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Abstract: This article is a reading of the documentary Girls by Sandra Werneck, from a
pedagogical view, showing its ideological subjectivity, and communication resources used on
the documentary for the construction of visual language of film.
Resumo: O presente artigo, busca fazer uma leitura do documentário Meninas, de Sandra Werneck, a
partir de uma visão pedagógica, evidenciando sua subjetividade ideológica, e os recursos de comunicação
utilizados pela documentarista na construção da linguagem audiovisual do filme.
Introdução
cienasta que define o enredo ser apresentado, seleciona os depoimentos, imagens, trilha
sonora que mais se adequa a sua forma de pensar e a impressão que quer causar aos
espectadores.
Assim, um tema social abordado num documentário, pode oferecer uma nova
visão sobre o assunto, evidenciar aspectos ainda não observados e oportunizar ao
público interpretações também variadas de uma mesma realidade. O que nos faz
lembrar a máxima de que “cada indivíduo vê o mundo segundo suas lentes”, portanto
conclui-se que a partir de uma realidade é possível criar muitas outras realidades
considerando a subjetividades de cada indivíduo. Partindo dessa perspectiva, busca-se
lançar um olhar sobre a linguagem cinematográfica e a temática social abordada no
documentário Meninas da cineasta Sandra Werneck.
Para examinar essa questão utilizou-se como recurso metodológico a pesquisa
bibliográfica, leitura do documentário e entrevistas da documentarista publicadas na
internet. Não se pretende com esse artigo esgotar todas as possibilidades de análise dos
recursos utilizados no referido documentário nem tão pouco oferecer um estudo de
cunho científico a crítica literária. O que se pretende nesse caso, é fazer uma leitura do
documentário Meninas a partir de uma visão pedagógica com o objetivo de
compreender a visão ideológica da autora, bem como os recursos visuais, sonoros e
textuais presentes na constituição do filme.
o público pode se identificar com essa questão, porque tudo está na voz das meninas.
Não existe nenhum especialista, nenhum médico falando sobre isso ou aquilo. É mais
fácil para uma menina de 13 ou 14 anos ver o filme e se sentir motivada a pensar no
assunto do que se fosse um tratado sobre gravidez precoce. (Werneck, 2006)
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entrevista com os envolvidos o que pensa sobre o assunto e como este problema está
posto para a sociedade brasileira.
Por meio de um olhar mais atento, observa-se que a denúncia que permeia o
documentário é marcada pela ausência do Estado na proposição de políticas públicas de
educação, saúde e profissionalização das famílias carentes, o que gera um ciclo vicioso
de pobreza que se eterniza de pai para filhos, onde os jovens sem perspectivas de vida
acabam se envolvendo com o mundo do crime e vivendo na marginalidade.
Esse tipo de denúncia não é novidade para ninguém, uma vez que é tema
recorrente na voz dos sociólogos estampados em jornais, livros e programas que tratam
de questões sociais, porém o que valoriza o filme e o credencia para um documentário
de boa qualidade é a forma artística e envolvente que a cineasta encontra para falar das
questões sociais que nos afligem sem ser pedante. Por meio de uma narrativa que cativa
o espectador, a documentarista vai tecendo uma trama em que é abordada a gravidez na
adolescência, a pobreza, a criminalidade, o tráfico , a violência, a falta de escolaridade,
de profissionalização e a cultura gerada nesse meio, como se pode comprovar a partir
das situações apresentadas no filme.
No documentário fica claro que as meninas engravidam, não por falta de
informação, o que se observa é que as jovens sabiam dos riscos que corriam ao transar
sem proteção, mas por falta de um projeto de vida que as coloque na condição de
romper com a realidade em que vivem. Sem sonhos e sem esperança de concretizar uma
vida diferente da de seus pais, preferem correr o risco de uma gravidez não planejada,
até porque veem na maternidade uma forma de autoafirmação perante a comunidade, já
que esta autoafirmação não vem por meio da escolaridade e de um bom emprego. É
possível observar esse desejo no depoimento de Evelin, 13 anos, grávida do namorado
que está tentando deixar o tráfico:
Na primeira vez eu só usei preservativo, (...) só no começo mesmo, ele não gostava
muito, a gente começamos a usar depois ele não quis mais, eu não sei que milagre é
esse, ele sempre gozou dentro e nunca aconteceu nada, só agora mesmo, mais é melhor
assim, porque ele vai crescendo junto comigo, a gente pode sair junto, ir pros bailes
comigo também, tipo assim curtindo.
