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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

LEANDRO GALVANI GESSER

CONSEQUÊNCIAS DA UNIFICAÇÃO DO CRIME DE ESTUPRO E ATENTADO


VIOLENTO AO PUDOR PELA LEI 12.015/2009

Tubarão
2010
LEANDRO GALVANI GESSER

CONSEQUÊNCIAS DA UNIFICAÇÃO DO CRIME DE ESTUPRO E ATENTADO


VIOLENTO AO PUDOR PELA LEI 12.015/2009

Monografia apresentada ao Curso de Graduação em


Direito, da Universidade do Sul de Santa Catarina,
como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel
em Direito.

Orientador: Prof. Eron Pinter Pizzolatti, Esp.

Tubarão
2010
LEANDRO GALVANI GESSER

CONSEQUÊNCIAS DA UNIFICAÇÃO DO CRIME DE ESTUPRO E ATENTADO


VIOLENTO AO PUDOR PELA LEI 12.015/2009

Esta Monografia foi julgada adequada à obtenção do


título de Bacharel em Direito e aprovada em sua forma
final pelo Curso de Graduação em Direito da
Universidade do Sul de Santa Catarina.

Tubarão, 21 de junho de 2009.

___________________________________________________________
Professor e orientador Eron Pinter Pizzolatti, Esp.
Universidade do Sul de Santa Catarina

___________________________________________________________
Professor Lester Marcoantônio Camargo, Msc.
Universidade do Sul de Santa Catarina

___________________________________________________________
Professor Silvio Roberto Lisboa, Esp.
Universidade do Sul de Santa Catarina
Dedico a presente obra ao meu irmão, Wilson
Gesser Júnior, companheiro de todas as horas,
por toda paciência e compreensão. Espero que
todo esforço, empenho e dedicação
dispensados neste presente trabalho, lhe
sirvam de inspiração para que sempre busque
vôos mais altos do que aqueles já alçados.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos aqueles que de alguma forma me auxiliaram ou incentivaram


durante este longo e breve percurso acadêmico, em especial:
A minha família, pela educação, exemplo e ensinamentos de vida, que me
orientaram no desenvolvimento intelectual e moral, os quais, ainda, me servem de base.
Ao meu irmão, amigo inseparável, ao qual, além de dedicar este trabalho,
agradeço por toda compreensão e paciência durante a elaboração.
Aos meus grandes amigos André Delfino Müller, Felipe Wernck Matos, Philipe
Cardoso, Fábio Mendes dos Santos e Lauro Nicoladeli Neto, que apesar dos desencontros
promovidos pela inconstância das nossas escolhas, sempre estiveram presentes nos melhores e
piores momentos da minha vida, prestando apoio moral, intelectual e tomando uma
cervejinha.
Ao meu professor e colega Eron Pinter Pizzolatti, que auxiliou no
desenvolvimento do presente trabalho.
RESUMO

O objetivo do presente trabalho é a análise das mudanças ocorridas com a unificação dos
crimes de estupro e atentado violento ao pudor pela lei 12.015 de 07 de agosto de 2009, bem
como suas conseqüências no ordenamento jurídico brasileiro. Para elaboração do trabalho foi
utilizada a pesquisa bibliográfica, direcionada para a análise de diversos autores que tratam do
tema, bem como da legislação em vigor e revogada, periódicos e conteúdo existente na rede
mundial de computadores. Realizado o estudo constatou-se a problemática estabelecida pelo
legislador ao juntar dois crimes que eram autônomos em um único tipo penal, uma vez que
agora, além da conjunção, passa a ser estupro a prática de ato libidinoso. Após a análise de
todo conteúdo pesquisado verificou-se que há uma grande divergência na doutrina a respeito
da nova figura típica do artigo 213 do Código Penal, tendo em vista que parte dos estudiosos
sustentam tratar-se de um tipo misto alternativo, enquanto que outros alimentam a teoria de
ser um tipo misto cumulativo. As manifestações jurisprudenciais apontam no sentido de
tratar-se de um tipo misto alternativo, inclusive com decisões reconhecendo a ocorrência de
crime único quando o agente pratica conjunção carnal e ato libidinoso com a mesma vítima,
em único momento. Reconheceram ainda a continuidade delitiva, quando a prática das
condutas ocorre em ocasiões diversas, desde que preenchidos os requisitos do artigo 71 do
Código Penal. Por fim, conclui-se que o novo crime de estupro, em alguns casos, será mais
benevolente com o acusado/réu e também com os condenados.

Palavras-chave: Estupro. Atentado violento ao pudor. Concurso material. Crime continuado.


Lei 12.015/2009.
ABSTRACT

The purpose of this study is the analysis of changes to the unification of the crimes of raping
and indecent assault by law 12 015 of August 7, 2009, and its consequences in the Brazilian
legal system. To develop this work was used literature search, directed towards the analysis of
various authors treating this subject as well as the existing legislation and repealed journals
and content on the World Wide Web. Performed the study found the problem was established
by the legislature to join two crimes that were autonomous in a single offense, since now,
besides the conjunction, it becomes the practice of raping, lewd acts. After examining all the
contents searched it was found that there is a wide divergence in doctrine about the new
typical figure of Article 213 of the Penal Code, in order that some scholars contend that this is
a mixed type alternative, while others feed the theory to be a mixed type cumulative.
Demonstrations jurisprudential point towards this is a mixed type alternative, including
decisions recognizing the occurrence of crime only when the agent practicing carnal
intercourse and lewd acts with the same victim in a single moment. Still having
The acknowledgement of the continuing crime, when the practice of ducts occurs in several
occasions, provided that met the requirements of Article 71 of the Criminal Code. Finally, we
conclude that the new crime of rape, in some cases, be more lenient with the
accused/defendant and also with offenders.

Keywords: Raping crime. Indecent assault. Competition material. Continued Crime. Law
12.015/2009.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Art - Artigo
Arts. – Artigos
CF - Constituição Federal
CP – Código Penal
CPP – Código de Processo Penal
Inc - Inciso
TJDF – Tribunal de Justiça do Estado do Distrito Federal
TJMG – Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais
TJPR – Tribunal de Justiça do Estado do Paraná
TJRN – Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Norte
TJSC – Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 10
2 DOS CRIMES DE ESTUPRO E ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR -
POSSIBILIDADES DE APLICAÇÃO DO CONCURSO MATERIAL ........................... 12
2.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS............................................................................................ 12
2.2 DO CRIME DE ESTUPRO................................................................................................ 15
2.2.1 Conceito .......................................................................................................................... 16
2.2.2 Objetividade jurídica .................................................................................................... 16
2.2.3 Sujeito ativo .................................................................................................................... 17
2.2.4 Sujeito passivo ................................................................................................................ 18
2.2.5 Tipo objetivo .................................................................................................................. 18
2.2.6 Tipo subjetivo ................................................................................................................. 19
2.2.7 Consumação e tentativa ................................................................................................ 19
2.3 DO CRIME DE ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR ................................................. 21
2.3.1 Conceito .......................................................................................................................... 21
2.3.2 Objetividade jurídica .................................................................................................... 22
2.3.3 Sujeito ativo .................................................................................................................... 22
2.3.4 Sujeito passivo ................................................................................................................ 23
2.3.5 Tipo objetivo .................................................................................................................. 24
2.3.6 Tipo subjetivo ................................................................................................................. 24
2.3.7 Consumação e tentativa ................................................................................................ 25
2.4 POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DO CONCURSO MATERIAL ............................. 26
2.4.1 Conceito de concurso material ..................................................................................... 26
2.4.2 Ocorrência de concurso material entre os crimes de estupro e atentado
violento ao pudor .................................................................................................................... 27
2.4.3 Aplicação das penas ....................................................................................................... 28
2.5 HEDIONDEZ DOS CRIMES ............................................................................................ 29
3 ALTERAÇÕES DOS CRIMES DE ESTUPRO E ATENTADO VIOLENTO
AO PUDOR PELA LEI 12.015 DE 7 DE AGOSTO DE 2009............................................ 31
3.1 NOÇÕES INTRODUTÓRIAS ........................................................................................... 31
3.2 CRIME DE ESTUPRO APÓS A LEI Nº 12.015 DE 7 DE AGOSTO DE 2009 ............... 33
3.2.1 Conceito estupro ............................................................................................................ 33
3.2.2 Objetividade jurídica .................................................................................................... 35
3.2.3 Sujeito ativo .................................................................................................................... 35
3.2.4 Sujeito passivo ................................................................................................................ 36
3.2.5 Tipo objetivo .................................................................................................................. 36
3.2.6 Tipo subjetivo ................................................................................................................. 37
3.2.7 Consumação e tentativa ................................................................................................ 38
4 CONSEQUÊNCIAS DA UNIFICAÇÃO DO CRIME DE ESTUPRO E ATENTADO
VIOLENTO AO PUDOR ...................................................................................................... 40
4.1 ESTUPRO COMO CRIME ÚNICO .................................................................................. 40
4.2 POSICIONAMENTO JURISPRUDENCIAL.................................................................... 43
4.3 APLICAÇÃO DO BENEFÍCIO DO CRIME CONTINUADO ........................................ 46
4.3.1 Superveniência da lei 12.015/2009................................................................................ 47
4.4 RETROATIVIDADE DA LEI PENAL BENÉFICA ......................................................... 48
4.4.1 Competência para aplicação da lei mais benigna ....................................................... 50
5 CONCLUSÃO...................................................................................................................... 51
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 52
ANEXO - Lei n° 12.015, de 7 de agosto de 2009 .................................................................. 56
10

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como assunto os crimes de estupro e atentado violento ao


pudor, com enfoque nas mudanças decorrentes da entrada em vigor da Lei 12.015, de 07 de
agosto de 2009.
O tema em comento situa-se no campo do Direito Penal, ramo do Direito
nacional, que tem como missão, “proteger os valores fundamentais para a subsistência do
corpo social, tais como a vida, a saúde, a liberdade, a propriedade etc., denominados bens
jurídicos.”1
Ao constituinte competem à missão de realizar as reformas necessárias nas
legislações ao longo dos tempos, visando adequar as leis as transformações da sociedade, para
que estas cumpram a sua função de resguardar os direitos e convívio harmônico dos homens.
Assim, o legislador buscando cumprir com a obrigação acima exposta publicaram
em 07 de agosto de 2009 a lei 12.015 que altera os crimes previstos no Titulo VI, Dos Crimes
Contra os Costumes, do Código Penal.
Com as inovações no ordenamento jurídico é normal que surjam divergências
entre os aplicadores do direito, desta vez não foi diferente, com o advento da lei 12.015/2009
o crime de estupro passou a ser de conduta múltipla ou de conteúdo variado, abrangendo
também a conduta delituosa do atentado violento ao pudor. Conseqüentemente, ocorreram
mudanças na aplicação das penas que acabam beneficiando os acusados/réus e apenados, as
quais devem ser analisadas.
O presente trabalho monográfico tem-se como escopo, verificar de que forma o
Estado, a jurisprudência e os doutrinadores estão se posicionando a respeito das mudanças
ocorridas nos crimes de estupro e atentado violento ao pudor com a entrada em vigor da lei
12.015/2009 e quais as conseqüências trazidas para aqueles cometeram o delito antes da lei
entrar em vigor.
Para isso faz-se necessário um esboço a respeito das mudanças ocorridas no crime
de estupro em decorrência da lei 12.015/2009, bem como da sua nova conceituação.
Busca-se ainda, avaliar a necessidade de readequação das penas para aqueles que
cometeram os delitos, com aplicação do concurso material, antes da entrada em vigor da lei

1
CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. 7. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 1.
11

supra citada, bem como demonstrar a possibilidade do reconhecimento da continuidade entre


os crimes.
Para a elaboração deste trabalho foi utilizado o método de abordagem dedutivo,
eis que se partiu de proposição ampla/geral (a qual funcionará como premissa maior), qual
seja, o direito penal, e de proposições, também gerais, mas menos amplas (que funcionarão
como premissas menores), no caso os crimes de estupro e atentado violento ao pudor antes e
depois da vigência da lei 12.015/2009, para se chegar a proposições específicas acerca das
mudanças ocasionadas nos crimes acima mencionados a respeito da diminuição das penas já
aplicadas em concurso real.
Quanto ao método de procedimento, foi adotado o monográfico, tendo em vista a
realização de estudo minucioso em livros, artigos, legislação e jurisprudência dos Tribunais, a
fim de obter idéias gerais sobre o tema.
Já o procedimento de pesquisa empregado foi o bibliográfico, com a busca de
informações publicadas em livros, artigos, legislação e jurisprudência relacionadas ao Direito
Penal.
Optou-se por dividir esta pesquisa em cinco capítulos, dos quais se destacam o
segundo, o terceiro e o quarto, pois neles está compreendido o conteúdo principal.
No segundo capítulo será realizada uma explanação a respeito dos crimes de
estupro e atentado violento ao pudor antes da vigência da lei 12.015/2009 para demonstrar a
aplicação do concurso material entre os delitos quando do cometimento destes.
O terceiro capítulo tratará das mudanças ocorridas no crime de estupro com o
advento da lei 12.015/2009, a fim de possibilitar o entendimento do que será abordado no
capítulo seguinte.
Enfim, no quarto capítulo serão examinadas, as conseqüências ocasionadas pela
nova lei, com a finalidade de confirmar que haverá uma diminuição significativa nas penas
daqueles que haviam sido condenados pelos crimes de estupro e atentado violento ao pudor
antes da vigência da nova lei.
12

2 DOS CRIMES DE ESTUPRO E ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR –


POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DO CONCURSO MATERIAL

O presente capítulo tem como escopo demonstrar a conceituação dos crimes de


estupro e atentado violento ao pudor antes da entrada em vigor da lei 12.015, de 07 de agosto
de 2009.
Será realizada uma abordagem acerca da aplicação do concurso material quando
do cometimento dos fatos típicos supracitados com as mesmas condições de tempo, lugar,
maneira de execução.
Procurou-se dar enfoque especial aos crimes de estupro e atentado violento
conforme a previsão dos artigos 213 e 214, ambos, do Título VI da Parte Especial do Decreto-
Lei 2.848, de 07 de dezembro de 1940-Código Penal, com atenção ainda para a aplicação do
instituto penal do concurso material, o qual será de muita importância quando da análise do
tema central.

