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Resumo: Este artigo tem por finalidade refletir sobre Paulo Freire e os ensinamentos
contidos em seu último livro Pedagogia da Autonomia. Para isso, foi necessária a
leitura tanto do livro em questão como de outras obras do autor. Esse educador
sempre demonstrou um grande entusiasmo ao falar de educação e, para ele, a ética
vai bem além do significado encontrado nos dicionários. Para afirmar isso foi
necessária a pesquisa em livros sobre ética e o conhecimento real da pessoa que foi
Paulo Freire. Tratar-se-á aqui da ética debatida por esse autor e defendida por ele em
suas falas e seus textos. Dentre outras coisas, a proposta da pedagogia de Freire
evidencia que ele desejava que o educador fosse um “problematizador”, pois sua
pedagogia sempre tratou de uma questão: “[...] ensinar não é transferir conhecimento,
mas criar as possibilidades para sua produção ou sua construção”.(Freire, 2000, p.52)
Sendo assim, a análise presente neste artigo, acerca do tema ética, é feita seguindo-
se o conceito pensado por Freire. Para ilustrar tudo o que foi dito, escrito e aprendido
de Paulo Freire utilizou-se uma pesquisa qualitativa com uma entrevista feita com
alguns professores alfabetizadores, visando perceber o quanto eles sabiam e
interpretavam a ética tão citada pelo educador. Por fim, tem-se aqui um estudo, não da
metodologia de Freire, mas da reflexão acerca do que ele representa na educação
brasileira, sobre o que os professores conhecem ou desconhecem de seus
pensamentos éticos e sobre uma de suas obras mais singulares: a Pedagogia da
Autonomia. Por fim, para a realização deste trabalho foi necessária, então, uma vasta
pesquisa bibliográfica, a disposição de professores alfabetizadores abertos à reflexão
e, obviamente, muita dedicação do que denominaria Freire “professor pesquisador”,
pois é nele que finalmente se guiam as reflexões desse artigo.
Vale ressaltar que este artigo não tratará em momento algum a metodologia de
Paulo Freire, pois para isso seria necessário um estudo mais apurado sobre seus
pensamentos e ensinamentos. Tratar-se-á aqui somente de algumas reflexões sobre o
último livro que Paulo Freire escreveu em vida e como os pensamentos presentes no
livro – no qual ele escreveu sobre a ética – devem ser utilizados como guia para a
formação docente.
É dessa ética que tratará este artigo e como ela é vista e entendida pelos
professores alfabetizadores, pois é através dela que se deve guiar o trabalho com a
educação. É por ela que se pode ou não construir nos alunos o aprendizado, pois,
como destaca Piaget em sua Perspectiva construtivista, “o ensino é visto como um
convite à exploração, a descoberta tornando-se a sala de aula um espaço de
construção onde o aluno tem um papel central de ativo na produção de saber”.
1. Ética
Porém não é dessa ética que trataremos aqui e, em virtude disso, não há por
que aprofunda-la.. Em todos os lugares onde estamos ou passamos vemos a ética,
pois somos seres éticos. Não há porque incluirmos aqui noções de ética, pois já se
sabe muito sobre ela. É como disse Freire em uma de suas últimas palestras sobre
Ética, proferida no instituto Mackenzie, no dia dez de abril de 1997, um pouco antes de
falecer: “Nós nos tornamos necessariamente seres éticos [...] só os seres capazes de
‘eticizar’ o mundo são capazes também de transgredir essa ética.”
Já devemos então, como educadores, ter já essa ética descrita nos dicionários
como ‘Conjunto de princípios ideais de conduta”. (CEGALLA, 2005, p. 394), inserida,
não só em nossas aulas, mas em toda a escola, em todos os lugares por onde
passamos ou onde estamos e em nossa rotina diária. Sendo assim a ética definida por
muitos autores não será tematizada aqui porque não é necessário falar sobre ela para
que ela esteja presente na vida. Ela é inerente ao ser humano e é visível, quer em
ações moralmente boas, quer em ações que não são moralmente boas e, por isso, é
questionada no cotidiano de todas as pessoas.
Finalmente chegou-se à ética de Paulo Freire. Ela está contida com toda a sua
essência em seu livro Pedagogia da Autonomia. Porém, podem-se encontrar traços
dela na maioria das obras do autor. Especificamente no livro em questão, Freire
escreve principalmente sobre a formação do professor que, para ele, está intimamente
ligada à ética. É ela que conduz seu trabalho e o faz prosseguir para o pleno
entendimento do aprendizado dos alunos. Então, essa não é a ética encontrada nos
dicionários e presente no nosso cotidiano. Trata-se da “Ética” de Freire, para quem
esse tema é descrito como aquilo
Ela é a ética que respeita o sonho e as idéias dos alunos, que os faz progredir
e perceber sua autonomia e que os faz, finalmente, ser seres críticos e construtores do
próprio conhecimento, transformando-os diariamente em alunos que querem participar
ativamente seus próprios conhecimentos e gostam de fazer isso.
Nas salas de aula tem-se visto com freqüência alunos que não possuem ainda
essa liberdade de se expressar e atuar criticamente frente ao que está sendo ensinado
por seus professores. A partir da análise da postura de alguns professores, pode-se
perceber que ainda não há momentos de aprendizagem mais abertos para o aluno,
nos quais o professor deve se tornar apenas o mediador, o “problematizador” do
conhecimento. Deve-se acreditar que os alunos podem estar mais atuantes na sala de
aula tornando-se, assim, seres críticos e participativos na construção do próprio
conhecimento.
