ouro A cada momento desta história da humanidade traz-se para a criação da roupa
subsídios para o surgimento do novo.
Pode parecer estranho o quanto a vestimenta decifra sobre a sociedade, mas,
relacionando os fatos da época, culturais, sociais, religiosos e políticos, a roupa entra
em total difusão com os propósitos da época, por exemplo, um decote poderia dizer
muito sobre a pessoa que o possuía, principalmente num local como a Espanha de
1400 d.C., onde a fé católica impunha moralidade, sob penada Santa Inquisição.
Conhecimentos acerca do mundo ainda estavam iniciando por filósofos relutantes,
muitas vezes em segredo. A cada novo conceito, surge também um novo conceito de
vestir, a roupa é alterada, deixando os segredos de sua construção para a nova
sociedade, atualmente é comum o resgate da estética de tempos passados, porém,
sempre com a visão diferente de como foi no passado, com mais conhecimentos do
corpo e novas tecnologias. Nada mais natural que um pensamento coletivo modificar o
modo de vida. Assim, momentos de mudança no pensamento coletivo estão
interligados a momentos importantes para a sociedade, delimitando períodos de
ruptura de conceitos.

“A luta da tradição e da inovação, que é o


princípio do desenvolvimento interno da
cultura das sociedades históricas, não pode
ser prosseguida senão através da vitória
permanente da inovação. A inovação na
cultura não é, porém, trazida por nada mais
senão pelo movimento histórico total que, ao
tornar consciência de sua totalidade, tende à
superação dos seus próprios pressupostos
culturais e caminha para a supressão de toda
a separação”
(DEBORD APUD BOORSTIN, p. 181)

2. A estrutura contemporânea

Para Debord (apud Boorstin, A sociedade do espetáculo, p. 180) “A cultura é a


esfera geral do conhecimento e das apresentações do vivido na sociedade histórica”.
Na contemporaneidade, vestir-se representa uma série de valores, manipulados
pelas evoluções tecnológicas e a abertura mundial que sofremos, o consumidor se
recria com esta nova sociedade, os hábitos transformam-se. Assim, a estrutura
também reflete os simbolismos desta nova sociedade, uma ruptura de valores pede
uma ruptura no vestir, esta ruptura desestrutura antigos conceitos e une várias
culturas, a esfera geral do conhecimento, surgindo novas propostas de estruturas,
provindas da desestruturação de antigos conceitos e também de antigas estruturas.
Sempre voltado ao corpo, conforto e estética, porém estes também surgem
remodelados.
Muito mais que em outros momentos, o público que consome algo se mostra
interativo, interessado não somente no produto, mas em tudo sobre sua cadeia de
produção até a loja, e até em seu destino final após o uso. A modernidade mostra-se
tão culta, conhecedora, onde até mesmo algo sem referência e estética pode tornar-se
luxo, por ser pessoal e ímpar.

“A análise para este fim de década aponta


um consumidor em transição, uma tendência
que chamamos de “complex multiplex”.
Observamos o consumidor complexo que
deseja simplificar a vida, porque a vida está
ficando muito complicada”
(CALDAS APUD WF VAREJO, 2008, p.
12)

