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Erros e Mitos em Acústica Arquitetônica:


isopor, caixa de ovos e afins

E.B. Viveiros

GAAMA – Grupo de Acústica Arquitetônica e do Meio Ambiente – Laboratório de Conforto Ambiental –


Universidade Federal de Santa Catarina, Cx.P 476, Florianópolis, SC, Brasil, elvira@arq.ufsc.br

RESUMO: A acústica arquitetônica, e mais especificamente a acústica de salas, é uma área de conhecimento
relativamente nova, cujos fundamentos foram estabelecidos na segunda década do século XX com as pesquisas
do americano Wallace C. Sabine sobre reverberação. A câmara reverberante do Riverbank Labs, pronta em 1918,
permitiu que Sabine formulasse a famosa expressão do tempo de reverberação. A partir daí, o entendimento
sobre o campo acústico em ambientes fechados desenvolveu-se rapidamente. No Brasil, somente no final
daquele século é que a área de conhecimento começou a tomar forma, quase que exclusivamente através das
pesquisas desenvolvidas nos cursos de engenharia mecânica. Agora, no início do século XXI, estudos têm sido
conduzidos em diversos centros, freqüentemente em escolas de arquitetura. Mais recentemente, a acústica de
edificações, e em especial o isolamento acústico, tem despertado interesse da população dos centros urbanos,
talvez induzida pelo anseio de melhora das edificações brasileiras, tão desprovidas de qualidade acústica.
Infelizmente, porém, com o florescimento do tema em eventos científicos, e mesmo na mídia não especializada,
observa-se a repetição exaustiva de erros conceituais, o que prejudica a disseminação do conhecimento
acumulado. Este artigo trata de erros conceituais e “mitos” que foram levantados, ao longo dos anos, em
publicações de grande alcance e, até, em veículos especializados, tais como anais de congressos brasileiros.
Apresentam-se exemplos representativos às análises em questão, e não particulares a determinado autor que, em
cada caso, procurou-se preservar a identificação. São discutidas as possíveis razões que elevam elementos com
desempenho de absorção ou isolamento acústico insignificantes, tais como a caixa de ovo, à condição de
"materiais acústicos" consagrados.

KEYWORDS: acústica de salas, acústica arquitetônica, acústica de edificações, isolamento acústico.


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1. INTRODUÇÃO
Temas relacionados à acústica têm recebido, recentemente, a dedicação por parte de muitos
pesquisadores do país. Até a mídia não-especializada tem dado atenção à questão, mas,
infelizmente, o que parece estar se disseminando é a desinformação. Se a publicação de um
equívoco é indesejável, a ausência de posição crítica por parte da comunidade científica é
inaceitável, pois os erros se consagram com o endosso da veiculação. Dessa forma, é
imperativo o questionamento a respeito do que sai publicado, colaborando-se para que
crenças populares sejam desfeitas.
Em revistas científicas internacionais a crítica é usual, sendo comum encontrarem-se
artigos que questionem, ou mesmo contestem, publicações anteriores, como pode ser visto,
por exemplo, em artigos no Journal of the Acoustical Society of America [1,2] uma das mais
conceituadas publicações em acústica no mundo. Há discussões severas [3], sempre no campo
científico, o que, inexoravelmente, conduz ao enriquecimento do tema em questão. As
reflexões e discussões por parte dos pares são saudáveis e trazem como benefício o controle
de qualidade das publicações. Tais embates de idéias, às vezes, prolongam-se por vários
números, como por exemplo, o que pode ser visto no Journal of the Audio Engineering
Society. Entre réplicas e tréplicas publicaram-se cinco artigos sobre determinado assunto [4].
Este artigo procura contribuir para a melhora na qualidade da produção em acústica,
fazendo uma reflexão a cerca das incorreções freqüentemente publicadas no país. A primeira
parte enfoca os materiais que são considerados mitos, com exemplos extraídos da mídia. A
seguir, apresentam-se erros conceituais encontrados em artigos científicos ou veículos de
massa. Sugerem-se possíveis razões que possam ter contribuído para essa deficiência de
conhecimento em acústica.

2. MITOS EM ACÚSTICA

2.1 Caixa de ovo


Parte do inconsciente coletivo, a caixa de ovo desfruta de status não superado por nenhum
outro material. A trivial embalagem tem desempenho quase mítico, conceito gozado
principalmente entre músicos. Absorver, isolar, ‘abafar’ o som, as mais diversas funções são
associadas ao objeto, sempre com performance imbatível. A Figura 1 transcreve trecho de
entrevista levada à televisão pelo Jornal Hoje, da Rede Globo, transcrita em seu site [5].

