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CURSO DE
TEOLOGIA POPULAR:
Conceição de Ipanema
2009
3
INTRODUÇÃO À TEOLOGIA
1. Conceito de teologia
A palavra teologia1 significa “estudo sobre Deus”. Atualmente, é entendida como a
reflexão sistemática dos fundamentos da revelação. Portanto, o seu objeto de estudo não é
Deus em si, mas o que o homem entende sobre Deus. A disciplina estuda a realidade sobre
Deus e sua relação com o homem. A Revelação é o ponto de partida e de delimitação da
reflexão teológica. A fonte primeira é a Bíblia, a qual contém uma visão revelada de Deus,
de homem e de mundo.
2. Objetivo
O objetivo principal da teologia é compreender os conteúdos da fé cristã. Para saber
justificar aquilo que crê (1 Pd 3, 15), esclarecer pontos de doutrina, saber conviver com
outras igrejas e visões de mundo, crescer humanamente na vida e amadurecer
pessoalmente na fé. Segundo a teologia antiga, é preciso “crer para compreender” e
“compreender para crer”.
3. Divisões e subdivisões
A teologia se divide em dois ramos: Teórico e prático. O grupo teórico está
subdividido em: Teologia bíblica; Teologia dogmática e Teologia moral. O conjunto
prático se subdivide em: Teologia espiritual, Liturgia, Teologia pastoral e Direito pastoral.
Veja abaixo:
1
Em grego, theós quer dizer “Deus”, logía “discurso, estudo”. Os tratados quase todos têm nomes vindos do
grego.
4
INTRODUÇÃO À TEOLOGIA
Curso de Teologia Popular – Conceição de Ipanema, 2009
Conceito de teologia
A palavra teologia2 vem da língua grega e significa “estudo sobre Deus”. O termo
foi criado pelo filósofo Platão (428-347 antes da Era comum). Agostinho (354-430 da Era
comum) deu-lhe um sentido cristão. Atualmente, é entendida como a reflexão sistemática
dos fundamentos da revelação. Portanto, o seu objeto de estudo não é Deus em si. Porque
se considerarmos a infinitude divina tal tarefa é impossibilitada pela finitude da
inteligência humana (HARBIN, 2001). Karl Barth afirma que só é possível falar de Deus
de forma comparativa, a partir da experiência do homem. Às vezes, a teologia é chamada
de ciência. Esta classificação só pode ser feita considerando-a apenas como uma forma de
investigação racional da fé. A sua matéria de estudo não é empírica.
A disciplina estuda a realidade sobre Deus e sua relação com o homem. A
revelação é o ponto de partida e de delimitação da reflexão teológica. A revelação possui
seu lado divino porque é Deus quem se revela, e um lado humano, pois é o homem que
acolhe a verdade revelada. E na história, os homens da cada época refletem sobre o sentido
do que foi revelado limitado pela sua compreensão. Portanto, existe uma só revelação, mas
existem muitas teologias, pois os homens são diversos e diversas são as culturas.
Objetivo
O objetivo principal do estudo da teologia é o amadurecimento da fé, e
consequentemente, o crescimento espiritual daquele que crê. No mundo contemporâneo
recheado de avanços de toda natureza é necessário que as pessoas tenham consciência das
suas escolhas, dentre elas está a religião. Esta deve ser a primeira a ser bem fundamentada
e esclarecida. O apóstolo Pedro admoesta dizendo que é preciso que o cristão esteja pronto
“a dar as razões da sua esperança a todo aquele que a pedir” (1Pd 3,15). O cristianismo se
encontra dividido hoje por herança de uma época deficiente de conhecimento bíblico e de
esclarecimento do que significava essa religião.
2
Na língua grega, theós “Deus”, logos “discurso, razão, palavra”.
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Tipos
A teologia baseia sua reflexão na liberdade de pensamento e na experiência de cada
lugar e cada época. Devido a essa flexibilidade existem vários tipos de teologia, às vezes,
chamados de escolas. Dois modos de se fazer teologia são destacados: a teologia clássica –
que se restringe a assuntos estritamente religiosos e confessionais; e a teologia dinâmica –
que se abre à reflexão sobre diversos aspectos da religião, de modo crítico e ecumênico.
No Brasil, destacam-se a teologia pentecostal que se prende ao modelo clássico e a
teologia da libertação que une de modo crítico fé e vida, cujo principal teólogo3 é Leonardo
Boff.
Método
Quando se fala de método, estamos dizendo da técnica ou do modo de estudar
teologia para que haja garantia de uma reflexão de qualidade que seja classificada como
teológica. A teologia é uma disciplina baseada no raciocínio, análise e discussão a partir
dos problemas da fé, tendo como base o texto bíblico4 e a tradição eclesial5. Há a liberdade
para se refletir sobre todo assunto, mas o princípio delimitador é a revelação. A verdade
em teologia é o que é consoante ou harmônico com a revelação.
Divisões
A teologia possui muitos séculos de história, e como resultado do esforço dos
teólogos de organizar todo o conhecimento sobre a doutrina cristã chegou a até nós um
esquema de divisões da teologia por áreas. Cada área estuda um aspecto da revelação.
A teologia se divide em dois ramos: especulativo e prático.
O grupo especulativo está subdividido em: Teologia bíblica; Teologia dogmática e
Teologia moral. A teologia bíblica inclui a história, a técnica e a interpretação da Bíblia. A
dogmática sistematiza e explica as principais doutrinas cristãs. A moral estuda os valores e
o comportamento cristão tanto pessoal quanto coletivo.
O conjunto prático se subdivide em: Teologia espiritual, Liturgia, Teologia pastoral
e Direito pastoral. A teologia espiritual estuda o processo de santidade do ser humano, a
sua vida religiosa. A Liturgia estuda os ritos e seus significados. A teologia pastoral estuda
a ação evangelizadora. O Direito pastoral estuda o regimento e as normas da Igreja
enquanto instituição.
Subdivisões
De modo harmônico e organizado, cada divisão da teologia possui outros ramos
internos chamados de tratados. Dentro da área especulativa, temos: A teologia bíblica é
composta de hermenêutica, exegese e teologia. A sistemática possui antropologia,
3
Dá-se o nome de teólogo ao profissional que se dedica ao estudo dessa ciência.
4
O material recomendado para essa primeira fonte é uma boa tradução da Bíblica auxiliada por bons
comentários bíblicos.
5
A tradição eclesial é conjunto de tudo aquilo que a Igreja ensinou e viveu desde a antiguidade. Para se
conhecer a tradição é bom ter em mãos: Catecismo da Igreja Católica e Compêndio do Vaticano II.
6
As origens da teologia
Problemas teológicos
Sempre quando resolvemos estudar um assunto, estamos em busca de algumas
respostas. A teologia possui suas principais perguntas nas quais se inserem os ramos da
teologia. Temos as perguntas: Quem somos? De onde viemos? Qual o sentido da vida?
Para onde vamos? No caso da teologia, essas respostas são iluminadas pela fé. Esses são os
problemas primários. Os secundários provêm da investigação sobre a segurança que o
cristianismo nos dá ao responder essas questões.
6
Apologista ou apologeta significa “defensor”, nesse caso, defensor da fé cristã.
7
A proposta cristã é umas das respostas em meio a tantas outras. É preciso conhecê-
la para poder dialogar sabiamente com as outras.
7
Dalai Lama é título do líder do budismo tibetano, cujo nome é Tenzin Gyatso.
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progresso da humanidade e deve apontar para uma religião simples, prática e humana. Por
isso, é necessário pensar a fé para que não cometamos os mesmos erros do passado.
A fé e as formas de conhecimento
Relações entre ciência e fé
Quando se discute a relação entre ciência e religião, a saída mais sensata é a
definição de papéis. No século XVI, Galileu Galilei (1564-1642) já chamava a atenção
para esta diferença: “à ciência cabe dizer como vai o céu, e à religião como se vai ao céu”.
