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1. HISTÓRICO .................................................................................................................................. 78
2. PRIMEIRA PARTE ......................................................................................................................... 79
3. SEGUNDA PARTE.......................................................................................................................... 80
4. DECRETO N° 1.171, DE 22 DE JUNHO DE 1994. ............................................................... 81
IV - BIBLIOGRAFIA 88
3
Ética: A abordagem filosófica
1. Valores e normas
Ética é um dos grandes temas dos nossos dias. Todos falam de ética e exigem que
ela faça parte das relações humanas, da política, dos negócios e da vida privada. Apesar
dessa unanimidade, poucos saberão explicar o que seja ética. No que vem a seguir,
tentaremos realizar tal tarefa: esclarecer o que seja aquilo que chamamos de ética ou moral.
Tomaremos essas palavras como sinônimas, empregando uma ou outra apenas a título de
variação estilística. A expressão “ética” vem do grego éthos, que significa hábito, enquanto
“moral” vem do latim mos, cujo significado é o mesmo. Sob o ponto de vista etimológico,
usar a palavra “ética” ou “moral” é apenas dar preferência a uma expressão de origem grega
ou a outra de origem latina.
Para entender o que seja a ética como preocupação intelectual, temos de introduzir
alguns conceitos preliminares, visto que a moral se relaciona com o universo dos valores e
normas. Antes de tudo, portanto, perguntemos: o que são valores e normas?
Suponhamos que alguém esteja perdido no deserto, prestes a morrer de sede. Sem
qualquer dúvida, ele estará disposto a dar tudo o que possui em troca de um simples copo
d’água. Na situação descrita, a água é o valor supremo para aquele homem. Em caso de
carência análoga, um emprego ou um carro podem representar valor máximo para alguém.
Consoante a narrativa de Shakespeare, Ricardo III dispunha-se a trocar seu reino por um
cavalo, quando se viu a pé, na derradeira batalha. Em situações normais, o dinheiro, a
aceitação social ou o afeto familiar têm valor para as pessoas. Diremos, então, que valor é
tudo aquilo que, real ou supostamente, dá caráter positivo a algo. De forma simétrica,
antivalor é o que torna algo negativo. Como honestidade, honra e amor são valores,
desonestidade, desonra e ódio são antivalores. Abreviadamente, podemos dizer que tudo o
que é valor é certo, enquanto o antivalor é errado.
Uma vez estabelecido um valor, é natural que se fixe uma norma para alcançá-lo.
O pai que valoriza a honestidade dirá ao filho: seja honesto! Tal frase é uma norma, ou seja,
é uma regra de comportamento que tem por objetivo a realização de um valor. No sistema
de trânsito, por exemplo, a segurança, a rapidez e o conforto são valores, uma vez que
qualquer usuário os deseja. Entretanto, para que cada um possa trafegar de modo seguro,
rápido e confortável, certas normas de trânsito são indispensáveis: “pare no sinal vermelho”,
“dirija à direita”, “ultrapasse à esquerda”, etc.
Que lição tirar dessa imensa multiplicidade de valores e normas, que variam
continuamente, no espaço e no tempo? Por enquanto, basta verificarmos que existem
Códigos Tradicionais de Conduta nas sociedades humanas, códigos estes que estabelecem
valores e impõem normas. Eles são veiculados pela família, pela escola, pelas instituições
religiosas, pelo convívio cotidiano e processos semelhantes. As ações dos indivíduos e dos
grupos devem conformar-se àqueles códigos, sob pena de punição. Se, por exemplo, a
mulher muçulmana sair à rua sem o véu, ela estará sujeita a censuras sociais, visto que o seu
comportamento não se adequa ao código tradicional islâmico.
O universo dos valores e das normas, por conseguinte, comporta pelo menos dois
planos: 1. o dos Códigos Tradicionais de Conduta; 2. o do Direito. Estes planos são
distintos, mas a fronteira entre eles não é intransponível, de vez que um juiz, ao menos em
certas situações, pode emitir sentença apelando para usos e costumes do código
tradicionalmente vigente na sua sociedade.
2. A Ética
Imperturbável, Sócrates disse a Críton que ignorasse a opinião pública, uma vez
que ela seria incapaz de produzir grande bem ou grande mal. Além disso, ele desqualificou
o consenso como critério, lembrando que a maioria também está sujeita a erro.
Disposto a dar a Críton sua última lição, Sócrates resolve exercer a sua profissão
de filósofo, justificando racionalmente sua decisão de ficar e mostrando por que ela seria
certa. Sócrates apresentou vários argumentos, dentre os quais o seguinte:
A disciplina filosófica que estuda valores e normas morais, sob um ponto de vista
racional, chama-se Filosofia Moral ou Ética. Portanto, as palavras “Moral” e “Ética” podem
designar tanto certos sistemas de valores e normas quanto a disciplina que os investiga. O
contexto, porém, deve deixar clara a acepção na qual aquelas palavras são empregadas. A
disciplina filosófica ocupa-se com questões como “O que são o Bem e o Mal?”, “Como se
hierarquizam os princípios éticos?”, etc. Tais itens têm a ver com a fundamentação da
moral, que será vista a seguir. Antes, porém, cabe uma observação: os valores e normas
éticos parecem ser mais estáveis e universais do que aqueles dos Códigos Tradicionais de
Conduta ou do Direito. Por mais que as sociedades se modifiquem, um princípio como
“respeite as pessoas” continua sendo uma regra defensável de convívio humano.
observados e/ou tais relações estiverem valendo, teremos uma base segura para resgatar a
pretensão de validade de tais crenças.
Há contudo enunciados que não expressam nossa crença acerca das leis que regem
o mundo sensível, mas sim a crença em um determinado modo de agir, que parece ser até
certo ponto independente de constatações empíricas. Se chover, haverá um aumento da
umidade relativa do ar. A chuva poderá também favorecer a plantação, mas, quer chova,
quer permaneça sol, acredito que não deva infligir dor inutilmente a outros seres humanos,
acredito que deva manter minhas promessas e que não deva dispor do que não me pertence.
Mas de onde provêm tais crenças? Haverá um fato distinto no mundo no qual esteja baseada
minha compreensão do que devo fazer? Haverá no fundo de cada um de nós algum
sentimento que determine nosso modo de agir? Se não formos capazes de determinar as
regras que orientam a nossa conduta, jamais poderemos supor que um tal âmbito do nosso
discurso possua qualquer fundamento. Apenas poderíamos descrever nossas ações, assim
como descrevemos fenômenos do mundo natural, mas não poderíamos supor que algo
prescreva uma determinada conduta, ou seja, poderíamos apenas constatar que agimos de tal
e tal modo, porém não que devamos agir de uma forma determinada.