Figura 1 – Texto de entrevista com músico onde a caixa de ovos é referida como ótima para
‘abafar’ o som.

O desconhecimento sobre o comportamento acústico dos materiais alimenta, inclusive, um


comércio paralelo, voltado ao atendimento do imaginário popular. A Figura 2 mostra anúncio
encontrado em site da internet [6] destinado ao comércio de produtos entre particulares.
A crença de que caixas de ovos têm utilidade para fins de adequação acústica de
ambientes não é algo específico do Brasil, mas, inacreditavelmente, têm abrangência mundial.
Em site de empresa britânica especializada em controle de ruídos, na página dedicada a
perguntas do público em geral, encontra-se a questão colocada mais uma vez: “Can I use egg
boxes to sound insulate my room? No. Absolutely not!”, que se traduz por “Posso utilizar
caixas de ovos para isolar minha sala? Não, de jeito nenhum!” [7].
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Figura 2 – Anúncio do site Mercado Livre onde caixas de ovos são oferecidas para
‘isolamento acústico’.

Uma possível explicação para a associação da caixa de ovos com qualidade acústica talvez
esteja em sua geometria. Como diversos materiais de absorção comercialmente vendidos têm
superfície não plana, que lembra a embalagem, talvez creditem bom desempenho de absorção
à forma em si, e não ao material. O perfil sinuoso, porém, tem como fim o aumento da área do
material, ele sim responsável pela absorção. A matéria prima da caixa de ovos não é
permeável ao fluxo de ar, o que é impeditivo para um bom desempenho de absorção resistiva.
É entendimento do autor, no entanto, que a camada de ar aprisionada entre as caixas e a
parede pode ser responsável por trazer algum amortecimento sonoro, o que explica a
satisfação com o recurso por parte de alguns ‘músicos de garagem’.

2.2 Isopor

A incompreensão dos fenômenos acústicos chega, até, a ter conseqüências desastrosas. Em


2003, o uso de fogos de artifícios em casa noturna em Belo Horizonte iniciou um incêndio
que consumiu o estabelecimento. Agravado pelo fato das saídas de emergência estarem
trancadas, o grande número de vítimas foi decorrente da velocidade com que o fogo se
alastrou. Infelizmente, a imprensa à época creditou ao ‘isolamento acústico’ a
responsabilidade da situação, em razão da existência de um forro de isopor sobre o palco,
conforme descrito na Figura 3(a), em trecho de reportagem publicada sobre o assunto [8].
Apesar de a notícia mencionar, genericamente, apenas a expressão ‘isolamento’, é de
conhecimento do autor que se refere a isolamento acústico, pois assim foram feitas referências
em reportagens sobre assunto, até mesmo no principal jornal de TV aberta do país, o Jornal
Nacional. Procurada pelo autor, infelizmente a rede de televisão nada veiculou, permanecendo
para os espectadores a informação que o isopor era para fins de isolamento acústico.
Não é somente o público leigo que considera isopor como elemento de isolamento
acústico. O jornal A Notícia [9] publicou reportagem onde apresenta o projeto de uma casa de
isopor, de autoria de uma professora universitária. Conforme mostra a Figura 3(b), novamente
o isopor é alçado à condição de provedor de ‘isolamento acústico’.
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(a) (b)
Figura 3 – Detalhes de artigos: (a) que noticia incêndio de grandes proporções e se
referencia ao isopor como elemento de isolamento e (b) onde o isopor é retratado como
elemento de ‘isolamento acústico’.

A incapacidade de distinguir materiais com desempenhos distintos está presente em pessoas


com diferentes níveis de envolvimento com o tema, desde a academia até o público em geral.
Esse desconhecimento também é encontrado em categorias sociais diversas. A Figura 4
mostra um fragmento de reportagem [10], publicada na revista Isto É, onde são descritos
detalhes do seqüestro do publicitário Washington Olivetto, ocorrido em São Paulo. Apesar de
não estar especificado, é dito que as paredes do cativeiro tinham revestimento de isolamento
acústico. Outros veículos, porém, noticiaram que painéis de isopor forravam as paredes. Este
autor contatou diversos órgãos de imprensa, à época, corrigindo a qualificação de ‘material de
isolamento acústico’ dado ao isopor, mas não houve correção da informação. Ficou
disseminada, mais uma vez, a inadequada designação.

Figura 4 - Fragmento de reportagem sobre seqüestro, publicada na revista ‘Isto É’, onde é
dito que as paredes do cativeiro tinham revestimento de material de isolamento acústico.