2.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS

Diante do inevitável destino que é a morte o homem com o objetivo de


perpetuação da espécie, visa o procriar. Assim, desde os primórdios até os dias atuais o
instinto de reprodução é o que mais fortemente dominam os homens, ao seu lado está o de
nutrição.
No decorrer dos tempos o homem evolui e o convívio em sociedade tornou-se
necessário, surgindo conseqüentemente o pudor, que veio a ser um sentimento não apenas do
indivíduo, mas da coletividade, estabelecendo normas a serem seguidas em nome da moral e
dos costumes.
Sobre a matéria, Mirabete ensina: “Sendo o instinto de reprodução um dos mais
fortes e tendo sido criado pela natureza para promover a perpetuação da espécie, a adaptação
do amor sexual ao rito de vida social é obtida pelo pudor, corretivo a sofreguidão e arbítrio de
Eros.”2

2
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal: parte especial. 25. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas,
2007. v. 2. p. 405.
13

Com fundamentos no pudor público e individual a sociedade impõe regras sobre a


moral e os costumes, atendendo aos critérios ético-sociais vigentes para inviabilizar a
ocorrência de fatos que contrariem esses princípios.
O direito Canônico resguardava a liberdade sexual, sendo que o delito de estupro
já se encontrava tipificado, contudo, para configuração dessa infração era necessário o
preenchimento de alguns requisitos por parte da mulher.
Extrai-se da doutrina de Hungria que:

Para haver o delito de estupro no Direito Canônico, era necessário que a mulher
fosse virgem, pois a mulher deflorada não poderia ser vítima deste crime, além
disso, era exigido para a consumação do delito, o emprego de violência, ou seja,
força física de qualquer espécie. Portanto, a mulher já casada ou que já tivesse
praticado ato sexual com homem caracterizando a conjunção carnal, estava proibida
de ser sujeito passivo deste delito.3

Segundo as lições de Prado, no Direito Canônico ocorria o crime de estupro


quando o agente “alcançava apenas o coito com mulher virgem e não casada, mas honesta. O
stuprum violentum de publica, com a pena capital, onde se cortava a cabeça do endivido que
cometesse tal crime, em praça pública.”4
Já nas Ordenações Filipinas, segundo Fragoso:

[...] o crime de estupro era elencado no livro V Titulo XXIII prevendo o estupro
voluntário de mulher virgem que, acarretava para o autor a obrigação de se casar
com a donzela, caso fosse impossível o casamento o estuprador deveria constituir
um dote para a vítima, porém se o autor não tivesse bens era flagelado e humilhado,
entretanto isto não aconteceria se fosse fidalgo ou pessoa de posição social, quando
então recebia somente a pena de degredo. Porém posteriormente, o estupro violento
foi inserido no título XVIII e dizia que “todo homem, de qualquer stato e condição
que seja, que forçasse dormir com qualquer mulher posto que ganhe dinheiro per
seu corpo, ou seja, scrava, morra por ello”. Assim todos os infratores deste delito
passaram a ser condenados com a pena de morte.5

Quanto à tipificação do crime de estupro no Brasil, descreve Portinho “que o


Código Criminal do Império de 1830 definiu o crime de estupro propriamente dito no artigo
222, com pena de 3 (três) a 12 (doze) anos, incluindo ainda o dote para a ofendida. Porém se a
estuprada fosse prostituta a pena diminuiria para apenas 1 (um) mês a 2 (dois) anos de
prisão.”6

3
HUNGRIA, Nélson. Comentários ao código penal. Rio de Janeiro: Forense, 1983. v. 8. p. 115.
4
PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro. parte geral: 1º ao 120- 3. ed. rer. atual. ampl. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 198.
5
FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de direito penal: parte especial. 5.ed. rev. atualizada por Fernando
Fragoso, Rio de Janeiro: Forense, 1986. v.2.p. 199.
6
PORTINHO, João Pedro Carvalho. História, direito e violência sexual: a Idade Média e os Estados
Modernos. Disponível em: <http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=alunos&id=11#_ftnref15>.
Acesso em 17 maio 2010.
14

Em 1890 o Generalíssimo Manoel da Fonseca promulga o Código Penal através


do Decreto nº 847 de 11 outubro do referido ano, ocorrendo uma inovação acerca do crime de
estupro, definindo-o no artigo 269, “chama-se estupro o acto pelo qual o homem abusa com
violencia de uma mulher, seja virgem ou não.”7 Sendo que as penas para o delito mencionado
encontravam-se dispostas no artigo 268 do mesmo diploma, vejamos:

Art. 268. Estuprar mulher virgem ou não, mas honesta:


Pena - de prisão cellular por um a seis annos.
§ 1.° Si a estuprada for mulher publica ou prostituta:
Pena - de prisão cellular por seis mezes a dous annos.
§ 2.° Si o crime for praticado com o concurso de duas ou mais pessoas, a pena será
augmentada da Quarta parte.8

O Código Penal de 1890 ainda tratou de tipificar o crime de atentado violento ao


pudor no seu artigo 266 que trazia a seguinte redação:

Art. 266. Attentar contra o pudor de pessoa de um, ou de outro sexo, por meio de
violencias ou ameaças, com o fim de saciar paixões lascivas ou por depravação
moral:
Pena - de prisão cellular por um a seis annos.
Paragrapho único. Na mesma pena incorrerá aquelle que corromper pessoa de menor
idade, praticando com ella ou contra ella actos de libidinagem.9

Com o intuito de dar maior amparo ao resguardo da maturidade e liberdade


sexual, combater a corrupção e a prostituição, bem como o pudor público e individual, o
legislador através da lei 2.848, de 25 de julho 1940 tratou de tutelar no Título VI - Os Crimes
Contra os Costumes, tipificando o estupro, um dos delitos que causa maior repúdio na
sociedade, no seu artigo 213, com a seguinte redação: “Constranger mulher à conjunção
carnal, mediante violência ou grave ameaça.”10 Eliminando a exigência de ser a mulher
virgem ou honesta e dando, por conseguinte, proteção a todas as vítimas.
No diploma supra mencionado foi dada, ainda, uma nova definição ao crime de
atentado violento ao pudor, estando descrito no seu artigo 214 como sendo o ato de
“constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele
se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal.”11
Analisando a legislação penal brasileira e sua evolução, devido à modernização da
sociedade e sua consequente mutação de costumes, verifica-se que o legislador passou a

7
BRASIL. Código penal: decreto-lei 847 de 11 de outubro de 1890. Disponível em:
<http://www.ciespi.org.br/base_legis/legislacao/DEC20a.html>. Acesso em: 17 maio 2010.
8
Ibid.
9
Ibid.
10
BRASIL. Vade Mecum: código penal. 9. ed. São Paulo: Rideel, 2009. p. 361.
11
Ibid., p. 361.
15

preocupar-se em definir com maior clareza os crimes contra a liberdade sexual objetivando da
maior proteção as pessoas.
A mulher passou fazer parte das atividades de desenvolvimento do mercado de
trabalho, deixando de ser vista apenas como um símbolo ambulante de castidade e recato e
objeto sexual, dando maior contribuição para o desenvolvimento da sociedade. O objetivo do
legislador em resguardar a virgindade da mulher perde o sentido, sendo necessária a
ampliação da cautela proporcionada pelo direito penal, a fim de proteger todas as mulheres
indistintamente.
Feitas estas breves explanações quanto ao desenvolvimento histórico dos crimes
de estupro e atentado violento ao pudor, na seqüência falar-se-á desses delitos de acordo com
redação dada pelos artigos 213 e 214, do Decreto-lei 2.848, de 25 de julho 1940. Para então,
no capítulo seguinte ser feita uma abordagem sobre a lei 12.015, de 07 de agosto de 2009, que
trouxe significativas mudanças nos delitos mencionados.

2.2 DO CRIME DE ESTUPRO

O estupro é o primeiro dos crimes previstos no Capitulo I do Título VI do Código


Penal de 1940. Encontra-se tipificado no artigo 213 do referido diploma, que traz a seguinte
redação: “Art. 213 Constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave
ameaça: Pena – reclusão, de seis a dez anos.”12
Quanto a sua classificação, extrai-se dos ensinamentos de Nucci: trata-se de crime
próprio; material; trata-se ainda de delito de forma vinculada; comissivo; instantâneo; de
dano; plurissubsistente.13
Tem-se que o delito de estupro: somente pode ser cometido por homem como
autor imediato; somente haverá consumação com o resultado (conjunção carnal); sua forma é
vinculada, eis que somente pode ser cometido pelo constrangimento da vítima a ter conjunção
carnal; a realização do crime ocorre por meio de uma ação do agente; instantâneo, pois sua
consumação ocorre no momento em que o agente introduz o pênis na cavidade vagínica;
exige-se um dano ao bem jurídico tutelado; necessário para a sua consumação o
constrangimento e a conjunção carnal.

12
BRASIL, 2009, p. 361.
13
NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado. 8. ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2008. p. 865-866.
16

2.2.1 Conceito

Ocorre o estupro quando mediante violência ou grave ameaça o homem, com o


intuito de satisfazer sua lascívia, constrange a mulher a conjunção carnal (penetração
completa ou incompleta do órgão masculino no órgão feminino).
Segundo Mirabete, “trata-se, pois, de um delito de constrangimento ilegal em que
se visa à pratica de conjunção carnal. O nomem júris deriva de stuprum, do direito romano,
termo que abrangia todas as relações carnais.”14
Assim, uma vez realizada a conjunção carnal mediante o constrangimento da
mulher, o autor da ação responderá pelo crime de estupro. Sendo este considerado hediondo
em todas as suas formas, simples e qualificado, eis que a lei, conforme supra citado, assim
determina.

2.2.2 Objetividade jurídica

A liberdade é um dos direitos contidos no Título II da nossa Carta Magna – Dos


direitos e garantias fundamentais, sendo que se encontra disposto no caput do artigo 5º que
“todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e os estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade,
à igualdade, à segurança [...].”15
O instituto penal no artigo 213, visando evitar a infringência dessa garantia
fundamental, “por intermédio do dispositivo penal protege-se a liberdade sexual da mulher, o
seu direito de dispor do próprio corpo, sua liberdade de escolha na prática de conjunção
carnal.”16
Neste mesmo norte segue os ensinamentos de Mirabete, “protege-se com o
dispositivo em estudo a liberdade sexual da mulher, ou seja, o direito que tem ela de dispor de
seu corpo com relação aos atos genésicos, e não a sua simples integridade física [...].”17

14
MIRABETE, 2007, p. 407.
15
BRASIL. Vade Mecum: constituição da república federativa do Brasil de 1988. 9. ed. São Paulo: Rideel,
2009. p. 23.
16
JESUS, Damásio E. Direito penal: parte especial. 17. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. v.3. p. 93.
17
MIRABETE, op. cit., p. 407.
17

A lei resguardou neste artigo, unicamente, a liberdade da mulher de dispor do seu


corpo, de não ser a mesma forçada a manter conjunção carnal com outrem.

2.2.3 Sujeito ativo

Trata-se de crime próprio sendo que só o homem pode figurar como autor do
delito de estupro, tendo em vista que este fica caracterizado quando ocorre a penetração total
ou parcial do membro viril no órgão sexual da mulher mediante violência ou grave ameaça.
Nessa direção Mirabete traz, “somente o homem pode praticar o delito, uma vez
que só o varão pode manter conjunção carnal com mulher. Essa expressão se refere ao coito
normal, que é a penetração do membro viril no órgão sexual da mulher, com ou sem o intuito
de procriação.”18
O mesmo autor complementa, acerca da possibilidade de a mulher figurar no
delito como partícipe ou co-autora, esclarecendo que “nada impede, aliás que a mulher seja
partícipe ou co-autora do crime, colaborando na violência ou na grave ameaça contra a
vítima.”19
Capez em outras palavras ensina que “sujeito ativo do crime é o homem. Somente
este poderá executar a ação típica, já que a lei fala em ‘conjunção carnal’.”20 A respeito de a
mulher figurar como sujeito ativo do crime, o mesmo doutrinador escreve que, “no que diz
respeito a mulher como sujeito ativo do estupro, temos que é perfeitamente possível o
concurso de pessoas na modalidade co-autoria e participação.”21
Assim, a mulher pode figurar como co-autora do crime de estupro quando prestar
auxílio ao homem, constrangendo a vítima. Podendo ainda, concorrer para o cometimento do
delito como partícipe, instigando o comparsa à prática da conduta típica, certificando-se da
clandestinidade da conduta, agindo de sentinela, entre outros.

18
MIRABETE, 2007, p. 407.
19
Ibid., p. 408.
20
CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. 7. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2007. v.3. p. 3.
21
Ibid., p. 4.
18

2.2.4 Sujeito passivo

O fato típico em análise tem como sujeito passivo apenas a mulher sem qualquer
qualidade especial. Nesse sentido são as lições de Mirabete, “só a mulher pode ser vítima do
delito em estudo. A cópula anal e outros atos libidinosos praticados contra homens, com
violência ou ameaça, configuram crimes de atentado violento ao pudor.”22
Segue o mesmo norte Capez, lecionado que o sujeito passivo “é somente a
mulher, pois apenas esta pode ser obriga a realizar cópula vagínica.
A possibilidade de só a mulher configurar como vítima do crime de estupro é
devido a definição de conjunção carnal, sendo esta conceituada como a introdução do órgão
viril no órgão reprodutor feminino.

2.2.5 Tipo objetivo

A conduta típica está no ato constranger, forçar, coagir, violentar, ameaçar,


objetivando a conjunção carnal com a mulher sem o consentimento desta.
Corroborando com o escrito acima sobre o tipo objetivo do crime de estupro,
Damásio ensina:
A conduta consiste em constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência
ou grave ameaça. Constranger significa obrigar, forçar. Para que exista o
constrangimento é necessário que haja o dissenso da vítima. É preciso que a falta de
consentimento da ofendida seja sincera e positiva, que a resistência seja inequívoca,
demonstrando a vontade de evitar o ato desejado pelo agente, que será quebrada pelo
emprego da violência física ou moral. [...] Para a caracterização do crime exige-se a
prática de conjunção carnal.23

Mirabete tem o mesmo entendimento acerto do tipo objetivo, vejamos:

A conduta típica no crime de estupro é manter conjunção carnal por meio de


violência ou grave ameaça. Conjunção carnal, no sentido da lei, é a cópula vagínica,
completa ou incompleta entre homem e mulher. [...] É indispensável para a
caracterização do estupro que tenha havido constrangimento da mulher mediante
violência ou grave ameaça. Exige-se que a vítima se oponha com veemência ao ato
sexual, resistindo com toda sua força e energia, em dissenso sincero e positivo.
[...].24

22
CAPEZ, 2007, p. 5.
23
JESUS, 2008, p. 94-95.
24
MIRABETE, 2007, p. 408-409.
19

Destarte, o tipo objetivo fica caracterizado quando o agente com o emprego de


violência ou grave ameaça obriga a mulher a praticar a conjunção carnal.

