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A ÉTICA SEGUNDO FREIRE NA ALFABETIZAÇÃO:

Pensamentos docentes sobre a construção do conhecimento

Sandra Elizabeth da Silva


Orientador: Kleber Do Sacramento Adão

“Mulheres e homens, seres histórico-sociais, nos tornamos


capazes de comparar, de valorar, de intervir, de escolher, de decidir, de
romper, por tudo isso, nos fizemos seres éticos. Só somos porque estamos
sendo. Estar sendo é a condição, entre nós, para ser. Não é possível
pensar os seres humanos longe, sequer, da ética, quanto mais fora dela.
Estar longe ou pior, fora da ética, entre nós, mulheres e homens, é uma
transgressão. É por isso que transformar a experiência educativa em puro
treinamento técnico é amesquinhar o que há de fundamentalmente
humano no exercício educativo: o seu caráter formador. Se se respeita a
natureza do ser humano, o ensino dos conteúdos não pode dar-se alheio à
formação moral do educando. Educar é substantivamente formar.” (Freire,
1996, p. 33)

Resumo: Este artigo tem por finalidade refletir sobre Paulo Freire e os ensinamentos
contidos em seu último livro Pedagogia da Autonomia. Para isso, foi necessária a
leitura tanto do livro em questão como de outras obras do autor. Esse educador
sempre demonstrou um grande entusiasmo ao falar de educação e, para ele, a ética
vai bem além do significado encontrado nos dicionários. Para afirmar isso foi
necessária a pesquisa em livros sobre ética e o conhecimento real da pessoa que foi
Paulo Freire. Tratar-se-á aqui da ética debatida por esse autor e defendida por ele em
suas falas e seus textos. Dentre outras coisas, a proposta da pedagogia de Freire
evidencia que ele desejava que o educador fosse um “problematizador”, pois sua
pedagogia sempre tratou de uma questão: “[...] ensinar não é transferir conhecimento,
mas criar as possibilidades para sua produção ou sua construção”.(Freire, 2000, p.52)
Sendo assim, a análise presente neste artigo, acerca do tema ética, é feita seguindo-
se o conceito pensado por Freire. Para ilustrar tudo o que foi dito, escrito e aprendido
de Paulo Freire utilizou-se uma pesquisa qualitativa com uma entrevista feita com
alguns professores alfabetizadores, visando perceber o quanto eles sabiam e
interpretavam a ética tão citada pelo educador. Por fim, tem-se aqui um estudo, não da
metodologia de Freire, mas da reflexão acerca do que ele representa na educação
brasileira, sobre o que os professores conhecem ou desconhecem de seus
pensamentos éticos e sobre uma de suas obras mais singulares: a Pedagogia da
Autonomia. Por fim, para a realização deste trabalho foi necessária, então, uma vasta
pesquisa bibliográfica, a disposição de professores alfabetizadores abertos à reflexão
e, obviamente, muita dedicação do que denominaria Freire “professor pesquisador”,
pois é nele que finalmente se guiam as reflexões desse artigo.

Palavras-chave: Ética. Paulo Freire. Educação. Formação docente. Letramento.


Introdução

Através de estudos feitos, não só no curso de Especialização em Práticas de


Alfabetização e Letramento, mas também durante toda a formação atual do professor
percebe-se uma grande preocupação em demonstrar aos educadores o quanto foi e é
importante a contribuição de Paulo Freire na educação. No curso de especialização
citado, pode-se perceber isso com a inclusão curricular da disciplina Didática do
Ensino Superior, na qual a professora Maria do Socorro Nunes pode escrever sobre a
formação do professor tendo por base os ensinamentos contidos no livro Pedagogia
da Autonomia, escrito por Freire. Podem-se observar na citada disciplina vários
questionamentos feitos pela professora para que os alunos do curso pudessem refletir
acerca da ética que o autor destaca e que será aqui posteriormente descrita.

