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TEXTOS A escuta psicanalitica Silvia Leonor Alonso No alicerce de toda palavra, a pulsio que insiste. Seguindo de perto as repetigdes, pode-se rastrear as pegadas das identificagées. escuta adquire um lugar central na psicand- lise por ser esta uma coisa de palavras, ditas ou silenciadas. Palavras que enganam, mas que abrem um acesso 4 significacao No entanto, a psicanilise, ao inaugurar’o campo da cescuta, produz uma verdadeira ruptura epistemol6gi- ca concernente 20 pensamento psiquiatrico do mo- mento. Citando Sauri em seu texto compilatétio sobre a histeria: ‘*A trama das crengas no naturalismo, con- texto no qual a histeria comeca a ser estudada cientifi- camente, privilegia o modo visual de conhecer. A me- téfora da luz domina sua rea expressiva e inquisitiva, ‘enquanto a necessidade de ver e iluminar guia o esfor- go dos cientistas. O visto, e com maior razio o olhado, goza de uma prerrogativa relevante. Nao € pois teme- rario afirmar que durante a vigéncia do navuralismo 20 predomina cpistemologicamente, 0 campo visual ¢ que a intengio explicita ou ticita de seus seguidores € conhecer olhando. Neste contexto, o privilegiado sto as caracteristicas visiveis daquilo a conhecer, pelo qué 08 tragos ostensivos passam a primeio plano’’."* ‘Ocspaco ea figura; a figuraolhada sobre um espago. império da objetividade positivista que recolhe ¢ anota todos os dados que aparecem perante o olhar. Eo que melhor que a histeria para er olhada, ja que estase mostra com toda espetacularidade? ‘Mas, pr6ximo & década de noventa, chegando ao fim Slivia Leonor Alonso — psicanalsta membro do Departamento de Ploanaliee do Instiuio Sedes Sapioniag {0 Pormenicago apresentas no panel ot A eacula paca promiovide pela wana Pulsional, or abi do 1906, do século, no interior da Escola de Nancy, 0 relato comeca a ocupar ‘um lugar. A narrativa de um sujei- 10, ap6s ser hipnotizado, comeca a interessar. Com isto, a categoria da recordagao se totna presente. Citando mais uma vez Sauri: “‘escutar refere imediatamente a fala ¢ sua raiz latina vincula ‘‘o es- cutado”’ aoato de ouvir ede ‘‘mon- tar guarda””; situaggo em que o €s- uta, eumprindo ofiio de sentine- 1a, vigios sons provenientes dem campo diferente do seu proprio.” "O escuta’” escuta os miidos que vém de fora ¢ também o siléncio {que se incorpora 20 campo da posi- teens eo tencnannd edie tamente nada, algo nele se insinua, quem escuta atentamente recebe a3 pegadas, as marcas que adquirem forma no momento em que getmi- ‘nam as palavras, ainda que estas, Eieiserntenetraanas Wen terion siosilenciado. B desde ento que o exercicio da suspeita se torna pre- sente porque hé uma mais do queo dito para ser escutado. Patera ered a erieceta pela livre assoclacio, A figura vai dando lugar 3 narrativa. Freud pe- de s histéticas que se deitem, fe- chem os olhos, ¢ com isso, as vezes ausiliads pela pressio frontal, as e- rarciarheseeteril Em todas as diregdes 0 campo se estende, Isto nao s6 porque nao per es olbar — reduzido ao dado, mas, a0 contrario, é no mats lacunar do dis- curso que um fio de significagao vai se tecendo. Mas também porque aparecerd a recordagdo e, com isso, @ histéria solicita ser levada em con- que escuta 0 analista? ‘Nao pensamos a linguagem co- ‘mo um instrumento de comunica- do. Tambémo €. Alguém se pro- Oe a comunicar algo c para isso se vale da linguagem. Porém, até aqui, 2 descoberta freudiana no std presente: ‘Ao introduzir o conceito de in- consciente, Freud coloca a fala em outro lugar, alguém que fala ¢ a0 fazé-lo diz mais do que aquilo que se propunha. Neste falar, em