2.2.6 Tipo subjetivo

A configuração do tipo subjetivo no crime de estupro é de crucial importância,


sendo que este se caracteriza com o bel-prazer, livre de qualquer ameaça ou inconsciência, de
obter a penetração do órgão reprodutor masculino na vagina. Acerca do elemento subjetivo do
crime leciona Campos:
[...] é o dolo, vontade livre e consciente de constranger a mulher para fins de com ela
manter conjunção carnal. Na corrente clássica do direito penal, é o dolo específico,
porque o elemento volitivo está voltado exclusivamente para o ato sexual. Tanto isso
é verdade que é pelo elemento subjetivo da conduta que será possível estabelecer a
distinção entre a tentativa de estupro e o atentado violento ao pudor consumando,
quando este é praticado por um homem contra uma mulher.25

Neste mesmo norte ensina Damásio:

O crime somente é punível a título de dolo, que consiste na vontade de obter a


conjunção carnal. Tal elemento subjetivo irá distinguir a tentativa de estuporo do
atentado violento ao pudor, quando os atos poderão ser os mesmos e somente a
intenção do agente fará a distinção entre as duas figuras. O tipo não reclama nenhum
fim especial do agente.26

O elemento subjetivo do crime fica caracterizado pelo animus do agente em obter


a conjunção carnal, admitindo-se, desta forma, a figura do crime tentado quando a penetração
do órgão viril não ocorre nem parcialmente por circunstâncias alheias a sua vontade. Observa-
se que a figura típica não comporta a forma culposa.

2.2.7 Consumação e tentativa

A consumação ocorre quando o agente realiza todos os elementos do tipo


constante de sua definição legal. Segundo artigo 14, inciso I do Código Penal, “diz-se o

25
CAMPOS, Pedro Franco e outros. Direito penal aplicado: parte especial. 2. ed. rev. e atual. São Paulo:
Saraiva, 2009. p. 207.
26
JESUS, 2008, p. 96.
20

crime: consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal.”27
Assim, o crime de estupro consuma-se “com a introdução, completa ou incompleta, do pênis
na vagina da ofendida. Basta, pois a introdução parcial, não se exigindo a ejaculação.”28
No mesmo sentido, Nucci discorre, “não se exige a introdução completa do pênis
na vagina, bastando que ela seja incompleta. [...] não se exige, ainda, a ejaculação, nem
tampouco a satisfação do desejo sexual.”29
Quanto à forma tentada do crime em análise, esta fica caracterizada quando o
agente, após iniciada sua investida no cometimento do fato típico, tem sua execução obstruída
por circunstâncias alheias a sua vontade. Dispõe o artigo 14, inciso II, do CP, tentado,
quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente.
Destarte, quanto a possibilidade da ocorrência de estupro em sua forma tentada,
Mirabete explica:
[...] Havendo constrangimento para a prática da conjunção carnal, não obtida por
circunstâncias alheias à vontade do agente há tentativa de estupro. Configura-se ela
quando o agente força a introdução do pênis na vagina da ofendida, só não
consumando o estupro por haver ejaculado antes e mesmo quando não há contato
dos órgãos genitais desde que as circunstâncias deixem manifesto o intuito da
conjunção carnal pelo agente, em especial quando, por palavras inequívocas, o
agente demonstre o seu intento. [...] A intenção do agente é o elemento pelo qual se
a afere se houve tentativa de estupro ou atentado violento ao pudor. Num, a
conjunção carnal é o fim, noutro o ato de libidinagem.30

Extrai-se da lição de Campos:

[...] A tentativa é perfeitamente possível quando o sujeito ativo, depois de iniciada a


execução da conduta constranger, com dolo (clara intenção de praticar com a
mulher conjunção carnal), tem sua ação interrompida por circunstância alheia a sua
vontade e, por isso, não consegue a penetração. Exemplo: ejaculação precoce que
impede a penetração, ainda que parcial; alguém aparece em defesa da vítima.31

Conforme já dito anteriormente o crime de estupro é plurissubsistente exigindo-se


do autor do crime mais de um ato, deste modo, quando o agente praticar apenas o
constrangimento da vítima, não obtendo a conjunção carnal por circunstâncias alheias a sua
vontade, configura-se o delito na sua forma tentada.
Feitas essas breves considerações acerca do crime de estupro, tratar-se-á,
doravante, do fato típico previsto no artigo 214, do CP de 1940 (atentado violento ao pudor).

27
BRASIL, 2009, p. 346.
28
JESUS, 2008, p. 96.
29
NUCCI, 2008, p. 863.
30
MIRABETE, 2007, p. 408-409.
31
CAMPOS, 2009, p. 207.
21

2.3 DO CRIME DE ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR

Conforme já descrito até o momento o Título VI, do Código Penal de 1940, visa
resguardar a liberdade sexual e o pudor. Assim, o legislador, com o intuito de penalizar um
delito onde não houvesse a conjunção carnal (cópula vagínica, completa ou incompleta entre
homem e mulher), tipificou no artigo 214 do referido diploma: “Constranger alguém,
mediante violência ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele se pratique ato
libidinoso diverso da conjunção carnal.”32
Este crime, segundo a lição retirada da doutrina de Nucci, tem a seguinte
classificação: trata-se de crime comum; material; delito de forma livre; comissivo;
instantâneo; de dano; plurissubsistente; admite-se a forma tentada.33
O delito de atentado violento ao pudor é considerado como crime comum, ou seja,
pode ser praticado por qualquer pessoa; material devido a necessidade de produção de um
resultado; de forma tendo em vista que pode ser praticado de várias formas; comissivo pois o
crime é realizado por meio do constrangimento; instantâneo devido a consumação ocorrer em
um dado momento, sem a possibilidade de perpetuar ao longo do tempo; de dano devido a
exigência de que ocorra uma lesão ao bem cautelado para a sua consumação; plurissubsistente
sua consumação depende da pratica do constrangimento e da realização do ato libidinoso.

2.3.1 Conceito

O crime de atentado violento ao pudor é conceituado como sendo, “todo ato


libidinoso que não vise a conjunção carnal, praticado com alguém, mediante violência ou
grave ameaça.”34
Para melhor entendimento da definição do delito de atentado violento ao pudor,
faz-se necessário uma explicação do que seria o ato libidinoso, que, segundo Damásio, é:

[...] o que visa ao prazer sexual. É todo aquele que serve de desafogo à
concupiscência. É o ato lascivo, voluptuoso, dirigido para satisfação do instinto
sexual. Para a caracterização do crime, porém, deve ser diverso da conjunção carnal,

32
BRASIL, 2009, p. 361.
33
NUCCI, 2008, p. 869.
34
CAMPOS, 2009, p. 208.
22

ou seja, diferente da cópula normal obtida mediante violência, que está presente no
crime de estupro. Objetivamente considerado, o ato libidinoso dever ser ofensivo ao
pudor coletivo, contrastando com o sentimento de moral médio, sob o ponto de vista
sexual. Além disso, subjetivamente, deve ter por finalidade a satisfação de um
impulso de luxúria, de lascívia.35

Desta feita, o crime de atentado violento ao pudor estará caracterizado quando o


agente constranger a vítima a fazer algum ato libidinoso (masturbação, sexo oral entre outros)
ou quando constranger a vítima a deixar que com ela se faça certo ato libidinoso (sexo anal,
passar a mão nas partes íntimas, entre outros).

2.3.2 Objetividade jurídica

O tipo penal em análise tem como escopo proteger a liberdade sexual em sentido
amplo e a inviolabilidade das pessoas sem distinção do sexo.
Segundo a lição de Mirabete, “o objeto da tutela jurídica no art. 214 é a liberdade
sexual, no particular aspecto da inviolabilidade carnal da pessoa contra atos de libidinagem
violentos.”36
Dos ensinamentos de Damásio extrai-se que com a tipificação do delito, ora
objeto de estudo, “protege-se a liberdade sexual, o direito de dispor sexualmente do próprio
corpo.”37
O legislador, com a tipificação do crime de atentado violento ao pudor, procurou
cautelar a liberdade sexual de todos os cidadãos, sem qualquer distinção em razão do sexo do
autor do crime ou da vítima.

2.3.3 Sujeito ativo

Diferente do crime de estupro, onde se prevê uma capacidade especial do sujeito


ativo (crime próprio), o atentado violento ao pudor pode ter como transgressor da conduta
delituosa qualquer pessoa (crime comum).

35
JESUS, 2008, p. 100.
36
MIRABETE, 2007, p. 412.
37
JESUS, op. cit., p. 99.
23

Acerca do tema Mirabete esclarece, “ao contrário do que ocorre com o estupro, o
delito de atentado violento ao pudor pode ser praticado por pessoa de ambos os sexos, uma
vez que a lei se refere a ato libidinoso em geral, excluída a conjunção carnal violenta de
homem contra a mulher (estupro).”38
Para Damásio “qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do crime. Diferentemente
do estupro, onde apenas o homem pode ser agente do delito, por se exigir a prática de
conjunção carnal, no atentado violento ao pudor também a mulher pode ser sujeito ativo.”39
Vislumbra-se assim, que tanto o homem quanto a mulher podem figurar como
sujeitos ativos do delito, até mesmo porque o delito em análise não prevê uma forma
especifica para sua consumação.

2.3.4 Sujeito passivo

Igualmente ao sujeito ativo o ofendido do crime em estudo por ser qualquer


pessoa, já que a lei não exige nenhuma qualidade especial.
No crime de atentado violento ao pudor, segundo Campos, “a lei, ao contrário do
que prevê para o crime de estupro, possibilita que qualquer pessoa seja sujeito passivo do
crime ao usar a expressão ‘alguém’.”40
A intenção do legislador foi dar, por meio da tipificação deste delito, proteção as
pessoas sem distinção do sexo, até mesmo porque o único ato que não pode ser cometido
contra o homem, segundo a definição doutrinária, é a conjunção carnal. Assim, procurou-se,
por meio deste artigo, proteger as pessoas, sem distinção do sexo, contra os demais atos.
Neste mesmo norte Mirabete descreve, “referindo-se a lei a alguém, sujeito
passivo do crime é qualquer pessoa, homem ou mulher. Não exclui o crime a circunstância de
ser a vítima menor, inconsciente débil mental, pederasta ou mesmo meretriz, todos protegidos
em sua liberdade sexual.”41

38
MIRABETE, 2007, p. 413.
39
JESUS, 2008, p. 99.
40
CAMPOS, 2009, p. 208.
41
MIRABETE, op. cit., p. 413.
24

2.3.5 Tipo objetivo

Segundo as lições de Damásio que o tipo objetivo do crime de atentado violento


ao pudor, “consiste em constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a praticar
ou permitir que com ele se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal. Constranger é
obrigar, forçar, exigindo-se o dissenso da vítima, sua resistência sincera e inequívoca, vencida
somente pelo emprego de violência.”42
Esclarece o mesmo autor, que a realização do tipo penal pode ocorrer de duas
formas: “praticar a vítima o ato libidinoso diverso da conjunção carnal ou permitir que com
ela se pratique tal ato.”43
Extrai-se dos ensinamentos de Delmanto que o núcleo do tipo objetivo é
constranger, forçar, compelir, obrigar, visando a coagir o ofendido a praticar ou permitir que
com ele se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal.
Explica ainda, acerca das duas formas que podem se configurar o núcleo do tipo,
sendo que “na forma praticar, é a vítima quem, obrigada, pratica o ato; na forma de permitir,
ela tem papel passivo.”44
Portanto o crime de atentado violento ao pudor pode ocorrer com a vítima
participando de duas formas: a primeira quando o agente constranger a vítima a realizar o ato
libidinoso; sendo que na segunda a vítima participa passivamente permitindo, por meio de
constrangimento, que o criminoso pratique o ato libidinoso.

2.3.6 Tipo subjetivo

O tipo subjetivo é visualizado como a intenção do criminoso em realizar o ato


libidinoso diverso da conjunção carnal, sendo de crucial importância quando da análise da
ocorrência do crime em sua forma tentada.
Bitencourt ensina que “o elemento subjetivo geral é o dolo, constituído pela
vontade consciente de praticar ato libidinoso, diverso da conjunção carnal. A nosso juízo, é

42
JESUS, 2008, p. 100.
43
Ibid., p. 101.
44
DELMANTO, Celso et al. Código penal comentado. 6. ed. rev. e atual. São Paulo: Renovar, 2002. p. 464-
465.
25

absolutamente irrelevante a eventual existência de elemento subjetivo especial da conduta


praticada.”45
Damásio, em outras palavras, afirma que “para que se configure o atentado
violento ao pudor não há necessidade de que esteja presente uma finalidade especial, qual
seja, a de satisfazer a própria libido, na atuação do sujeito ativo. Bastam a intenção de praticar
o ato libidinoso e a consciência da libidinosidade de tal ato.”46
Conclui-se que para a caracterização do delito em comento não se faz necessário o
elemento subjetivo especial consistente na satisfação da lascívia, sendo necessário apenas que
o agente tenha a intenção de praticar o ato libidinoso diverso da conjunção carnal.

