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F O R T U N A C R Í T I C A 3

Ivan Teixeira

NEW CRITICISM
A vertente da crítica representada por

Fotos/Reprodução
William Empson e T. S. Eliot defendeu
o close reading – uma abordagem minuciosa
dos elementos técnicos ou formais do
enunciado poético –, criando conceitos
fundamentais, como o do “correlato objetivo” T.S. Eliot (1888-1965) por Wyndham Lewis

Série destaca as principais A maior contribuição do new criticism críticos” norte-americanos. A teoria
tendências da crítica literária para a leitura consciente do poema orgânica do texto já se esboçava nos
consiste na definição da autonomia do escritos teóricos de Samuel Taylor
“Fortuna Crítica” é uma série de seis texto literário, que passou a ser entendido Coleridge (Biographia literaria, 1817).
artigos de Ivan Teixeira sobre as prin- como uma entidade independente, livre Contrariando noções consagradas no
cipais correntes da crítica literária e das
das supostas relações determinantes da século XIX, Eliot recusou a idéia de
teorias poéticas. O primeiro ensaio,
publicado no número 12 da CULT (ju- sociedade com o artista e deste com o poesia como expressão da personalidade
lho), abordou a retórica de Aristóteles e texto. Evidentemente, os “novos críticos” do poeta, concebendo-a como resultado
Quintiliano; o segundo texto (agosto) foi sempre souberam estabelecer as devidas consciente do trabalho do espírito, que
sobre o formalismo russo. O presente conexões entre o escritor e a obra, mas organiza as experiências da persona-
ensaio é sobre o new criticismn e, nas não nos termos positivistas da abordagem lidade. Em vez de entender o poema como
próximas edições, serão analisados o
estruturalismo, o desconstrutivismo e o tradicional. As raízes imediatas da leitura conseqüência de sentimentos pessoais,
new historicism. Ivan Teixeira é pro- intrínseca do texto encontram-se em T. Eliot passou a encará-lo como uma forma
fessor do Departamento de Jornalismo e S. Eliot, um dos primeiros críticos de de apropriação pessoal da tradição
Editoração da ECA-USP, co-autor do língua inglesa a se empenhar na for- literária, em que a visão individual das
material didático do Anglo Vestibulares mulação de uma teoria objetiva da arte, coisas deve, essencialmente, se trans-
de São Paulo (onde lecionou literatura
brasileira durante mais de 20 anos) e defendida no famoso ensaio “Tradition formar em sabedoria técnica.
autor de Apresentação de Machado de and the individual talent”, publicado pela Nasce daí uma das noções eliotianas
Assis (Martins Fontes) e Mecenato primeira vez em 1917 e depois coligido mais influentes no new criticism e na
pombalino e poesia neoclássica (a sair no volume The sacred wood (1920). Outro crítica posterior: o correlato objetivo, cuja
pela Edusp). Tem se dedicado a edições precursor importante é William Empson teorização se acha no ensaio “Hamlet and
comentadas de clássicos – entre eles as
Obras poéticas de Basílio da Gama
(Seven types of ambiguity, 1930), seguido his problems”. Trata-se da criação de um
(Edusp) e Poesias de Olavo Bilac (Martins de I. A. Richards (Principles of criticism, conjunto de objetos, de uma série de
Fontes) – e dirige a coleção “Clássicos 1924), embora o psicologismo deste eventos, de uma situação ou de uma
para o vestibular”, da Ateliê Editorial. sempre tenha sido renegado pelos “novos paisagem com o poder de despertar no