A partir das reflexões propostas no curso e do aprofundamento teórico


posterior, este artigo tem por finalidade debater a ética de Freire, enfatizada no livro
Pedagogia da Autonomia. Além disso, busca refletir sobre o conhecimento de alguns
professores alfabetizadores sobre esse tema. Para isso alguns educadores
responderam a um questionário previamente elaborado a partir de perguntas
presentes na apostila do curso de especialização já mencionado. Essa forma de
pesquisa qualitativa em nenhum momento foi usada para avaliar tais professores, e
sim para levá-los a refletir sobre a ética de Paulo Freire, tal qual os alunos do curso
puderam fazer em determinados momentos.

Tais reflexões conduzem à percepção de que para esse autor é importante a


reflexão sobre a “responsabilidade ética no exercício de nossa tarefa docente” (p. 15).

Os objetivos da pesquisa presentes aqui são referentes à reflexão dos


conceitos de ética que os professores conhecem e à formação de conceitos por parte
dos mesmos, verificando se estão ou não associados aos conceitos divulgados por
Freire.

Vale ressaltar que este artigo não tratará em momento algum a metodologia de
Paulo Freire, pois para isso seria necessário um estudo mais apurado sobre seus
pensamentos e ensinamentos. Tratar-se-á aqui somente de algumas reflexões sobre o
último livro que Paulo Freire escreveu em vida e como os pensamentos presentes no
livro – no qual ele escreveu sobre a ética – devem ser utilizados como guia para a
formação docente.

É dessa ética que tratará este artigo e como ela é vista e entendida pelos
professores alfabetizadores, pois é através dela que se deve guiar o trabalho com a
educação. É por ela que se pode ou não construir nos alunos o aprendizado, pois,
como destaca Piaget em sua Perspectiva construtivista, “o ensino é visto como um
convite à exploração, a descoberta tornando-se a sala de aula um espaço de
construção onde o aluno tem um papel central de ativo na produção de saber”.

1. Ética

Através de uma pesquisa bibliográfica, percebeu-se que o tema ética é muito


debatido e há vários livros que o abordam.Como exemplos disso temos os Parâmetros
Curriculares Nacionais de volume 8 (1997), O livro Ética de Adolfo Sánches Vázquez
(2000) e o livro O que é ética de autoria de Álvaro L. M. Valls (2008). Porém em todos
eles a ética é tratada como moral e nela se enxerga apenas valor de bem e mal, de
certo e errado, como assim nos explica Valls (2008).

Há também livros de educação nos quais a ética é apresentada como forma de


comportamento, dentre os quais se podem citar os Parâmetros Curriculares
Nacionais (1997), pois neles a ética é vista como um tema isolado. No volume oito os
parâmetros abordam a Ética e os Temas Transversais e nele são estudados o respeito
mútuo, a justiça, o diálogo e a solidariedade. Tendo em vista a complexidade do
assunto, pode-se também citar Vasquez (2000), no qual o tema ética é bastante
debatido tendo como a moral o foco central e demonstrando para os leitores que essa
moral é uma “forma de comportamento humano que se encontra em todos os tempos
e em todas as sociedades.”

Porém não é dessa ética que trataremos aqui e, em virtude disso, não há por
que aprofunda-la.. Em todos os lugares onde estamos ou passamos vemos a ética,
pois somos seres éticos. Não há porque incluirmos aqui noções de ética, pois já se
sabe muito sobre ela. É como disse Freire em uma de suas últimas palestras sobre
Ética, proferida no instituto Mackenzie, no dia dez de abril de 1997, um pouco antes de
falecer: “Nós nos tornamos necessariamente seres éticos [...] só os seres capazes de
‘eticizar’ o mundo são capazes também de transgredir essa ética.”

Já devemos então, como educadores, ter já essa ética descrita nos dicionários
como ‘Conjunto de princípios ideais de conduta”. (CEGALLA, 2005, p. 394), inserida,
não só em nossas aulas, mas em toda a escola, em todos os lugares por onde
passamos ou onde estamos e em nossa rotina diária. Sendo assim a ética definida por
muitos autores não será tematizada aqui porque não é necessário falar sobre ela para
que ela esteja presente na vida. Ela é inerente ao ser humano e é visível, quer em
ações moralmente boas, quer em ações que não são moralmente boas e, por isso, é
questionada no cotidiano de todas as pessoas.