2.3.7 Consumação e tentativa

Trata-se de um delito plurissubsistente, ou seja, precisa da realização de dois atos


para que a sua consumação seja efetiva, de início é imprescindível o constrangimento por
meio de violência ou grave ameaça visando, por fim, a realização do ato libidinoso. Uma vez
realizado apenas o ato de constranger a vítima e não tendo o agente conseguido, por
circunstâncias alheias a sua vontade realizar o ato libidinoso, ocorrerá o crime na sua forma
tentada.
Segundo as lições de Damásio, “consuma-se o crime com a efetiva prática do ato
libidinoso diverso da conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça.”47
Neste mesmo norte são os ensinamentos de Campos, “consuma-se o delito com a
prática do ato libidinoso pelo sujeito ativo ou pela vítima, dependendo da forma empregada
(praticar ou permitir a prática).”48
Quanto à possibilidade de ocorrer o crime de atentado violento ao pudor apenas
na sua forma tentada, escreve Mirabete, “é perfeitamente admissível a tentativa de atentado
violento ao pudor. Evidentemente se, empregada a violência, ou exteriorizada a ameaça, o
agente é impedido de prosseguir, frustrando-se, de todo, o momento libidinoso, o que se pode
reconhecer é a tentativa.”49

45
BITENCOURT, Cezar Roberto. Código penal comentado. 4. ed.. atual. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 876.
46
JESUS, 2008, p. 103.
47
Ibid., p. 103.
48
CAMPOS, 2009, p. 210.
49
MIRABETE, 2007, p. 415.
26

Damásio também entende ser possível a ocorrência do delito em estudo na sua


forma tentada, aduzindo que:

No atentado violento ao pudor existem dois momentos distintos: o do emprego da


violência ou grave ameaça e o da prática do ato libidinoso. Em alguns casos, será
impossível fracionar-se o crime, pois, ao mesmo tempo, o agente empregará a
violência e praticará o ato de libidinagem. O crime estará consumado. Todavia, há
casos em que o agente, ao empregar a violência, é impedido de prosseguir, antes de
praticar o ato libidinoso. Nessas hipóteses, ficando demonstrada a intenção de lesar
o pudor da vítima, estará caracterizada a tentativa.50

Vislumbra-se assim, ser perfeitamente a ocorrência do crime de atentado violento


ao pudor na sua forma tentada, eis que para a sua consumação faz-se necessário a realização
do constrangimento por meio de violência ou grave ameaça e da pratica do ato libidinoso.

2.4 POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DO CONCURSO MATERIAL

2.4.1 Conceito de concurso material

A aplicação do concurso material encontra-se disciplinado no artigo 69, caput, do


Código Penal, com a seguinte redação: “quando o agente, mediante mais de uma ação ou
omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas
privativas de liberdade em que haja incorrido.”51
Segundo Capez, o concurso material se configura com a “prática de duas ou mais
condutas, dolosas ou culposas, omissivas ou comissivas, produzindo dois ou mais resultados,
idênticos ou não, mas todas vinculadas pela identidade do agente, não importando se os fatos
ocorreram na mesma ocasião ou em dias diferentes.”52
Bitencourt, em outras palavras, ensina que:

Ocorre o concurso material quando o agente, mediante mais de uma conduta (ação
ou omissão), pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não. No concurso material há
pluralidade de condutas e pluralidade de crimes. Quando os crimes praticados forem
idênticos ocorre concurso material homogêneo (dois homicídios), e quando forem
diferentes caracterizar-se-á o concurso material heterogêneo (estupro e homicídio).53

50
JESUS, 2008, p. 103.
51
BRASIL, 2009, p. 350.
52
CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. 7. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 471.
53
BITENCOURT, 2007, p. 253.
27

Retira-se da doutrina de Mirabete que, “ocorrendo duas ou mais condutas e dois


ou mais resultados, causados pelo mesmo autor, caracteriza-se o concurso material.”54

2.4.2 Ocorrência de concurso material entre os crimes de estupro e atentado violento ao


pudor

Segundo a doutrina majoritária pode haver concurso material entre as infrações de


estupro e atentando violento ao pudor, nesse sentido são os ensinamentos de Damásio:

O crime de estupro pode ser praticado em concurso com o atentado violento ao


pudor, desde que os atos libidinosos praticados não sejam daqueles que precedem ao
coito normal. Assim, o coito anal, praticado com a mesma vítima, antes ou depois da
cópula normal, se constitui em crime autônomo, em concurso com o estupro, não
podendo ser absorvido por este.55

Para Bitencourt, “quando o atentado violento ao pudor não for meio natural para a
realização do estupro, coito anal ou oral, entendemos perfeitamente possível a ocorrência de
concurso de crimes.”56
Nesse norte Mirabete ensina que, “quando, além do estupro, o agente pratica atos
libidinosos que não sejam simples prelúdio da cópula, responderá também por atentado
violento ao pudor.”57
As decisões do nosso Supremo Tribunal confirmam os ensinamentos dos
doutrinadores supra citados, vejamos:

HABEAS CORPUS. PENAL. CRIMES DE ESTUPRO E ATENTADO


VIOLENTO AO PUDOR. DELITOS AUTÔNOMOS. CONCURSO MATERIAL.
ORDEM DENEGADA.
I - Para que se verifique a ocorrência da continuidade delitiva ou do concurso
material quando se trata dos crimes de estupro e de atentado violento ao pudor,
praticados contra a mesma vítima, cumpre examinar a intenção do agente.
II - No caso em espécie, o propósito do réu foi duplo, a saber, o de constranger a
vítima a submeter-se, primeiro, ao coito anal e, depois à conjunção carnal.
III - A partir dos fatos narrados na sentença a condenatória, é possível concluir que o
desígnio do agente foi o de cometer dois crimes autônomos, não deixando dúvidas
quanto ao acerto da aplicação da pena correspondente ao concurso material.
IV - Ordem denegada.58

54
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal: parte geral. 24. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas,
2008. v.1. p. 324.
55
JESUS, 2008, p. 98.
56
BITENCOURT, 2007, p. 867.
57
MIRABETE, 2007, p. 410.
58
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas corpus nº 96959. Rel.: Ricardo Lewandowski, 10 de março de
2009. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/3959980/habeas-corpus-hc-96959-sp-stf>.
Acesso em: 12 maio 2010.
28

Os julgamentos do Superior Tribunal de Justiça seguem no mesmo norte:

RECURSO ESPECIAL. PENAL. ESTUPRO E ATENTADO VIOLENTO AO


PUDOR COMETIDOS CONTRA A MESMA VÍTIMA. CRIMES DE ESPÉCIES
DIFERENTES. CONFIGURAÇÃO DO CONCURSO MATERIAL DE CRIMES E
NÃO DO CRIME CONTINUADO. Se o ato libidinoso diverso da conjunção carnal
não configura elemento constitutivo, conduta inicial ou meio para a realização do
crime de estupro, deve o agente responder por este e pelo crime de atentado violento
ao pudor. Nesse caso, por se tratarem de crimes de espécies diferentes, aplica-se a
regra do concurso material (art. 69 do CP), ainda que cometidos contra a mesma
vítima. Precedentes deste Tribunal e do STF. Recurso conhecido e provido.59

Do mesmo modo decide o Tribunal de Justiça de Santa Catarina:

APELAÇÃO CRIMINAL - ESTUPRO TENTADO E CONSUMADO -


CONTINUIDADE DELITIVA - ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR -
VIOLÊNCIA FICTA - CRIMES PRATICADOS POR PADRASTO - CONCURSO
MATERIAL - ART. 213, C/C ART. 14, II; ART. 214, NA FORMA DO ART. 71; E
ART. 213, CAPUT, C/C ART. 224, A, C/C ART. 226, II, APLICADO O
DISPOSTO NO ART. 69, TODOS DO CP. RECURSO DO RÉU - PRETENSA
ABSORÇÃO DO DELITO DE ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR PELO
DELITO DE ESTUPRO - INVIABILIDADE - NÃO CONFIGURADA A
REALIZAÇÃO DO ATO LIBIDINOSO APENAS COMO ATO PREPARATÓRIO
DO ESTUPRO - PRÁTICA DE ATOS DISTINTOS E COM DESÍGNIOS
AUTÔNOMOS - DELITOS DE MESMO GÊNERO, MAS DE ESPÉCIES
DIFERENTES - INAPLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO -
CONCURSO MATERIAL CORRETAMENTE APLICADO.60

Observa-se através das jurisprudências citadas que a possibilidade de


reconhecimento da continuidade delitiva entre os crimes de estupro e atentado violento ao
pudor é totalmente inadmissível pelos nossos Egrégios Tribunais, tendo em vista o
entendimento de não serem os delitos em comento da mesma espécie.

2.4.3 Aplicação das penas

Conforme se depreende do exposto acima, é reconhecida a aplicação do concurso


material quando o agente comete os delitos de estupro e atentado violento ao pudor. Destarte,
as penas dos referidos delitos deverão ser somadas.

59
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso especial nº 550267. Rel.: José Arnaldo da Fonseca, 13 de
outubro de 2003. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/217339/recurso-especial-resp-
550267-sp-2003-0093904-3-stj>. Acesso em: 12 maio 2010.
60
SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Apelação criminal nº 2006.041535-7. Rel.: Marli Mosimann
Vargas, 19 junho de 2009. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/8266674/apelacao-
criminal-acr-415357-sc-2006041535-7-tjsc>. Acesso em: 12 maio 2010.
29

No caso de ocorrência de dois crimes autônomos “as penas devem ser somadas. O
juiz deve fixar, separadamente, a pena de cada um dos delitos e, depois, na própria sentença,
somá-las.”61
No mesmo sentido são os ensinamentos de Damásio, “no concurso material as
penas são cumuladas. Nos termos do art. 69, caput, quando o agente realiza o concurso real de
crimes, aplicam-se cumulativamente as penas em que haja incorrido.”62
Assim, uma vez preenchidas as condições que caracterizem o cometimento dos
delitos em concurso material as penas serão somadas, totalizando, quando os crimes forem
consumados, uma pena mínima de doze anos de reclusão.

2.5 HEDIONDEZ DOS CRIMES

Diante de uma realidade assustadora, decorrente do aumento significativo da


violência durante as décadas de oitenta e noventa, com a realização de crimes cada vez mais
bárbaros e atrozes, o legislador, visando penalizar com maior severidade a pratica desses
delitos, criou uma nova classificação de crimes, os hediondos.
Assim o constituinte, diante da crueldade e repulsa causados por alguns crimes
perante a sociedade, resolveram suprimir alguns direitos e garantias fundamentais, inserindo
na Carta Magna de 1988, no art. 5º, inciso XLIII, a seguinte redação:

A lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática de


tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos
como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que
podendo evitá-los, se omitem.63

O legislador não constou no inciso supra citado os crimes de estupro e atentado


violento ao pudor, porém assim o fez, posteriormente, na lei 8.930 de 06 de setembro de 1994
em seu artigo 1º, incisos V e VI, vejamos: O crime de estupro era definido como hediondo
mesmo quando cometidos na sua forma simples, conforme disposto no artigo 1º, da Lei nº
8.930, de 06 de setembro de 1994.

61
CAPEZ, 2004, p. 471.
62
JESUS, 2008, p. 598.
63
BRASIL, 2009, p. 23.
30

O fato típico em análise será considerado hediondo mesmo quando cometidos na


sua forma simples. Nestes termos é o que regulamenta o artigo 1º, da Lei n.º 8.072, de 25 de
julho de 1990, vejamos:

Art. 1º São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no


Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, consumados ou
tentados:
[...]
V – estupro (art. 213 e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único;
VI – atentado violento ao pudor (artigo 214 e sua combinação com o artigo 223,
caput e parágrafo único)
[...].64

A inclusão desses delitos como hediondos foi uma decisão acertada por parte do
legislador, tendo em vista a repulsa causada na sociedade quando do cometimento de tais
crimes.
Destarte, são considerados crimes hediondos, conforme se depreende da citação
acima, o estupro e o atentado violento ao pudor nas suas formas simples e qualificadas.
Cumprida essas breves explicações acerca dos crimes de estupro e atentado
violento ao pudor, bem como sobre aplicação do instituto do concurso real quando do
cometimento desses dois delitos, realizar-se-á, no capítulo seguinte uma aclaração a respeito
do delito de estupro alterado pela Lei 12.015/2009.

64
BRASIL. Vade Mecum: lei ordinário nº 8.072 de 25 de julho de 1990. 9. ed. São Paulo: Rideel, 2009. p.
1057.
31

3 ALTERAÇÕES DOS CRIMES DE ESTUPRO E ATENTADO VIOLENTO AO


PUDOR PELA LEI 12.015 DE 7 DE AGOSTO DE 2009

O presente capítulo tem como escopo realizar uma análise específica, para que se
compreenda o que realmente muda, com a incorporação do crime de atentado violento ao
pudor ao delito de estupro em decorrência da lei 12.015, de 7 de agosto de 2009.

3.1 NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

O Decreto-Lei 2.848 de 7 de dezembro de 1940, no seu Título VI, denominado


Dos crimes contra os costumes, tratava de resguardar a liberdade sexual, estabelecendo,
contudo, um divisor de águas entre os crimes de estupro e atentado violento ao pudor, não
obstante que ambos mirassem a proteção da liberdade sexual.
Assim, o crime de estupro (art. 213 do CP) era considerado como “o ato de
constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça.”65 Sendo que a
infração de atentado violento ao pudor era definida no artigo subseqüente da seguinte forma,
“constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele
se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal.”66
Ocorre que desde a década de 1940 até os dias atuais a civilização evoluiu,
havendo, conseqüentemente, uma modernização dos costumes na sociedade. As mulheres
passaram a estar mais presente na vida sexual como condutora dos interesses ou desejos,
deixando de figurar apenas como objeto de satisfação da lascívia do homem.
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, procurando cautelar o
direito de igualdade entre homens e mulheres, trouxe em seu artigo 5º, inciso I, o seguinte
dispositivo: “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações nos termos desta
Constituição.”67

65
BRASIL. Vade Mecum: código penal. 9. ed. São Paulo: Rideel, 2009. p. 361.
66
Ibid., p. 361.
67
BRASIL. Vade Mecum: constituição da república federativa do Brasil. 9. ed. São Paulo: Rideel, 2009. p. 361.
32

Diante do processo evolutivo da civilização o Código Penal, no que tange ao seu


Título VI, estava por merecer um aperfeiçoamento para se adequar com a situação que se
encontra a sociedade.
Nucci ensina que “há muito tempo defendíamos que não mais se concretizam no
seio social tais sentimentos ou princípios denominados éticos no tocante a sexualidade. A
sociedade evoluiu e houve uma autêntica liberação dos apregoados costumes, de modo que o
Código Penal estava por merecer uma autêntica reforma nesse contexto.”68
Em outras palavras Miguel Reale, citado por Pezzotti, leciona:

O dispositivo legal surge inspirado em fatos valorados. Normas elaboradas com base
em valores ultrapassados tornam-se injustas, é por isso que se mostra necessário
proceder a atualizações legislativas. Há tempos que os tipos de atentado violento ao
pudor e estupro precisavam sofrer alteração, por não corresponderem mais às
circunstâncias sociais.69

Destarte, com o intuito de readequar o Título VI, do Código Penal, a realidade do


mundo moderno, bem como garantir a eficácia do principio isonômico entre homens e
mulheres perante a lei. O legislador passou a trabalhar na elaboração de projeto de lei para
possibilitar a reforma necessária.
Extrai-se dos ensinamentos de Mesquita Júnior que “em 13 de setembro de 2004,
em função de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, foi criado o projeto de lei 253. Na
Câmara dos Deputados este projeto, em face de projeto lei substitutivo, ganhou o n.
4.850/2005, sendo que, ao final, foi proposta uma consolidação das emendas de vários
deputados federais, onde resultou o texto transformado na lei n. 12.015, de 7 de agosto de
2009.”70
Feitas essas breves noções introdutórias a respeito do desenvolvimento da lei
12.015 na seqüência, realizar-se-á uma apresentação do novo crime de estupro.

