CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA DE SOLOS SOB CAFEEIRO SUBMETIDO A
DIFERENTES MÉTODOS DE CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS.
Arthur Manuel Silva Pinto(1); Rogério Melloni(2) ; Eliane Guimarães Pereira Melloni (3)
(1)
Discente do Curso de Engenharia Ambiental, Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI), Av. BPS, 1303, bairro Pinheirinho, Itajubá –
MG, CEP: 37500 903. E-mail: arthurmanuel_sp@yahoo.com.br; (2) Doutor em Ciências, área de concentração em Solos e Nutrição de
Plantas; Instituto de Recursos Naturais; Universidade Federal de Itajubá; (3) Doutora em Ciências, área de concentração em Solos e Nutrição
de Plantas; Instituto de Recursos Naturais; Universidade Federal de Itajubá.
Resumo – A cafeicultura é a principal atividade
agrícola de Minas Gerais, sendo o estado o maior
produtor nacional. A crescente preocupação pela
manutenção da sustentabilidade do meio ambiental tem
levado os agricultores e pesquisadores a repensar o
modelo atual de produção agrícola, com necessidade de
adoção de métodos de produção e manejo menos
agressivos. O objetivo do presente estudo foi avaliar a
qualidade bioquímica e microbiológica do solo sob
lavoura cafeeira submetida a diferentes métodos de
controle de plantas daninhas, em São Sebastião do
Paraíso – MG, por meio de atributos bioquímicos. As
coletas de solo foram feitas em dois locais: centro da
rua e linha das lavouras em estudo. As análises
bioquímicas das amostras coletadas de solo (atividade
microbiana, carbono da biomassa microbiana,
quociente metabólico, e de enzimas do solo por meio
da hidrólise do diacetato de fluoresceína) foram feitas
no Laboratório de Microbiologia da UNIFEI e os dados
obtidos foram submetidos à análise de variância
empregando-se o teste de Duncan a 5% de
significância. Os resultados obtidos mostram que os
diferentes métodos de combate às plantas daninhas
causam impactos diferentes em cada atributo, tanto no
centro da rua quanto na linha. O quociente metabólico,
qCO2, indicou maior efeito negativo na qualidade
bioquímica do solo onde foram aplicados herbicidas
pré ou pós-emergentes.
Palavras-Chave: biomassa; enzimas do
qualidade microbiológica do solo.
INTRODUÇÃO
O café (Coffea) é o principal gênero da família das
Rubiáceas, a qual abrange mais de 10.000 espécies
agrupadas em 630 gêneros (Toledo et al., 2002). No
Brasil as espécies de interesse comercial são o Coffea
arabica e Coffea canephora. A cafeicultura nacional
caracteriza-se por extensas áreas de monocultivo a
pleno sol com variedades selecionadas geneticamente.
A produção mundial do café vem aumentando nos
últimos anos, com o aumento da demanda devido ao
crescimento populacional. Porém, as áreas ocupadas
não cresceram nas mesmas proporções, pois o cultivo
tornou-se mais adensado, com o número de plantas por
hectare passando de 800-1500 plantas/ha para 3000-
7000 plantas/há, os chamados cultivos adensados. Esse
tipo de cultivo reduz a erosão do solo, aumenta os
conteúdos de matéria orgânica e de nutrientes no solo,
segundo Pavan et al. (1997) apud Theodoro et al.
(2003).
A cafeicultura é a principal atividade agrícola de
Minas Gerais, sendo o estado maior produtor nacional,
com extensas áreas de monocultura que movimenta
parte da economia através da produção, além da
geração de empregos para a população que vive nessa
região.
Atualmente, a preocupação crescente com a
manutenção da sustentabilidade desse ecossistema tem
levado os agricultores e pesquisadores a repensarem o
modelo atual de produção agrícola, tornando os
métodos de manejo e produção menos agressivos e
contribuindo para uma melhor qualidade no
desenvolvimento dessa cultura.
