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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
NÚMERO 31
Maio/Ago 2010
Indexação:
CLASE (Citas Latinoamericas em Ciências Sociales y Humanidades)
Bibliografia brasileira de Educação – BBE.CIBEC/INEP/MEC
EDUBASE (FE/UNICAMP)
3
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ..................................................................................................5
Dossiê
CURRÍCULOS, PRÁTICAS E COTIDIANO ESCOLAR NA FORMAÇÃO
EDUCACIONAL, MORAL E CÍVICA DE CIDADÃOS NO ESPAÇO LUSO-
BRASILEIRO
Resenha
Documento
Oficio do governador da capitania do Rio Grande de São Pedro do Sul ...................... 279
Os editores
Apresentação
Resumo
O presente trabalho apresenta um recorte dos resultados obtidos em
pesquisa, focalizando a história das orientações sobre práticas
curriculares do Liceu Campograndense, fundado em 1930 e hoje
conhecido como Escola Estadual Maria Constança de Barros
Machado. Tomamos como objetivo analisar como no Liceu
Campograndense foram organizadas as práticas curriculares visando
ministrar aos seus alunos sólida instrução fundamental que os
habilite a desempenhar cabalmente os deveres de cidadãos. Para isso,
analisamos o primeiro regulamento da escola e as atas de reuniões de
Congregação dos quatro primeiros anos de seu funcionamento.
Concluiu-se que as orientações para a realização das atividades,
tarefas e eventos sociais traziam uma intencionalidade explícita, ou
implícita, de viabilizar uma imagem de referência para a sociedade
local.
Palavras-chave: Cultura escolar; Currículo; Práticas Curriculares;
Instituições escolares; escolas exemplares.
Introdução
1
Financiado pelo CNPq, desenvolvido de 2005 a 2007, envolvendo o estudo das
seguintes “escolas exemplares”: o Liceu de Humanidades de Campos, em Campos
do Goytacazes/RJ; o Grupo Escolar Conde de Parnaíba, em Jundiaí/SP; o
Ginásio Mineiro de Uberlândia/MG e o Colégio Estadual Campo-Grandense ou
o “Maria Constança”, em Campo Grande/MS
2
Periodização iniciada com a data de fundação da mais antiga entre as escolas
analisadas, o Liceu de Humanidades de Campos, e terminando no último ano
antes da implantação da lei 5692, de agosto de 1971, que alterou profundamente
as características do ensino secundário, transformando os antigos Colégios e
Ginásios em “Escolas de 1º Grau” ou “1º e 2º graus”. A Lei 5692 de 1971
organizou o ensino brasileiro em três graus: 1º Grau (incorporando os antigos
cursos Primário e Ginasial); 2º Grau (antigo Ensino Médio) e 3º Grau (antigo
Ensino Superior). Com essa nova organização, desapareceram os Grupos
Escolares e os Ginásios.
3
O arquivo da escola contém atas, relatórios, memoriais, fichas funcionais dos
professores, ofícios recebidos e expedidos, bem como outros documentos avulsos
estavam encadernados juntos nos livros relatórios; esses livros foram organizados
seguindo uma ordem cronológica.
4
Cabe registrar que uma das muitas questões com que nos defrontamos foi a
decisão sobre a forma com a qual iríamos nos referir a cada escola. Todas elas
tiveram alterações em seus nomes, principalmente devido às mudanças impostas
pelas mudanças na legislação. No entanto, sendo “escolas exemplares”,
independente das mudanças legais, cada cidade “adota” um nome para a sua
escola e é com esse nome que a ela se refere e é reconhecida. Por incrível que
pareça, a mais antiga das escolas estudadas, o Liceu de Humanidades de Campos,
sempre foi conhecida como Liceu, tanto nos documentos mais antigos quanto
nas entrevistas mais recentes, o que tornou fácil referir-se à mesma como Liceu,
Liceu de Humanidades de Campos, ou LHC. Para as demais escolas, não foi tão
simples: o Grupo Escolar Conde do Parnaíba, fundado em 1906, hoje Escola
Estadual Conde de Parnaíba, é conhecido na cidade como o “Conde”; a escola de
Uberlândia, nasceu como “Gymnásio de Uberabinha” e é hoje conhecida como
Escola Estadual de Uberlândia, mas alguns moradores a ela se refiram como
Museu; a Escola Estadual Maria Constança Barros Machado, denominação
atual, foi instalada em 1939, como Liceu Campograndense, mudando para
Colégio Estadual Campograndense em 1953, mas, pelas entrevistas com ex-
alunos e ex-professores, duas denominações surgiram – Colégio Estadual e Maria
Constança, a primeira mais usada pelas pessoas mais velhas que, quase sempre, se
corrigiam e se referiam ao Colégio Maria Constança. Numa tentativa de
uniformizar e facilitar o reconhecimento de cada escola, procuramos utilizar a
denominação que nos pareceu mais pertinente, assim é que, salvo registros
históricos específicos: a escola de Campos dos Goytacazes é o Liceu; a escola de
REGULAMENTO DO LICEU
CAMPOGRANDENSE
Palácio do Governo do Estado em Cuiabá, 21 de janeiro
de1938, 117 da Independência e 50 da República - (a) J.
Muller (b) J. Ponce. (AEEMCBM)
Art 8º
a) as aulas deverão durar 50 minutos, havendo entre uma
e outra o intervalo obrigatório de 10 minutos.
Portaria nº16/63
Srs. Profs.
A profª. M. Constança de B. Machado, diretora do
Colégio Estadual Campograndense, usando das
atribuições que o Regulamento lhe confere, tendo em
vista, a magnífica apresentação do Colégio no desfile do
‘Dia da Cidade’resultado do trabalho e cooperação dos
professores e dos elementos de fora, Sgtº. Leitum e
Senhora Djanira Estevão Assis Brasil, esta Diretoria
louva-o pela boa vontade, amor ao trabalho e esforços
dispensados à consecução do êxito alcançado no citado
desfile. Outroissim, apresenta os maiores agradecimentos
pela colaboração espontânea aos dirigentes da Estrada de
Ferro Noroeste do Brasil, à firma Penttegil e a todos os
Pais de alunos que bondosamente contribuíram para que
Referências
______________;COMPËRE, Marie-Madeleine. As
humanidades no ensino. Educação e Pesquisa, Revista da
Faculdade de Educação da USP, São Paulo, Jul/Dez, volume 25,
nº 2, pp. 149-172, 1999.
