Sei sulla pagina 1di 28

SEDE NACIONAL

Rua São Bento, 365, 18º Andar


Centro – São Paulo – SP
Fone: (11) 3105-0884 / Fax: (11)
3107-0538
observatorio@os.org.br

China e América Latina:


Parceria Estratégica ou Novo Imperialismo?

Relatório de Pesquisa I (IOS/DGB)

SÃO PAULO
MARÇO/2008
INSTITUTO OBSERVATÓRIO SOCIAL

CONSELHO DIRETOR
Presidente – Artur Henrique da Silva Santos
Diretor Administrativo - Financeiro – Valeir Ertle
CUT – Denise Motta Dau
CUT – Jacy Afonso de Melo
CUT – João Antônio Felício
CUT – Quintino Marques Severo
CUT – Rosane da Silva
CUT – Valéria Conceição da Silva
Dieese – João Vicente Silva Cayres
Dieese – Mara Luzia Feltes
Unitrabalho – Francisco Mazzeu
Unitrabalho – Silvia Araújo
Cedec – Maria Inês Barreto
Cedec – Tullo Vigevani

DIRETORIA EXECUTIVA
Presidente – Artur Henrique da Silva Santos
Diretor Administrativo - Financeiro – Valeir Ertle
Unitrabalho – Carlos Roberto Horta
Dieese – João Vicente Silva Cayres
CUT – Jacy Afonso de Melo
CUT – João Antônio Felício
Cedec – Maria Inês Barreto

SUPERVISÃO TÉCNICA
Amarildo Dudu Bolito - Supervisor Institucional
Ronaldo Baltar - Supervisor do Sistema de Informação

EQUIPE TÉCNICA
Alexandre de Freitas Barbosa – Consultor Técnico
Douglas Toledo Pesquisa – Assistente de Pesquisa
China e América Latina:
Parceria Estratégica ou Novo Imperialismo? 1

Índice

Apresentação............................................................................................Pag. 5

1.China e América Latina: Trajetórias Macroeconômicas Distintas nos


Anos 90...............................................................................................Pag.5

2.China e América Latina: Um Panorama das Relações


Comerciais..........................................................................................Pag.10

3.China e América Latina: Vários Padrões Regionais de Relações


Econômicas......................................................................................Pag.14

Síntese Geral....................................................................................Pag.20

4.A Política Externa Chinesa, a América Latina e os Movimentos


Sociais..............................................................................................Pag.24

Bibliografia......................................................................................Pag.27

1
Texto elaborado pelo Instituto Observatório Social (IOS)
Apresentação
Este é o primeiro relatório de pesquisa oriundo do projeto “Ascensão Chinesa e seu
Impacto sobre a América Latina e o Brasil: Impactos Setoriais e sobre o Mercado de
Trabalho”, desenvolvido pelo Instituto Observatório Social, com apoio da DGB, central
sindical alemã.

O objetivo deste texto é apresentar as principais características das relações econômicas e


geopolíticas desenvolvidas entre a China e os países da América Latina no período recente.
A primeira parte do texto contrasta os estilos de desenvolvimento da China e dos países
latino-americanos ao longo dos anos noventa. O contraste entre as duas opções de inserção
externa nos auxilia a explicar as características essenciais das relações entre China e
América Latina, que assumem uma nova feição na virada do século.

Em segundo lugar, é esboçado um panorama geral das relações comerciais entre as duas
regiões – tomando-se a América Latina como um agregado. A terceira parte do texto
procura discorrer sobre as especificidades das relações econômicas desenvolvidas entre a
China e México/América Central, China/Argentina, Chile e Peru e China/Brasil.

A quarta parte do texto realiza uma síntese da política externa chinesa, de modo a enfatizar
o que esta nova potência global almeja na América Latina. Como resultante deste esforço,
discorremos sobre os desafios impostos à América Latina em decorrência da ascensão
chinesa. A “parceria” China/América Latina é também discutida do ponto de vista dos
movimentos sociais da região, para os quais ainda não existe uma discussão aprofundada
sobre o fenômeno “China”, enquanto os governos e o empresariado - ainda que de forma
tópica, bilateral e sob um perspectiva de curto prazo - se posicionam para lidar com o
avanço econômico e geopolítico da potência asiática na América Latina.

1. China e América Latina: Trajetórias Macroeconômicas Distintas nos


Anos 90

Durante os anos noventa, as trajetórias macroeconômicas da América Latina e da China


apresentaram comportamentos bastante divergentes. Se, por um lado, ambas as regiões
aumentaram o seu grau de vinculação à economia internacional, pode-se dizer que as
políticas de inserção na globalização foram acionadas a partir de um conjunto de premissas
e políticas diversas, para não dizer opostas.

Em primeiro lugar, o que sobressai ao se contrapor as duas economias é o ritmo de


expansão. No período 1990-2002, a renda per capita chinesa expandiu-se cerca de dez
vezes mais rapidamente que a latino-americana (8,8% contra 0,9% ao ano).
Gráfico 1 – Crescimento Médio Anual do PIB per Capita – China e América Latina

10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
latin america china

Fonte: PNUD e CEPAL. Elaboração IOS.

Este dinamismo do PIB chinês encontra-se ancorado em altas taxas de investimento, as


quais se explicam pela expansão das exportações, pelo alto nível de gasto público e pela
expansão do mercado interno - a partir de baixos patamares e com um potencial de
expansão inédito - num contexto de extrema cautela quanto à liberalização do mercado de
capitais. Paralelamente, a liberalização comercial foi realizada de forma paulatina, tanto
que após a sua entrada na OMC os superávits comerciais se expandiram de forma relevante.
Em 2006, a China, segundo os dados da OMC, já participava com 10% das exportações de
manufaturados, contra cerca de 4% para o total da América Latina.

Isto porque a China tem realizado um upgrading das suas exportações, das quais 91% são
compostas de bens manufaturados, enquanto no caso latino-americano verifica-se uma
racionalização produtiva com desverticalização e aumento do conteúdo importado,
especialmente nos segmentos mais dinâmicos do comércio e de maior produtividade. Como
resultado, obtém-se um duplo processo de concentração das exportações em produtos
intensivos em recursos naturais e de generalização das maquiladoras - exportações de
manufaturados com baixa agregação de valor no mercado interno (Cimoli e Katz, 2002).

O gráfico abaixo aponta para a irrelevância das exportações industriais latino-americanas


em termos de participação no comércio mundial, com a exceção das commodities e
combustíveis, que participam, respectivamente, com 11,5% e 9% das vendas externas
globais. Nos produtos manufaturados, percebe-se a posição marginal da América Latina
que contribui com um percentual que oscila de 4% a 5% nas manufaturas intensivas em
recursos naturais e de baixa e média tecnologia, enquanto nas de alta tecnologia, a região
responde por 3,4% das vendas mundiais.
Gráfico 2 – Participação da América Latina nas Exportações Mundiais por Categoria de Produto
(em %)
14,0
11,5
12,0

10,0
8,9
8,0

6,0 5,5
4,5 5,0
4,1 3,4
4,0

2,0

0,0
commodities fuels manufactures manufaturas - manufactures manufactures total
- intensive em low technology - middle - high
natural technology technology
resources

1998 1999 2000 2001 2002

Fonte: UNCTAD. Elaboração IOS.

Adicionalmente, a política chinesa de atração de multinacionais favorece o modelo de joint-


veintures com empresas nacionais, e não a simples privatização como predominou no caso
latino-americano dos anos noventa. Apesar do papel estratégico destas empresas, elas
contribuem com apenas 5% da formação bruta de capital do país e com 30% da produção
de produtos manufaturados, 3/5 dos quais estão voltados para o mercado interno (Lardy,
2006). Ou seja, o mercado externo e os investimentos externos são estratégicos
especialmente porque realimentam um processo de acumulação de capital cuja dinâmica é
endógena.