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leitor a emoção desejada. O poeta organizada por Cleanth Brooks e Robert Aquela triste e leda madrugada,
seleciona e dispõe os elementos de tal Penn Warren. O volume possui diversas cheia toda de magoa e de piedade,
forma, que, uma vez vislumbrados na seções, em que os poemas se organizam enquanto houver no mundo saudade,
leitura, desencadeiam imediata reação segundo pressupostos técnicos ou quero que seja sempre celebrada.
emocional. Quanto mais íntima a relação formais, de modo a facultar o estudo de
Ela só, quando amena e marchetada
entre os elementos do correlato objetivo elementos essenciais à estrutura do enun-
saía, dando ao mundo claridade,
e a vivacidade da emoção, tanto maior a ciado poético: poemas narrativos, poemas
viu apartar-se de uma outra vontade,
eficácia do texto. Adepto da concretude descritivos, problemas de métrica, de tom,
que nunca poderá ver-se apartada.
em poesia, Eliot chegou a censurar o de imagem, etc.
Hamlet de Shakespeare sob o argumento As lições desse livro consolidaram os Ela só viu as lágrimas em fio
de que o estado emocional do prota- critérios para uma leitura imanente do que, de uns e de outros olhos derivadas,
gonista não encontra suficiente lastro na texto poético, propondo a idéia de que se acrescentaram em grande e largo rio.
objetividade do discurso. todo poema deve ser abordado como se Ela viu as palavras magoadas
Entendido como fórmula particular fosse um pequeno drama, em que se que puderam tornar o fogo frio,
responsável por uma emoção específica, destacam um falante, uma estória e sua e dar descanso às almas condenadas.
o correlato objetivo pode indicar
não apenas um determinado A crítica tradicional só
O poeta e crítico
procedimento artístico, mas consegue ler esse soneto como
William Empson
também o conjunto acabado de registro emotivo de um dado
(1906-1984), que biográfico: partindo para o
uma obra. Nesse caso, o texto
lecionou durante exílio na Índia, Camões des-
funciona como a concretização
muitos anos na pede-se de sua prima e amante,
de uma experiência, sem se
confundir com a idéia de pro- China, foi um dos D. Isabel Tavares – a menina dos
jeção de traços da personalidade precursores do olhos verdes –, conforme se pode
do autor. Expressando-se indire- new criticism, ver pela tradição crítica repre-
tamente, o artista opera antes com com o livro sentada por José Maria Ro-
a sensibilidade do que com a Seven types of drigues e Teófilo Braga. Sem se
própria emoção. ambiguity deter na configuração pro-
Em 1941, John Crowe priamente artística do texto,
Ramsom publicou o livro New esses críticos entendem-no
criticism, que contém, dentre apenas como um pujante teste-
outros, estudos sobre Eliot, munho do amor empírico do
Empson e Richards, em cujos poeta, baseado na vida real,
ensaios se apontam deficiências e con- transmissão a um suposto ouvinte. Tais como se o simples fato de se tratar de um
quistas importantes. Essa obra é respon- componentes integram a situação discurso não alterasse essencialmente sua
sável não só pelo nome do movimento ficcional de qualquer poema. suposta condição de registro fiel da
mas também pela sistematização de mui- Essa noção é importante, pois, realidade.
tas de suas idéias, igualmente expostas em segundo ela, o poema – seja lírico, sa- Pela perspectiva do new criticism, a
outro clássico do grupo, The well whrought tírico, épico ou dramático – comporta correta apreciação do soneto deveria
urn: Studies in the structure of poetry (1947), sempre uma pequena ficção, e como tal abandonar a preocupação biográfica, e
de Cleanth Brooks. Todavia, quando esses deve ser lido. Em especial, os poemas entendê-lo como a ficcionalização de uma
livros saíram, algumas das idéias básicas líricos limitam-se a explorar o estado de despedida: depois de intensa união, os
do new criticism já haviam sido postas em espírito do falante momentos depois de amantes separam-se involuntariamente.
prática numa antologia comentada, de ele passar por uma crise amorosa ou Dilacerado pelo infortúnio, a persona lírica
grande influência nas universidades existencial, como se pode observar no sente o súbito impulso de expressão da
americanas: Understanding poetry (1938), seguinte soneto de Camões: dor – tão forte, que lhe rouba o equilíbrio

