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A Igreja

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A Igreja
A Igreja por Eduardo Carlos Pereira
Publicado em O Púlpito Evangélico, 1ª parte em julho de 1891 e 2ª parte no mês seguinte do
mesmo ano.
"E se tardar para que saibas como deves portar-te na Casa de Deus que é a Igreja d
o Deus vivo, coluna e firmamento da verdade" I Timóteo 3:15 Pondo de parte qualque
r outra asserção do Apóstolo no texto, é meu intento, prezados irmãos, indagar nesta hora
alguma coisa sobre a natureza do Deus vivo, que afirma S. Paulo ser a Casa de De
us, coluna e firmamento da verdade. Em face das idéias errôneas que sobre este ponto
reinam em nossa sociedade e das tremendas conseqüências que delas se tiram, a impor
tância do assunto se recomenda por si mesma. Cristo prometeu estar com a sua Igrej
a até a consumação dos séculos, e edificá-la sobre a rocha inabalável, de modo que as porta
do inferno não prevaleceriam contra ela. Diante dessas promessas importantes, ens
ina-se a nosso povo que a Igreja de Cristo é uma congregação visível a palpável de pessoas
contidas dentro de uma organização determinada, e que essas pessoas pelo simples fa
to de estarem dentro dessa organização, são herdeiros das promessas, e por conseqüência, nã
podem errar, são coletivamente infalíveis. E quando a história mostra que em nome des
sa Igreja infalível e com sua autoridade se tem praticado horrendas carnificinas e
acendido milhares de fogueiras homicidas; e quando com as Santas Escrituras se
provam que, sob essa autoridade que não podem errar, espalham hoje mesmo as doutri
nas mais anticristãs, respondem: “Cale-se a ímpia história fementida, cale-se a orgulhos
a razão ante a Santa Madre infalível!” Com tais preconceitos, a voz da Igreja, como o
disse alguém, torna-se uma espécie de cabeça de Medusa, que tem petrificado o bom sens
o de muitos. No curto espaço desta hora só poderei apresentar-vos a verdadeira noção ou
concepção bíblica da Igreja, mostrando ao mesmo tempo o sentido em que as promessas se
têm cumprido e se cumprirão. Procurarei evidenciar que a Igreja é um reino espiritual
e, por conseqüência, não pode encerrar-se necessariamente nos limites materiais de um
a organização qualquer, e, si bem que não seja meu propósito refutar de uma maneira dire
ta, neste momento, os erros mencionados, espero, todavia, que ante a representação d
a verdade, clara e simples, desmorone-se aos nossos olhos o soberbo edifício que t
em levado séculos a se construir sobre os alicerces levadiços da ignorância e indifere
nça religiosas. Abrindo o Novo Testamento encontramos em muitos lugares a palavra “I
greja”: o exame desses lugares é o meio mais fácil e seguro de chegarmos à compreensão daq
uilo que o Espírito Santo designa por essa palavra. S. Paulo, nas duas epístolas esc
ritas aos cristãos da cidade de Corinto, projeta brilhantíssima luz sobre o sentido
religioso da palavra “igreja”. Tão claras são as palavras do Apóstolo, que nos podem servi
r de chave segura para a interpretação de todos os textos em que se encontra mesma p
alavra. Principiando, a primeira palavra declara que ele a dirige a “Igreja de Deu
s que está em Corinto, aos santificados em Jesus Cristo, chamados santos com todos
os que invocam o Nome de nosso Senhor Jesus Cristo”. É claro que o Apóstolo chama “Igre
ja de Deus” a reunião dos santificados em Jesus Cristo, dos que invocam com sincerid
ade o nome de nosso Senhor
A Igreja Jesus Cristo, dos fiéis que, segundo a Escritura, são chamados santos. Este
mesmo sentido manifesta o Apóstolo claramente no primeiro versículo de sua segunda
epístola aos Coríntios: “A Igreja de Deus que está em Corinto, e a todos os Santos, que
há por toda a Acaia.” É, portanto, incontestável que nesses dois lugares entende Paulo p
or igreja, a sociedade dos fiéis, a congregação dos santos. Um exame atencioso de todo
s os outros lugares levar-nos-á à conclusão de que este é o único sentido religioso em que
a palavra é empregada. Esta significação apostólica da palavra “igreja” está de acordo com
a etimologia. Ela tem sua origem num coletivo grego – Ekklesia que, por sua vez, d
eriva-se dum verbo Kaleo, que significa chamar denotando conseqüentemente a assemb
léia ou sociedade daqueles que são eficazmente chamados por Deus. O profeta do Apoca
lipse torna bem saliente esse sentido quando declara no capítulo 17, versículo 14, q
ue os que estão com o Cordeiro de Deus “são os Chamados, os Escolhidos, e os Fiéis.” Assim
a verdadeira Igreja de nosso Senhor Jesus Cristo, aquela que é chamada a Esposa i
maculada do Cordeiro, é composta unicamente dos que são verdadeiramente chamados, do
s escolhidos e dos fiéis de todos os tempos e lugares. “Não sabeis vós” diz ainda S. Paulo