A diferença essencial entre as duas regiões econômicas parece residir no nexo entre
exportações e investimento, que permitiu ampliar a capacidade produtiva na China,
contribuindo inclusive para fortalecer o mercado interno, enquanto na América Latina a
volatilidade cambial - em virtude da rápida e automática abertura comercial e financeira –
impossibilitou a viabilização deste nexo, trazendo alterações bruscas nas taxas de
crescimento e investimento e forçando estes países a recorrer a políticas monetárias rígidas.

Segundo as categorias traçadas pela UNCTAD (2003), a China poderia ser classificada
como um país de industrialização rápida, que presencia uma transformação estrutural da
sua base produtiva no sentido dos setores de maior produtividade. Já a América Latina,
compõe a periferia capitalista em processo de desindustrialização precoce.

Isto porque a perda de participação da produção industrial não se deu em virtude da


transformação da estrutura produtiva, de modo a incorporar serviços agregadores de valor,
como no caso dos países desenvolvidos, mas em virtude do encolhimento da base industrial
herdada durante o modelo de industrialização por substituição de importações.
Se é verdade que esta tendência de queda da participação industrial também se verifica nos
tigres asiáticos da primeira geração, percebe-se que ela se mostra bem menos pronunciada,
pois esteve associada a uma maior complexidade da matriz industrial. Já no caso chinês, a
indústria, cada vez mais diversificada, representa 35% do PIB do país, alavancando a
expansão dos setores de serviços e agrícola, ainda que neste último exista um vasto
conjunto de atividades de baixíssima produtividade.

Gráfico 3 – Participação da Indústria de Transformação no PIB por Grupos de Países (em %)

45

40

35

30

25

20

15
1960 1970 1980 1990 2000

developed countries 4 asian nic's china latin america

Fonte: UNCTAD. Elaboração IOS.

Em síntese, as diferenças entre os países latino-americanos e os países asiáticos, em


especial a China, devem-se, em grande medida, às concepções peculiares de política
industrial e aos modelos de inserção externa a elas associados (Chang, 2004).

No caso dos países asiáticos, como Coréia do Sul e Taiwan, foram acionadas políticas
voltadas para o desenvolvimento de capacidades domésticas nas atividades de alta
tecnologia, ao passo que nos demais tigres asiáticos – Malásia, Tailândia e Filipinas - o
modelo adotado foi de atração das empresas multinacionais para se tornarem plataformas
de exportação nestes segmentos (Lall, 2001).

No caso dos países latino-americanos, a partir dos anos noventa, passaram a predominar
políticas industriais de caráter horizontal, assimilando as chamadas “boas políticas”
recomendadas pelos países desenvolvidos, ou então assinados tratados de livre-comércio
entre os países da região e economias avançadas, que tendem a subordinar os fluxos
comerciais às decisões das empresas multinacionais.

Ainda assim, a reestruturação industrial - acionada neste quadro de abertura comercial e


financeira, com valorização cambial para vários países e instabilidade econômica
decorrente dos expressivos déficits em transação corrente - apresentou vários estilos:
desindustrialização com reorientação para fora no Chile; integração radical em direção ao
norte no México; desofisticação exportadora na Argentina; e defensiva no Brasil
(Bielschowsky e Stumpo, 1995). Estes estilos resultaram de diversas combinações entre
fatores macroeconômicos, estruturais e institucionais. Paralelamente, as decisões das
empresas multinacionais variaram de acordo com a natureza do ajuste, com a dimensão dos
respectivos mercados internos e com as opções em termos de acordos comerciais.

As diferenças em termos de dinâmicas macroeconômicas e produtivas podem ser


sintetizadas a partir do comportamento dos investimentos diretos externos (IDEs) nestas
duas regiões econômicas. Na China, observa-se que estes investimentos elevaram-se de
maneira contínua, apoiados pelo desenvolvimento e diversificação da base industrial e de
serviços do país, enquanto na América Latina, o comportamento dos IDEs mostra-se
exógeno. Ou seja, eles crescem, quando os investimentos totais e para os países em
desenvolvimento se elevam, e caem quando a economia mundial enfrenta uma crise como
no período 2001-2003.

Gráfico 4 – Investimentos Diretos Externos para os Países em Desenvolvimento, a América


Latina e a China – 1991 a 2005

400

350

300

250

200

150

100

50

0
1991- 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
1996

developing countries china latin america

Fonte: UNCTAD. Elaboração IOS.

Quanto aos novos projetos de investimento direto externo realizados, observa-se que o grau
de abertura econômica e o grau de regulação estatal pouco interferem. As empresas
multinacionais têm expandido seus projetos em países dinâmicos economicamente, como a
China, enquanto os reduzem na América Latina, em virtude de contar com economias
pouco diversificadas e com menor potencial de expansão do mercado doméstico.

Ainda que a China esteja muito longe de substituir toda a produção mundial – e este quadro
parece pouco factível em virtude de suas próprias contradições e da dinâmica regionalizada
da economia global – este país abriga mais de ¼ dos novos projetos de investimentos das
empresas multinacionais nos países em desenvolvimento, enquanto a América Latina
responde por apenas 10% deste total.
Gráfico 5 – Número de Projetos “Greenfield” de Empresas Multinacionais nos Países em
Desenvolvimento, China e América Latina

6000
5218
5000

4000

3000
2362

2000
1378

1000
584 565 559

0
2002 2003 2004 2005 2006

developing  countries china la tin a m erica

Fonte: UNCTAD. Elaboração IOS.

Estes modelos produtivos, macroeconômicas e de inserção externa contrastantes,


observados entre a China e os países latino-americanos, nos auxiliam a explicar o tipo de
interação econômica desenvolvida entre as duas regiões no período recente, o qual
analisaremos com mais detalhe em seguida.

2. China e América Latina: Um Panorama das Relações Comerciais


Comecemos a análise bilateral pela importância da América Latina nas transações
comerciais da China. A partir dos dados de 2005 da OMC, observa-se que apenas 2,3% das
exportações chinesas dirigem-se à América Latina (gráfico 6). Somadas a América Latina e
a África - duas regiões que têm recebido fortes investidas da China na arena externa,
contando inclusive com intensa cobertura da imprensa ocidental – estas respondem por
apenas 5% das exportações chinesas. Entre os países latino-americanos, o Brasil aparece
como 14º. fornecedor da China em termos agregados, enquanto os demais não se
encontram sequer na lista dos 20 principais exportadores para este país (Jenkins e Dussel
Peters, 2007).

Portanto, estas duas regiões do Sul do planeta aparecem como marginais para o
desempenho exportador chinês, já que este país privilegia o acesso aos mercados dos países
desenvolvidos (mais de 50% da suas exportações vão para os EUA, UE e Japão), além dos
outros quase 30% direcionados para o Sudeste Asiático.

Já do lado das importações, destas duas regiões do Sul do planeta se originam 7% das
importações chinesas. Quando se analisa a distribuição do comércio, por exemplo, percebe-
se que a América do Sul e Central respondem por 20% dos produtos agrícolas consumidos
pela China e por 10% dos produtos minerais, incluindo combustíveis (tabela 1). Já no caso
africano, estes percentuais são, respectivamente, de 3,9% e 38,2%, respectivamente,
segundo os dados da OMC. Em outras palavras, ¼ dos produtos agrícolas importados pela
China vem destas duas regiões, percentual que sobe para 50% no caso dos combustíveis e
produtos minerais, predominando a América Latia no primeiro caso e a África no segundo.

Gráfico 6 – Distribuição das Exportações Chinesas por Destino e das Importações por Origem –
2005 (em %)
35,0
32,5
30,0
27,7
25,0
21,4
18,9
20,0
15,2
15,0
11,2 11,0
10,0
7,4
5,0 3,7
2,3 2,4 3,2

0,0
US UE Japan Southeast Asia South/Central Africa
America

China exports China Imports

Fonte: OMC. Elaboração IOS.


obs 1: o México e os países do Caribe não estão incluídos na América Latina.
obs2: no conjunto países asiáticos, encontram-se apenas as 6 principais economias da região.