FONTES PRIMÁRIAS
Resumo
Trata-se do exame das práticas escolares efetivadas no Ginásio
Mineiro de Uberlândia, em Minas Gerais, Brasil, no período
compreendido entre as décadas de 1920 e de 1970. Depreende-se do
cotejamento das evidências (manuscritas, impressas, orais e
iconográficas) com o contexto sócio-histórico da época que: a
metodologia de ensino no período era tradicional; a consolidação de
uma representação social da qualidade do ensino do antigo Ginásio
(com caráter humanístico e com preocupação com a moral, a
disciplina e os bons costumes); o entendimento da escola como
centro social, esportivo e cultural da cidade, sendo as datas cívicas
muito comemoradas. Desse modo, ao conteúdo humanístico, ligado à
disseminação de princípios morais aceitos socialmente, somava-se a
ênfase no civismo e no patriotismo.
Palavras-chave: Escola; Civismo; Patriotismo; Currículo; Práticas.
1
Versão modificada do trabalho apresentado em mesa-coordenada sob a direção
do Prof. Dr. Décio Gatti Júnior, da Universidade Federal de Uberlândia,
intitulada “Currículos, práticas e cotidiano escolar na formação educacional,
moral e cívica de cidadãos no espaço luso-brasileiro”, no VII Congresso Luso-
Brasileiro de História da Educação, realizado no período de 20 a 23 de junho de
2008, na cidade do Porto, em Portugal.
Introdução
2
Depoimento concedido ao pesquisador Carlos Henrique de Carvalho em
22/07/99 – p.10-1.
3
Parte da entrevista foi concedida pelo Sr. Osvaldo Vieira Gonçalves ao Projeto
Depoimentos vinculado a Divisão de Patrimônio Histórico e Memória do
Arquivo Público Municipal, em 25 de janeiro de 1990.
4
Depoimento concedido à pesquisadora em 18/09/2000.
5
Depoimento concedido ao pesquisador Carlos Henrique de Carvalho em
22/07/99 – p.7
6
Depoimento concedido as pesquisadoras Daniella Soraya Ghantous e Flávia
Machado, em 20/05/99
7
Depoimento concedido ao pesquisador Carlos Henrique de Carvalho em
22/07/99 – p. 7
8
Depoimento concedido às pesquisadoras Daniella Soraya Ghantous e Flávia
Machado em 22/06/99 – p.2
9
Depoimento concedido à pesquisadora.
10
Depoimento concedido à pesquisadora.
11
Entrevista concedida a Daniela Soraya Ghantous e Flávia Machado
12
Depoimento concedido ao professor Geraldo Inácio Filho em 15/04/99.
13
Depoimento concedido à pesquisadora.
14
Depoimento concedido a Geraldo Inácio Filho em 15/04/99.
15
Idem.
16
Depoimento concedido à pesquisadora.
cidade não havia outras opções de lazer, isso fez com que o colégio
se tornasse ponto de encontro para a realização de eventos
culturais e esportivos, o que torna perceptível, nesse contexto, a
proximidade existente entre o Ginásio e cidade de Uberlândia, pelo
fato da comunidade poder participar das atividades sociais e
esportivas ali desenvolvidas.
Os alunos e ex-alunos
do Ginásio Mineiro de Uberlândia
Referências
Resumo
O presente texto objetiva expor resultados da pesquisa sobre os
saberes escolares, realizada em uma da escola considerada exemplar: o
Grupo Escolar Conde do Parnaíba. Foram utilizadas fontes
privilegiadas: entrevistas com professoras que trabalharam no período
de 1930-1980, anos que assinalam o processo de fixação das
diretrizes da educação nacional, o jornal do Grupo Escolar e diário de
aula de uma das professoras. Os autores que serviram de apoio para
análise foram Bourdieu, Hebrard e Souza. Os comportamentos
desejados pela ordem pública, expressados nas composições, fábulas e
jornal escolar, eram introjetados por meio da cópia e repetição e a
mudança de consciência e atitudes pelo canto orfeônico, o ensino
religioso e o escotismo.
Palavras-chave: Instituição; Escola; Civismo; Nacionalismo;
Ensino Primário.
Introdução
1
Projeto aprovado pelo CNPQ – Edital Universal - Processo: 481397/2004-3
– Tempo de Cidade, Lugar de Escola: um estudo sobre a cultura escolar de
instituições escolares exemplares constituídas no processo de urbanização e
modernização das cidades brasileiras (1880-1970), coordenado por Eurize
Pessanha e Décio Gatti Júnior. As autoras do presente texto são membros da
equipe de pesquisadores desse Projeto.
2
No Brasil, os pesquisadores Ester Buffa e Paolo Nosella (2005) têm
desenvolvido pesquisas sobre a História das Instituições Educativas e utilizado
categorias de análise que se aproximam das elencadas por outros pesquisadores
estrangeiros como Justino Magalhães (1998), a saber: origem, criação,
construção e instalação; prédio, perfil de mestres e funcionários; saberes;
evolução e Vida (cultura escolar).
3
Escolas exemplares é tomado aqui como aquelas consideradas referência de
qualidade e de formação e que, de alguma forma, são percebidas como ligadas à
própria identidade cultural das “elites” da cidade em determinado momento
histórico e que, dessa forma, expressariam os projetos de modernização e
escolarização dessas mesmas elites. Cf. Relatório Final do Projeto CNPQ, p.25.
4
A partir das entrevistas aprofundadas foram construídas seis biografias com
professoras que trabalharam a maior parte de sua vida nessa escola. Os dados das
6
Esse diário foi elaborado por ela para ser trabalhado com a segunda série do
curso primário. Como todos os anos optava por esta série, seguia-o fazendo
apenas algumas alterações para adequá-lo à turma e, também, à escola onde
estivesse lecionando. Iniciou sua elaboração no final dos anos 1950 e guarda-o
até hoje.
7
O jornal A Voz do Parnaíba teve sua primeira publicação em 14 de novembro
de 1952.