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e a justeza do espírito, provocando um A falácia da intenção consiste na idéia leitura. Esse exercício consiste no exame
verdadeiro delírio verbal, em cujo clímax de que o entendimento de um texto resulta minucioso (close reading) do poema, cuja
(tercetos) chega à desrazão de afirmar que da descoberta da intenção do autor ou da forma o novos críticos entendem como
suas lágrimas alagaram o terreno e que a identificação de seus sentimentos. Se, um organismo dinâmico, regido por
intensidade do sofrimento, por compa- diante de uma imagem obscura, o leitor tensões e ambigüidades. Entender o
ração, tornara tênue o tormento das almas interroga: o que o autor quis dizer com isso?, poema equivale a resolver essas tensões e
condenadas ao inferno. está incorrendo na falácia da intenção, ambigüidades, estabelecidas pela relação
A nova crítica preocupar-se-ia, ainda, pois confunde o poema com sua origem. entre as diversas unidades semânticas do
com o exame da tensão metafórica e texto, que independem do sentimento
paradoxal entre os vocábulos, assim do autor, mas que podem decorrer de
como em entender a personificação sua consciência estrutural no
da madrugada, caracterizada por in- momento da composição.
tenso cromatismo, em sua viva parti- A falácia da emoção consiste na
cipação no sofrimento dos amantes. idéia de que a análise do poema se
Esses traços formais compõem a cha- confunde com o exame da emoção
mada textura do poema, responsável provocada por ele. Por essa perspec-
pelo significado estético do enun- tiva, falar da emoção da leitura equi-
ciado. Representam indiretamente a valeria à interpretação do poema.
emoção imaginada pelo artista, Esse é um velho pressuposto da crítica
desencadeando um sentimento cor- impressionista, que dominou a cena
respondente no leitor. A perso- literária nos primeiros anos do século
nificação da madrugada explica-se, XX. O new criticism recusa tal
enfim, como um correlato objetivo do postura, baseado no argumento de
estado febril do falante, que, por sua que essa orientação confunde o que o
vez, se deve interpretar como a ficcio- poema faz com aquilo que ele é. A
nalização de uma possível experiência análise da emoção provocada pela arte
intelectual do poeta. pertence à psicologia; à crítica com-
O ensaio orienta-se agora para o pete a investigação formal do poema,
exame de mais duas noções im- Fernando Pessoa (em gravura de procurando nele os elementos desen-
portantes do new criticism, ambas José Macedo Bandeira) expressa cadeadores da emoção. Nesse sentido,
associadas aos pressupostos apre- em “Autopsicografia” o caráter o poema é entendido como uma forma
sentados acima: a falácia da intenção ficcional da emoção poética particular de conhecimento, mediante
e a falácia da emoção, desenvolvidas o qual se pode aprimorar e intensificar
em dois ensaios fundamentais para a for- O new criticism acredita que a o contato com a vida. Mas a função do
mulações da nova crítica: “Intentional interpretação do texto não deve levar em analista é examinar o texto, e não seu
fallacy” (1946) e “Affective fallacy” conta as intenções do autor. Da mesma efeito. A crítica deve procurar no texto as
(1949), escritos em parceria por W. K. forma, não se deve atribuir valor her- propriedades que o transformam em
Wimsatt e Monroe C. Beardsley. Poste- menêutico à idéia de que o significado poesia, caracterizando os componentes
riormente, ambos os ensaios foram reedi- do texto deve coincidir com a decifração que o convertem em instrumento de
tados num dos livros mais importantes dos possíveis sentimentos que lhe deram conhecimento e emoção estética, sem
do movimento, The verbal icon: Studies in origem. Ao contrário, a correta leitura jamais perder de vista a idéia de que a
the meaning of poetry (1954), assinado deve fundar-se em pressupostos objetivos, emoção do texto é ficcional e não se
exclusivamente por Wimsatt. Por fim, o consagrados pelo sistema de uma teoria confunde com a emoção vivida. Fernando
ensaio apresentará a heresia da paráfrase, aplicável a qualquer texto e à disposição Pessoa intuiu todas essas questões no
noção igualmente fundamental para os de qualquer pessoa com um mínimo de célebre poema “Autopsicografia”, em que
fundamentos do new criticism. condições técnicas para o exercício da afirma:

