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MONOGRAFIA DE CONCLUSÃO
ligare
Americana, dezembro de 2001
ÍNDICE
Introdução 01
Objetivos 03
Público alvo 03
Formação do grupo 03
Programação 03
Desenvolvimento do programa 04
Fundamentação teórica 07
Conclusão 15
Referências Bibliográficas 16
Introdução
1
Clínica Psicológica Ana Maria Poppovic, Intermédica São Camilo (Ambulatório de Ginecologia),
Centro de Saúde Municipal de Piracicaba e Escola de Educação Infantil Primeiros Tempos.
2
Entendo como educadores todos aqueles que têm por objetivo educar, portanto pais,
professores, pedagogos, diretores de escolas, psicólogos, médicos, nutricionistas, dentistas,
enfermeiros, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, babás etc.
Buscam a adaptação, interessando-se muito pouco pelos motivos pelos quais as
crianças se comportam, naquele momento, daquele jeito, e menos ainda se
questionam sobre a qualidade da relação que estabelecem com elas.
Na entrevista inicial, alguns se queixam da agressividade excessiva,
desorganização, hiperatividade, birras constantes, denunciando uma criança “ativa
demais”. Outros reclamam da falta de interesse dos filhos pela vida, pouco
relacionamento com outras crianças e insegurança, medos excessivos, indicando uma
criança “ativa de menos”.
Fico me questionando como essas crianças montam esses processos de defesa.
Com o quê elas se deparam, ao longo de seus relacionamentos, para padronizar, se é
que haviam padronizado precocemente seu comportamento.
Questiono também, essa padronização, nesse momento do atendimento, pois
esse adulto poderá estar sendo tendencioso ao olhar para aquela criança.
Solicito então, que os pais me dêem exemplos de como lidam com os problemas
descritos acima, e cito algumas frases para exemplificar a tentativa em dar limites,
baseado na crença de se educar as crianças.
“Lá em casa se eles não me obedecem, eles obedecem ao Piaget. Piaget é o
nome do meu chinelo”. Engenheiro, professor universitário, 3 filhos, comentando sobre
a educação rígida que dá a eles.
“Cala a boca, se não eu quebro os seus dentes com meu tapa”. Mãe, engenheira,
contando como lidou com a ousadia do filho de 7 anos ao questionar as regras da casa.
“Criança não tem que achar nada, tem que obedecer”. Comentário feito por um
estudante universitário, pai de dois filhos, um menino de 6 e uma menina de 4 anos,
em um grupo de orientação para pais.
“Comporte-se, se não eu mando o bicho papão comer você de noite”. Engenheiro,
dirigindo-se a sua filha de 2 anos e meio, quando ela tentava subir em uma cadeira.
“Você é feio, não gosto mais de você”. Mãe, pedagoga e aeromoça, tentando
educar seu filho de 4 anos que não se deve arrotar em público.
“Enquanto você não fizer isso sem erro, eu não deixo você sair do seu quarto”.
Pai, engenheiro, contando como tentou fazer que a filha de 3 anos e 10 meses
arrumasse seu quarto.
“Seja bonzinho porque o papai do céu está vendo tudo de mal que você está
fazendo agora”. Avó, segundo grau incompleto, contando como tentou dissolver uma
briga entre os netos de 5 e 6 anos.
“Você é um burro mesmo, não faz nada direito”! Avó, dirigindo-se ao seu neto de
4 anos quando ele derrubou um copo de água sobre a mesa, em atendimento
psicológico, mostrando-me que ela se importava com o que ele fazia.
“Cale a boca, se não Jesus castiga”. Mãe, pedagoga, na tentativa de fazer seu
filho de 4 anos parar de falar em uma missa.
“Não dê colo ao seu filho porque ele pode acostumar”. Pediatra, aconselhando
uma mãe com seu primeiro filho de um mês, em relação aos choros noturnos.