2.Paulo Freire e a ética na formação do educador

O nome correto de Paulo Freire é Paulo Reglus Neves Freire. O educador


nasceu no ano de 1921 em Recife. Ele foi acusado de tentar transformar a ordem
política estabelecida e foi preso após o golpe militar. Foi exilado no Chile e lá
encontrou um lugar favorável para o desenvolvimento de suas teses educacionais. Lá
atuou durante 5 anos em programas de alfabetização de adultos e durante esse tempo
escreveu a “Pedagogia do Oprimido”. Retornou ao Brasil em 1980. Deu aula na
Unicamp. Foi secretário de Educação pela Secretaria de Educação de São Paulo em
1989. Foi autor de vários livros. Esse brasileiro teve como fator marcante em sua vida
a coragem. “A coragem de por em prática um autentico trabalho de educação que
identifica alfabetização como processo de conscientização”. (Trecho do texto contido
no inicio do vídeo da palestra de Paulo Freire sobre Ética apresentado no VI Simpósio
de educação do Instituto Mackenzie em comemoração aos 50 anos do Instituto) Paulo
Freire faleceu em 2 de maio de 1997 e deixou órfãos todos os educadores brasileiros.

Finalmente chegou-se à ética de Paulo Freire. Ela está contida com toda a sua
essência em seu livro Pedagogia da Autonomia. Porém, podem-se encontrar traços
dela na maioria das obras do autor. Especificamente no livro em questão, Freire
escreve principalmente sobre a formação do professor que, para ele, está intimamente
ligada à ética. É ela que conduz seu trabalho e o faz prosseguir para o pleno
entendimento do aprendizado dos alunos. Então, essa não é a ética encontrada nos
dicionários e presente no nosso cotidiano. Trata-se da “Ética” de Freire, para quem
esse tema é descrito como aquilo

(...) que condena a exploração do ser humano, respeita o sonho e a


utopia de cada um, enfrenta a discriminação de raça, gênero, classe
social. Ele afirma que devemos lutar por essa ética que é inseparável
da prática educativa, independentemente de ser esta prática realizada
com crianças, jovens ou adultos (FREIRE, 1996, p.15)

Ela é a ética que respeita o sonho e as idéias dos alunos, que os faz progredir
e perceber sua autonomia e que os faz, finalmente, ser seres críticos e construtores do
próprio conhecimento, transformando-os diariamente em alunos que querem participar
ativamente seus próprios conhecimentos e gostam de fazer isso.
Nas salas de aula tem-se visto com freqüência alunos que não possuem ainda
essa liberdade de se expressar e atuar criticamente frente ao que está sendo ensinado
por seus professores. A partir da análise da postura de alguns professores, pode-se
perceber que ainda não há momentos de aprendizagem mais abertos para o aluno,
nos quais o professor deve se tornar apenas o mediador, o “problematizador” do
conhecimento. Deve-se acreditar que os alunos podem estar mais atuantes na sala de
aula tornando-se, assim, seres críticos e participativos na construção do próprio
conhecimento.

O professor deve estabelecer uma parceria com seus alunos para que eles não
se tornem meros receptores do conhecimento, e sim indivíduos que se tornam
independentes para aprenderem em todos os lugares, em todas as situações. Assim,
não só nas escolas haverá a busca pelo saber, mas pelo mundo afora. “Torna-se
fundamental aprender e pensar autonomamente, saber comunicar-se, saber
pesquisar, saber fazer, ter raciocínio lógico, aprender a trabalhar colaborativamente,
fazer sínteses e elaborações teóricas, saber organizar o próprio trabalho, ter
disciplina, ser sujeito da construção do conhecimento, estar aberto a novas
aprendizagens, conhecer as fontes de informação, saber articular o conhecimento
com a prática.” (GADOTTI 1997, p.13)

É notável a percepção de Freire sobre questões que já existem e que ainda se


configurarão. Para Moacir Gadotti, Paulo Freire era “um educador voltado para o
futuro”, pois descreve o educador como uma pessoa ética, positiva e respeitosa para
com todos. Segundo ele, a teoria do conhecimento do autor estava sempre fundada
numa antropologia.