à Igreja de Deus em Corinto, “que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus mora
em vós?” (1 Co 3:16). Afirmando a mesma sublime verdade escreve S. Pedro aos escolh
idos de Deus que receberam a santificação do Espírito para prestarem obediência a Deus e
terem parte na aspersão do sangue de Jesus Cristo. A estes cristãos admoesta S. Ped
ro: “Chegai-vos para ele (Cristo), como para a pedra viva, que os homens tinham si
m rejeitado, mas que Deus escolheu, e honrou; também sobre ela vós mesmos, como pedr
as vivas, sede edificados em casa espiritual, em Sacerdócio Santo, para oferecer s
acrifícios espirituais, que sejam aceitos a Deus por Jesus Cristo” (1 Pe 2:4,5). Tod
os estes ensinos das Escrituras vêm esclarecerem o nosso texto com refulgente luz:
“A Casa de Deus vivo que é a Igreja do Deus vivo, a coluna e o firmamento da verdad
e” é, não resta a menor dúvida, diante do Novo Testamento, a congregação dos eleitos, dos v
rdadeiros fiéis. Conservando sempre a mesma compreensão, variam os apóstolos muitas ve
zes a extensão do termo. Ora, o termo “igreja” designa congregação, ora particulares, ora
a Igreja única, universal ou católica, que abrange no vasto seio maternal a universa
lidade dos verdadeiros fiéis, dos que estão na terra e dos que estão no céu. Essa Igreja
universal é nas Escrituras representada por várias corporações designativas de sua natu
reza, e relações com seu único chefe. É comparada a um templo, a uma casa, e neste caso
Cristo é a pedra angular (Mt 16:18); Ef 2:20); a um corpo, e Cristo é cabeça (Ef 1:23)
; a uma esposa, e Cristo é o Esposo (Ap 21:3); a uma videira, e Cristo é o tronco qu
e alimenta os galhos (Jô 15); a um rebanho, e Cristo é o Supremo Pastor. É também chamad
o o Reino de Deus, que se divide em duas províncias, a Igreja Triunfante no Céu e a
Igreja Militante na terra. Esse povo, esse reino, essa Igreja, reuniu sempre em
si todos os caracteres da verdadeira Igreja. Desde que seus membros são unicamente
os convertidos pela palavra da vida e pelo Espírito Santo, “os santificados em Jesu
s Cristo”, ela não pode deixar de ser uma santa, católica e apostólica. Uma – não na unifor
idade monótona, ou no automatismo estéril de uma liturgia pomposa; mas, na unidade m
aravilhosa de seus credos, na comunhão viva das doutrinas fundamentais do Cristian
ismo, na fraternidade cristã de seus membros: “santa” – não pelo calendário de nomes própri
canonizados pelo voto falibilíssimo de homens pretensiosos, mas, na santidade de s
uas doutrinas emanadas diretamente de uma fonte pura – o Livro Sagrado da Revelação Di
vina, e na pureza de seus membros; “católica” – não na universalidade de um cadáver, que re
lizando as profecias,
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A Igreja estende os seus membros inertes entre todas as tribos, línguas e nações, mas
porque abrange a universalidade daqueles que em todos os tempos e lugares mantiv
eram-se firmes no único fundamento, cabeça e pedra angular, a saber, Cristo (At 4:11
, Ef 3:20); apostólica – não na transmissão absurda de uma consciência apostólica através d
séculos, pelo contato manual, mas na sustentação diligente das doutrinas pregadas pelo
s santos apóstolos. A preservação desses caracteres através dos tempos, em um grupo de p
essoas escolhidas, a despeito de todas as circunstâncias e falibilidade humana, só p
ode ser atribuída à ação poderosa e sempre presente do Vigário de Cristo que é a terceira p
ssoa da Santa Trindade. Graças à presença eficacíssima do Espírito Santo, a Igreja de Deus
vivo tem conservado em todas as idades seus títulos gloriosos, suas gloriosas pre
rrogativas, e tem sido em todos os tempos coluna e firmamento da verdade, a luz
do mundo e o sal da terra. A sua história é o testemunho constante do amor de Deus;
sua conservação em todos os tempos, o monumento imperecível do seu poder. Um olhar rápid
o sobre seu passado confirmando o que tinha dito, ajudar-nos-á a compreender a nat
ureza das promessas que lhe foram feitas. Logo depois da queda do homem separar
a humanidade nos dois grupos que a dividem hoje – os filhos de Deus e os filhos do
s homens na expressão de Gênesis. As águas do dilúvio exterminam os filhos dos homens, m
as, sobre seu dorso imenso flutua na Arca de Noé a Igreja de Deus vivo, composta d
e oito pessoas. Manifesta-se a apostasia e na descendência de Abraão é preservada a li
nhagem santa. Retirado do cativeiro do Egito esse povo de Deus é introduzido na te
rra da promissão. Aí estabelecido no reinado do ímpio Acabe, manifesta-se a apostasia
em larga escala. A idolatria domina a Igreja: o ídolo de Baal parece divorciá-la com
pletamente de seu Deus. Só um homem permanece de pé, procurando debalde em torno de
si a Igreja de Deus: é o profeta Elias. “Senhor, mataram os teus Profetas, derribara