A dificuldade de se separar a função da ciência e da função da religião foi a causa de
muitas polêmicas no início da era moderna, quando a ciência começou a se definir como a
entendemos hoje. Galileu foi pressionado a se retratar diante do tribunal da Inquisição,
dizendo que era falsa a idéia de que a Terra girava em torno do seu eixo e em torno do sol.
Com a modernidade, a ciência desenvolveu métodos próprios de investigação e se
tornou laica, isto é, independente da religião. Mas este processo foi lento e até hoje muitas
pessoas ainda têm dificuldade em conciliar ciência e fé. Augusto Comte (1798-1856)
defendia que o conhecimento humano passa por três estágios: o religioso, o filosófico e o
científico. Na época religiosa, o homem explica os fenômenos recorrendo a causas
sobrenaturais; na época filosófica, explica recorrendo a princípios racionais; na época
científica, explica por meio das leis naturais, as quais explicam por si só os fenômenos.
Porém, na prática as pessoas continuam vivendo esses estágios de maneira desigual.
As três grandes religiões do planeta, judaísmo, cristianismo e islamismo, passaram
por resistência à ciência, mas seus segmentos mais esclarecidos atualmente aceitam as
explicações da ciência e separam textos sagrados e teorias científicas. Os mulçumanos
tiveram bons matemáticos e filósofos como Avicena e Averróis; os judeus nos deram nada
menos que Albert Einstein, os cristãos nos deram Mendel, Hegel etc. Muitos homens de fé
estudaram ciência sem criar conflitos.
No século XIX, até a Bíblia passou a ser lida cientificamente. Os pastores alemães
Karl Bath, Paul Tilich e Rudolf Bultmann desenvolveram métodos para uma leitura crítica
da Bíblia. A partir deste período os teólogos passaram a seguir semelhante visão. No
século XX, a relação melhorou ainda, o arqueólogo jesuíta Teilhard de Chardin conciliou
cristianismo e teoria da evolução. Na década de 90, muitos cientistas cristãos defendem a
teoria do Design Inteligente.
Definição de Papéis
O ser humano é dado a exageros. Na Idade Média, a fé era considerada superior à
razão (a verdade estava com a religião), na Idade Moderna, a ciência passou a ser
considerada superior à religião, muitos cientistas se tornaram ateus (a verdade estava com a
ciência), atualmente, é mais aceito que fé e religião são conhecimentos complementares do
mundo (a verdade está com as duas).
Antes de qualquer debate que compare religião e ciência, é sensato observar. A
ciência e a religião são duas formas de o homem se relacionar com o mundo. São duas
maneiras de responder às suas indagações internas. Elas são complementares e não
opostas. Seus papéis não podem ser tomados um pelo outro devido a diferença da natureza
do conhecimento que há entre as duas. A religião é um conhecimento simbólico-místico,
explica o mundo através de causas sobrenaturais. A ciência é um conhecimento racional-
empírico, explica o mundo através das leis da natureza e da experiência. São duas respostas
válidas. A religião deve se ocupar de questões relativas à fé ( “como se vai ao céu”) e a
ciência da explicação da natureza e de seus fenômenos (“como vai o céu”).
9
A teologia não se faz somente pelo conhecimento advindo da fé, ela tem as conquistas
das ciências humanas e naturais como pontos de apoio. São essas contribuições que
mantém a religião atualizada e condizente com o mundo moderno. As principais ciências
são: a filosofia, a psicologia, a história, a biologia, a sociologia e a parapsicologia. Elas
ajudam a compreender fenômenos que somente pela fé não se obtém respostas
satisfatórias. Neste sentido, afirmava o cientista Albert Einstein “a ciência sem a religião é
manca; religião sem ciência é cega”.
Epistemologia da fé
O ser humano realiza sua faculdade de conhecer por diversos modos. Houve períodos
na história que se priorizou ora um, ora outro. O homem é conhecido como um ser racional
desde antiguidade. Hoje, porém, sabemos que a definição de homem é complexa: ele pensa
e sente. Existe uma dimensão lógica, formal e real e existe outra sensível, simbólica e
transcendental. A nossa mente conhece de forma conjunta usando sentimentos e
pensamentos.
Os dois modos de conhecer que procedem da complexidade humana são a razão e a
sensibilidade. A razão procura entender o mundo através da lógica e da ciência. A
sensibilidade usa a intuição, os sentimentos, portanto, a fé. Mas conhecimento lúcido exige
a participação das duas faculdades. A fé genuína tem de ser razoável, assim como a razão
prudente tem de ser intuitiva.
Conceito de fé
O conteúdo da fé
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Tomás de Aquino (1225 – 1274) foi o maior teólogo da Idade Média.
9
Spe salvi é latim e significa “Salvos pela esperança”.
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Consequências da fé
A fé deve ser vivencial. Sem a prática ela perde o sentido de ser e se torna teoria
sobre Deus, pois “a fé sem obras é morta” (Tg 2, 14-17). Mas antes de tudo é necessário ter
uma clareza sobre que tipo de fé é sustentada. Ela deve ser bíblica e eclesial. Não ter medo
de ser humana e se defrontar com a dúvida e o sofrimento. Por fim. Ela deve apontar para a
10
Nessa data aconteceu o Concílio de Niceia, o primeiro envolve toda a Igreja.
11
Crer em grego se diz pistéuo e o sentido é “acreditar, confiar, ser convencido”.
11
vida e a felicidade e nunca justificar estruturas violentas. Porque as virtudes andam sempre
juntas: “a fé, a esperança e o amor. A maior delas, porém, é o amor” (1 Cor 13, 13).
A inspiração divina
A autoridade dos textos bíblicos reside na ideia de que eles foram inspirados pelo
Espírito Santo. Portanto, neles contém a Palavra de Deus. O evento da inspiração já foi
entendido de diversos modos: Teorias da intuição, da iluminação, do ditado e teoria
dinâmica. A inspiração é a profunda comunicação entre Deus e o homem, que faz segundo
perceber a presença e o apelo de Deus. Acima de tudo, é um acontecimento humano, pois o
autor sagrado usa a sua inteligência, sua reflexão para transmitir a experiência de Deus.
Não se pode entender a questão como ditado de direto de Deus ou uma “possessão” do
Espírito Santo.
A transmissão e a interpretação
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
HERRERA, Jaime Morales. Patristica: los padres apostólicos y los apologistas. S.l: s.e,
2009.
LAMBIASI, F. La estructura teológico-fundamental de la fe. Roma: Pontificia
Universidad Gregoriana, 2007.
LIBÂNIO, João Batista. Eu creio, nós cremos: tratado da fé. São Paulo: Loyola, 2000.
VOCABULÁRIO TEOLÓGICO
SUGESTÃO DE PESQUISA
MÓDULO 01
COLETIVO
13
Problemas da fé:
Eu creio?
Em que creio?
Qual a garantia do que eu creio?
O que a minha fé muda em minha vida?
Problemas do conhecimento:
A origem do mundo: criacionismo x Big bang
A origem da vida: criacionismo x evolução
A existência de Deus: crença, ateísmo e agnosticismo
A identidade do homem: criatura, animal
O sentido da vida: vida espiritual, felicidade
O destino do ser humano: eternidade, natureza
Resposta pessoal...
Resposta cristã
QUESTÕES EXISTENCIAIS QUESTÕES TEOLÓGICAS
Quem somos? Somos filhos de Deus em Cristo
De onde viemos? Deus é o princípio de tudo
Qual o sentido da vida? A vida sincera no Espírito
Para onde vamos? Esperamos pela comunhão eterna com Deus
Resposta científica
QUESTÕES EXISTENCIAIS QUESTÕES CIENTÍFICAS
Quem somos? Organismo complexo, racional, homo sapiens
De onde viemos? Dos elementos da natureza/Big Bang
Qual o sentido da vida? O sentido é construído individual/coletivamente
Para onde vamos? Retorno indistinto à natureza
Leituras e anotações:
14
a) Hebreus 10, 19-39;11-12, 1-4. Refletir sobre o significado da fé e seu alcance, a sua
presença na história da salvação.
b) Tiago 1, 16-26; 2. Refletir sobre a responsabilidade de quem tem fé e a relação entre fé
e obras.
c) Credo Apostólico. Ler e refletir sobre cada artigo de fé contido na profissão.
d) As virtudes teologais. Refletir sobre elas a partir de 1 Cor 13.