Essa distinção entre o modo como as coisas são e o modo como devem ser foi
filosoficamente descrita por meio da distinção entre enunciados assertivos e enunciados
normativos. Os primeiros pertencem ao âmbito do nosso discurso que concerne à verdade.
Os segundos pertencem ao chamado discurso moral. Se considero que tudo aquilo que é não
é senão o que me parece, elimino qualquer possível distinção entre “realidade” e fantasia,
entre o universo de meus estados subjetivos e um acordo intersubjetivo acerca de nossas
experiências. Se considero que meus desejos e interesses individuais devem ser a única
fonte de determinação da minha conduta, elimino qualquer possibilidade de um acordo
comum acerca de normas morais, ou seja, regras que prescrevem o agir de um indivíduo
com relação aos demais.
A primeira delas apela para a nossa natureza como seres sensíveis, capazes,
portanto, de sentir prazer e dor e de se deixar afetar pelo sofrimento alheio. Dentro desta
perspectiva, a investigação acerca do modo como devemos agir deve ser compreendida
como uma investigação acerca das ações ou normas que promovem o bem-estar ou a
satisfação dos indivíduos e da coletividade. Tais ações serão então ditas virtuosas, justas ou
ainda corretas. Em contraposição, serão consideradas injustas ou incorretas as ações ou
normas que promovem sofrimento, devendo, portanto, ser evitadas.
Como, no entanto, saber o que proporciona maior satisfação para outros indivíduos
e por que levar em conta a satisfação de outros indivíduos para avaliação do valor moral de
nossas ações? A estas questões, os utilitaristas respondem com recurso a um sentimento, a
saber: a compaixão ou a simpatia. Tal sentimento exprimiria nossa capacidade de sentir com
o outro, em outras palavras, de nos colocarmos no lugar do outro.
Mas para que a perspectiva utilitarista possa fornecer uma resposta à questão
originalmente colocada, a saber, a questão da fundamentação do caráter prescritivo dos
nossos juízos morais, seria antes necessário provar que de fato possuímos uma tal natureza,
ou seja, que buscamos o prazer e evitamos a dor e, sobretudo, que possuímos um tal
sentimento que faz com que, ao agirmos, não levemos em consideração apenas nossa
própria satisfação, mas a de todos os demais. Caso isto possa ser feito, restaria ainda saber
se o princípio fornecido pelos utilitaristas como critério de moralidade, a saber, o princípio
do maior montante de satisfação, pode ser interpretado como aquele que melhor resgata
nossas pretensões morais.
Para ilustrar, embora de modo bastante caricatural, o aspecto muitas vezes contra-
intuitivo do princípio utilitarista, alguns autores se fizeram valer do seguinte caso: há quatro
indivíduos em um hospital aguardando um doador para transplante de órgãos. Neste
hospital, encontra-se também um quinto indivíduo, saudável, e que naturalmente dispõe dos
órgãos necessários para os outros quatro pacientes. Com o sacrifício de um indivíduo seria
então possível salvar a vida de quatro pessoas. Deveríamos também em casos como esse
supor que a solução moral mais adequada devesse ser avaliada de acordo com o maior
montante de satisfação? Que o nosso quinto paciente respondesse positivamente a essa
questão seria uma exigência para a qual já não encontramos qualquer sustentação no âmbito
do discurso moral com o qual estamos familiarizados. O fenômeno moral que pretendemos
aqui explicar é aquele que envolve seres humanos, demasiado humanos, em busca de
soluções para os conflitos entre seus interesses particulares e o bem-estar do outro. A atitude
de mártires, santos e de um altruísta exacerbado não pode ser adotada aqui como regra de
conduta.
sermos capazes de refletir sobre o mesmo. Mas se somos capazes de refletir sobre o nosso
agir, devemos ser igualmente capazes de justificá-lo. Uma ação deve ser justificada com
base em normas. Normas, por sua vez, só podem ser justificadas com base em um princípio,
a saber: o Princípio de Universalização das Máximas. Com isso se segue que, ao aceitar a
capacidade de agir de forma refletida, comprometemo-nos igualmente com o agir de acordo
com princípios morais, ou seja, normas que possam ser reconhecidas como válidas por
todos. Se queremos, por exemplo, avaliar se nossa decisão de não pagar os impostos
devidos ao governo é ou não moralmente aceitável, deveríamos perguntar se podemos
igualmente querer universalizar tal conduta, ou seja, querer que todos os demais ajam da
mesma forma. Ora, o pagamento de impostos visa à garantia de certos benefícios dos quais
não gostaríamos de abrir mão. Ainda que o nosso interesse individual seja o de estarmos
excluídos de tal obrigação, não podemos pretender que o mesmo valha para todos os
demais, pois isso extinguiria impostos, acarretando a conseqüente supressão dos referidos
benefícios. Isso mostra que nosso interesse puramente individual não pode ser
universalizado, sob pena de supressão do que desejamos, o que é uma forma de contradição.
Mas por que ser livre ou ser capaz de refletir, ou seja, ser racional, deve já conter
em si o comprometimento com o agir moral? A fundamentação kantiana parece, portanto,
estar comprometida com um conceito de razão nem um pouco trivial, o que,
conseqüentemente, compromete sua própria validação.
Uma tentativa de fundamentação análoga será, neste século, proposta por dois
filósofos alemães: Apel e Habermas. Em Habermas (Consciência moral e agir
comunicativo), o conceito kantiano de uma razão pura prática, capaz de determinar a própria
vontade, será substituído pelo conceito de razão comunicacional. Nossa capacidade de
refletir acerca de nossas ações cederá lugar à capacidade de integrar um discurso de
fundamentação racional. Os princípios subjacentes ao mesmo serão os chamados princípios
da Ética do Discurso.
da própria argumentação. Assim sendo, todos aqueles que aceitam tomar parte no discurso
já pressupõem tal princípio. Tomar parte na discussão e recusar tal princípio caracterizaria o
que denominamos uma contradição performativa, ou seja, uma situação na qual nossas
próprias ações contradizem o conteúdo de nossos proferimentos
Nossa pergunta pode ser então recolocada: por que devemos aceitar que ser
racional, agora no sentido de ser capaz de integrar um discurso racional, já nos comprometa
com a aceitação de um princípio moral? Será que Kant ou Habermas poderiam questionar a
racionalidade de Hitler (ele teve estratégia e foi coerente), por mais imoral que tenham sido
suas ações?
corporificada nos códigos de Direito Penal. No segundo caso, a correção exige não
propriamente a aplicação de uma pena a um dos indivíduos, mas o estabelecimento de uma
compensação por uma ofensa ou um prejuízo sofrido por uma das partes envolvidas na
transação, como acontece, por exemplo, na quebra de um contrato. Essa é a justiça
compensativa, cujas regras mais gerais constituem uma parte dos códigos de Direito Civil.