8
A primeria revista pedagógica do estado de São Paulo, publicada em 1895,
intitulava-se A Escola Publica e objetivava orientar o “professorado paulista” – Cf.
CRE Mario Covas – Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.
9
Vários estudiosos de currículo tratam esta socialização implícita como currículo
oculto. Só para citar alguns: QUEIROZ, Jean-Manuel de. L’école et sés
sociologies. Paris, Éditions Nathan, 1995., APPLE, M. Ideologia e currículo. São
Paulo: Brasiliense, 1982 e MOREIRA, A.F.B. e Silva, T. T. Sociologia e
Teoria crítica do currículo: uma introdução. In. SILVA, T.T. (org). Currículo,
Cultura e Sociedade. São Paulo: Cortez 1995.
10
Para Norbert Elias, a “civilização dos costumes” impõe um domínio do corpo e
a interiorização progressiva de um conjunto de regras morais que vão agir sobre o
comportamento individual e social dos homens. Para maior entendimento sobre
o assunto, ver: Elias, 1985.
11
Jean Hébrard em A escolarização dos saberes elementares na época moderna
classifica o rol das matérias em três subgrupos: o primeiro chamado de “saberes
elementares”, compreendendo as competências básicas de leitura, escrita e
cálculo. No segundo grupo as matérias propriamente científicas, as noções de
ciências físicas, químicas e naturais. O terceiro, designado por formação moral,
cívica e instrumental, tendo em vista as finalidades atribuídas às seguintes
matérias: geografia, história, educação cívica, moral, música, ginástica e
exercícios militares, desenho e trabalhos manuais.
12
Ver Jacques Ozouf, Nous les Maîtres d’Ecole, Paris, Julliard, 1967.
Considerações finais
13
Objetivo disposto no artigo 1º da Lei 342, de 12/12/1936.
Referências
Resumo
O presente texto refere-se, em particular, a uma festividade escolar
denominada Festa da Árvore, que teve o seu apogeu nos primeiros
anos da 1.ª República Portuguesa, e que era festejada nas escolas
primárias. A análise do nosso estudo restringiu-se à área geográfica
do Barreiro, localidade situada na margem sul do rio Tejo em frente
de Lisboa.
Palavras-chave: Festas; festa da árvore; 1.ª República; cultura
escolar.
*
Versão modificada do trabalho apresentado em mesa-coordenada sob a direção
do Prof. Dr. Décio Gatti Júnior, da Universidade Federal de Uberlândia,
intitulada “Currículos, práticas e cotidiano escolar na formação educacional,
moral e cívica de cidadãos no espaço luso-brasileiro”, no VII Congresso Luso-
Brasileiro de História da Educação, realizado no período de 20 a 23 de junho de
2008, na cidade do Porto, em Portugal.
1
Paul Connerton, Como as Sociedades Recordam, Oeiras: Celta Editora,
1993(1989).
2
Ibidem, p. 124.
A Festa da Árvore
3
Borges Grainha, O Analfabetismo em Portugal, suas causas e meios de as
remover, Lisboa: Imprensa Nacional, 1908, p. 48.
4
Roger Chartier, Lectures et lecteurs dans la France d’Ancien Régime, Paris:
Éditions du Seuil, 1987, p. 39.
5
Joaquim Pintassilgo, República e Formação de Cidadãos. A educação cívica nas
escolas primárias da Primeira República Portuguesa, Lisboa: Edições Colibri, 1998.
6
Roland Barthes, Mitologias, Lisboa: Edições 70, 1997(1957), p. 211.
7
Mona Ozouf, La Fête Révolutionnaire 1789-1799, Paris: Éditions Gallimard,
1976, p. 301.
8
Ibidem, p. 303.
9
António Walgôde, Eusébio de Queirós, Guia para a Organização e Realização
da Festa da Árvore, Porto: Companhia Portuguesa Editora, 1916, p. 12.
Fernando José de Almeida Catroga, A Militância Laica e a Descristianização da
10
13
Fernando Catroga, ob. cit., 1988, p. 608.
14
Mircea Eliade, O Sagrado e o Profano. A essência das religiões, Lisboa: Edição
«Livros do Brasil», 1975 (1959), p. 158.
15
Joaquim Pintassilgo, ob. cit., 1998, p. 183.
16
Ibidem.
17
Ibidem, p. 178.
18
O Século Agrícola, Ano II, N.º 23, Lisboa, 4 de Janeiro de 1913.
19
Mona Ozouf, ob. cit., 1976, p. 240.
20
Joaquim Pintassilgo, ob. cit., 1998, p. 178.
21
Em 26 de Maio de 1907, no Seixal, realizou-se a 1.ª Festa da Árvore,
promovida pela Liga Nacional de Instrução; depois, em Lisboa, no dia 19 de
Dezembro desse mesmo ano, na Avenida Alexandre Herculano, com a assistência
da Câmara Municipal, dos Directores-Gerais de Instrução Pública e da Direcção da
Liga Nacional de Instrução. Muitas outras se sucederiam, ao ponto de, já em 19 de
Fevereiro de 1909, na parte introdutória do livro 1.º Congresso Pedagógico de
Instrucção Primária e Popular, o presidente daquela Liga e deste Congresso escrever:
“tem-se celebrado desde então em grande número de localidades e com tanto
entusiasmo que se pode já considerar como uma festa escolar nacional, que de certo
influirá notavelmente no futuro desenvolvimento da nossa arboricultura” (p. v).
22
A festa nacional, tal como outras celebrações colectivas, é necessária para que
uma sociedade possa manter, preservar ou até criar uma memória que a oriente
25
Dominique Julia, Les Trois Couleurs du Tableau Noir. La Révolution, Paris:
Éditions Belin, 1981, p. 46.
26
Vidal Oudinot, Acção, Porto: Livraria Chardron, de Lélo & Irmão, Editores,
1915, p. 57. A interrogação entre parêntesis é do próprio autor.
27
Ibidem, pp. 57-58.