Vivemos em uma sociedade que nos torna “amplos” em conhecimento,


conhecedores de coisas demais, sem aprofundar em uma única, criamos um núcleo
de informações saturadas, deveras democratizadas, o entendimento pessoal de um
determinado assunto trabalha como co-fundador de uma ideologia, perde-se a
compreensão do antigo ao recriá-lo para outra realidade, mas é fundamental nesta
pesquisa, ao analisar os conceitos antigos, tentar imaginar a relação de todos os fatos
cronológicos, recriar mentalmente a sociedade na realidade de sua época. Gerando
compreensão ampla.
Os avanços tecnológicos que sofremos ao passar dos anos, processo cada vez
mais rápido que nos traz muitas novidades principalmente para comunicação pode
indicar que estamos passando por um momento de ruptura social, onde nossos
valores do passado são alterados gradativamente, até sua extinção ou alteração,
processo que pode levar anos, ou pode levar dias. Estudos sobre tele-transporte,
clonagem de espécies e carros movidos por propulsão (para voar) nos levam
rapidamente para uma realidade aquém do que percebemos ainda agora. Com a
internet massificada e todas as formas de comunicação que ela nos permite, criamos
roupas para comunicar-nos, para que o pensamento pessoal tenha notoriedade em
uma coletividade, notam-se em tendências de comportamento a lenta transição para
um momento de escapismo, onde não será mais tão importante comunicar-se da
forma atual, mas proteger-se, ter paz e valores voltados ao indivíduo só, neste
momento, incerto, a roupa pode alterar se valor, e servirá então para o indivíduo.
Neste contexto já existem roupas que aquecem ou resfriam, promovendo total conforto
do indivíduo, o desenho da estrutura no corpo passa a não envolver mais o corpo, mas
transforma-se neste contexto em um complemento estético, mais ligado a
personalidade.
Baudot (2002 p. 381) cita que “a partir de uma decomposição, de
descoordenações sistemáticas, nascerão talvez, em um mês, em dois anos, novas
atitudes e posturas cujas flutuações escaparão de toda a lógica, como no passado”.
Evidencia costumes, como no passado onde homens vestiam-se de forma mais
elaborada que as mulheres, aos poucos este costume transformou-se no oposto,
costume que retorna a mudar no contemporâneo, com o surgimento do metrossexual
e übersexual, conceitos que remetem ao homem cuidadoso com o corpo e vestimenta,
e também ao homem que preserva acima de tudo a aparência. Na foto 10, público
jovem de Londres, 2008, uma transformação no costume de vestir, na composição do
vestir. Nota-se neste momento contemporâneo a desconstrução elaborada das vestes,
de uma jaqueta nasce uma calça, preservando os cortes e costuras da jaqueta.
A bermuda de gancho alongado evidencia despojamento, um traje para passeio,
surgida para a prática de esportes radicais urbanos durante os anos 90.
Foto 3. Acervo pessoal. Londres, outubro 2007.

Na foto abaixo, consumidor masculino na Europa contemporânea. Apesar do visual


desleixado, ainda é um desleixo intencional, que demonstra a intenção de apresentar
uma aparência, que retorna ao costume masculino, não com intenção de demonstrar
austeridade ou seriedade, a sociedade se transforma e a profusão de detalhes de
signos aumenta.
A roupa mais comum no período contemporâneo é o jeans, e este tem profundas
transformações em sua estrutura. Desde a calça enviesada japonesa, até o uso de
cintura baixa, super baixa, alta, perna super fina, média, reta ou bem aberta, observar
os detalhes na estrutura do jeans ajudam a entender um pouco sobre o quanto se
pode transformar uma roupa apenas com detalhes. Muitas vezes pences são feitas
nos joelhos, pois estes no tecido de brim tendem a lacear com o tempo, e ficar com
aderência nos joelhos, estas pences nas laterais ajudam a curvar a calça na altura do
joelho, assim, com espaço para movimentação dos joelhos, a calça não deforma. São
detalhes que permitem que a roupa tenha melhor caimento e mais qualidade. Há
pouco tempo, esta construção seria vista como desleixo, porém os valores mudam e à
procura de conforto submetem-se novos valores.
Figura 4. Wgsn-acessado em novembro de 2008.

Os conceitos mudaram, a nova sociedade impõe gostos pessoais, é o momento do


May Way, tradução: do meu jeito, onde customização e produtos feitos à mão voltam a
ter total valorização. Inseridos neste conceito está a estrutura da roupa, de forma a
valorizar totalmente o jeito da pessoa, suas características raciais, o corpo e a cultura,
figura 5, nota-se o caimento da calça, perfeito para o biótipo oriental, que tem as
pernas mais curtas e em geral um pouco viradas.
Figura 5. Wgsn-acessado em novembro de 2008.

