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RESUMO
A constituição do moderno ensino secundário normal, iniciada nas últimas décadas do Império,
alcança sua plenitude após a proclamação da República, quando a Escola Normal se torna a principal
agência de estruturação do ensino primário no Brasil. Apesar da autonomia legal dos Estados na
organização do ensino primário e normal nesse período, podemos identificar um certo padrão de
desenvolvimento comum aos diversos sistemas estaduais, construído a partir do intercâmbio das
experiências locais e intensificado a partir da década de 20 do século passado pela organização de
variados enclaves nacionais destinados a tratar da questão da educação popular. Neste trabalho,
focalizado no currículo da Escola Normal na Primeira República, estudamos a evolução do conteúdo e
da estruturação das disciplinas oferecidas pelo curso, procurando captar as mudanças na representação
do papel do(a) professor(a) do ensino primário que ocorriam entre os dirigentes do ensino, tal como
eles as expressavam ao baixarem normas e procedimentos legais. Com base nas oito reformas
realizadas no período, durante as quais foram elaborados decretos regulamentando a Escola Normal,
nas tradicionais mensagens dos Presidentes à Assembléia Legislativa, e na legislação complementar
que alterava esses regulamentos pontualmente, procuramos analisar o significado dessas mudanças na
formação do magistério paraibano, buscando identificar tendências, sinais e marcas características das
concepções educacionais em voga nesse período na Paraíba. Esses resultados foram cotejados com
regulamentos similares de Escolas Normais de outros Estados brasileiros, levantadas as semelhanças e
diferenças, com o objetivo de traçar um quadro compreensivo que pudesse se aplicar, em geral, ao
ensino normal do país. Em termos gerais, podemos dizer que se observou um aumento na duração do
curso, tanto no número de aulas diárias, quanto no número de anos necessários para sua conclusão. A
Escola Normal que começara com 2 a 3 anos de duração e com 2 a 3 aulas diárias, funcionará em 1930
com 4 a 6 horas de aula diárias e com 5 anos de duração. Concomitante com essa elevação na carga
horária, as escolas diminuíram a idade mínima de ingresso de 15 para 12 anos em média. O aumento
do número de aulas foi necessário não só para acomodar novas disciplinas instrumentais para o
exercício da profissão (como desenho e higiene), mas também para atender ao incremento da carga
horária das disciplinas de formação geral (como português e matemática), embora seja perceptível
uma tendência de maior profissionalização do currículo no período considerado. De modo geral, nota-
se no decorrer do tempo um desprendimento das metodologias de ensino, de início solidamente
integradas às disciplinas tradicionais, para as aulas práticas e, eventualmente, sua autonomização
como disciplinas específicas no currículo. A cadeira de Pedagogia, inicialmente, dedicada à estrutura e
ao funcionamento do ensino primário, incorpora ao longo do tempo elementos de educação moral e
cívica, para, ao final do período se constituir, com a incorporação da Pedologia e da Psicologia, em
disciplina “científica”. O professor desta cadeira, de início o próprio Diretor da escola, será sempre
responsável pela prática de ensino, geralmente exercida em escolas anexas. É visível também o
aumento do tempo destinado à prática pedagógica, concentrada nos dois últimos anos do curso, fator
indubitável de profissionalização da formação. Por sua vez, a permanência e o desdobramento no
currículo de disciplinas exclusivamente destinadas ao sexo feminino, Trabalhos de Agulha, Economia
Doméstica e Prendas Domésticas, são evidências gritantes do processo de feminização do magistério
em curso no período.
3763
TRABALHO COMPLETO
A formação de professores no Brasil está marcada por uma característica típica herdada das
corporações de ofício, nas quais o aprendiz procura imitar o mestre. Institucionalmente, essa situação
seria reforçada pela legislação de 15 de outubro de 1827 que, ao prescrever o ensino mútuo como o
mais adequado à nossas escolas, introduziu a concepção do professor como um monitor graduado. A
suspeita enunciada por Villela (1999, p.173), de que a importância do método de ensino mútuo na
educação brasileira não tem sido suficientemente avaliada, repousa, a nosso ver, nessa tradição
cultural que, na verdade, ainda permanece viva na educação brasileira. Essa influência do também
chamado método monitorial, teria sido muito maior no século XIX, dado o descaso com que se cuidou
da instalação de instituições formadoras de professores. Como o método de Bell e Lancaster consiste
numa organização do espaço/tempo escolar fortemente baseada no conteúdo a ser ensinado, o ensino
mútuo veio robustecer a ênfase no conteúdo vinda do currículo clássico, contribuindo para consolidar
a “idéia vigente de que o professor necessitava saber somente aquilo que ia ensinar” (Almeida, 1995,
p.666).