m os seus Altares: e eu fiquei sozinho, e eles me procuram tirar a vida” (Rm 11:3)
. Porém a resposta de Deus patenteia o engano do Profeta: “Eu reservei para mim sete
mil homens que não dobraram seus joelhos diante de Baal” (v. 4). Chegam, afinal, os
dias gloriosos da última Dispensação. O Verbo se fez carne e “veio para o que era seu,
e os seus não no receberam.” Os edificadores rejeitaram a pedra angular, preciosa, q
ue anunciará o Profeta (Is 26) dever ser posta em Sião. O pontífice, e os sacerdotes,
os levitas, a nação judaica, a Igreja quase que em peso, apostatou, rejeitando o Cab
eça, renunciando solenemente a Jesus Cristo. Teria pela primeira vez desaparecida
a Igreja do Deus vivo? Não, responde S. Paulo: “Do mesmo modo que no tempo de Elias,
Deus, segundo sua graça, salvou a um pequeno número, que ele reservou para si” (Rm 11
:5). De seu Chefe recebe esse “pequeno número”, que era a Igreja de Deus, ordem de mar
char é a conquista do mundo: “Ide por todo o mundo”. Durante 300 anos, sublevam-se con
tra a Igreja as forças tremendas das potências infernais. O dragão procura afogá-la num
rio de sangue (Ap 12:15), porém o sangue dos mártires é a semente da Igreja. Vendo a i
nutilidade da guerra franca, muda satanás de tática, e inaugura uma nova fase de lut
a, fase que dura até nossos dias. Cessaram as perseguições, sobre o trono imperial; no
princípio do 4 século, senta-se Constantino e declara-se protetor dos perseguidos. M
anifesta-se a corrupção no seio da Igreja que se torna oficial. Desencadeiam-se sobr
e ela os ventos pestíferos da heresia: levanta-se Ário no ano 317 e nega a divindade
de Cristo, e “o orbe todo gemeu”, diz S. Jerônimo, admirado de se ver ariano – ingemuit
totus orbis terrarum, et Arianum se esse miratus est.
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A Igreja O concílio de Selêucia no Oriente, e o de Rimini no Ocidente, compreendendo
quase 800 bispos, sustentavam a heresia Ariana, e a maioria dos bispos, inclusi
ve Libério, bispo de Roma, “papa infalível”, subscreveram às heréticas decisões. Atanásio e
queno número dos que sustentavam a divindade do Senhor Jesus, perseguidos, tomaram
caminho do exílio. Ter-se-iam acaso falhado as promessas de Cristo? Teriam, porve
ntura, as portas do inferno prevalecido contra sua Igreja? “Não”, responde S. Jerônimo, “a
Igreja não consiste nas paredes das ricas catedrais, mas na verdade dos dogmas, o
nde estava a verdadeira fé, aí estava a Igreja”. Ecclesia ibi es, ubi fides Vera est.
Reproduzia-se, portanto, o que já se tinha dado no tempo de Elias e dos Apóstolos: v
erificava-se no seio da Igreja a defecção em grande número; mas então, como em todos os
tempos, cumpriam-se as promessas, manifestava-se a graça de Deus, na conservação de “um
pequeno número” de testemunhas fiéis, oprimidas, é certo, mas possuidoras legítimas das ri
cas e gloriosas prerrogativas da Igreja cristã. Soou, porém, a hora da derrota para
a heresia triunfante de Ário; mas nem por isso deixou satanás a tentativa de elimina
r da superfície da terra a Igreja do Deus vivo. Mistura a astúcia à violência, sobe aos
púlpitos cristãos e anuncia aos povos, mergulhados em trevas, um cristianismo a pouc
o e pouco falsificado. Foi lento o novo trabalho da destruição; durou do 4 século ao 16 .
Mas, durante esse longo período, esse cristianismo bastardo e perseguidor aniquil
ou, porventura, o legítimo cristianismo? Foi de fato destruída a Igreja cristã? Não, por
que ela é imperecível. Onde estava ela então? O Profeta do Apocalipse nos ajuda a desc
obrir seu esconderijo apontando-nos para o deserto. Aí, diz ele, foi-lhe preparado
um lugar de retiro onde Deus a sustentaria por 1260 dias (Ap 12:6). Ajudados po
r estas indicações do Profeta, ser-nos-á mais ou menos fácil acompanhar, através das grand
es agitações e catástrofes dos povos, a história dos grandes sofrimentos e fidelidade da
Igreja desde Constantino até a Reforma do século 16 . Mas, é crível que o cativeiro da Ig
reja cristã se prolongasse por tantos séculos, sem, entretanto, falharem as promessa
s de Cristo: A credulidade desse cativeiro ou dessa opressão secular não se firma só e
m fatos históricos irrefragáveis, mas em expressas profecias. Anuncia S. Paulo clara
mente o desenvolvimento do mistério da iniqüidade, e, sossegando os Tessalonicenses
aterrados pela próxima vinda do fim do mundo, diz o Apóstolo: “Não virá sem que antes venh
a a apostasia e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição, aquele, que se
opõe, e se eleva sobre tudo, que se chama Deus, ou que é adorado, de sorte que se as
sentará no Templo de Deus, ostentando-se como se fosse Deus” (2 Ts 2:3,4). Referindo
-se sem dúvida a essa mesma “apostasia”, ensina S. Paulo que importava serem os bispos