Para este biótipo também surgiram as calças de corte enviesado na perna, que
dão a impressão de pernas mais retas, não no intuito de esconder um defeito, mas
como forma de valorizar uma característica racial. Algumas recebem a inserção de
uma faixa no entre pernas, esta trata de curvar levemente a perna da calça. Outras
ainda recebem pregas nos joelhos.
Febre no Japão, e produto original de lá, esta calça traz a sensação de estar
inserido em um contexto até antes impossível, o contexto da beleza ocidental.
O jeans japonês é feito com muitos processos antigos, como o processo de
coloração, que segue uma receita de antepassados, tudo para garantir a perfeição, o
real índigo, e também os acabamentos seguem padrão manual, para trazer ao jeans,
que é loucura no Japão, um pouco mais de valor, sofisticação, e o que a moda mais
gosta: raridade!
“Kato Jeans está localizado em Kyoto,
mas poucos concorrentes se preocupam com
seus produtos, pois Kato optou por não
aumentar ou complicar suas operações. Uma
calça Kato Jeans é feita à mão e é
meticulosamente detalhada – até mesmo a
linha dos bolsos é tingida por suas
especificações. Ele busca uma modelagem
que faça com que as pernas dos japoneses
pareçam mais longas e mistura o algodão
para que fiquem mais confortáveis no verão,
já que o calor é muito seco no país oriental.”
(SHOJI, www.guia jeanswear.com.br)

Esta silhueta enviesada das calças é o puro avanço do design têxtil. Descobrir uma
genética totalmente diferente de um padrão de beleza e trazê-la para este, aliando
estudos de ergonomia e modelagem. Estas calças representam o conforto, apontam
uma nova estética, uma vez que mesmo estando dentro de um padrão de beleza,
estão longe da estética antiga, das calças justas de cintura arrumadinha. Para esta
genética oriental, poderia ser muito desconfortável utilizar uma calça que trouxesse
desconforto, por utilizar uma modelagem feita para pernas retas e longas.
Para Caldas (Apud WF VAREJO 2008, ano 6 pág. 22), referente ao quarto
trimestre de 2008, o consumidor atual está em fase de transição, citado como conceito
Complex Multiplex, seria a pessoa contemporânea, nascida numa era de total
informatização e novidades constantes, conceitos importantes para avaliação pois, em
um mundo que já passou pela globalização, passa agora por avanços mais complexos
na comunicação e tem o mundo mais acessível. Para ele este consumidor tem seus
humores, regras próprias, gosta de novidade e inovação.
Em análise aos anos que se passaram, do início da constatação do termo de moda
até a atualidade, o termo consumo é relativamente novo, tratado com mais êxito ao
final dos anos 80 e estudado a fundo na atualidade; durante a idade média, por
exemplo, costumava-se ter o costureiro, comprar o tecido de comerciantes orientais,
no momento atual, compram-se ótimos tecidos ao gosto próprio em qualquer loja de
tecidos, produzidos em todo o mundo, com diferentes tecnologias e fios, este mesmo
estudo cita que “o consumidor atual é um erudito do consumo, é complexo porque
conhece o que deseja consumir, não vive daquela ditadura da mídia”. A ditadura da
mídia criada durante os anos 80 onde o consumo e o consumidor passaram a ser
analisados, mas também a ser previamente rotulados. A ruptura da vestimenta vem
aliada a uma ruptura de conceitos, novamente, do pensamento coletivo, que toma um
rumo pessoal e individual talvez nunca antes visto, porém comparável à busca pelo
único que acontecia nas cortes européias durante toda a idade média e renascença,
como citado capítulos anteriores, sobre as leis suntuárias e a busca de costureiros,
tecidos e ornamentos orientais.
Neste novo momento, é possível analisar com mais detalhamento os
comportamentos, pois, a ciência cognitiva também teve notáveis avanços em relação
a comportamento e pensamento coletivo. Pesquisas concentradas em regiões, idade,
sexo e estética ajudam hoje, a entendermos nossos próprios desejos. Uma pesquisa
realizada pelo Future Concept Lab, com cool hunters (pessoa que pesquisa
comportamento e por fim descobre novos nichos de mercado, novos desejos, que por
vezes ainda aflorarão em um futuro próximo), determinou quatro novos tipos de
pensamento coletivo, que entram em total sintonia com momentos vividos nesta nova
modernidade.