Não é de estranhar, portanto, que nas primeiras escolas normais criadas no Brasil o currículo
fosse calcado no conteúdo a ser desenvolvido no ensino de primeiras letras. Villela, comparando o
currículo da primeira Escola Normal do Brasil, criada em Niterói em 1835, com aquele da escola
primária de então, observa “que eles quase não diferiam” (1992, p.30), ainda que o método mútuo
inspirasse completamente a formação a ser dada ao professor naquela Escola. A adoção em Niterói, a
partir de 1839, do manual para cursos normais do barão de Gerando, que faz a apologia do ensino
mútuo, só veio reforçar essa concepção dicotômica de formação docente. Nesse currículo que,
segundo Bastos, pode ser qualificado pela “ênfase nos conteúdos morais em detrimento dos
conhecimentos a serem transmitidos” (1999, p.267), as matérias de ensino continuaram a ser definidas
em função do tradicional objetivo da educação popular, isto é, aprender a ler, escrever e contar. Talvez
estejam aí os antecedentes da problemática separação entre teoria e prática, tantas vezes criticada, de
nossa pedagogia.
Na Paraíba, podemos encontrar reflexos dessa tendência na primeira legislação que faz
referência à criação de uma Escola Normal na Província, ou seja, o Regulamento de 1864. O parágrafo
4º do artigo 8º desse instrumento legal previa-se que “o ensino da Escola Normal compreenderá as
matérias do ensino superior”, sendo este o último grau do ensino primário definido por este mesmo
código, e “mais aquelas que o Presidente designar, ouvido o Diretor” (Cury e Pinheiro, 2004, p.41).
Deixando de lado as possibilidades abertas por essa última prescrição, posta com objetivo de atender
alguma determinação do governo ou, mais provavelmente, para atender a algum correligionário,
vemos como é o conteúdo das matérias de ensino da escola que determinava o currículo a ser
percorrido pelo seu futuro professor. E interessante aqui observar que esse regulamento, no seu artigo
1º, ordena a escola elementar em três graus, sendo que cada grau sucessivo incorpora também o
conteúdo trabalhado no grau anterior. Assim, no 1º grau se estudava “leitura, escrita, doutrina cristã,
noções de gramática e aritmética até suas operações por números inteiros”. No segundo, as mesmas
matérias mais “noções de gramática prática, aritmética em suas operações, tanto em decimais
quebrados, como em complexos e proporções, explicação de prática de língua nacional, noções
elementares da história sagrada e o sistema de pesos e medidas” e no terceiro, o superior, todas as
matérias vistas nos graus anteriores e mais “elementos de geometria, noções do evangelho e da
geografia e história do Brasil” (idem, p.39). A nosso ver, a proposição desse tipo de hierarquização do
conhecimento escolar só faz reforçar a suspeita citada de Villela acerca do papel do ensino mútuo na
educação brasileira do século XIX.
A primeira grade curricular da Escola Normal da Paraíba (ENP), posta efetivamente em
funcionamento, reflete o ideário de seu consolidador, o Presidente Antonio Herculano de Souza
Bandeira, inspetor do ensino no Rio de Janeiro, organicamente vinculado às diretrizes da reforma
Leôncio de Carvalho. Essa reforma, estabelecida pelo decreto nº 7247 de 19 de abril de 1879, constitui
um marco fundamental na transição do currículo clássico para o moderno na escola brasileira. Para se
avaliar a profunda mudança pretendida com esse decreto, basta reproduzir o parágrafo primeiro do
artigo 9º, onde estão arroladas as disciplinas a serem oferecidas pela Escola Normal com vistas à
formação docente:
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No Quadro 1, apresentamos a adaptação dessa extensa proposta, que não foi colocada em
prática nem na Escola Normal do Rio de Janeiro, para a ENP. Ajustado à realidade local o currículo
sofreu algumas modificações, entre as quais destacamos à concessão à religião e a supressão de
disciplinas eminentemente utilitárias, sem se afastar, no entanto, das diretrizes daquela reforma. O
espírito da proposta de Leôncio de Carvalho manifesta-se também na tentativa de imprimir um caráter
prático, profissional, à formação das futuras professoras, como se depreende deste trecho do
Regulamento: “Os professores terão muito em vista no desenvolvimento de cada matéria, não só a
explicação clara do assunto pelo modo mais acessível à inteligência das normalistas, mas ainda
chamar a atenção delas para o melhor modo de ensinar nas escolas primárias, quando chegarem a ser
professoras” (Cury e Pinheiro, 2004, p.138).
