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“Cada indivíduo tem um mundo interno diferente, e o estímulo tem um significado para cada um” (Irvin
D. Yalom).
A entrevista psicológica sofreu algumas modificações no início do século XIX, quando predominava o
modelo médico. Naquela época, Kraepelin usava a entrevista com o objetivo de detalhar o
comportamento do paciente, e, assim, poder identificar as síndromes e as doenças específicas que as
classificavam segundo a nosografia vigente. Enquanto isso, Meyer, psiquiatra americano, se interessava
pelo enfoque psicobiológico (aspectos biológicos, históricos, psicológicos e sociais) do entrevistado. A
partir de Hartman e Anna Freud o interesse da entrevista se deslocou para as defesas do paciente. Isto é, a
psicanálise teve sua influência na investigação dos processos psicológicos, sem enfatizar o aspecto
diagnóstico, antes valorizado.
Nos anos cinqüenta, Deutsch e Murphy apresentaram sua técnica denominada Análise Associativa que
considerava importante registrar não somente o que o paciente dizia, mas, também, em fornecer
informações sobre o mesmo. Desse modo, desviou-se o foco sobre o comportamento psicopatológico para
o comportamento dinâmico. Ainda nesta década, Sullivan concebeu a entrevista como um fenômeno
sociológico, uma díade de interferência mútua.
Após este período, a entrevista e o Aconselhamento Psicológicos se deixaram influenciar, entre outros,
por Carl Rogers, cuja abordagem consiste em centrar no paciente. Ou seja, em procurar compreender, de
acordo com o seu referencial, significados e componentes emocionais, tendo como base a sua aceitação
incondicional por parte do entrevistador.
A entrevista psicológica é um processo bidirecional de interação, entre duas ou mais pessoas com o
propósito previamente fixado no qual uma delas, o entrevistador, procura saber o que acontece com a
outra, o entrevistado, procurando agir conforme esse conhecimento (WIENS apud NUNES, In: CUNHA,
1993). Enquanto técnica, a entrevista tem seus próprios procedimentos empíricos através dos quais não
somente se amplia e se verifica, mas, também, simultaneamente, absorve os conhecimentos científicos
disponíveis. Nesse sentido, Bleger (1960) define a entrevista psicológica como sendo “um campo de
trabalho no qual se investiga a conduta e a personalidade de seres humanos” (p.21). Uma outra definição
caracteriza a entrevista psicológica como sendo “uma forma especial de conversão, um método
sistemático para entrar na vida do outro, na sua intimidade” (RIBEIRO, 1988, p.154). Enfim, Gil (1999)
compreende a entrevista como uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca coletar
dados e a outra se apresenta como fonte de informação (p.117).
A entrevista psicológica pode ser também um processo grupal, isto é, com um ou mais entrevistadores
e/ou entrevistados. No entanto, esse instrumento é sempre em função da sua dinâmica, um fenômeno de
grupo, mesmo que seja com a participação de um entrevistado e de um entrevistador.
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Com base nos critérios que objetivaram a entrevista em saúde mental, pode-se classificar a entrevista
quanto aos seguintes objetivos:
c) De Encaminhamento – Logo no início da entrevista, deve ficar claro para o entrevistado, que a mesma
tem como objetivo indicar seu tratamento, e que este não será conduzido pelo entrevistador. Devem-se
obter informações suficientes para se fazer uma indicação e, ao mesmo tempo evitar que o entrevistado
desenvolva um vínculo forte, uma vez que pode dificultar o processo de encaminhar;
f) De Pesquisa – Investiga temas em áreas das mais diversas ciências, somente se realiza a partir da
assinatura do entrevistado ou paciente, do documento: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(Resolução CNS no 196/96), no qual estará explícita a garantia ao sigilo das suas informações e
identificação, e liberdade de continuar ou não no processo.