“O início de uma nova coletividade, onde


há um jogo contínuo de reciprocidade,
sobreposições e interseções. A tecnologia
possibilita a mídia digital e comunidades
virtuais- um saber compartilhado, desafios e
experiências inovadoras”.
(BERENGUER E HIDGEN, APUD WF
VAREJO 2008, PÁG. 14)

Esta se refere ao conceito Renascimento Multiplayer, motivado pelas tecnologias


mais recentes, o uso de ipod, lojas 2.0, onde a pessoa utiliza de vários recursos de
tecnologia para comprar, como por exemplo, displays nos provadores que indicam
imediatamente uma roupa na mesma loja ou em outra loja do mesmo estabelecimento
que irá combinar com a roupa provada-, além do uso de eletrodos nas roupas (criação
da Philips), capazes de transferir luz, ou mesmo de esta luminosidade alterar-se
conforme o humor da pessoa. Estes delimitam um conceito de wearable technology,
ou smart clothes (roupas inteligentes), que trabalham com o emotional clothing.
A inovação vai com certeza muito além da vestimenta, mas esta se incorpora de
maneira alucinante, como em outros períodos, de tudo que é mais inovador. Apenas
para ativar a curiosidade, algumas tecnologias nos transportam ao mundo da ficção,
reportagem completa na revista Veja de novembro de2008, inicia um processo que vai
muito além da máquina, são as máquinas controladas pela mente, criada pela Emotiv
Systems, o capacete tem catorze eletrodos que sem o uso de fios possibilita controlar
o computador em funções antes realizadas pelo mouse. Também a tecnologia que
produz imagens em 3D, um televisor criado pela Philips produz este efeito sem uso de
óculos, também é possível com outras tecnologias produzir imagens de pessoas em
3D, como num holograma, presente nos quadrinhos e filmes de 3 décadas atrás.
Lipovetsky, em “o império do efêmero” comenta muito sobre o consumo, onde este
manifesta-se em vista de um bem-estar, funcionalidade e prazer para o consumidor. E,
apesar de ser uma incessante busca por individualidade, mantém todos cada vez mais
conectados, discutindo pontos de vista e opiniões, e assim criando uma coletividade
forte, que marcará com certeza este momento como uma ruptura. Outro pensamento
seria da “memória visionária”, que seria a já citada valorização da cultura, do histórico,
do povo, confirmando a importância da coletividade cultural. Ao mesmo tempo,
entender e conhecer sua própria história desperta a curiosidade em outros mundos,
assim, o consumo se volta para o exterior, buscando nestas referências interiores.
A “emoção sustentável”- busca qualidade de vida, entra no conceito complex
multiplex de Dário Caldas, onde o novo consumidor (também o indivíduo moderno
neste momento de rupturas) busca facilitar a vida que já é tão complicada. Vigora a
questão da sustentabilidade, conexão com culturas sustentáveis, o uso coletivo de
tudo que é saudável e que não polua o natural, cuidado com o meio ambiente, cuidado
com a saúde mental e física. Engloba uma cadeia de têxteis, objetos, formas de
produção, alimentos, que vêm alterando a estética atual mundial, renascem o plantio
de hortas, pouco cultivados em países onde a área agrícola não é tão comum quanto
no Brasil, surgem projetos sustentáveis, com plantio de hortas no topo dos prédios,
surge o turismo orgânico, que abre as fazendas para que seus visitantes
(consumidores) possam ter a experiência de comer uma fruta diretamente do pé.
Altera também meios de produção agressivos, e obriga o surgimento de novas
matérias primas, naturais, biodegradáveis e que acima de tudo, não agridam o meio
ambiente na sua extração e nem em seu depósito. Surge o biodiesel, que pode ser
obtido do óleo natural de plantas como a mamona.
A “percepção virtuosa”, outro conceito atual revela intercâmbio de conhecimentos,
é o mix das culturas, dos assuntos, revela também o novo trabalhador, que, assim
como em tempos onde o artesanato predominava, precisam ser mestres em seus
ofícios, não executando a função única, criada pela Ford para montar seus carros
