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Mais uma dúvida na área da interpretação jurídica – na busca da fixação do sentido e do alcance da norma, deve-se
buscar o sentido prescrito pela lei (mens legis) ou o sentido querido pelo legislador, seu pensamento (mens
legislatoris).
Rizzatto nos remete à seguinte questão – qual o melhor governo (direção, condução), o das leis ou o dos seres
humanos?
Fazendo um paralelo já se tem uma vaga idéia de que devemos interpretar a lei e não a vontade do legislador – ser
humano – mas tracemos quais os critérios dessa conclusão.
Buscando o sentido querido pelo legislador Buscando o sentido prescrito pela lei.
Não se pode pensar no legislador de maneira isolada, A norma jurídica tem vida. Uma vez editada, ganha
uma vez que as normas jurídicas emanam dos seu poder de império e passa a submeter a todos –
parlamentos e em qualquer esfera – Federal, Estadual e governantes e governados.
Municipal.
A composição do parlamento é heterogênea; não existe A norma jurídica não tem dono, não pertence a
fidelidade partidária, a linguagem, o estilo, as idéias são ninguém. A norma jurídica pertence a todos, à
diferentes... a sociedade sequer consegue identificar as comunidade.
correntes de pensamento existentes.
Raramente os projetos são votados por unanimidade – a Após editada, colocada em vigor, a opinião do
aprovação é por maioria – o que torna mais difícil legislador já não tem importância “real”, pois a
detectar a vontade ou intenção do parlamento. norma, ganhando vida própria, submete o próprio
legislador, que também está obrigado a cumprir suas
determinações.
As leis são feitas para durarem muito tempo, enquanto Ninguém pode estar acima da norma, nem mesmo o
os parlamentares mudam, assim como as composições legislador.
partidárias.
Não se pode propriamente falar em “seres humanos” Mesmo que se admita que o legislador tenha
legisladores, uma vez que eles lá estão para preencher claramente definido em seu pensamento o que
um cargo. Fora desse cargo, a vontade e o pensamento pretende com certa norma, pode acontecer que, ao
do legislador não tem validade alguma, é apenas uma editá-la, ela gere conseqüências inesperadas e
opinião. imprevistas.
As vontades dos homens são difíceis de ser captadas. As circunstâncias sociais se alteram com o passar do
São obscuras; mudam com facilidade; são dúbias e se tempo e o legislador não pode prever tais alterações e
alteram com rapidez. nem mais opinar acerca delas, então, a norma estando
em vigor, deve ser analisada em função das mudanças
sociais ocorridas.
Rizzatto – Cabe ao intérprete buscar fixar o sentido
pretendido pela norma jurídica e não o querido pelo
legislador. O intérprete pode socorrer-se de documentos
que embasaram a norma – projetos de lei; fatores
históricos – a pesquisa pode ser valiosa, mas não muda
o que está na lei. Pode até ocorrer que, uma vez
inquiridos os legisladores originais, eles opinem em
sentido inverso ao expressado pela lei, porém, o que
vale é a norma e ponto final.
4 – O sistema jurídico.
O estudante do Direito tem como mapa a classificação das normas jurídicas, que revelam as regras de relações e
inter-relações dos elementos do direito, logo, revelam o sistema jurídico.
Este é o objeto modelo que demonstra o funcionamento do direito, porém, ainda não está completo... é necessário
interpretá-lo e, ainda, estudar, entender e preencher as lacunas existentes neste sistema.
O estudante de geografia observa o mapa fluvial para conhecer os rios e afluentes. O mapa apresenta então toda a
realidade fluvial, porém, com esta não se confunde – apenas uma pesquisa de campo trará a verdadeira realidade –
os rios apresentam curvas que não estão no mapa, espessuras que variam continuamente e pequenos afluentes...
Quanto à hierarquia :
Quanto à natureza de suas disposições:
Quanto à aplicabilidade:
Quanto à sistematização:
Quanto à obrigatoriedade:
Quanto à esfera do Poder Público que emanam:
...