68
NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado. 10. ed. rev., atual. e ampl.São Paulo: Revista do
Tribunais, 2010. p. 899.
69
REALE, Miguel. Citado por: PEZZOTTI, Olavo Evangelhista. Lei n.º 12.015/09: reforma legislativa dos
crimes sexuais previstos no Título VI do código penal brasileiro. Aspectos relevantes. Agosto de 2009.
Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=13356>. Acesso em: 18 maio 2010.
70
MESQUITA JÚNIOR, Sidio Rosa. Breves comentários à Lei nº 12.015/2009. Agosto de 2009. Disponível
em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=13362&p=2>. Acesso em: 18 maio 2010.
33

3.2 CRIME DE ESTUPRO APÓS A LEI Nº 12.015 DE 7 DE AGOSTO DE 2009

Através da lei 12.015, de 7/08/2009, segundo a doutrina de Delmanto, “optou o


legislador por revogar expressamente o art. 214, que punia o atentado violento ao pudor,
colocando neste novo art. 213, sob a rubrica estupro, as duas figuras: a conjunção carnal e o
ato libidinoso diverso dela.”71
Pezzotti comenta a nova lei dizendo que “com a reforma, pode-se dizer que o
artigo 214 foi incorporado ao 213. Os casos que anteriormente seriam considerados atentado
violento ao pudor são, hoje, tratados como estupro. O tipo agora descreve a conduta de
‘constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou praticar
ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso’.”72
Assim, atualmente, as infrações de estupro e atentado violento ao pudor
encontram-se unificados num único tipo penal, merecendo um apanhado quanto as suas
mudanças.
Com essa junção, extrai-se dos ensinamentos de Nucci, que o crime de estupro
passou a ter a seguinte classificação: trata-se de crime comum; material; delito de forma livre;
comissivo; instantâneo; de dano; plurissubsistente; admite a forma tentada.73

3.2.1 Conceito estupro

As mudanças no conceito do delito estupro deram-se devido à substituição da


palavra “mulher” por “alguém, bem como pelo acréscimo da prática de “ato libidinoso”.
Transformações que podem ser observadas com facilidade através do quadro abaixo:

71
DELMANTO, Celso. Código penal comentado. 8. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 692.
72
PEZZOTTI, loc. cit.
73
NUCCI, 2010, p. 912.
34

COM A LEI 12.015/09 ANTES DA LEI


Estupro Estupro
“Art. 213. Constranger alguém, mediante “Art. 213. Constranger mulher à
violência ou grave ameaça, a ter conjunção conjunção carnal, mediante violência ou
carnal ou a praticar ou permitir que com ele grave ameaça:
se pratique outro ato libidinoso: Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) Atentado violento ao pudor
74
anos.” Art. 214. Constranger alguém, mediante
violência ou grave ameaça, a praticar ou
permitir que com ele se pratique ato
libidinoso diverso da conjunção carnal:
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez)
anos.”75

Assim, segundo Capez, “com a nova redação determinada pela Lei n. 12.015, de 7
de agosto de 2009, ao art. 213 do CP, constitui crime de estupro a ação de ‘Constranger
alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir
que com ele se pratique outro ato libidinoso’.”76
Esclarece ainda, o mesmo autor que:

Com a nova epígrafe do delito em estudo, entretanto, passou-se a tipificar a ação de


constranger qualquer pessoa (homem ou mulher) a ter conjunção carnal ou a praticar
ou permitir que com ela se pratique outro ato libidinoso. Deste modo, ações que
antes configuravam crime de atentado violento ao pudor (CP, art. 214), atualmente
revogado pela Lei n. 12.015/2009, agora integram o delito de estupro, sem importar
em abolitio criminis. 77

Com a junção dos delitos retro mencionados houve, por conseguinte, uma
ampliação do conceito de estupro devido ao fato de este crime se configurar com o
cometimento da conjunção carnal, completa ou incompleta, ou pela prática de ato libidinoso.
Ressaltando-se ainda, que agora, tanto o homem quanto a mulher podem figurar como sujeito
ativo e passivo na prática do fato típico.

74
NUCCI, 2010, p. 900.
75
BRASIL, 2009, p. 361.
76
CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte especial. 8. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2010.
p. 24.
77
Ibid., 2010, p. 25.
35

A lei 12.015/09 tratou ainda, de alterar o inciso V, da lei n. 8.072/90 (lei dos
crimes hediondos) dando a este a seguinte redação: “V - estupro (art. 213, caput e §§ 1o e
2o).”78 Desta forma, o delito de estupro mesmo em sua forma simples, é considerado como
crime hediondo.

3.2.2 Objetividade Jurídica

Buscou-se com a nova redação do crime de estupro tutelar a inviolabilidade


liberdade e da intimidade sexual sem qualquer por causa do sexo, assim esse novel tipo penal
tem como objetividade jurídica resguardar “a liberdade sexual do ser humano (homem ou
mulher).”79
Nesse sentido, Capez afirma “que o estupro passou a abranger a prática de
qualquer ato libidinoso, conjunção carnal ou não, ampliando a sua tutela legal para abarcar
não só a liberdade sexual da mulher, mas também a do homem.”80
Delgado leciona que “o bem jurídico tutelado é liberdade sexual da pessoa. Não se
pode admitir que alguém seja compelido contra a sua vontade de ter conjunção carnal ou
praticar ato libidinoso ou permitir que com ele se pratique.”81
Assim, com a nova lei em vigor, o objeto jurídico tutelado pelo crime de estupro é
a liberdade sexual do homem e da mulher, sem qualquer distinção.

3.2.3 Sujeito ativo

Com a unificação o delito de estupro irá se configurar até mesmo com a prática de
ato libidinoso diverso da conjunção carnal, deste modo “o sujeito ativo pode ser qualquer
pessoa, do mesmo que o sujeito passivo.”82
No mesmo norte, Delmanto, em sua doutrina escreve que o sujeito ativo pode ser

78
BRASIL. Leis ordinárias: lei 8.072 de 25 de julho de 1990. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8072.htm>. Acesso em: 26 maio 2010.
79
DELMANTO, 2010, p. 692.
80
CAPEZ, 2010, p. 25.
81
DELGADO, Yordan Moreira. Comentários à Lei nº 12.015/09. Agosto de 2009. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=13629>. Acesso em: 18 maio 2010.
82
NUCCI, 2010, p. 904.
36

“tanto o homem quanto a mulher. Saliente-se, no que tange à conjunção carnal, que a mulher
pode ser coautora ou partícipe de um homem.”83
Umas das mudanças ocorridas com a nova roupagem do crime de estupro é a
inclusão da mulher como sujeito ativo no cometimento do delito em análise. Possibilidade
esta que deriva da incorporação do delito de atentado violento ao pudor ao de estupro.

3.2.4 Sujeito passivo

A novel roupagem do crime de estupro agregou a prática de ato libidinoso diverso


da conjunção carnal, antes previsto no revogado crime de atentado violento ao pudor, desta
feita, o crime pode ser realizado por outros atos diversos da penetração do órgão viril na
cavidade vagínica, não se exigindo, por conseguinte, condição especial da vítima.
Capez em sua doutrina traz que “atualmente, tanto o homem quanto a mulher
podem ser sujeitos passivos do crime em exame.”84
Esclarece ainda o mesmo autor que “no caso da mulher, não importa para a
configuração do crime que ela seja virgem e honesta, não se excluindo da proteção legal a
prostituta, que, embora mercantilize seu corpo, não perde o direito de dele dispor quando bem
quiser.”85
Extrai-se dos ensinamentos de Delmanto, que “igualmente o homem ou a mulher,
pois a lei fala em constranger alguém.”86
A admissão do homem como vítima do crime em estudo deriva da substituição da
palavra mulher por alguém, abarcando todos os seres humanos independentemente do sexo.

3.2.5 Tipo objetivo

O tipo objetivo fica evidenciado pelo constrangimento que uma pessoa exerce
sobre alguém, com a finalidade de obter: conjunção carnal; prática de outro ato libidinoso;

83
DELMANTO, 2010, p. 692.
84
CAPEZ, 2010, p. 35.
85
Ibid., p. 35.
86
DELMANTO, op. cit., p. 692.
37

permissão para que com ela se pratique outro ato libidinoso.


Segundo Delmanto “o núcleo é constranger (forçar, compelir, obrigar). A pessoa a
quem se constrange pode ser homem ou mulher, não importando seja honesto (a) ou que
comercie o próprio corpo. O constrangimento deve ser feito mediante violência (física) ou
grave ameaça (de mal sério e idôneo) e deve haver dissenso da vítima.”
Com o constrangimento o transgressor do tipo penal em comento pode visar à
conjunção carnal e/ou a prática de ato libidinoso. Esclarece o mesmo autor que:

Na primeira figura, o constrangimento visa à conjunção carnal (coito vagínico),


sendo indiferente que a penetração seja completa ou que haja ejaculação. Na
segunda figura, o constrangimento visa praticar, ou obrigar a vítima a permitir que
com ela se pratique, ‘outro ato libidinoso’ (diverso da conjunção carnal),
compreendendo-se, aqui, o sexo anal o sexo oral, a masturbação etc.87

Capez em outras palavras traz que “a ação nuclear do tipo consubstancia-se no


verbo constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a
praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso. Constranger significa
forçar, compelir, coagir alguém [...].”88
Para Nucci “constranger significa tolher a liberdade, forçar ou coagir. Nesse caso,
o cerceamento destina-se a obter a conjunção carnal ou outro ato libidinoso.”89
Como visto, pela nova disposição do art. 213, o legislador ampliou drasticamente
as condutas que constituirão o delito de estupro. Destarte, além da conjunção carnal, passa a
ser estupro também a prática de ato libidinoso, bem como permitir que se pratique este ato.

3.2.6 Tipo subjetivo

De acordo com a atual redação do crime de estupro, o elemento subjetivo “é o


dolo, consubstanciado na vontade constranger alguém à conjunção carnal ou a praticar ou
permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso, mediante o emprego de violência ou
grave ameaça.”90
Nucci ensina que, “elemento subjetivo do tipo: é o dolo. Não existe a forma
culposa. Há, também, a presença do elemento subjetivo do tipo específico, consistente na
87
DELMANTO, 2010, p. 692.
88
CAPEZ, 2010, p. 25.
89
NUCCI, 2010, p. 901.
90
CAPEZ, op. cit., p. 36.
38

finalidade de obter a conjunção carnal ou outro ato libidinoso, satisfazendo a lascívia.”91


O mesmo autor, ainda explana:

Embora exista a possibilidade de o estupro dar-se com a finalidade de vingança – ou


mesmo para humilhar e constranger moralmente a vítima –, tal situação, em nosso
entender, não elimina o elemento subjetivo específico de satisfação da lascívia, até
porque, nessas situações, encontra-se a satisfação mórbida do prazer sexual,
incorporada pelo desejo de vingança ou outros sentimentos correlatos. Estímulos
sexuais pervertidos podem levar alguém se valer dessa forma de crime para ferir a
vítima, inexistindo incompatibilidade entre tal desiderato e a finalidade lasciva do
delito do art. 213. Acrescente-se, ainda, que somente os sexualmente pervertidos
utilizam esse meio para a vingança.92

Evidencia-se que o elemento subjetivo do tipo é o dolo, não se admitindo a forma


culposa para o delito em análise. Mesmo que o autor do delito utilize-se da conjunção carnal
ou de outro ato libidinoso para vingar-se de uma pessoa configurar-se-á o crime de estupro.

3.2.7 Consumação e tentativa

Atualmente, conforme já explanado, o crime de estupro está constituído de verbos


em agregação, podendo, desta forma, sua consumação ou tentativo ocorrer: quando o agente
constranger alguém a ter conjunção carnal ou; quando constranger alguém a praticar ou
permitir que com ela se pratique outro ato libidinoso.
Segundo Nucci, para a consumação do crime em comento, “na forma de
conjunção carnal, não se exige a introdução completa do pênis na vagina, bastando que ela
seja incompleta. Não se exige, ainda, a ejaculação, nem tampouco a satisfação do desejo
sexual do agente.”93
O mesmo autor, com relação a consumação do delito pela prática de atos
libidinosos, descreve que, “no tocante aos outros atos libidinosos, basta o toque físico
eficiente para gerar a lascívia ou o constrangimento efetivo da vítima, que se expõe
sexualmente ao autor do delito, de modo que este busque a obtenção do prazer sexual.”94
Delmanto, de forma sucinta, ensina que “na primeira figura (conjunção carnal),
com a penetração vagínica, completa ou não. Em outras palavras, consuma-se com a

91
NUCCI, 2010, p. 904.
92
Ibid., p. 904.
93
Ibid., p. 904.
94
Ibid., p. 904.
39

introdução, parcial, ou não, do pênis na vagina. Na segunda (outro ato libidinoso), a


consumação se dá com a sua prática.”95
Quanto à configuração de estupro em sua forma tentada, o doutrinador retro
citado, escreve que “teoricamente é possível (a vítima é ameaçada com revólver, mas a ação
do agente é interrompida por uma terceira pessoa que o desarma). Contudo, na prática é difícil
sua ocorrência.”96
Em outras palavras, Cunha ensina, ser “perfeitamente possível a tentativa quando,
iniciada a execução o ato sexual visado não se consuma por circunstâncias alheias a vontade
do agente.”97
Para a verificação da ocorrência do crime em sua forma tentada, o aplicador do
direito, deverá delimitar a finalização do inter criminis. Apurando se a intenção do agente era
cometer à conjunção carnal ou outros atos libidinosos.
Desta feita, considerar-se-á o crime na sua forma tentada quando: uma vez
iniciada ação do infrator, com a intenção de obter a conjunção carnal, esta não ocorre por
circunstâncias alheias a sua vontade; começada a ação do agente, com o objetivo de praticar
atos libidinosos, sua consumação não acontece por circunstâncias alheias a sua vontade.
Uma vez encerrada esses breves comentários sobre as mudanças ocorridas nos
crimes de estupro e atentado violento ao pudor, em face da junção de ambos, ocasionada com
a entrada em vigor da lei 12.015, de 7 de agosto de 2009. Tratar-se-á no terceiro capítulo a
respeito das conseqüências ocasionadas pelas referidas modificações.