Uma das possíveis razões do isopor ser interpretado como material de isolamento acústico
reside no fato dele ser bom isolante térmico. Como há materiais que são utilizados como
recheio de componentes duplos, tanto para isolamento térmico quanto acústico, como a lã de
vidro, por exemplo, a generalização termina por incluir todos os materiais e o isopor ganha
adjetivo indevido. O item 3.4 discute a classificação de material ‘termo-acústico’ mais
detalhadamente.

3. ERROS CONCEITUAIS

3.1 Isolamento aéreo


Isolamento sonoro e absorção acústica são rotineiramente confundidos entre si, apesar de
envolverem fenômenos distintos e requererem, inclusive, materiais com características físicas
opostas para que tenham um desempenho satisfatório [11].
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Isolamento relaciona-se com transmissão sonora. O isolamento oferecido por um componente


da edificação, seja ele parede ou piso, é sua capacidade de restringir a transmissão sonora. Da
relação entre energia incidente e energia transmitida é definido o grau de isolamento acústico
da partição, que dependerá de quatro fatores principais: massa, rigidez, amortecimento e
conexão estrutural [12]. A transmissão sonora através da partição é resultado da vibração a
que ela foi submetida, fruto da variação de pressão da energia sonora incidente. O resultado é
que o painel irradia energia acústica para o lado oposto e quanto mais denso for o elemento,
mais dificuldade haverá de impor a vibração, para larga faixa de freqüência.
Por outro lado, absorção é o mecanismo que converte o som em outra forma de
energia para, ao final do processo, dissipá-la na forma de calor [13] e que, para tal, depende
da permeabilidade ao fluxo de ar do material. É fundamental, então, a presença de canais de ar
no interior do material, o que os torna, necessariamente, materiais de baixa densidade
específica e, portanto, inadequados como elementos de isolamento sonoro.
Apesar de distintos nas propriedades físicas, materiais que se prestam ao isolamento e
à absorção sonora são, comumente, trocados. Em artigo apresentado em um Encontro
Nacional de Conforto no Ambiente Construído, ENCAC, onde são apresentados resultados de
medições do isolamento acústico de diversos tipos de panos de vidro, está presente, em
diversos momentos, a confusão entre os fenômenos de isolamento e absorção acústica,
conforme exemplo apresentado na Figura 5.

Figura 5 – Extrato de artigo, apresentado em conferência nacional, onde se observa o uso


indevido do termo ‘absorção’ ao invés de ‘isolamento’.

Há misturas alternativas às tradicionais da construção civil, que buscam baratear a obra ou o


reaproveitamento de resíduos de processos industriais, a quem são imputadas qualidades de
isolamento acústico, apesar de aditivos pouco contribuírem para o aumento da massa do novo
elemento. A Figura 6 apresenta um desses exemplos, extraído de dissertação de mestrado da
área de engenharia de produção. Ali, credita-se ao acréscimo fibras secas, resíduo da
reciclagem de papel, a capacidade de tornar o revestimento elemento de isolamento acústico.

Figura 6 – Extrato de dissertação de mestrado onde fibras secas têm caráter de proporcionar
isolamento acústico.

3.2 Isolamento de vibrações


As lajes dos edifícios de apartamentos precisam, principalmente, ter capacidade de isolar o
ruído estrutural, normalmente proveniente do caminhar, da queda de objetos e de alguns
eletrodomésticos. Uma menor transmissão sonora será obtida com amortecimento desses
impactos sobre a estrutura, normalmente com a utilização de ‘piso flutuante’, onde o elemento
que recebe o impacto está estruturalmente desconectado da laje através de uma camada de
material resiliente.
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A fragilidade acústica da edificação brasileira é marcante. Pesquisas conduzidas pelo


LabCon/UFSC [14] estimam uma queda, ao longo dos séculos, de aproximadamente 36 dB na
qualidade do isolamento aéreo da moradia brasileira. Apesar do pouco feito a respeito das
paredes, há algumas tentativas de atender as reclamações de proprietários de apartamentos
quanto ao impacto. Todavia, o desconhecimento é, novamente, obstáculo para a intervenção
adequada, pois o material de amortecimento tem sido misturado a outros elementos, ao invés
de formar uma camada independente. Desse modo, o comportamento resiliente fica
comprometido. A Figura 7 apresenta um exemplo, do arquivo pessoal do autor, onde é
descrita uma camada de ‘brita leve’, que deveria desempenhar o papel do elemento sob o piso
flutuante. Pode-se observar, ainda, que a desconexão estrutural, fundamental para a eficiência
do sistema, foi traduzida no emprego de ‘papel de embalagem’ colocado no perímetro.