e os diáconos esposos de uma só mulher e acrescenta: “Ora, o Espírito manifestamente di
z, que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos de erro e
a doutrinas de demônios, que com hipocrisia falarão mentira, e que terão cauterizada s
ua consciência, que proibirão casarem-se, que se faça uso das viandas que Deus criou” (1
Tm 4:1-3). E o Profeta, nas visões do Apocalipse, escrevendo sem dúvida a história fu
tura da Igreja, fala-nos largamente nos capítulos 13 e 17, dessa apostasia a que s
e refere S. Paulo, e que já Daniel anunciara em visões bem significativas (Dn 7, Ap
13 e 17). Levantar-se-á, diz o Profeta, um poder, uma besta com sete cabeças, que o
Anjo explica serem sete montes; sobre ela senta-se uma mulher, vestida de púrpura,
tendo em sua mão uma taça de ouro cheia de abominação, de imundícia da sua prostituição. E
mulher, diz o Anjo, é a grande cidade que reina sobre os reis da terra. A essa be
sta foi
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A Igreja dado o poder de fazer guerra por 42 meses, 1260 dias, ou segundo os intér
pretes, 1260 anos, foi-lhe dado poder sobre toda tribo, língua e nação. E agora repare
no que diz o Profeta no capítulo 8, versículo 7: “E foi-lhe concedido que fizesse gue
rra aos Santos, e que os vencesse.” Assim estava decretado nos impenetráveis conselh
os do Todo Poderoso que se levantaria no seio da Igreja um poder apostato que ve
nceria os santos, isto é, os fiéis cristãos, ou ainda a Igreja do Deus vivo por 1260 a
nos. Assim os fatos históricos vêm confirmar as declarações do Profeta; estas declarações c
nfirmadas pelos fatos vêm explicar-nos a natureza das firmíssimas promessas feitas p
or Cristo à sua Igreja. Ele prometeu estar com ela até a consumação dos séculos, de modo q
ue as portas dos infernos, isso é, (segundo o original grego, as portas de hades,
que é a região dos mortos), as portas da sepultura, em suma, o poder da morte, que p
revalece contra tudo, não prevaleceria contra sua Igreja, não a extinguiria da face
da terra. Jamais, enquanto houvesse mundo, fechar-se-iam as portas da sepultura
sobre os cadáveres dos últimos de seus membros. O Senhor Jesus assegura, pois, nas s
uas promessas, não a infalibilidade de uma corporação determinada, muito menos o uso-f
ruto dessa infalibilidade como monopólio de uma classe; porém a perpetuidade de uma
igreja na preservação graciosa e providencial de um certo número de fiéis. E aí estão dezen
ve séculos para atestarem a fidelidade de suas promessas. Em todos os tempos de gr
andes apostasias, constitui sempre a sua verdadeira Igreja, fiel depositário das d
outrinas reveladas, coluna e firmamento da verdade. Nos dias de Noé, como nos dias
de Abraão; no tempo de Elias, como no tempo dos Apóstolos; na época do arianismo, com
o nos 1260 anos da supremacia do anticristo: houve sempre um grupo fiel, os 7000
que não dobraram seus joelhos a Baal. Eis a resposta que, com a Escritura e históri
a na mão, podemos dar aos nossos adversários, que nos perguntam ironicamente: “Se a vo
ssa igreja é a Igreja de Cristo, onde estava a Igreja de Cristo antes da Reforma?”.
Desde os primeiros passos da grande apostasia anunciada pelos Apóstolos e por Dani
el, surgiram em todos os tempos, fiéis testemunhas da verdade, que não eram vozes is
oladas, porém, antes, marcos históricos, que assinalam, na estrada dos séculos, a marc
a da Igreja do Deus vivente. Compulse a história eclesiástica e vereis em todo o perío
do anterior à Reforma, grupos mais ou menos numerosos, perseguidos como hereges, s
ob nomes diversos, nomes que traduziam, em grande parte, a ironia e desprezo de
seus adversários. Lede os credos desses hereges, contra os quais se invoca da espa
da secular horríveis morticínios, e reconhecereis, na constância inquebrantável desses g
rupos mártires, a Igreja de Cristo servindo de coluna inabalável às pura verdades do E
vangelho. Diante desses fatos históricos, diante dos Valdenses, Albigenses, Paulic
ianos, Hussitas, Wiclifitas, e muitos outros, perguntar-se-á ainda: “Se a Igreja de
Roma não é a de Cristo, onde estava a Igreja de Cristo, antes de Lutero?” Pois bem, a
resposta acaba de ser dada. Ela se acha no mesmo lugar em que já se tinha achado n
o tempo do ímpio Acabe, no tempo de Anás e Caifás, no tempo dos sucessores de Constant
ino, que sustentaram a ferro e fogo a heresia ariana; ela tinha tomado o caminho
do deserto e do exílio; ocultava-se nos vales do Piemonte e defendia-se nas regiões
da Hungria, contra o jugo apóstata dos bispos prepotentes de Roma, e muitos de se
us membros que não tinham logrado retirar-se para esses esconderijos, morriam nas
fogueiras inquisitórias ou gemiam no cativeiro dessa nova Babilônia, cujas muralhas
derribaram os reformadores do século XVI.