O professor deve estabelecer uma parceria com seus alunos para que eles não
se tornem meros receptores do conhecimento, e sim indivíduos que se tornam
independentes para aprenderem em todos os lugares, em todas as situações. Assim,
não só nas escolas haverá a busca pelo saber, mas pelo mundo afora. “Torna-se
fundamental aprender e pensar autonomamente, saber comunicar-se, saber
pesquisar, saber fazer, ter raciocínio lógico, aprender a trabalhar colaborativamente,
fazer sínteses e elaborações teóricas, saber organizar o próprio trabalho, ter
disciplina, ser sujeito da construção do conhecimento, estar aberto a novas
aprendizagens, conhecer as fontes de informação, saber articular o conhecimento
com a prática.” (GADOTTI 1997, p.13)
Diante de muitas teses divulgadas e debatidas por Paulo Freire, trata-se aqui
de sua percepção de mundo, afinal, ele “vê o mundo sob a ótica da libertação humana
e individual.” (Gadotti, 1997, p.32) Tem-se aqui, então, o que realmente importa nesse
trabalho. É sobre liberdade que se quer que reflitam os professores. Será que suas
aulas permitem que os alunos construam criticamente suas aprendizagens? Será que
eles conseguem torná-los detentores dessa forma de aprender tão bem citada por
Paulo Freire? Será que ela está sendo utilizada ou bem empregada no trabalho com
os alunos? Todos os educadores envolvidos no processo de ensino-aprendizagem
devem refletir sobre a ética de Freire.
A pesquisa relatada a seguir deve ser entendida como uma contribuição para a
reflexão acadêmica sobre esse assunto. Não se deseja julgar ações e a formação dos
professores, e sim para refletir sobre como estão caminhando na construção do
conhecimento dos alunos. Afinal, a educação se divide em antes e depois de Paulo
Freire e deve-se ter em vista que a geração posterior a Freire tem o dever de levar em
conta o que foi ensinado por esse educador.
Quando se cita Freire, todos os cinco professores não têm dúvidas sobre o
autor. Eles conseguem explicar seu legado, percebendo que sua “ética universal” está
relacionada diretamente à construção do conhecimento pelo aluno. Pode-se perceber
também que esses educadores se consideram inseridos nessa ética universal e, de
acordo com o que relataram, trabalham em suas aulas utilizando-a e demonstrando
que “ensinar só é valido quando os educados aprendem a razão de ser do objeto ou
conteúdo”, como Paulo Freire mesmo ensina.
Então, por que essa professora pensa e age como ela mesma descreve,
confundindo sua ética e bondade? Porque, como explica Freire em seu livro
Professor sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar: “Ser tia é viver uma relação de
parentesco, Ser professor implica assumir uma profissão enquanto não se é tia por
profissão”. (p.9)
Pode-se dizer que essa professora age como tia por não perceber em
momento algum na ética de Freire a ação libertadora de seus alunos. É nessa ação
que eles devem exercer seu poder em sala de aula, aprendendo, construindo,
dialogando e participando de muitas formas para conseguir sempre o aprendizado.
Para isso é ideal que os “professores” se definam sempre como professores. A
educadora citada, diferentemente das outras entrevistadas, demonstrou não perceber
em momento algum que se tratava de uma pesquisa sobre liberdade, e não sobre
bondade.
Deve-se estar atento à ética que se utiliza nas aulas. É uma ética extremista de
bem e mal, de certo e errado? Ou percebem-se as relações de autonomia que todos
devem ter na aula? O construtivismo crítico freiriano é muito simples de ser entendido,
porém é difícil de ser praticado. Ele exige mudanças não só individuais, mas também
sociais.
4. Considerações Finais
E foi isto que se fez no curso de especialização: ler e reler apostilas, informar,
formar, letrar e continuar a buscar o letramento, mesmo que esse termo ainda não
esteja em alguns dicionários. Este trabalho final se faz importante por permitir tal
formação. Há professores que trabalham 39 anos no magistério sem perceber Freire,
sem caminhar ao lado dele e sem torná-lo presente em suas aulas.
O presente trabalho foi marcado por incertezas. Como estudar a ética de Freire
se todos já estão inseridos nela? Ela já faz parte da vida, já sobrevive às aulas. Como
Gadotti mesmo explica em seu livro A Escola e o Professor: Paulo Freire e a paixão
de ensinar, acreditar na utopia e no sonho fez parte da vida desse autor. É como ele
mesmo afirma na introdução do capitulo sobre a utopia como tema “epocal freireano”.
Sim, deve-se ser professor utópico, acreditando ainda que a prática deva
condizer com a teoria que se aprende: “A utopia é o verdadeiro realismo do devir
humano. Isso significa que para ser realista em educação, o educador precisa ser
utópico: a utopia representa um impulso para se colocar a caminho para além do dado
histórico. Ela se torna um desafio e estimulo.” (Gadotti, 1997, p.33) Paulo Freire ensina
ainda hoje. É com sua teoria que se deve aprender. Ele teve como uma de suas
preocupações as relações entre professor aluno e a formação para a consciência
crítica. É através dessa preocupação que se pode perceber hoje o quanto cresceram
os educadores.
___________. Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. São Paulo: Olho
D´Água, 10ª ed. , 1993.
Sánches Vázquez, Adolfo. Ética. Rio de janeiro: Civilização Brasileira, 20ª Ed., 2000.