28
Sylvie Gonçalves Pereira, A Parte Recreativa da Festa. (O papel e funções das
festas escolares no 1.º ciclo do ensino básico do ponto de vista pedagógico, social,
moral, religioso e político na formação integral do aluno e da comunidade no distrito de
29
Arquivo Municipal do Barreiro, Livro de actas das sessões da Câmara Municipal
do Barreiro 1907/1908, 23 de Janeiro de 1908. A referida comissão era
composta pelos seguintes elementos, todos republicanos (alguns destes elementos
viriam a ser membros da Câmara Municipal – colocamos entre parêntesis a
profissão daqueles que pudemos identificar): Ricardo Rosa y Alberty (professor
primário), Francisco Rodrigues, Francisco Braz Melício, José Dupont de Sousa
(proprietário do Teatro Independente), José António Rodrigues (o mais antigo e
destacado republicano do Barreiro), José Maria da Costa Mano Júnior
(comerciante, agente bancário e de seguros), Manuel António de Faria, Júlio
Vellez Caroço (médico municipal), José Luís da Costa (farmacêutico, fiscal de
vinhos e azeite), Joaquim Lobato Quintino (proprietário de barcos de pesca),
Joaquim Ferreira Alves, José Tavares Vellozo (proprietário de uma papelaria),
Wenceslau Duarte de Oliveira, Eduardo Mendes Bello e Francisco Rosa y
Alberty. O professor Ricardo Rosa y Alberty pertenceria, no ano de 1913, à
Comissão Executiva da Liga dos Melhoramentos da Amadora, cujos retratos dos
seus membros aparecem na capa do jornal O Século Agrícola de 18 de Janeiro
desse ano, como “cooperadores da Festa da Arvore”; já em anos anteriores, essa
Liga havia realizado aquela Festa na referida localidade.
30
Junta de Freguesia do Lavradio, Livro de Actas n.º 1 – Outubro de 1910 a
Outubro de 1926, 16 de Novembro de 1911.
31
Arquivo Municipal do Barreiro, Livro de actas das sessões da Câmara Municipal
do concelho do Barreiro 1913, 2 de Janeiro de 1913.
32
O Século Agrícola, Ano II, N.º 33, Lisboa, 15 de Março de 1913.
33
Arquivo Municipal do Barreiro, Livro de actas das sessões da Câmara Municipal
do concelho do Barreiro 1913, 13 de Fevereiro de 1913.
34
Joaquim Pintassilgo, ob. cit., 1998.
35
Segundo O Século Agrícola de 14 de Dezembro de 1912, a árvore escolhida a
nível nacional para ser plantada no dia da festa seria a Amoreira Branca, pois era
uma árvore de fácil cultivo de norte a sul do país, e contribuía também para se
poder incrementar a cultura da seda (dado constituir a base da alimentação da
lagarta produtora desse fio natural), com explícita alusão à iniciativa do Marquês
de Pombal que, no século XVIII, havia mandado plantar essa espécie de árvores
como incremento para a sericicultura. Contudo, esta escolha geraria discordância
em muitos pontos do país, pois nesses locais a população estaria mais afeiçoada a
outras espécies locais, mas, como o intuito era “apenas fazer da Festa da Arvore
uma celebração bem da feição do povo entre o qual se realisa, bem da simpatia
das creanças em cuja inteligência, em cujo coração queremos que a sua
significação e a sua recordação bem se enraízem, não só não nos opomos mas
antes aplaudimos que, onde houver motivos essenciaes para a preferencia de
outras arvores ás amoreiras que propozemos, esse motivo de preferência seja
atendido” (O Século Agrícola, Ano I, N.º 21, Lisboa, 21 de Dezembro de 1912).
36
Arquivo Municipal do Barreiro, Livro de actas das sessões deliberativas da
Câmara Municipal – 2 de Janeiro de 1914 a 20 de Abril de 1915, 28 de Janeiro de
1914.
37
Arquivo Municipal do Barreiro, Livro de actas das sessões da Comissão
Executiva da Câmara Municipal – 2 de Janeiro de 1914 a 25 de Novembro de
1915, 19 de Fevereiro de 1914.
38
Ibidem, 12 de Março de 1914.
39
Joaquim Pintassilgo, ob. cit., 1998, p. 191.
40
Arquivo Municipal do Barreiro, Livro de actas das sessões da Comissão
Executiva da Câmara Municipal – 2 de Janeiro de 1914 a 25 de Novembro de
1915, 24 de Fevereiro de 1915.
41
Arquivo Municipal do Barreiro, Livro de actas das sessões da Comissão
Executiva da Câmara Municipal – 2 de Janeiro de 1914 a 25 de Novembro de
1915, 24 de Fevereiro de 1915.
42
Acção, Ano III, N.º 48, Barreiro, 15 de Abril de 1923.
43
Ministério da Instrução Pública, Secretaria-Geral, em 17 de Março de 1923,
Diário do Governo, II Série, N.º 66, de 21 de Março de 1923.
44
Acção, Ano III, N.º 50, Barreiro, 15 de Maio de 1923, p. 2.
45
Jean Maisonneuve, Les Rituels, Paris: Presses Universitaires de France, 1988,
p. 13-14.
46
Michel Maffesoli, A Transfiguração do Político. A tribalização do mundo pós-
moderno, Lisboa: Instituto Piaget, 2004 (2002), p. 152.
47
Joaquim Pintassilgo, ob. cit., 1998, p. 184.
48
Éco do Barreiro, Ano III, N.º 60, Barreiro, 15 de Abril de 1926.
49
Idem, Ano III, N.º 65, Barreiro, 15 de Junho de 1926.
50
Émile Durkheim, Educação e Sociologia, Lisboa: Edições 70, 2001 (artigos
originais da primeira década do século XX), p. 69.
Considerações Finais
51
Roland Barthes, ob. cit., 1997 (1957), p. 181.
52
António Walgôde, Eusébio de Queirós, ob. cit., 1916, p. 12.
53
Ibidem, p. 16.
54
Ibidem, p. 18.
55
Roger Caillois, O Mito e o Homem, Lisboa: Edições 70, 1980 (1938), p. 89.
Resumo
Vinculado a uma pesquisa maior que estuda a trajetória do Liceu de
Humanidades de Campos (LHC), instituição pública de ensino
secundário do Estado do Rio de Janeiro, o trabalho se centra no
período 1880-1930. Três aspectos principais articulam o texto: os
regulamentos e as normas expedidos pelos órgãos da administração,
que configuram, no tempo, a estrutura e o funcionamento da
instituição; as práticas, que operacionalizam -ou não- o que a
legislação sugere; e a materialidade dessas práticas, que configura os
suportes de circulação do ideário pedagógico da época. As fontes
indicam que até 1930 o LHC preocupou-se com o desenvolvimento
das Ciências Físicas e Naturais, sem, contudo, abandonar o ensino
das humanidades, que se tornou a marca da cultura da instituição e
da cidade.
