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Entre os que têm uma visão crítica sobre o meio, destaca-se o autor
italiano Giovanni Sartori, analisado aqui a partir de seu livro Homo videns. A idéia
central do autor é a de que o homem é um ser simbólico e a linguagem um
“instrumento” de comunicação humana e estimuladora do pensamento individual.
Com o entendimento assim formulado, Sartori identifica que, com a televisão e a
decorrente “primazia da imagem”, ocorre a “ruptura neste sistema de comunicação” (Sartori,
2001: 15), essencialmente humano. Para Sartori, a comunicação televisiva construiu
um indivíduo específico na superficialidade da imagem e constituiu o antipensamento.
“A televisão produz imagens e apaga os conceitos; mas desse modo atrofia a nossa
capacidade de abstração e com ela toda a nossa capacidade de compreender” (Sartori, 2001: 33).
Esta formulação sustenta o entendimento de que a televisão teria escapado ao
controle1 da sociedade e dos indivíduos, ganhando autonomia e mudando a essência
do ser humano, que é sua capacidade simbólica. O gestar de uma “geração-televisiva”,
através da primazia da imagem, teria como resultado a perda da capacidade de
1 - Sobre a análise crítica quanto à televisão, Giovanni Sartori afirma: “Assim, enquanto nos preocupamos com os que
controlam os meios de comunicação, não nos damos conta de que escapou do nosso controle o próprio instrumento em si” (Sartori,
2001: 8).
abstração dos indivíduos, tornando o ser humano em um ente “incapaz de
racionalidade” (op. cit.: 135).
2 - “Ao contrário, a imagem é pura e simples representação visual. Assim, para entender uma imagem, é suficiente vê-la; e para
vê-la basta a visão, é suficiente não ser cego. De fato não se vê a imagem em chinês, árabe ou inglês. Repito: é só vê-la e basta.
Enquanto a palavra é parte integrante e constitutiva de um universo simbólico, a imagem não é nada disso” (op. cit.: 22).
dimensão que “o indivíduo se sente ‘obsoleto’ antes de exaurido o seu ciclo biológico” (Sartori,
1997: 250).
3 - Sobre a complexidade da leitura de uma imagem televisiva, em particular no telejornalismo, vale citar Paul
Weaver, que se alinha a Sartori em algumas críticas que serão registradas em seguida. No entanto, mesmo que
se discorde do conjunto de seu trabalho, Weaver, ao apresentar o noticiário televisivo, nos mostra como na
leitura de uma imagem, em particular no telejornalismo, tem muito mais “entrelinhas”, do que em um texto
de jornal, o que não torna a sua leitura em algo tão simples, como pretende o autor italiano: “... o repórter da
televisão na câmara apresenta poucas fraquezas. A sua postura é tranquila e de mestre, a sua voz de comando, a sua dicção
perfeita; as suas deixas são faladas impecavelmente, a sua roupa impecável, feita por medida, e com combinação de cores, e o seu
cabelo está perfeitamente no lugar (ou não, conforme o estilo). Ele pode ser uma pessoa, mas está claramente a desempenhar um
papel, e na maioria dos casos (mas não em todos: há aqui uma medida de variedade), a postura que ele assume é de
omnisciência” (Weaver, in Traquina, 1993: 301).
4 - Giovanni Sartori revela uma preocupação elitista com o conhecimento e sua relação com a sociedade
como nestes trechos relacionados: “A televisão é avassaladora porque supera os assim chamados líderes intermediários de
opinião, e porque elimina a multiplicidade de ‘autoridades cognitivas’ que de várias maneiras determinam, para cada um de nós,
em quem crer, quem é digno de confiança e quem não. Pela televisão a autoridade está na própria visão, é a autoridade da
imagem. Não importa que as imagens possam enganar mais ainda do que as palavras ...” (idem: 55/56). Outro trecho
neste sentido é quando se refere ao episódio de Rodney King, negro espancado por policiais, nos Estados
Unidos, e filmado por um amador, o que resultou em intensas manifestações anti-racistas. O autor entende
“que o indivíduo espancado custara à polícia uma longa e perigosa perseguição”, e que o perseguido estaria “drogado e
embriagado, não atendendo às ordens de ficar parado”. Sartori conclui, diante desta compreensão, que “aquele fato
situado dentro do contexto não justificava de modo algum a explosão que produziu” e conclui: “Do jeito que foi mostrada,
aquela imagem era uma falsificação” (op. cit.: 86-87). Desta formulação depreende-se que o autor italiano justifica
O que, no entanto, também merece destaque na formulação de
Giovanni Sartori, mesmo discordando das suas conclusões, é a percepção de que o
conhecimento sofre uma grande influência da televisão, da televivência, produzindo
modificações no ambiente e possibilitando novas percepções sensoriais. Porém,
antes de servir para negar a televisão e sua potencialidade, este fato ressalta a
importância dos estudos da comunicação e a necessidade de ampliar a dimensão e o
aprendizado das várias leituras que a contemporaneidade proporciona, entre elas a
televisiva. O desafio que está posto é superar a limitação do aprendizado tradicional
que não incorpora as novas potencialidades de conhecimento e leituras desta
realidade de transição com novos meios e agentes5.