“Se você não parar quieto, enquanto eu falo com a doutora, eu falo para ela lhe
dar uma injeção”. Mãe, primeiro grau incompleto, tentando controlar seu filho de 6
anos e meio na primeira entrevista psicológica.
“Não mexa aí, hem que eu te levo para o dentista”. Mãe, primeiro grau
incompleto, tentando dar limite ao filho de 3 anos.
“Sei que minha filha não tem limite. Ela é igualzinha a mim. Então, vê se você dá
limite a ela porque eu não vou dar e o pai já desistiu dela”. Mãe, segundo grau
incompleto, solicitando-me na entrevista inicial, que eu fizesse algo em terapia com
sua filha de 17 anos.
Todas as frases acima indicam a tentativa de colocação de limite às crianças, o
problema é como colocar esse limite, quando e com qual intensidade.
Procuro com esse trabalho propor uma forma de trabalho com os educadores,
que os possibilite ir ao encontro de sua criança interna e a partir desse referencial, de
sua própria história, promoverem um encontro mais autêntico com as crianças com as
quais convivem.
Objetivos
• Proporcionar aos educadores uma oportunidade de convívio com outras pessoas
que passam por conflitos semelhantes.
• Vivenciar situações que possibilitem aos educadores um maior encontro com eles
mesmos, promovendo a reflexão e a ampliação da consciência.
• Proporcionar-lhes, de forma simplificada, uma maior compreensão da dinâmica
infantil, através das fases de desenvolvimento emocional das crianças, à luz da
psicanálise.
• Intensificar a intimidade entre educadores e crianças, conscientizando-os de suas
próprias reações em relação às atitudes das crianças.
Público alvo
Formação do grupo
Programação
Desenvolvimento do programa
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Na família medieval a educação se dava através da aprendizagem. As famílias não
conservavam suas crianças nas próprias casas, enviavam-nas para outras famílias,
com ou sem contratos, para que começassem suas vidas, aprendessem um ofício, que
freqüentassem uma escola, ou que aprendessem as letras latinas. O trabalho
doméstico e a aprendizagem confundiam-se.
A criança também era vista como um entretenimento para os adultos, como diz
Montaigne: “ainda se compreende o gosto pelo pitoresco e pela graça deste pequeno
ser, ou o sentimento da infância engraçadinha, com que nós, adultos, nos divertimos
para o nosso passatempo, assim como nos divertimos com os macacos”, citado por
Ariès, 1986; p.58.
Esse distanciamento em relação às crianças se dava em parte pela alta mortalidade
infantil, não se apegava a quem poderia se perder com facilidade.
A partir da obra Emille, de Rousseau, a criança começou a ser vista pelos
intelectuais da época, não mais como uma miniatura dos adultos, mas com um lugar
diferenciado. Ainda nesse momento as crianças eram amamentadas pelas amas de
leite, mas esta passou a se deslocar e ir até as famílias para morar com elas, até o
momento em que os processos de higiene e assepsia permitiram utilizar sem riscos o
leite animal. Isto é até o fim do século XIX.
Um século depois, em 1905, Freud, escreve Três ensaios sobre a teoria da
sexualidade, onde discorre sobre a sexualidade infantil, num momento em que mal se
falava sobre a sexualidade adulta. A partir da psicanálise freudiana, novas abordagens
teóricas foram sendo investigadas e desenvolvidas.
É importante salientar o processo de desenvolvimento psico-social no qual a
criança passa a ser inserida, isto é, a infância passa a ter importância para a formação
do futuro adulto.
Freud dizia que a criança não é um ser sexual neutro, mas é menino ou menina.
Esta é mais uma contribuição psicanalítica, no sentido de uma diferenciação sexual.
Nesse momento, a criança pode ser vista sendo diferente do adulto e apresentando
uma diferença entre os sexos.
A seguir, exploro essas fases do desenvolvimento.
Fase Primitiva:
Primeiro a criança chupa para se alimentar e depois para obter satisfação e
prazer (chupa o dedo, chupeta, fralda etc.).
Fase tardia:
Com o nascimento dos dentes e o desmame. A criança também passa a
morder.