As plantas daninhas competem com as culturas por
recursos essenciais como luz, água, nutrientes e, na
cultura do café, principalmente durante o período de
floração, a competição pode diminuir
significativamente a produção e comprometer o seu
desenvolvimento. Por isso, o controle de plantas
daninhas é uma prática essencial e comum na lavoura
cafeeira, sendo realizada com técnicas manuais,
mecânicas ou químicas, ou mesmo de forma associada,
representando uma grande parte dos custos da
solo; produção.
Uma forma de avaliar a qualidade do solo é por
meio do estudo de alguns atributos ligados a este.
Aspectos bioquímicos são bons indicadores e podem
dar indicativos de como está a sua sustentabilidade.
Entre os atributos bioquímicos do solo que apresentam
potencial de utilização como indicadores sensíveis do
estresse ecológico, e já indicados por diversos
pesquisadores, destacam-se a biomassa microbiana,
atividade de microrganismos heterotróficos e o
quociente metabólico qCO2 (Kuperman e Carreiro,
1997; Marchiori Júnior e Melo, 1999; Carneiro, 2000;
Fortes Neto, 2000; Vargas e Scholles, 2000; Kaneshiro
et al., 2005; Silveira et al., 2006; Arantes e Melloni,
2006; Lima e Melloni, 2007).
A biomassa microbiana do solo é definida como a
parte viva da matéria orgânica e, além de armazenadora
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de nutrientes, pode servir como um indicador rápido de
mudanças no solo, revelando a sensibilidade da
microbiota a interferências no sistema (Grisi, 1995).
Sua avaliação dá indicações sobre a ciclagem da
matéria orgânica, podendo atuar como fonte e dreno de
nutrientes através de processos de mineralização e
imobilização. Como a avaliação da biomassa
microbiana é relativamente rápida quando comparada à
avaliação direta da produtividade vegetal, esta pode ter
enorme aplicação na avaliação da qualidade de solos.
O qCO2 é considerado muito importante na
avaliação dos efeitos das condições ambientais sobre a
atividade microbiana do solo, sendo referido como taxa
de respiração específica da biomassa (Anderson e
Domsch, 1993). Distúrbios no solo causam uma
elevação do qCO2, enquanto o período de sucessão
primária e desenvolvimento do ecossistema durante a
sucessão secundária promovem redução desta relação.
O solo, como entidade biológica, é um sistema
bioquímico altamente regulado pela ação de
catalisadores, as enzimas, onde as principais reações
são mediadas pelas hidrolases e oxirredutases, enzimas
que controlam os processos de decomposição dos
materiais orgânicos e transformações inorgânicas
(Moreira e Siqueira, 2002). O estudo da atividade
enzimática do solo pode elucidar o efeito do manejo,
do uso e também de outras influencias antrópicas sobre
o solo, e pode também ser utilizado como indicador de
atividade microbiana. Devido à alta sensibilidade
relatada à atividade antrópica (Grisi, 1995) e à
simplicidade de determinação, os atributos bioquímicos
selecionados apresentam grande potencial de serem
utilizados como indicadores da qualidade de solos,
sendo dessa forma de grande importância na
caracterizaçao do solo sob cafeeiro submetido a
diferentes métodos de controle de plantas daninhas.
Dessa forma, os objetivos gerais do presente estudo
são avaliar atributos bioquímicos do solo sob lavoura
cafeeira submetida a diferentes métodos de controle de
plantas daninhas e verificar a adequabilidade de sua
utilização como indicadores da qualidade desses solos
mediante tais manejos.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi instalado na Fazenda
Experimental da EPAMIG, em São Sebastião do
Paraíso, MG, em 1974, em um latossolo vermelho
distroférrico com textura argilosa, originalmente sob
floresta tropical subperenifolia, transicional para
cerrado.
O delineamento experimental utilizado foi em
blocos casualizados, realizada em faixas, com sete
tratamentos (Tabela 1) e três repetições. As
amostragens do solo para as análises bioquímicas
foram realizadas em abril de 2010.