TORRES (1997), também estudioso de Freire, destaca igualmente que para


Freire “o conhecimento é uma construção social, constitui um processo de produção
discursiva e não um mero produto final resultante do acumulo de informações e fatos.”,
(TORRES apud GADOTTI, 2007 p. 26)

Diante de muitas teses divulgadas e debatidas por Paulo Freire, trata-se aqui
de sua percepção de mundo, afinal, ele “vê o mundo sob a ótica da libertação humana
e individual.” (Gadotti, 1997, p.32) Tem-se aqui, então, o que realmente importa nesse
trabalho. É sobre liberdade que se quer que reflitam os professores. Será que suas
aulas permitem que os alunos construam criticamente suas aprendizagens? Será que
eles conseguem torná-los detentores dessa forma de aprender tão bem citada por
Paulo Freire? Será que ela está sendo utilizada ou bem empregada no trabalho com
os alunos? Todos os educadores envolvidos no processo de ensino-aprendizagem
devem refletir sobre a ética de Freire.

A pesquisa relatada a seguir deve ser entendida como uma contribuição para a
reflexão acadêmica sobre esse assunto. Não se deseja julgar ações e a formação dos
professores, e sim para refletir sobre como estão caminhando na construção do
conhecimento dos alunos. Afinal, a educação se divide em antes e depois de Paulo
Freire e deve-se ter em vista que a geração posterior a Freire tem o dever de levar em
conta o que foi ensinado por esse educador.

3. O significado atribuído pelos professores alfabetizadores à ética na formação


docente

Foi escolhida neste trabalho, para a coleta de dados, a pesquisa qualitativa,


pois ela considera a existência de uma relação dinâmica entre mundo real e sujeito.
Nela se tem a descrição como foco e a utilização do método indutivo. O que é principal
nesse tipo de pesquisa é o processo. Por falta de tempo hábil, escolheu-se o
questionário, que é um instrumento de coleta de dados constituído por uma série
ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem a presença do
entrevistador. As perguntas do questionário foram abertas para que os entrevistados
se sentissem livres para expor seus pensamentos acerca do assunto.

Para a pesquisa qualitativa utilizou-se um questionário realizado com seis


professores alfabetizadores que lecionam em Juiz de Fora. Tal questionário contou
com 10 questões relacionadas à Ética de Paulo Freire, à formação do professor e à
ação dele como alfabetizador. As perguntas desse questionário foram elaboradas
tendo por base a apostila do curso Práticas de Letramento e Alfabetização. O
questionário estava inserido na apostila de Didática do Ensino Superior, escrita pela
professora Maria do Socorro Alencar Nunes Macedo, que permitiu o uso do
questionário, a partir do qual foram elaboradas outras perguntas para uma melhor
análise das respostas. Foi utilizada também uma pesquisa bibliográfica visando
estudar mais sobre ética, Paulo Freire, sua vida, seus ensinamentos e os autores que
escrevem sobre ele. Essas leituras serviram para melhor avaliar os resultados da
pesquisa.

A pesquisa aqui relatada se refere a um questionário feito com seis professores


alfabetizadores. Inicialmente seriam entrevistados dez professores que se habilitaram
a estar respondendo às questões, porém três deles se recusaram a responder a tal
questionário após sua leitura e indicaram como razão para isso “estarem com muito
trabalho de escola para fazer”. Infelizmente, essa resposta não foi dada de modo
claro, pois em momento algum os professores foram ao encontro da pesquisadora
para lhe informar tal negação. Foi preciso, então, a partir da devolução em branco da
entrevista, questionar o porquê de tal ato.

A quarta pessoa que faria parte da pesquisa demonstrou bastante interesse,


porém não pôde responder ao questionário por trabalhar numa escola particular e não
estar liberada pela escola para tal pesquisa. Ela quis ajudar a responder ao
questionário por entrevista, mas isso não foi possível, porque poderia, dessa forma,
modificar os dados coletados. É importante descrever a dificuldade para a realização
da pesquisa para mostrar que alguns educadores ainda demonstram muito desprezo
pela ética e até mesmo desconhecimento, pois, conforme Vázquez (1997)esclarece,