5 – As regras de interpretação
Para podermos dominar a questão da interpretação jurídica é necessário, então, fixar o sentido e o alcance das
normas, aprender e compreender o sistema jurídico e também, conhecer e aplicar as regras de interpretação, quais
sejam:
a) A interpretação gramatical; b) A interpretação lógica; c) A interpretação sistemática; d) A interpretação
teleológica; e) A interpretação histórica; f) A interpretação quanto aos seus efeitos (declarativa, restritiva e
extensiva).
a) A interpretação gramatical
● O primeiro contato do interprete com o texto posto é feito através das palavras e suas funções
sintática (relação e inter-relação entre palavras e frases) e semântica (significado das palavras).
● É necessário prestar atenção às redações dos textos normativos, pois revelam, às vezes, duplo s
● Além disso, algumas vezes, na elaboração do texto normativo, utilizam-se conceitos jurídicos
indeterminados ou abertos, justamente para que o interprete adapte o texto à situação concretamente
vivida.
Exemplos:
- o art. 334, I do CPC, dispõe que não dependem de provas os fatos notórios. (é problema do intérprete saber a
noção de fato notório – notório seria então o conhecido por todos, por certo grupo social, por especialistas?).
- o art. 3o da LCA, revela que as pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativamente, civil e penalmente.
(é problema do interprete saber a noção de pessoa jurídica, assim como de responsabilidade civil, penal e
administrativa).
b) A interpretação lógica
● A questão da lógica aplicada ao direito é muito mais complexa do que nos explica Rizzatto. É necessário
estudo profundo sobre o que vem a ser lógica, sua história, suas divisões, princípios, sua classificação...
● É a utilização de INSTRUMENTOS para verificação e adequação dos textos normativos, buscando respostas
aos problemas encontrados.
Existem vários instrumentos utilizados pelo estudo da lógica, iremos estudar apenas um = silogismo = onde
encontramos a questão da premissa maior e premissa menor para chegarmos a uma conclusão.
3. Essa proposição, que é a matéria do raciocínio é falsa, portanto, todo o raciocínio é falso.
P MA – Toda mulher é barbeira.
P ME – Viviane é mulher.
C – Logo, Viviane é barbeira.
1. Devemos tomar cuidado com a falsidade do raciocínio.
2. A conclusão está correta, pois analisamos as duas proposições de forma correta.
c) A interpretação sistemática
● Por essa regra, cabe ao intérprete levar em conta a norma jurídica inserida no contexto maior de sistema
jurídico e também analisar a norma em sua própria ordenação interna.
● Análise da norma em sua própria ordenação interna:
● - o interprete não deve ler um artigo da norma jurídica de forma isolada do conjunto de artigos. Assim, os
incisos (I, II, III...), parágrafos (§§) e alíneas (a, b, c...) devem ser lidos em consonância com o que está dito
no corpo principal do artigo – (caput). É necessário levar em consideração a seção ou o capítulo em que
todos estão inseridos.
Exemplo: PNMA
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população
III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente:
Definição de poluição em que contexto? Definição para a biologia? Definição para o português?
Art. 3º- Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:
Art. 2º- A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da
qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócioeconômico,
aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios:
d) A interpretação teleológica
● A interpretação é teleológica quando considera os fins aos quais a norma jurídica se dirige (telos = fim).
● Quando o intérprete determina os fins da norma ele limita a interpretação de todos os artigos e capítulos da
norma.
Exemplo:
Quando se interpreta qualquer artigo da Lei 6.938/81 – Política Nacional do Meio Ambiente, não se pode esquecer
das finalidades daquela lei, quais sejam:
- ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimônio
público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo;
- racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;
- planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;
- proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas;
- controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras;
- incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteção dos recursos
ambientais;
- acompanhamento do estado da qualidade ambiental;
- recuperação de áreas degradadas;
- proteção de áreas ameaçadas de degradação;
- educação ambiental a todos os níveis do ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la
para participação ativa na defesa do meio ambiente.
● Não se pode esquecer que, além da finalidade específica de cada norma jurídica, todas elas estão
submetidas a fins maiores e irrenunciáveis prescritos na própria Constituição Federal, tais como: dignidade
do homem, bem comum...
e) A interpretação histórica
● Interpretação que se preocupa em investigar os antecedentes da norma: como ela surgiu; por que surgiu;
quais eram as condições sociais do momento em que ela foi criada; quais eram as justificativas do projeto;
que motivos políticos levaram a sua interpretação...