certos momentos, a l6gica consciente sc rompe, se desvanece ealgo diferen- te sc tomna presente, manifestando uma outra légica. A légica do pro- cesso primério, presente no lapso, no sono, no chiste, no esqueci- mento, na frase contradit6ria, no duplo sentido de-uma frase que Freud manda Dora escutar quando Ihe diz: ‘Memorize vocé bem suas proprias palavras. Talvez tenhamos que voltar 2 elas. Vocé falou, tex- tualmente, que durante a noite al- go pode acontecer que obrigue al- guém a sair do quarto”” ®, ‘Quando Freud estuda 6 sentido dos sonhos, a psicopatologia da vi- da cotidiana, inclui no espaco do sentido aquilo que até este mo- mento era considerado um sem sentido, mostrando assim a positi- vidade do esquecimento, da falta, do equivoco. ‘Quando fala de Catarina diz que a linguagem € demasiadamente pobre para dar expresso 3s suas sensagBes € aponta com isto a am- pliagao do campo do discurso como © caminho do analitico. ‘Na instauragio da situagio anali- tica, 20 propor a regra fundamental —a livre-associagdo € 0 seu reverso, 21 a atengio flutuante — se produz um desfraldar da palavra. No seio da associagio livre vai-se produzin- do um descolamento da imagem, do fato como fixo, ¢ este vai-se in- cluindo em miiltiplas imagens ca- Ieidoscépicas cujas combinagdes possiveis se multiplicam ¢ onde o ritmo, a cadéncia, a intensidade maior de alguns fonemas, a excita- lo explicita no gaguejar de uma palavra, o sentido duvidoso de uma frase mal construida, tudo isso vai dando tonalidades diferentes a estas figuras que nao passam desaperce- bidas & escuta sutil da atengio flu- twante. Ao mesmo tempo, ao ser escutado pelo analista, 0 préprio sujeito que fala se escuta. Como vemos, a imagem retorna Porém, nao é a imagem dada na fi- gura do corpo histérico. Ba imagem que surge da desconstrugio do dis- curso e que adquire sua maior niti- dez no momento da interpretacao No alicerce de toda palavra, € a pulsio que insiste. Aquela que no fala mas que € evocada pela palavra € que, levada pela compulsio 3 re- petigio, procura satisfazer-se. E se- guindo de perto as repeticdes que acompanhamos as vicissitudes da pulsdo c rastreamos as pegadas das identificagbes. Diriaentao que, do lugar do ana- lista, se escuta tudo, para poder es- TEXTOS citar alguma coisa. Coisa essa que é oinconsciente, que noseio darepe- tigdo insiste para ser excusado, que ‘na trama dos movimentos imaging rios se disfarca, se fantasia e, noen tanto, vat tecendo o fantasraa. De que lugar 0 analista escuta? Quem se dispoe a escutar se de- para como inesperado e € isto 0 que acontece quando no seio do proces- so de “‘relatar’’ 0 amor itrompe tal irrupgéo surpreende. Surpreen- de a Breuer que assustado cai fora dacena. Também a Freud que deci- de enfrentar os deménios, além de surpreender a cada analista quando este se deixa surpreender € no faz da constante tradugdo (interpreta- fo anal6gica) uma tentativa deen- jaular a fera, O proprio Freud diz ‘que € na forma surpreendente com a qual itrompe, que esti a forca pro- batoria do fenémeno da transferén- cia. conceito de inconsciente nao necessariamente quebra a idéia de exterioridade presente no olhar psi- quidtrico. Se o inconsciente € en- tendido como algo que esta no su- jeito, a nivel de depésito ou de pa- nela de instintos, alguém de fora poderia observar isso que se encon- tra no sujeito ¢ 2 sesso analitica ppoderia converter-se erm um espago experimental onde alguém observa ‘© queacontece comooutroe lhe co- munica, Ea nogio de transferéncia que vern romper com esta possibili- dade de objetivagao. Sendo 0 campo da transferéncia algo que inclui ao mesmo tempo analisando ¢ analista, tal monta- em aio permite mais objeivida le. Bevidente que, ainda que os dois estejam incluidos no mesmo cam- po, isso no implica em uma sime- tria ou em uma igualdade de fun- oes. Oanalisando se ditige a0 analista como sendo o iinico destinatario de sua palavra, o que nao € mais que a tentativa que o analisando faz de articular seu desejo a uma presenca concreta. De atribuir ao desejo um objeto para no reconhecer que 0 desejo, em sua impossibilidade de satisfazer-se, implica em uma falta, em uma auséncia. Oanalista, mantém a transferén- cia mas no se confunde com ela, ¢ mediante a nao resposta, remete 0 sujeito aos fundamentos infantis do amor. ‘A abstinéncia do analista permi- te, no dizer de Freud, subsistir no analisando a necessidade e 0 desejo como forcas que impulsionam 0 trabalho analitico e que, 20 evitar querer apaziguar as exigéncias de tais forcas com substitutos, remete © sujeito a suas origens inconscien- tes. 22 No entanto, isto 6 € possivel através de uma rentncia narcisica do analista, que Ihe permite: no ocupar 0 lugar de amo do desejo convertendo a anilise em sugestio; no se oferecer como ideal aserimi- tado convertendo. a andlise em edagogia; ou acreditar em uma neutfalidade absoluta, desconhe- cendo os obsticulos da escuta que, rapidamente, se encartega de atri- buir ao analisando como se fossem resistencias suas convertendo a ané- lise em uma grande batalha contra estas Conrad Stein em "'L’enfantima- ginaire’’ diz: ‘‘As sesses do pa- ciente tém mais possibilidades de converterem-se na sua psicanilise, se sio para o seu analista, o lugar privilegiado decontinuacao da sua”, Quando Freud trata da transfe- réneia reciproca em ‘“O futuro da terapia psicanalitica’’, a coloca co- mo um sintoma do analista, al que € despertado pelo discurso do paciente € que toca os pontos cegos do analista, expressando-se neste ‘como transferéncia reciproca. E de- vido aisto que se deduz a necessida- de da analise pessoal do analista ‘Ainda que a andlise pessoal seja condigo primordial para tornar-se analista, tal fato ndo garante uma escuta, Cada novo processo de cura © confronta com a necessidade de percorter as cadeias associativas aproximando-se de seu proprio de- sejo. Reencontra assim a possibili- dade de ocupar o lugar daquele que Je em andamento o processo de desvelamento do desejo do anali- sando. Este considera 0 analista co- mo aquele a quem dirigeo sintoma (neurose de transferéncia), mas que, perante a no resposta, resig- nifica, a cada momento, sua de- manda, atéa finalizacio da andlise Algum tempo atrés, um anali- sando, no seu fim de anilise, refle- tia: '"Hé alguns anos, quando che- guei aqui, sabia que softia, porém, 86 agora sei porque vim. Deve sero ‘Gnico investimento cm que s6 se sa- be porque se veio quando se vai" Bela teflexio sobre a questo do tempo em anilise, que € 0 tempo da tesignificagio. Como acreditar que, na primeira frase de uma ses- So, est dito tudo que serd poste- riotmente explicitado? Entendo que 0 sentido nio € algo ja dado ¢ {que precisa ser descoberto,-mas sim algo que se tece na tede de signifi- cantes e no tempo da resignifica- sto. Penso que reconhecer que 2 pos- sibilidade de escuta est no préprio desejodo analista, tecuperado a ca- da momento pelo trinsito das asso- ciagdes que Ihe permitem reconhe- cer seu desejo pessoal em jogo para poder a ele renunciar, levando-o a no ter a necessidade de querer as- segurat seu lugar — nem pela rigi dez do setting, nem pela tigidez. do gesto. Freud dizia em uma carta a Bis- ‘wanger: ‘O que se dé ao paciente nao deve ser jamais afeto imediato mas afeto conscientemente outor- gado