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A CRIATIVIDADE NAS ORGANIZAÇÕES: UM ESTUDO COMPARATIVO DAS

ABORDAGENS SOCIOINTERACIONISTAS DE APOIO À GESTÃO EMPRESARIAL

ENSAIO

Sonia Regina Hierro Parolin


Mestre em Administração
Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS
E-mails: sparolin@opet.com.br; sparolin@bbs2.sul.com.br

RESUMO ABSTRACT

A preocupação multidisciplinar de estudar e Multidisciplinary concern to study and


compreender a criatividade alcança a área das understand creativity because of its emergence in
organizações por sua emergência no contexto atual the current context of the entrepreneurial world,
do mundo empresarial. Nessa perspectiva, o directly influences organizations. From this
presente estudo faz uma comparação entre vários perspective, various authors that cite creativity as a
autores que pensam a criatividade segundo uma socially interactive process are compared.
perspectiva sociointeracionista do processo criativo, Creativity is viewed in relation to the knowledge of
que relaciona o perfil das pessoas que criam com o the type of people involved, the role of the
papel do ambiente organizacional, dos líderes e dos organizational ambient, the function of the leaders
projetos em ambientes de estímulo à criatividade. and of the environments that stimulate projects of
Na seqüência, apresenta autores que discutem a creativity. Next, the authors discuss creativity as a
criatividade como apoio à gestão empresarial e support to business management and point to
aponta experiências clássicas de empresas que classic experiences of companies that stimulate
estimulam a criatividade e a inovação, na mesma creativity and innovation, in the same set of
relação de condições estruturada pelos autores, conditions structured for the authors to show the
evidenciando a relevância da criatividade para as relevancy of creativity for organizations. From this
organizações. Do estudo comparativo emergem comparative study result generalizations, closely
generalizações fortemente calcadas nos aspectos associated to the relationships involving
relacionais que envolvem a manifestação da manifestation of creativity and pointing towards
criatividade, e questionamentos sobre as habilidades questioning of the managerial abilities and
e competências gerenciais capazes de promover um qualifications, capable of producing an ambient
ambiente de estímulo à criatividade e à inovação. O that stimulates creativity and innovation.
estudo é limitado, principalmente, pela escassez de Considerations are restricted by the lack of
pesquisas científicas na área empresarial e scientific research in the business area, however a
contribui, de acordo com uma visão sistêmica, com contribution is made in supplying a systemic view,
sugestões de temáticas para novas pesquisas. and offering suggestions for subjects of new
research.

Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, v. 10, nº 1, janeiro/março 2003


Sonia Regina Hierro Parolin

1. INTRODUÇÃO o papel das regras no processo do trabalho criativo


(GARDNER apud BODDEN, 1999)1.
O presente artigo trata da criatividade aplicada às
Nas artes, as pesquisas têm maior expressão na
organizações, mais especificamente àquelas que
Teoria Combinatória, baseada na associação de
oferecem o apport teórico-prático de apoio à gestão
idéias semelhantes e nas analogias mais distantes
empresarial.
que resultam em combinações incomuns, facilmente
Segundo a etimologia da palavra, criatividade percebidas nas pinturas, poemas, músicas, etc. A
está relacionada com o termo criar, do latim creare, Teoria Combinatória não está preocupada em
que significa “dar existência, sair do nada, determinar como a combinação surgiu, mas sim
estabelecer relações até então não estabelecidas pelo com o resultado das combinações (BODEN apud
universo do indivíduo, visando determinados fins” BODEN, 1999).
(PEREIRA et al., 1999: 4).
Na área das organizações, as pesquisas são bem
Constata-se uma preocupação multidisciplinar no mais recentes e escassas. As existentes tentam
tratamento da temática criatividade. No caso das enquadrar, na área organizacional, os resultados das
ciências humanas, a filosofia, a psicologia e a investigações nas áreas das artes, psicologia,
administração de empresas – como ciência aplicada educação e história da ciência. Sobre esse aspecto,
–, têm fortalecido o interesse no desenvolvimento Bruno-Faria destaca as investigações de FORD e
do assunto. GIOIA (1995) sobre o impacto que o fato causa aos
As teorias filosóficas do mundo antigo sustentam estudiosos da criatividade: “as pesquisas tendem a
que o indivíduo criador é um ser inspirado pela extrapolar os achados desses campos para o
divindade, pressuposto cujo ícone é Platão, que domínio organizacional, sem a devida percepção de
declarou “ser o artista, no momento da criação, que se tratam de processos e resultados
agente de um poder superior, perdendo o controle fundamentalmente diferentes” (BRUNO-FARIA,
de si mesmo” (KNELLER, 1978: 32). A 1996: 05). A autora, ao analisar as pesquisas sobre
criatividade como forma de loucura, pela aparente criatividade que enfocam o contexto das
espontaneidade e irracionalidade, também remonta organizações, baseia-se em GEIS (1988),
à Antigüidade e perdurou inquestionável durante o destacando três grandes áreas:
século XIX, sob a convicção de que “a criatividade • características das pessoas altamente criativas;
seria como uma espécie de purgativo emocional que
• habilidades cognitivas do pensamento criativo;
mantinha mentalmente são os homens”
(KNELLER, 1978: 34). • ambiente social favorável ou inibidor à expressão
da criatividade.
As teorias, predominantemente da área da
psicologia, possuem uma vasta quantidade de BRUNO-FARIA (1996) destaca, ainda, as
pesquisas seriamente empenhadas “na tentativa de pesquisas de FERNALD (1989), que afirmam a
medir os processos criativos que ocorrem em necessidade de um gerenciamento das pessoas de
indivíduos normais e naqueles de talento invulgar” forma que se promova a criatividade e a inovação, e
(GARDNER apud BODEN, 1999: 150). Como de um direcionamento para o desenvolvimento de
trabalho complementar à psicometria, o mesmo novas maneiras de trabalho, para que se possa
autor enfatiza que os esforços foram fortemente melhor competir no mercado. Destaca ainda, entre
centrados na determinação das peculiaridades outras, as pesquisas de RAUDSEPP (1988) sobre o
psicológicas dos indivíduos criativos. Mais papel da criatividade no aprimoramento da
recentemente, as pesquisas sobre criatividade têm produtividade e da qualidade no trabalho.
abordado a centralidade das motivações intrínsecas
comparadas às extrínsecas, focadas no aspecto da
conduta do trabalho criativo, da psicologia do
desenvolvimento e da ciência cognitiva, destacando 1
GARDNER (1999) cita pesquisas dos autores AMABILE
(1983) e CSIKSZENTMIHALYI (1988a, 1988b, 1990) como
referencial às pesquisas sobre motivação intrínseca, e de
FELDMAN (com GOLDSMITH, 1990), como referencial à
psicologia do desenvolvimento e ciência cognitiva.

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A criatividade nas organizações: um estudo comparativo das abordagens
sociointeracionistas de apoio à gestão empresarial