Imbuída do espírito positivista da sua congênere no Rio de Janeiro, dirigida por Benjamin
Constant, destaca-se nesse currículo a importância atribuída às Ciências Físicas e Naturais. Das 42
horas de aula de todo o curso, os “Elementos de Ciências Físicas e Naturais” tinham a mesma carga
horária de Português e Matemática (5h), sendo sobrepujados somente pelos Trabalhos Práticos, que
previam uma carga horária de 10 horas2. Além de estabelecer a necessidade de uma prática de ensino
para a formação do professor em escolas-modelo, esse currículo já apontava para a feminização da
Escola pela presença da disciplina Trabalhos de Agulha, exclusiva para as meninas, e complementada
no Regulamento às Prendas Domésticas. Para comparação, o Quadro 1A apresenta o currículo
proposto por Caetano de Campos para a Escola Normal de São Paulo em 1890, já após a proclamação
da república. Além da diferença óbvia da escola paulista ser constituída de uma seção feminina e outra
masculina, fazendo com que o currículo exiba claramente a diversidade de formação para homens e
mulheres, é notável a semelhança entre as duas estruturas curriculares, podendo atribuir-se boa parte
1
Neste quadro e nos quadros seguintes a ortografia foi atualizada procurando-se manter, no entanto, o modo da
época grafar os nomes das disciplinas.
2
Parece que essa disciplina constituía no final do Império o divisor de águas entre o currículo clássico e o
moderno, muito mais do que o latim ou a filosofia. Assim, por exemplo, em Goiás, a introdução e a retirada
dessa disciplina nessa época acompanhava estreitamente a alternância do poder oligárquico (cf. Canezin e
Loureiro, 1994, p.31-35). A orientação geralmente positivista e anticlerical dos que defendiam essa disciplina
chocava-se diretamente com a tradição vinda da Igreja Católica, como se pode ler em Nunes para o caso de
Sergipe (1984, p.148-149 e 182-183).
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O breve Regulamento de 1892 (Quadro 2), baixado pela junta republicana que tinha o
primeiro Diretor da ENP, Eugênio Toscano de Brito, como um dos seus integrantes reflete a
experiência com a Escola do médico republicano. Em seus relatórios, ele insistia na necessidade de
mais um ano para as disciplinas básicas e da introdução do ensino de francês, necessário segundo ele,
para que as normalistas pudessem acompanhar as disciplinas de ciências físicas e naturais, cujos livros
didáticos estavam majoritariamente escritos nessa língua3. Além da evidente supressão do ensino de
religião, tornado dispensável num Estado laico, nota-se também a ausência da Ginástica, disciplina
que, na verdade, nunca havia sido ministrada até então, causando inclusive grande polêmica na cidade
sobre a sua conveniência para a formação das futuras professoras, além da grande dificuldade em
encontrar a pessoa mais adequada, homem ou mulher, para esta função. Este Regulamento também é
importante por fixar, pela primeira vez, um mínimo de duas aulas por semana para cada matéria
(artigo 5o) e por abolir os “exames de passagem”, obrigatórios no Regulamento anterior, para a
promoção das normalistas de um para outro ano (artigo 3o).
O próximo Quadro sintetiza o currículo consolidado da ENP em 1893 que vigoraria até 1901.