Tabela 1 – Importações Chinesas da América Latina por Categoria de Produto - 2005

US$ bi % total China imports from LA % China import of these goods


agricultural products 8,6 35,1 20,3
Fuel and mining products 12,3 50,2 10,3
manafactures 3,6 14,7 0,7
Fonte: WTO. Elaboração IOS.
Obs: o México e os países do Caribe não estão incluídos na América Latina.

Junte-se a esta pauta de exportações concentrada dos países sul-americanos e a fome de


alimentos, matérias-primas agrícolas, minerais e combustíveis dos chineses e assim se
compreende o crescimento formidável das exportações desta região para a potência asiática.

O gráfico 7 abaixo apresenta a expansão das exportações latino-americanas para a China e


evidencia o crescimento de cerca de 8 vezes das vendas externas para aquele país no
período 1995-2005. Ao final do período, em 2005, o saldo comercial favorável para a
América Latina era de US$ 6,6 bilhões.
Gráfico 7 – Exportações, Importações e Saldo Comercial da América Latina com a China de
1995 a 2005

25,0

20,0

15,0

10,0

5,0

0,0
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
-5,0

export imports trade balance


Fonte: OMC. Elaboração IOS.
Obs: o México não está incluído na América Latina.

O grosso do salto exportador (80% do crescimento no período 1995-2005) concentra-se no


pós-2002, podendo ser explicado tanto pelo crescimento contínuo da economia chinesa
como pela alta no preço das commodities, ambos os fatores de alguma maneira
relacionados. De fato, neste período, presenciou-se uma expansão acelerada da China,
especialmente dos setores energético, metalúrgico e de infra-estrutura.

Para Yin (2006), parte desta expansão se deve também à redução da tarifa média de
importação da China, depois da sua entrada na OMC. Entre 1998 e 2005, esta caiu de 17%
para 9,4%. De qualquer forma, vale lembrar que a estrutura tarifária chinesa continua
sujeita a picos tarifários, especialmente no setor agrícola, onde as tarifas mostram-se
superiores à média (CEPAL, 2006).

Não menos importante é o fato de a demanda latino-americana por importações chinesas


também sofrer uma inflexão para cima depois de 2002. No período 2002-2005, de fato,
reduz-se a defasagem entre as exportações para a China que crescem 3,4 vezes e as
importações deste país provenientes da América Latina, que se ampliam em 2,7 vezes. No
ano de 2005, com relação ao ano anterior, as exportações chinesas para esta região
cresceram inclusive mais rapidamente que as importações, estabilizando-se o superávit
comercial favorável à América Latina.

Ressalve-se que 93% das importações da América do Sul e Central provenientes da China
são compostas de produtos manufaturados, representando o setor têxtil e vestuário por 25%
do valor total comprado da China e as máquinas e equipamento por 44% para o ano de
2005 (Alden e Alves, 2007). Esta maior presença dos produtos de maior intensidade
tecnológica não está restrita às vendas para a América Latina. Uma mudança da estrutura
industrial interna ocasionou uma alteração da pauta de exportações chinesas ao final dos
anos noventa. No período 2002-2004, as exportações intensivas em trabalho totais da China
ampliaram-se 67%, contra 100% de aumento dos produtos de média e alta tecnologia (Yin,
2006). É o caso especialmente de produtos padronizados como computadores portáteis,
telefones celulares e aparelhos de DVD.

Os dados apontados acima têm dado margem a suposições apressadas. Acabou-se a


volatilidade das economias com base em recursos primários? A China serviria como
sustentáculo da economia mundial, permitindo contas externas menos vulneráveis para os
países latino-americanos, em virtude da melhoria dos termos de troca? Estas questões
devem ser analisadas com cautela, pois levam a generalizações com pouca evidência
empírica, além de desconsiderar as especificidades dos vários países da região.

Os gráficos 8 e 9 abaixo evidenciam a posição dos vários países da América Latina com
respeito às relações comerciais mantidas com o país asiático. Em primeiro lugar, quase 4/5
das exportações regionais – aqui já incluídos os dados mexicanos - para a China são
provenientes de apenas 4 países, quais sejam, Brasil, Chile, Argentina e Peru, em ordem
decrescente. Em segundo lugar, enquanto para a média dos países latino-americanos, a
China responde por menos de 4% das exportações totais, nestes quatro países, ela supera
6%, com destaque para Chile, Cuba e Peru onde as exportações para a China já atingiram a
casa de 10% das vendas externas totais.

Vale ressaltar ainda que, entre 1999 e 2004, a China respondeu por quase 20% da expansão
das exportações de Argentina e Chile, 16% para o caso peruano e 10% para o Brasil.
Merece destaque aqui o caso da Costa Rica, com a contribuição chinesa chegando a 35% da
elevação das vendas externas (Rhys e Dussel Peters, 2007).

Gráfico 8 – Valor das Exportações em Dólares e Participação dos Principais Exportadores


Latino-Americanos para a China – 2005
8,0 40,0

7,0 35,2 35,0


% of Latin American exports

6,0 30,0
Exports in US$ bi

5,0 25,0
22,6
4,0 20,0
17,0
3,0 15,0

2,0 9,4 10,0


5,6
1,0 4,3 5,0
1,8
0,0 0,0
Brazil Chile Argentina Peru Mexico Venezuela Cetral
Am erica

US$ bi %
Fonte: CEPAL. Elaboração IOS.
Gráfico 9 – Participação da China nas Exportações Totais por Países da América Latina (em % )
- 2005
12

10

0
Peru Cuba Argentina Brazil Latin America Central Venezuela Mexico
America

Fonte: CEPAL. Elaboração IOS.

Além de profundamente concentradas por países, as exportações latino-americanas também


o são em termos de produtos. O Brasil é o país que possui a pauta menos concentrada e
ainda assim 2/3 das exportações estão concentradas em minério de ferra e soja. O Chile e a
Argentina destinam quase 80% das suas exportações para a China a partir de um único
produto, como se depreende da tabela abaixo.

Tabela 2 – Participação dos Principais Produtos nas Exportações para a China de Alguns Países
Latino-Americanos - 2004

% principal goods first second third


Argentina 78,5 soy
Brasil 67,7 iron ore soy
Chile 76,2 copper
Peru 85,2 copper fish flour iron ore
Fonte: CEPAL. Elaboração IOS.

3. China e América Latina: Vários Padrões Regionais de Relações


Econômicas
Passemos agora a uma análise dos padrões de comércio e de investimentos desenvolvidos
entre as China e as várias sub-áreas da região.

O primeiro padrão de relações econômicas abarca Chile, Argentina e Peru. Os saldos


comerciais mostram-se francamente favoráveis, em virtude da especialização produtiva e
da pauta exportadora destes países. Os investimentos chineses, neste caso, tendem a se
concentrar nas atividades exportadoras – como no caso do minério de ferro no Peru e das
reservas de petróleo recentemente descobertas no norte deste país – e nas atividades de
infra-estrutura, tal como estradas e portos nos casos de Chile e Argentina.

No caso chileno, optou-se inclusive por um acordo de livre-comércio com a China –


assinado em novembro de 2005. Este acordo pode ser explicado, de um lado, pela
complementaridade e proximidade das duas economias, e de outro, pela política externa
chilena de ampliar e diversificar as suas relações comerciais a partir de negociações
bilaterais.

Este padrão não está imune a políticas protecionistas visando a conter a “ameaça” chinesa.
Neste sentido, o caso argentino comporta o outro extremo. Em agosto de 2007, este país
adotou um conjunto de medidas restritivas voltadas especialmente à China. São licenças
automáticas de importação, normas de segurança adicionais e exigência por parte dos
importadores de apresentação de “certificados de origem”, com o objetivo de combater o
subfaturamento. O interessante deste caso é que a demanda para o uso desta medida partiu
da Unión Obrera Metalúrgica-UOM (Paladín, 2007).

O segundo padrão de comércio é aquele desenvolvido entre o Brasil e a China. As


especificidades deste caso devem-se à estrutura de exportação mais diversificada do Brasil,
à maior escala e integração das cadeias produtivas nacionais, especialmente da indústria, e
ao fato de que as exportações do Brasil, ao menos para os países para a região, são em
alguma medida coincidentes com o que estes importam da China.