A amostra composta para cada tratamento e
repetição foi obtida coletando-se três amostras simples
nos primeiros 10 cm do solo, em dois locais de estudo:
uma no centro da rua do café e outra a 20 cm do caule
da planta do café. As amostras de solo foram
acondicionadas em sacos plásticos e encaminhadas
- Resumo Expandido -
imediatamente ao Laboratório de Microbiologia, da
UNIFEI, peneiradas em malha de 2 mm e mantidas a 4
o
C até a avaliação dos atributos bioquímicos.
Tabela 1. Tratamentos aplicados ao cafeeiro
submetido a diferentes métodos de controle de plantas
daninhas
Tratamento Identificação
RÇ Roçadeira
GR Grade
RT Enxada Rotativa
HC Herbicida pós-emergência ou contato
HR Herb. pré-emergência ou residual
CM Capina manual
SC Testemunha sem capina
O carbono da biomassa foi avaliado segundo
Ferreira et al. (1999), empregando-se o método da
irradiação/incubação, o qual apresenta como princípio
básico a eliminação de microrganismos através da
irradiação eletromagnética de forno de microondas,
antes da avaliação da quantidade de CO2 liberada após
incubação por 10 dias, à temperatura ambiente. A
atividade microbiana foi avaliada pela quantificação do
CO2 liberado durante a incubação do solo em sistema
fechado, onde o CO2 será capturado em solução de
NaOH 1 mol L-1 e posteriormente titulada com HCl 1
mol L-1.
O quociente metabólico (qCO2) foi obtido pela
relação entre atividade microbiana (respiração basal) e
BM-C, expressa em quantidade de CO2 por carbono da
biomassa por tempo (Anderson e Domsch, 1993).
Para enzimas do solo, foi utlizada metodologia de
determinação da hidrólise do diacetato de fluoresceína
sendo esta baseada no trabalho de Dick (1994), com
modificações propostas por Gannan (2009).
Os dados obtidos foram submetidos à análise de
variância (ANOVA), empregando-se o teste de Duncan
a 5 % de significância para comparação das médias
entre os tratamentos. O programa estatístico utilizado
foi o ASSISTAT (Silva e Azevedo, 2009).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As médias da atividade microbiana nas amostras de
solo de cada tratamento encontram-se na figura 1.
Verifica-se que houve diferença significativa entre os
tratamentos para as amostras de solo coletadas na linha
do cafeeiro. O tratamento CM, capina manual, tendeu a
proporcionar os maiores valores de atividade
microbiana, inferindo-se que o impacto nesse atributo
foi positivo e estimulante. No entanto, os tratamentos
RÇ e HR, respectivamente roçadeira e herbicida de
pré-emergência ou residual, foram responsáveis pelos
menores valores, indicando impacto negativo na
atividade microbiana. Os demais tratamentos não
diferiram entre si. Para as amostras coletadas no centro
da rua do cafeeiro, não houve efeito dos tratamentos
para o atributo atividade microbiana (dados não
apresentados), evidenciando que o impacto dos
diferentes métodos de manejo ocorreu mais
intensamente nas linhas.
2
 - XXXIII CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO -
Figura 1. Atividade Microbiana na linha do café, em
função dos tratamentos. As médias seguidas pela
mesma letra não diferem estatisticamente entre si.
Tratamentos: RÇ (Roçadeira), GR (Grade), RT
(Enxada Rotativa), HC (Herbicida pós-emergência
ou contato), HR (Herb. pré-emergência ou
residual), CM (Capina manual) e SC (Testemunha
sem capina).
Dados do carbono da biomassa microbiana
encontram-se na Figura 2.
Figura 2. Carbono Microbiano na linha do café, em
função dos tratamentos. As médias seguidas pela
mesma letra não diferem estatisticamente entre si.
Tratamentos: RÇ (Roçadeira), GR (Grade), RT
(Enxada Rotativa), HC (Herbicida pós-emergência
ou contato), HR (Herb. pré-emergência ou
residual), CM (Capina manual) e SC (Testemunha
sem capina).