Em recente pesquisa com 189 líderes formais de aplicada à Administração, sem pretender,
empresas da Região Metropolitana de Curitiba – PR entretanto, esgotar a temática em questão.
– 59% deles eram diretores e gerentes, e os demais,
coordenadores, supervisores, chefes de setores e
2. OBJETIVO
líderes de equipes –, um dos objetivos era
conceituar a criatividade segundo a opinião dos O presente estudo, embasado nas pesquisas já
líderes. Foi constatado que (PAROLIN, 2001: 107- indicadas, tem como objetivos alinhar e comparar as
113): abordagens sociointeracionistas, e oferecer o apport
• 97% dos líderes formais pesquisados teórico para os modelos de gestão empresarial que
concordaram em que o meio sociocultural buscam no estímulo à criatividade e à inovação um
influencia o comportamento das pessoas; dos diferenciais intra-empresariais para a
competitividade.
• 69% concordaram em que a cultura
organizacional influencia a manifestação da
criatividade nas organizações e 27% demostraram 3. AS ABORDAGENS
dúvidas a respeito; SOCIOINTERACIONISTAS DO
PROCESSO CRIATIVO
• 96% concordaram em que a criatividade pode
melhorar a qualidade; As abordagens sociointeracionistas2 da
• 84% concordaram em que a criatividade está criatividade consideram que as condições para que
presente em todas as áreas de atuação do ser o processo criativo ocorra incluem: a pessoa que
humano; cria, as relações interpessoais, o papel do ambiente
organizacional e as relações da pessoa que cria com
• 86% concordaram em que a inovação depende da os líderes e com os projetos organizacionais.
criatividade;
Os pesquisadores apresentados a seguir
• 77% concordaram em que as idéias criativas nem dimensionam diferentemente os aspectos acima. O
sempre são inéditas; conjunto das propostas permite uma visão mais
• 82% admitiram acreditar que a criatividade na ampla do processo criativo nas organizações.
empresa serve para minimizar o estresse OSTROWER (1986) trata da criatividade com
individual e grupal; base numa perspectiva histórico-social, enquanto
• 55% admitiram acreditar que as decisões devem potencial inerente à condição humana e muito além
ser tomadas segundo a lógica financeira; do homo faber, impelido de forma consciente a
compreender e formar a vida. Ao partir da premissa
• 78% admitiram acreditar que “brincadeira não é de que a criação é um processo consciente, a autora
coisa somente de criança” (ludicidade presente no introduz a questão da alienação do homem de sua
processo criativo e nos ambientes de trabalho); existência social, afirmando que:
• 88% concordaram em que há lugar para atitudes
inovadoras nas empresas. 2
O termo sociointeracionista, também denominado
O resultado da pesquisa apresentado acima socioconstrutivista, é usado para distinguir a corrente teórica de
contribui para desfazer a crença de que a Vigotsky do construtivismo de Piaget, embora ambos sejam
construtivistas em suas concepções do desenvolvimento
criatividade está restrita a áreas de atuação do ser intelectual, pois sustentam que a inteligência é construída a
humano distantes do ambiente organizacional, e partir das relações recíprocas entre o homem e o meio. Os
aponta para a emergência de discussões mais estudos de Vigotsky sobre a perspectiva sociointeracionista
aprofundadas em torno dos seus mecanismos, dos (perspectiva histórica) consideram os seguintes níveis:
filogenético – refere-se à história evolucionária da espécie;
meios para sua obtenção e condução, dos objetivos sociogenético – refere-se à história dos grupos sociais (função
da organização e dos resultados potenciais a ser da sociedade); ontogenético – refere-se ao desenvolvimento do
alcançados. indivíduo, desde a fecundação até a maturidade; e
microgenético – refere-se ao desenvolvimento de aspectos
Nesse sentido, este artigo pretende contribuir específicos do repertório psicológico dos sujeitos, ou seja, à
como referencial de estudo sobre a criatividade seqüência singular de processos e experiências vividas por cada
sujeito específico (SOUZA FILHO, 1997).

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Sonia Regina Hierro Parolin

O modo de sentir e de pensar os fenômenos, o próprio criadoras também por conseguir olhar de maneira
modo de sentir-se e pensar-se, de vivenciar as nova algo que antes era adequado a uma dada
aspirações, os possíveis êxitos e eventuais insucessos, situação.
tudo se molda segundo idéias e hábitos particulares ao
contexto social em que se desenvolve o indivíduo. Os Segundo o autor, é possível conceber o
valores culturais vigentes constituem o clima mental pensamento criador como inovador, explorador,
para seu agir. Criam as referências, discriminam as impaciente ante a convenção, atraído pelo
propostas, pois, conquanto os objetivos possam ser de desconhecido e pelo indeterminado, pelo risco e
caráter estritamente pessoal, neles se elaboram pela incerteza que traduz. Reúne um grupo de
possibilidades culturais. Representando a capacidades relacionadas, como a fluência, a
individualidade subjetiva de cada um, a consciência
originalidade e a flexibilidade. O pensamento não
representa a sua cultura (OSTROWER, 1986:16).
criador é cauteloso, metódico e conservador.
Além dos fatores socioculturais, a consciência de
si mesmo impulsiona o homem a reconhecer sua Ainda de acordo com Kneller, “um desinibido
ação simbólica na ação criativa, no contexto em que bambolear de quadris dificilmente seria dança
está inserido. Para a autora, “formar importa em criativa, nem o simples misturar de tintas numa tela,
transformar”, num processo dinâmico: pintura criadora” (KNELLER, 1978: 14). Para fins
deste estudo, é necessário explicitar um pouco mais
Criar é, basicamente, formar. É poder dar uma forma a o entendimento desse autor sobre a criatividade,
algo novo. Em qualquer que seja o campo da pois ele trata do assunto de forma completa e
atividade, trata-se, nesse ‘novo’, de coerências que se consistente. Segundo ele, as definições de
estabelecem para a mente humana, fenômenos
criatividade devem considerar quatro categorias: a
relacionados de modo novo e compreendidos em
termos novos. O ato criador abrange, portanto, a pessoa que cria (fisiologia, temperamento, atitudes
capacidade de compreender; e esta, por sua vez, a de pessoais, hábitos e valores), os processos mentais
relacionar, ordenar, configurar, significar (motivação, percepção, aprendizado, pensamento e
(OSTROWER, 1986: 09). comunicação), as influências ambientais e culturais,
e o produto (teorias, invenções, pinturas, esculturas
Ao relacionar o ato de criar com o de formar, a
e poemas) (KNELLER, 1978: 15).
autora conceitua a materialidade, não somente como
fato meramente físico, mas fundamentalmente como Às quatro categorias acima, o autor acrescenta os
linguagem simbólica, e afirma que é no trabalho elementos: novidade, inteligência, solução de
que o homem elabora seu potencial criador, pois é problemas e alcance da criatividade (o autor analisa
ele que “traz em si necessidades que geram as as capacidades mentais de mudar, produzir idéias
possíveis soluções criativas” (OSTROWER, 1986: relevantes e inusitadas, ver além da situação
31). Ou seja, é no pensar específico sobre um fazer imediata). Para dar ao leitor a noção exata do que
concreto específico que esse potencial criador se entende por alcance da criatividade, cita os escritos
manifesta, mesmo que o sentido de materialidade de Harry Broudy, aqui transcritos:
necessite de um contexto histórico que o caracterize Assim a invenção, o pensamento científico e a criação
enquanto finalidades e formas. Para a autora acima estética têm de comum uma facilidade em remanejar
referida, o consciente racional nunca se desliga das elementos de experiências prévias, desse modo
atividades criadoras. Ao contrário, constitui um obtendo novas configurações. Quando Sandburg
fator fundamental de elaboração. A criação deriva escreve que ‘a rã rasteja com pequeninos pés de gato’,
de uma atitude da pessoa e, nas profundezas da e uma criança chama os resíduos que a borracha deixa
concentração, a intuição sustenta a tensão psíquica. no papel de ‘poeira dos erros’, e um pintor mostra ao
Conceber o ato criativo desconsiderando o mesmo tempo os quatro lados de um paiol, e um
escritor se refere a algo ‘tão implacável como um
consciente na criação seria como desconsiderar uma
taxímetro’, e alguém converte um corredor numa roda,
das dimensões humanas. e um Newton vê analogia entre maçãs e planetas,
Para Kneller, criatividade “consiste (...) existe manifesta atividade intelectual que parece de
grandemente em rearranjar o que sabemos, a fim de igual textura, apesar das diferenças de coloração
achar o que não sabemos” (KNELLER, 1978: 75). (BROUDY, apud KNELLER, 1978: 25).
Ou melhor, de acordo com a Teoria Combinatória já Ao considerar que o processo criativo ocorre em
citada, as idéias criadoras não precisam, um período de tempo, é aceita amplamente a
necessariamente, ser novas; elas podem ser