Essa seqüência pode ser subdividida em: entrevista inicial; entrevistas subseqüentes e entrevista de
devolução, caracterizadas de forma diferente, e mostrando objetivos distintos conforme o momento em
que elas ocorram (GOLDER, 2000).
a) Entrevista Inicial
Essa entrevista, geralmente, inicia-se com a chamada telefônica de um outro técnico, encaminhando o
entrevistado para a avaliação psicodiagnóstica, ou com a chamada do próprio entrevistado. Tem como
objetivos discutir expectativas, clarear as metas do trabalho, e colher informações sobre o entrevistado,
que não poderiam ser obtidas de outras fontes. As primeiras impressões sobre o entrevistado, sua
aparência, comportamento durante a espera, são dados que serão analisados pelo entrevistador, e que
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podem facilitar o processo de análise do caso. Para Gilliéron (1996), a primeira entrevista deve permitir
conhecer:
b) Entrevistas Subseqüentes
Após a entrevista inicial, em que é obtida uma primeira impressão sobre a pessoa do paciente,
esclarecimentos sobre os motivos da procura, e realização do contrato de trabalho de psicodiagnóstico, via
de regra são necessários mais alguns encontros. O objetivo das entrevistas subseqüentes é a obtenção de
mais dados com riqueza de detalhes sobre a história do entrevistado, tais como: fases do seu
desenvolvimento, escolaridade, relações familiares, profissionais, sociais e outros.
No término do psicodiagnóstico, o técnico tem algo a dizer ao entrevistado em relação ao que fundamenta
a indicação. Em 1991, Cunha, Freitas e Raymundo (apud NUNES, In: CUNHA, 1993), elaboraram
algumas recomendações sobre a entrevista de devolução:
A técnica da entrevista procede do campo da medicina, e inclui procedimentos semelhantes que não
devem ser confundidos e nem superpostos à entrevista psicológica. Consulta não é sinônimo de entrevista.
A consulta consiste numa assistência técnica ou profissional que pode ser realizada ou satisfeita, entre as
mais diversas modalidades, através da entrevista. A entrevista não é uma anamnese. Esta implica numa
compilação de dados preestabelecidos, que permitem fazer uma síntese, seja da situação presente, ou da
história de doença e de saúde do indivíduo. Embora, se faça a anamnese com base na utilização correta
dos princípios que regem a entrevista, porém, são bem diferenciadas nas suas funções.
Na anamnese, o paciente é o mediador entre sua vida, sua enfermidade, e o médico. Quando por razões
estatísticas ou para cumprir obrigações regulamentares de uma instituição, muitas vezes, ela é feita pelo
pessoal de apoio ou auxiliar. A anamnese trabalha com a suposição de que o paciente conhece sua vida e
está, portanto, capacitado para fornecer dados sobre a mesma. Enquanto que, a hipótese da entrevista é de
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que cada ser humano tem organizado a história de sua vida, e um esquema de seu presente, e destes temos
que deduzir o que ele não sabe. Ou seja, “o que nos guia numa entrevista, do mesmo modo que em um
tratamento, não é a fenomenologia reconhecível, mas o ignorado, a surpresa”(GOLDER, 2000, p.45).
Nessa perspectiva, Bleger (1980) compreende que, diferentemente da consulta e da anamnese, a
entrevista psicológica tenta o estudo e a utilização do comportamento total do indivíduo em todo o curso
da relação estabelecida com o técnico, durante o tempo que essa relação durar (p.12).
A entrevista psicológica funciona como uma situação onde se observa parte da vida do paciente. Mas,
nesse contexto não consegue emergir a totalidade do repertório de sua personalidade, uma vez que não
pode substituir, e nem excluir outros procedimentos de investigação mais extensos e profundos, a exemplo
de um tratamento psicoterápico ou psicanalítico, o qual demanda tempo, e favorece para que possa
emergir determinados núcleos da personalidade. Este tipo de assistência, também não pode prescindir da
entrevista. Esta que apresenta lacunas, dissociações e contradições que levam alguns pesquisadores a
considerá-la um instrumento pouco confiável. Mas, com diz Bleger (1980), essas dissociações e
contradições, são inerentes à condição humana, e a entrevista oferece condições para que as mesmas
sejam refletidas e trabalhadas.