“O comportamento moral é tanto comportamento de indivíduos quanto de


grupos sociais humanos, cujas ações têm um caráter coletivo, mas deliberado, livre e
consciente. Contudo, mesmo quando se trata da conduta de um indivíduo, não
estamos diante de uma conduta rigorosamente individual que afete somente ou
interesse exclusivamente a ele. Trata-se de uma conduta que tem conseqüências, de
uma ou de outra maneira, para os demais e que, por esta razão, é objeto de sua
aprovação ou reprovação”. (p.68)

Tendo em vista então os seis professores que responderam ao questionário,


pode-se perceber que cinco têm o conceito ético já formado e escrevem muito bem
sobre esse conceito. A partir disso se pôde observar os educadores que estudam, se
atualizam e, por isso, percebem a ética muito mais como algo de respeito ao indivíduo
do que de valor.

Para eles a ética é como Freire define: “O papel do educador não é


propriamente falar ao educando sobre sua visão de mundo ou lhe impor essa visão,
mas dialogar com ele sobre sua visão e a dele. Sua tarefa não é falar, dissertar, mas
problematizar a realidade concreta do educando, problematizando-se ao mesmo
tempo.”

Quando se cita Freire, todos os cinco professores não têm dúvidas sobre o
autor. Eles conseguem explicar seu legado, percebendo que sua “ética universal” está
relacionada diretamente à construção do conhecimento pelo aluno. Pode-se perceber
também que esses educadores se consideram inseridos nessa ética universal e, de
acordo com o que relataram, trabalham em suas aulas utilizando-a e demonstrando
que “ensinar só é valido quando os educados aprendem a razão de ser do objeto ou
conteúdo”, como Paulo Freire mesmo ensina.

Porém uma professora se destacou no questionário. Ela é contratada na


prefeitura, pois já se aposentou no estado e exerce a função de alfabetizadora há 39
anos. Aqui ela será citada com o codinome K, visando com isso não analisar a sua
pessoa, mas sim suas respostas.

Em princípio, quando K é questionada sobre ética, entende que é a maneira


pela qual a pessoa se comporta no ambiente em que ela vive e em relação às outras
pessoas, em atitudes de respeito, educação, moral e responsabilidade. Essa
professora citou a forma como se encontra no dicionário a palavra ética: “Conjunto de
princípios ideais de conduta.” (CEGALLA, 2005, p. 394)

Quando questionada sobre Freire demonstrou desconhecimento da citação e


respondeu que todo ser humano deveria ter ética e ter a oportunidade de exercê-la
com dignidade e respeito. Mencionou ainda que concorda quando o autor diz que
“nossa responsabilidade e ética no exercício de nossa tarefa docente” deve refleti-la
sempre e pô-la em prática dentro de nossas possibilidades”. Em relação à questão
sobre a utilização da ética de Freire para alfabetizar, ela respondeu da seguinte forma:
“Sim, quando respeito o desenvolvimento de cada um, trabalhando de maneira justa,
honesta, presente, com amor e carinho.”

O questionário perguntava enfim como ela conceitua um bom professor e como


ela se descreve: “Quando ele consegue os objetivos de sua prática pedagógica com
educação, honestidade e amor”, disse ela. Ela se considera uma professora dedicada,
trabalhadora, alegre, carinhosa, honesta, responsável, saudável, feliz e realizada.

Através desse questionário, pode-se observar que os professores estão bem


informados e atualizados sobre o tema. Porém, percebe-se que há ainda distorções.
Quando se tem um professor que considera a ética simplesmente como uma forma de
conduta, pode-se analisá-lo tendo como base, o livro Ética, de Sanches, no qual o
autor mostra que o “ato moral pretende ser uma realização do “bom”. Um ato moral
positivo é um ato moralmente valioso, e é tal exatamente enquanto a consideramos
“bom”; isto é, encarnado ou plasmado o valor da bondade”. (p. 155)

A citada professora enxerga a ética como bondade (segundo suas respostas


ao questionário) e, para o seu trabalho como alfabetizadora, aplica essa bondade. Mas
onde está a liberdade salientada por Freire nessa ação? Não há como trabalhar a
liberdade dos alunos se o professor não se tornar alguém que preza essa forma de
agir. Deve-se ter um olhar mais crítico sobre o trabalho para não se tornar professor
bom, e sim bom professor, pois