1. Definição
O Cristianismo (do grego Christós "Ungido") é uma religião monoteísta12 centrada
na vida e nos ensinamentos de Jesus de Nazaré, tais como são apresentados no Novo
Testamento. A fé cristã acredita essencialmente em Jesus como o Cristo, Filho de
Deus, Salvador e Senhor e se dá pela adesão pessoal a Jesus. Na Igreja primitiva, era
chamado simplesmente de “O Caminho”. Entende-se como cristianismo um movimento
muito maior do que igrejas, é uma cultura e um modo de vida.
12
Monoteísmo é uma religião que admite um Deus só. O politeísmo admite a existência de vários.
15
A palavra igreja vem da língua grega ekklesía e significa “assembleia”. O sentido que se
dava à palavra antes de ser adotada pelos cristãos era o de “reunião de pessoas
convocadas”. Assim a igreja surge como uma assembleia chamada por Deus através de
Jesus Cristo para formar uma comunidade, cuja marca é amor fraterno. Esta é chamada no
Novo Testamento de Corpo de Cristo.
A origem da Igreja foi assim: depois da morte de Jesus no ano 29 da era comum, os
apóstolos ficaram inquietos com o fato de terem sido testemunhas da pregação e da vida de
seu mestre. Então, começaram a organizar comunidades para preservarem a memória de
Jesus e conquistar novos discípulos. A Igreja teve seu início em Jerusalém, na primeira
metade do século 1º da era comum.
A Igreja primitiva se reunia nas casas. Aos domingos, havia a leitura dos textos bíblicos,
comentário por parte de um apóstolo, e a segunda parte era um jantar em memória de
Cristo que mais tarde passou a ser chamada de Eucaristia. Os cristãos não se distinguiam
da maioria de seu tempo, apenas no testemunho de fé. Os Atos dos Apóstolos nos mostram
uma comunidade unida, fraterna, onde tudo era posto em comum. Os cristãos continuavam
a freqüentar o templo e eram perseverantes na fé. O cristianismo inicial era considerado
uma seita do judaísmo: Pois Jesus foi um rabino, era judeu praticante e nunca foi “cristão”.
Por isso a Igreja é chamada de Católica e Apostólica. Primeiramente, é católica porque
se diferia do judaísmo e de outras religiões da antiguidade que eram nacionais, a igreja
nasce aberta a todos (católico significa “universal”). Segundo, ela é apostólica porque foi
fundada sob o testemunho dos apóstolos. A Igreja parte de Jerusalém e começa a
evangelizar os povos vizinhos até chegar a Roma, o centro do maior império da época.
Paulo se destaca como um dos grandes difusores do cristianismo.
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A Igreja Católica tal como a conhecemos agora é fruto de quase dois mil anos de
desenvolvimento, muitos costumes e formas de organização foram sendo agregados à fé
recebida dos apóstolos. A razão é que a Igreja foi se espalha por todos os povos da
antiguidade e recebeu diferentes formas de estruturação de acordo com os costumes locais.
Com o passar dos anos, a geração dos apóstolos foi envelhecendo, os cristãos foram
se distanciando da época de Jesus. Houve necessidade de escrever os acontecimentos sobre
a vida e pregação de Jesus e dos apóstolos. Décadas mais tarde surgiram os evangelhos, e
ao longo de meio século foram sendo escrito os livros do Novo Testamento. No ano 70,
Jerusalém foi destruída e os cristãos se dispersaram e o ponto de referência para as
comunidades cristãs passou para várias cidades como Antioquia, Corinto, Alexandria e
mais tarde Roma.
É a partir do século 2º, depois da morte dos últimos apóstolos é que a Igreja foi
ganhando contornos e decidindo a sua doutrina. As tradições passaram a ser escritas e
normas começaram a ser estabelecidas. Foram precisos mais de dois séculos para que o
processo se completasse. A Igreja espalhou por muitas regiões distantes e surgiram modos
diferentes de viver e interpretar a fé. Aqueles que sucederam os apóstolos instituíram
“diretores”, os bispos para administrarem as igrejas e asseguram a transmissão fiel dos
ensinamentos de Cristo.
A Igreja cresceu em meio à dor, dois problemas foram graves: as heresias e as
perseguições romanas. Houve muitos líderes de comunidades cristãs que pregaram
doutrinas diferentes, as chamadas heresias. Foram necessárias discussões e reuniões para
solucionar os conflitos. Assim surgiram os concílios, o primeiro foi realizado em 325 em
Niceia. Nesta reunião se decidiram e puseram por escrito a síntese da fé transmitida pelos
apóstolos, o texto do Creio, que é recitado nas missas.
Os cristãos tinham de se defender das seitas que iam surgindo. Cada uma enxergava
Cristo de um modo diferente: umas o consideravam só Deus, outros só homem. Os livros
do Novo Testamento também foram escritos todos separados e cada Igreja reconhecia
como inspirada uma lista diferente. Assim foi necessário montar uma lista (cânon),
decidindo para o uso de todos, quais livros fariam parte do Novo Testamento. Foram
escritos dezenas de livros, apenas 27 foram escolhidos. Depois de trezentos anos, a Igreja
já havia organizado sua Bíblia e suas doutrinas.
Jesus Cristo foi concebido de forma virginal, foi crucificado, ressuscitou, ascendeu
ao céu e virá de novo à Terra;
A remissão dos pecados é possível através do batismo
Os mortos ressuscitarão.
Na altura em que foi formulado, o Credo de Niceia procurou lidar directamente
com crenças que seriam consideradas heréticas, como oarianismo, que negava que o Pai e
Filho eram da mesma substância, ou o gnosticismo.
A maior parte das igrejas protestantes partilham com a Igreja Católica a crença no
Credo de Nicéia.
4. A doutrina cristã
O cristianismo foi inicialmente só praticado. Os escritos começaram a aparecer em
torno do ano 50 depois de Cristo. O Novo Testamento corresponde a um esforço de pôr a
memória de Jesus e dos apóstolos por escrito. Essa etapa de redação termina pelo ano 100.
Em 135, encerra a geração apostólica. Os escritos passam a ser no sentido de defesa do
cristianismo frente ao Império. Os apologetas e os pais da Igreja deixaram escrita a
doutrina e os costumes dos cristãos. Somente em 325, é que a Igreja define oficialmente a
sua doutrina.
Em síntese, o cristianismo crê em um Deus único e manifesto em três pessoas. Acredita
que a vida, morte e ressurreição de Jesus trouxa a reconciliação entre homens e Deus. Pelo
batismo se é redimido dos pecados e pela fé obtém-se a salvação. O homem a partir de
Cristo é adotado como filho de Deus, imortal e chamado à comunhão eterna. Portanto, o
cristianismo responde quem é Deus e qual a condição do homem dentro do mistério da
salvação. Isso distingue o cristianismo das demais religiões.
4.1.Considerações finais
A Igreja chegou até o século 21 através de uma longa de história de acertos e erros.
Ela foi se constituindo aos poucos e com a ajuda de muita gente. E muitos deles
cometeram erros que prejudicaram a trajetória da Igreja. Então, hoje quando queremos
examinar a Igreja na sua forma apostólica, devemos conhecer as origens e principalmente o
ensinamento dos pais da Igreja.
A Igreja sempre foi constituída de igrejas. Mas depois de a Igreja ter se
consolidado, em 1054, houve uma divisão entre Igreja do Oriente e Igreja do Ocidente. O
fato é que muitos não conseguiram levar adiante a parceria entre Igreja e Estado sem se
corromper. Depois em 1517, houve uma segunda divisão com Martinho Lutero. As
divisões foram motivadas pelo desejo de uma Igreja pura, sem desvios da doutrina dos
apóstolos. Nos séculos seguintes, surgiu uma multidão de igrejas antagônicas.