4. Justiça e igualdade
contemporâneas é esse critério que justifica instituições como, por exemplo, o salário
mínimo ou o auxílio-desemprego.
5. Contrato social
Para explicar como isso se dá, esses filósofos recorrem a um esquema composto
de três elementos: 1) Primeiro, pedem-nos que imaginemos uma situação inicial
caracterizada pela dissolução completa do Estado, ou seja, uma situação de literal anarquia
na qual todos os laços de obrigação que ligam os indivíduos em uma sociedade
politicamente organizada desapareceram. Essa situação inicial é por eles chamada de estado
de natureza, que não é outra coisa senão uma maneira de afirmar a igualdade fundamental
dos indivíduos. O que caracteriza esse estado é que nele ninguém pode legitimamente, a
partir de características próprias, pretender impor sua vontade aos outros. O estado de
natureza é um estado de perfeita liberdade e igualdade, mas, em geral, descrito como
indesejável, por alguma razão. O filósofo inglês Thomas Hobbes, por exemplo, descrevia
esse estado como um estado de guerra permanente, no qual nem a vida nem as propriedades
estão asseguradas. 2) Oposto a esse estado está um outro, chamado por eles de estado civil
ou social, que é o estado em que nos encontramos, isto é, em que há uma autoridade
comumente reconhecida. 3) Como explicar a passagem de um para o outro? Que ato
podemos supor que seria realizado por indivíduos livres e iguais, em um estado de natureza,
e que seria suficiente para instituir o Estado? Esse ato intermediário é, dizem esses filósofos,
uma convenção, um contrato ou um pacto. Que a instituição da autoridade política deva ser
entendida nesses termos (mesmo que, historicamente, não haja registros de Estados que
tiveram essa origem), dizem eles, deriva do fato de que a existência do Estado só é possível
pela introdução de limites à igualdade e à liberdade fundamentais dos indivíduos — e essa
introdução de limites, por sua vez, pede o consentimento de cada um. Com isso, tanto a
autoridade dos que detêm o poder estatal quanto a obrigação de obedecer dos cidadãos
provêm da mesma fonte: o consentimento desses últimos. Para os filósofos que pensam a
sociedade dessa maneira, repetimos, não é importante que não tenhamos nenhuma prova de
que algum Estado, algum dia, teve sua origem em um contrato. Tudo o que dizem é que
devemos olhar para a sociedade organizada politicamente como se tivesse sido originada
por um contrato. Ver o Estado por meio da noção de contrato permite-lhes acentuar a idéia
de união de vontades em torno da realização de interesses comuns (o que torna possível, por
exemplo, pensar esta entidade coletiva que é a sociedade como algo dotado de unidade), ao
mesmo tempo em que continuam enfatizando a idéia do consentimento como fundamento
da autoridade política, em algum sentido. Por fim, notemos que é possível derivar da noção
de contrato uma definição interessante de cidadania: ser cidadão é participar deste grande
pacto, deste contrato social que torna possível nossa existência coletiva.
6. O papel do Estado
Para resolver essas dificuldades, Rawls propõe dois princípios de justiça, que
dizem o seguinte: 1) cada pessoa deve ter um direito igual ao sistema mais extenso de
liberdades fundamentais iguais para todos, compatível com o mesmo sistema para os outros;
2) as desigualdades sociais e econômicas devem estar organizadas de maneira a que: a)
possa-se razoavelmente esperar que elas sejam vantajosas para os menos favorecidos; e b)
estejam ligadas a posições e a funções abertas a todos. Esses princípios estão ordenados de
tal maneira que o primeiro não pode nunca ser limitado pelo segundo, ou seja, a liberdade
de um indivíduo não pode nunca legitimamente ser limitada, a não ser em nome da
liberdade igual de outros. Não é legítimo limitar os direitos (ou as liberdades fundamentais)
de alguém porque isso vai ser vantajoso para o maior número ou, mesmo, para os menos
favorecidos. Com isso, Rawls visa à primeira dificuldade que apontamos antes. Com relação
à segunda, o segundo princípio de justiça introduz uma clara preocupação distributiva, ao
dizer que as desigualdades só podem ser justas se forem vantajosas, em primeiro lugar, para
os menos favorecidos pela distribuição. Se é assim, uma ação estatal que tenda a promover
uma tal distribuição vantajosa de desigualdades, desde que respeitadas as liberdades
fundamentais e o princípio da oportunidade igual, pode ser justificada. A posição de Rawls
pode ainda justificar a pretensão do Estado de ativamente promover o bem-estar, intervindo
(por exemplo, por meio de mecanismos de distribuição de renda, imposição diferenciada de
impostos, regulamentação do direito de herança, etc.) na distribuição de desigualdades, de
tal modo que, nessa distribuição, a situação geral dos menos favorecidos esteja melhor do
que em qualquer outra distribuição alternativa.
2. É contra a posição de Rawls que vai escrever R. Nozick. Este parte de uma
premissa muito simples: “Indivíduos têm direitos, e há coisas que nenhuma pessoa ou grupo
pode fazer com eles (sem violar os seus direitos)”. Na opinião de Nozick, o cuidado de
Rawls em assegurar o respeito às liberdades fundamentais, que expõe no primeiro princípio,
é ineficaz: o segundo princípio vai necessariamente ferir os direitos individuais,
fundamentalmente a liberdade pessoal e o direito à propriedade privada. Como justificar o
Estado e suas ações, deste ponto de vista? Para Nozick, o único Estado moralmente
justificado, do ponto de vista do respeito aos direitos individuais, é o que chama de um
Estado mínimo, ou Estado guarda-noturno, isto é, um Estado preocupado exclusivamente
com a segurança de seus membros e com a regulação de suas relações, por meio da
aplicação da justiça corretiva. Desse ponto de vista, uma distribuição justa é qualquer
distribuição que resulte de trocas realizadas livremente entre pessoas. Uma teoria da justiça,
nestes termos, não diz respeito primariamente a uma distribuição legítima ou justa, mas aos
títulos possuídos por alguém, os quais o autorizam a dispor de suas propriedades da maneira
que julgar adequada. São esses títulos que darão às trocas um caráter justo. Assim, para
Nozick, uma teoria da justiça deve ter três tipos de princípios: um princípio de aquisição,
que permita julgar se a posse de determinada propriedade é justa ou não, um princípio de
transferência, que diz que (e como) qualquer coisa legitimamente adquirida pode ser
legitimamente transferida para outro, e um princípio de retificação, que permite corrigir os
vícios nos casos de aquisição ou transferência injusta. Assim, ao contrário do que pensava
Rawls, para Nozick o Estado não está autorizado a implementar políticas que interfiram na
aquisição ou na transferência de propriedades em nome da reparação de desigualdades. Um
Estado preocupado com a promoção do bem-estar vai provocar necessariamente uma
intervenção (ilegítima, por princípio) na esfera dos direitos individuais. Mesmo a cobrança
de impostos para qualquer outra coisa que não a manutenção do sistema de trocas livres —
fundamentalmente, a polícia e o sistema judiciário — é moralmente injustificada. É, no
limite, segundo essa posição, um roubo.