A criança sente a mãe como seu prolongamento, pois é egocêntrica (nos 3
primeiros meses). O envolvimento afetivo criado entre mãe e filho, nesse momento, é
muito intenso. Por um lado pela desproteção e total dependência da criança à mãe, e
por outro, pelo preenchimento de um desejo de ser mãe. A essa mútua dependência
dá-se o nome de processo simbiótico.
Mamar é a primeira forma de prazer que a criança alcança com seu próprio
esforço.
Mais do que matar a fome e a sede, mamar, para o bebê é a inauguração da
capacidade de se relacionar com o mundo. É o primeiro vínculo de carinho com a mãe.
Os sentimentos de amor e ódio, que são inatos ao ser humano, também já
estão presentes. O amor da criança se manifesta como resposta à gratificação de seus
desejos (sentimentos de conforto físico e emocional –ex.: saciedade de fome, sensação
de conforto com a troca de fralda, sentimento de aconchego ao ser pego no colo e
embalado para dormir, supressão da dor etc.).
O ódio se manifesta em forma de agressão, como reação à frustração.
Quando a criança não é atendida no que deseja ou no momento em que deseja. Ex.:
alguns choros, mordida, jogar objetos.
É um período de grande desenvolvimento físico, a criança passa de uma
total dependência do adulto para conquistas de independência e de locomoção
(engatinhar, andar).
Há uma ausência de limites somada a uma intensa manifestação dos
impulsos de busca pelo objeto externo.
As relações de confiança da fase oral atualizam a imagem da mãe.
FASE ANAL (1 A 3 ANOS)
A região de prazer é prioritariamente o ânus. A obtenção do prazer é dirigida e controlada pela
criança.
O prazer nasce quando as fezes deslizam pelo orifício anal.
Conclusão
ALBERTINI, Paulo. Reich: história das idéias e formulações para a educação. São
Paulo, Ágora, 1994.
ARATANGY, Lidia Rosemberg. Olho no olho. São Paulo. Editora Olho d’Água,
BETTELHEIM, Bruno. Uma vida para seu filho. Pais bons o bastante. Rio de Janeirro,
Editora Campus, 1988.
____ . A Psicanálise dos contos de fadas. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1980.
DIECKMANN, Hans. Contos de fada vividos. São Paulo, Edições Paulinas, 1986.
REICH, Wilhem. “Os Jardins de Infância na Rússia Soviética” (1936). In: Conselho
Central dos Jardins de Infância Socialistas de Berlim; Schmidt, Vera; Reich,
Wilheim. Elementos para uma Pedagogia Anti-Autoritária. Trad. J. C. Dias, Antonio
Sousa, Antonio Ribeiro e Maria C. Torres. Porto, Escorpião, 1975, p. 39-52.
REICH, Wilhem. “Os pais como educadores: a compulsão a educar e suas causas”
(1926). In: Conselho Central dos Jardins de Infância Socialistas de Berlim;
Schmidt, Vera; Reich, Wilheim. Elementos para uma Pedagogia Anti-Autoritária.
Trad. J. C. Dias, Antonio Sousa, Antonio Ribeiro e Maria C. Torres. Porto,
Escorpião, 1975, p. 53-68.
SPITZ, René A. O primeiro ano de vida. São Paulo, Martins Fontes, 1988.
YOZO, Ronaldo Yudi K. 100 jogos para grupos. São Paulo, Agora, 1996.
WINNICOTT, D.W. A criança e o seu mundo. São Paulo. Zahar Editores 1965.
ANEXO 1
Questionário inicial
1. Dados pessoais
Nome:
Idade:
Endereço:
Bairro:
CEP:
Cidade:
e-mail:
Telefone residencial:
Profissão:
Atividade de trabalho:
Telefone de trabalho:
Carga horária de trabalho semanal:
Número de filhos e idade deles:
condenado, e contra ele pode ser dirigido o ódio sem implicar em sentimento de culpa.