Apesar da diminuição de um ano, nota-se a mesma estrutura do currículo de 1893, com um leve
aumento nas disciplinas de História e Geografia, que começavam no primeiro ano tratando da
“História Universal”, “Geografia Universal” passando então para a história e geografia do Brasil para,
finalmente, no segundo ano, tratar da Paraíba. Mais do que uma tendência republicana, pode-se
perceber aqui a influência do primeiro presidente do Estado, Álvaro Machado, engenheiro militar,
carreira então solidamente fundamentada nessas disciplinas. De qualquer maneira, essa retomada
3
É interessante observar que em São Paulo, o francês, que era ensinado na Escola Normal desde 1874, passa,
com a reforma de 1880, a ser ministrado pelo médico francês Paulo Bourroul, igualmente professor de física e
química, como o foi Toscano de Brito na escola paraibana (Reis Filho, 1981, p131). Daí em diante, o francês,
tanto em São Paulo, como na Paraíba, passaria a fazer parte regularmente do currículo da escola normal. A
influência francesa na educação brasileira, via medicina, apesar do acúmulo de evidências sobre sua importância
carece ainda de um estudo sistemático e abrangente.
3766
constituiu um retorno em direção ao currículo enciclopédico, que continuava a pautar o ensino dado no
Liceu, ministrado, aliás, pelos mesmos professores da ENP.
Embora esse regulamento previsse alunos de ambos os sexos, somente em seu segundo
governo, como veremos, é que se abrem as matrículas efetivamente para o sexo masculino. Assim, o
artigo 3o garante que as disciplinas de música e trabalhos de agulha, que constituíam então uma só
cadeira, seriam dadas somente para o sexo feminino, mas não apontavam que disciplinas as
substituiriam no curso masculino. É interessante observar que esse regulamento diminui a idade das
alunas para ingresso de 15 para 12 anos, mantendo a exigência de 15 anos para o sexo masculino
(artigo 8o, parágrafo 1o).
Uma outra disposição desse currículo digna de nota é a introdução da Moral como disciplina.
Na verdade, Pedagogia e Moral constituíam uma só uma cadeira e, pelo artigo 56, necessariamente,
essa cadeira seria regida pelo Diretor da Escola, em continuidade à tradição que vinha desde o
regulamento de 1886. Pela descrição sucinta da ementa da disciplina, “exposição sumária da moral”,
fica difícil estabelecer seus objetivos mas, com certeza, pelo fato dela ser ministrada pelo Diretor e
também professor de Pedagogia, não há dúvida sobre seu caráter disciplinador no interior da nova
ordem republicana, como pode ser corroborado pela ocorrência, pela primeira vez, da “higiene
escolar” na ementa da disciplina de Pedagogia. Talvez esse acréscimo tivesse o objetivo de minorar o
efeito da eliminação do ensino de religião do currículo, tradicional baluarte da ordem e da moralidade
durante o Império.
Como se pode ver pelo Quadro 4 abaixo, a partir de 1901 a ENP passou a exigir quatro anos
de estudo para a formação das normalistas (em São Paulo, por exemplo, desde 1894 chegara-se a
conclusão da necessidade de ampliar o curso de 3 para 4 anos). Basicamente, o aumento de um ano
corresponde ao desdobramento do primeiro ano em dois, diferindo os dois apenas na última disciplina:
Caligrafia no primeiro ano e Música no segundo. A Geografia Geral era dada no primeiro ano,
enquanto a Geografia do Brasil no segundo, fazendo com a História fosse dada no terceiro e quarto
anos. Fora isso o currículo difere muito pouco do anterior, embora o regulamento de 1901 seja o
primeiro a afirmar a obrigatoriedade da freqüência às aulas (artigo 23).
1o ANO 2o ANO
Português Português
Aritmética Aritmética
Francês Francês
Geografia Geografia
Desenho Desenho
Caligrafia Música
3o ANO 4o ANO
Português Geometria
Álgebra História do Brasil
História Geral Pedagogia
3767
1o ANO 2o ANO
Português Português
Francês Francês
Aritmética Aritmética
Geografia Geografia
Caligrafia Desenho
Música Música
Trabalhos de Agulha Trabalhos de Agulha
3o ANO 4o ANO
Português Geometria
Corografia do Brasil História Natural e Higiene
História Universal História do Brasil
Álgebra Pedagogia e Moral
Física e Química Desenho
Desenho Música
Música Trabalhos de Agulha
Trabalhos de Agulha
Fonte: Decreto No 431 de 14 de fevereiro de 1910.
brilhantes laterais, havendo na turquesa uma faixa de ouro, em sentido oblíquo, tendo as iniciais
E.N.P...”.