PLATÃO
DIÁLOGO “CRÍTON”
7. Críton (Platão)
Argumento
São de peso as razões que nos levam a considerar o Críton como uma obra
concebida em estreita associação com a Apologia de Sócrates. O estilo não é dissimilar e o
foco incide sobre a figura de Sócrates, debatendo a sua motivação no conflito que o opõe à
cidade. A argumentação não se integra na linha geral dos diálogos sobre a «excelência»,
embora não discorde dela.
43 a-44 b — Críton não quis perturbar o sono de Sócrates com a notícia da chegada do
navio, no dia seguinte ao qual se executaria a sentença. Sócrates relata um
sonho premonitório da sua morte, anunciada para dai a dois dias,
confirmando a sua esperança de a morte ser um bem.
44 b-46 a — Críton exorta-o a que fuja. Os seus argumentos são motivados pela vergonha
que sente por nada ter feito para o livrar da acusação e da condenação à
morte. Defende que Sócrates deve fugir a uma sentença injusta, senão por
outra razão, ao menos para assegurar a proteção dos seus filhos.
46 b-49 a — Sócrates considera a questão, buscando argumentos coerentes com toda a sua
prática anterior, sustentando que a proximidade da morte não deverá influir
nos Juízos presentes.
49 a-50 a — Toda a subsequente argumentação virá a assentar sobre duas premissas bem
50 a-54 d — Intervêm, então, as leis de Atenas, mostrando que Sócrates tudo lhes deve: a
vida, a educação, a união matrimonial com a sua mulher e os filhos que daí
resultaram. Ora, nunca antes Sócrates deu indícios de insatisfação com as leis
da sua cidade, ao contrário de quase todos os seus concidadãos, pois só três
vezes dela se ausentou.
Os justos acordos de cada homem com as suas leis não devem ser
violados, nem para que este se livre do mal que outros lhe queiram fazer.
Se assim proceder, Sócrates será mal recebido pelas leis do Hades,
enfurecidas pelo desrespeito das suas irmãs. Sócrates não deverá, pois,
aceitar fugir.
Para lá do seu interesse biográfico e filosófico, estas duas obras têm um valor
documental, esclarecendo importantes aspectos da prática legal, na Atenas posterior a
Péricles. A questão tem sido abordada em extensa bibliografia, mas será difícil tratá-la de
modo mais claro e condensado do que R. E. Allen, na sua recente edição do Críton e da
Apologia de Sócrates (Sócrates and Legal Obligation, Minnesota, 1980):
não era levada em conta, embora tivesse contribuído para a condenação de Sócrates. O
perjúrio era punido, mas, ao que parece, por processo civil, apenas. Não havia quesitos, nem
qualquer instrumento legal análogo: a condenação era conseguida pelos votos da maioria,
com absolvição, no caso de haver empate. Contudo, a defesa falava em último lugar — o
que era uma grande — vantagem e a acusação era multada, se não chegasse a obter um
quinto dos votos do tribunal, pretendendo esta regra impedir a acusação por malícia. Até
esta data, pelo menos, as partes num processo crime deviam apresentar-se em pessoa, sem
serem representadas por advogado (cf. Apologia, 19 a), devendo a retórica constituir uma
técnica que os cidadãos proeminentes eram aconselhados a adquirir. Todavia, não faltavam
os retores, peritos nas leis e em oratória, que cada um podia contratar para instruir um caso,
ou simplesmente, redigir o discurso...» que devia ser memorizado e pronunciado pelo
interessado (R. E. Allen, Op. Cit. pp. 25-26).
Este breve sumário da regra dos procedimentos legais em Atenas, consonante com
o que a Apologia conta, sublinha um dos traços que mais distinguem a concepção grega
clássica da legalidade, da nossa, hoje, e que, só recentemente, tem merecido a atenção dos
comentadores: o conflito entre a persuasão e a verdade. Declarado logo nas primeiras linhas
da Apologia (17 a 3 ss.), assumirá, no Críton, outras dimensões. Aí, a oposição põe-se,
estranhamente para nós, entre duas espécies de persuasão, aquela que Críton utiliza em
defesa da sua reputação de amigo de Sócrates (46 a 9); e a outra, que sanciona a recta
relação entre Sócrates e as leis da cidade («persuadi-las ou ser persuadido por elas»: 51 e;
persuasão; habitualmente conotada ou traduzida por «obediência»).
Bibliografia recente2 tem levantado uma questão que, durante muito tempo, passou
despercebida aos comentadores da Apologia e do Críton.
1 Para um grego — para o próprio Platão, até ao Sofista — a verdade (alêtheia) é a própria realidade «do que é»,
«o que pode ser pensado» que é «o mesmo para pensar e ser» (Parménides, frgs. 3 6.1).
«Dizes a verdade» (alethês legeis, equivalente a «dizes bem» — kalôs legeis — ou «é certo» — orthôs legeis)
deverá ter um sentido coloquial, caracterizando a coincidência momentânea de duas opiniões, ou de uma opinião com
um facto, mas não poderá exprimir a realidade de um objecto imutável, nem o que, para nós, será ainda mais obscuro o
pensamento sobre ela (que não se expressa num momento definido).
2
R.E.Allen, Op. Cit.; G. X. Santas, Sócrates London, 1979.
Como explicar tão terminante recusa, perante um tribunal que corporiza as leis da
cidade? Implicará, decerto, contradição com a «obediência» expressa no Críton, pelo menos
aparentemente.
E, de facto, uma análise que incida sobre os termos do texto grego mostra que se
trata de um falso problema. Três passagens chegam para eliminar qualquer confusão: Apol.
29 d 2-4; Crít. 51 c, 51 e 5 - 52 a 2. Segundo o Críton, ao cidadão só restam duas
alternativas: «fazer o que a cidade lhe ordena, ou persuadi-la com argumentos.» Mas, mais
adiante, a opção será ainda mais nítida: «...e triplamente culpado ...aquele que não nos
persuade, nem se deixa persuadir por nós...»
CRÍTON
ou sobre o dever; género ético
PERSONAGENS
Sócrates, Críton
Críton — Por Zeus, Sócrates, nem eu quereria ficar acordado com esta
dor. Mas bem me espanto contigo, ao notar como dormes
descansadamente. Foi de propósito que não te acordei, para que
passasses o melhor possível. Já antes muitas vezes na tua vida passada
tive a oportunidade de apreciar a tua habitual boa disposição. Mas
ainda mais te felicito agora, ao ver como na presente desgraça suportas
tão fácil e docilmente tudo isto.