Ao examinarmos a vida dos primeiros cristãos, observamos que havia muitas
diferenças entre as comunidades, mas não havia uma guerra de igrejas. Além disso, o
exemplo comum vem dos apóstolos. Se lermos sem preconceitos os escritos antigos,
entendemos que podemos conviver pacificamente porque a fé cristã é simples: “Amai-vos
uns aos outros como eu vos amei”. O princípio do mandamento é amar a todos, e o
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exemplo é o amor sem distinção que Jesus viveu. Um dia Leonardo Boff perguntou a Dalai
Lama qual era a melhor religião, e ele disse “é aquela que te faz melhor”. Ou seja quem
amar mais, estará se aproximando de Cristo com mais originalidade e propriedade.
A vida dos primeiros cristãos era marcada pelo amor fraterno, pelo desapego às
riquezas, pela hospitalidade. Acima de tudo, por uma comunhão cuja cabeça ou ponto de
unidade é Cristo. Se alguém consegue se aproximar desse clima de amor universal, escolhe
a melhor parte. Os cristãos não tinham uma vida extraordinária, cheia de dízimos, milagres
e orações fantasiosas. Pelo contrário, uma vida de desafios, perseguições e ao mesmo
tempo de uma fidelidade, de um amor radical, de um comprometimento.
1. Bíblia
Bíblia é um livro que deve ser estudado como as demais literaturas antigas. Seu
conteúdo é a Revelação divina, mas a forma literária é humana, produto histórico. Não
devemos revesti-la de magia e de esoterismos. Seu estudo depende de uma fé madura.
2. Formação
O nome bíblia vem da língua grega biblía, plural de biblíon “livrinho”. Os judeus a
denominavam de “Os livros sagrados”, na história coexistiram diversos nomes. No século
V, a partir de João Crisóstomo, a expressão Tá Biblia começa a ser título.
Os termos “antigo testamento” e “novo testamento” assinalam as duas seções da
Bíblia. O primeiro é escritura exclusivamente judaica. Já o segundo é judaico e cristão.
Testamento reproduz o hebraico berît “aliança”. Paulo é o primeiro a usar esses nomes,
sendo depois adotados pelos escritores cristãos do século III.
A Bíblia é uma coleção de livros. Escritos em épocas, lugares e por pessoas
diferentes. O AT13 foi escrito de 1300 a. C. até 50 a. C. O NT foi elaborado dos meados do
século I (51 d. C.) ao início do século II (100 d. C.).
Os títulos dos livros são tardios e alusivos ao conteúdo. Os judeus nomeavam os
livros com as primeiras palavras do texto: Bereshît (“no princípio”) = Gênesis.
A divisão em capítulos data somente do século XIII, feita pelo cardeal Estêvão
Langton e a subdivisão em versículos de 1551, por Robert Estienne.
As divergências na organização dos livros da Bíblia decorrem da diferença entre a Bíblia
Hebraica (Palestina) e Bíblia Grega (Alexandria): Os salmos são numerados de forma
diferente, na Bíblia grega os salmos 9 e 113 são divididos em dois.
Os manuscritos eram feitos em pergaminhos (até o século II d. C.), que se
desgastavam rápido, chegaram a nós, cópias de cópias.
3. Divisão
13
Usaremos as abreviaturas AT para Antigo Testamento e NT para Novo Testamento.
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4. As línguas
O hebraico, o grego e o aramaico.
Em hebraico foi escrito todo o AT, com exceção dos livros
chamados deuterocanônicos, e de alguns capítulos do livro de Daniel, que foram redigidos
em aramaico.
Em grego comum, além dos já referidos livros deuterocanônicos do AT, foram
escritos praticamente todos os livros do NT. Segundo a tradição cristã, o Evangelho de
Mateus teria sido primeiramente escrito em hebraico.
5. Traduções e versões
A dispersão do povo judaico exigiu uma tradução dos livros para o grego. Esta foi
concluída no ano 100 a. C. Chamada de versão dos Setenta, posteriormente adotada pelos
cristãos.
No século II a. C., houve muitas versões, havia divergências quanto à aceitação por
serem imperfeitas. No século V, Jerônimo realiza uma tradução ótima para o latim,
conhecida como Vulgata. Recomendada pelo Concílio de Trento.
Para o português, a mais antiga e completa foi a tradução de João Ferreira de
Almeida (1628-1691) publicada em 1753. É importante observar que atualmente não
possuímos o texto original. Há apenas fragmentos de cópias antigas. As traduções não são
exatas.
Mesmo diante dessas limitações históricas a fé cristã professa que a Bíblia é
inspirada14 (2Tm 3, 16-17), fielmente transmitida e preservada de erros em questões de fé e
moral. A esta preservação de erros em questões fundamentais dá-se o nome de inerrância15.
6. Canonicidade
Havia diversos escritos religiosos judaicos. Foi feita uma distinção e seleção dos
livros inspirados. A Bíblia Grega do século I adotou livros não-contidos na hebraica. A
questão só foi resolvida no século II. O primeiro cânon oficial do NT surge no Sínodo de
Hipona, em 393. Lutero retomou o debate e a tradição protestante preferiu o cânon judaico.
O Concílio de Trento reconheceu oficialmente o cânon alexandrino.
Quando se fala em cânon, estamos dizendo da lista de livros aceitos como
inspirados por Deus. Portanto, existem dois cânones: Hebraico e alexandrino. O cânon
14
No texto grego aparece a palavra theopneustos para dizer inspirado. O sentido é “soprado por Deus”.
15
Inerrância diz-se do fato de não conter erros.
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hebraico contém 39 livros no AT. E o cânon alexandrino possui 46. Os livros que foram
acrescentados são chamados de deuterocanônicos16. Esses livros são Tobias, Judite, I e II
Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc e trechos de Ester (10, 4 a 16, 24) e Daniel (3,
24-90, e capítulos 13 e 14). A tradição católica acolheu o cânon alexandrino e a
protestante, o hebraico.
16
Deuterocanônico significa “da segunda lista” e protocanônico “da primeira lista”.
17
Genealogia é uma lista de parentesco.
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9. Geografia
O ambiente onde foi escrita a Bíblia envolve as regiões da Palestina, as
comunidades gregas e Alexandria. Os livros protocanônicos nasceram na Palestina. Os
deuterocanônicos surgiram no ambiente grego de Alexandria. O NT foi escritos em
diversos lugares, desde a Palestina até as comunidades gregas. Portanto, duas culturas
influenciaram a mentalidade presente nos textos: Cultura semítica e cultura helênica.
10. História
Para que se compreender os escritos bíblicos é necessário ter uma noção da história de
Israel e do Império Romano. Em síntese, esta é a linha de tempo da Bíblia:
11. Cultura
As duas culturas que influenciam a redação dos livros bíblicos são bem diferentes.
Os gregos são dados ao comércio, à educação, pensam o mundo racionalmente. Esses
acreditam em vários deuses, seu sistema político é a democracia, vê o homem
constituído de corpo e alma, existem o mundo material e o mundo espiritual,
imortalidade da alma, céu e inferno. A expressão máxima dessa cultura é a filosofia.
Sua língua foi o grego. Os homens mais importantes Homero, Sócrates, Platão,
Aristóteles e Alexandre Magno.
Os judeus acreditavam em um só Deus, davam mais importância à religião, o
sistema político é a teocracia, o homem é corpo, existe apenas o mundo material, não se
pronunciam sobre imortalidade, acreditam apenas na morada dos mortos. A expressão
máxima dessa cultura é o monoteísmo. Suas línguas foram o hebraico e o aramaico. Os
homens mais importantes Abraão, Moisés, Davi, Salomão, Jesus e Paulo.