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A Igreja Este relancear de olhos sobre a história da Igreja vem impor-nos uma verd
ade, já implicitamente contida na definição do termo Igreja. É que em nenhum tempo pode
o homem traçar com exatidão os limites da Igreja do Deus vivo sobre a terra, porque
os padrões materiais não podem servir de marcos ao Reino espiritual de Deus. Os rito
s diversos que separam as corporações visíveis, não podem limitar o espírito católico, não
em restringir a expansão espiritual do Reino de Deus. Esta verdade é diretamente ens
inada por S. Paulo, no seguinte lugar: “Não é o judeu o que é manifestamente, nem é circun
cisão o que se faz exteriormente na carne; mas é judeu o que é no interior: e a circun
cisão do coração é no espírito, não segundo a letra: cujo louvor não vem dos homens, senão
us” (Rm 2:28,29). Ensina, pois, o Apóstolo que a circuncisão, que era um sacramento da
Igreja antes de Cristo, e, conseguintemente, todas as cerimônias por Deus prescri
tas, mesmo quando observadas regularmente, não davam por si só o direito a um judeu
de ser verdadeiramente um israelita, um filho de Abraão. Era necessário mais do que
essas exterioridades, era necessário um coração crente e um espírito reto. Esta verdade é
de uma aplicação intuitiva em todos os tempos. Os sacramentos e a organização exterior d
a Igreja são como que a cabeça: a fé verdadeira, a caridade sincera, eis propriamente
o fruto. O homem vê o exterior, enxerga os atos e presume a fé e a caridade. Deus, p
orém, antes de ver a aparência sonda os corações. Finalmente não podemos traçar com exatidã
linha divisória que separa a Igreja de Deus do resto dos homens, visto que as qua
lidades espirituais para ser-se membro dessa Igreja – a fé, o arrependimento, a cari
dade, a circuncisão do coração – escapam à nossa limitada intenção. Por isso declara S. Pau
“O fundamento de Deus tem este selo: - o Senhor conhece os que são dele: aparte-se
da iniqüidade os que invocam o nome do Senhor.” É pois de necessidade que se faça uma di
stinção entre a igreja interior e a exterior, entre a igreja vista pelos olhos infalív
eis de Deus e a contemplada pelos olhos falíveis dos homens – entre Igreja invisível e
Igreja visível. É a Igreja invisível, composta unicamente dos santificados em Jesus C
risto, dos que em todos os países invocam com sinceridade o nome do Senhor, é a ela
unicamente que pertencem as gloriosas promessas do Evangelho: as ricas esperanças
de seus membros não se firmam nem em Pedro nem em Paulo, mas na Rocha inabalável con
fessada por Pedro e e anunciada pelo Profeta (Is 28:16) “Cristo o Filho de Deus Vi
vo”. Porém, a Igreja de Deus, como vos disse, apresenta-se a nossos olhos, sob um as
pecto visível, isto é, como uma vasta associação, que tem atravessado os tempos estenden
do-se sobre todos os países. Na sua organização exterior esta vasta sociedade dos fiéis
apresenta não só no tempo, mas também no espaço um aspecto múltiplo. A Igreja como um todo
, tem, no tempo, assumido três formas fundamentais: a Igreja patriarcal, a Igreja
mosaica ou levítica, e a Igreja cristã. Cada uma destas formas é caracterizada por um
aspecto exterior bem distinto. Mas, porventura, não é uma só e mesma igreja, que varia
de aspecto, reveste formas diversas, segundo as circunstâncias de tempo e lugar?
Entre os diversos símiles ou comparações por que é representada na Santa Escritura a Igr
eja de Deus, há um que nos pode servir de ilustração apropriada. S. Paulo a compara no
capítulo 9 dos Romanos a uma oliveira. Os judeus comparam os Apóstolos aos ramos na
turais, e as igrejas particulares organizadas no mundo gentílico, a galhos de zamb
ujeiro enxertados na oliveira sagrada. Uma árvore traz, com efeito, a idéia de um co
njunto de galhos e ramos diferenciados pela distância e aparência, muitos dos quais
não se ligam
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A Igreja entre si diretamente, senão por meio do tronco. Basta, porém, um pouco de o
bservação para descobrir, nessa imensa variedade, perfeita semelhança ou unidade. Assi
m a Igreja que naturalmente tinha um aspecto uniforme nas dispensações patriarcal e
levítica, porque compreendia uma só família e um só povo, necessariamente assumiria um a
specto variado desde que abrangesse todas as famílias e povos da terra. É pois natur
al que nesta dispensação cristã, essencialmente universal, ela realize plenamente o sími
le do Apóstolo. Diante destas considerações tornam-se evidentes as judiciosas observações
de um autor, tendentes a demonstrar que sob a nova economia, a Igreja deve organ
izar-se exteriormente segundo a sabedoria e prudência de seus membros, tendo em vi
sta seus fins e os princípios do Evangelho. Ora, como esta sabedoria e prudência var
iam necessariamente, a variedade no aspecto da organização externa é uma conseqüência natu
ral da liberdade. Com efeito, não há uma forma exterior por Deus imposta à Igreja Cris
tã. Sob a Velha Dispensação, há o livro de Levítico prescrevendo à igreja judaica, com minu
iosa exatidão. Todos os ritos, cerimônias, governo, disciplina. O Novo Testamento de
clara na epístola aos Hebreus que toda esta organização exterior do culto judaico. Tod
o esse “jugo de escravidão”, na expressão de S. Paulo, foi abolido – “eram sombras de bens
indouros, eram figuras postas até o tempo da reforma” (Hb 10:1,9,10). Onde está no Nov
o Testamento o livro que preserve os ritos que deviam substituir o cerimonial le
vítico? Não existe. O Novo Testamento contrariamente do Velho ocupa-se muito com a e
ssência ou doutrina e pouco com a forma. Respondendo a perguntas da Igreja de Cori
nto sobre certas cerimônias e costumes, S. Paulo indica o livro que os cristãos deve
m consultar sobre essas coisas secundárias que não se acham reveladas no Novo Testam
ento: “Julgai lá vós mesmos” “nem a natureza vo-lo ensina” diz em 1 Co 11:13,14; 13:26,40).