Palavras-chave: Ensino Secundário; Cultura Material Escolar;
Práticas; Organização Curricular.
Introdução
1
De1892 a 1898.
2
Atualmente o LHC ministra o Ensino Fundamental da 5ª à 8ª série (antigo
curso ginasial), o Ensino Médio (antigo Ensino Secundário) e a modalidade
Educação de Jovens e Adultos (antigo ensino Supletivo). Possui
5
Pelo Ato Adicional de 1834 competia às províncias legislar sobre a instrução
primária e secundária. Contraditoriamente, o governo imperial exerceu ação
reguladora no setor, com os exames de preparatórios e a criação da necessidade de
equiparação.
6
A respeito ver MORAES, N.F.R. de. 2006 e MARTÍNEZ; BOYNARD;
GANTOS, 2006.
7
Decreto nº. 1389 de 21/02/1893 e Circular do Ministério de 28/02/1893.
8
O fato não era exclusividade do LHC. “Os preparatórios inviabilizaram as
tentativas de seriação do ensino secundário e provocaram, também, um
esvaziamento do mesmo. As matrículas nesses estabelecimentos, incluindo nessa
lista o Gymnasio Nacional, reduziram-se drasticamente. Os alunos não
chegavam ao fim do curso, pois a eles não importava a freqüência, uma vez que
os exames parcelados lhes garantiam o ingresso nos cursos superiores” (LLOPIS,
2006, p. 198).
9
A Lei Rivadávia Correia, de 1911, proporcionava total liberdade aos
estabelecimentos escolares, tornando a presença facultativa e des-oficializando o
ensino.
10
Decreto nº 1241 de 13 de março (expediente de 16/3/1912).
11
“As disciplinas serão leccionadas nas proprias aulas da Escola Normal, ou em
aulas especiaes, se assim o exigir a frequencia, havendo aulas distinctas de inglez,
latim, algebra, geometria e trigonometria” (Art. 4º). Nas Disposições
Transitórias diz: “Art. 1º- O pessoal administrativo do Lyceu de Campos será o
mesmo da Escola Normal dessa cidade, sem mais remunerações. Art. 4º- Na
regencia de cadeiras novas ou vagas nas escolas normaes poderão ser aproveitados
lentes ou professores vitalicios do Lyceu de Humanidades de Campos”.
12
Parágrafo 2º do Art. 4º do Decreto nº 1420, de 13/04/1915 (Expediente de
15/04/1915).
13
Pode ter sido em decorrência da Reforma Maximiniano, de 1915, que, em
reação à Lei Rivadávia, re-oficializa o ensino e regulamenta o acesso às escolas
superiores.
14
Documento existente no arquivo do Liceu mostra que em 1908, num total de
94 alunos, apenas 6 concluíram o curso do Liceu. Em 1913, a matrícula foi de
10 alunos; em 1914, de 36; em 1915, de 85; em 1916, de 102 alunos. Por sua
vez, a matrícula da Escola Normal manteve, no mesmo período, matrícula média
entre 120 e 140 alunos.
15
Em outro documento, relativo à Instrução Pré-Militar do LHC na década de
1930, a efetivação do processo de equiparação se deu pelo Decreto de nº 4081 de
13/6/1901.
16
Pelo Decreto de nº 2.181 de 12/07/1926 - aprovado pela Lei de nº 2112 de
27/11/1926.
CURRÍCULOS DO LHC
1910 1920 1927
Portuguez, Litteratura Portuguez do 1° ao Portuguez do 1° ao 3° anno♦
e Lógica 3° anno
Desenho Desenho do 1° ao 3° anno♦
Latim e Grego Latim no 2° e 3° Latim do 2° ao 4° anno♦
anno
Allemão Francez do 1° ao 3° Francez do 1° ao 3° anno
anno
Inglez Inglez do 1° ao 3° Inglez do 1° ao 3° anno
anno
Historia Universal e do Historia Universal no ∗
Brazil 3° e 4° anno
Historia do Brasil no Historia Geral e do Brasil do 2°
5° anno ao 5° anno
Geographia Geral, Geographia no 1° e Geographia no 1° anno
Cosmographia 2º anno
Chorographia do Brazil Chorographia do Chorographia do Brasil no 2°
Brasil no 2° anno anno
Philosophia e Logica Philosophia no 5° anno
no 5° anno
Instrucção Moral e Civica no 1°
anno
Arithmetica Arithmetica no 1° e ∗
2° anno
Algebra no 2º e 3° Algebra no 3° anno
anno
Geometria no 3º e 4° Geometria no 4° anno
anno
Trigonometria no 4° anno
Sciencias Physicas e Physica no 4º anno Physica no 4º e 5º anno
Naturaes Chimica no 4° anno Chimica no 4° e 5° anno
Physica Chimica no --------
5° anno
17
Professor do Liceu e da Escola Normal de Campos (1895 a 1925); Diretor
interino do Liceu (1924 e 1925); Poeta; Teatrólogo, Jornalista colaborador da
Revista “A Aurora” e dos jornais “A República” e “A Gazeta do Povo”
(CORDEIRO, 2007).
18
Fonte: Livro de termos de posse e exercício dos professores e demais
funcionários da Escola Normal de Campos e Lyceu de Humanidades de Campos,
de 1918. Arquivo Histórico do LHC.
19
Art. 134, Parágrafo único.
20
Alberto Frederico de Moraes Lamego, autor de A Terra Goitacá: à luz de
documentos inéditos. Niterói: Diário Oficial, 1943.
21
Presidente da Província do Rio de Janeiro.
Referências
Resumo
Trata-se da apresentação do processo de consulta, constituição e
arranjo de arquivos escolares utilizados durante o desenvolvimento de
investigações realizadas no âmbito do projeto “Tempo de cidade,
lugar de escola: um estudo comparativo sobre a cultura escolar de
instituições escolares exemplares constituídas no processo de
urbanização e modernização das cidades brasileiras (1880-1970)”,
coordenado pela Profa. Dra. Eurize Caldas Pessanha (Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul), com vice-coordenação exercida pelo
Prof. Dr. Décio Gatti Júnior (Universidade Federal de Uberlândia).