(...) o bom e o mau se encontram numa relação recíproca e constituem


um par de conceitos axiológicos inseparáveis e opostos. Definir o bom
implica, pois, em definir o mau. Toda concepção do bom implica, pois,
em definir o mau. Toda concepção do bom acarreta necessariamente,
de um modo explicito ou implícito uma concepção do mau. Mas não se
trata de uma concepção puramente lógica, e sim histórica e real: de
uma época, para outra ou de uma sociedade, para outra mudam as
idéias de bom e mal. (VÁSQUEZ, 1997, p.156)

Então, por que essa professora pensa e age como ela mesma descreve,
confundindo sua ética e bondade? Porque, como explica Freire em seu livro
Professor sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar: “Ser tia é viver uma relação de
parentesco, Ser professor implica assumir uma profissão enquanto não se é tia por
profissão”. (p.9)

Pode-se dizer que essa professora age como tia por não perceber em
momento algum na ética de Freire a ação libertadora de seus alunos. É nessa ação
que eles devem exercer seu poder em sala de aula, aprendendo, construindo,
dialogando e participando de muitas formas para conseguir sempre o aprendizado.
Para isso é ideal que os “professores” se definam sempre como professores. A
educadora citada, diferentemente das outras entrevistadas, demonstrou não perceber
em momento algum que se tratava de uma pesquisa sobre liberdade, e não sobre
bondade.

Deve-se estar atento à ética que se utiliza nas aulas. É uma ética extremista de
bem e mal, de certo e errado? Ou percebem-se as relações de autonomia que todos
devem ter na aula? O construtivismo crítico freiriano é muito simples de ser entendido,
porém é difícil de ser praticado. Ele exige mudanças não só individuais, mas também
sociais.

4. Considerações Finais

A partir de tudo o que foi estudado no Curso de Especialização em Práticas de


Letramento e Alfabetização, aprendeu-se muito sobre Paulo Freire, sobre a formação
do professor alfabetizador e, principalmente, sobre alfabetização e letramento. Magda
SOARES (1998), em seu livro Letramento: um tema em três gêneros enfatiza que
“Um indivíduo alfabetizado não é necessariamente um indivíduo letrado;
alfabetizado é aquele indivíduo que sabe ler e escrever; já o indivíduo
letrado, o indivíduo que vive em estado de letramento, é não só aquele
que sabe ler e escrever, mas aquele que usa socialmente a leitura e
escrita pratica a leitura e a escrita, responde adequadamente às
demandas sociais de leitura e escrita.” (p.39-40)

E foi isto que se fez no curso de especialização: ler e reler apostilas, informar,
formar, letrar e continuar a buscar o letramento, mesmo que esse termo ainda não
esteja em alguns dicionários. Este trabalho final se faz importante por permitir tal
formação. Há professores que trabalham 39 anos no magistério sem perceber Freire,
sem caminhar ao lado dele e sem torná-lo presente em suas aulas.

Mas, enquanto há professores que demonstram não estar ainda transformados


pelos ensinamentos de Paulo Freire, conseguem-se encontrar outros que lêem e se
informam sobre o assunto. São eles que se interessam e não se acomodam diante de
um tema tão desconfortável que é a ética do professor. Foi com muito prazer que essa
pesquisa foi feita. Falar de Freire é uma paixão. E nada melhor que citar o autor que
tanto encanto deixa para todos os que conhecem suas palavras de motivação e
conscientização:

“No fundo, o discurso sintético ou simplificado, mas bastante


comunicante, poderia, de forma ampliada, ser assim feito: minha
intenção neste texto é mostrar que a tarefa do ensinante, que é também
aprendiz, sendo prazerosa é igualmente exigente. Exigente de
seriedade, de preparo científico, de preparo físico, emocional, afetivo. É
uma tarefa que requer de quem com ela se compromete um gosto
especial de querer bem não só aos outros, mas ao próprio processo
que ela implica. É impossível ensinar sem essa coragem de querer
bem, sem a valentia dos que insistem mil vezes antes de uma
desistência”. (FREIE, 1997, p. 8)