Críton — Trazendo uma dura mensagem, não para ti, pelo que parece,
mas para mim e para todos os teus amigos. E mais dura e mais grave,
julgo, para os que, como eu, mais gravemente a sentem.
Críton — De facto, não chegou, mas parece-me que chegará hoje, pelo
que anunciam alguns, vindos do Súnio2, que este lá deixou. E é claro, por
estas mensagens, que chegará hoje e certamente é forçoso que a tua vida
acabe amanhã.
Sócrates — É que não penso que chegue hoje, mas amanhã. Assinalo-o
por certo sonho que vi há pouco nesta noite, talvez por me teres acordado
só no momento oportuno.
1
Referência à nau que era todos os anos enviada a Delos, em comemoração da vitória de Teseu sobre o Minotauro.
Entre a partida e a chegada de novo a Atenas, não poderia haver na cidade execuções capitais.
2
Cabo situado a sudoeste da Ática.
3
Homero, Ilíada IX 363.
Sócrates — Mas, ó meu bom Críton, importas-te assim com a opinião das
gentes? Os mais sensatos entre os que pensam alguma coisa julgarão que
tudo se passou como se deveria ter passado.
Críton — Mas vê que há que fazer caso das opiniões das gentes. Repara d
como, nas presentes circunstâncias, são capazes de fazer não só os mais
pequenos males, mas, talvez, os maiores, se alguém diante deles tiver sido
caluniado.
Críton — Nada tens a temer. Primeiro, não é assim tanto o dinheiro que
temos de gastar para te salvarmos e te levarmos daqui. Depois, não vês
como esses sicofantas são baratos? Para eles não é precisa grande quantia. b
Para ti, penso que a minha riqueza é bastante. Se te preocupas comigo,
acredita que não é preciso que a dissipe, pois também estão aqui uns
estrangeiros prontos a ajudar. Um Símias, de Tebas, traz bastante
dinheiro, Cebes e muitos outros estão também prontos a isso. Como te
digo, não deixes de te salvar por temeres alguma coisa. Nem temas pelo
que disseste no tribunal, que, se te exilasses, não saberias que fazer
contigo. Pois em muitos sítios, a qualquer parte que chegues te quererão. c
Se quiseres ir para a Tessália, estão aqui comigo estrangeiros que muito te
farão e tratarão com cuidado, de modo a que aí nada sofras.
4
No argumento que se vai seguir (46 d-49 e), Sócrates insiste na coerência e no respeito pelas conclusões
anteriormente atingidas. Esta posição deve ser contrastada com a inconstância e a ausência de sentido das
atitudes da multidão (44 d, 48 c).
Vê se evitas este mal e a vergonha para nós e para ti, ao mesmo tempo.
Decide; embora o tempo não seja mais de decidir, mas de ter decidido E só
há uma decisão: é preciso arranjar tudo na noite que vem. Se ficarmos à
espera de alguma coisa, nada será possível e não haverá nada a fazer.
Peço-te de toda a maneira, Sócrates, que me deixes convencer-te a não
procederes de outro modo.
Tinha eu razão antes, quando afirmava que havia que morrer, ou é agora
manifesto que falava por falar, por criancice e por parvoíce? Não é
verdade, Críton? Desejo investigar juntamente contigo se agora, que estou
aqui, me aparece a mesma ou outra espécie de razão. Deveremos então e
esquecer-nos da antiga ou deixar-nos persuadir por ela?
Críton — Parece.
Críton — Sim.
Críton — É evidente.
Críton — É assim.
Sócrates — Que dano é esse? Que efeito terá sobre o quê, daquele que
desobedece?
Críton — Não.
5
A alma (psychê). O dualismo platônico, cuja importância se torna capital nos diálogos do período médio, sobretudo
no Fédon, República e Fedro, e já aqui um dado sem o qual é impossível compreender a decisão de Sócrates.
Sócrates — E sustentas, ou não, que viver bem, com honra e com justiça
são a mesma coisa?
Críton — Sustento.
Críton — Tentarei.
Todas essas coisas com que concordámos se foram por água abaixo
nestes últimos dias? Achas que aquilo de que conversámos antes com
b seriedade e já com avançada idade se escapou, como se nós mesmos em
nada fôssemos diferentes das crianças?
Ou será que as coisas são tal como as sustentávamos antes, quer o digam
as gentes, quer não. Ainda que haja que sofrer penas mais duras ou mais
leves, cometer injustiça é de toda a maneira vergonhoso e iníquo para
quem a comete. É ou não assim?
Críton — É.
Críton — Certamente.
Sócrates — Nem pagar o mal com o mal, como diz a multidão, uma vez
que há que não ser injusto de nenhuma maneira.
Sócrates — E é justo ou injusto que aquele que sofre retribua o mal, como
dizem as gentes?
Críton — É injusto.
Sócrates — Pois, fazendo mal aos homens que são injustos, em nada
diferimos deles.
Sócrates — É então preciso não pagar o mal com o mal, nem fazer mal a
qualquer homem de quem nos venha mal. E vê, Críton, se ao concordares
com isto concordas contra a tua opinião. Pois sabes que é e será a opinião
de poucos. A uns assim parece, enquanto a outros não: como estes nada
têm em comum, é forçoso que se desprezem ao verem as decisões uns dos d
outros. Portanto, vê se investigas satisfatoriamente com quais concordas e
estás de acordo; decidamos aqui, fundados naquele princípio segundo o
qual de modo nenhum é correcto praticar o mal ou retribuir o mal,
repelindo-o e devolvendo-o, quando se o sofre. Ou pões-te de parte e e
discordas deste princípio?
Pois a mim, tanto antes como agora, ainda me parece valer o mesmo. Mas,
se a ti te parecer outra coisa, diz-ma e ensina-me. Se, contudo, te submetes
ao que foi dito antes, ouve as consequências.
Críton — Praticadas.
11. Críton. — Não tenho resposta para o que perguntas, Sócrates, pois
não sei.
«Diz-nos, Sócrates, que pensas fazer? Não é verdade que, neste assunto b
que estás a empreender, pela tua parte, pensas destruir-nos, às leis e a toda
a cidade? Ou parece-te ainda capaz de subsistir aquela cidade em que as
normas emanadas se não sustentam e são transformadas por indivíduos
sem autoridade?»
6
As leis sobre a criação e a educação obrigavam o pai a assegurar o alimento e educação dos filhos. A música — o
conhecimento dos poetas — e a ginástica constituíam o currículo básico de um jovem ateniense, desenvolvendo
paralelamente o corpo e o espírito.