Os ritualistas de hoje se escandalizam com semelhante liberdade, mas seus antece
ssores nos tempos apostólico, já tiveram do ilustre Apóstolo dos Gentios, digna respos
ta quando este declarou-lhes que não vivemos mais debaixo de tutores e curadores,
por termos no “Ministério do Espírito”, na dispensação cristã, atingido a nossa maioridade
iritual. De fato, o regime da liberdade pode ser abusado pelos sérios efeitos do j
ugo da escravidão, pelos menores que não têm bastante natureza para dispensar tutela:
nunca pelos que gozam da liberdade dos Filhos de Deus, dos que têm alcançado a maior
idade na plena luz e ardente caridade do Evangelho. No gozo desta liberdade, for
am os apóstolos e discípulos em cumprimento da ordem recebida, fundando igrejas ou c
omunidades particulares entre todos os povos. É assim que o Novo Testamento fala-n
os de igrejas organizadas em Jerusalém, Antioquia, Éfeso, Roma, etc. Nenhuma dessas
igrejas era mãe e senhora das outras. Isto é ponto incontroverso para quem lê o Novo T
estamento, ou a história da Igreja Primitiva. Jerusalém não recebia ordens da igreja d
e Roma; Roma, por sua vez, era independente das outras igrejas. Cada uma dessas
igrejas era um organismo particular, autônomo, unido aos outros pelo laço áureo da car
idade e profunda simpatia fraterna, fomentado pela identidade das crenças emanadas
de um Código comum, cuja autoridade infalível todos reconhecem. Eram repúblicas confe
deradas, cujos pontos controversos se decidiam em assembléias ou concílios de seus p
astores chamados bispos ou presbíteros. Quanto à organização externa, quanto à hierarquia
eclesiástica e disciplina dessas diversas repúblicas ou congregações, na parte em que não
havia recomendações expressas servia naturalmente de norma segura o exemplo ou a práxi
s apostólica. Os mesmos Apóstolos,
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A Igreja reconhecendo a liberdade nestas coisas secundárias, permitiam certa diver
sidade no aspecto exterior das diversas igrejas. É assim que, permitindo às igrejas
da Judéia conservarem certos costumes ou cerimônias da Lei mosaica, proibiam, todavi
a, imporem certas cerimônias às igrejas dos gentios, que tinham outros costumes mais
adaptados ao caráter delas (At 15:20-27). Circunstâncias incidentais foram, com o c
orrer dos tempos, traçando linhas divisórias, cada vez mais visíveis, na forma exterio
r dessas igrejas separadas pela distância, pelas raças e costumes sociais. Mas, essa
s diferenças que se acentuavam cada vez mais, eram o fruto natural da liberdade e
o produto espontâneo da atividade inteira. Assim hoje as mesmas coisas devem produ
zir os mesmos efeitos. Em todos os países e cidades em que os cristãos invocam com s
inceridade o nome do Senhor, eles se congregam para o culto divino e administração d
os sacramentos. Essas congregações, organizando-se regularmente, sob influência da ati
vidade e liberdade cristãs, hão de forçosamente divergir, em sua organização externa, de o
utras corporações congêneres. Desde que não temos um livro de Levítico, nem mesmo um capítu
o do Novo Testamento prescrevendo diretamente uma liturgia ou mesmo uma determin
ada forma de governo à Igreja Cristã, é evidente que o temperamento, a diversidade do
meio e educação social, os modos diversos por que o espírito humano encara a mesma ver
dade, são coisas que mui naturalmente atuam de modo a produzir a diversidade ou va
riedade na forma exterior das corporações cristãs. Para evitar essa diversidade era ne
cessário mutilar-se o cristianismo, abolindo aquilo que justamente caracteriza a últ
ima fase da Igreja sobre a terra – a liberdade. Para que isso se efetuasse, era pr
eciso que, nos impenetráveis decretos de Deus, uma dessas igrejas particulares, en
soberbecendo-se, tivesse a sacrílega audácia de se proclamar – “mãe e senhora” de suas irmã
Depois, sob pena de excomunhão, procuraria impor sua liturgia, sua forma exterior às
igreja do Oriente e do Ocidente. Porém, na evolução natural das coisas humanas, um ab
ismo chama outro abismo, e essa igreja, ensoberbecendo-se, sentir-lhe-ia crescer
a ambição na embriaguez dos primeiros triunfos. De particular tornar-se-ia universa
l ou católica, de falível, infalível. A simplicidade evangélica da Igreja Primitiva foi
perdida na engrenagem complicada de pompas luxuosas de uma cleresia aristocrática.