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A criatividade nas organizações: um estudo comparativo das abordagens
sociointeracionistas de apoio à gestão empresarial

existência de quatro fases reconhecíveis: A relevância dos estudos sobre criatividade de


preparação, incubação, iluminação e verificação. GUILFORD (apud KNELLER, 1978) relaciona-se
KNELLER (1978) considera-as como estádios, e com os sólidos subsídios por eles fornecidos para a
acrescenta uma nova fase inicial à seqüência análise da complementaridade entre o pensamento
convencional. Os estádios nem sempre são distintos, convergente e o divergente. Para o autor, quanto
mas são considerados interpenetrantes pelo autor: mais o pensamento convergente municia o
primeira apreensão (o primeiro insight), preparação, pensamento divergente de informações estruturadas,
incubação, iluminação e verificação (KNELLER, mais o pensamento criativo é capaz de produzir
1978: 62-73). O último estádio pode durar alguns novas idéias. Na sua estrutura, uma das funções do
anos, pode contar com o julgamento de terceiros e pensamento divergente é a de resgatar do
pode conduzir a novas intuições, até mesmo de inconsciente respostas diferentes, originais, ousadas
natureza diversa. e até aparentemente ilógicas e fora do padrão de
normalidade. A possibilidade de lograr êxito na
Quanto às qualidades, ou traços criadores, o autor
imersão/emersão do pensamento divergente no
indica: inteligência superior à média, maior
inconsciente depende fortemente da barreira
sensibilidade ao seu meio, maior fluência de idéias
emocional e de bloqueios mentais, como crenças e
sobre determinado assunto, flexibilidade,
valores, interpostos entre o consciente e o
originalidade para produzir idéias raras (elaborar e
inconsciente.
seguir as próprias idéias), ceticismo, persistência
diante de obstáculos, capacidade de explorar idéias A capacidade do pensamento divergente ou
como um “brinquedo” intelectual, ego altamente criativo de romper as barreiras interpostas entre o
flexível, inconformismo voltado para novas consciente e o inconsciente permite que o processo
experiências (o contrário do anticonformista, aquele de incubação de idéias se invista de elementos
indivíduo que aparenta criatividade para escarnecer completamente inesperados. Pode-se afirmar que
da convenção), autoconfiança sem a megalomania um dos papéis do inconsciente é o de encharcar o
como ilusão dos psicóticos (KNELLER, 1978: 78- pensamento divergente, qual uma esponja
85). mergulhada em elemento fluido.
Quanto aos obstáculos culturais, o mesmo autor Tanto a complementaridade entre o pensamento
apresenta pesquisas realizadas nos estágios convergente e o divergente quanto o caráter
escolares, identificando os processos que, de forma interpenetrante das fases da criação propostas por
não intencional, inibem o desenvolvimento da KNELLER (1978) são concebidos de forma que
criatividade. Esses processos vão desde a inibição facilitem o estudo da criatividade, pois é o que se
da fantasia da criança – premida pelos pais para que percebe no ato criativo em si.
pense de forma mais realista – até os atos
Nos estudos de BONO (1995) sobre o
disciplinares, em detrimento da iniciativa e da
pensamento criativo há semelhanças com a
espontaneidade, a pressão dos colegas e o excessivo
conceituação de Guilford do pensamento
realce à aquisição do conhecimento acumulado em
convergente e divergente. O autor classifica o
vez de ao uso original desse repertório (KNELLER,
pensamento vertical como aquele voltado para a
1978: 91-93).
identificação do processo racional, e o pensamento
Apesar de considerar o aspecto social relevante lateral como aquele que é próprio à maneira mais
no processo criador, KNELLER (1978) detém-se na criativa de usar a mente. Ambos são
identificação da pessoa criativa, grandemente complementares e não exclusivos.
apoiado em pesquisas científicas realizadas por
BONO (1995), movido pela tentativa de
psicólogos consagrados na área, como Paul
examinar como idéias simples só são óbvias depois
Torrance e J. P. Guilford. GUILFORD (apud
de terem sido concebidas, busca formular conceitos
KNELLER, 1978), pioneiro no estudo da psicologia
sobre o pensamento lateral, baseados em
da criatividade na década de 50, detém-se no estudo
observações – sustentadas pelo conhecimento
das diferentes capacidades conhecidas da mente,
adquirido pelo autor sobre o funcionamento do
para identificar quais delas participam da
cérebro –sobre como as pessoas resolvem
criatividade, definida pelo pensamento divergente.
problemas (BONO, 1995: 5-6). As principais
distinções entre os pensamentos vertical e lateral

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propostos pelo autor podem ser organizadas da seguinte forma:

QUADRO 01- Distinções entre o pensamento vertical e o pensamento lateral formulados por Bono
PENSAMENTO VERTICAL PENSAMENTO LATERAL
• modo óbvio de encarar as situações e necessita • modo específico de pensar, estimulado pela atitude e
de uma estrutura conceitual básica aceita; pelo hábito mental (pensamento criativo);
• direciona o pensamento de acordo com o • estimula a flexibilidade da mente para modos
processo convencional de resolver problemas, alternativos de resolver problemas, com baixa
obtendo alta probabilidade de acertos; probabilidade de acertos se comparado ao
convencional;
• lógica assume o controle da mente;
• lógica está a serviço da mente;
• idéias dominantes, adequadas e polarizantes;
• idéias novas, promovidas pelo aguçamento da
• classifica as coisas para controlar a imprecisão;
percepção e dos sentidos;
• contexto rigidamente definido (estar certo a
• fluidez dinâmica que se alimenta do potencial
cada passo).
ilimitado do caos;
• exige talento e originalidade.

Para BONO (1995), o pensamento lateral está personalidade criativa confrontada com o produto
voltado para a pesquisa de novas idéias, de maior advindo desse processo. KNELLER (1978) frisa
simplicidade e eficiência, e para a fluidez, que que é possível abranger cientificamente apenas os
permite a troca de uma idéia por outra melhor. O aspectos que podem ser medidos e observados, ou
pensamento vertical apresenta limites enquanto seja, o produto. Bono, ao questionar a maneira pela
método gerador de novas idéias. No entanto, Bono qual se encara um problema, torna-se mais crítico,
considera que a contribuição do pensamento afirmando que “o número de vezes que se apele
racional é fundamental na organização mental para para o pensamento lateral é uma questão de
a estruturação da nova idéia, após sua geração. A temperamento” (BONO, 1995: 70). Para o autor, a
complementaridade, ou caráter não exclusivo, entre ausência de um aparente problema pode ser o maior
o pensamento vertical e o lateral proposta pelo autor problema, pois é possível que a lógica das idéias
é claramente explicitada quando ele afirma que “a dominantes esteja sobrepujando a necessária dose
rigidez confinadora de um símbolo é uma forma de de pensamento lateral, capaz de imprimir um novo
envolvimento que decididamente impede a livre caráter aos problemas: o de degrau para uma
contração e expansão de uma idéia, movimento que melhoria. Assim, o autor levanta a seguinte questão:
pode ser necessário para o seu desenvolvimento. “Quando é que adequação, complacência e ausência
(...). É muito mais frutífero alternar-se entre de problemas são apenas outros nomes para
períodos de fluidez criativa e períodos de rigidez de inadequação e falta de imaginação?” (BONO, 1995:
desenvolvimento” (BONO, 1995: 80). 71).
A não-exclusão tanto do pensamento vertical O autor lança, a partir dessa e de outras questões,
quanto do lateral e a constatação da necessária a discussão sobre as condições habitualmente
alternância entre os períodos de fluidez criativa e de impostas para que novas idéias sejam aceitas, tais
rigidez de desenvolvimento vêm ao encontro do que como: provar sua adequação, não questionar as
KNELLER (1978) apresenta sobre o caráter idéias dominantes convencionais, comparar a idéia
interpenetrante das fases de criação. nova com a antiga. Todas elas, segundo o autor, são
falaciosas pelo caráter inútil e inibidor à resolução
Vale ressaltar que, tanto em KNELLER (1978)
dos problemas, pois inúmeras vezes a solução está
quanto em BONO (1995), é possível perceber que a
além dos limites que as condições habituais impõem
investigação sobre os elementos que compõem o
e surge num lampejo de percepção.
processo criativo detém-se na identificação da
Freqüentemente, uma nova idéia “surge quando