É necessário o estudo do professor e dos alunos. É com o estudo e a


autonomia em sala de aula que o professor conseguirá, não só ensinar aos alunos,
mas se tornar aprendiz também. É através dessas duas ferramentas colocadas aqui
como essenciais que se poderá educar os alunos, não só com essa educação que
está na escola, mas com a formação para o mundo.
Não é necessariamente fácil estudar e escrever sobre Freire. Quando houve a
reflexão sobre a ética em Freire trabalhada em Didática da Educação no ano de 2009,
houve também a inquietação sobre se estar seguindo o caminho certo, ou seja, se as
práticas realmente refletem o que se aprende na teoria.

O presente trabalho foi marcado por incertezas. Como estudar a ética de Freire
se todos já estão inseridos nela? Ela já faz parte da vida, já sobrevive às aulas. Como
Gadotti mesmo explica em seu livro A Escola e o Professor: Paulo Freire e a paixão
de ensinar, acreditar na utopia e no sonho fez parte da vida desse autor. É como ele
mesmo afirma na introdução do capitulo sobre a utopia como tema “epocal freireano”.

Sim, deve-se ser professor utópico, acreditando ainda que a prática deva
condizer com a teoria que se aprende: “A utopia é o verdadeiro realismo do devir
humano. Isso significa que para ser realista em educação, o educador precisa ser
utópico: a utopia representa um impulso para se colocar a caminho para além do dado
histórico. Ela se torna um desafio e estimulo.” (Gadotti, 1997, p.33) Paulo Freire ensina
ainda hoje. É com sua teoria que se deve aprender. Ele teve como uma de suas
preocupações as relações entre professor aluno e a formação para a consciência
crítica. É através dessa preocupação que se pode perceber hoje o quanto cresceram
os educadores.

Ainda se está correndo atrás de sonhar com a boniteza de ensinar e aprender


com sentido e de se tornar o mais ético possível, tal como Paulo Freire ensinava, tal
como ele era, tal como ele deixou em seu legado. Aprender com ele neste artigo foi
um privilégio. Não se deixe de pensar na realidade, ou seja, ainda se está muito além
dessa utopia, afinal, os professores não são ainda socialmente e economicamente
respeitados em sua profissão, mas fica aqui um desafio: continuar trabalhando, não só
por uma melhor boniteza nas aulas ou pela luta por direitos, mas por uma educação
viva, ética e condizente com os dizeres de Paulo Freire que aqui encerra esse artigo:
“Nenhuma sociedade se afirma sem o aprimoramento de sua cultura, da ciência, da
pesquisa, da tecnologia, do ensino. E tudo isso começa com uma pré-escola” (Freire,
1993ª, p.53). Começa com um professor ou uma professora.
Referências Bibliográficas

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Companhia Editora Nacional, 1ª edi., 2005.

Coleção Paulo freire. Editora Cedic.

Ecco, Idanir. O conhecimento na pedagogia freireana como suporte teórico para a


educação escolar formal. Rio Grande do Sul: URI, 2005.

Fernandes, Reginaldo. A ética na Educação com Paulo Freire. [Filme-vídeo].Direção


de Reginaldo Fernandes. São Paulo, Centro de Radiodifusão Mackenzie, 1997. VI
Simpósio de Educação do Mackenzie, aproximadamente 1 hora de duração. Palestra.

Freire, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários a prática educativa.


São Paulo: Paz e Terra. 1996. Coleção leitura.

___________. Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. São Paulo: Olho
D´Água, 10ª ed. , 1993.

Gadotti, Moacir. A escola e o professor Paulo Freire e a paixão de ensinar.São


Paulo: Piblisher Brasil, 1ª ed., 2007.

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Hamburgo: Feevale,2003.

Macedo, Maria do Socorro Alencar Nunes. Apostila: Didática do Ensino Superior.


UFSJ/MEC/SEED/UAB/2008

Parâmetros Curriculares Nacionais: apresentação dos temas transversais, ética.


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Sánches Vázquez, Adolfo. Ética. Rio de janeiro: Civilização Brasileira, 20ª Ed., 2000.

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