É fato que no Brasil também existe – tal como no primeiro caso descrito acima - uma forte
especialização das exportações para a China, já que mais de 80% das vendas externas
encontram-se agrupadas nos produtos primários e semi-manufaturados.

Mas a este fator devem ser acrescidos outros, para que se compreendam as relações
bilaterais em toda a sua complexidade. Em primeiro lugar, o Brasil parece ser mais afetado
pelas importações industriais da China do que os demais países do Cone Sul. Isto se
percebe a partir do gráfico abaixo.

O período de 2003 a 2006, quando o superávit comercial do Brasil regride de US$ 2,4
bilhões para cerca de US$ 400 milhões, coincide com a reativação do PIB industrial deste
país, combinada ao final do período, com uma forte valorização cambial. No primeiro
semestre de 2007, o Brasil passa a inclusive apresentar déficit comercial com a China. Tudo
indica que, neste ano, a China passe a ocupar a posição de segundo maior parceiro
comercial do país (Tachinardi, 2007). O presidente Lula sintetiza esta realidade complexa a
partir da afirmação de que “a China assim como ajuda, também pode atrapalhar”
(Entrevista para Isto É Dinheiro, 17 de outubro de 2007).

De fato, a concentração das importações brasileiras da China é infinitamente menor do que


o inverso. Os dez principais produtos importados pelo Brasil da China respondem por 26%
de nossas compras externas (Valls Pereira, 2006). A se continuar o atual cenário
macroeconômico, a combinação entre China e valorização cambial pode criar vários
“buracos” na estrutura industrial brasileira. Por enquanto, a participação das importações
industriais chinesas ainda representa apenas 1% do produto industrial brasileiro, ainda que
esta tenha se elevado em 3 vezes entre 2000 e 2005 (Rhys e Dussel Peters, 2007). Vale
ressaltar ainda que o déficit comercial do setor industrial brasileiro com o parceiro asiático
elevou-se em 3,6 vezes, saltando de US$ 1,583 bilhões para US$ 5,681 bilhões entre 2004 e
2006 (FIESP, 2007).

Se até 2004, as compras industriais da China não tiveram um efeito destrutivo sobre o
mercado interno, já que em muitos casos, especialmente para os produtos de alto valor
agregado, tratava-se de substituição entre fornecedores externos (Barbosa e Mendes, 2006);
tudo indica que os efeitos sobre o mercado interno estejam se mostrando mais graves.

Por outro lado, o Brasil – ao contrário dos seus vizinhos latino-americanos – consegue se
destacar na exportação de alguns produtos industriais. Existe, portanto, algum espaço para
integração nas cadeias produtivas chinesas nos segmentos de teor tecnológico
intermediário, como couros, papel e celulose e em insumos industriais como autopeças,
produtos químicos, siderúrgicos e eletrônicos, além de máquinas e aparelhos mecânicos
(Amorim, 2005 e Valls Pereira, 2006).

Ainda assim, vale lembrar que a China tende a exportar no máximo os elos da cadeia
produtiva de menor valor agregado, priorizando, por exemplo, celulose ao invés de papel,
alumina em relação ao alumínio e ferro no lugar de aço (Barbosa e Mendes, 2006).
Também não se pode esquecer que o Brasil, mas também os demais países latino-
americanos, enfrentam concorrência dos países da ASEAN, com quem a China desenvolve
uma intensa rede de comércio intra-industrial. No segmento de manufaturas baseadas em
recursos naturais, 15,6% das importações chinesas provêm da ASEAN e apenas 7,8% dos
países da ALADI (CEPAL, 2006). Esta diferença de participação no mercado chinês
revela-se ainda maior nos segmentos mais intensivos em tecnologia.

Gráfico 10 – Exportações, Importações e Saldo Comercial da América Latina com a China de


1998 a 2006

9.000

8.000

7.000

6.000

5.000

4.000

3.000

2.000

1.000

0
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
-1.000

exports imports surplus/deficit

Fonte: MDIC/Secex. Elaboração IOS.


Outras questões caracterizam o padrão de relações econômicas entre Brasil e China. O
Brasil tende a ser crescentemente deslocado dos mercados para os quais exporta na região,
onde se concentram suas vendas produtos industriais de alto valor agregado.

O gráfico abaixo aponta que isto ainda não acontece no Mercosul de forma generalizada,
onde a participação do Brasil no total das importações industriais era cerca de 3 vezes
superior à chinesa no ano de 2004. Entretanto, tudo indica que este quadro esteja mudando
rapidamente especialmente para alguns segmentos. No caso da indústria metal-mecânica, as
importações argentinas provenientes da China já superaram as brasileiras no primeiro
semestre de 2007 (Paladín, 2007). Esta tendência vem se concretizando no comércio com
Chile e a Comunidade Andina (CAN), onde as participações de Brasil e China já eram
muito próximas em 2004 (dados IADB). Graças ao peso das importações mexicanas, a
China já superava o Brasil em 2004, respondendo por 7,8% das importações de produtos
industriais da região, contra 6,5% do Brasil.

Mas o efeito deslocamento não ocorre apenas em relação aos países latino-americanos.
Mais de 40% das perdas de mercado dos produtos brasileiros nos Estados Unidos para a
China se concentram em dois produtos: calçados e telefones celulares (Valls Pereira e
Maciel, agosto de 2006).

Gráfico 11 – Participação do Brasil e da China no Total de Importações Industriais dos Países


Latino-Americanos (Descontadas as Importações Brasileiras) – 2004

25

20

15

10

0
América Latina Mercosul Chile CAN México

brasil china

Fonte: Banco Inter-Americano de Desenvolvimento. Elaboração IOS.


obs: Mercosul sem Venezuela e CAN com Venezuela.

Outra especificidade do caso brasileiro é a crescente presença de multinacionais brasileiras


que passam a operar na China – por meio de joint-veintures – o que contribui para ativar os
fluxos de comércio de bens e serviços, ainda que numa magnitude bem inferior ao potencial
existente. Empresas como Embraco (compressores), Embraer (aviões), Weg (motores
elétricos), Sabo (autopeças) e Marcopolo (ônibus) lançaram-se na frente, e outras devem
seguir o mesmo caminho. Não se trata de opção, mas da única forma de penetrar no
mercado chinês nos setores de tecnologia média/alta.

Quanto aos investimentos diretos externos chineses no Brasil, estes também assumem um
padrão mais diversificado. Além do setor madeireiro e de minério de ferro, estão presentes
nas atividades de maquinaria (tratores), geração de energia e telecomunicações (Oliva,
2005). Mais recentemente, foi anunciada uma parceria entre a estatal chinesa BBCA
Bioquímica e o Grupo Farias, de capital nacional, para construir duas grandes usinas de
etanol no estado do Maranhão entre 2009 e 2010 (Instituto Observatório Social, 2007).

Entretanto, os impactos dos investimentos chineses para a produção e emprego nacionais


ainda se mostram irrelevantes, especialmente quando comparados com os investimentos
possivelmente postergados no Brasil em virtude da opção de várias multinacionais por
concentrar suas plantas na China. É claro que as operações regionais de várias destas
empresas estão baseadas no Brasil, porém seus planos de expansão para ocupar mercados
mundiais são afetados de alguma forma pela pujança do mercado chinês e dos seus níveis
de competitividade nos mercados externos.

Para concluir, vale lembrar que algumas empresas multinacionais brasileiras, especialmente
no setor de construção civil, já temem o avanço do capital chinês em outras regiões,
especialmente no continente africano (Tachinardi, 2007). Não à toa, em visita realizada à
África, em outubro deste ano, o presidente Lula anunciou que a linha de crédito do BNDES
– banco de fomento nacional - para empresas brasileiras com exportações de bens e
serviços para Angola deve subir para US$ 1 bilhão (Valor Econômico, 19 de outubro).