O Quadro 5A apresenta o currículo das Escolas Normais de São Paulo, então chamadas
primárias pelo fato de haver uma escola considerada secundária na Capital, aonde se preparavam os
professores para essas escolas distribuídas pelo território do Estado. O caráter misto dessas escolas é
claramente percebido através da disciplina comum Trabalhos Manuais, que tinham programas
radicalmente diversos. Assim, por exemplo, na escola de Campinas, a disciplina Trabalhos Manuais
para as alunas no quarto ano se denominava Economia Doméstica (Nascimento, 1999, p.71). Dados
apresentados por Tanuri, mostram a permanência dessa característica até 1911: dos 1186 diplomados
pela Escola Normal de São Paulo até aquele ano, 314 eram do sexo masculino e a proporção era ainda
maior se considerarmos as conclusões de curso nas escolas complementares (escolas normais
primárias a partir de 1911), pois, dos 2382 diplomados, 840 eram homens (1979, p.121). Como
semelhanças, verificamos a mesma tendência nas disciplinas História e Geografia de começar do geral
indo para o particular e encontramos nesse quadro a inspiração de Francisco Xavier Filho para
acrescentar o Português no quarto ano da escola da Paraíba que, assim, tinha um total de 10 horas de
aula distribuído pelo curso nos dois Estados. Podemos também já perceber na escola paulista a
transformação da educação moral em educação cívica, movimento que será bastante reforçado com a
evolução da conjuntura mundial em direção ao confronto bélico entre as nações.
1º ANO 2º ANO
Português Português
Francês Francês
Aritmética Aritmética
Geografia Geral Geografia do Brasil
Desenho Geometria Plana
Música Música
Trabalhos Manuais Trabalhos Manuais
Álgebra
Pedagogia
Ginástica
3º ANO 4º ANO
Português História Natural com aplicação à Agricultura e à
História Universal Zootecnia
Noções de Física e Química História do Brasil
Desenho Pedagogia e Educação Cívica
Música Desenho
Trabalhos Manuais Música
Francês Trabalhos Manuais
Geometria no Espaço Português
Pedagogia Francês
Ginástica Ginástica
Fonte: Almeida (1995, p.682-683).
1o ANO 2o ANO
Português Português
Francês Francês
Aritmética Aritmética
Geografia Geografia
Economia e Prendas Domésticas Economia e Prendas Domésticas
Caligrafia e Desenho Linear Caligrafia e Desenho Linear
Trabalhos Manuais Trabalhos Manuais
Ginástica Ginástica
Música Música
3o ANO 4o ANO
Português Português
Álgebra e Cálculo Gráfico Geometria
História da Civilização História Natural
Corografia e História do Brasil Higiene
Pedagogia, noções de Sociologia e Direito Corografia e História do Brasil
Pedologia e Psicologia Pedagogia, noções de Sociologia e Direito
Economia e Prendas Domésticas Pedologia e Psicologia
Desenho ao natural, de ornato e aquarela Economia e Prendas Domésticas
Trabalhos Manuais Desenho ao natural, de ornato e aquarela
Ginástica Trabalhos Manuais
Física e Química Ginástica
Música Música
Fonte: Decreto No 874 de 21 de dezembro de 1917.
Não está explícito no regulamento, mas quer nos parecer pela leitura das ementas, que
a Economia e Prendas Domésticas, novo nome para os Trabalhos de Agulha das alunas, era substituída
pelos Trabalhos Manuais para os alunos. Apesar da complexidade do currículo, o seu caráter
profissionalizante, aplicado, era claramente enfatizado: “O ensino de cada matéria será sempre feito
segundo método e gradação semelhantes aos do ensino primário, tendo caráter intuitivo, prático e
dedutivo e sendo auxiliado, quando possível, por meios práticos e experimentais” (artigo 7o). Esse
3770
caráter era ainda mais evidente pela exigência, introduzida por esse regulamento, de um ano inteiro de
estágio numa escola primária como professor adjunto, com posterior submissão a um exame de prática
pedagógica, para que fosse expedido o diploma de normalista, fazendo com que, na prática, fossem
necessários cinco anos para a conclusão do curso. Apesar do absurdo dessa medida, que reintroduzia a
figura do professor adjunto como discípulo do professor efetivo, ela já anuncia a divisão da formação
de professores em ciclos de formação geral e profissional a ser posta em prática na década seguinte
(cf. Tanuri, 2000).