12. Judaísmo
O antigo testamento pertence ao judaísmo assim como o novo surge num cenário
também judaico. Por isso, vamos entender um pouco sobre judaísmo. Esta religião
surgiu da tradição de Moisés, crê em um só deus chamado YHWH, possui um pacto
com essa divindade, crê que a Torá foi dada por ele. Os judeus guardam o sábado, não
possuem sacerdotes atualmente, os rabinos são os dirigentes do culto, a sinagoga é o seu
templo. O Antigo Testamento é a sua bíblia, chamada de Tanakh. Mas contém os
protocanônicos.
O pacto divino foi estabelecido com Abraão. Os fundamentos da fé estão na lei
dada por Moisés. O judaísmo surgiu somente a partir do exílio. Além da Tanakh, os
judeus possuem comentários bíblicos com o Talmud e a Mishná.
O corpo doutrinário do judaísmo não possui as noções de céu, inferno, corpo, alma
e nem vida após a morte. Os adeptos esperam um messias e um mundo futuro de paz
que acontecerá neste mundo mesmo.
VOCABULÁRIO TEOLÓGICO II
18
1. Introdução
2. Visão de Deus
A visão de Deus apresentada no AT difere do NT. Percebe-se ao longo dos
séculos uma evolução pouco linear da imagem de Deus. Há textos de um Deus
compassivo, de um Deus vingativo e até mesmo com ausência de Deus. No Pentateuco,
há uma revelação do nome de Deus, Yahweh (Ex 3, 13-15). Seu nome significa apenas
aquele que é, o existente. Essa divindade não pode ser vista por homens, nem seu nome
pronunciado, deve-se chamá-la de Senhor (Adonai). Outro nome para Deus é Elohim. O
19
curioso é que este último significa “deuses”. Deus fez uma aliança com o povo de Israel
e revelou os mandamentos.
3. Visão de homem
Os antigos judeus entendiam que o homem é uma criatura feita à imagem e
semelhança de Deus (Gn 1, 27). Seu ser é composto de dois elementos basar (carne,
corpo) e néfesh (alma, vida). O sangue que sustentava e mantinha a vida. Após a morte,
os falecidos iriam para o Sheol, a mansão dos mortos. Esta condição do morto é vista
como esquecimento (Sl 88, 12-13) (COELHO FILHO, 2008). Enquanto vive, o dever
do homem é observar a Toráh para ter na vida presente bênção e longevidade 18 .O
coração (lebab) que era o centro dos pensamentos e da razão. Os rins (helayot)
representavam a sede das emoções.
4. Visão de mundo
Os hebreus entendiam que a Terra era circular com uma superfície plana e
circundada por mares. Na parte superior, havia ar e águas. Na inferior, era um grande
abismo. Debaixo do solo, situava-se o Sheol. A Terra era imóvel. A Palestina era o
centro do mundo e se conhecia somente as regiões ao redor.
5. O tempo
O calendário judaico era baseado no ciclo da lua e tinha doze meses. A cada dois
anos havia um décimo terceiro mês. A contagem dos anos fazia-se com referência á
criação ou ao tempo de vida de alguma pessoa importante ou evento marcante. Em
2009, para os judeus é o ano 5769 desde a criação do mundo. O início do ano se dava na
primavera.
18
Longevidade quer dizer “vida longa”. Para os antigos era sinal de bênção.
20
7. Pentateuco
Na antiguidade, o texto era conservado em cinco rolos de tamanho quase igual. O
Pentateuco é composto pelo Gênesis (origem, começo), Êxodo (saída), Levítico (lei dos
sacerdotes da tribo de Levi), Números (recenseamentos), Deuteronômio (segunda lei).
Os judeus usavam as primeiras palavras de cada livro para nomeá-los.
Não existe um único autor para esses livros. Atualmente, se considera um conjunto
de autores que podem ser reunidos em 4 grupos: Javista, Eloísta, Sacerdotal e
Deuteronomista. Pelo modo de escrever, deduzem-se essas tradições. Sua redação final
se deu depois do Exílio, em 400 a. C. Mas o começo deve ter sido na época de Salomão.
7.1.Gênesis
O Gênesis é o livro das origens. O seu propósito é responder àquelas perguntas
fundamentais como: De onde viemos? Qual origem do sofrimento? Como começou a
história da fé? Por isso, o livro pode ser dividido em duas partes: 1 – Narrativas das
origens; 2 – História dos patriarcas. Os 11 primeiros capítulos fazem uma catequese
sobre as origens através de histórias. A composição do Gênesis teve muita influência
dos povos vizinhos de Israel. Existem vários gêneros como mitos, lendas, genealogias e
sagas. Essas tradições foram sendo transmitidas oralmente desde o século XIII até
século V antes de Cristo. Após o exílio, os sacerdotes puseram as tradições por escrito.
E tenta refletir justamente sobre a angústia e a falta de esperança provocadas pelo
cativeiro. As memórias registradas no Pentateuco envolvem um período a partir de
3.000 a. C. até sua redação final. Por volta de 1770 os patriarcas estavam no Egito.
7.2. Êxodo
O tema principal deste livro é a libertação do povo da escravidão no Egito. A
personagem central é Moisés. Essa história se completa com a Aliança do Sinai, um
ponto importante para entender o começo da religião judaica de forma organizada. A
partir da conquista da Terra prometida os hebreus começam a formar uma nação. O
êxodo é um acontecimento fixado pela história por volta de 1250.
I. “Opressão” e “Libertação” dos filhos de Israel no Egito. Este é o tema fundamental
de 1,1-15,21. Nesta secção merecem especial relevo as peripécias no Egito (1,1-7,8),
como um povo que nasce no sofrimento. Seguem-se as pragas (7,8-12,32), como meio
violento de libertação.
II. Caminhada pelo deserto (15,22-18,27) do povo, agora livre do Egito.
III. Aliança do Sinai (19,1-24,18). Esta aliança é o encontro criacional ou fundacional
de Javé com os “israelitas”, em que o Senhor se dá a si mesmo ao homem e restitui cada
homem a si mesmo, e em que o homem aceita a dádiva pessoal de Deus e se aceita a si
mesmo como dom de Deus com tudo o mais que lhe é dado: a natureza, a razão, a Lei, a
História, o mundo. Por sua vez, a dádiva e a sua aceitação também reclamam dádiva
mútua e, portanto, responsabilidade. O pecado surge como possibilidade da liberdade
humana; mas Deus pode sempre recomeçar tudo de novo.
IV. Código sacerdotal, com especial relevo para a construção do santuário (25,1-
31,18). A execução do mesmo vai ser revelada em 35,1-40,33, com a correspondente
organização do culto. Esta narrativa está encerrada numa inclusão significativa: 40,34-
38 descreve a descida do Senhor sobre o santuário com as mesmas características
19
Cf. http://www.capuchinhos.org/biblia/index.php?title=Génesis
22
(nuvem, glória, fogo) com que 24,12-15a descreveu a descida do Senhor sobre o Sinai,
mostrando, assim, que o santuário assumiu o papel do Sinai como lugar da manifestação
de Deus. É a presença da ideologia sacerdotal (conhecida por fonte P), que projeta
retrospectivamente no Sinai a imagem do segundo templo, do seu sacerdócio e do seu
culto – em suma, o ideal da comunidade judaica pós-exílica.
V. Renovação da Aliança do Sinai, relatada em 32,1-34,35.
VI. Código sacerdotal (35,1-40,38): execução das obras relativas ao santuário.
7.3. Levítico
A partir da famosa versão grega dos Setenta, este livro recebeu o nome Levítico
por causa da importância dos sacerdotes da tribo de Levi. O texto tem um forte acento
litúrgico e de lei. Essas informações foram recolhidas no século VI pelos sacerdotes em
Jerusalém.
I. Código Sacerdotal (1,1-16,34): inclui as seguintes secções:
1. Ritual dos Sacrifícios (1,1-7,38): holocausto (1), oblações (2), sacrifício de
comunhão (3), sacrifício de expiação (4,1-5,13), sacrifício de reparação (5,14-26),
deveres e direitos dos sacerdotes (6-7).