O caso do México e dos países da América Central representa a antítese do padrão


encontrado nos países da América do Sul, ao menos daqueles onde a participação chinesa
em termos comerciais se afigura expressiva, como Argentina, Chile e Peru. Especialmente
no caso mexicano, os efeitos de invasão interna e deslocamento em mercados externos se
afiguram bastante poderosos. O México foi desbancado pela China, no ano de 2003, da sua
posição como segundo maior exportador para os Estados Unidos. Dos 20 principais setores
de exportação do México, 12 estão em aberta concorrência com os produtos chineses. Uma
prova da pressão interna é o fato de que 40% dos procedimentos de antidumping sofridos
pela China, até setembro de 2005, foram acionados justamente pelo México (León-
Manríquez, 2006), que se opusera de forma flagrante ao ingresso da China na OMC.

Algo semelhante se passa com a maioria dos países da América Central, mas aqui os efeitos
negativos se fazem sentir em termos de deslocamento, especialmente com relação ao
mercado dos Estados Unidos, e em grande medida no setor de têxtil e vestuário. Estes
países ademais não contam com a oferta de produtos agrícolas e minerais – com a possível
exceção mexicana no caso de minérios - na magnitude suficiente ou com a competitividade
necessária para servir como fornecedores da China.

A única exceção é a Costa Rica, que mantém um superávit comercial com a China, mas
graças ao fato de que 92% das suas exportações para aquele país são de microprocessadores
eletrônicos (CEPAL, 2006). Trata-se de um comércio intra-industrial, que se explica pela
presença da fábrica da Intel no país centro-americano. O México também tem se destacado
por fornecer alguns produtos eletrônicos e autopeças para a China, também como parte de
um comércio realizado essencialmente entre empresas multinacionais. Observa-se ainda
que quase 50% dos investimentos externos chineses recebidos pelo México estão
concentrados em empresas do setor vestuário (Oliva, 2005), em busca de maior acesso ao
mercado estadunidense.

Mas o mais comum tem sido a transferência de várias das multinacionais que atuavam
como maquiladoras no México para o país asiático. Ou seja, especialmente no caso
mexicano, trata-se de um padrão de comércio que leva a vultosos déficits comerciais com a
China, trazendo maior pressão competitiva interna, além de deslocamento das exportações
no mercado dos EUA. Como fatores compensadores, observa-se um maior espaço para
exportações industriais intra-multinacionais do México para a China - mas num volume
muito menor do que o verificado no sentido inverso - e uma elevação dos investimentos
externos chineses, como no setor de vestuário.

Os casos de Cuba e Venezuela comportam apenas, em alguma medida, exceções ao


primeiro padrão apontado acima. Isto porque, em ambos países, seja no caso do petróleo na
Venezuela, seja do níquel em Cuba, se está reproduzindo o padrão de ofertar ao mercado
chinês essencialmente produtos primários. Existem, entretanto, algumas diferenças.

No caso cubano, apesar do crescente pragmatismo da política externa chinesa, o fator


ideológico cumpre um papel importante. Junto com ele afloram relações econômicas mais
estreitas, tanto que a China já aparecia, em 2005, à frente da Espanha, como segundo
parceiro comercial cubano, perdendo apenas para a Venezuela (León-Manríquez, 2006).

Já no caso venezuelano, este país é quem procura ideologizar a relação com a China, que
sabe demarcar o seu papel no espaço de influência estadunidense. Ou seja, a potência
asiática faz “ouvidos de mercador” ao discurso anti-imperialista de Chávez e procura
realizar investimentos no país andino, ainda que sem a pretensão de deslocar os EUA como
principal centro de consumo do petróleo venezuelano. Aqui, vale lembrar, a China ainda
não possui a relevância observada nos demais países do Cone Sul ou no México, como
parceiro comercial ou investidor.

Pode-se apontar, finalmente, alguns setores que já surgem como os mais potencialmente
afetados pela expansão chinesa. Segundo Moreira (2006), os mais afetados tendem a ser os
intensivos em trabalho, seguidos dos intensivos em tecnologia. Os cálculos deste autor
indicam uma perda de mercados externos para a China entre 1990 a 2004 de um valor
equivalente a 1,7% das exportações industriais latino-americanas de 2004, subindo esta
perda para 2,7% quando se consideram os produtos de baixa tecnologia. Os dois setores que
sintetizam as atividades intensivas em trabalho (têxtil e vestuário) e as intensivas em
tecnologia (eletroeletrônicos) são os mais prejudicados. Vale lembrar que estes cálculos não
captam o efeito sobre o deslocamento da produção interna via aumento das importações.

Se é verdade que as relações América Latina/China têm estado ainda bastante centradas no
aspecto comercial – com especial importância para os seis países da região possuem
superávit comercial com o parceiro asiático, Argentina, Brasil, Chile, Costa Rica, Peru e
Venezuela, os quais aliás representam 90% das exportações latino-americanas para a China
(Alden e Alves, 2007) - mais recentemente os investimentos diretos externos chineses
também têm desembarcado, geralmente espelhando o padrão comercial desenvolvido em
cada sub-região.

Apura-se que, em, em 2003, 35% do fluxo de investimentos externos diretos chineses se
dirigiu para a América Latina, percentual que alcançou a casa dos 50% em 2004 (López e
García, 2006). Entre 2004 e 2006, os investimentos diretos externos chineses
multiplicaram-se por três (UNCTAD, 2007), provavelmente com alguma queda da
participação latino-americana.

Esta elevação recente dos investimentos diretos externos chineses pode ser explicada por
um conjunto de fatores: reservas internacionais em excesso, economia aquecida, tensões
comerciais com vários países e objetivos políticos/diplomáticos associados à conquista de
novos mercados. O seu grande diferencial é o apoio com que contam do aparelho do Estado
e dos principais bancos públicos.

Na tabela abaixo, Peru, México e Brasil despontam como os principais receptores de


estoque de capital chinês. Ainda assim, pode-se dizer que temos aqui três padrões de
investimentos das multinacionais chinesas. Um mais voltado aos setores de exportação e de
infra-estrutura (caso do Peru). Outro preocupado com potencial de exportação de algumas
commodities, mas sem deixar de visar o mercado interno (caso do Brasil). E no caso
mexicano, o interesse deve-se à porta de entrada das empresas mexicanas no mercado
estadunidense, crescentemente predisposto a práticas protecionistas contra a China.

Tabela 3 – Estoque de Investimentos Externos Chineses – Total em US$ e Posição no Ranking


Mundial dos Principais Receptores da América Latina - 2002

Country Ranking as Hoster of Chinese FDI US$ millions


Peru 7 201,2
Mexico 9 183,7
Brazil 11 119,7
Fonte: UNCTAD. Elaboração IOS.

Porém, se o investimento externo chinês tende a acompanhar o padrão de comércio


desenvolvido com cada país; por outro lado, os investimentos externos recebidos pela
China podem deslocar investimentos das multinacionais e, portanto, comércio da América
Latina. Como apontado no tópico 1 do presente texto, a China tem sido receptora
importante de novos projetos de investimentos das multinacionais, enquanto a América
Latina tem perdido espaço.

Síntese Geral
Pode-se, a partir, desta análise acerca dos padrões de comércio e investimento dos vários
países da América Latina com a China, “estimar” os possíveis efeitos econômicos
decorrentes da expansão chinesa, compostos dos seguintes aspectos - macroeconômicos,
produtivos internos, deslocamento nos mercados externos e efeito líquido em termos de
investimento externos –, que se combinam de maneira diversa em cada país/região. Este
esforço de síntese é desenvolvido no quadro abaixo.

Observa-se que os países não foram divididos por blocos econômicos ou áreas geográficas,
mas de acordo com os padrões de relações econômicas com a China. Não se procurou
realizar um exercício de previsão, mas elaborar tendências a partir do que está acontecendo.
A ação dos governos, dos empresários, dos trabalhadores e sociedade civil pode e deve
interferir no processo, alterando o sentido das tendências acima esboçadas.

Vale lembrar ainda que a divisão entre impactos positivos e negativos está relacionada com
o potencial aberto pelas relações econômicas entre as duas áreas, os quais dependendo da
forma como forem conduzidos podem se transformar em prejuízos para o meio ambiente e
segmentos importantes de trabalhadores, conforme discutiremos na conclusão.