E não contente em mutilar exteriormente o cristianismo, ela estenderia mão profana
sobre a essência, ou sobre o corpo doutrinário e novos dogmas ir-se-iam agregando ao
credo dos Apóstolos. Porém, no dia em que essa igreja particular começasse a assassin
ar moral e espiritualmente suas irmãs, nesse dia a mão da Justiça divina cortaria esse
ramo da árvore do cristianismo, e ela, como Caim, sairia da presença de Deus levand
o em sua fronte entre todas as tribos, línguas e nações as palavras que já o Profeta ler
a, nas visões apocalípticas: “Mistério: a grande Babilônia, a mãe das prostituições e abomi
terra” (Ap 17:5). E coisa por certo admirável, meus ouvintes, é que estas oposições sejam
não somente fatos históricos, mas previsões proféticas. Lançando um olhar retrospectivo s
obre a Igreja falei-vos de um período de 1260 anos em que ela devia ser vencida, p
orém, não aniquilada. Não me refiro agora a essas predições, mas a um pressentimento profét
co do grande Apóstolo dos gentios que tem de certo com eles relações íntimas e que é bem s
ignificativo sobre o ponto que nos ocupa. S. Paulo, como sabeis, escreveu nove c
artas, que constam no Novo Testamento, a igrejas particulares. Entre estas exist
e uma dirigida à igreja particular de Roma. No capítulo nove dirigi-lhes S. Paulo, c
om os olhos do futuro, uma solene admoestação: declara-lhe que os ramos judaicos for
am cortados da oliveira santa por causa
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A Igreja da sua incredulidade, e que ela, igreja de Roma, fora enxertada para se
r um ramo dessa oliveira. Pois bem – acrescenta o Apóstolo, versículos 20 a 22 - não te
ensoberbeças, mas teme, porque se não permaneceres na benignidade de Deus, também tu s
erás cortado. Coisa singular! Realizaram-se os pressentimentos do Apóstolo: o galho
do zambujeiro enxertado quis ser a árvores, e ameaçou cortar todo o ramo que não decla
rasse ser ela a oliveira santa. Deus, porém, executou a sentença, e o galho do roman
ismo foi cortado da árvores cristã, realizando a grade apostasia de que fala S. Paul
o aos Tessalonicenses (2 Ts 2:3, 1 Tm 4:1,2). Os membros da verdadeira igreja ca
tólica, que rejeitaram o jugo de Roma, usando da liberdade evangélica nas coisas que
o Espírito Santo deixou ao critério de sua fé e caridade, amoldam os princípios de gove
rno, disciplina e liturgia, de sua natureza variáveis, a seu ponto de vista peculi
ar; e, retendo sempre o plano evangélico da salvação, e essência divina da religião cristã,
encaram diversamente certas verdades secundárias sobre a predestinação e sobre a forma
e tempo do batismo. Essas divergências secundárias, sob o influxo da atividade puja
nte do cristianismo, dão origem à formação das diversas denominações irmãs ou igrejas parti
ares que se chamam – luterana, anglicana, metodista, batista, congregacionalista,
prebiteriana. Cada um desses nomes, porém, significa uma força na grandiosa liberdad
e do cristianismo: são galhos da mesma oliveira que realizam plenamente a comparação d
o Apóstolo: separam-se na diversidade da aparência; ligam-se, porém, na unidade da árvor
e; unem-se no mesmo tronco e alimentam-se do suco da mesma raiz. Se, em alguma c
oisa, esses grupos diversos denotam a estreiteza e fraqueza inerentes ao espírito
humano, em não poder contemplar uma verdade do mesmo modo e com a mesma clareza, o
u aplicar um princípio com a mesma exatidão: em outras, revelam que o espírito ativo e
livre do cristianismo não morreu. Ali, pois, onde o observador prevenido só enxerga
imperfeição, o observador imparcial descobre a liberdade! E coisa admirável! Esses fr
utos diversos da contingência humana, se assim o quisermos considerar, revertem em
grande bem para a igreja em geral! Essas corporações diversas no seio da vasta corp
oração cristã dão origem a uma emulação vigilante (Hb 10:24) que, temperada pela caridade,
roduz os maravilhosos resultados que, gratos, contemplamos em nossos dias. Louve
mos a Deus tirando o louvor perfeito da boca dos que mamam! Desgraçadamente em tod
as as harmonias humanas soa sempre a nota discordante. Nessas corporações particular
es há muitos membros indignos: eles fazem parte da igreja visível, mas falta-lhes in
teiramente os títulos para serem membros da igreja invisível. Um olhar atencioso des
cobre às vezes em uma árvores frondosa certas folhas que não pertencem à árvore, mas a cer
ta erva parasita, que oculta facilmente sua natureza a um observador inexperient
e. Esses membros são os parasitas das igrejas. Debaixo deste ponto de vista, compa
ra S. Paulo a Igreja a uma grande casa onde há vasos de honra e de desonra (2 Tm 2
:20), e nosso Divino Mestre, a um campo onde ao lado do trigo cresce a cizânia (Mt
13). Esse elemento hipócrita no seio das congregações, coadjuvado pelo fanatismo, lam
entável fruto da estreiteza de nossas inteligências, tem infelizmente muitas vezes c
onvertido essa nobre emulação em uma sabedoria terrena, animal, diabólica (Tg 3:15), e
m um zelo amargo e orgulho sectário. Estas coisas, porém, são inevitáveis. Nosso Senhor
a declara na parábola do campo e da cizânia, e também quando diz: “É necessário que haja es
dalos”. Do que ficou dito é fácil concluir-se que essas igrejas independentes, cuja to
talidade constitui a Igreja católica, essas organizações autônomas, várias na forma e idênt
ca no
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A Igreja fundo, têm plena razão de ser nas leis naturais do espírito humano, e plena s
anção na liberdade do Evangelho. É na esfera religiosa a aplicação da lei da variedade no
seio da unidade, lei que faz ressaltar por toda a parte na criação a beleza e sabedo
ria de Deus. A diversidade exterior da Igreja visível é, portanto, a manifestação livre
e característica de sua atividade católica, e diante desta verdade solidamente estab
elecida pelo fato de não haver preceito sobre a forma e a ordem das cerimônias do cu
lto externo, nem mesmo prescrições positivas sobre o governo eclesiástico, oferece um
interesse secundário o indagar-se qual das formas existentes é a melhor. Talvez que
fosse mais edificante perguntar-se qual dessas igrejas irmãs, ou ramos cristãos, é a m
ais excelente? É a metodista? A batista? A presbiteriana ou a congregacionalista?