2. Consagração dos sacerdotes e inauguração do culto (8,1-10,20): Ritual da
consagração de Aarão e seus filhos (8), primeiros sacrifícios dos novos sacerdotes (9),
irregularidades e normas sobre os sacerdotes (10).
3. Código da pureza ritual (11,1-15,33): animais puros e impuros (11), purificação da
mulher que dá à luz (12), purificação da lepra (13-14), impureza sexual (15).
4. Dia da grande expiação (16,1-34).
II. Código de Santidade (17,1-26,46): é um conjunto de leis introduzidas pela fórmula
“Sede santos porque Eu sou santo”, que inclui leis sobre a imolação de animais e leis do
sangue (17), leis em matéria sexual (18), deveres para com o próximo (19), penas pelos
pecados sexuais (20), santidade dos sacerdotes (21-22), calendário das festas (23), luzes
do santuário e pães da oferenda ou da proposição (24,1-9), Ano Sabático e Jubileu (25),
bênçãos e maldições (26). Como se torna evidente, neste grande conjunto de leis
cultuais, quase metade do livro é constituída pelo “Código de Santidade” (17-26).
III. Apêndice (27,1-34): os votos.
7.4.Números
Este livro é narrativo com alguns trechos de leis. Seu conteúdo se liga ao Êxodo.
Pois retoma o tema da marcha no deserto desde o Sinai até as margens do Jordão.
I. No deserto do Sinai (1,1-10,10). Referem-se as ordens de Deus para a caminhada
através do deserto com a disposição do acampamento das tribos, os deveres dos levitas e
outras leis de carácter ritual.
23
7.5. Deuteronômio
A tradição deste livro difere-se do resto do Pentateuco. A fonte usada pelos
escritores é perceptível até o 2º Livro dos Reis. Por isso, esse conjunto de livros é
chamado de História Deuteronomista. No Deuteronômio começa uma nova maneira de
contar a história do povo de Israel. Sua redação final deve ter acontecido pelos séculos
VI e V. O texto trata dos discursos de Moisés e seus últimos dias.
I. Primeiro Discurso (1,6-4,43): de forma historicizante, recapitula o passado, desde a
planície desértica da Arabá até à entrada na Terra Prometida de Canaã.
II. Segundo Discurso (4,44-28,68): Moisés apresenta os fundamentos da Aliança e as
determinações da Lei.
Código Deuteronômico: 11,29-26,15.
III. Terceiro Discurso (28,69-30,20): últimas instruções de Moisés.
IV. Apêndice (31,1-34,12): narra os últimos dias de Moisés, com cânticos e bênçãos,
bem como a sua morte.
1. Introdução
Os judeus chamam de Torá o conjunto de preceitos que acreditam que foram
dados por Deus por meio de Moisés. Às vezes usamos a expressão lei de Moisés, mas o
significado da palavra é “instrução, apontamento”. Esses apontamentos orientam sobre
todos os aspectos da vida: A relação consigo, com os outros e com Deus; desde o
nascimento até a morte. Em síntese, a Torá ensina o povo a bem viver. E seus preceitos
não são todos de natureza religiosa, abrange também moral, costumes e medidas de
saúde.
O Primeiro Testamento é lido sob dois olhares culturais: Um cristão e outro
judeu. É importante entendermos qual a relação existente entre a Torá e o Evangelho. A
posição de Jesus em relação a esse assunto é expressa assim: “Não penseis que vim
revogar a Lei e os Profetas. Não vim revogá-los, mas dar-lhes pleno cumprimento” (Mt
5, 17). Portanto, o Evangelho não é contraditório à Torá, ao contrário, é uma elevação
do sentido da Torá. Só de modo menos legalista. O rabino Moisés Maimônides
identificou 613 mandamentos na Torá.
211.Não negar quando algo de valor foi deixado em sua possessão (Lev. 19:11)
212.Não jurar em falso quando alguma coisa de valor foi deixado em sua possessão
(Lev. 19:11)
213.Jurar em nome de Deus para confirmar a verdade (quando tido como necessário
pela corte) (Deut. 10:20)
214.Cumprir que foi pronunciado e fazer o que foi jurado (Deut. 23:24)
215.Não quebrar juramentos ou promessas (Núm. 3:30)
216.Ter promessas e juramentos anulados [estas são as leis de anulação de promessas
explícitas na Torá] (Núm. 3:30)
217.O nazir deve deixar seu cabelo crescer (Num. 6:5)
218.Ele não deve cortar seu cabelo enquanto for um nazir (Num. 6:5)
219.Ele não deve beber vinho, misturas de vinho ou mesmo vinagre de uva (Num. 6:3)
220.Ele não deve comer uvas frescas (Num. 6:3)
221.Ele não deve comer passas (Num. 6:3)
222.Ele não deve comer sementes de uva (Num. 6:4)
223.Ele não deve comer casca de uva (Num. 6:4)
224.Ele não deve estar sob o mesmo teto que um cadáver (Num. 6:6)
225.Ele não deve ter contato com mortos (Num. 6:7)
226.Ele deve raspar o cabelo depois de trazer sacrifícios como término de seu nazirato
(Num. 6:18)
227.Estimar o valor de pessoas conforme determinado pela Torá (Lev. 27:2)
228.Estimar o valor de animais consagrados (Lev. 27:12-13)
229.Estimar o valor de casas consagradas (Lev. 27:14)
230.Estimar o valor de terras consagradas (Lev. 27:16)
231.Cumprir as leis de dedicação de possessões [ao santuário] (Lev. 27:28)
232.Não vender o que foi dedicado ao santuário (Lev. 27:28)
233.Não redimir o que foi dedicado ao santuário (Lev. 27:28)
234.Não plantar sementes distintas juntas (Lev. 19:19)
235.Não plantar grãos ou vegetais em um vinhedo (Deut. 22:9)
236.Não miscigenar animais de diferentes espécies (Lev. 19:19)
237.Não trabalhar com diferentes animais juntos (Deut. 22:10)
238.Não usar shatnez (um tecido feito de algodão e linho) (Deut. 22:11)
285. Para liberar todos os empréstimos durante o sétimo ano Dt. 15:2
286. Não é à pressão ou pedido do mutuário Dt. 15:2
287. Não se abstenham de crédito imediatamente antes da liberação dos empréstimos,
por medo de perda monetária Dt. 15:9
288. O Sinédrio deve contar sete grupos de sete anos Lev. 25:8
289. O Sinédrio deve santificar o quinquagésimo ano Lev. 25:10
290. Para tocar o shofar no décimo dia de Tishrei para libertar os escravos Lev. 25:9
291. Não é para trabalhar o solo durante o ano quinquagésimo (Jubileu) Lev. 25:11
292. Não é a colher de modo normal que cresce selvagem no quinquagésimo ano
Lev. 25:11
293. Para não apanhar uvas selvagens que cresceram de forma normal no
quinquagésimo ano Lev.25:11
294. Realizar as leis de propriedades vendidas família Lev. 25:24
295. Não vender a terra de Israel indefinidamente Lev. 25:23
296. Realizar as leis de casas em cidades muradas Lev. 25:29
297. A tribo de Levi não deve ser dada uma porção da terra de Israel, e não são dadas as
cidades para habitar em Deut. 18:1
298. Os levitas não devem ter uma participação nos espólios de guerra Dt. 18:1
299. Para dar os levitas que habitam as cidades e seus arredores Num campos. 35:2
300. De não vender os campos mas continuam a ser os levitas 'antes e depois do ano do
Jubileu Lev. 25:34
301. Para construir uma Ex Templo. 25:8
302. Não construir o altar com pedras talhadas pelo metal Ex. 20:23
303. Não subir degraus até o altar Ex. 20:26
304. Mostrar reverência ao Lev Templo. 19:30