O quadro não menciona efeitos macroeconômicos indiretos da expansão chinesa. Porém, é


importante lembrar que, ao financiar o déficit em transações correntes dos EUA –
atenuando um desequilíbrio estrutural, ao menos de forma provisória - os capitais chineses
asseguram o crescimento da economia internacional e dos países latino-americanos sem
distinção, motivando inclusive o comércio intra-regional.

Em linhas gerais, pode-se dizer que a China tende a agravar algumas tendências de
especialização regressiva de algumas economias, como Argentina Chile e Peru, ainda que
estes países possam obter ganhos econômicos expressivos, especialmente no curto prazo. O
caso argentino é em alguma medida peculiar, já que um esforço de reindustrialização vem
tomando conta do país e a China pode dificultar esta estratégia de desenvolvimento.

No caso dos países menores, os da América Central, são os mais diretamente prejudicados,
em virtude da concorrência com a China no mercado dos EUA. Os demais países, como o
Equador, por exemplo, podem ser beneficiados com novos investimentos e acesso ao
mercado chinês.

De qualquer forma, em todos estes países, as relações com a China tendem a reproduzir um
típico padrão centro-periferia em termos econômicos. Seguindo a sugestão de León-
Manríquez (2006), seria o caso de se avaliar a pertinência das teses leninista e cepalina para
explicar a relação China/América Latina.

No caso da análise de Lênin, além da conquista de matérias-primas, as potências


imperialistas se voltariam para a “periferia”, ao final do século XIX, para aplicar seu
excedente de capital, no intuito de impedir a queda da taxa de lucro. Este não é exatamente
o caso chinês, que utiliza a expansão de suas empresas, não só para obter mercado, mas
também para aceder a vantagens geopolíticas. Trata-se de uma nação, na melhor das
hipóteses, proto-imperialista, disposta a conceder vantagens inclusive econômicas no seu
intento de criar uma ordem multipolar, apesar da retórica embutida neste conceito.

Por outro lado, as teses cepalinas, ainda que possam parecer, no curto prazo, questionáveis
pela melhoria dos termos de intercâmbio no curto prazo – produtos primários exportados
mais caros e produtos industriais importados mais baratos –; elas nos auxiliam a
compreender um padrão de especialização produtiva pouco capaz de trazer transformações
estruturais e aumento pronunciado da produtividade aos países da região. A China
chancelaria assim a última pá de cal sobre a promessa de um desenvolvimento endógeno
latino-americano.

Imperialista ou não, a ascensão da China coincide com a crise de um sistema de poder


inter-Estados – tal como configurado em Bretton Woods - que comporta um conjunto de
nações hegemônicas. E neste contexto de transformação da ordem política internacional, a
China pode jogar um papel construtivo, para além da sua presença exclusivamente
econômica.

Brasil e México são os casos mais problemáticos. A China, por diferentes motivos, tende a
impor um “efeito armadilha” para estes países, colocando em xeque as estratégias de
inserção externa desenvolvidas nos anos 90. Adicionalmente, o modelo centro-periferia
torna-se menos adaptável a estes dois casos nas suas relações com a China, assim como a
hipótese do imperialismo.

No México, em virtude, do enfraquecimento dos dividendos e do reforço dos custos


oriundos da opção NAFTA. A estratégia maquiladora passa a ser questionada, e os novos
espaços abertos no mercado chinês não possuem a dimensão necessária para alavancar os
setores deslocados pela concorrência deste país com a produção mexicana de empresas
nacionais e multinacionais, seja no seu mercado interno, seja no mercado dos EUA. Em
termos talvez simplórios, a China enfraquece o impacto “positivo” do imperialismo
estadunidense no México, potencializando os negativos, sem colocar nada no lugar.

No caso brasileiro - cuja abertura não levou a uma desindustrialização generalizada, tendo
se mantido a importância do mercado interno, e se elevado aquela conferida ao mercado
regional, especialmente para os produtos industriais – o avanço chinês pode gerar uma
pressão negativa, dificultando a diversificação desta indústria para fora e para dentro, além
de postergar investimentos de multinacionais que até então viam o país como plataforma de
exportações para a região. Aqui a expansão chinesa pode travar o processo de gestação de
uma nova potência “sub-imperialista” – como preferem alguns - ao nível latino-americano,
ao minar a própria base produtiva nacional. Ou, ao contrário, como nos parece mais
pertinente, o enfraquecimento do Brasil levaria à inviabilização de qualquer proposta de
integração regional de maior envergadura na América Latina.

Finalmente, vale ressaltar que esta análise não deve servir para jogar a culpa na China pelas
dificuldades dos sistemas produtivos latino-americanos em obter uma inserção externa mais
dinâmica. Parte expressiva dos dilemas impostos pela ascensão chinesa tende a ser
agravada pela ausência de clareza sobre as prioridades dos países latino-americanos em
termos de políticas industriais, de inovação tecnológica e de integração regional. Também
falta uma visão coerente e fundamentada sobre o que se pode esperar da China na sua
relação com a América Latina, algo que intentaremos desenvolver no tópico seguinte.
Quadro 1 – Impactos Econômicos da Ascensão Chinesa em Sub-Regiões da América Latina
Efeitos Macroeconômicos Efeitos Produtivos Setoriais Efeitos de Deslocamento nos Efeitos Líquido em Termos de
Mercados Externos Investimentos Externos
Argenti Positivos: superávits Positivos: efeitos limitados pela baixa Indiferentes: Positivos: investimentos
na, comerciais puxados por altos verticalização das cadeias produtivas Não existe concorrência localizados nos setores
Chile e preços das commodities dos produtos exportados para a China; expressiva entre os produtos primários e de infra-estrutura;
Peru minerais e agrícolas e pela exportados por estes países e pela
demanda chinesa (elevação dos Negativos: principalmente na China nos mercados Negativos: perda do potencial
termos de troca). Argentina, que conta com uma internacionais; com a possível de atração de investimentos em
indústria mais estruturada, existem exceção das exportações alguns setores nichos de setores
riscos de substituição de produtores argentinas em alguns segmentos industriais pela expansão
nacionais em alguns segmentos ou de do mercado brasileiro; chinesa.
redução expressiva da margem de
lucro com impactos sobre o mercado
de trabalho;
mas os riscos também se extendem à
indústria têxtil e de vestuário de todos
os países;
Brasil Positivos: superávits Positivos: efeitos limitados pela baixa Negativos: perda crescente de Positivos: empresas brasileiras
comerciais puxados por altos verticalização das cadeias produtivas espaço para as exportações têm desenvolvido joint-ventures
preços das commodities dos produtos exportados para a China; brasileiras de produtos com empresas chinesas no
minerais e agrícolas e pela industrializados na América mercado deste país; enquanto se
demanda chinesa (elevação dos Negativos: em virtude da maior Latina e nos Estados Unidos; elevam as inversões da China
termos de troca). diversificação do parque industrial no mercado interno, para além
brasileiro, a entrada de produtos dos produtos primários.
chineses, até agora circunscrita a
substituição de outros fornecedores Negativos: investimentos de
internacionais, pode abrir “buracos” novos projetos globais que
na estrutura produtiva. poderiam se direcionar para o
país, mas se localizam na China
pelo maior dinamismo do seu
mercado e pela melhor infra-
estrutura de serviços e
fornecedores; e perda de
mercado para empresas
brasileiras atuando em outras
regiões como a África.
México Indiferentes: o pais não conta Negativos: deslocamento de Negativos: profundo
com uma oferta de commodities produtores internos em virtude da deslocamento das exportações Negativos: deslocamento de
expressiva para a China, a importação de produtos chineses mexicanas no mercado norte- atividades de empresas
exceção de alguns produtos especialmente eletroeletrônicos e de americano, em virtude da alta multinacionais de suas plantas
minerais. têxteis/vestuário; semelhança do perfil exportador no México para a China.
entre os dois países;
Positivos: insignificantes perto
Positivos: ainda que estes não dos efeitos negativos
compensem os apontados acima, demonstrados acima, porém
algumas empresas logram se maiores investimentos chineses
tornar fornecedoras industriais de nos ramos têxtil/vestuário têm
empresas com base na China sido realizados para aceder ao
(comércio intra-industrial ou mercado dos EUA;
intra-multinacional).
Demais Positivos: dependem da oferta Negativos: a maioria dos países da Negativos: deslocamento do Positivos: realização de
países exportadora e da sua América Central, mas também os mercado norte-americano, investimentos nos setores de
pequeno complementaridade com as demais países pequenos da região, especialmente no caso dos países infra-estrutura, vinculados aos
s da importações chinesas; tendem a sofrer com a maior pressão da América Central. setores exportadores;
região competitiva nos setores
Positivos: a importação de têxtil/vestuário. Negativos: nos países que
produtos industriais mais seguem o modelo maquiladora,
baratos, que não fazem parte da especialmente nos segmentos
estrutura produtiva, pode têxtil/vestuário, pode haver uma
melhorar os termos de queda de investimentos
intercâmbio. externos não compensada pelos
maiores investimentos de
empresas chinesas neste setor.
Elaboração IOS.
Provavelmente a ascensão chinesa reproduza, na forma, algumas das estratégias das
tradicionais nações imperialistas nas suas relações com a América Latina. Mas estas nações
ainda não “tiraram o time de campo” e nem a estratégia chinesa se encontra consolidada,
havendo espaço para uma ação política coordenada dos países latino-americanos,
especialmente num contexto de transformação da ordem política internacional.