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A criatividade nas organizações: um estudo comparativo das abordagens
sociointeracionistas de apoio à gestão empresarial

novas informações, reunidas através da observação reconhecida como adequada àquele domínio”
ou da experiência, forçam uma reavaliação das (GARDNER, 1995: 53).
velhas idéias” (BONO, 1995: 15). Além da rejeição
Em suas pesquisas sobre a descoberta criativa,
às novas idéias pelo contexto lógico das idéias
Gardner se refere a uma estrutura de três elementos
dominantes, uma das razões que o autor encontra
centrais para o ato criativo: um ser humano que cria,
para essa resistência é a de que:
um objeto ou projeto no qual o indivíduo está
A relutância em aceitar idéias novas não passa de uma trabalhando, e os outros indivíduos que habitam o
relutância em investir dinheiro em idéias novas, uma mundo do indivíduo criativo, numa relação da
relutância em arriscar grandes somas de dinheiro em dimensão afetiva com o apoio cognitivo
algo que não pode ser efetivamente julgado enquanto (GARDNER, 1996: 9). A mesma estrutura é
não estiver ocorrendo. O uso do pensamento lateral,
encontrada em KAO (1997), que afirma que a
no entanto, não se limita ao desenvolvimento de novos
produtos, mas se estende a todos os campos em que criatividade, bem como o espírito empreendedor, é
novos modos de encarar as coisas podem ser úteis. As proveniente da inter-relação de três elementos: a
novas idéias não significam apenas gastar dinheiro, na pessoa, a tarefa e o contexto organizacional.
maioria das vezes significam economizar dinheiro Para AMABILE (1999: 110), “para ser criativa,
(BONO, 1995: 117).
uma idéia também deve ser adequada, ou seja, útil e
A afirmação acima, relativa ao contexto de executável. De alguma forma deve influenciar a
gestão da criatividade nas empresas, dá ensejo à maneira como os negócios são realizados”. Segundo
discussão sobre como as organizações encaram o a autora, existem três componentes da criatividade:
surgimento das novas idéias. Ainda sobre o perícia (expertise), motivação intrínseca e raciocínio
pensamento criativo, o autor usa de vigilante cautela criativo (AMABILE, 1999: 116).
na aplicação do termo. Deixa clara sua opção de
Especificamente sobre o papel da motivação
usá-lo somente para artistas, percebida na afirmação
intrínseca, MOSCOVI (1997: 77) considera que a
de que “no mundo da arte, pode parecer que o
“motivação humana é constante, infinita, flutuante e
pensamento lateral se processa o tempo todo, sob o
complexa”. Apresenta a hierarquia das necessidades
nome mais satisfatório de pensamento criativo”
básicas elaborada por MASLOW (1954), na qual as
(BONO, 1995: 112). Prefere utilizar o termo “novas
necessidades fisiológicas são primordiais, seguidas
idéias” para a ideação de modo geral, e
das necessidades de segurança, afetivo-sociais, de
“pensamento criativo” para a atividade artística.
estima e, no topo da pirâmide, a necessidade de
A estrutura de concepção dos fatores que auto-realização. Nessa perspectiva a concepção de
compõem o pensamento divergente de GUILFORD Maslow é vista, pela autora, como motivação de
(apud KNELLER, 1978) assemelha-se à de deficiência. A autora também apresenta o esquema
concepção das Múltiplas Inteligências, pesquisadas abrangente de motivação elaborado por
pela equipe de Howard Gardner. Este, para HARRISON (1972, apud MOSCOVICI, 1997),
conceituar como as descobertas criativas ocorrem, cuja maior contribuição está relacionada ao estudo e
parte de um conjunto de estudos de caso de sete à interpretação das peculiaridades do aparecimento
personalidades criativas que viveram por volta de e da satisfação das necessidades ao longo da vida do
1900, cada uma em num domínio diferente, como ser humano.
exemplos exponenciais em cada uma das
A idéia de atividade criativa como atividade
inteligências. A pesquisa do autor tem como
compensadora reforça tanto a concepção de
objetivo principal extrair generalizações que
OSTROWER (1986) sobre a relação da criatividade
possam prevalecer em indivíduos altamente
com o trabalho, quanto a de GARDNER (1996)
criativos, através do estudo de padrões que
sobre idéias e projetos, reafirmando o entendimento
caracterizam a maioria deles (GARDNER, apud
da atividade criativa como compensação afetiva, de
BODEN, 1999).
fator psiquicamente equilibrante.
Para ele, um indivíduo é considerado criativo “se
Uma concepção semelhante é encontrada em
regularmente resolve problemas ou elabora
IZQUIERDO (1996), que infere que a descoberta
produtos em algum domínio, de uma maneira que é
científica é um ato criativo semelhante à descoberta
inicialmente vista como nova, mas acaba sendo
artística. Com um conhecimento profundo das

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necessidades humanas, adquirido com base em suas das atividades, apresentado por IZQUIERDO
pesquisas sobre o funcionamento do sistema (1996) e AMABILE (1999), o prazer de brincar
nervoso no exercício da imaginação presente nos com as idéias, presente em KNELLER (1978), a
profissionais da medicina, o autor faz um paralelo sensibilidade infantil apresentada por GARDNER
entre as capacidades do cérebro humano de amar, (1999), o trunfo do jogo para o surgimento de nova
imaginar e criar, e uma máquina. Para ele, a criação idéias, em BONO (1995), são compatíveis com a
é o conjunto do amor com a imaginação. Ao visão de CAMERON (1998: 35) a esse respeito,
introduzir o amor no ato criativo, como energia pois este afirma que “as idéias surgem quando o
pulsante do desejo, e a imaginação, como atributo pensamento e a atividade racionais são seguidos por
da vida, o autor, fazendo uso de toda a liberdade um período de descanso”. Para a autora, o coração é
acadêmica, sugere que o amor, a imaginação e a que dá origem aos impulsos criativos e é na
criação são uma única coisa. liberdade presente no divertimento infantil que o
indivíduo poderá recuperar os dons criativos
Essa possibilidade de IZQUIERDO (1996)
trancados dentro do seu ser.
transitar livre e prazerosamente pelos conceitos do
ato criativo permite uma associação com o A autora trata os leitores como “artistas” e
pensamento de Gardner, que afirma que “cada conceitua criatividade como “um ato da alma, uma
descoberta criativa requer uma interseção do infantil expansão e extensão da força divina, não apenas
e do maduro; o espírito específico moderno deste uma ‘viagem do ego’ que nos satisfaz”
século foi a incorporação da sensibilidade da (CAMERON, 1998: 40). Concebe a criatividade de
criança pequena.” (GARDNER, 1996: 9) forma indistinguível da espiritualidade, em que a
inspiração e o alinhamento do pensamento em
O puro prazer com a atividade em si é
possibilidades mais positivas assumem um caráter
apresentado por CSIKSZENTMIHALYI (1992), ao
preponderante para a autêntica arte através do eu,
se referir ao estado afetivo de fluxo, ou experiência
valorizando o processo de crescimento espiritual,
de fluxo, que caracteriza a atividade autotélica. Este
renovação e cura muito mais que o produto daí
estado de fluxo apresenta uma intensa concentração,
proveniente (CAMERON, 1998).
capaz de levar pessoas a perderem a noção do
tempo cronológico, a consciência de si, e A espiritualidade contida nos estudos e técnicas
permanecerem de tal maneira absortas que não há de CAMERON (1998) soma-se aos estudos sobre as
atenção excedente para situações ou problemas condições da criatividade, que tem como uma de
alheios ao ato criativo. A esse estado de espírito o suas bases a motivação intrínseca. Se em
autor denomina flow, que pode ocorrer ao acaso, por OSTROWER (1986) é possível encontrar a
alguma feliz coincidência entre as condições percepção consciente do processo de criação, em
internas e as externas. Pode ocorrer, também, como CAMERON (1998) a sensibilidade pode ser vista
resultante de uma atividade estruturada, da como o nutriente para o aguçamento da percepção
habilidade da pessoa em fazê-lo acontecer, ou da de si mesmo.
concomitância dessas duas possibilidades.
3.1. A criatividade como apoio à gestão
Em Bono, esse relaxamento da vigilância sobre si
empresarial
mesmo é considerado, em relação ao jogo, uma das
técnicas para estimular o surgimento casual de É possível considerar que a indissociabilidade
fenômenos e idéias que não seriam normalmente entre o consciente racional e as atividades criativas,
procurados. Apesar de não tratar especificamente do em face da necessidade, na atualidade, de se
prazer contido no jogo, o autor é enfático ao afirmar repensar a função do trabalho, seja um dos fatores
que “a própria inutilidade do jogo é o seu maior que impulsionam KAO (1997) a afirmar que a
trunfo (...). Os pensadores verticais têm vergonha de humanidade se encontra na Era da Criatividade.
jogar, mas a única coisa vergonhosa é a Para sustentar essa convicção, o autor apresenta um
incapacidade de jogar” (BONO, 1995: 89). arrazoado que permite que se considere a natureza
do trabalho, a atual situação de desemprego e
De certa forma, considerando que a imersão no
subemprego, as mudanças ocorridas desde a
jogo pressupõe um relaxamento do pensamento
sociedade agrícola à sociedade informatizada, como
racional, o estado de flow (fluxo) apresentado por
fatores cruciais de repressão da criatividade.
CSIKSZENTMIHALYI (1992), o prazer extraído