VI - TIPOS DE ENTREVISTA
Segundo Gil (1999), as entrevistas podem ser classificadas em: informal, focalizada, por pautas e
estruturada.
c) Entrevista por Pautas (semi-estruturada ou semidirigida) – Apresenta certo grau de estruturação, já que
se guia por uma relação de pontos de interesses que o entrevistador vai explorando ao longo do seu curso.
As pautas devem ser ordenadas e guardar certa relação entre si. O entrevistador faz poucas perguntas
diretas e deixa o entrevistado falar livremente à medida que se refere às pautas assimiladas. Quando este,
por ventura, se afasta, o entrevistador intervém de maneira sutil, para preservar a espontaneidade da
entrevista;
d) Entrevista Estruturada (fechada) – Desenvolve-se a partir de uma relação fixa de perguntas, cuja ordem
e redação permanecem invariável para todos os entrevistados, que geralmente são em grande número. Por
possibilitar o tratamento quantitativo dos dados, este tipo de entrevista torna-se o mais adequado para o
desenvolvimento de levantamentos sociais.
O processo de entrevista é orientado por seu referencial teórico. Aqui serão vistas, em síntese, algumas
das perspectivas:
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c) Perspectiva Fenomenológica – Estuda a influência dos pressupostos e dos preconceitos sobre a mente,
e que os acionam ao estruturar a experiência e atribuir-lhe um significado. Além de uma atitude aberta e
receptiva, é necessário que o entrevistador atue como observador participante, e que, assim, seja capaz de
avaliar criticamente, através de sua experiência clínica e conhecimento teórico, o que está ocorrendo na
entrevista.
a) Psicométrico – O entrevistador faz uso constante de uma série de instrumentos: testes, pesquisas,
controle estatístico, etc., predeterminados, enquanto dispositivos para a aquisição de conhecimentos sobre
o entrevistado. Nessa situação, dificilmente o entrevistador conseguirá aprofundar a relação, o encontro
permanece mais em nível formal e informativo do que espontâneo, criativo e transformador. Isto não quer
dizer que seja menos válida ou mais superficial;
b) Psicodinâmico – A relação poderá ser mais aprofundada devido ao fato do entrevistador contar com
maior disponibilidade de tempo para questionar o entrevistado, e conduzir a situação de maneira “menos
estruturada”. Sua atenção não está no aqui e no agora, ela atende a uma dinâmica de causa-efeito na qual
submensagens poderão dificultar a comunicação;
Um dos aspectos essenciais da entrevista está na investigação que se realiza durante o seu transcurso. As
observações são registradas em função das hipóteses que o entrevistado emite. O entrevistador ordena na
seguinte disposição: observação, hipótese e verificação. Uma boa observação consiste, de algum modo,
em formular hipóteses que vão sendo reformuladas durante a entrevista em função das observações
subseqüentes. No entender de Bleger (1980), o trabalho do psicólogo somente adquire real envergadura e
transcendência quando coincidem a investigação e a tarefa profissional, porque estas são as unidades de
uma práxis que resguarda a tarefa mais humana: compreender e ajudar os outros. Assim, indagação e
atuação, teoria e prática, devem ser manejadas como momentos e aspectos inseparáveis do mesmo
processo.
Com exceção do primeiro tipo de entrevista, os demais exigem do entrevistador que desperte
interesse ou motive a participação do entrevistado.
8.2) Segundo Gil (1999), as entrevistas podem se dá em duas modalidades: Face a face e por
Telefone. A entrevista tradicional tem sido realizada face a face. No entanto, nas últimas
décadas vem sendo desenvolvida a entrevista por telefone.