Os valores apresentados na figura 2 para as
amostras de solo coletadas na linha mostram efeitos
variados, tendo os tratamentos com roçadeira (RÇ),
Enxada Rotativa (RT) e Herbicida pós-emergência ou
contato (HC) contribuído para os maiores valores, e os
tratamentos testemunha sem capina (SC) e grade (GR)
com os menores valores de carbono da biomassa
microbiana. A ausência de capina (SC) e utilização da
grade (GR) podem ser considerados dois tratamentos
opostos quanto à agressividade de revolvimento da
camada superficial do solo. No entanto, ambos
proporcionaram os menores valores de biomassa.
Outras informações teriam que ser obtidas da capina
para especulações quanto a esse comportamento.
- Resumo Expandido -
Os resultados obtidos das coletas de amostras de
solo feitas no centro da rua (dados não apresentados)
mostram que os valores da biomassa microbiana em
todos os tratamentos foram estatisticamente iguais. Isso
indica novamente que os tratamentos exercidos no
centro da rua para controle de plantas daninhas não
comprometeram a biomassa microbiana, importante em
diversos processos de funcionamento do solo. A
biomassa microbiana é um ótimo indicador para o solo,
já que esta funciona como armazenadora de nutrientes,
e a sua determinação indica qual a sensibilidade dos
microrganismos do solo perante interferências (Grisi,
1995). Para este caso, sua sensibilidade em indicar
impactos dos tratamentos se restringiu somente ás
amostragens realizadas na linha do cafeeiro.
Para o qCO2, em oposição aos resultados obtidos
para atividade e biomassa microbianas, houve
diferença significativa entre os tratamentos somente no
centro da rua, onde foram aplicados os manejos de
plantas daninhas (figura 3). No centro, o tratamento
que proporcionou maior valor e, consequentemente,
maior estresse microbiano (Valsecchi et al., 1995), foi
o HC (herbicida de contato), seguido do tratamento HR
(herbicida de pré-emergencial ou residual), sem
diferença estatística entre os demais.
Figura 3. Quociente metabólico, qCO2, no centro da
rua do café, em função dos tratamentos. As
médias seguidas pela mesma letra não diferem
estatisticamente entre si. Tratamentos: RÇ
(Roçadeira), GR (Grade), RT (Enxada Rotativa),
HC (Herbicida pós-emergência ou contato), HR
(Herb. pré-emergência ou residual), CM (Capina
manual) e SC (Testemunha sem capina).
Os valores obtidos para a hidrólise de FDA (dados
não apresentados) mostram que não houve efeito
estatístico dos tratamentos utilizados no controle de
plantas daninhas, nem na rua nem na linha do cafeeiro.
Ou seja, a hidrólise não foi sensível na discriminação
do efeito dos tratamentos na microbiota do solo,
avaliada por essa enzima. A hidrólise de FDA tem sido
considerada um bom indicador da atividade total de
decompositores do solo por Gannan (2009), podendo
estar relacionada com a matéria orgânica do solo, com
atributos físicos, e também com a biomassa e atividade
microbiana (Araújo, 2007 apud Dick et al., 1996). No
3
 - XXXIII CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO -
entanto, tal sensibilidade não foi expressa nas
condições do presente estudo.
CONCLUSÕES
1. Os métodos de controle de plantas daninhas, bem
como os locais de amostragem do cafeeiro, afetaram de
forma diferenciada os atributos bioquímicos avaliados.
2. A atividade e carbono da biomassa microbiana,
contrariamente ao quociente metabólico, não foram
sensíveis em discriminar o efeito dos métodos de
controle de plantas daninhas no centro do cafeeiro, mas
somente na linha.
3. O impacto dos diferentes métodos de controle de
plantas daninhas na comunidade microbiana, avaliado
pelo quociente metabólico, foi mais negativo no centro
da rua quando envolveu a aplicação de herbicidas, pré
ou pós-emergencial.
4. A sensibilidade entre os atributos bioquímicos de
discriminar os impactos causados por diferentes
métodos de controle de plantas daninhas é diferente,
sendo o menos sensível e não recomendável para
estudos de qualidade do solo, nas condições
experimentais, a quantidade de fluoresceína avaliada
pela hidrólise de diacetato de fluoresceína.
AGRADECIMENTOS
Os autores gostariam de agradecer o apoio da
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas
Gerais (FAPEMIG).
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