16 Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, v. 10, nº 1, janeiro/março 2003


A criatividade nas organizações: um estudo comparativo das abordagens
sociointeracionistas de apoio à gestão empresarial

Algumas considerações acerca da necessidade da disponibilidade das informações, a criatividade das


criatividade estão associadas à obtenção de pessoas, maximizando não tanto as vantagens do
inovações, como segue: trabalho executivo – cada vez mais delegado às
máquinas –, quanto, de preferência, as vantagens do
− superior desempenho financeiro a longo prazo é trabalho idealizador, do qual o homem conserva intato
associado com inovação; o monopólio (DE MASI, 1999: 51).
− os clientes crescentemente estão exigindo Para sustentar a proposta de reversão desse
inovação; quadro, Harman e Hormann citam John Naisbitt e
− os competidores estão cada vez mais hábeis e Daniel Bell, que afirmam ser o momento de
melhor capacitados a copiar inovações passadas; substituir a “teoria do valor do trabalho”, de Marx,
por uma nova “teoria do valor do conhecimento”
− novas tecnologias habilitam inovações;
(HARMAN e HORMANN, 1997: 33). Ou seja,
− antigos processos já não são válidos na atualidade propõem a revisão das desigualdades na distribuição
(PLSEK, 1997:11). de renda de acordo com a produtividade, por meio
O anseio de criar é um dos desejos básicos do ser da plena participação no trabalho, que envolve
humano, pois “(...) fundamentalmente, trabalhamos aprendizagem e renovação constantes.
para criar e só por decorrência é que trabalhamos Alencar vê a criatividade “como o processo que
para comer. Essa criatividade que pode existir nos resulta na emergência de um novo produto (bem ou
relacionamentos, nas comunicações, nos serviços, serviço), aceito como útil, satisfatório e/ou de valor
nas artes, ou em produtos úteis está muito perto de por um número significativo de pessoas em algum
constituir o significado central das nossas vidas” ponto no tempo” (ALENCAR, 1996: 15).
(HARMAN e HORMANN, 1997: 31).
Para que a criatividade ocorra, ALENCAR
Essa afirmação é contrária ao paradigma da (1996) propõe um modelo composto de cinco
modernidade, que presta um desserviço ao anseio componentes, construído com base na sua
criativo ao apregoar que a motivação do ser humano experiência de coordenação de seminários e
para o trabalho é preferencialmente econômica3. workshops (oficinas) de criatividade para estudantes
A concepção do homo economicus difundida com universitários, professores, gerentes e outros
a Revolução Industrial e modelo do Scientific profissionais de diversas áreas. Os componentes
Management apregoado pelos Estados Unidos está são: redução dos bloqueios, traços de personalidade
fundamentada na “máxima estandartização dos (motivação), habilidades de pensamento, clima
produtos, especialização das tarefas, divisão das psicológico, domínio de técnicas e repertório
atribuições e sincronização do tempo” (DE MASI, cognitivo. Além desses componentes, a autora
1999: 51). O modelo europeu, na mesma época, destaca o inegável caráter histórico-social da
percorria um caminho inverso, o de busca e prática criatividade, aproximando-se das concepções de
de modalidades originais para organizar o trabalho OSTROWER (1986) sobre a simbologia dos fatores
criativo desenvolvido de forma coletiva. socioculturais presentes na ação criadora.

Com a era pós-industrial, os princípios da Stoner e Freeman tratam da criatividade e da


especialização das tarefas vão cedendo lugar à: inovação na administração num contexto de
mudança, abordando temas recorrentes como a
busca de novos critérios organizacionais capazes de resistência às mudanças e os interesses pessoais, o
valorizar a flexibilidade das tecnologias, a desenvolvimento organizacional e a ética. Os
autores definem:
3
Sobre a chamada era pós-moderna, GARDNER (1996) afirma Criatividade como a geração de uma nova idéia, e
que sua característica definidora é “um deliberado inovação como a transformação de uma nova idéia em
obscurecimento dos gêneros; uma ignorância desafiadora dos uma nova empresa (Apple Computer), em um novo
arranjos e precedentes históricos; um desafio a qualquer produto (o walkman da Sony), em um novo serviço
tentativa de ser realmente sério; uma fácil mudança de estilos, (as entregas imediatas da Federal Express), em um
superfícies e identidades; uma renúncia à tentativa de encontrar novo processo (fila única de espera para múltiplos
significado ou estrutura por baixo do caos superficial; e um serviços num banco ou num parque de diversões), ou
‘vale tudo’ nos mundos da criação e da interpretação”
em um novo método de produção (projeto e fabricação
(GARDNER, 1996: 323).

Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, v. 10, nº 1, janeiro/março 2003 17


Sonia Regina Hierro Parolin

auxiliados por computador) (STONER e FREEMAN, inovação no ambiente de trabalho, que influencia a
1999: 311). motivação intrínseca do indivíduo na realização de
A mudança para viabilizar o aproveitamento de tarefas, Alencar aponta as pesquisas realizadas por
oportunidades e o desenvolvimento da inovação Hill e Amabile, pelo destaque que vêm obtendo na
deve estar acompanhada de uma atitude voltada série de estudos sobre ambientes organizacionais e
para o aproveitamento desta, a fim de gerar seus efeitos na criatividade pessoal. Para esses
mudanças comportamentais e em processos autores, segundo destaque de Alencar,
administrativos e produtivos, resultando em Se as pessoas percebem que estão trabalhando em um
benefícios para a organização. Nesse sentido, o ambiente onde os objetivos dos projetos são claros,
comportamento criativo é o “fator-chave na resposta desafiadores e interessantes, onde têm autonomia em
às mudanças e abre espaço para que a organização decidir como trabalham em direção a essas metas,
promova inovações” (RODRIGUES e SILVA, onde as novas idéias são recebidas com encorajamento
1998: 64). e entusiasmo, onde elas não são pressionadas com
prazos impossíveis ou limitações de recursos, onde
Da mesma maneira como há ferramentas que outros estão dispostos a cooperar no alcance dos
trazem a teoria da administração da qualidade e da objetivos, onde os melhores esforços são
produtividade para a aplicação prática, também há reconhecidos, certamente trabalharão em níveis mais
as que dirigem os pensamentos aos empenhos altos de motivação intrínseca e produzirão idéias
criativos e os direcionam para a superação de criativas (HILL e AMABILE, 1993: 425 apud
ALENCAR, 1996: 91)
desafios específicos da administração estratégica,
considerando toda a fisiologia do ato criativo Para De Masi, o clima organizacional
(PLSEK, 1997: 185). encorajador de soluções criativas coletivas ou
cooperativas necessita, por um lado, das habilidades
Como é possível observar, no contexto das
intelectuais e de um forte envolvimento emotivo,
organizações a criatividade amplia muito mais o
aliados ao senso de união das pessoas por
leque de definições, bem como o das inter-relações
pertencerem a um mesmo grupo; por outro lado,
provenientes da relação capital-trabalho. Além
necessita ser sincrônico, hábil na concentração de
desses aspectos, no âmbito das organizações a
energias, de forma que calibre a dimensão do grupo
criatividade é associada a conceitos como inovação,
em relação à tarefa (DE MASI, 1999: 21-20).
empreendedorismo e mudança (BRUNO-FARIA,
1996). MOSCOVICI (1997: 155) prefere apresentar as
características dos “solucionadores criativos”:
Alencar, ao apresentar seus estudos sobre o perfil
inteligência acima da média, exposição a
de uma organização criativa, enfatiza a importância
experiências diversificadas, interesse por idéias e
fundamental do ambiente de trabalho na vida do
suas combinações, habilidade de jogar com idéias,
indivíduo, ambiente que substitui, em grande parte,
capacidade de fazer associações remotas,
o papel vital da família, da vizinhança e da igreja na
receptividade a metáforas e analogias, preferência
vida das pessoas. Na configuração da atualidade, “o
pelo novo e pelo complexo e independência no
local de trabalho passou a ter um significado
julgamento. Para a autora, esses elementos sofrem
especial, em que as necessidades de envolvimento,
influências das condições sociais, das
apoio, apreço e reconhecimento social devem ser
personalidades dos indivíduos e do ambiente que,
satisfeitas, havendo espaço para a pessoa crescer e
desejavelmente, não ofereçam pressão ou ameaça
amadurecer” (ALENCAR, 1996: 90). Sobre esse
psicológica que limitem a liberdade ou a coragem
aspecto, a autora cita as observações de SROUR
das pessoas de se expressarem sem medo de
(1994: 41 apud ALENCAR, 1996: 90), que afirma
censuras ou retaliações.
que “querer obter dos funcionários comportamento
criativo em ambiente politicamente fechado, sem o Com relação ao clima organizacional encorajador
oxigênio libertário da polêmica e das críticas, sem o do desenvolvimento da criatividade, Rodrigues e
cultivo das diferenças ou o reconhecimento da sua Silva apresentam a pesquisa de VANGUNDY
legitimidade, é sonhar acordado”. (1987), que identifica seis características de um
clima favorável, reproduzidas a seguir:
Seguindo na sua análise sobre a estreita relação
entre a criatividade do indivíduo e a prática da