No presente artigo é apresentado o trabalho realizado pelos
pesquisadores envolvidos no projeto, abordando mais especificamente
os arquivos escolares da Escola Estadual Maria Constança Barros
Machado, de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul; da Escola
Estadual de Uberlândia, de Uberlândia, em Minas Gerais; do Liceu
de Humanidades de Campos, da cidade de Campos dos Goytacazes,
no Rio de Janeiro. Este trabalho com os arquivos escolares constituiu
condição necessária para o desenvolvimento de pesquisas sobre
*
Este texto é baseado no apresentado originariamente como parte do relatório
final apresentado ao CNPq do projeto “Tempo de cidade, lugar de escola: um
estudo comparativo sobre a cultura escolar de instituições escolares exemplares
constituídas no processo de urbanização e modernização das cidades brasileiras
(1880-1970)” que foi coordenado pela Profa. Dra. Eurize Caladas Pessanha
(UFMS). Participaram diretamente da elaboração do texto do referido relatório,
o vice-coordenador, Prof. Dr. Décio Gatti Júnior (UFU) e os pesquisadores:
Profa. Dra. Fabiany de Cássia Tavares Silva (UFMS); Profa. Dra. Silvia Alicia
Martínez (UENF); Profa. Ms. Maria Amelia de Almeida Pinto Boynard
(UENF); Profa. Ms. Giseli Cristina do Vale Gatti; Profa. Dra. Laurizete
Ferragut Passos (PUC-SP); Profa. Dra. Diva Otero Pavan (UNIANCHIETA).
Além do financiamento do CNPq, parte desta pesquisa foi finaciada pela
FUNDECT/MS e das instituições as quais os pesquisadores estavam vinculados.
Introdução
1
Tanto em documentos quanto em registros da imprensa e nos depoimentos de
entrevistas analisados, é recorrente a ênfase na importância da escola para o
prestígio da cidade. Parece claro, portanto, que a cultura escolar de cada uma
dessas escolas foi construída, historicamente, com uma vinculação estreita com a
organização, distribuição e ocupação do espaço urbana e com a identidade que a
própria cidade estava construindo para si mesma.
2
Atualmente, o Liceu de Humanidades de Campos ministra as últimas séries do
Curso Fundamental, a modalidade Educação de Jovens e Adultos e o Ensino
Médio; a Escola Estadual de Uberlândia e a Escola Estadual Maria Constança
Barros Machado ministram o Ensino Fundamental e Médio; a Escola Estadual
Conde do Parnaíba ministra as séries iniciais do Ensino Fundamental.
3
As informações constantes desse item foram fornecidas e redigidas por Maria
Amelia de Almeida Pinto Boynard e Silvia Alicia Martinez, com vistas à
elaboração do relatório final do projeto “Tempo de cidade, lugar de escola: um
estudo comparativo sobre a cultura escolar de instituições escolares exemplares
constituídas no processo de urbanização e modernização das cidades brasileiras
(1880-1970)”, sendo que as mesmas contaram com o apoio da bolsista de
iniciação científica Michele Gama e das bolsistas de Extensão Jussara Scafura
Mesquita Viana e Natalia Ribeiro Freire de Moraes e da voluntária Fernanda
Serafim Agum.
4
O Liceu de Humanidades de Campos teve como diretores e professores
expressões relevantes da política, maçonaria e literatura nacional.
5
Programa da Pró-Reitoria de Extensão da UENF que concede bolsas para
pessoas idôneas exteriores à universidade para trabalho e pesquisa em projetos de
extensão universitária.
6
Foi feita a análise dos documentos avulsos de cada caixa, dos livros de
matrícula, de atas, etc. assim como a identificação, catalogação e arrumação de
fotografias, retratos e demais fontes iconográficas, e das fontes jornalísticas.
PROJETO DE EXTENSÃO: PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO DE INSTITUIÇÕES ESCOLARES NO NORTE FLUMINENSE: O CASO DO LICEU DE HUMANIDADES DE CAMPOS.UENF
PESQUISA : TEMPO DE CIDADE, LUGAR DE ESCOLA : um estudo comparativo sobre a cultura escolar de escolas exemplares constituídas no processo de urbanização e modernização das
cidades brasileiras (1880-1970)
SIGLA DO PROJETO: CIDADESCOLA
INÍCIO: 2006 DURAÇÃO PREVISTA: 24 meses
EQUIPE: Manuel Dias da Fraga ( coordenador) Jussara Scafura Mesquita Viana (bolsista)
Silvia Alicia Martínez (sub- coordenadora) Natalia Freire Ribeiro de Moraes (bolsista)
Maria Amelia de Almeida Pinto Boynard (sub-coordenadora) Josete Pereira Peres Soares (voluntária)
TIPO DE FONTE: Documental
7
As informações constantes desse item foram fornecidas e redigidas por Décio
Gatti Júnior e Giseli Cristina Gatti, com vistas à elaboração do relatório final do
projeto “Tempo de cidade, lugar de escola: um estudo comparativo sobre a
cultura escolar de instituições escolares exemplares constituídas no processo de
urbanização e modernização das cidades brasileiras (1880-1970)”.
O trabalho no arquivo
da Escola Estadual Maria Constança Barros Machado,
1938, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul8
8
As informações constantes desse item foram fornecidas e redigidas pela Profa.
Dra. Eurize Caldas Pessanha e Profa. Dra. Fabiany de Cássia Tavares Silva,
com vistas à elaboração do relatório final do projeto “Tempo de cidade, lugar de
escola: um estudo comparativo sobre a cultura escolar de instituições escolares
exemplares constituídas no processo de urbanização e modernização das cidades
brasileiras (1880-1970)”, sendo que as mesmas contaram com o apoio de Marta
Banducci Rahe, Maria Fernandes Adimari, Gilvan Milhomem, Maria Cecília de
Medeiros Abras, Nilcéia da Silveira Protásio Campos, Manoel Câmara Rasslan,
Cláudia Natália Sales Quiles, Marcia Proescholdt Wilhelm, Rosana Sant’Ana de
Morais, Stella Sanches de Oliveira, Suzana Mancilla Barreda e Crislei Aparecida
Alves de Almeida na organização do arquivo da Escola Estadual Maria
Constança Barros Machado.