● A norma pode permanecer a mesma, mas a interpretação que lhe é dada pode alterar com o passar do
tempo.
● Pode ocorrer inclusive, que em dadas as circunstancias sociais atuais, a norma já não tenha razão de existir.
A interpretação quanto aos seus efeitos reflete o RESULTADO do ato de interpretar (depois de utilizadas todas as
regras de interpretação – instrumental). Dividindo-se em meramente declarativa ou declarativa (especificadora),
restritiva e extensiva.
- A meramente declarativa é simplesmente tautológica (tautologia = vício de linguagem que consiste em dizer, por
formas diversas, sempre a mesma coisa).
Ex.:
Art. 36 do CDC – A publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor, fácil e imediatamente, a
identifique como tal.
Texto elaborado após interpretação:
Toda publicidade deve ser divulgada de maneira que o consumidor a entenda de forma fácil e imediata.
Interpretação Restritiva
- A interpretação restringe o sentido e o alcance apresentado pela expressão literal da norma jurídica. Ocorre a
interpretação restritiva quando a lei diz mais do que o legislador pretendeu. Silvio Venosa.
Ex.:
Art. 225 da CF/88- Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
“Todos quem?” – interpretação restritiva.
Todos os seres humanos?
Todos os brasileiros e estrangeiros residentes no país?
Doutrina - interpretação restritiva – brasileiros e estrangeiros residentes no país. Interpretação restritiva – questão
de soberania.
Interpretação Extensiva
O legislador, pretendendo abranger hipótese mais ampla, disse menos do que pretendeu. O intérprete alargará
portanto a compreensão legal, estendendo o campo de abrangência. Silvio Venosa.
Ex.:
Art. 9o da PNMA – São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente:
II – O zoneamento ambiental.
Interpretação extensiva quanto ao zoneamento ambiental de doutrinadores.
Zoneamento Ambiental = ecológico, econômico, industrial, unidades de conservação, urbano...
- A cada dia nascem mais e mais normas integrando nosso sistema jurídico, segundo Rizzatto, qualquer ação ou
comportamento que procuremos empreender já está previsto no sistema jurídico, desde os públicos até os mais
íntimos. Se a norma jurídica não proíbe, ela obriga, permite ou garante.
- Porém, por mais que os legisladores queiram, não conseguem acompanhar a dinâmica de transformação da
realidade social, portanto, haverá casos que não foram previstos pelas normas jurídicas, e nessa hipótese podemos
falar que estamos diante de um vazio ou de LACUNAS nas normas jurídicas.
As lacunas não estão no sistema jurídico, mas nas normas jurídicas e, através dos meios de
integração, o intérprete preenche esses vazios.
Art. 4o LICC – quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os
costumes e os princípios gerais do direito.
Integração – meio pelo qual o intérprete preenche a lacuna encontrada após ter lançado mão
de todas as regras de interpretação existentes.
Para tanto o intérprete utilizará a analogia e os princípios gerais do direito.
Analogia - processo lógico pelo qual o aplicador da lei adapta, a um caso concreto não previsto pelo legislador,
norma jurídica que tenha o mesmo fundamento.
Ex.: os tribunais brasileiros aplicaram a analogia para estender aos transportes rodoviários coletivos o conceito de
culpa presumida criado pelo Decreto nº 2.681, de 7.12.1912, que regulou a responsabilidade civil das estradas de
ferro.
*Analogia em casos penal – discussão doutrinaria – aplica-se apenas para beneficiar o réu, mesmo porque não há
crime sem lei anterior que o defina. * crimes cometidos pela internet.
Princípios Gerais do Direito - Na falta da lei e na falta da analogia o intérprete utilizará os princípios gerais do
direito.
Ex.:
Juiz decidindo pela dignidade do homem...
O intérprete não pode desconsiderar a boa-fé objetiva que é o atual padrão da conduta na sociedade
contemporânea.
Regra de conduta a ser observada pelas partes envolvidas numa relação jurídica.
A Boa-fé objetiva é fundamento de todo o sistema jurídico, de modo que ela pode e dever ser observada em todo o
tipo de relação existente, é por ela que se estabelece o equilíbrio esperado para a relação, qualquer que seja esta.
Composta basicamente pelo dever fundamental de agir em conformidade com os parâmetros de lealdade e
honestidade.