4. A Política Externa Chinesa, a América Latina e os Movimentos Sociais


Apesar das análises precipitadas da mídia internacional, especialmente norte-americana,
não se pode dizer que a China disponha de estratégia de longo prazo para se afirmar como
potência global. Neste sentido, o que busca este país é um ambiente internacional
minimamente favorável – paz e estabilidade internacional, segundo a sua retórica
diplomática - para preservar a sua independência, soberania e integridade territorial. O foco
no desenvolvimento doméstico faz inclusive com que esta nação procure distensionar a sua
política externa, que assume um viés cada vez mais pragmático (Bergsten et al, 2006).

Predomina um pensamento realista na área de relações internacionais, em que o


desenvolvimento econômico mostra-se vital num contexto de concorrência por poder
compreensivo, pois atinge as esferas tecnológica, política e militar. O Estado-Nação afirma-
se como o espaço de ação fundamental (Le-Fort, 2006).

Para os líderes chineses, a inserção na economia internacional oferece um mecanismo


legítimo e eficaz para se lograr o desenvolvimento nacional. Na sua auto-representação, a
China é encarada como uma imensa e rica civilização que, depois de um século de
humilhação e derrotas, procura construir uma ordem multipolar, superando a hegemonia
unilateral predominante no mundo pós-Guerra Fria (Cornejo, 2005).

É, neste sentido que, ao invés da opção pelo aventureirismo internacional dos anos sessenta,
a China tem participado dos principais fóruns internacionais, ainda que de maneira seletiva.
Para tanto, as principais armas de sua diplomacia de são o pragmatismo, a flexibilidade e a
capacidade de aprendizado (Sandschneider, 2006). Em síntese, uma diplomacia cautelosa,
ajustada a seus objetivos estratégicos, multi-direcionada e integradora de esforços públicos
e privados (Cesarín, 2006).

Mais importante ainda, não existe uma estratégia para desafiar abertamente os Estados
Unidos, mas tão-somente de ocupar os vazios deixados por esta potência na Ásia e na
América Latina (Bergsten et al., 2006), por meio, de fortalecimento dos interesses
econômicos chineses. Nestas regiões, se estabelece uma crescente diplomacia de viagens de
representantes governamentais e de delegações comerciais.

Existe uma visão ingênua – ou talvez demasiado interesseira – de que a China esteja
praticando um “mau imperialismo” na Ásia e na América Latina, resguardada por uma
suposta política externa amoral, pois que prioriza a não-interferência nos assuntos destes
países. Esta visão tecida pelos países desenvolvidos, e que supõe a existência de um “bom
imperialismo”, além de partir de uma interpretação maniqueísta - um representante desta
visão é Navarro (2006) - não discute as oportunidades trazidas pela ascensão chinesa para
estes países, especialmente num contexto de transformação da estrutura de poder política e
econômico em termos globais.

No caso latino-americano, a China procura fornecimento de matérias-primas e alimentos,


de modo a se tornar menos dependente dos Estados Unidos, e apoio para as suas
preocupações geopolíticas de construção de uma ordem multipolar. Os investimentos vêm
como contrapartida destes objetivos mais amplos. Não menos importante, encontra-se a
relação com Taiwan, dos quais 13 dos 25 países que desenvolvem relações diplomáticas
com este país se encontram na região (Cornejo, 2005).

Apesar de interesses bem delimitados, os quais geralmente não estão à altura da fome de
atração de capitais de muitos países latino-americanos, especialmente para setores de infra-
estrutura, existe uma possibilidade geopolítica estratégica em aberto, qual seja a de se criar
um triângulo América Latina-China-EUA proveitoso para a três partes.

Para Tokatlian (2007), isto seria possível porque as relações entre Estados Unidos e a China
são muito mais estratégicas entre si do que entre cada um destes países e a América Latina,
ao passo que a influência norte-americana é substancialmente maior do que a chinesa nesta
região, impedindo uma disputa de posições. A crescente importância chinesa poderia
inclusive alavancar algumas destas economias, eximindo os Estados Unidos de uma
posição mais decisiva na região, tal como já vem acontecendo deste o 11 de setembro.
Obviamente que existe espaço para fricções nos temas de energia e na relação com Cuba e
Venezuela, mas não a ponto de suplantar as disputas entre China e Estados Unidos em
outras regiões.

Em síntese, por enquanto o que se percebe da relação China-América Latina são traços
difusos de uma relação desigual, em virtude das necessidades chinesas e do potencial de
sua economia, mas também da estrutura limitada de exportações destes países, geralmente
carentes de investimentos. Não se trata nem de bom ou de mau imperialismo, mas de uma
relação econômica desigual, podendo levar a um estreitamento da margem de manobra dos
países latino-americanos, caso não sejam capazes de formular suas próprias políticas de
desenvolvimento e de estabelecer acordos localizados com a China, tanto bilaterais, quando
no campo multilateral, onde alguns interesses podem se mostrar coincidentes.

Por enquanto, também não se trata de uma parceria estratégica, já que as nações latino-
americanas negociam, em grande medida, a partir dos parâmetros colocados pelos chineses,
e de forma bilateral, sem vincular as iniciativas de cooperação a acordos regionais.

Do ponto de vista dos movimentos sociais latino-americanos, três questões merecem ser
discutidas.

Em primeiro lugar, faz-se necessário quebrar alguns mitos muitos difundidos na América
Latina sobre o “modelo” chinês. Existe a concepção de que a competitividade chinesa deve-
se, em última instância, ao baixo custo da mão-de-obra. Trata-se de uma análise enviesada.
A competitividade chinesa está relacionada a um conjunto de fatores: escala de produção,
mercado interno potencial, taxa de investimento crescente, incentivos fiscais e câmbio
desvalorizado, que atraem as empresas multinacionais e incentivam as exportações,
planejamento do Estado e crédito barato. Obviamente que a mão-de-obra eleva a
rentabilidade das empresas, porém não existe correlação entre IDEs e custo da mão-de-
obra, especialmente nos setores intensivos em tecnologia nos quais a China tem ocupado
espaço no mercado internacional no período recente.

O outro mito refere-se a um Estado desenvolvimentista e intervencionista capaz de


solucionar as contradições do desenvolvimento. A China, durante os anos noventa,
experimentou uma fantástica elevação das desigualdades sociais e regionais, contando com
um sistema de proteção e seguridade social débil, e mostrando-se incapaz de solucionar os
desafios ambientais e energéticos, muitos dos quais decorrem da rápida e desordenada
urbanização.