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- Principais vantagens da entrevista por telefone, em relação à entrevista pessoal: custos mais
baixos; facilidade na seleção da amostra; rapidez; maior aceitação dos moradores das grandes
cidades, que temem abrir suas portas para estranhos; facilidade de agendar o momento mais
apropriado para a realização da entrevista;
8.3) Segundo Erickson (apud SCHEEFFER, 1977), algumas recomendações devem ser
aplicáveis ao processo de entrevista psicológica:
- O entrevistador deve ter o cuidado para não transformar a entrevista numa conversa social.
“Como posso ajudá-lo?”, é uma boa maneira de se iniciar uma entrevista;
- O entrevistador não deve completar as frases do entrevistado. Devem-se evitar perguntas
que induzam respostas do tipo “sim” ou “não”. Não interromper o fluxo do pensamento do
entrevistado, a não ser que ele se perca em idéias que fogem dos tópicos da entrevista;
- A atitude do entrevistador deve ser de aceitação completa das vivências do entrevistado.
Não deve haver discussão de pontos de vista;
- As pausas e silêncios são, quase sempre, embaraçosos para o entrevistador. Nesses
momentos, possivelmente, o entrevistado está revivendo experiências que não consegue
expressar verbalmente. Quando as pausas forem longas, o entrevistador poderá retomar um
tópico anterior que estava sendo discutido;
- O tempo de entrevista deve ser marcado, e o entrevistado será comunicado de quanto tempo
dispõe. Se necessário, marca-se outra (s) entrevista (s). Deve-se limitar o número de assuntos
em cada sessão para não confundir o entrevistado;
- É necessário trocar o pronome pessoal “eu”, pelo uso de expressões2 mais vagas, tais como:
“parece que ...”; “parece melhor ...”; etc.;
- Recomenda-se fazer o resumo do que fora discutido em cada final de entrevista. E que o
entrevistador faça uma síntese para o entrevistado do que foi abordado na sessão;
- O término da entrevista não deve transformar-se numa conversa social, sem nenhuma
relação com os problemas discutidos. Isto pode prejudicar o resultado da entrevista.
- Adotar uma atitude comum e casual. Ex. “Por acaso você ...”;
- Empregar a técnica “Kinsey” de olhar os inquiridos bem nos olhos, e colocar a pergunta sem
rodeios de modo a que eles tenham dificuldade em mentir;
- Adotar uma aproximação indireta de modo a que os inquiridos forneçam a informação
desejada sem terem consciência disso, a exemplo das técnicas projetivas;
- Colocar as perguntas perturbadoras na parte final do questionário ou da entrevista de modo
a que as respostas não sofram qualquer conseqüência desse efeito.
- A anamnese do sujeito que permite a observação dos comportamentos repetitivos que dão
uma idéia exata da sua personalidade: trata-se do ponto de vista histórico;
- A observação do comportamento do paciente quando da primeira entrevista também
fornece indicações muito precisas sobre a organização da sua personalidade.
IX – DINÂMICA DA ENTREVISTA
O entrevistador, no seu papel de técnico, não deve expor suas reações e nem sua história de vida. Não
deve permitir em ser considerado como um amigo pelo entrevistado e, nem entrar em relação comercial,
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de amizade ou de qualquer outro benefício que não seja o pagamento dos seus honorários. Para Gilliéron
(1996), a investigação repousará:
O entrevistado deve ser recebido com cordialidade, e não de forma efusiva. Diante de informações prévias
fornecidas por outra pessoa, se deixa claro que essas não serão mantidas em reserva. Em função de não
abalar a confiança do entrevistado, estas lhe serão comunicadas. A reação contratransferencial deve ser
encarada com um dado de análise da entrevista, não se deve atuar diante da rejeição, inveja ou qualquer
outro sentimento do entrevistado. As atitudes deste não devem ser “domadas” ou subjugadas, não se trata
de querer triunfar e nem se impor perante o mesmo. Compete ao entrevistador averiguar como essas
atitudes funcionam e como o afetam. O grau de repressão do entrevistado, de um certo modo, tem uma
relação direta com o nível de repressão do entrevistador.