Considerações Finais
Referências
Resumo
O artigo focaliza certos limites presentes no modo como as categorias
tática e estratégia vêm sendo consideradas no estudo das práticas de
consumo cultural. Para tanto, são retomadas algumas discussões
sobre a pertinência do modelo proposto inicialmente por Michel de
Certeau em sua obra fundadora A invenção do Cotidiano (1980) que,
de modo binário, distingue táticas de estratégias e, com isso, fortes de
fracos, dominantes de dominados. Esse tema será abordado a partir
de dados reunidos no âmbito de uma investigação que buscou
identificar horizontes de expectativas dos leitores do Almanaque Abril,
por meio da análise de cartas escritas e enviadas pelos mesmos ao
longo da década de 1990. As análises realizadas sugerem que a
leitura seja uma atividade de tipo tática, tal como ensina M. de
Certeau, mas que, sob determinadas condições, assume traços
estratégicos relacionados à busca de um lugar próprio por parte do
leitor. É possível considerar, portanto, que em certos casos, as
categorias tática e estratégia estabeleçam uma relação de
interdependência regulada por um estado permanente de tensão que é
reafirmado e atualizado no interior de cada experiência social e
individual.
Palavras-chave: Leitura; Táticas; Estratégias; Michel de Certeau.
1
A esse respeito ver Urfalino (1981); A-M Chartier & J. Hebrard (1988); Dosse
(2002); Hebrard (2005).
2
François Dosse (2002) ressalta que Michel de Certeau contrapõe-se ao conceito
de habitus, tal como proposto por Pierre Bourdieu, que relativiza a presença da
criatividade e da resistência nos processos de dominação.
3
Trata-se da tese de doutorado de Mateus Henrique de Farias Pereira “A
Máquina da Memória”: história, evento e tempo presente no Almanaque Abril
(1975-2006), apresentada em 2006 ao Programa de Pós-Graduação em
História, da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal
de Minas Gerais. Embora os dados aqui focalizados tenham sido reunidos por
ocasião daquela pesquisa, as análises ora apresentadas constituem fruto de um
trabalho de parceria entre os autores deste texto.
4
Conforme acordado com a direção de redação do Almanaque Abril, não será
revelada a identidade dos leitores do Almanaque, uma vez que estas cartas não
foram escritas para serem publicadas.
5
Sobre essas questões, ver RICOEUR (1985).
Leitores Críticos
6
Josefina Duques, entrevista ao autor, 21/01/01. Na época esse programa
televisivo, comandado pelo apresentador Sílvio Santos, fazia perguntas de
conhecimento gerais aos candidatos.
Leitores Satisfeitos
7
Sobre a questão da confiança nos materiais simbólicos mediados e nos sistemas
peritos, ver GIDDENS (1991).
vestibulares e passei nos três. Sabe com que estudei para a área de
Geografia e História, além de Artes e Literatura? Resposta:
Almanaque Abril ”.
Os professores eram, em geral, os intermediários
culturais que contribuíram para a manutenção do valor simbólico
do Almanaque Abril. Dada à intensa profusão de materiais
simbólicos mediados, eles indicavam a publicação como uma fonte
legítima para a aquisição de conhecimento e para a auto-formação.
Eis o que diz um deles: “para os carentes de conhecimento a
reportagem sobre a capoeira (...) é demais. Sou professor de
Matemática e gosto de conhecimentos gerais. É preciso estar em
sintonia com a globalização”8.
Referente à edição 1996 encontramos algumas
observações no que diz respeito à organização e ao conteúdo, a
saber: “por ser atualizado, linguagem simples pode ser usado até
por crianças”; “em minha casa ele é muito usado por mim e meus
filhos, para pesquisa escolar. Acho-o prático e claro em seus
textos”; “o índice diversificado ficou muito bom”; “no ano passado
sugeri que colocassem filosofia, recebi uma carta da Abril
informando que a edição 96 viria com filosofia, pela minha
sugestão. Adorei.”; “todos os assuntos em um só conjunto
distribuídos de A a Z = novidade! Ótimo!”; “surpreendente, vocês
revolucionaram. A mais perfeita combinação entre didática e
curiosidades”. Há, ainda, várias comparações com enciclopédias:
“as enciclopédias têm alguns assuntos desatualizados, além de ser
um produto caro, nem sempre disponível as famílias de classe
média, diferente portanto desta publicação atualizadíssima e de
baixo custo”; “desde o ano passado passamos a nos utilizar do
Almanaque, ele nos tem ajudado muito”.
8
Existem peças publicitárias do Almanaque destinadas exclusivamente aos
professores. Ver, por exemplo, Nova Escola. Almanaque Abril 97. Não pode faltar
na sua lista. 01/03/1997, No. 100, p. 6.
Leitores solicitantes
9
Infelizmente não podemos inferir possíveis diferenças de capital simbólico,
econômico e cultural entre esses grupos de leitores.
Referências
Resumo
Este trabalho aborda a gênese e constituição de uma instituição de
ensino de arte: a Escola de Belas Artes de Pelotas (EBA). O objetivo
do estudo é esclarecer quais foram as condições que possibilitaram a
criação da EBA em março de 1949. A constituição desta narrativa
histórica tem por base fontes escritas, formadas pelos arquivos da
própria instituição, pelo arquivo particular da família da fundadora da
Escola, por periódicos locais e por trechos do diário da fundadora,
além de fontes orais. Pela análise das fontes, concluímos que o
nascimento da EBA se deu por uma conjunção de fatores, os quais
seriam a vocação cultural da cidade, oriunda da sua história peculiar,
e a atuação de personalidades que, naquele momento, fizeram
acontecer o fato histórico.
Palavras-chave: Escola de Belas Artes; Instituição de Ensino de
Arte; História da Educação; História das Instituições Escolares.
Introdução
1
BRASIL. Congresso. Senado Federal. Anais. Rio de Janeiro, 1870, p.3.