O núcleo familiar, o tempo livre dentro e fora de casa, e os prejuízos para a vida
escolar estão entre os pontos sublinhados pela autora. A ausência do pai é outro tema
que permeia o filme. A ausência prenunciada dos futuros pais pode ser lida no
comportamento de um deles, que tem duas ex-namoradas grávidas ao mesmo tempo. E
a ausência passada dos pais das próprias meninas, que são figuras ausentes no contexto
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familiar. Uma forma de comportamento que faz parte da cultura das periferias há anos,
observa Sandra Werneck.
A mistura de sonho e ingenuidade esconde, em algum lugar, a tragédia em cada
uma delas. As meninas trazem no solo uma delicadeza, mas o subsolo é trágico, conclui
Sandra Werneck. São meninas ávidas apenas por um mínimo de atenção e em busca de
algum papel a ser desempenhado dentro da sociedade. Um papel que a sociedade, até
aquele momento, insiste em lhes negar.
A influência e a fascinação que o poder paralelo do mundo do crime exerce
nessas comunidades e principalmente nos jovens fica evidenciado na fala da adolescente
Evelin, 13 anos grávida de um traficante:
Eu conheci ele no Baile, aqui da rua um e como ele mora aqui em cima a gente
começou a se ver, se falar ele me chamou pra sair (...). A maioria das meninas gostam
só porque é bandido tem arma, anda de arma, tem dinheiro, mais eu não, eu gostei dele
assim, foi amor a primeira vista, bateu um negócio tem que ficar com ele, ele é muito
bonitinho, foi isso(...).
Nesse caso o filme nos passa a mensagem de que nas comunidades em que não
existe a presença do poder público, ou que existe de forma muito apagada, os valores
sociais desaparecem e o poder, o estátus, e o dinheiro é representado pelos bandidos.
Assim os mesmos se constituem em modelos a ser seguidos pelos jovens que
vislumbram no mundo do tráfico uma possibilidade de se autoafirmar e consquistar o
respeito perante a comunidade em que vivem.
Estudar não se configura algo importante na vida das meninas e nem tão pouco
na de seus pais, o que se vê através das entrevistas, é a baixa escolaridade dos mesmos
que sobrevivem do trabalho informal. Os filhos deixam de estudar porque não estão
com vontade de estudar, ou seja, estudar não faz parte da formação dos jovens como
acontece com a maioria dos jovens de classe média, mais simplesmente como algo sem
importância em que as crianças e jovens tem o direito de optar por estudar ou não.
Situação essa expressa na fala de Rosi, mãe de Evelin.
Eu ainda não estou acreditando que ela está gravida, eu não queria que tivesse
acontecido isso, porque eu pensava num futuro melhor para minha filha, dela terminar
os estudos arrumar um trabalho decente, fazer um curso, uma faculdade mais tarde, só
que ela parou de estudar, tá sem vontade nenhuma de estudar.
O sonho da mãe em querer que a vida de sua filha fosse diferente não é
suficiente para que a menina fizesse dos sonhos da mãe também um sonho e projeto
para sua própria vida. A influência do meio e as condiçãoes de vida normalmente não
permitem aos jovens acreditarem na sua capacidade e lutar por uma vida diferente.
A mãe de Evelin também fala de suas frustaçãoes de não conseguir realizar seus
sonhos.
Eu tenho um grande sonho dentro de mim, que eu acho que um dia ainda vou realizar
esse sonho, antes de eu morrer ainda vou realizar esse sonho, eu queria ser atriz, ou
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fazer comédia na televisão, aí eu fiz essas fotos achando que eu ia conseguir alguma
coisa mais é muito difícil né?, as pessoas falam que eu pareço com a Cláudia Raia, com
a Maria Zilda.
Eu sonhava assim de ter uma vida melhor mais não consegui, pensei que não pegava
mais filho, aí o pai da minha filha sempre ele vinha aqui, aí nois transou, aí fiquei
grávida, só que ele disse que não ia assumir não, ele fala que é porque eu quero, mais
não foi porque eu quiz, eu fiz de tudo para tirar mas não consegui, ele mandou eu
tomar chá mais eu não consegui tirar aí eu deixei vim.
a experiência sexual está articulada com as condições sociais, visto que os resultados de
sua pesquisa realizada com uma amostra representativa de mulheres jovens de três
capitais brasileiras revelaram que o nível de instrução materna e o nível de renda
familiar têm forte impacto na idade de iniciação sexual, ou seja, as mulheres de grupos
sociais mais empobrecidos iniciam a vida sexual mais cedo.(BORGES, 2007)
Eu falava para ele se você quer minha filha, você tem que sair dessa vida, porque você
ta botando a vida dela em jogo, a da família dela, isso não é bom, de repente pode
acontecer o pior você ta aqui dentro, os caras vão te procurar, vem aqui te fuzila, fuzila
eu, fuzila meus filhos, você vai acabar com a minha família, então pensa muito bem o
que você ta fazendo
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Considerações finais
Referências Bibliográficas