A resposta é fácil em tese. Qual dos galhos da árvore frutífera é o mais estimável? É aquel
ue sustenta com mais simetria seus ramos, ou aquele que projeto sobre o solo uma
sombra mais vasta? Não, é o que mais se carrega de frutos. Pois bem, a melhor de to
das essas comunidades autônomas no seio do cristianismo não é aquela com maior número de
membros, nem maior soma na arca de seus tesouros, nem maior regularidade nas fo
rmas litúrgicas ou disciplinares; mas, sim, aquela em cujo seio há mais piedade e co
nsagração ao Mestre, maior número de membros pertencentes à Igreja invisível; aquela que p
roduz em maior quantidade o fruto saboroso do cristianismo – a caridade evangélica.
Seja-me permitido, meus irmãos, ao concluir, tirar do que tenho dito algumas consi
derações práticas. A verdadeira Igreja do Deus vivo, composta dos santificados em Jesu
s Cristo, tem sido através dos séculos a coluna firmíssima da verdade revelada nas Sag
radas Escrituras. A sua indefectibilidade lhe tem sido garantida peal eleição do Pai
, pela intercessão do Filho seu único Chefe, e pela assistência poderosíssima do Espírito
Santo, único Vigário de Cristo sobre a terra. Mas é bom lembrarmo-nos que a perpetuida
de da árvore não quer dizer estabilidade perpétua do galho e muito menos das ervas par
asitas que enroscam em seus galhos. A história da Igreja no tempo de Elias, a seve
ridade de Deus para com os ramos judaicos, e, sobretudo, a solene admoestação dirigi
da por S. Paulo à igreja de Roma, devem trazer a salutar advertência a nós igrejas par
ticulares de uma cidade, que constituímos os ramos, a nós organizações mais vastas, que
formamos os galhos da Oliveira. Para que tenhamos direito de fazer para, aos olh
os de Deus, da árvores do cristianismo, não basta conservarmos em nossos credos a or
todoxia das doutrinas; é indispensável mantermos em nossa prática a ortodoxia dos sent
imentos. “Eu tenho contra ti – diz o Senhor à igreja de Éfeso – que deixaste tua primeira
caridade” (Ap 3:5). Se somos zelosos em cortar os membros que apregoam doutrinas h
eterodoxas, imitemos particularmente ao Senhor, dobremos esse zelo em lançar fora
de nossa comunhão os que, perdendo a sua caridade, que é a vida divina da Igreja, mo
stram um zelo amargo, um espírito de seita, que é a morte dessa vida no seio de noss
as comunidades. É no domínio da liberdade que se ostenta plenamente a índole celeste d
a imortal caridade. Quando outras razões não houvesse, pois, para essa diversidade e
xterior do cristianismo, seria razão aceitável o dar ela excelente oportunidade à tole
rância evangélica, a essa virtude “que não ensoberbece, que não busca seus próprios interes
es e que tudo tolera” – se há uma verdade que acima das outras deva ser mantida por es
sa “coluna e firmamento da verdade”, é, meus irmãos, a caridade fraternal que só pode real
izar sobre a terra a concepção bíblica da Igreja. “Se amamos uns aos outros”, diz S. João,
us permanece em nós”. É, portanto, pelo amor da irmandade que podemos realizar a verda
de de nosso texto,
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A Igreja que nos pode constituir a “Casa de Deus”. Em face, pois, da natureza da Igr
eja de Deus, quase odiosa é a estreita intolerância, e abominável orgulho e egoísmo sectár
ios, que se insurgem aqui e ali – pouco importa onde – contra a fraternidade evangélic
a, princípio conservador da unidade cristã! Presbiterianos, metodistas, batistas, an
glicanos, congregacionalistas, mostremos na vasta República do Brasil que o regime
da liberdade é a vida fecunda da Igreja Cristã; amortizemos a malevolência caluniosa
de nossos inimigos, patenteando-lhes que em laço áureo, santo, indissolúvel nos une na
comunhão dos dogmas essenciais do cristianismo, no seio natural da verdadeira Igr
eja católica e apostólica – é o vínculo da perfeição, último mandamento de Cristo, sinal di
ivo de seus discípulos – é o amor intenso da irmandade, é a caridade fraterna!
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Fontes e editores do artigo
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A Igreja €Source: http://pt.wikisource.org/windex.php?oldid=51263 €Contributors: Raf
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