modelo T, que vigoram até hoje (e ainda são fortes) nas indústrias de todo mundo.
Este consumidor é dono de sua personalidade, de seu pensamento sobre o que é o
bonito, o esteticamente correto, se desligam dos rótulos anteriores sobre estética e
beleza, desprendem-se do conceito coletivo anterior, entendem os mitos do corpo, que
a medicina ajudou a desvendar. O conceito “Barbie” tem seu fim através da análise de
suas medidas corporais, comprovando-se que uma mulher como a Barbie, andaria de
quatro por não conseguir ficar ereta! O conceito de luxo, por exemplo, transforma-se,
antes ligado ao único, o que é difícil de conseguir, o raro, agora entende que este raro
e único depreda nossas riquezas naturais, e volta-se ao cultural, luxo atualmente é ter
história, retorna ao conceito de sustentabilidade, que utiliza as tecnologias mais
avançadas para conseguir o produto 100% natural, biodegradável e com processos
não poluentes.
Para Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, a modernidade é líquida, nada é
definitivo, tudo é volátil, atemporal. Assim como o regresso ao passado constante no
meio da moda, há a coincidência de um futuro muito próximo, previsto durante a
década de setenta, como podemos ver no filme Star Wars, muitos objetos são
encontrados hoje, e outros estão sob estudo, como o tele-transporte.
Os fatores tecnológicos, a entrada na era digital, e a mudança brusca com a qual
esta tecnologia vem se transformando (conceito 2.0), as mudanças climáticas iniciadas
pelo El nino e La nina, a mudança da estrutura do planeta, o descongelamento das
geleiras, os movimentos ecológicos como Green peace e a nova juventude, que nasce
inserida nestes conceitos vêm mudando o conceito anterior sobre a vestimenta, acima
de tudo, com a velocidade destas mudanças, rompem bruscamente estes conceitos. A
roupa hoje é uma linguagem em terceiro plano, é como o instrumento pelo qual a
pessoa mostra seu interior, de forma mais radical que as formas anteriores, onde a
roupa era explorada para a criação de uma personalidade, hoje, a roupa é recriada
para esta exploração.
Os valores atuais representam mais que ser único, as roupas modernas, ou talvez
hiper-modernas, são verdadeiras brincadeiras de formas, volumes, recortes, é a
redescoberta do corpo auxiliada pela medicina acima de tudo, e pelo novo maquinário
introduzido com os avanços tecnológicos, microchips que comandam funções
elaboradas para acabamento e costuras.
A alta costura se utiliza os conceitos de construção antigos, e antecipa tendências
de comportamento, suas roupas podem não ser utilizadas, mas representam uma
mudança de comportamento importante, que, com o tempo, acaba se incorporando a
vestimenta casual.
O período pós-revolução industrial, marcou para a roupa transformações nunca
antes ocorridas, como saias curtas, calças femininas e o jérsei. Desse período em
diante tudo se tornou mais rápido.
Yohgi Yamamoto trabalha os tecidos, as formas das roupas, inova quando traz
volumes em partes da roupa onde jamais foram propostos, mas de maneira sexy e
equilibrada, trabalha formas lisas, neutras, esculpe o tecido criando formas que
artesãos europeus faziam há muitos anos, porém, com tecidos próprios que o próprio
estilista ajuda a criar.
A Comme des garçons, em 1999 já propunha a desconstrução de roupas para
construir novos conceitos, por vezes sem equilíbrio na montagem das formas, porém,
este era o intuito, sua beleza vem da riqueza com que constroem o novo, das cores,
do equilíbrio e dos tecidos e detalhes trabalhados das peças. Alexander McQueen cria
peças novas, inova mesclando diversas raízes e culturas e traz o antigo de forma
inovadora. Abaixo, modelo de roupa estruturada, gola ampla ereta, conseguida pelo
prolongamento do mesmo tecido da camisa, sem cortes no pescoço, e armação na
parte superior, na barra. Peça sem cava, com forro, que mantém os acabamentos
escondidos. Na parte de trás da roupa notam-se costuras que provavelmente
carregam armações.
Figura 6. Extraída do livro A Moda do Século, de François Baudot.