O regulamento seguinte de 1921 viria a corrigir essa distorção, fazendo com que o exame de
prática pedagógica viesse a ser realizado ao final do 4o ano, sendo porém distinto do exame de
Pedagogia. Essa disciplina se juntou no novo currículo, conforme se pode ver no Quadro 7 abaixo,
com a disciplina de Pedologia, fundindo-se os conteúdos anteriores dessa disciplina e aumentando sua
carga horária. Pela primeira vez, fica explícito que, enquanto as alunas cursam Prendas Domésticas, os
alunos realizam Trabalhos Manuais no mesmo horário.
1o ANO 2o ANO
Português Português
Francês Francês
Aritmética e noções de Álgebra Aritmética e noções de Álgebra
Geografia e Corografia Geografia e Corografia
Prendas domésticas e trabalhos manuais História geral e do Brasil
Caligrafia e desenho Linear Prendas domésticas e trabalhos manuais
Música e cânticos escolares Caligrafia e desenho linear
Ginástica Música e cânticos escolares
Ginástica
3o ANO 4o ANO
Português Português
Noções de Geometria História Natural
História geral e do Brasil História geral e do Brasil
Noções de Física e Química Pedagogia e Noções de Pedologia
Pedagogia e Noções de Pedologia Higiene
Prendas domésticas e trabalhos manuais Prendas domésticas e trabalhos manuais
Desenho ao natural, de ornato e aquarela Desenho ao natural, de ornato e aquarela
Música e cânticos escolares Música e cânticos escolares
Ginástica Ginástica
Fonte: Decreto No 1102 de 27 de janeiro de 1921.
1o ANO 2o ANO
Português Português
Francês Francês
Aritmética Álgebra
Geografia Geografia
Desenho Linear e Caligrafia Desenho
3o ANO 4o ANO
Português Física e Química
Geometria História do Brasil, especialmente da Paraíba
Corografia do Brasil Trabalhos Manuais
História da Civilização Prendas Domésticas
Pintura a aquarela Música
Pedagogia e Pedologia
5o ANO
História Natural
Higiene
Trabalhos Manuais
Prendas Domésticas
Música
Pedagogia e Pedologia
Fonte: Decreto No 1346 de 2 de fevereiro de 1925.
Como se pode ver no Quadro 9 a seguir, ainda houve uma última reforma na ENP durante a
Primeira República, durante o governo de João Pessoa. O novo regulamento, que restabeleceu a
cadeira de História do Brasil e da Paraíba no 4o ano, consistiu basicamente numa redistribuição das
disciplinas pelos anos do curso. Embora não conste como disciplina do currículo acima, a reforma
restabeleceu também a educação física, diariamente, em todos os anos do curso (artigo 6o). Essa
orientação, associada a presença de várias disciplinas semelhantes, notadamente a Didática, àquelas
introduzidas pela reforma Carneiro Leão em Pernambuco a partir de 1928, sugerem uma influência
escolanovista no regulamento paraibano (Araújo, 2002, p.98). Como no Estado vizinho, a Didática do
ensino primário cuidava da parte prática realizada no Grupo Escolar Modelo, coroando dessa maneira
a trajetória da ENP em direção à profissionalização (conforme Kulesza, Santos e Souza, 2000).
1o ANO 2o ANO
Português Português
Francês Francês
Aritmética Aritmética
Geografia Noções de Geometria e Álgebra
Desenho Geografia e Corografia
Desenho
3o ANO 4o ANO
Português Português
Noções de Física, Química e História Natural Higiene, especialmente escolar
História da Civilização História da Civilização (Brasil e Paraíba)
Trabalhos manuais Pedagogia e Noções de Pedologia
Prendas domésticas Trabalhos Manuais
Música e Canto coral Prendas Domésticas
Música e Canto
5o ANO
3772
Pedagogia e Pedologia
Didática do ensino primário
Fonte: Decreto No 1561 de 1o de março de 1929.
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