95
DELMANTO, 2010, p. 692.
96
Ibid., p. 692.
97
CUNHA, Rogério Sanches e outros. Comentários à reforma criminal de 2009. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2009. p. 40.
40

4 CONSEQUÊNCIAS DA UNIFICAÇÃO DO CRIME DE ESTUPRO E ATENTADO


VIOLENTO AO PUDOR

Conforme explanado no capítulo anterior, com o advento da lei 12.015, de 7 de


agosto de 2009 as figuras típicas de estupro e atentado violento ao pudor foram condensadas
num único dispositivo penal, assim, ambas encontram-se sob o nomem juris de estupro.
Esclarece-se, por oportuno, que a junção dos dois delitos não promoveu abolitio
criminis, com relação à infração de atentado violento ao pudor. Segundo Capez, “ações que
antes configuravam crime de atentado violento ao pudor, atualmente revogado pela Lei n.
12.015/2009, integram o delito de estupro, sem importar em abolitio criminis.”1
Nucci, nesse mesmo sentido, comenta em sua doutrina “não ter havido a
revogação do art. 214 do CP (atentado violento ao pudor) como forma de abolitio criminis
(extinção do delito). Houve uma mera novatio legis, provocando-se a integração de dois
crimes numa única figura delitiva, o que é natural e possível, pois similares.”2
Contudo, através da fusão dos delitos o legislador acabou provocando uma
celeuma nos entendimentos doutrinários referentes à aplicação do concurso de crimes, nas
situações em que o agressor pratica, em único momento ou em ocasiões diversas, a conjunção
carnal e outros atos libidinosos.
Assim, este capítulo tem como finalidades: demonstrar os entendimentos
doutrinários que estão se formando quanto a aplicação do concurso de crimes; qual está sendo
o posicionamento dos tribunais em suas decisões e; por fim quais as conseqüências
ocasionadas.

4.1 ESTUPRO COMO CRIME ÚNICO

Anteriormente ao advento da nova lei, conforme escrito no primeiro capítulo


encontrava-se sedimentado na doutrina e na jurisprudência que, ocorrendo a prática da

1
CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte especial. 8. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2010.
p. 25.
2
NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado. 10. ed. rev. atual. e ampl.São Paulo: Revista do
Tribunais, 2010. p. 902.
41

conjunção carnal e do ato libidinoso diverso desta, o criminoso seria penalizado por ambos os
delitos em concurso material.
O transgressor era condenado unicamente pelo delito de estupro quando os atos
libidinosos eram considerados como prelúdios da conjunção carnal. Porém, ficando
evidenciado que os atos haviam sido praticados distintamente o criminoso era condenado por
ambos os delitos com aplicação do concurso material.
O entendimento majoritário da jurisprudência e entre os doutrinadores era de que
os delitos de estupro e atentado violento ao pudor não eram da mesma espécie, por não
estarem tipificados num único dispositivo, sendo totalmente inviável o reconhecimento da
continuidade delitiva.
Com o advento da Lei 12.015/2009, os crimes de estupro e atentado violento ao
pudor deixaram de serem delitos autônomos, passando a estarem tipificados em um único tipo
penal. Quanto a possibilidade da prática da conjunção carnal e do ato libidinoso constituir
apenas um delito um único delito, tem-se dois entendimentos doutrinários:
A primeira corrente aduz que a nova figura do crime estupro adotou a fórmula
mista alternativa, vejamos:
Nucci, a respeito do assunto, apresenta o seguinte posicionamento:

É constituída de verbos em associação: a) constranger alguém a ter conjunção


carnal; b) constranger alguém a praticar outro ato libidinoso; c) constranger alguém
a permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso. São três possibilidades de
realização do estupro, de forma alternativa, ou seja, o agente pode realizar uma das
condutas ou as três, desde que contra a mesma vítima, no mesmo local e horário,
constituindo um só delito. [...] Visualizar dois ou mais crimes, em concurso material,
extraídos das condutas alternativas do crime de estupro, cometido contra a mesma
vítima, na mesma hora, em idêntico cenário, significa afrontar o princípio da
legalidade (a lei define o crime) e o princípio da proporcionalidade, vez que se
permite dobrar, triplicar, quadruplicar etc, tantas vezes quantos atos libidinosos
forem detectados na execução de um único crime.3

O mesmo autor complementa, escrevendo que “a nova redação do art. 213 adotou
a conhecida fórmula do tipo misto alternativo, que, em nome da legalidade e em respeito à
proporcionalidade, garantias constitucionais fundamentais, deve ser respeitado.”4
Nesse sentido segue o entendimento de Capez, “se, em mesmo contexto fático, o
agente praticar conjunção carnal e diversos atos libidinosos contra a mesma vítima, haverá
crime único.”5

3
NUCCI, 2010, p. 901-902.
4
Ibid., p. 904.
5
CAPEZ, 2010, p. 44.
42

No mesmo norte, Pavlovsky escreve que:

o crime de estupro caracterizar-se-á quer pela conjunção carnal, quer pela prática de
qualquer outro ato libidinoso, tal como a cópula anal ou oral e, como corolário, caso
ambos os atos sejam praticados durante a mesma ação delituosa, o criminoso apenas
responderá por um único crime, o de estupro, não se podendo mais falar em
concurso material ou mesmo em crime continuado, na medida em que nos crimes de
ação múltipla o agente só será punido por uma das modalidades inscritas no tipo,
embora possa praticar duas ou mais condutas nele previstas em decorrência do
princípio da alternatividade.6

Neste rumo ainda, segue os ensinamentos de Damásio, vejamos:

Entender, na pergunta proposta, que existem dois crimes, é concluir que o sujeito
cometeu um delito de natureza sexual especificado e outro não especificado.
Especificado, a conjunção carnal; não especificado, o outro ato libidinoso diverso da
cópula. Não era assim antes da lei nova, pois, embora o verbo fosse o mesmo
constranger, configurava núcleo de dois tipos penais incriminadores (arts. 213 e
214). Em suma, na questão em debate, entendemos que existe apenas um crime de
estupro [...].7

Por outro lado, alguns estudiosos do direito afirmam ainda ser aplicável, quando o
agente cometer a conjunção carnal e o ato libidinoso em único momento, o concurso de
crimes, devendo o criminoso responder pelos dois delitos, eis que sustentam tratar-se a nova
figura de estupro de um tipo misto cumulativo.
Para Alessandra Orcesi Pedro Greco e João Daniel Rassi, citados por Delmanto,
“não é porque os tipos agora estão fundidos formalmente em único artigo que a situação
mudou. O que o estupro mediante conjunção carnal absorve é o ato libidinoso em progressão
àquele e não o ato libidinoso autônomo e independente dela.”8
Vicente Greco Filho, citado por Delmanto, faz as seguintes anotações:

Não houve abolitio criminis, ou a instituição de crime único quando as condutas são
diversas, de forma que nada mudou para beneficiar o condenado cuja situação de
fato levou à condenação pelo artigo 213 e artigo 214 cumulativamente; agora, seria
condenado também cumulativamente à primeira parte do art. 213 e à segunda parte
do mesmo artigo.9

Ainda neste norte, Silva Júnior, escreve que:

O novo tipo de estupro não alterou a solução jurídica anterior à Lei 12.015/09 nas
hipóteses de pluralidade de ações sexuais violentas contra vítima na mesma

6
PAVLOVSKY, Fernando Awensztern. O concurso entre os crimes de estupro e atentado violento ao pudor
e a “novatio legis in melliu0s” trazida pela lei nº 12.015/2009. Setembro de 2009. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=13630>. Acesso em: 20 maio 2010.
7
JESUS, Damásio Evangelista de. Breves notas sobre a lei n. 12.015, de 10 de agosto de 2009 – II. 22 out.
2009. Disponível em: <http://www.blog.damasio.com.br/index.php?s=estupro+crime+%C3%BAnico>. Acesso
em: 2 jun. 2010.
8
DELMANTO, Celso. Código penal comentado. 8. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 693.
9
Ibid., p. 693.
43

oportunidade, ou seja, continua sendo definido como crime único quando o dolo for
abrangente [ato libidinoso praticado como prelúdio da cópula vagínica] e concurso
material quando ocorrer dolos autônomos – ato libidinoso destacado da conjunção
carnal.10

Com a unificação dos delitos de estupro e atentado violento ao pudor, realizada


pela lei 12.015/2009, o crime passou a ser único de condutas alternativas. Devendo assim, no
caso em tela o transgressor responder por um único crime.

4.2 POSICIONAMENTO JURISPRUDENCIAL

O entendimento de que o autor do delito deve responder por estupro como crime
único, quando em um mesmo momento praticar contra a própria vítima conjunção carnal e ato
libidinoso, encontra respaldo em decisões já proferidas, em casos semelhantes, por alguns
Tribunais de Justiça, nesse sentido seguem:

TJMG - REVISÃO CRIMINAL - REEXAME DE PROVAS - PEDIDO


INDEFERIDO - CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL - EDIÇÃO DA
LEI Nº 12.015 - 'NOVATIO LEGIS IN MELLIUS'. - 1. REVISÃO CRIMINAL -
REEXAME DE PROVAS - PEDIDO INDEFERIDO - CRIMES CONTRA A
LIBERDADE SEXUAL - EDIÇÃO DA LEI Nº 12.015 - 'NOVATIO LEGIS IN
MELLIUS'. - 1.
REVISÃO CRIMINAL - REEXAME DE PROVAS - PEDIDO INDEFERIDO -
CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL - EDIÇÃO DA LEI Nº 12.015 -
NOVATIO LEGIS IN MELLIUS'. - 1. REVISÃO CRIMINAL - REEXAME DE
PROVAS - PEDIDO INDEFERIDO -- CRIMES CONTRA A LIBERDADE
SEXUAL - EDIÇÃO DA LEI Nº 12.015 - 'NOVATIO LEGIS IN MELLIUS'. - 1.
Não se constituindo a ação revisional numa espécie de segunda apelação, mas uma
estreita via pela qual é possível modificar o trânsito em julgado para sanar erro
técnico ou injustiça da condenação, não se presta para o reexame das provas
exaustivamente examinadas pelo Julgador originário e pelo Órgão Colegiado por
ocasião do julgamento da apelação, as quais não foram desconstituídas por qualquer
elemento novo de convicção, é de rigor o indeferimento do pedido revisional nessa
parte. - 2. Tendo entrado em vigor a Lei nº 12.015/2009, revogando expressamente o
art. 214 do Código Penal, e alterado a redação do art. 213 do referido diploma,
englobando, neste dispositivo, as antigas condutas relativas aos delitos de estupro e
atentado violento ao pudor, trata-se, sem qualquer dúvida, de 'novatio legis in
mellius', que de acordo com o princípio da retroatividade inserto no art. 5.º, XL, da
CF e no § único do art. 2.º do CP, tem aplicação imediata, devendo, portanto, serem
excluídas da condenação as penas relativas ao delito de atentado violento ao pudor [A1] Comentário:
praticado no mesmo contexto do delito de estupro. - 3. Pedido revisional
11
parcialmente deferido.

10
SILVA JÚNIOR, Edison Miguel da. Concurso material de estupros na lei n.º 12.015/09. Outubro de 2009.
Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=13658>. Acesso em:20 maio 2010.
11
MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça. Habeas corpus nº 1.0000.08.488483-2/000(1). Rel.: Antönio Armando
do Anjos, 8 de março de 2010. Disponível em:
<http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/8895961/100000848848320001-mg-1000008488483-2-000-1-
tjmg>. Acesso em: 5 jun. 2010.
44

TJDF - PENAL E PROCESSUAL PENAL. ESTUPRO E ATENTADO


VIOLENTO AO PUDOR. CONDENAÇÃO. RECURSO. SUFICIÊNCIA DE
PROVAS. ESTUPRO E ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR COMO CRIME
ÚNICO. JUSTIÇA E RAZOABILIDADE NA APLICAÇÃO DA PENA.
PROVIMENTO PARCIAL.
[...]
2. A LEI 12.015, DE 07 DE AGOSTO DE 2009, REDUZIU O ESTUPRO E O
ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR À CATEGORIA DE CRIME ÚNICO,
DETERMINAÇÃO QUE, POR SER BENÉFICA, RETROAGE AOS FATOS
ANTERIORES.12

TJPR - ESTUPRO E ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. VIOLÊNCIA REAL.