2
Posteriormente, no fim do séc. XIX, com a preparação para a República,
passaram a ser consideradas importantes dentro do sistema educacional as
faculdades de Direito, formadoras da elite dirigente do regime republicano. Já nos
primeiros anos da República, foi a necessidade de uma elite que governasse o país
que norteou o pensamento educacional brasileiro.
3
A Missão Artística Francesa havia chegado ao Brasil neste mesmo ano.
4
A arte realizada no país até o momento da implantação da Academia, era
ensinada pelos jesuítas e tinha características de um barroco abrasileirado. Com a
implementação do ensino na Academia, de caráter neoclássico, houve
rompimento com o desenvolvimento desta arte que acontecia no país, dividindo
opiniões. A esse respeito, consultar Barbosa, 2006.
5
Assim, a própria Academia Imperial das Belas Artes brasileira foi implementada
a partir do modelo francês, ou melhor, da Academia francesa, com a sua
influência artística e estética.
6
Quando a Corte portuguesa se transfere para o Rio de Janeiro, em 1808, o Rio
Grande do sul estava em processo de integração, não estava assegurado o domínio
de Portugal sobe ele. A população era formada, basicamente, por remanescentes
do projeto missioneiro jesuítico, por grupos indígenas e por homens livres.
Africanos, e também índios, viviam como escravos. O Rio Grande do Sul era
uma sociedade militarizada, voltada para a expansão e defesa do território.
Estancieiros, charqueadores, burocratas (representantes do governo central) e
comerciantes configuravam a classe dominante. Em 1822, a independência não
modificou o localismo que aqui havia, pois as elites regionais pensavam de modo
diferente do dos dirigentes do processo de independência no Rio de Janeiro,
havendo muitas tensões (por exemplo, a Guerra dos Farrapos). Na pré-
independência, a capitania ainda se ressentia da centralização financeira e
político-institucional do Rio de Janeiro. Quando da abolição da escravatura, não
havia se formado aqui uma classe de empresários verdadeiramente capitalistas. E
com a República, a elite local demorou a buscar uma reorganização produtiva,
reforçando a condição periférica da província.
7
O deslocamento de artistas europeus para países de outros continentes,
especialmente para as Américas, está ligado ao processo de periferização que se
fazia sentir nos lugares de onde provinham. Esgotadas as possibilidades de
trabalho em centros muito disputados, restava ao artista recolher-se para cidades
provincianas e, em último caso, migrar para pólos ainda carentes do trabalho de
artistas. Uma outra explicação para o fenômeno é que o estilo empregado pelo
artista pode ter deixado de interessar ao público comprador, por estar
desatualizado. Neste caso, restava-lhe refugiar-se em regiões periféricas, onde os
gostos fossem mais conservadores, e seu trabalho pudesse encontrar maior
receptividade. Talvez este fenômeno ajude a explicar a significativa representação
de estrangeiros radicados no sul do Brasil, que, na medida de suas possibilidades,
exerceram importante papel no incentivo das atividades artísticas de tradição
européia junto à população gaúcha. (Bohns, 2005, p.24-25)
8
Amiga de D. Marina, professora e vereadora do município de Pelotas.
que ela tinha pela escola!”. Para lá, ela levou muita gente do Assis
Brasil.
Já a antiquária Luciana Reis9, começa a entrevista
dizendo: “A Escola de Belas Artes é um sonho da Dona Marina”.
E continua: “Dona Marina de Moraes Pires, que foi colega do
Leopoldo Gotuzzo”. Os dois teriam sonhado com um estudo
diferente em arte. Então, Luciana diz que a Dona Marina
lecionava desenho no Assis Brasil e conseguiu emprestada uma
sala, que logo se mostrou insuficiente, diz que esta foi só uma
tentativa... Mais adiante na entrevista, após abordar diversos
outros assuntos, volta a falar da fundadora dizendo que a Dona
Marina queria oferecer para a cidade um curso de Belas Artes.
Quase ao final da sua fala arremata: “A EBA é um sonho da
Dona Marina tornado realidade”.
Therezinha Röhrig, que foi aluna da D. Marina no Assis
Brasil, relata:
9
Luciana é casada com Luis Reis, sobrinho de Dona Marina. Algumas vezes
referiu-se a ela como “tia” Marina.
10
Instituição criada em 1929 como escola complementar, passa depois a
funcionar como IEAB e existe até hoje
11
Grupo de mesma classe social, com identidade de interesses.
12
São sete filhos: Gilka, Inácio Luís, Claro, Rosina, Ney, Plínio e Milton.
13
Deputado Artur Souza Costa
14
Pseudônimo de Francisco Vidal Dias da Costa, psicólogo e cronista de arte,
que colaborou sistematicamente por cerca de 50 anos no Diário Popular.
Considerações Finais:
A conjunção de fatores que levaram à fundação da Eba
15
Um afresco de cerca de 800 metros quadrados, tendo como tema a vida do
fundador da Ordem dos Eremitas de São Francisco.
16
Para maiores informações sobre a obra de Aldo Locatelli, vide ROSA, Renato;
PRESSER, Décio. Dicionário de Artes Plásticas no Rio Grande do Sul. Porto
Alegre: UFRGS, 1997; PONTUAL, Roberto. Dicionário das Artes Plásticas
no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969.
Referências
Resenha do livro:
PEIXOTO, A. M. C. Educação e estado novo em Minas Gerais.
Bragança Paulista, SP: EDUSF, 2003. 458 p.
Referências
DESPESAS
3 mestres de Ler, Escrever e Contar, nas três povoações principais
desta Capitania, com o ordenado anual de duzentos mil reis, cada
um.............................................................................................. 600$000
1 professor de Gramática Portuguesa e Francesa, trezentos mil reis
de ordenado anual........................................................................ 300$000
1 professor de Gramática Latina, a trezentos mil reis anuais............ 300$000
1 dito de Filosofia Racional e Moral com o honorário de
quatrocentos mil reis anuais.......................................................... 400$000
1 dito de Aritmética, e primeiros elementos de Geometria e
Trigonometria, com quatrocentos mil reis de ordenado anual........... 400$000
Total de despesas.......................................................................... 2:000$000
Deduzidas de............................................................................... 3:338$496
Resta........................................................................................... 1:338$496