a violência policial a partir do delito cometido, ou seja, a vítima do espancamento policial mereceu a violência,
e a televisão é que deturpou a ordem das coisas. O viés conservador de Sartori pode ser visto ainda na crítica
às coberturas televisivas de manifestações sociais: “Os produtores de leite que bloquearam durante longo tempo (e
escandalosamente) o aeroporto de Linate, admitiram isso: ‘bloqueamos estradas e aeroportos para fazer notícia’. Portanto, em
casos como estes, a televisão promove maus exemplos e é prejudicial (grifo na dissertação)” (op. cit.:
81, nota 15).
5 - “Dedica-se muito mais tempo a ensinar a ler, do que será depois dedicado à leitura. Dedica-se muito mais tempo a ensinar
arte, do que será depois dedicado a contemplar a arte. No entanto, a televisão, que se tornou o fenômeno cultural mais
impressionante da história da humanidade, é a prática para a qual os cidadãos estão menos preparados” (Ferrés, 1996: 9).
6 - Em seu livro “Elogio do grande público: uma teoria crítica da televisão”, Wolton afirma que o seu trabalho “se insere
numa perspectiva empírica crítica” (Wolton, 1996: 10), destacando vários expoentes desta linha teórica, dos quais
merecem destaque, aqui, Harold Lasswell e Paul Lazarsfeld.
modernista quer a “vitória do melhor”, que, segundo ele, é a banalização da televisão
reduzindo-a “àquilo que é, ou seja, um espetáculo e uma indústria do espetáculo” (Wolton,
1996: 35).
7- O texto citado por Arlindo Machado é: “Theodor W. Adorno, “Television and the Mass Culture Patterns”, em
Quaeterly of film, Radio and Television, University of California Press, v. 8, 1954, pp. 213-235” (apud Machado,
2000: 17).
A complexidade das relações culturais exige maior profundidade tanto
da teoria crítica, quanto dos que encaram a necessidade de despolitizar e desideologizar a
análise das relações entre a comunicação e a sociedade. Abordagens como a de
Arlindo Machado parecem sugerir que estes dois atos - despolitizar e desideologizar -,
tanto para serem praticados quanto para serem negados, restringem-se à vontade
dos indivíduos, e não são ocorrências concretas, decorrentes da subjetividade e do
caráter histórico-cultural das ações sociais e seus produtos.
Para Adorno “os aspectos sociais, técnicos e artísticos não podem ser tratados
isoladamente” (Adorno, 1987: 346). Assim, por mais que se discorde da análise
adorniana não seria correto deslocá-la da abordagem teórica da televisão, como faz
Arlindo Machado, pois é possível fazer uma outra interpretação, que não a induzida
pelo autor de A televisão levada a sério. No texto selecionado por Gabriel Cohn,
Adorno vê a televisão como um passo adiante na possibilidade de se “ter de novo a
totalidade do mundo sensível em uma imagem que alcança todos os órgãos, o sonho sem sonho” (op
cit.: 346).
8 - Joan Ferrés define assim a comunicação subliminar: “Num sentido mais amplo, considera-se subliminar qualquer
estímulo que não é percebido de maneira consciente, pelo motivo que seja: porque foi mascarado ou camuflado pelo emissor, porque
é captado desde uma atitude de grande excitação emotiva por parte do receptor, por desconhecimento dos códigos expressivos por
parte do próprio receptor, porque se produz uma saturação de informações ou porque as comunicações são indiretas e aceitas de
maneira inadvertida” (Ferrés, 1998: 14).