Ciúme do marido: falta de amor ao marido que a faz projetar que o marido não lhe
tem amor suficiente.
A criança agride por sentir que seu lugar está ameaçado, e não deve “engolir” a
sua raiva sem que seja conversado sobre ela e devidamente canalizada.
JOÃOZINHO E MARIA
O lenhador ia levando a vida sem reclamar. Afinal, a mulher cuidava bem da casa e
gastava pouco dinheiro. Até que chegou uma época em que o preço das coisas subiu
demais. O homem não podia comprar quase nada com o que ganhava cortando lenha.
E, em pouco tempo, a comida da casa foi acabando.
- O que tem na despensa não dá para encher quatro barrigas – reclamou uma noite
a mulher. Duas vão ter que cair fora daqui. E o mais depressa possível.
- De que barrigas você está falando? – perguntou ele, mostrando que não tinha a
menor vontade de discutir.
- As dessas crianças, que não servem pra nada –respondeu ela. – Amanha mesmo,
vamos abandonar as duas no meio da floresta.
O marido achou ruim e disse que nunca ia fazer tamanha maldade. Mas a mulher
insistiu tanto que ele acabou concordando, de coração partido.
- Pode ficar sossegada – respondeu João. – Eu tenho uma idéia que não vai falhar.
Maria estava muito cansada e logo dormiu. Mas João ficou de olho aberto,
esperando que o pai e a madrasta terminassem de discutir os detalhes do plano.
Então, quando a casa ficou em silêncio, o garoto se levantou sem fazer barulho, foi ao
quintal e catou várias pedrinhas brancas.
De manhã, quando saíram para a floresta, ele foi largando as pedrinhas pelo
caminho.
- Agora, fiquem sentados nessa pedra, bem quietinhos. Eu e seu pai vamos cortar
lenha mais para lá. Se a gente demorar muito, vocês podem comer isso aqui.
Ela entregou um pedaço de pão para cada um e se afastou. O lenhador ainda
demorou um pouco, querendo abraçar os filhos pela última vez. Mas a mulher não
deixou e foram embora, arrastando o marido pelo braço.
- Será que eles largaram mesmo a gente aqui, no meio da floresta? – perguntou
Maria para o irmão.
- Não sei, respondeu o menino. – Vamos esperar. Pode ser que a gente não tenha
ouvido muito bem a conversa.
- Acho que eu entendi a conversa, sim... – suspirou João. – Eles largaram a gente
mesmo.
Aí, o menino pegou a irmã pela mão e voltou com ela para a casa.
- Pois não tem o que comer em casa – respondeu ela, engolindo a última colherada
de sopa que tinha sobrado.
- Ai, eu não sei onde estava com a cabeça quando me casei com você... – suspirou
o lenhador, muito triste.
E teve de ouvir outra vez a mulher dizer que precisavam largar as crianças na
floresta, porque não podiam mais sustentar quatro bocas.
- Amanhã eu me livro desses capetas de uma vez por todas – garantiu ela.
Desconfiado das malvadezas da madrasta, João esperou todo mundo dormir para ir
de novo pegar pedregulhos. Mas a porta estava trancada a sete chaves e ele não
conseguiu sair.
- O jeito vai ser marcar o caminho com pão – murmurou o menino. – Se ela me der
um pra comer...
- Guardem bem isso aqui. Hoje vocês não vão ganhar mais nada para comer.
Em seguida, todos foram pra a floresta. E o menino foi jogando migalhas de pão
pelo caminho, com cuidado para ninguém perceber.
- Não precisa ficar com medo – respondeu o garoto. – A gente vai voltar para a
casa. Eu marquei o caminho com pedaços de pão.
Enquanto falava, ele começou a procurar as migalhas que tinha jogado no chão.
Mas não encontrou nem sombra deles.
- Maninha, estamos perdidos! Acho que os passarinhos comeram tudo. Mas não
fique nervosa. Mesmo assim acho que dá para a gente encontrar o caminho – disse o
garoto.