PRELIMINARES ARGUIDAS AFASTADAS. CERCEAMENTO DE DEFESA
PELO INDEFERIMENTO DE PERGUNTAS DA DEFESA À VÍTIMA NÃO
CARACTERIZADA. RÉU NÃO RE-INTERROGADO APÓS ADITAMENTO DA
DENÚNCIA. FALTA DE PEDIDO EXPRESSO DAS PARTES OBSTA O
RECONHECIMENTO DA NULIDADE ARGUIDA. MÉRITO DO RECURSO
OBJETIVA SUA ABSOLVIÇÃO POR FALTA DE PROVAS, APLICAÇÃO DA
PENA BASE PARA ESTES CRIMES NO MÍNIMO LEGAL,
RECONHECIMENTO DA CONTINUIDADE DELITIVA E ABSORÇÃO DO
ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR PELO ESTUPRO - RETROATIVIDADE
DA LEI 12.015/09, MAIS BENÉFICA AO RÉU. REFERIDA LEI ALTEROU O
TÍTULO DOS CRIMES CONTRA OS COSTUMES AGORA CHAMADOS DE
CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL, REVOGOU O ART. 214 DO
CÓDIGO PENAL E INSERIU A FIGURA TÍPICA DO ATENTADO VIOLENTO
AO PUDOR NA NOVA REDAÇÃO DO TIPO PENAL DO ESTUPRO (213 DO
CP). ESSA ALTERAÇÃO OBSTA O RECONHECIMENTO DE CONCURSO
MATERIAL ENTRE ESSES CRIMES. READEQUAÇÃO DA CARGA PENAL
OPERADA. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
[...]
3- A nova redação do art. 213 do Código Penal, dada pela Lei n. 12.015/09,
considera estupro a conjunção carnal forçada e outro ato libidinoso diverso desta.
Assim, não subsistindo mais a figura típica do ato libidinoso diverso da conjunção
carnal em artigo autônomo, não há mais que se falar em concurso material entre
essas condutas, quando praticadas em um mesmo momento, considerada agora como
crime único.13

TJRN - CRIMES DE ESTUPRO E ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR


CONSUMADOS ANTES DA ENTRADA EM VIGOR DA LEI Nº 12.015/2009 -
CONDENAÇÃO - RECURSO APELATÓRIO - PRETENDIDA ABSOLVIÇÃO -
NÃO ACOLHIMENTO - PROVA BASTANTE DA MATERIALIDADE E
AUTORIA DOS DELITOS PELOS QUAIS RESTOU CONDENADO O
APELANTE - PALAVRA DA VÍTIMA EM CONSONÂNCIA COM O
CONJUNTO PROBATÓRIO DOS AUTOS - ESPECIAL VALOR PROBANTE -
MANUTENÇÃO DA CONDENAÇÃO QUE SE IMPÕE - ADVENTO DA LEI Nº
12.015/2009, QUE UNIFICOU AS CONDUTAS DELITUOSAS EM UM ÚNICO
DISPOSITIVO - DESCONSTITUIÇÃO DO CONCURSO MATERIAL -
ADEQUAÇÃO DA DOSIMETRIA À NOVA DISCIPLINA LEGAL -
RETROATIVIDADE EM BENEFÍCIO DO RECORRENTE - REDUÇÃO DA
PENA - PROVIMENTO PARCIAL DO APELO.
Nos crimes contra os costumes, a palavra da vítima assume fundamental
importância, sendo suficiente para embasar a condenação quando em consonância

12
BRASÍLIA. Distrito Federal. Tribunal de Justiça. Habeas corpus nº 0005980-53.2005.807.0010. Rel.: Edson
Alfredo Smaniotto, 26 de novembro de 2009. Disponível em:
<http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/7390310/apr-apr-59805320058070010-df-0005980-
5320058070010-tjdf>. Acesso em: 5 jun. 2010.
13
PARANÁ. Tribunal de Justiça. Habeas corpus nº 0570334-2. Rel.: Miguel Pessoa, 01 de outubro de 2009.
Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/6134319/apelacao-crime-acr-5703342-pr-
0570334-2-tjpr>. Acesso em: 5 jun. 2010.
45

com outros elementos de prova dos autos. Com o advento da Lei nº 12.015/2009, a
conduta consistente em praticar ato libidinoso diverso da conjunção carnal passou a
integrar o tipo do art. 213 do Código Penal, que descreve o estupro, devendo a nova
disciplina retroagir para beneficiar aquele que foi condenado por ambos os crimes
se, no mesmo contexto fático e na mesma ocasião, houve a consumação de tais
ilícitos, caracterizando delito único.14

TJSC – APELAÇÃO CRIMINAL - CRIME CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL -


ESTUPRO CONTRA SOBRINHA (CP, ART. 213 C/C ART. 226, II)-
MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS - AUSÊNCIA DO EXAME
ATESTANDO A PRESENÇA DE ESPERMA - CRIME CONSUMADO -
DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA OU ARREPENDIMENTO EFICAZ NÃO
CONFIGURADOS - ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR (CP ART. 214)-
SUPERVENIÊNCIA DA LEI N. 12.015/2009 - MIGRAÇÃO DA CONDUTA
TÍPICA ("OUTRO ATO LIBIDINOSO")PARA A PREVISÃO LEGAL DO
DELITO DE ESTUPRO (CP, ART. 213)- FENÔMENO DA "CONTINUIDADE
NORMATIVO-TÍPICA" - PROIBIÇÃO DA CONDUTA SUBSISTIDA - NOVA
REDAÇÃO QUE CONFIGURA TIPO PENAL MISTO ALTERNATIVO -
INVIABILIDADE DE CONDENAÇÃO EM CONCURSO DE CRIMES -
RETROATIVIDADE DA LEI PENAL BENÉFICA - NOVATIO LEGIS IN
MELLIUS (CF, ART. 5º, INC. XL E CP, ART. 2º, PAR. UN.)- ABOLITIO
CRIMINIS PECULIAR - RECONHECIMENTO, EX OFFICIO, DA EXTINÇÃO
DA PUNIBILIDADE QUANTO AO CRIME DE ATENTADO VIOLENTO AO
PUDOR (CP, ART. 107, III; E, CPP, ART. 61). I
[...] III - Sem embargo da superveniência da Lei n. 12.015/2009, compete acentuar
que a revogação por ela promovida não implicou em abolição da regra específica de
conduta atinente ao atentado violento ao pudor; ao contrário, a atividade
anteriormente incriminada no art. 214 do Código Penal foi expressamente
contemplada no novo diploma, que apenas operou o deslocamento de sua tipificação
(prática de outro ato libidinoso - diverso da conjunção carnal)para a previsão do
artigo 213 do CP, de ordem a caracterizar o fenômeno da continuidade normativo-
típica. Por esta razão é que não se pode cogitar de hipótese de abolitio criminis
propriamente dita, porquanto a conduta ilícita em voga, de fato, não desapareceu,
senão apenas migrou para outra hipótese legal preexistente (art. 213), à qual foi
agregada a expressão "ou" e a elr relativa a prática de "outro ato libidinoso",
subsistindo, portanto, como atividade proibida, porém, com uma nova roupagem,
cujo efeito importa na inviabilidade de haver condenação em concurso de crimes
(salvo se fatos distintos e separados por razoável período), haja vista não mais
constituírem delitos autônomos, mas sim condutas variadas inseridas num mesmo
preceito incriminador, a ponto de caracterizar um tipo penal composto, e, portanto,
regido pelo princípio da alternatividade. Desse modo, a propósito do princípio da
reserva absoluta de lei formal em matéria penal (CF/88, art. 5º,XXXIX), o atributo
da tipicidade mista alternativa é de imperioso reconhecimento no caso da sucessão
legislativa em foco, uma vez que houve uma patente instituição de fungibilidade
entre as condutas justapostas no novo art. 213 do estatuto repressivo, vislumbrada a
partir de sua disposição plurinuclear e pelo emprego do termo "ou" - "[...] a ter
conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato
libidinoso" -, encerrando, por isso mesmo, um conteúdo variado, mas com a
restrição no sentido de que mesmo em havendo a prática de mais de uma das
condutas descritas - numa mesma situação fática - o agente responde apenas por um
delito. Assim, a Lei n. 12.015/2009, ao conferir nova redação ao artigo 213 do
Código Penal, instituiu a tipicidade mista alternativa, cuja aplicação repele a
possibilidade de concurso de crimes entre o estupro e o atentado violento ao pudor
em suas redações pretéritas, de ordem a inviabilizar a dupla punição, razão pela
qual, como reflexo, deve ser decretada, ex officio, a extinção da punibilidade do

14
RIO GRANDE DO NORTE. Tribunal de Justiça. Habeas corpus nº 2008.012471-3. Rel.: Caio Alencar, 23
de fevereiro de 2010. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/7387104/apelacao-criminal-
apr-12471-rn-2008012471-3-tjrn>. Acesso em: 5 jun. 2010.
46

agente condenado pelo delito de atentado violento ao pudor, haja vista a peculiar
hipótese de abolitio criminis (CP, art. 107, III; e, CPP, art. 61). [...].15

Verifica-se assim, que as pessoas que foram apenadas por terem praticados
conjunção carnal e ato libidinoso em um mesmo ato, configurando o concurso material,
deverão ter suas penas readequadas, respondendo por crime único, uma vez que a doutrina e
jurisprudência vêm se consolidando no sentido de reconhecer a tipicidade do crime de estupro
como mista alternativa.

4.3 APLICAÇÃO DO BENEFÍCIO DO CRIME CONTINUADO

Antes da fusão dos delitos de estupro e atentado violento ao pudor, a doutrina e


jurisprudência majoritárias rechaçavam o reconhecimento da continuidade delitiva entre os
crimes referidos quando o agente praticasse-os por diversas ocasiões. Fundamentava-se a
inaplicabilidade do crime continuado por serem os delitos de espécies diferentes.
A dúvida existia devido à presença de dois entendimentos doutrinários quanto a
conceituação do que seriam crimes da mesma espécie. O entendimento predominante refere-
se a crime da mesma espécie aqueles contidos em um único dispositivo. Enquanto que a
corrente minoritária conceitua-os como aqueles que visam à proteção do mesmo bem jurídico.
Sobre o tema, Nucci ensina:

Há duas posições a esse respeito: a) são delitos da mesma espécie os que estiverem
previstos no mesmo tipo penal. [...]; b) são crimes da mesma espécie os que
protegem o mesmo bem jurídico, embora previstos em tipos diferentes. [...] Apesar
de ser amplamente majoritária na jurisprudência a primeira.16 (grifei).

Capez, em outras palavras, apresenta as duas posições da seguinte forma:

1ª posição: crimes da mesma espécie não são os crimes previstos no mesmo tipo,
mas aqueles que possuem elementos parecidos, ainda que não idênticos.
2ª posição: são os previstos no mesmo tipo penal, isto é, aqueles que possuem os
mesmos elementos descritivos, abrangendo as formas simples, privilegiadas e
qualificadas, tentadas ou consumadas. [...] A jurisprudência orienta-se nesse
sentido.17

15
SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Habeas corpus nº 2008.080994-5. Rel. Salete Silva Sommariva,
22 de outubro de 2009. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/8369932/apelacao-
criminal-reu-preso-acr-809945-sc-2008080994-5-tjsc>. Acesso em: 5 jun. 2010.
16
NUCCI, 2010, p. 463-464.
17
CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. 7. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 481.
47

Conforme se observa nas lições retro e, ainda, das jurisprudências citadas neste
trabalho, o entendimento que prevalece é no sentido de ser necessário que os crimes estejam
contidos num mesmo tipo penal.
A aplicação do crime continuado encontra-se registrado no artigo 71 do CP, o
mesmo ainda prevê que outros requisitos sejam preenchidos para a caracterização da
continuidade delitiva, vejamos:

Art. 71. Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou
mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de
execução e outras semelhantes, devem os subseqüentes ser havidos como
continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a
mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços.18
(grifei).

Assim, por faltar um dos requisitos para configurar o crime continuado, qual seja,
crimes da mesma espécie, é que o autor dos fatos era apenado pela prática dos crimes de
estupro e atentado violento ao pudor em concurso material.

4.3.1 Superveniência da lei 12.015/2009

Com a unificação dos crimes de estupro e atentado violento ao pudor, não há mais
que se falar em inaplicabilidade da continuidade delitiva por serem os crimes de espécies
deferentes, pois estão contidos em um único tipo penal e, ainda, visam à proteção do mesmo
bem jurídico.
Benefício este proporcionado pela lei 12.015/09 que tratou de unificar as “duas
infrações penais (art.213, estupro; art. 214, atentado violento ao pudor) em uma só figura
típica intitulada estupro (art.213). Portanto, não mais se pode impedir a continuidade delitiva
entre os eventos criminosos baseados no art. 213, pois, se ocorrerem, serão da mesma
espécie.”19
Desta feita, supondo que um desviante pratique em um determinado dia coito anal
com uma vítima, sendo que no dia seguinte realiza conjunção carnal, não precisando ser
necessariamente com a mesma vítima, o juiz, constando estarem preenchidas as exigências do
artigo 7120 do CP, deverá na dosimetria aplicar o instituto do crime continuado.

18
NUCCI, 2010, p. 462.
19
Ibid., p. 464.
20
Ibid., p. 462.
48

Para Capez, “se o agente, por diversas ocasiões, constranger a vítima, mediante o
emprego de violência ou grave ameaça, a com ele praticar conjunção carnal ou qualquer outro
ato libidinoso diverso do coito vagínico, há continuidade delitiva.”21 (grifei)
Nucci, exemplificando, escreve que “se a conjunção carnal for praticada em um
determinado dia e, em outra data, contra vítima diversa, ocorrer um ato libidinoso, ambos
violentos, é de se admitir o crime continuado, pois estaríamos diante de dois estupros, logo,
crimes da mesma espécie.”22
Em outras palavras, Lawyer Journal, apresenta o mesmo entendimento, vejamos:

Com a vigência da Lei 12.015/09 e o desaparecimento do crime de atentado violento


ao pudor com tipo penal autônomo, não se pode cogitar mais da figura do concurso
material. Trata-se de questão que ficou absolutamente superada pelo simples fato de
já não existir mais os dois crimes (desapareceu o crime de atentado) para que se
tenha a figura do concurso material e as penas possam ser somadas. Agora, o agente
pode praticar o coito vaginal e outros atos libidinosos contra a mesma vítima e,
conforme o caso, o concurso material poderá ser afastado para ser reconhecida a
continuidade delitiva. Isto vale, também, para as hipóteses de estupro contra vítimas
diferentes.23

Diante do exposto, nos casos pretéritos em que o agente foi condenado com
aplicação do concurso material, por não serem os delitos de estupro e atentado violento ao
pudor da mesma espécie, deverá, o juiz da execução, unificar as penas, reconhecendo a
continuidade delitiva.

4.4 RETROATIVIDADE DA LEI PENAL BENÉFICA

Conforme se depreende do explanado até o momento, haverá duas situações em a


lei 12.015/2009, obrigatoriamente, retroagirá para beneficiar os apenados. Sendo elas: a) nos
casos em que o criminoso foi condenado, com reconhecimento do concurso material, por
praticar conjunção carnal e atos libidinosos com a mesma vítima, em único momento. Nestas
circunstâncias deverá ser conhecido o crime único; b) nos casos em que o agente praticou por
diversas ocasiões estupro e atentado violento ao pudor, sendo condenado a ambas as penas em
concurso material por serem os delitos de espécie diferentes. Devendo, agora, ser reconhecida
continuidade delitiva.