18 Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, v. 10, nº 1, janeiro/março 2003


A criatividade nas organizações: um estudo comparativo das abordagens
sociointeracionistas de apoio à gestão empresarial

a) autonomia: refere-se ao grau de liberdade que se HARMAN e HORMANN (1997: 38) afirmam que
dá às pessoas para expor idéias e tomar o gerenciamento é “muito mais uma questão de
iniciativas; encorajar o outro para que se desenvolva e use
b) sistema de recompensa por desempenho e muito mais sua própria capacidade de criação”.
competência: refere-se à percepção da existência
As discussões acerca do papel do líder na
de um sistema justo e adequado, baseado na
competência e no desempenho das pessoas; organização e do ambiente de trabalho devem
considerar que, se o indivíduo aprender a pensar
c) suporte à criatividade: diz respeito à percepção criticamente, enfrentar situações novas sem pânico
das pessoas de que a organização apóia as novas e de forma mais livre ou criativa, confiar em si e
idéias;
nos outros, descobrir e desenvolver suas
d) aceitação das diferenças e interesse pela potencialidades, no sentido de tornar-se mais
diversidade entre as pessoas: refere-se ao espaço autêntico e produtivo, poderá estar melhor
dado para a divergência de opiniões e propostas; preparado para enfrentar as mudanças
e) envolvimento pessoal: refere-se ao (MOSCOVICI, 1997).
reconhecimento das habilidades e esforços das
A relação entre o papel do ambiente
pessoas; e
organizacional e o processo de gestão permite,
f) apoio da gerência: diz respeito ao apoio da alta ainda, resgatar a reflexão de Scherkenbach sobre o
administração da organização na configuração de medo no local de trabalho, nos seus estudos e
um clima criativo (RODRIGUES e SILVA, 1998: observações sobre os Quatorze Pontos do Dr.
66). Deming. Para o autor, o medo está em toda parte e
As pesquisas apontadas permitem observar que a se manifesta de variadas formas, razão pela qual:
concepção de gestão de pessoas nas organizações é (...) a eliminação ou minimização do medo deve ser
decisiva para que a criatividade ocorra. Tanto os uma das primeiras das quatorze obrigações que a alta
fatores facilitadores e bloqueadores quanto as seis gerência precisa começar a implementar, porque ela
características de um clima favorável à criatividade, afeta nove dos demais pontos. Sem uma atmosfera de
e também as observações de HILL e AMABILE respeito mútuo, um sistema de gerenciamento com
(1993) sobre como surge a motivação intrínseca e a base estatística jamais funcionará, como aliás nenhum
produção de idéias criativas têm íntima relação com outro (SCHERKENBACH, 1990: 75).
o papel do líder na organização e com as condições Além de tratar do medo, o autor ainda faz
que a empresa oferta aos seus colaboradores para referência ao desafio de envolver todos na inovação
que o potencial criativo se desenvolva e atenda aos e derrubar as barreiras entre departamentos, de
objetivos individuais e organizacionais. forma “que cada um saiba que tem algo a contribuir
Esse conjunto de elementos que compõem as e que podem fazer isso em um ambiente de respeito
condições para uma organização que pretenda ser mútuo” (SCHERKENBACH, 1990: 82).
criativa deve estar focado no empenho e na Kao apresenta um importante riff relacionado ao
capacidade de aprendizagem das pessoas, em todos ambiente organizacional favorável ao surgimento da
os níveis (PEREIRA et al., 1999). O criatividade. Para ele, os gerentes devem “criar
desenvolvimento da capacidade de aprendizagem na ambientes eficazes em relação aos custos e
organização, desde a superação dos bloqueios sustentáveis para o trabalho produtivo. Eles são
individuais, do estímulo da gerência, à crença na agentes integradores – o flexível tecido conjuntivo –
emergência da criatividade, “pode provocar uma que conectam as crenças às metas, à cultura, à
maior capacidade de resposta que desencadeará um estratégia; e o desempenho à recompensa.
processo contínuo de aprendizagem organizacional” Energizam as pessoas, possibilitando o trabalho
(PEREIRA et al., 1999: 05). criativo.” (KAO, 1997: 117).
A relação da aprendizagem na organização com a Várias concepções sobre a criatividade foram
importância do ambiente para a expansão da apresentadas e estão sintetizadas no Quadro 2 a
criatividade torna a liderança empresarial seguir, que aponta os principais aspectos que as
responsável pela qualidade do ambiente de trabalho caracterizam como abordagens sociointeracionistas
e pela transmissão de uma visão orientadora. Assim, de apoio à gestão empresarial, relacionando-as sob a
ao tratarem especificamente do papel dos gerentes,

Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, v. 10, nº 1, janeiro/março 2003 19


Sonia Regina Hierro Parolin

forma de eixos estruturais, que são: a pessoa que organizacional, a relação com líderes e projetos.
cria, as relações interpessoais, o papel do ambiente

Quadro 02: Comparação entre as abordagens sociointeracionistas de apoio à gestão empresarial


Condições para que o processo criativo ocorra
Base conceitual da Papel do Relações com
Proposta Relações
criatividade Pessoa que cria ambiente líderes e
Interpessoais
organizacional projetos
Alencar Perspectiva Motivação Redução dos Clima Relevância dos
histórico-social. ativada a partir bloqueios. psicológico recursos
Instiga a inovação. da auto- favorável. materiais.
realização. Atenção às
Presença do variáveis que
consciente diferenciam os
racional e de empregados.
traços da
personalidade.
Amabile Perspectiva Motivação --- Condições Idéia deve ser
sociointeracionista. intrínseca ofertadas pela útil, adequada e
Influencia a influenciada pelo empresa são executável. Os
realização dos ambiente cruciais. objetivos devem
negócios organizacional. ser claros,
Exige expertise e desafiadores e
raciocínio interessantes.
criativo.
Cameron Perspectiva Motivação Apoio do grupo Relação ---
fenomenológica e intrínseca ativada para o alcance da espiritual com a
sociointeracionista. pelo caráter liberdade e do natureza.
espiritual. Ato da divertimento
alma. Caráter infantil. Grupos
lúdico e curativo. vistos como
“espelhos
confiantes”.
De Bono Forte influência do Relaxamento da Forte influência Forte influência Criatividade
contexto de idéias vigilância. do contexto das do contexto das avaliada pelo
dominantes. Valorização do idéias idéias produto. Atinge
Complemen- caráter lúdico dominantes. dominantes. P&D, O&M,
taridade do presente no jogo. análise de valor e
pensamento vertical Pensamento P.O.
e lateral. lateral como
hábito mental.
De Masi Perspectiva Habilidades Ênfase à união do Clima Comportamento
histórico-social. intelectuais com grupo e à organizacional sincrônico do
Mobilização de forte cooperação encorajador às líder com o
equipes ligadas a envolvimento voltada para o soluções grupo.
trabalhos emotivo. alcance de criativas. Habilidade em
idealizadores. soluções concentrar
coletivas. energias do
grupo.