Com essa esperança, andou numa direção. Então, viu que estava errado e rumou
para o outro lado. Assim, deu voltas e voltas, cada vez se perdendo mais na escuridão.
- A gente se perdeu, não é? – perguntou a menina, fazendo força para não chorar.
João não teve saída. Precisou confessar que não podiam mais voltar para casa.
- Quem sabe a gente não acha um lugar seguro para ficar? - disse ele,
esperançoso.
E os dois andaram a noite inteira pela floresta escura, sem encontrar um cantinho
para servir de abrigo.
Então, quando o dia clareou, avistaram ao longe uma casa, numa clareira. E, mais
que depressa, correram até lá.
Famintos como estavam, os irmãos não viam a hora de arrancar e provar todas
aquelas gostosuras em forma de pedaços da casinha. Mas antes que pudessem comer
algum doce, uma velhinha de xale e bengala os atendeu à porta.
A mulher fez os dois entrarem e serviu para eles leite, torta, mingau, rosquinha e
frutas. Depois que os meninos comeram até não poder mais, ela disse: - Vocês
parecem cansados. Não querem dormir um pouco? E levou os dois para um quarto
todo azul, onde havia duas camas. Os irmãos deitaram correndo e logo caíram num
sono de pedra.
Se as crianças tivessem a menor idéia de onde estavam, não teriam dormido tão
sossegadas.
A velha na verdade, era uma bruxa malvada que gostava de comer criança. Ela
tinha feito a casa de doce só para atrair meninos perdidos. Todos iam bater na sua
porta, eram muito bem tratados e depois viravam carne assada.
Enquanto eles dormiam, a bruxa foi ver se já estavam no ponto de ir para o forno.
Aí, pegou o braço do menino, examinou bem, e depois olhou para a menina. Então
abanou a cabeça, dizendo: - Como são magros! Vai levar tempo para engordar esses
palitos. E eles não eram tão magros assim. A velha é que era gulosa.
No outro dia, a bruxa acordou bem cedo e deixou de fingir que era boazinha. Para
começar, entrou no quarto das crianças e gritou, batendo a bengala no chão: - Para
fora da cama, andem! Vocês já dormiram demais.
Depois, levou João até o porão. E trancou o menino numa gaiola, para ele engordar
mais depressa. Por fim, mandou Maria trabalhar na cozinha.
- Trate de fazer bastante comida para o seu irmão – disse a velha. – Detesto comer
criança magricela.
- Claro! – respondeu a velha. – E depois será a sua vez. Por que acha que recolhi
vocês na minha casa?
- A velha é uma bruxa e vai comer a gente. Mas ela disse que não gosta de criança
magricela. Por isso, veja se come pouco, que é para não engordar nunca.
O menino já havia percebido que coisa boa a velha não estava planejando. E, nessa
hora, entendeu o que era.
- Pode deixar – disse ele, sem perder a calma. – Eu vou dar um jeito de enganar a
bruxa sem passar fome.
Nesse momento, a malvada desceu até o porão, para ver se o menino já tinha
engordado.
- Que coisa! O moleque come feito um gigante e não engorda nunca. Deve estar
com lombriga.
- Pois então vou comer a menina. E foi acender o forno. Depois, chamou Maria,
disse que queria cozinhar o pão e ordenou:
E não acabou de falar, porque Maria deu um empurrão nela com toda a força,
trancando a bruxa dentro do forno.
- Pra que tanta pressa? – perguntou o garoto. – Agora, a bruxa já virou carvão.
- E pra que ficar mais tempo nesta casa horrível? – quis saber Maria, louca para cair
fora dali.
- Para pegar o tesouro – explicou João. – Toda bruxa de verdade tem um tesouro
em casa, você não sabia? E quase sempre escondido no sótão. Vamos até lá.
Os dois subiram uma escada e chegaram ao sótão, onde haviam três baús cheios
de ouro e prata.
- Puxa! Esse tesouro vale mais do que imaginei! – gritou o menino. – Vamos
levar tudo isso pra casa.