A segunda questão está relacionada à invasão de produtos chineses, especialmente nos


mercados internos dos países latino-americanos. Existe uma visão que identifica este
processo a produtos de má qualidade ou oriundas da pirataria. Ainda que isto aconteça, e
não seja irrelevante, a expansão chinesa recente tem se concentrado cada vez mais nos
produtos mais intensivos em tecnologia, deslocando a produção interna, pela ausência de
políticas de defesa comercial, mas principalmente pela ineficácia destes países em
desenvolver políticas industriais e de inovação tecnológica. Vale ressaltar a necessidade de
reforço dos mecanismos de integração regional, de modo a desenvolver
complementaridades produtivas. Do contrário, as tênues cadeias produtivas regionais
podem ser desarticuladas de forma definitiva.

Em síntese, a ameaça chinesa não se deve à mão-de-obra barata, mas à incapacidade de


desenvolver políticas nacionais e regionais de desenvolvimento por parte dos países latino-
americanos. Obviamente que a se manter o quadro atual, os impactos se farão sentir sobre o
nível e a qualidade do emprego, elo mais fraco dos custos totais incorridos pelas empresas
com atuação local. Os setores têxtil/vestuário e eletrônico são os mais potencialmente
afetados. Daí a necessidade de que os movimentos sociais interfiram nas políticas
econômicas, comerciais e industriais implantadas pelos seus próprios países.

Finalmente, os investimentos diretos externos chineses, em busca de elevados níveis de


rentabilidade, e não contando muitas vezes com as condições macroeconômicas de que
dispõem em seu país, costumam passar por cima dos padrões sociais, trabalhistas e
ambientais. Neste sentido, o desenvolvimento de pesquisas de campo e o monitoramento
constante de empresas chinesas com atuação na região devem fazer parte das preocupações
dos movimentos sociais latino-americanos.

A ascensão da China não pode servir - tal como outrora o conceito vago de globalização -
como bode expiatório para que se abra mão, numa visão fatalista, das políticas de
desenvolvimento nacional, de integração regional e de reforço do papel do Estado com
regulação social.
Bibliografia
ALDEN, Chris, Ana Alves, China Tango: The Sino-Latinamerican Trade Dance, in:
Global Geopolitics, Shanghai: CLSA, 2007 may.

AMORIM, Renato, Análise Sumária do Comércio entre Brasil e China, mimeo, 2005.

BARBOSA, Alexandre e Ricardo Camargo Mendes, Economic Relation Between Brazil


and China: a Difficult Partnership, FES Briefing Papers, Berlin: FES, 2006 january.

BERGSTEN, Fred et al., Summary and Overview: Meeting the China Challenge, in: China:
the Balance Sheet, Fred Bergsten, Bates Gill, Nicholas Lardy and Derek Mitchell, orgs.,
New York: Public Affairs, 2006.

BIELSCHOWSKY, Ricardo e Giovanni Stumpo, Empresas Transnacionales y Cambios


Estructurales en la Industria de Argentina, Brasil, Chile y México, in: Revista de la
CEPAL no. 55, Santiago: CEPAL, 1995 april.

CEPAL, Panorama de la Inserción Internacional de América Latina y el Caribe 2005-


2006, Santiago: Cepal, 2006.

CESARÍN, Sergio, La Relación Sino-Latinoamericana, entre la Práctica Política y la


Investigación Académica, in: Nueva Sociedad, no. 203, Buenos Aires: FES, 2006 may-
june.

CORNEJO, Romer, China, Un Nuevo Actor en el Escenario Latinoamericano, in: Nueva


Sociedad, no. 200, Buenos Aires: FES, 2005 november-december.

CHANG, Ha-Joon, Chutando a Escada: A Estratégia do Desenvolvimento em Perspectiva


Histórica, São Paulo: Editora UNESP, 2004.

CIMOLI, Mario e Jorge Katz, Structural Reforms, Technological Gaps and Economic
Development: a Latin American Perspective, Série Desarrollo Productivo, Santiago: Cepal,
2002.

FIESP, Análise do Perfil do Comércio Brasil-China em 2006, São Paulo: Derex/FIESP,


2007.

INSTITUTO OBSERVATÓRIO SOCIAL, Produção e Emprego no Complexo Sucro-


Alcooleiro, São Paulo: IOS/OXFAM, 2007.

ISTO É DINHEIRO, Entrevista com o Presidente Lula, 2007 october 18th.

JENKINS, Rhys e Enrique Dussel Peters, The Impact of China on Latin América and the
Caribbean, Institute of Development Studies, working paper 281, Brighton: IDS, 2007
may.
LALL, Sanjaya, New Technologies, Competitiveness and Poverty Reduction, Manila: Asia
and Pacific Forum on Poverty, 2001.

LARDY, Nicholas, China’s Domestic Economy: Continued Growth or Collapse?, in:


China: the Balance Sheet, Fred Bergsten, Bates Gill, Nicholas Lardy and Derek Mitchell,
orgs., New York: Public Affairs, 2006.

LE-FORT, Martín Pérez, China y América Latina: Estrategias bajo una Hegemonia
Transitoria, in: Nueva Sociedad, no. 203, Buenos Aires: FES, 2006 may-june.

LEÓN-MANRÍQUEZ, José Luis, China-América Latina: Una Relación Económica


Diferenciada, in: Nueva Sociedad, no. 203, Buenos Aires: FES, 2006 may-june.

LÓPEZ, Gabriela Correa e Juan González García, La Inversión Extranjera Directa: China
como Competidor y Socio Estratégico, in: Nueva Sociedad, no. 203, Buenos Aires: FES,
2006 may-june.

MOREIRA, Maurício Mesquita, Fear of China: is There a Future for Manufacturing in


Latin America, INTAL-ITD, Occasional Paper 36, Buenos Aires: BID-INTAL, 2006 april.

NAVARRO, Peter, The Coming China Wars, New Jersey, FT Press, 2006.

OLIVA, Carla Verónica, Inversiones en América Latina: La Inserción Regional de China,


in: China y América Latina: Nuevos Enfoques sobre Cooperación y Desarrollo, Sergio
Cesarín e Carlos Moneta, orgs., Buenos Aires: BID/INTAL, 2005.

PALADÍN, Eduardo, Impacto de las Relaciones Comerciales Sino-Argentinas, mimeo,


2007 september.

SANDSCHNEIDER, Eberhard, Como Tratar um Dragão: Sobre o Trato do Ocidente com


o Complicado Parceiro Chinês, in: China por Toda Parte, São Paulo: Cadernos Adenauer
VII, volume 1, 2006 april.

TACHINARDI, Maria Helena, Surge uma Nova Cultura Exportadora, in: Conjuntura
Econômica, Rio de Janeiro: FGV, 2007 september.

TOKATLIAN, Juan Gabriel, América Latina, China e Estados Unidos: um Triângulo


Promissor, in: Política Externa, vol. 16, no. 1, São Paulo, 2007 june-august.

UNCTAD, Capital Accumulation, Growth and Structural Change, Trade and Development
Report 2003, Geneva: Unctad, 2003.

UNCTAD, 2004, The Shift Toward Services, World Investment Report, Geneva: Unctad,
2004.

UNCTAD, 2007, Transnational Corporations, Extractive Industries and Development,


Geneva: Unctad, 2007.
VALLS PEREIRA, Lia e Diego Silveira Maciel, A Concorrência Chinesa e as Perdas
Brasileiras, in: Revista Conjuntura Econômica, Rio de Janeiro: FGV, 2006 august.

VALLS PEREIRA, Lia, Relações Comerciais Brasil-China: um Parceiro Especial?, in:


China por Toda Parte, São Paulo: Cadernos Adenauer VII, volume 1, 2006 april.

VALOR ECONÔMICO, Lula Pede Empenho de Empresários para Bater China na África,
2007 october 19th.

YIN, Xingmin, New Ways to the Trade Development Between China and Latin America,
in: International Forum “Opportunities in the Economic and Trade Partnership between
China and Mexico in a Latin American Context, Mexico City, 2006 march.

Potrebbero piacerti anche