305. Proteger a área do templo Num. 18:2
306. Não deixar o templo subterrâneo num. 18:5
307. Preparar a unção do óleo Ex. 30:31
308. Não reproduzir a unção do óleo Ex. 30:32
309. Não para ungir com o óleo da unção Ex. 30:32
310. Não reproduzir a fórmula do incenso Ex. 30:37
311. Para não queimar nada sobre o Altar de Ouro, além de incenso Ex. 30:9
312. Os levitas têm de transportar a arca sobre os ombros num. 7:9
313. Não remover as pautas do Ex arca. 25:15
314. Os levitas devem trabalhar no Num Templo. 18:23
315. Não levita, deve fazer um outro trabalho de qualquer um Cohen ou um Num
levita. 18:3
316. Dedicar o sacerdote para o serviço. Lev. 21:8
317. O trabalho de turnos os sacerdotes deve ser igual durante as férias Deut. 18:6-8
318. Os sacerdotes devem usar as vestes sacerdotais Ex durante o serviço. 28:2
319. Para não rasgar as vestes sacerdotais Ex. 28:32
320. O peitoral do Sumo Sacerdote não deve ser forte a partir da Ex Efod. 28:28
321. Um sacerdote não pode entrar no Templo intoxicados. Lv10:9
33
322. Um sacerdote não pode entrar no templo com a cabeça descoberta Lev. 10:6
323. Um sacerdote não pode entrar no Templo com roupas rasgadas Lev. 10:6
324. Um sacerdote não pode entrar no Templo indiscriminadamente Lev. 16:2
325. O sacerdote não deve deixar o templo durante o serviço Lev. 10:7
326. Para enviar o impuro do Num Templo. 5:2
327. Pessoas impuras não devem entrar no Num Templo. 5:3
328. Pessoas impuras não devem entrar na área do Monte do Templo Deut. 23:11
329. Sacerdotes impuros não devem fazer o serviço no templo Lev. 22:2
330. Um sacerdote impuro, após a imersão, deve esperar até depois do pôr do sol antes
de retornar ao serviço Lev. 22:7
331. Um sacerdote deve lavar as mãos e os pés antes de serviço Ex. 30:19
332. Um sacerdote com um defeito físico, não deve entrar no santuário ou aproximar do
altar Lv. 21:23
333. Um sacerdote com um defeito físico, não deve servir Lev. 21:17
334. Um sacerdote com um defeito temporário não deve servir Lev. 21:17
335. Aquele que não é um Cohen não deve servir num. 18:4
336. Para oferecer somente animais puros Lev. 22:21
337. Não dedicar um animal faminto para o altar Lv. 22:20
338. Não abatê-lo. Lev. 22:22
339. Não regar o seu sangue Lev. 22:24
340. Não queimar sua gordura. Lv 22:22
341. Não para oferecer um animal temporariamente com lesões. Dt 17:1
342. Não sacrificar animais deteriorados mesmo oferecido pelo não-judeus Lev. 22:25
343. Não causar ferimentos aos animais dedicados Lev. 22:21
344. Resgatar os animais que se tornaram dedicados desclassificados Deut. 12:15
345. Oferecer somente animais que são Lev pelo menos oito dias de idade. 22:27
346. Não para oferecer animais comprados com o salário de uma prostituta ou o animal
trocado por um cão Dt. 23:19
347. Para não queimar o mel ou levedura no altar Lv. 2:11
348. Para todos os sacrifícios Lev sal. 2:13
349. Para não omitir o sal de sacrifícios Lev. 2:13
350. Realizar o procedimento do holocausto como prescrito no Levítico Torá. 1:3
351. Não comer sua carne Dt. 12:17
352. Realizar o procedimento da oferta pelo pecado Lev. 6:18
353. Não comer a carne da oferta pelo pecado interior Lev. 6:23
354. Não para decapitar uma galinha trouxe como oferta pelo pecado Lev. 5:8
355. Realizar o procedimento da oferta pela culpa Lev. 7:1
356. Os sacerdotes devem comer a carne do sacrifício no Templo Ex. 29:33
357. Os sacerdotes não devem comer a carne fora do pátio do Templo Deut. 12:17
358. O não-sacerdote não deve comer carne de sacrifício Ex. 29:33
359. Acompanhar o processo da oferta de paz Lev. 7:11
360. Não comer a carne dos sacrifícios menores antes de aspersão do sangue Dt. 12:17
361. Trazer ofertas de manjares como prescrito no Levítico Torá. 2:1
34
362. Não colocar óleo sobre a oferta de refeição de malfeitores Lev. 5:11
363. Não colocar incenso na oferta de refeição de malfeitores Lev. 3:11
364. Não comer a oferta de cereais do Sumo Sacerdote Lev. 6:16
365. Não para cozer uma oferta de cereais como pão fermentado Lev. 6:10
366. Os sacerdotes devem comer os restos das oferendas refeição Lev. 6:9
367. Trazer todas as ofertas e confesso voluntárias para o templo no Dt primeiro festival
subseqüente. 12:5-6
368. Não reter o pagamento efetuado por qualquer voto. Dt 23:22
369. Oferecer todos os sacrifícios no Templo Dt. 12:11
370. Para trazer todos os sacrifícios de Israel fora do Templo Dt. 12:26
371. Não sacrificar o abate fora do pátio Lev. 17:4
372. Não oferecer sacrifícios fora do pátio Dt. 12:13
373. Oferecer dois cordeiros Num cada dia. 28:3
374. Acender um fogo sobre o altar a cada dia Lev. 6:6
375. Não é para extinguir este fogo Lev. 6:6
376. Remover as cinzas do altar todos os dias Lev. 6:3
377. Queimar incenso todos os dias Ex. 30:7
378. Iluminar a Menorá cada dia Ex. 27:21
379. O Kohen Gadol (Sumo Sacerdote ") deve trazer uma refeição oferecendo cada dia
Lev. 6:13
380. Trazer dois cordeiros como holocausto adicional no sábado. Num. 28:9
381. Para fazer o show pão Ex. 25:30
382. Trazer ofertas adicionais em Rosh Chodesh ( "O Ano Novo") Num. 28:11
383. Trazer ofertas adicionais sobre a Páscoa num. 28:19
384. Oferecer a oferta de movimento da farinha do trigo novo Lev. 23:10
385. Cada homem deve contar o Omer - sete semanas a partir do dia da oferta de trigo
novo trazido Lev. 23:15
386. Trazer ofertas adicionais da Festa das Semanas. Num. 28:26
387. Trazer duas folhas para acompanhar o sacrifício Lev acima. 23:17
388. Trazer ofertas adicionais no Ano Novo. Num. 29:2
389. Trazer ofertas adicionais no Dia da Expiação. Num. 29:8
390. Trazer ofertas adicionais na Festa das Cabanas. Num. 29:13
391. Trazer ofertas adicionais sobre a convocação do oitavo dia. Num. 29:35
392. Não comer os sacrifícios que se tornaram impróprios ou deteriorados Deut. 14:3
393. Não comer sacrifícios oferecidos com intenções impróprias Lev. 7:18
394. Não deixar sacrifícios passarem do tempo permitido para comê-los Lev. 22:30
395. Não comer o que sobrou Lev. 19:8
396. Não comer de sacrifícios que se tornaram impuro Lv. 7:19
397. Uma pessoa impura não deve comer os sacrifícios Lev. 7:20
398. Queimar o restante dos sacrifícios Lev. 7:17
399. Queimar todos os sacrifícios impuros Lev. 7:19
400. Acompanhar o processo do Dia da Expiação. Lev. 16:3
402. Aquele que profanou imóvel deve pagar o que ele profanou, mais de um quinto e
35
3. A Ética da Torá
Os princípios da Torá direcionam a relação do homem consigo, com o outro,
com a natureza e com Deus. A reverência à santidade de Deus, o respeito pela vida e a
pureza integral da pessoa são preocupações centrais. A justiça com o pobre, o órfão e a
viúva estão no coração dos mandamentos. É importante observar que muitos preceitos
destoam bastante da cultura moderna.