Figura 7 – Correspondência pessoal endereçada ao autor onde o construtor especifica ‘piso


flutuante’ onde pretende-se que a desconexão estrutural seja dada por folha papel.

3.3 Vegetação como barreira acústica


É inquestionável que a vegetação é um elemento paisagístico expressivo, cuja utilização na
composição urbana traz benefícios. Seu uso, porém, não deve ser superestimado e
considerado como barreira acústica. Estudos demonstram que para obter-se uma atenuação
significativa, a massa de vegetação deve ter em torno de 30 metros de profundidade [15].
O entendimento de que a vegetação atua como barreira acústica é generalizado,
encontrando-se a afirmação entre arquitetos, urbanistas, técnicos de prefeituras e população
em geral. Em dissertação de mestrado na área de engenharia de produção de universidade
brasileira encontra-se o erro conceitual, conforme Figura 8.
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Figura 8 – Extrato de dissertação de mestrado onde é descrito o uso de vegetação como


barreira acústica.

Em anais do ENCAC encontra-se, novamente, a vegetação como elemento de atenuação


sonora ao longo do caminho de propagação, conforme Figura 9(a). Em outro exemplo, na
Figura 9(b), trecho do documento que apresenta o resultado da reunião de moradores de área
residencial onde é demandada a criação de barreira acústica com vegetação.

(a) (b)
Figura 9 – Extrato de (a) artigo apresentado em congresso onde a vegetação é compreendida como barreira
acústica e (b) página na internet de condomínio residencial, onde a vegetação é proposta como barreira
acústica ao longo da via.

Há casos em que uma proposta acertada tem que concorrer com a falta de conhecimento. A
Figura 10 traz trecho de artigo [16] onde é narrada disputa judicial entre residentes de
determinada região e o DERSA, órgão do governo estadual paulista responsável pelas
rodovias. Vê-se que a barreira acústica, determinada em juízo, é satiricamente chamada de
‘muralha da China’. Pior ainda, a empresa resiste a cumprir sua obrigação de dar proteção às
residências contra o ruído do tráfego automotivo, respaldada em estudo de impacto ambiental
que prevê apenas a colocação de árvores. Portanto, técnicos produziram um estudo específico
sobre o problema e a solução indicada foi a vegetação. Foram plantadas árvore e, conforme o
texto, não resolveram o problema, como esperado.

Figura 10 – Extrato de artigo a cerca de disputa sobre proteção contra poluição sonora.

Por fim, cabe destacar que a utilização de uma fileira de árvores pode até mesmo ser
indesejável. Estudos demonstram que os ouvintes tendem a superestimar a audibilidade do
ruído quando a visão da fonte sonora é bloqueada [17], mesmo que por vegetação.

3.4 Material “termo-acústico”


Amplamente disseminada no setor de construção civil é a qualificação de um material como
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“isolante termo-acústico”. Induzidos pelo objetivo, justificável, de buscar a ampliação do


mercado consumidor, o setor varejista dissemina interpretações incorretas sobre o
comportamento acústico de materiais. A Figura 11(a) apresenta notícia veiculada em revista
de circulação nacional [18] sobre concreto com densidade específica inferior ao convencional
o que, contraditoriamente, parece justificar o comportamento térmico e acústico. Apesar de
contatada por este autor, a revista não publicou correção alguma. Na parte (b), mostra trecho
de página da internet de uma universidade federal brasileira [19], cujo banco de dados de
materiais de construção descreve o PVC e o identifica como isolante termo-acústico. Sendo
um material leve, novamente tal caracterização é indevida.

(a) (b)
Figura 11 – (a) texto publicado na revista Veja onde o concreto apresentado, mais leve que o
convencional, serve como ‘isolante térmico e acústico’ e (b) descrição do PVC como
‘isolante termo-acústico’ em site de banco de dados de materiais.

Em outro exemplo, o isopor, mais uma vez, é tratado como isolante acústico e térmico. Em
pedido de patente registrada no INPI [20] tem-se a descrição “... placa térmica em EPS
(isopor)... no formato da telha ... a patente de modelo de utilidade XX 0000 refere-se a
“disposição construtiva introduzida em isolamento termo-acústico”, segundo o qual referidas
placas modulares em poliestireno expandido (EPS) são recortadas no sistema.”