segundo as necessidades do momento... Dar pouco a alguém porque o amamos muito € uma in- justiga consrao paciente euma falta técnica” ©, Os limites da escuta “Afirmei no comego que a abertu- sa do campo da escuta traz cena a historia. De que historia se trata? Obvio que nao a historia factual mas a hist6ria da constituigo do fantasma. Fantasma este que vai surgindo na andlise como efeito de deciframento a partir do sintoma. No entanto, nao se pode dizer que a causa do sintoma esteja no passa- do. ‘A causa do sintoma esti no presente, na inscrigio presente do vivido ¢ que na andlise atua como transferéncia’* Mas, a construcio do fantasma no € seno uma teoria que, tal co- ‘mo um mito, tende a responder aos ‘enigmas que o sujeito se coloca. E isto, pelo menos, que Freud mostra no caso do Pequeno Hans ou no ar- tigo sobre as teorias sexuais infan- tis. ‘Acontece que tudo isto se com- plica porque © analista também tem seu fantasma, sua ceoria, sua historia, assim como a hist6ria e 0 presente do movimento psicanaliti- co, Tudo isto pode oferecer possibi- lidades ao analista com relacio a sua escuta mas também pode limité-la. Seu fantasma se torna limite para ‘a escuta nos pontos cegas. A teoria passa a ser limitadora da escuta quando entra na sessio para ser aplicada ou confirmada, obstaculi- zando com isso as possiblidades do analisando de construira finicateoria valida para si proprio, que € a teoria que consti sobre sua histéria. ‘A presenca de varios corpos te6ri- co-clinicos, no movimento psicana- {itico atual, também pode produzir uma ampliacio no campo da escu- ta, no pelo ecletismo que é confu- sionante, mas através de um traba- Iho sério de situar as teorias no momento histérico em que surgem e as questbes que se propéem respon- der (nenhum corpo teérico respon- de a todas.as questées colocadas pe- la complexidade da clinica), bem como pelo trabalho de cruzamento de conceitos para esclarecer cada vez mais suas proximidades, suas diferencas, suas semelhangas ¢ opo- sigdes, Isto nfo €0 que acontece quando asadesbes dogmaticas convertem os iscursos tedricos em espécie de se- ‘nha com a qual cada analista garan- te seu reconhecimento pelo grupo, 23 em troca de esvaziar sua palavra e alienar-se nos processos especulares de reconhecimento métuo. ‘Ha um limite insuperavel para a anilise: o limite da morte. Aqui ci- 10 Godino num artigo sobre a prati- ca: ‘A morte € 0 momento em que cessa aeficacia do presente enquan- to causal, onde tudo € puro passa- do, puro trauma e puro aconteci- mento factual, brutal, catastréfico ¢ insoldvel. Para os vivos, pelo con- ttétio, o fato se resolve em uma es- trutura cuja historia €a pr6pria rea- lidade dos vivos em sua inscrigio presente.” Pergunto-me: como historicizar as teoias € os acontecimentos (per- tinéncias institucionais) para que nos sirvam no processo constante de resignificacio da clinica sem deixar que nos convertamos em mortos- vivos dos esterestipos ¢ dogmatis- Peeeceriiee 1 —Jorge Sai (Compilador), Las hiveres, Bai- Clones Nueva Vision Pig. 67 206. a. Pig. 197 5 Sigmund Freud. Obras Completa. Anilisis Fagmentirio de una histria, Biblioteca Nueva ‘Toma Pig. 958. 4"Sigmand Freud. Obras Completa. Obser- ‘aciones Sobre cl amor de tanefréncia. 1914 Biblioteca Nueva, Tomo Il Ps. 1692. 5—C, Stein, “L'enfans imaginaire 971. Pig. 364, 6 — 1 Biswanger, Dicowrs, Parscours, de Freud, Pig. 317. Carta de Freud de 20 de feve- rei de 1913. 7 "Antonio Godino Cabas, “Sobre Ja _pritca”. Saigo pablicao na Revista de Paco log Argentina a° 24 — Ano DX. Pig. 29 B= Ob cit. Pag. 29, Denoe!

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