«Ao que ficar connosco, vendo o modo como ditamos as normas da justiça e
administramos a cidade, sob todos os aspectos, mais dizemos que concorda,
de facto, conosco e executa o que lhe mandarmos. E aquele que não se
deixar persuadir, dizemos que é triplamente injusto: por não se deixar
persuadir por quem lhe deu vida, por quem o criou, e porque, aceitando ser 52
por nós persuadido, não nos persuade, nem se deixa persuadir. E é injusto
porque, embora proponhamos, sem impor selvaticamente as coisas que
ordenamos, concedemos-lhe que nos persuada ou nos obedeça e ele não faz
nenhuma dessas coisas.
«E que farás, senão andar em festas na Tessália, como quem viajou para 54
aí se banquetear? Aquelas discussões sobre a justiça e as outras virtudes
onde estarão?
«Mas queres viver por causa dos filhos, a fim de os criares e educares. O
quê? Hás-de criá-los e educá-los bem na Tessália, fazendo-os
estrangeiros, para que tirem bom proveito disso. Ou talvez não.
16. «Sócrates, deixa-te persuadir por nós, que te criamos, e não faças
mais caso da vida e dos filhos, nem do que quer que seja, além da justiça,
a fim de que, indo para o Hades, tenhas todos estes argumentos em tua
defesa perante os que lá governam. Pois, ao fazeres o que te propõem, c
nem aqui te parecerá melhor, nem mais justo, nem mais piedoso, nem
para nenhum dos teus, nem, lá chegando, será melhor. Pelo contrário, se
deixares esta vida agora, ir te-ás embora, tendo sido injustiçado, não por
nós, as leis, mas pelos homens. E, se fugires, retribuindo assim o mal com
o mal, e fazendo-o por tua vez, violando acordos e tratados que fizeste
conosco, fazendo mal a esses a quem menos devias fazer, a ti próprio e
aos amigos, à pátria e a nós, nós te tornaremos a vida dura, e além, as d
nossas irmãs, no Hades, não te receberão bem, vendo que, por ti,
intentaste destruir-nos. Mas não te deixes persuadir, fazendo o que Críton
diz, mais que o que nós dizemos.»
Estas coisas, ó amigo e companheiro, sabes bem que julgo ouvir, como os
Coribantes crêem ouvir as flautas e dentro de mim o ruído das conversas
zune e faz com que não possa ouvir outra coisa. Mas, sabes o que me
parece agora; se disseres alguma coisa além disto, falarás em vão. Se,
contudo, achas que há alguma coisa a fazer, fala.
Sócrates — Deixa, então, Críton. Deixemos ficar assim, pois por esta via é
o deus que guia.
Apesar da confiança geral, alguns fatos novos como, por exemplo, a terceirização
de vários setores, trouxeram dúvidas sobre a continuidade dos excelentes serviços até
agora prestados. Além disso, cresceu o cepticismo entre a população do país a respeito do
comportamento dos políticos, o que teve reflexos sobre a imagem da Câmara dos Comuns
(deputados), o centro da democracia britânica. O Relatório Nolan reconhece tudo isso e
analisa não apenas o funcionalismo. Ele começa falando da Câmara, o órgão máximo do
Estado, estabelecendo, pela sua própria metodologia, que o exemplo deve vir de cima.
conselhos curadores, etc. Quem deve ser nomeado? Quem deve nomear? Segundo que
critérios?
Para cada uma das entidades mencionadas, deverá haver um código de ética
também de conhecimento público. Cada membro de conselho comprometer-se-á a
obedecer ao código da sua entidade, sob pena de não ser nomeado.
O Relatório Nolan repete, no seu estudo sobre a Câmara dos Comuns, dos
ministérios e dos servidores e das mencionadas entidades semi-autônomas, o mesmo
procedimento analítico: detecta problemas, propõe códigos de conduta, exige registros e
fiscalização independente para o cumprimento das respectivas normas e, por fim, sugere
processos de educação e de formação rotineira, de modo a que cada um conheça suas
obrigações e aprenda a cumpri-las bem.
Tudo isso, entretanto, deve acontecer sob a égide de Sete Princípios da Vida
Pública, que a Comissão Nolan formula da seguinte maneira:
medidas para resolver quaisquer conflitos que possam surgir, de forma a proteger o
interesse público.
2. uma vez detectados os principais problemas nas diversas áreas, definir códigos
de conduta (sujeitos a revisões e a aperfeiçoamentos), para cada uma delas, sob a égide dos
mencionados princípios gerais (que são estáveis);
Resumo
Recomendações gerais
Códigos de conduta
(∗) NOLAN, Lord. Normas de conduta para a vida pública. Brasília, Cadernos ENAP, nº 12, 1997, p. 11-25.
Fiscalização independente
Educação
Membros do Parlamento
16. O público precisa saber que as regras de conduta que regem os interesses
financeiros dos membros do Parlamento estão sendo aplicadas de maneira firme e
justa. Houve pedidos para que essas regras fossem convertidas em leis cuja violação
pudesse ser levada à justiça Acreditamos que a Câmara dos Comuns deverá continuar
a ser responsável pela aplicação de suas próprias regras, mas que são necessárias
regras melhores.
17. Por analogia com o Controlador e Auditor Geral,2 a Câmara deveria nomear
um Comissário Parlamentar de Padrões, uma pessoa independente, que assumirá a
responsabilidade de manter o Registro de Interesses dos Membros do Parlamento, de
aconselhar e orientá-los em questões de conduta, de aconselhar a respeito do Código
de Conduta, e de investigar as acusações de conduta inapropriada. As conclusões do
Comissário sobre tais assuntos seriam publicadas.
19. Espera-se, com razão, que ministros e servidores públicos tenham padrões de
conduta os mais elevados. Embora haja inquietação por parte do público, isto diz
respeito a uma gama bastante estreita de questões.
22. Tem havido muita preocupação com ministros que, ao deixarem o cargo,
assumem funções em empresas com as quais tinham relações oficiais. Durante um
prazo de dois anos, após deixarem o cargo, os servidores públicos graduados devem
solicitar permissão de uma comissão consultiva independente antes de assumirem
cargos na iniciativa privada. A mesma necessidade de proteção do interesse público
surge em relação a ministros e assessores especiais, que devem ser sujeitos a um
sistema semelhante de autorização.
23. O sistema deverá ser mais aberto à fiscalização por parte to público do que é
hoje, tanto para ministros como para servidores públicos.
26. Embora o novo sistema de recurso individual para servidores públicos seja
bem-vindo, são necessários melhores procedimentos dentro dos ministérios para a
investigação confidencial a respeito das preocupações por parte dos seus servidores
sobre padrões de conduta.
27. É preciso fazer mais para garantir que todos os servidores públicos estejam
conscientes dos padrões de conduta exigidos no setor público.
3O. Existe muita preocupação por parte do público acerca das nomeações para os
conselhos de administração dos Quangos e uma crença difundida de que tais
nomeações nem sempre são feitas com base no mérito. O governo assumiu
publicamente o compromisso de fazer todas as nomeações com base no mérito.