Sem perda de tempo, João e Maria encheram os bolsos de moedas, jóias raras e
pedras preciosas. Com toda aquela riqueza, os dois saíram da casa de doce, onde
viveram assustados o tempo todo. E começaram a andar pela floresta, sem saber para
que lado ir. Até que encontraram um cisne num rio.
- É depois daquele lago. Vocês podem subir nas minhas costas. Eu levo vocês até lá.
Os meninos subiram e o cisne foi embora. Assim, atravessaram bem rápido até a
outra margem do lago.
Depois ficaram sabendo que a madrasta tinha morrido. E, daquele dia em diante,
os três nunca mais se separaram.
A interpretação do conto foi elaborada segundo a Análise Junguiana.
Análise do conto:
O que significa um conto de fada para a alma de uma criança?
Que sentido poderia ter além do entretenimento e da diversão?
Por que as crianças se interessam tanto pelos contos de fadas?
Os contos de fadas, assim como os mitos sagas e lendas, fazem uma ponte
tanto com o mundo externo como com o mundo interno.
Na sua vida o homem tem a tarefa de experimentar seu meio ambiente, de
subsistir nele de dominá-lo e formá-lo. O conto contribui para que a criança aprenda a
lidar com as dificuldades do dia a dia: as duplas informações, restrições e limites,
tomadas de decisão e escolhas.
Mas também, e não menos importante, é a conscientização e integração do
mundo interno. O conto de fada se presta como um meio de formação do mundo
interno. O mundo inconsciente.
Segundo Dieckmann (1986), geralmente o conto de fada é o primeiro e mais
contato e assimila. Ele tem sua origem não no mundo da fantasia de uma só pessoa,
Ele foi utilizado por outras culturas em tempos longínquos para educação e formação
espiritual, assim como remédio, na medicina hindu, para pessoas mentalmente
desorientadas.
Diekmann (1986) diz ainda, que as figuras e feições, como também a ação do
conto, são vividas não mais como acontecimento real do mundo exterior, mas como
personificação de formações e evoluções interiores da mente. Eles são símbolos e
surgem como representantes no lugar daquilo que, como dinâmica espiritual, se passa
no homem, e para o qual não pode ser encontrada imagem melhor nem mais exata.
Joãozinho e Maria é um conto que fala sobre a sobrevivência e abandono.
Os elementos da estória e seu significado direto.
• Só um pedaço de pão: miséria da família.
• Juntar as pedrinhas: como pista para a voltar para casa.
• Migalhas de pão para marcar o caminho: como alternativa das pedrinhas, já
que a madrasta havia trancado a porta para que as crianças não mais pudessem
pegá-las.
• Pássaro branco: condutor para a situação de satisfação da fome. Ele os leva para
a casa de pão de mel.
• Casinha de pão de mel: sonho de alimento numa situação de fome. Aplacar a
fome com doçura.
Ossinho: utensílio para enganar a bruxa e prolongar a vida.
Forno: para assar, preparar alimentos para aplacar a fome e sobreviver.
Tesouros: servem para tirá-los de uma situação de miséria.
Água intransponível: seria o último obstáculo para poder desfrutar da presença
do pai.
Pato: um meio para transpor a água.
Forno: símbolo da metamorfose, pois nele uma força da natureza deve ser
transmutada em algo comestível para o homem. O lado negativo-demoníaco do
instinto maternal estaria maturo para uma transformação.
Há uma conexão entre o mundo consciente e o mundo inconsciente uma vez
que no momento em que a bruxa é queimada, no inconsciente; a madrasta desaparece
na estória. Quando a situação consciente se empobrece e novas experiências não são
adquiridas, a vida fica estagnada e passa fome. Então é necessário que surjam
impulsos, tais como o da madrasta, que empurrem as crianças para o reino do
inconsciente, e uma vez que as crianças precisem dar conta de si mesmas, elas se
transformam e trazem para a consciência uma experiência nova, dando luz à natureza
consciente.