Necessariamente, o entrevistado que fala muito não traz à tona aspectos relevantes das suas dificuldades.
A linguagem que é um meio de transmitir informação, mas poderá ser também uma maneira poderosa de
se evitar uma verdadeira comunicação (BLEGER, 1980). Nem sempre, uma carga emocional intensa
significa uma evolução no processo. O silêncio é uma expressão não-verbal que muitas vezes comunica
bem mais que as palavras. O silêncio é, geralmente, o fantasma do entrevistador iniciante. Ele pode ser
também uma tentativa de encobrir a faceta de um momento o qual o sujeito não consegue enfrentar.
Castilho (1995) cita uma série de tipos de silêncio que são comuns nas dinâmicas de grupo, mas que
também ocorrem, com bastante freqüência, no processo de entrevista, etc. Para ilustrar foram destacados
alguns tipos de silêncio:
A ansiedade é parte da existência humana, todas as pessoas a sentem em grau variado, por
vezes consiste em uma resposta adaptativa do organismo (SIERRA, 2003). Para Bion (apud
ALMEIDA & WETZEL, 2001), se duas pessoas estão numa sala de análise sem angústia, não
está havendo análise (p.272). Calligaris (apud GOLDER, 2000), percebe que em todo
encontro, o outro está imediatamente implicado enquanto “semelhante imaginário”, o que se
busca primeiro é uma tela, uma espécie de cumplicidade que supõe um sentido comum ao que
estamos dizendo(p.151). Desse modo, a ansiedade é um indicativo do desenvolvimento de
uma entrevista, e deve ser controlada pelo entrevistador, a sua própria, e a que aparece no
entrevistado.
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A manipulação técnica, de toda ansiedade, deve ser realizada com referência a personalidade
do entrevistado, e o nível de timing (sincronização e ajustamento) que se tenha estabelecido
na relação. Toda interpretação fora desse contexto implica em agressão ao paciente ou
entrevistado. Cabe ao psicólogo saber calar, na proporção inversa da sua vontade compulsiva
de interferir. Nessa ótica, Almeida & Wetzel (2001, p.271) dizem que a interpretação algumas
vezes vem de um desejo de intervenção com a finalidade de eliminar angústias (perda de
continência), instados pela situação e autorizados pelo setting (grifo dos autores).
Segundo Piaget (apud GIL, 1999), o bom entrevistador deve reunir duas qualidades: saber
observar (não desviar nada, não esgotar nada); saber buscar (algo de preciso, ter a cada
instante uma hipótese de trabalho, uma teoria, verdadeira ou falsa, para controlar) (grifo do
autor). Douglas (apud FODDY, 2002) corrobora com essa idéia quando afirma que
entrevistar criativamente é ter determinação atendendo ao contexto, em vez de negar, ou não
conseguir compreender. O que se passa numa situação de entrevista é determinado pelo
processo de perguntas e respostas, a entrevista criativa agarra o imediato, a situação concreta,
tenta perceber de que modo esta afetação vai sendo comunicada e, ao compreender esses
efeitos, modifica a recepção do entrevistador, aumentando, assim, a descoberta das
verdades3.