“O bom de toda essa história é que, com liberdade de expressão, não existe
uma única verdade para vestir, mas várias verdades e, vamos nos sentir mais à
vontade em uma maneira própria de ser/estar/vestir.” (BRAGA, 2006 p.19)

“Eu me vesti, tu te lembraste, ele me inspirou,


nós relemos, vós customizastes, eles
aprovaram”
(BRAGA 2006. p.87)

3. A estrutura nos campos da linguagem visual

Figura 1. Postura.
Extraída do blog
modahistória.com.
Acessado em março de
2009.

A postura tem grande


influencia na construção da
roupa, utilizando linhas de
posição para o corpo é possível analisar a melhor postura, para evitar que a roupa crie
uma má impressão ao ser vestida.
Perceba pela imagem acima que alinham as linhas de busto e quadril. Tanto
pelo uso de adereços, como as anquinhas, quanto pela estrutura da peça, ora mais
solta, marcando menos a cintura, ora mais justa, onde busto se mantém em diagonal
para cima e quadril para o alto.
Estas mesmas linhas são utilizadas na elaboração de um croqui, pois delimitam
a postura que o mesmo irá apresentar, a roupa também pode delimitar uma postura,
representar um sentido, dar uma impressão. Observamos a linha do busto, em todas
as imagens esta linha aparece inclinando-se para o alto na parte do busto, ou então
reta; tente fazer um croqui onde esta linha inclina-se para baixo no busto, e ele
parecerá cansado. O mesmo acontece na roupa. A linha do quadril da mesma forma
aparece sempre inclinada para o alto na cintura ou no quadril, isto porque se aparecer
para baixo dará a impressão de fadiga. Estas linhas aparecem também de forma reta
nos trajes mais despojados, que não necessitam de tanta rigidez na postura, nos trajes
mais rígidos, precisam acompanhar esta forma rígida de conduta, inclinando-se a criar
uma postura altiva.
Na imagem abaixo, nota-se como a manga dá ao corpo aspecto de ombro
caído, pelo uso do volume das extremidades para baixo, estes não dão visão a
marcação de ombro, esta marcação do ombro não existe neste traje, a impressão é
que o ombro seja caído. Caso houvesse algum volume no pescoço, e a saia deixasse
para ter o volume apenas na
extremidade inferior, o aspecto seria de
uma silhueta longilínea.

Figura 2. Postura. Extraída do blog


modahistória.com.
Acessado em março de 2009.

Esta roupa também não traz a


sensação de requinte, de luxo ou de
altivez, demonstra mais uma
camponesa, de vida simples. Todos
estes aspectos são importantes e devem
ser considerados como parte estimulante
para a construção de uma roupa, o bom
uso da estrutura será fundamental para
seu aspecto final. Construir é parte do
processo de criação de uma imagem.
Como relata Feghali, “dependendo da roupa, pode dar a impressão que
esta querendo influenciar, impressionar ou seduzir alguém”.

Potrebbero piacerti anche