20 Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, v. 10, nº 1, janeiro/março 2003


A criatividade nas organizações: um estudo comparativo das abordagens
sociointeracionistas de apoio à gestão empresarial

Condições para que o processo criativo ocorra


Base conceitual da Papel do Relações com
Proposta Relações
criatividade Pessoa que cria ambiente líderes e
Interpessoais
organizacional projetos
Gardner Perspectiva Compensação Relação afetiva Relação afetiva Relação de idéias
fenomenológica e afetiva, de apoio de apoio com projetos.
sociointeracionista. psiquicamente cognitivo. cognitivo.
Capacidade equilibrante, com
associativo- apoio cognitivo.
sinérgica. Interseção do
infantil com o
maduro.
Guilford Complementaridade Dependência dos Dependência dos Dependência dos ----
entre o pensamento bloqueios e bloqueios e bloqueios e
convergente e o barreiras barreiras barreiras
divergente. emocionais. emocionais. emocionais.
Kneller Perspectiva Fisiologia, Podem oferecer Forte influência Criatividade
sociocultural. temperamento, obstáculos não ambiental e avaliada pelo
Processo atitudes pessoais, intencionais de cultural. produto.
combinatório hábitos, valores e ordem cultural.
voltado para a processos Relações de
inovação e a mentais. Caráter prazer ao
exploração. lúdico. “brincar”.
Kao Perspectiva Ênfase aos Cumplicidade, Lugares e Questiona a
fenomenológica e processos, empatia e ética. espaços que natureza do
sociointeracionista. práticas e facilitem a trabalho.
Valoriza o contexto percepções. criatividade. Gerentes devem
organizacional. Precondição da Atmosfera aberta buscar equilíbrio
“mente de a constante na destruição
inciante”. improvisação. criativa.
Moscovici Perspectiva Inteligência As Influências das Líderes devem
fenomenológica e acima da média. personalidades condições sociais promover a
sociointeracionista. Exposição à influenciam o não devem criticidade,
Solucionadores experiências indivíduo oferecer pressão confiança,
criativos críticos, diversificadas. criativo. Clima de ameaça enfrentamento
autênticos e de confiança no psicológica. das mudanças,
produtivos. grupo. ambiente de
Promove o autenticidade.
desenvolvimento
organizacional.
Ostrower Perspectiva Percepção Relações O ato criador Os processos
histórico-social. consciente do afetivas. transforma o criativos surgem
Ênfase na processo de meio social. dentro dos
materialidade do criação. A processos de
processo criativo e intuição ocorre trabalho.
na capacidade de nas profundezas
transformação. da concentração.
Antever problemas e Motivação
soluções. intrínseca
embasada nas
potencialidades
existentes (de si
para si).

Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, v. 10, nº 1, janeiro/março 2003 21


A CRIATIVIDADE NAS ORGANIZAÇÕES: UM ESTUDO COMPARATIVO DAS
ABORDAGENS SOCIOINTERACIONISTAS DE APOIO À GESTÃO EMPRESARIAL

ENSAIO

Para confrontar as abordagens apresentadas com sociocultural, relacionadas às estratégias da


a realidade da prática empresarial focada nos organização. Para um melhor entendimento da
processos inovadores de gestão, foram elencadas 3 relação entre os conceitos expostos neste estudo,
empresas reconhecidas internacionalmente pelo organizados no Quadro 2, e os pressupostos
incentivo à criatividade e à inovação. apresentados pelos exemplos clássicos das empresas
comprometidas com a criatividade e a inovação, o
Assim sendo, o Quadro 3 apresenta uma leitura
Quadro 3 propõe uma análise dos parâmetros
das experiências de empresas que empreendem
comuns apresentados pelos autores, e que
esforços direcionados às constantes inovações e
constituem o suporte organizacional para o estímulo
que, para o continuado alcance desse fim, adotam
do processo criativo, e de sua relevância para as
na sua estratégia de ação, de forma implícita ou
organizações.
explícita, o cultivo à criatividade na organização.
Nessas empresas, percebe-se que os estímulos à Cabe ressaltar que as experiências da 3M, da
criatividade ocorrem de forma sistêmica, DuPont e da Pfizer Incorporation apresentam
abrangendo: as características individuais, as modelos de gestão e de organização do trabalho
características do trabalho e a visão do contexto semelhantes.

Quadro 3: Comparação entre os suportes organizacionais nas empresas para o estímulo do processo
criativo e sua relevância para as organizações
Condições em que o processo criativo ocorre
Papel do Relações com Relevância para a
Empresa Relações
Pessoa que cria ambiente líderes e organização
Interpessoais
organiz. projetos
3M Pessoal técnico Conversa A empresa deve Gerentes 30% das vendas são
com habilidades interdeparta- criar ambiente utilizam-se de provenientes de
multidisciplina- mental, auxílio desafiador. sistemas de produtos com menos
res e de mútuo, Pessoal técnico recompensas. de 4 anos. Elo entre
comunicação. cooperação e tem 15% do Devem retirar criatividade pessoal
compartilha- tempo destinado obstáculos, e desempenho da
mento de à novas incentivar, empresa. Inovação
informações. pesquisas. oferecer “licença como estratégia
Equipe criativa”. essencial.
multidisciplinar. Investimento em
P & D.
DuPont Pessoal técnico Equipe A empresa está Sistemas de 75% da receita de
se sente multidisciplinar voltada para a prêmios, alguns projetos
motivado pelos em comitês. manutenção de recompensas. devem ser
desafios do Compartilham ambiente que Controle sobre provenientes de
trabalho. conhecimentos, oriente e focalize descobertas e novos produtos.
transferem a pesquisa, a pesquisas para Desafio permanente
tecnologia. exploração de manter coerência ao status quo. Foco
Contatos idéias e a com os objetivos na inovação para o
pessoais visando sensação de da empresa. sucesso contínuo.
à sinergia. liberdade. Investimento em
P & D.

Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, v. 10, nº 1, janeiro/março 2003


A criatividade nas organizações: um estudo comparativo das abordagens
sociointeracionistas de apoio à gestão empresarial

Condições em que o processo criativo ocorre


Papel do Relações com Relevância para a
Empresa Relações
Pessoa que cria ambiente líderes e organização
Interpessoais
organiz. projetos
Pfizer Pessoal técnico Equipe Ambiente geral Sistema de Mudança criativa no
Incorp. apresenta suas sintonizada e focado em prêmios e aproveitamento das
idéias. Pessoal motivada ao estimular, promoções. ocorrências.
mais aperfeiçoamen- organizar e Gerentes Gerenciamento da
independente e to contínuo. orientar o veteranos em inovação e da
motivado pela desenvolvimento esforços de quebra de
procura da criativo. equipe, eficazes paradigmas em
melhoria da comunicadores e pesquisa básica.
condição hábeis
humana. estimuladores.
Exercício da Baixa
melhor atitude rotatividade nas
criativa e gerências.
inovadora. Aplicação de
17% em P&D.
Fonte: KANTER et al., 1998.

4. CONCLUSÕES concepção de trabalho da gestão empresarial na


atualidade. Assim, é possível considerar que:
O objetivo proposto neste estudo – alinhar e
• a perspectiva sociointeracionista do processo
comparar as abordagens sociointeracionistas de
criativo, evidenciada na maioria dos autores
apoio à gestão empresarial – vem oferecer um apoio
adotados neste estudo, oferece a fundamentação
teórico para aquelas organizações que buscam no
para que as organizações focadas na inovação e
estímulo à criatividade e à inovação um dos
na competitividade considerem a alta relevância
diferenciais intra-empresariais para a
das habilidades interpessoais direcionadas para
competitividade.
o alcance do desempenho almejado;
Enquanto dimensão humana, a criatividade é uma
• o consciente não se afasta do processo criativo
das expressões da capacidade inesgotável do
e, se um funcionário for adequadamente
homem de se transformar e transformar o seu meio
envolvido para se comprometer com resultados,
sociocultural. Enquanto criatividade empresarial, a
estará canalizando a sua capacidade criativa
manifestação da criatividade está circunscrita aos
para esse fim;
objetivos organizacionais e deve ser direcionada
para o alcance desse fim, intimamente relacionado à • a pessoa motivada ao trabalho estará
estratégia de inovação como condição para a direcionando esforços e habilidades para o
sobrevivência da empresa. alcance dos objetivos, e a gerência deve saber
mobilizar condições para que isso ocorra e para
No entanto, como foi tratado anteriormente, para
reduzir os fatores impeditivos;
uma organização manter-se competitiva no mercado
atual, necessita de plano institucional claro e • o esforço (energia pulsante), o empenho
pessoal motivado a pensar estrategicamente, a ter (persistência na atividade) e o desempenho
idéias inovadoras, e esse perfil se talha com o buril (resultado alcançado) são alguns dos
da criatividade (KAO, 1997). componentes comportamentais apresentados
pela pessoa motivada ao trabalho;
O confronto entre os Quadros 2 e 3 permite
algumas generalizações sobre as condições para que • para que o pensamento criativo (pensamento
o processo criativo ocorra nas organizações, numa divergente ou lateral) invista livremente no
abordagem sociointeracionista e dialética da inconsciente e, ao mesmo tempo, se municie
das informações ofertadas pelo pensamento

Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, v. 10, nº 1, janeiro/março 2003 23


Sonia Regina Hierro Parolin

racional (pensamento convergente ou vertical), Tais considerações, e muitas outras, podem ser
as barreiras emocionais e relacionais devem ser desdobradas do estudo comparativo entre os
afastadas ou minimizadas, com o fim de se conceitos e as experiências apresentadas. A partir
obter também o trabalho em equipe delas, surge uma nova questão que deve, por si só,
multidisciplinar; inquietar os gestores, e está sujeita a múltiplas
respostas: o que move o quê?
• o processo criativo exige equilíbrio entre as
doses de ludicidade durante os estágios de Uma resposta diz respeito à Abordagem
incubação e as doses de racionalidade nos Contingencial: a relação “se-depende” entre os fatos
estágios de verificação, considerando-se que há (STONER; FREEMAN, 1999). Se a empresa está
um período em que a produtividade não comprometida com estratégias de inovação, ela não
aparece; só depende de indivíduos criativos, como também
necessita mantê-los na organização. Para tanto,
• o processo de auto-realização é a mola
precisa integrar, no cotidiano, estratégias que
propulsora da imersão no processo criativo,
viabilizem sua expressão, e contar com a habilidade
pelo sentimento de descoberta e liberdade que
dos gerentes em lidar com a valência das
apresenta, e depende muito mais dos processos
recompensas (intrínsecas ou extrínsecas) para a
internos que externos;
manutenção da motivação.
• sistemas de prêmios e recompensas podem
Cabe destacar que as abordagens apresentadas
servir de estímulos externos ao desempenho
são fortemente baseadas nos aspectos relacionais
criativo nas organizações, como alternativas de
que envolvem a manifestação da criatividade. Esta
aceleramento dos insights individuais e
tendência aponta para o questionamento sobre as
coletivos, como forma de garantir um processo
habilidades e competências gerenciais capazes de
contínuo e duradouro, e como compensação ao
promover um ambiente de estímulo à criatividade e
empenho dos colaboradores diante dos
à inovação. Para ratificar essa tendência, foram
resultados alcançados;
apresentadas três experiências clássicas de empresas
• o clima organizacional, traduzido nas condições que investem em criatividade e inovação, com base
ambientais ofertadas e nas inter-relações de no mesmo modelo sociointeracionista de suporte
colaboradores, líderes e gerentes, é componente organizacional (condições) para que o processo
básico no encorajamento à expressão da criativo ocorra.
criatividade e deve manifestar segurança e
confiança;
5. LIMITAÇÕES DO ESTUDO
• o pessoal da área técnica recebe maior suporte
organizacional para a expressão da criatividade A principal limitação do estudo relaciona-se com
em razão do investimento em P&D, como a escassez de contribuições científicas sobre a
estratégia de inovação permanente, e esse criatividade aplicada à gestão empresarial. Em face
suporte poderá estender-se a outras áreas da da importância do tema, surgem inúmeros
organização, até mesmo àquelas que se “manuais” que pretendem “ensinar” como
relacionam com as rotinas sustentadoras do desenvolver e manter a criatividade nas
cotidiano; organizações sem, contudo, embasá-la
adequadamente e possibilitar que haja a
• as empresas comprometidas com a inovação
desmistificação do assunto.
devem manter o elo entre a criatividade
individual, a auto-realização e o desempenho da Como revisão bibliográfica – e não como
empresa; pesquisa empírica –, este estudo não se propôs à
comprovação das relações causais apresentadas
• a nova relação capital-trabalho inclui uma
sobre o tema.
revisão do sentido do próprio trabalho criativo,
que deve ser considerado como elemento
transformador pela inerente condição da
materialidade que o compõe.

24 Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, v. 10, nº 1, janeiro/março 2003


A criatividade nas organizações: um estudo comparativo das abordagens
sociointeracionistas de apoio à gestão empresarial

6. RECOMENDAÇÕES DO ESTUDO BRUNO-FARIA, M. de F. Estímulos e barreiras à


criatividade no ambiente de trabalho de uma
Várias outras temáticas no contexto da gestão se instituição bancária. Dissertação (Mestrado em
inter-relacionam de forma sistêmica e merecem Psicologia). Brasília: Universidade de Brasília,
investigações criteriosas para que possam, 1996.
realmente, contribuir para os novos processos de
CAMERON, J. Criatividade: a mina de ouro. Seja
gestão:
criativo e conquiste o seu espaço. Tradução:
• a visão dos funcionários sobre o estímulo à Maria Clara de B. W. Fernandes. Rio de
manifestação da criatividade em empresas que Janeiro: Ediouro, 1998.
investem em inovação;
CSIKSZENTMIHALYI, M. A psicologia da
• a importância da criatividade nos processos felicidade. Rio de Janeiro: Saraiva, 1992.
decisórios;
DE MASI, D. (Org.). A emoção e a regra: os
• o estabelecimento da cultura da criatividade na grupos criativos da Europa de 1850 a 1950.
empresa de forma não reducionista do potencial Tradução: Elia Ferreira Edel. 2. ed. Rio de
criativo; Janeiro: José Olympio, 1999.
• a influência da ética na manifestação da GARDNER, H. Inteligências múltiplas: a teoria na
criatividade; prática. Tradução: Maria Adriana Veronese.
• o impacto dos prêmios e bonificações nas Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
equipes, quando utilizados como estímulo à _____. Mentes que criam. Tradução: Maria Adriana
manifestação da criatividade; Veronese. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
• o papel da criatividade na gestão da qualidade e HARMAN, W.; HORMANN, J. O Trabalho
da produtividade; criativo. São Paulo: Cultrix, 1997.
• o impacto da criatividade na manutenção do IZQUIERDO, I. As bases da criação serão sempre
emprego. imponderáveis. (Dossiê) Jornal Zero Hora,
Segundo LEVITT (1986: 49), “é certamente mais Porto Alegre: RBS Interativa S.A., 1996.
fácil converter a criatividade em inovação no setor Caderno Cultura.
de publicidade, que numa empresa que opera com KANTER, R.; KAO, J.; WIERSEMA, F.
processos elaborados de produção, longos canais de Pensamento inovador na 3M, DuPont, GE,
distribuição e uma situação administrativa Pfizer e Rubbermaid: acesso instantâneo às
complexa”. O desafio não é pequeno, mas é um estratégias de ponta da atualidade. Tradução:
imperativo para os novos modelos de gestão que June Camargo. São Paulo: Negócio Editora,
objetivam a competitividade. 1998.
KAO, J. Jamming – a arte e a disciplina da
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS criatividade na empresa. Tradução: Ana Beatriz
Rodrigues e Priscilla Martins Celeste. Rio de
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São Paulo: Makron Books, 1996.
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AMABILE, T. M. Como não matar a criatividade. Tradução: De J. Reis. 5. ed. São Paulo:
HSM Management. v. 12, jan.-fev. 1999. IBRASA, 1978.
BODEN, M. A. (Org.) Dimensões da Criatividade. LEVITT, T. Criatividade não é suficiente. Coleção
Tradução: Pedro Theobald. Porto Alegre: Artes Harward de Administração. São Paulo: Nova
Médicas, 1999. Cultural, 1986. p. 29-49.
BONO, E. de. O Pensamento lateral na MOSCOVICI, F. Desenvolvimento interpessoal:
administração. São Paulo: Saraiva, 1995. treinamento em grupo. 7. ed. Rio de Janeiro:
José Olympio, 1997.

Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, v. 10, nº 1, janeiro/março 2003 25


Sonia Regina Hierro Parolin

OSTROWER, F. Criatividade e processos de


criação. 5. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1986.
PAROLIN, S. R. H. A perspectiva dos líderes
diante da gestão da criatividade em empresas
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Grande do Sul, 2001.
PEREIRA, B.; MUSSI, C.; KNABBEN, A. Se sua
empresa tiver um diferencial competitivo, então
comece a recriá-lo: a influência da criatividade
para o sucesso estratégico organizacional. In:
XXII ENANPAD, 22º, Anais... Foz do Iguaçu:
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linguagem pedagógica: um estudo de caso sobre
seu significado na formação de professores de
desenho na Unama, Belém. Dissertação
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