31. Embora os cargos individuais devam sempre ser preenchidos com base
unicamente no mérito, é importante que a composição global dos conselhos represente
uma mistura adequada de habilidades e de experiências passadas importantes. Essa
abrangência poderia ser clara e publicamente especificada na descrição dos cargos.
35. Após os recentes escândalos, muito tem sido feito para melhorar e padronizar
procedimentos para garantir altos padrões de conduta nos NDPBs. Esse processo
precisa continuar. Todos os NDPBs e órgãos do Serviço Nacional de Saúde deverão
ter códigos de conduta para conselheiros e servidores, compatíveis com os princípios
que se aplicam a todas as entidades públicas.
38. Externamente, deve ser ampliado o papel dos auditores em assuntos relativos
a comportamento ético. Os procedimentos de auditoria devem ser analisados para
garantir que os procedimentos ótimos sejam aplicados a todas as entidades.
Lista de recomendações
Acreditamos que ajudaria a todos aqueles aos quais esse relatório está sendo
dirigido, se fornecêssemos uma indicação geral dos prazos em que julgamos que as
recomendações poderiam ser implementadas. Por isso, classificamos nossas
recomendações em uma das três categorias gerais:
Membros do Parlamento
4. A Câmara deveria examinar, sem demora, de forma mais ampla, o mérito das
consultorias parlamentares de maneira geral, levando em conta as implicações
financeiras e de financiamento de campanhas que as mudanças poderão acarretar. (§
2.S9)A
5. A Câmara deveria:
10. O governo deveria tomar medidas agora para tornar mais clara a lei relativa à
prática ativa ou passiva de suborno por parte de membro do Parlamento. (§ 2.104)C
— a Câmara deve nomear uma pessoa independente, que deverá ter um certo
grau de estabilidade e não ser servidor de carreira da Câmara dos Comuns, como
Comissário Parlamentar de Padrões;
— levando em conta que haveria um caso prima facie para ser investigado,
recomendamos que as audiências da subcomissão proposta sejam normalmente
públicas. Também recomendamos que a subcomissão seja capaz de solicitar o
concurso de consultores especialistas e que o Parlamentar, que assim o desejar, possa
ser acompanhado perante a subcomissão por consultores;
14. Cuidados devem ser tomados para garantir que sejam utilizados os meios
mais adequados na investigação de casos de suposta conduta imprópria relativos a
ministros. Salvo em circunstâncias excepcionais, deve ser aplicada a esses casos a
regra geral de que os pareceres de servidores públicos endereçados a ministros não
devem ser divulgados. (§ 3.22)A
19. O sistema deverá ser o mais aberto possível, protegendo, ao mesmo tempo, a
privacidade dos ministros. (§ 3.38)A
23. A versão preliminar do código do serviço público deverá ser revisada para
cobrir situações nas quais o servidor público, embora não esteja pessoalmente
envolvido, tenha conhecimento de delito ou de má administração que esteja ocorrendo.
(§ 3.51)A
26. O novo código do serviço público deve entrar em vigor imediatamente, com
efeitos imediatos, sem esperar ser transformado em lei. (§ 3.55)A
28. Deverão ser realizados levantamentos de rotina nos ministérios e nos órgãos
a respeito do conhecimento e compreensão por parte dos servidores dos padrões éticos
que lhes dizem respeito; se tais levantamentos indicarem áreas com problemas, a
orientação deverá ser adequadamente reforçada e disseminada, especialmente na forma
de treinamento adicional. (§3.61)A
Quangos
(Órgãos públicos executivos não vinculados a ministérios e órgãos do Serviço
Nacional de Saúde)
Nomeações
34. Todas as nomeações no serviço público devem ter como critério o princípio
maior da nomeação por mérito. (§ 4.3S)A
37. Cada junta ou comissão deverá ter pelo menos um membro independente e
os membros independentes deverão normalmente perfazer pelo menos um terço tos
membros. (§ 4.49)C
Conduta
53. Cada NDPB executivo e órgão do Serviço Nacional de Saúde deverá, caso
ainda não tenha feito, indicar um servidor ou membro do Conselho com a atribuição
de investigar preocupações apresentadas de maneira confidencial por parte de
servidores, mencionadas confidencialmente, sobre correção de conduta. Os servidores
poderão apresentar queixas sem ter de passar pela estrutura administrativa normal, e
devem ter garantido o anonimato. Se continuarem insatisfeitos, os servidores também
deverão ter um caminho claro para levantar preocupações sobre questões de correção
com o ministério patrocinador. (§ 4.1 16)B
a) O caso australiano
Os servidores públicos australianos contam com uma série de documentos
oficiais que estabelecem os padrões de conduta ética no serviço. O principal deles
chama-se Guidelines on Official Conduct of Commonwealth Public Servants e é
regularmente revisado, o que permite mantê-lo sempre atualizado em um ambiente
cada vez mais rapidamente em transformação. Um novo Public Service Act deve
consolidar, pela primeira vez na forma de lei, um conjunto de valores éticos e um
código de conduta para os servidores públicos. Há ainda uma agência especialmente
responsável pela manutenção dos padrões éticos, a Public Service and Merit
Protection Commission.
concentração nos resultados; mérito como base para o emprego; altos padrões de
probidade, integridade e conduta; forte compromisso com a responsabilidade e a
prestação de contas; melhoria contínua das equipes e dos indivíduos.
b) O caso holandês
Na Holanda, o problema da ética no serviço público impôs-se a partir de uma
preocupação com a integridade (ou seja, incorruptibilidade, correção e confiabilidade)
da administração pública, após uma série de incidentes que envolviam vazamento de
informações, transações duvidosas e rumores na imprensa. Essa preocupação com a
integridade do serviço público está diretamente ligada ao receio de perda de confiança
por parte dos cidadãos, sem a qual a democracia não poderia funcionar. Não por acaso,
a questão principal para o governo holandês não é tanto a fraude ou a corrupção em si
mesmas, mas o abuso de poder implicado por essas e outras práticas antiéticas e
ilegais. Para garantir a integridade de seu serviço público, o governo holandês conta
com uma infra-estrutura que engloba instrumentos legais, órgãos especiais
responsáveis pela ética no serviço público como um todo, mecanismos de prestação de
contas e controle interno, códigos de conduta e processos de educação e formação.
c) O caso norte-americano
Também para o governo norte-americano, o problema da ética no serviço
público aparece subordinado à questão da confiança dos cidadãos no governo e em sua
integridade. Os princípios éticos gerais aplicáveis aos servidores públicos estão
enumerados no documento “Padrões de conduta ética para funcionários do poder
executivo”. Destaquemos alguns:
diferenciem-se apenas por uma ênfase distinta em aspectos que convivem sem
problemas lado a lado. E talvez essa diferença de ênfase não faça mais do que expor,
em outro registro, as diferenças que de resto existem entre esses países no que diz
respeito ao grau de desenvolvimento.