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O poeta é um fingidor, Em síntese, cada passo da leitura deve B I B L I O G R A F I A
finge tão completamente, se integrar a um sistema coeso de cogni-
que chega a fingir que é dor ção, encaixar-se numa teoria. Assim como
a dor que deveras sente. a paráfrase, evita-se também a message-
Heresia da paráfrase (heresy of hunting, isto é, a leitura que encara a poesia
paraphrase): como se sabe, paráfrase é a como mero instrumento de conteúdos ou • “John Crowe Ramsom’s theory of
tradução de um texto supostamente difícil sabedorias práticas. Pela perspectiva da poetry”, de René Wellek. In: Literary
em termos simples e prosaicos. O senso “nova crítica”, a sabedoria da arte decorre,
theory and structure, editado por Frank
comum costuma confundir análise não da apreensão das mensagens, mas do
literária com a explicação literal do texto, convívio desinteressado com as formas que Brady, John Palmer e Martin Price.
confiante na idéia de que a decodificação as engendra. New Haven and London, Yale
do significado referencial basta para No Brasil, um dos primeiros a University Press, 1973.
conferir consistência à leitura. incorporar princípios do new criticism foi
• Modern literary theory: A comparative
Os “novos críticos” condenaram a Afrânio Coutinho, responsável pela
paráfrase como procedimento último da organização de A literatura no Brasil (1955- introduction, editado por Ann Jefferson
operação crítica, embora a admitissem 59), obra programada para 5 volumes, dos e David Robey. Londres, B. T.
como passo provisório na iniciação do quais saíram apenas quatro na primeira Batsford, 1997.
contato científico com o texto. Recusam edição. No conjunto, a obra resultou algo
• The armed vision: A study in the
a paráfrase porque consideram que o eclética, embora contasse com a presença
verdadeiro entendimento de uma imagem sistemática de Eugênio Gomes. methods of modern literary criticism, de
não consiste na captação de seu sig- Péricles Eugênio da Silva Ramos Stanley Edgar Hyman. Nova York,
nificado lógico, e sim na percepção de também demonstrou muita coerência na Alfred A. Knopf, 1948.
sua configuração estética, na fruição de apropriação de princípios da vanguarda
• “The intentional fallacy”, de W. K.
seu valor expressivo. Por isso, a boa anglo-americana, tendo deixado uma
leitura não será a que souber substituir notável antologia da poesia brasileira (5 Wimsatt and Monroe C. Beardsly. In:
um paradoxo ou uma ironia – volumes, a partir de 1964, editora 20th century literary criticism: A reader,
procedimentos essenciais ao repertório Melhoramentos), cujas introduções e editado por David Lodge. Londres,
do new criticism – por seqüências notas demonstram fina consonância com
Longman, 1972.
unívocas de significado, mas sim a que o espírito científico dos modelos es-
souber integrar as figuras de linguagem trangeiros. • “The affective fallacy”, de W. K.
à harmonia totalizante do texto e, ao Em particular, as traduções e ensaios Wimsatt e Monroe C. Beardsly. In:
mesmo tempo, descobrir sua função na de Augusto de Campos revelam o mesmo 20th century literary criticism: A reader,
geração do significado poético. tipo de parentesco e eficiência.
editado por David Lodge. Londres,
Longman, 1972.
O poeta Péricles Eugênio da • “Tradition and the individual
Silva Ramos, autor de uma
talent”, de T. S. Eliot. In: 20th century
antologia da poesia brasileira
cujas introduções e notas
literary criticism: A reader, editado por
mostram a coerência de suas David Lodge. Londres, Longman,
apropriações do new criticism 1972.
• Understanding poetry, de Cleanth
Brooks e Robert Penn Warren. Nova
York, Rolt, Rinehart and Winston,
1960.

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