21
CAPEZ, 2010, p. 44.
22
NUCCI, 2010, p. 464.
23
JOURNAL, Lawyer. Novo tipo penal de estupro: formas típicas qualificadas e concurso de crimes. 6 de
setembro de 2009. Disponível em: <http://lawyerbhz.livejournal.com/341941.html>. Acesso em: 5 jun. 2010.
49

Cumpre-se ressaltar que as modificações realizadas nos crime de estupro e


atentado violento ao pudor, por meio da Lei 12.015/2009, foram frutos da “política criminal
legislativa legítima, pois não há crime sem lei que o defina, cabendo ao Poder Legislativo a
sua composição. Ao Judiciário cabe interpretar a lei, criticá-la até, mas não pode deixar de
cumpri-la, a pretexto de não ser norma ideal.”24
Deste modo, por serem as modificações realizadas pelo legislador mais
benevolente (novatio legis in mellius) aos acusados/réus e apenados, cumpre ao poder
judiciário, aplicá-las.
O direito do réu de ser amparado por lei nova que, de qualquer, lhe trouxer algum
benefício encontra-se resguardado em nossa Carta Magna de 1988 no seu artigo 5º, inciso XL,
“que a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu.”25 Assim, “tratando-se de norma
mais benéfica, a regra é a da retroatividade.”26
Ficou prevista também no Código Penal a determinação da retroatividade da lei
mais benéfica, encontrando-o no artigo 2º, parágrafo único, com seguinte redação: “A lei
posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que
decididos por sentença condenatória transitada em julgado.”27
Vislumbra-se assim, que nos casos apresentados, há a necessidade de aplicação da
exceção da extrativadade da lei penal, “ou seja, a possibilidade de aplicação de uma lei a fatos
ocorridos fora do âmbito de sua vigência.”28 Conforme já dito utilizar-se-á a nova lei
unicamente para benefício dos apenados.
Somente a cargo de exemplificação, nos casos em que o criminoso foi condenado,
com a pena mínima para cada delito 06 (seis anos), em concurso material, por praticar ato
libidinoso e conjunção carnal contra a mesma vítima, totalizava-se no final uma sanção de 12
(doze) anos de prisão. Com a aplicação da retroatividade, transformando as ações em crime
único, a pena restritiva de liberdade reduzir-se-á para a metade 06 (seis) anos.
Já nos casos em que foi condenado, com a pena mínima para cada delito 06 (seis)
anos, em concurso material, por praticar conjunção carnal num dado momento e em outro
ocasião o ato libidinoso, teria uma pena de 12 (doze) anos. Porém, com o reconhecimento da
continuidade delitiva entre os dois delitos sua sanção será reduzida, mesmo que seja

24
NUCCI, 2010, p. 902.
25
BRASIL. Constituição da república federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm>. Acesso em: 5 jun. 2010.
26
DELMANTO, Celso et al. Código penal comentado. 6. ed. rev. e atual. São Paulo: Renovar, 2002. p. 84.
27
Ibid., p. 84.
28
NUCCI, op. cit., p. 62.
50

reconhecida o aumento previsto no caput, do artigo 71, em seu máximo, dois terços, em dois
anos. Tendo que cumprir apenas 10 (dez) anos de reclusão.

4.4.1 Competência para aplicação da lei mais benigna

A competência para aplicação da lei nova dependerá da fase em que a ação


encontra-se, pois “com o processo em andamento até a sentença, cabe ao juiz de 1º [primeiro]
grau a aplicação da lei.”29 Porém, se o processo estiver “em grau de recurso, aplicará a norma
favorável o Tribunal.”30 Por fim, “se a condenação já transitou em julgado a aplicação da lei
posterior compete ao juiz da execução.”31
Diante de todo o exposto, por ser a retroatividade da lei nova, nos casos em que
beneficiam os acusados/réus e apenados, medida resguardada pela Constituição Federal de
1988 e pelo Código Penal, os aplicadores do direito, seja em qual for a fase que o processo se
encontre, deverão atentar-se para a aplicação das benesses trazidas pela lei 12.015, de 07 de
agosto de 2009.

29
NUCCI, 2010, p. 69.
30
Ibid., p. 69.
31
DELMANTO, 2002, p. 86.
51

5 CONCLUSÃO

O direito penal, procurando resguardar o convívio harmônico em sociedade,


estabelece normas coercitivas a fim de evitar que o direito, disciplinado na Constituição
Federal, seja violado.
Assim o legislador no afã de cumprir com maior eficácia as garantias
estabelecidas na Carta Magna publicou a lei 12.015/2009.
Nesta nova lei foi prevista a unificação dos delitos de estupro e atentado violento
ao pudor, antes crimes autônomos. Realizado o estudo constatou-se a problemática
estabelecida pelo legislador ao juntar dois crimes que eram autônomos em um único tipo
penal, uma vez que agora, além da conjunção, passa a ser estupro a prática de ato libidinoso.
Após a análise de todo conteúdo pesquisado verificou-se que há uma grande
divergência na doutrina a respeito da nova figura típica do artigo 213 do Código Penal, tendo
em vista que parte dos estudiosos sustentam tratar-se de um tipo misto alternativo, enquanto
que outros alimentam a teoria de ser um tipo misto cumulativo. As manifestações
jurisprudenciais apontam no sentido de tratar-se de um tipo misto alternativo, inclusive com
decisões reconhecendo a ocorrência de crime único quando o agente pratica conjunção carnal
e ato libidinoso com a mesma vítima, em único momento. Reconheceram ainda a
continuidade delitiva, quando a prática das condutas ocorre em ocasiões diversas, desde que
preenchidos os requisitos do artigo 71 do Código Penal.
Por fim, conclui-se que o novo crime de estupro, em alguns casos, será mais
benevolente com o acusado/réu e também com os condenados, havendo por conseguinte, uma
redução significativa na pena daqueles que já foram condenados.
52

REFERÊNCIAS

BITENCOURT, Cezar Roberto. Código penal comentado. 4. ed. atual. São Paulo: Saraiva,
2007.

BRASIL. Código penal: decreto-lei 847 de 11 de outubro de 1890. Disponível em:


<http://www.ciespi.org.br/base_legis/legislacao/DEC20a.html>. Acesso em: 17 maio 2010.

______. Constituição da república federativa do Brasil de 1988. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm>. Acesso em: 5 jun.
2010.

______. Lei n.º 8.930, de 06 de setembro de 1994. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8930.htm>. Acesso em: 23 abr. 2010.

______. Leis ordinárias: lei 8.072 de 25 de julho de 1990. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8072.htm>. Acesso em: 26 maio 2010.

______. Superior Tribunal de Justiça. Recurso especial nº 550267. Rel.: José Arnaldo da
Fonseca, 13 de outubro de 2003. Disponível em:
<http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/217339/recurso-especial-resp-550267-sp-2003-
0093904-3-stj>. Acesso em: 12 maio 2010.

______. Supremo Tribunal Federal. Habeas corpus nº 96959. Rel.: Ricardo Lewandowski,
10 de março de 2009. Disponível em:
<http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/3959980/habeas-corpus-hc-96959-sp-stf>.
Acesso em: 12 maio 2010.

______. Vade Mecum: código penal. 9. ed. São Paulo: Rideel, 2009.

______. Vade Mecum: constituição da república federativa do Brasil. 9. ed. São Paulo:
Rideel, 2009.

BRASÍLIA. Distrito Federal. Tribunal de Justiça. Habeas corpus nº 0005980-


53.2005.807.0010. Rel.: Edson Alfredo Smaniotto, 26 de novembro de 2009. Disponível em:
<http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/7390310/apr-apr-59805320058070010-df-
0005980-5320058070010-tjdf>. Acesso em: 5 jun. 2010.

CAMPOS, Pedro Franco e outros. Direito penal aplicado: parte especial. 2. ed. rev. e atual.
São Paulo: Saraiva, 2009.
53

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56

ANEXO - Lei n° 12.015, de 7 de agosto de 2009

Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI Nº 12.015, DE 7 DE AGOSTO DE 2009.

Altera o Título VI da Parte Especial do Decreto-Lei no


2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, e o art. 1o
Mensagem de veto da Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990, que dispõe sobre
os crimes hediondos, nos termos do inciso XLIII do art. 5o
da Constituição Federal e revoga a Lei no 2.252, de 1o de
julho de 1954, que trata de corrupção de menores.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e


eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1o Esta Lei altera o Título VI da Parte Especial do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de


dezembro de 1940 - Código Penal, e o art. 1o da Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990, que
dispõe sobre os crimes hediondos, nos termos do inciso XLIII do art. 5o da Constituição
Federal.

Art. 2o O Título VI da Parte Especial do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de


1940 - Código Penal, passa a vigorar com as seguintes alterações:

“TÍTULO VI
DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL
CAPÍTULO I
DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL
Estupro
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção
carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso:
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.
§ 1o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de
18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.
§ 2o Se da conduta resulta morte:
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.” (NR)

“Violação sexual mediante fraude


Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante
fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
57

Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica,


aplica-se também multa.” (NR)

“Assédio sexual
Art. 216-A. ....................................................................
..............................................................................................
§ 2o A pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos.”
(NR)
“CAPÍTULO II
DOS CRIMES SEXUAIS CONTRA VULNERÁVEL

Art. 218. Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer a lascívia de outrem:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
Parágrafo único. (VETADO).” (NR)

“Ação penal
Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante
ação penal pública condicionada à representação.
Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública incondicionada
se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável.” (NR)
“CAPÍTULO V
DO LENOCÍNIO E DO TRÁFICO DE PESSOA PARA FIM DE
PROSTITUIÇÃO OU OUTRA FORMA DE
EXPLORAÇÃO SEXUAL
.............................................................................................

Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual


Art. 228. Induzir ou atrair alguém à prostituição ou outra forma de exploração sexual,
facilitá-la, impedir ou dificultar que alguém a abandone:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
§ 1o Se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge,
companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou
outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos.
...................................................................................” (NR)

“Art. 229. Manter, por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em que ocorra
exploração sexual, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou
gerente:
...................................................................................” (NR)

“Rufianismo
Art. 230. ......................................................................
.............................................................................................
§ 1o Se a vítima é menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos ou se o crime é
cometido por ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou
curador, preceptor ou empregador da vítima, ou por quem assumiu, por lei ou outra forma,
obrigação de cuidado, proteção ou vigilância:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
58

§ 2o Se o crime é cometido mediante violência, grave ameaça, fraude ou outro meio


que impeça ou dificulte a livre manifestação da vontade da vítima:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, sem prejuízo da pena correspondente à
violência.” (NR)

“Tráfico internacional de pessoa para fim de exploração sexual


Art. 231. Promover ou facilitar a entrada, no território nacional, de alguém que nele
venha a exercer a prostituição ou outra forma de exploração sexual, ou a saída de alguém que
vá exercê-la no estrangeiro.
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos.
§ 1o Incorre na mesma pena aquele que agenciar, aliciar ou comprar a pessoa
traficada, assim como, tendo conhecimento dessa condição, transportá-la, transferi-la ou
alojá-la.
§ 2o A pena é aumentada da metade se:
I - a vítima é menor de 18 (dezoito) anos;
II - a vítima, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário
discernimento para a prática do ato;
III - se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge,
companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou
outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; ou
IV - há emprego de violência, grave ameaça ou fraude.
§ 3o Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se
também multa.” (NR)

“Tráfico interno de pessoa para fim de exploração sexual


Art. 231-A. Promover ou facilitar o deslocamento de alguém dentro do território
nacional para o exercício da prostituição ou outra forma de exploração sexual:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
§ 1o Incorre na mesma pena aquele que agenciar, aliciar, vender ou comprar a pessoa
traficada, assim como, tendo conhecimento dessa condição, transportá-la, transferi-la ou
alojá-la.
§ 2o A pena é aumentada da metade se:
I - a vítima é menor de 18 (dezoito) anos;
II - a vítima, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário
discernimento para a prática do ato;
III - se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge,
companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou
outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; ou
IV - há emprego de violência, grave ameaça ou fraude.
§ 3o Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se
também multa.” (NR)
Art. 3o O Decreto-Lei no 2.848, de 1940, Código Penal, passa a vigorar acrescido dos
seguintes arts. 217-A, 218-A, 218-B, 234-A, 234-B e 234-C:

“Estupro de vulnerável
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14
(catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
59

§ 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém
que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática
do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.
§ 2o (VETADO)
§ 3o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.
§ 4o Se da conduta resulta morte:
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.”

“Satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente


Art. 218-A. Praticar, na presença de alguém menor de 14 (catorze) anos, ou induzi-lo
a presenciar, conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer lascívia própria ou
de outrem:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.”

“Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual de


vulnerável
Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração
sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não
tem o necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a
abandone:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos.
§ 1o Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se
também multa.
§ 2o Incorre nas mesmas penas:
I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18
(dezoito) e maior de 14 (catorze) anos na situação descrita no caput deste artigo;
II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifiquem as
práticas referidas no caput deste artigo.
§ 3o Na hipótese do inciso II do § 2o, constitui efeito obrigatório da condenação a
cassação da licença de localização e de funcionamento do estabelecimento.”

“CAPÍTULO VII
DISPOSIÇÕES GERAIS

Aumento de pena
Art. 234-A. Nos crimes previstos neste Título a pena é aumentada:
I – (VETADO);
II – (VETADO);
III - de metade, se do crime resultar gravidez; e
IV - de um sexto até a metade, se o agente transmite à vitima doença sexualmente
transmissível de que sabe ou deveria saber ser portador.”
“Art. 234-B. Os processos em que se apuram crimes definidos neste Título correrão
em segredo de justiça.”
“Art. 234-C. (VETADO).”
Art. 4o O art. 1o da Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990, Lei de Crimes Hediondos,
passa a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 1o ............................................................................
.............................................................................................
V - estupro (art. 213, caput e §§ 1o e 2o);
60

VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1o, 2o, 3o e 4o);


...................................................................................................
...................................................................................” (NR)
Art. 5o A Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990, passa a vigorar acrescida do seguinte
artigo:
“Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de menor de 18 (dezoito) anos, com
ele praticando infração penal ou induzindo-o a praticá-la:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
§ 1o Incorre nas penas previstas no caput deste artigo quem pratica as condutas ali
tipificadas utilizando-se de quaisquer meios eletrônicos, inclusive salas de bate-papo da
internet.
§ 2o As penas previstas no caput deste artigo são aumentadas de um terço no caso de
a infração cometida ou induzida estar incluída no rol do art. 1o da Lei no 8.072, de 25 de julho
de 1990.”
Art. 6o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 7o Revogam-se os arts. 214, 216, 223, 224 e 232 do Decreto-Lei no 2.848, de 7
de dezembro de 1940 - Código Penal, e a Lei no 2.252, de 1o de julho de 1954.

Brasília, 7 de agosto de 2009; 188o da Independência e 121o da República.


LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Tarso Genro

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