3. Documentos Estrangeiros
A) NAÇÕES UNIDAS
Princípios diretivos para a ética no serviço público(∗)
(∗)“Guiding principles in Public Service ethics”, em Ethics, professionalism and the image of the Public Service,
relatório preparado pela Secretaria da ONU para o 13° Encontro do Grupo de Especialistas do Programa das Nações Unidas
para Administração Pública e Finanças. ONU, maio de 1997.
Evitar dilemas éticos: tanto quanto for possível, mas, se envolvido em um,
procurar aconselhamento e exercitar a prudência. Através da prudência, é possível
lidar com a maior parte dos dilemas éticos.
B) AUSTRÁLIA
A infra-estrutura ética(∗)
(∗) “The management of ethics and conduct in the Public Service: Australia”. Relatório feito por Mike Jones, Comissão do
Serviço Público e da Proteção ao Mérito, Austrália, dezembro de 1995. Em Ethics in the Public Service, OECD, 1996.
C) HOLANDA
O ambiente do serviço público(∗)
“O governo ou tem ou não tem integridade. Não se pode ter apenas um pouco
de integridade. Uma administração sustenta-se ou cai com a integridade do governo;
qualquer diminuição da integridade do governo significa que o governo perde a
confiança do público. E sem a confiança do público, a democracia não pode funcionar.
Então não há mais democracia. Este é um quadro assustador.”
A.2 Os perigos
(∗) “The management of ethics and conduct in the Public Service: the netherlands”. Relatório feito por Johan Maas, ministro
do Interior, Holanda, dezembro de 1995. Em Ethics in the Public Service: current issues and practice. OECD, 1996.
Complexidade da legislação
Uma forma pela qual a integridade da administração pública pode ser afetada
é através das táticas agressivas adotadas por grupos opostos na promoção de seus
interesses. Isso pode ocorrer legalmente, através de organizações industriais e
comunitárias nos circuitos “lobbistas”, particularmente em tempos de recessão, ou
ilegalmente, através de manipulação e infiltração de organizações criminosas.
Enfraquecimento de padrões
(...)
D) ESTADOS UNIDOS
Obrigações básicas do serviço público(∗)
(7) Os funcionários não devem usar a função pública para ganho privado.
(∗) “Basic obligation of public service”, em “Standards of ethical conduct for employees of the executive branch”. Code of
federal regulations, título 5, cap. XVI, parte 2.635, Seção 2.635.101.
(14) Os funcionários devem visar a evitar qualquer ação que crie a aparência
de que estejam violando a lei ou os padrões éticos estabelecidos nesta parte. Se
circunstâncias particulares criam a aparência de que a lei ou estes padrões foram
violados deve ser determinado a partir da perspectiva de uma pessoa razoável com
conhecimento dos fatos relevantes.
E) ARGENTINA
(∗) “Declaración de princípios de los funcionarios de la Administración Tributaria”, em: República Argentina.
Administración Federal de Ingressos Públicos. Programa de Fortalecimiento Ético, janeiro de 1998.
F) PERU
(∗) “Ideario axiológico de los trabajadores de la SUNAT”, em: República do Peru. SUNAT, Instituto de Administración
Tributaria. Los seminários de fortalecimiento ético, material preparado para o seminário “La Ética del Funcionario Tributario
y su Estrategia de Capacitacíon”(19 a 23 de janeiro de 1998, Viña del Mar, Chile). Lima, janeiro de 1998.
G) MÉXICO
1. Introdução
(...)
2. Quadro legal
1. Campo administrativo
Esta responsabilidade está apoiada em uma lista de obrigações e em um
código de conduta que todos os servidores públicos devem observar. Apesar dessas
obrigações apresentarem uma grande similaridade com ilícitos criminais, seu alcance é
puramente administrativo.
(∗) “The management of ethics and conduct in the Public Service: Mexico”. Relatório feito por José Octavio López Presa,
Ministro do Controle e do Desenvolvimento Administrativo, México, dezembro de 1995. Em Ethics in the Public Service:
current issues and practice. OECD, 1996.
XIV Informar por escrito seu superior imediato ou, se for o caso, o superior
deste, a respeito do processamento ou da tomada de decisões nas
2. Campo criminal
3. Campo civil
1. Histórico
2. Primeira parte
A primeira parte está dividida em três seções: (1) Das Regras Deontológicas;
(2) Dos Principais Deveres do Servidor Público; (3) Das Vedações ao Servidor
Público.
Dentre os treze itens que compõem esta primeira seção, alguns parecem
contradizer a proposta original ao introduzir elementos externos como fator de
coerção. Este é o caso do IV item, no qual se apela para o fato de que o servidor
público é remunerado direta ou indiretamente por todos, o que exigiria como
contrapartida que a moralidade administrativa se integrasse ao Direito, erigindo-se em
fator de legalidade. Outro exemplo é o item IX, no qual é exigida boa vontade e
cortesia para com aqueles que pagam seus tributos.
3. Segunda parte
Cada comissão deverá ser formada por três servidores indicados conforme
seus antecedentes funcionais, passado sem máculas, integral dedicação ao serviço
público e boa formação moral. Caberá às comissões instaurar processo sobre ato, fato
ou conduta que possa ser considerada como infringindo princípios morais. A denúncia
poderá ser feita por qualquer pessoa que se identifique ou entidade associativa de
classe regularmente constituída. A pena será a censura, devendo a decisão ser
registrada nos assentamentos funcionais do servidor.
DECRETA:
ITAMAR FRANCO
ROMILDO CANHIN
Capítulo I
Seção I
VIII - Toda pessoa tem direito à verdade. O servidor não pode omiti-la ou
falseá-la, ainda que contrária aos interesses da própria pessoa interessada ou da
Administração Pública. Nenhum Estado pode crescer ou estabilizar-se sobre o poder
corruptivo do hábito do erro, da opressão ou da mentira, que sempre aniquilam até
mesmo a dignidade humana quanto mais a de uma Nação.
Seção II
Seção III
Capítulo II
IV - BIBLIOGRAFIA
KRISCHKE, P. O. (Org). O contrato social − ontem e hoje, São Paulo, Cortez, 1992.
LADRIÈRE, J. Ética e pensamento científico. São Paulo, Editora Letras & Letras, s.d.
NASH, Laura L. Ética nas empresas − boas intenções à parte. São Paulo, Makron
Books, 1993.
NOLAN, Lord. Normas de conduta para a vida pública. Brasília, Cadernos ENAP, no
12, 1997.
VAN PARIJS, P. O que é uma sociedade justa?. São Paulo, Ática, 1997.