41
4. O diferencial do Evangelho
Jesus não cria uma nova lei, apenas faz uma releitura radical da antiga lei. A sua atenção
se volta para as questões promovam a vida e não dificultem o acesso dos menos
favorecidos à felicidade. Fundamental em Jesus é a gratuidade. Na Torá, para cada
preceitos há uma recompensa. No Evangelho, as atitudes têm um valor em si mesma.
Isso alivia o peso da lei e aproxima as pessoas mais de Deus.
PROPOSTA DE ESTUDO
A EXISTÊNCIA DE DEUS E
O PROBLEMA DO MAL NA TRADIÇÃO BÍBLICA E CRISTÃ
1. Introdução à temática
A relação entre a existência de um Deus bom e a presença do mal do mundo
constitui um dos maiores problemas teológicos. Esta questão foi levantada pelo filósofo
Epicuro (341-270 a. C.), há quase 2.400 anos. O famoso dilema de Epicuro nos coloca
contra a parede: “Deus quer impedir o mal e não consegue? Então, ele é impotente. Ele
é capaz, mas não quer? Então, ele é malévolo. Ele é capaz e quer? Donde, então, o
mal?” (EHRMAN, 2008). Muitas vezes a causa do ateísmo no mundo contemporâneo
se deve à dificuldade de lidar com esta situação. No Brasil, muitas denominações cristãs
lidam de modo muito confuso com essa dupla “bondade de Deus” e “existência do
mal”. As afirmações que refletem este dilema são ouvidas quase todos os dias. E muitas
vezes, só há duas saídas: O Deus é culpado pelo mal ou ele não existe. Muitas
explicações impensadas levam as pessoas a justificar a falta de justiça social.
Agostinho (354-430 d. C.) foi o primeiro pensador cristão a responder a essa
questão. Através de seu livro “O Livre-arbítrio”, ele defende que o mal é resultado da
liberdade humana e não da vontade de Deus. O problema se tornou uma questão tão
preocupante que o filósofo Leibniz separou uma parte da teologia só para discutir este
assunto. A este estudo ele deu o nome de Teodiceia, que quer dizer “justificação de
Deus”. Então, desenvolve uma longa discussão sobre o tema no seu livro “Ensaios sobre
a Teodiceia”.
Atualmente, existem diferentes posições sobre o problema: a) O teólogo Andrés
Torres Queiruga pensa que Deus é perfeito e não quer o mal, mas o homem é imperfeito
e erra; b) O teólogo brasileiro Leonardo Boff afirma que não podemos insistir nesta
42
discussão, precisamos é agir para que o mal seja amenizado; c) O teólogo estadunidense
Bart Ehrman diz que o problema é importante, mas nós não temos respostas para ele.
Porém, antes de tratar da relação de Deus com a história, trataremos da
identidade de Deus dentro da Bíblia e da tradição cristã. Primeiramente, é preciso saber
em que Deus acreditam os cristãos para depois investigar qual é a consequente relação
dele com o mundo. Partindo da identidade e qualidades de Deus, procuraremos as
respostas que a Bíblia dá e as que tradição cristã criou ao longo do tempo.
Dionísio apenas diz o que Deus não é. Mas Tomás de Aquino tentou usar a razão
para demonstrar a existência e as qualidades de Deus. Ele formulou as famosas 5 vias
para prová-la: 1ª Tudo que move é movido por outra coisa, mas aquilo que dá o ponto
de partida a todos os motores é imóvel; 2ª Todo efeito depende de uma casa, a primeira
delas não é causa por nenhuma outra; 3ª Todos os seres são passageiros, mas para que o
mundo se sustente o primeiro deles é absoluto; 4ª Há graus de perfeição nos seres, mas
há um contém todos os graus; 5ª O Universo é organizado, isso exige uma inteligência
ordenadora.
Durante a história da Igreja, muitas qualidades e descrições de Deus foram feitas.
Porém, muitas dificultam e até ofuscam a identidade do divino. O cristianismo foi
predominantemente marcado pela teologia afirmativa. Decorre daí a dificuldade dos
cristãos de hoje relacionarem a existência de um Deus bom com a existência do mal.
latino-americana, sabemos que Deus é bom, apesar de nossas tradições escritas serem
diversificadas, então, cabe-nos resolver o problema do sofrimento do mundo, sem ficar
transferindo nossa responsabilidade para Deus.
BIBLIOGRAFIA
AGOSTINHO, Santo. O livre-arbítrio. Tradução de Nair de Assis de Oliveira. São
Paulo: Paulus, 1995.
EHRMAN, Bart. O problema com Deus. Tradução de Alexandre Martins. Rio de
Janeiro: Agir, 2008.
LEIBNIZ, Gottfried Wilhelm. Os pensadores. Tradução de Marilena Chauí. São Paulo:
Abril, 1974.
REALE, Giovanni. História da filosofia. Vol. 1.
VOLTAIRE, François Marie Arouet. Cândido ou o otimismo. Rio de Janeiro: 1994.
APOLOGÉTICA CATÓLICA
Introdução
Apologética é a defesa bem fundamentada dos princípios da fé cristã. Desde os
primeiros séculos do cristianismo, que as lideranças precisaram defender a fé e os
costumes cristãos diante da sociedade do Império Romano. Hoje, devido às diferenças
doutrinárias, cada Igreja tem sua apologética. Neste estudo, vamos tratar a respeito da
Apologética Católica. É importante informar que a apologética não é uma defesa
superficial, forçada e que deseja fazer valer uma doutrina a todo custo. A Bíblia é o
fundamento principal de defesa ou refutação de qualquer doutrina cristã.
Conteúdo
A Apologética é uma parte da teologia que cuida das doutrinas mais difíceis de
compreensão e defesa. Muitas delas não estão de modo explícito na Bíblia. Elas
encontram maior esclarecimento na Tradição. As principais doutrinas exclusivas da
Apologética Católica são: Doutrina do purgatório, a intercessão e a veneração dos
santos, o culto a Maria e os dogmas marianos, a transubstanciação e o sacrifício da
Missa, a confissão auricular e as indulgências, o cânon da Bíblia, o primado romano e a
infalibilidade papal, a Inquisição, celibato clerical, ecumenismo e a comunhão eclesial.
Fontes da fé católica
As divergências de doutrina entre católicos e evangélicos são provenientes dos
diferentes modelos de conceber a Igreja e a fonte da fé. A Igreja Católica tem como
fontes de doutrinas: A Bíblia, a Tradição Apostólica e o Magistério. Ela aceita as
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se recebe o pão e o vinho. Quando não se faz nas missas diárias é por razões
práticas. Não existe proibição disso.
Citações bíblicas: At 20,7.
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DENZINGER é o nome pelo qual é conhecimento o manual que contém todas as decisões dos
concílios, decretos, orientações dos pais da Igreja e que reúne todos os documentos de doutrinas desde o
século II.
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2.2. Igreja
Um dogma relacionado à Igreja é o de sua infalibilidade. Cabe a seu magistério
guardar a fé e ensinar em matéria de fé e de costumes sem erros. Sobre este poder da
Igreja, Cipriano de Cartago, do século III, chegou a firmar “fora da Igreja, não há
salvação”. Uma declaração muito arrojada. O Concílio de Latrão IV (1215) chegou a
usar essa expressão. Mas no século II, Justino havia ensinado que as sementes do Verbo
estão em todos os homens e podem levar-lhes a praticar o bem e dirigem-se à salvação
segundo seus méritos.
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Esta é uma lista comum dos motivos que os evangélicos apresentam para não serem católicos. Porém,
as expressões e as datas não são todas fundamentadas. Texto disponível na internet.
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2.6. A Inquisição
A Inquisição foi uma instituição fundada para combater as heresias. Em 1184,
foi criada a Inquisição para combater os cátaros, na França. As Inquisições mais
famosas estiveram sob o controle do Estado. A fase mais dura de condenação de
pessoas que sustentavam uma fé diferente da Igreja foram os séculos XII a XVIII. Em
1965, a Inquisição mudou seu nome para Congregação para a Doutrina da Fé. Na
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