a) Transferência
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Nessa perspectiva, Gilliéron (1996) diz que todo paciente procura obter alguma coisa do
terapeuta. Ele não busca apenas a cura de um sintoma, mas também certa qualidade de
relação (p.14). O entrevistado revela aspectos irracionais ou imaturos de sua personalidade,
seu grau de dependência, sua onipotência e seu pensamento mágico. As transferências
negativas e positivas podem coexistir num mesmo processo, embora, quase sempre com
predomínio relativo, estável ou alterado, de uma delas. Segundo Sang (2001), é a situação
analítica e não a sua pessoa o que levou a paciente a se apaixonar por ele, isto é, que o amor
de transferência é essencialmente impessoal. [...] o analista não deve nem reprimir nem
satisfazer as pretensões amorosas da paciente. Deve sim, tratá-las como algo irreal
(pp.319-20). No que é confirmado por Yalom (2006), quando diz que os sentimentos que
surgem na situação terapêutica geralmente pertencem mais ao papel que à pessoa, é um
equívoco tomar a adoração transferencial como um sinal de sua atratividade ou charme
pessoal irresistível (p.175).
b) Contratransferência
X – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para que o instrumento Entrevista Psicológica, de fato, se efetive como auxiliar no trabalho do psicólogo,
não é o bastante a sua compreensão ou domínio teórico e técnico que fundamenta e norteia sua prática,
mas também de experiências que são adquiridas em rollyplays através de estágio, supervisão; laboratório
ou oficinas de sensibilidade. É preciso desenvolver a sensibilidade para entrevistar, aprender ser empático,
saber lidar com a própria subjetividade e com a subjetividade do outro (entrevistando), facilitando assim
que seu universo, um tanto livre das “ameaças”, se descortine. O entrevistador precisa adquirir à
habilidade da “dissociação instrumental”, e ser capaz de adentrar esse universo, sem juízo de valor, sem
preconceito, para que assim possa estar com o Outro, conhecer, não temer, se perder e se achar e,
finalmente, voltar à realidade do contexto. E agora, de posse de sua bagagem técnica tecer suas
observações, ponderações e considerações, de modo axiomático, considerado que a utópica da
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neutralidade sempre deverá ser perseguida. Os princípios éticos serão avivados em cada encontro, e
nenhum instrumento poderá adquirir uma aura de prevalência sobre a pessoa do entrevistado, que é mais
importante e assim deve ser respeitado. O que não significa ser “meloso”, por demais solicito, muito
menos autoritário. O entrevistador deve habilitar-se em se inscrever na virtualidade da distância e
proximidades ótimas que o trabalho possa fluir. Ser a pessoa na figura do profissional imbuído da intenção
singular de realizar uma atividade sem perder sua essência humana. Nesse investida, é fundamental que o
profissional se “conheça”, e que faça de rotineiras as reflexões sobre suas atitudes, postura e
comportamento, bem como de que tenha também flexibilidade em reformulá-los, quando a necessidade
aponte. Muito do trabalho do psicólogo certamente vem em conseqüência do auto “mergulho” que lhe
dará a base na qual se apóiam à sua atuação e intervenção com toda transparência.
NOTAS
1 - Expressão usada na psicanálise para designar o modo de relação do sujeito com seu mundo, relação
que é resultado complexo e total de uma determinada organização da personalidade, de uma apreensão
mais ou menos fantasística dos objetos e de certos tipos de defesa (LAPLANCHE & PONTALIS, 2004).
2 - Yalom (2006), diz que os terapeutas têm jeitinhos ardilosos, e se pergunta o que os terapeutas fariam
sem recorrer ao recurso do “eu me pergunto”? “Eu me pergunto o que o impede de agir em relação a uma
decisão que parece que você já tomou”.
3 - Para Nietzsche, “Não existe verdade, só existe interpretação” (apud YALOM, 2006).
XI - REFERÊNCIAS
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fenômenos emocionais na relação mãe-bebê, no observador e no pequeno grupo de discussão. Revista
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FIORINI, Hector J. Teoria e técnica de psicoterapias. Trad. Carlos Sussekind. 7 ed. Rio de Janeiro:
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FREUD, Sigmund (1914). Repetir, recordar e elaborar. Trad. J.O.A. Abreu. v. XII. Rio de Janeiro: Imago,
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SIERRA, Juan Carlos. Ansiedad, angustia y estrés: três conceptos a diferenciar. Revista Mal-Estar e
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