3.5 Acústica de salas


Em espaços fechados, o campo sonoro é determinado pelas características das superfícies de
fechamento. Os estudos do campo gerado e dos fenômenos acústicos associados são tratados,
na acústica de salas, pela teoria da onda. Talvez por estarem mais facilmente relacionados a
sensações sonoras subjetivas, tais fenômenos são descritos, e confundidos, rotineiramente.
Reverberação, difusão, reflexão e absorção se misturam na análise do campo sonoro.
Na teoria da acústica de salas há os campos sonoros reverberante, anecóico e semi-
anecóico, que são modelos dos campos difuso, livre e semi-livre (melhor definido como
‘campo livre sobre plano refletor’), respectivamente. Em artigo apresentado no ENCAC, cujo
extrato encontra-se na Figura 12, vê-se a expressão ‘campo sonoro semi-reverberante’. Tal
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definição é uma contradição em si, pois para existir um campo reverberante o espaço tem de
ser, necessariamente, fechado, com superfícies de entorno rígidas. Se um lado é aberto, cujo
modelo matemático corresponde à superfície com absorção sonora igual a um, desmontam-se
as condições de campo reverberante, pois características tais como intensidade sonora igual à
zero em qualquer ponto da sala ou distribuição uniforme de energia sonora desfiguram-se.

Figura 12 – Segmento de artigo de evento científico, utilizando o termo ‘semi-reverberante’.

Contraditoriamente, no mesmo artigo, quando os autores buscam associar determinada


geometria urbana a um modelo teórico, não utilizam a definição de ‘semi-livre’ mas sim
fazem a correlação com campo livre, ainda mais distante da comparação com campo livre
sobre plano refletor (ou ‘semi-livre’), conforme pode ser visto na Figura 13.

Figura 13 – Extrato de artigo, apresentado em evento científico, correlacionando,


incorretamente, determinado modelo geométrico com campo acústico direto.

Ainda na acústica de salas, algumas entrevistas sobre projetos que envolvem fenômenos
acústicos trazem alguns deslizes teóricos. Em matéria intitulada “Lazer em todos os sentidos”,
na Revista Projeto [21], seção “Cuidados com a acústica”, consta:
“... Fulana de tal, arquiteta especializada em projetos de home theaters, elogia o
desempenho das paredes em alvenaria de tijolos, sem revestimento. “Elas refletem as
freqüências sonoras em várias direções, o que ajuda a distribuir e absorver o som pela sala”.

Reflexão em várias direções configuraria advindas de superfície com alto coeficiente de


espalhamento [22], necessariamente irregular, com relevos, o que não é caso de uma parede
de alvenaria, mesmo sem revestimento. A explicação que ajuda a ‘distribuir e absorver’ o som
é uma incoerência em si. Mais adiante, na seção “Diversão garantida”, há a afirmação:
“Projetado pelos arquitetos Tal e Tal ..., o home theater de 73 m2 conta ... Tal e Tal
explicam que ... sua iluminação é mais intensa .. Segundo eles, o pé-direito de 4 m, combinado
com a largura e a profundidade do ambiente, evita a reverberação”.

Aqui, a escolha de determinada altura para o pé-direito, em combinação com a largura e


comprimento escolhidos pelos arquitetos, tem a capacidade de evitar a reverberação, que é o
processo de decaimento sonoro em uma sala [23]. Nenhuma geometria teria tal propriedade.
A revista foi contatada pelo autor e os erros discutidos com a jornalista responsável. A
posição da revista, ao final, foi de considerar desnecessária a reparação em edição posterior.
Em artigo apresentado no ENCAC novamente é imputada à geometria características
com as quais ela não relaciona-se. Ao incidir sobre a parede (ou laje) de uma sala, parte da
energia sonora será dissipada, dependendo do coeficiente de absorção da superfície para
aquele ângulo de incidência. As inclinações encontradas nas superfícies de câmaras
reverberantes, no entanto, são para favorecer a difusão, não para interferir no processo de
dissipação, contrariamente ao afirmado no texto apresentado na Figura 14.
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Figura 14 – Parte de artigo científico que computa à geometria a dissipação da onda sonora.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo apresentou alguns exemplos de ‘mitos’ em acústica, materiais que têm
comportamento consagrado e amplamente reconhecido, apesar de não haver respaldo para tal.
De forma mais detalhada, apresentaram-se erros conceituais, divididos em áreas de
conhecimento da acústica, que são veiculados em dissertações de mestrado, anais de
congressos brasileiros, bem como em jornais e revistas de circulação nacional. Algumas
possibilidades sobre as razões de interpretações errôneas foram discutidas. Vários exemplos
retirados de evento nacional foram apresentados, o que, talvez, seja indicativo da necessidade
de menos condescendência por parte dos revisores no aceite de artigos. Dessa forma, com
maior rigor científico na produção nos meios acadêmicos, a própria comunidade não
alimentará a desinformação existente na mídia não especializada.

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