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INTRODUÇÃO: DEPOIS DE 11/9

Num discurso ao Congresso em 20 de setembro de 2001,


pouco depois dos ataques terroristas de 11 de setembro, o
presidente George W. Bush apresentou esta pergunta: “Por
que eles nos odeiam?” Sua resposta: “Eles odeiam nossa
liberdade, nossa liberdade religiosa, nossa liberdade de
expressão, nossa liberdade para votar.” Ele comentou mais
tarde que estava impressionado com o fato de que “nosso
país é tão mal compreendido que as pessoas nos odeiam...
Eu simplesmente não posso acreditar nisso porque sei
como somos bons”.

Mas até que ponto somos “bons” realmente? Se somos


bons, por que inspiramos tanto ódio no exterior? O que
fizemos para que houvesse tanto “blowback” sobre nós?

Este livro é um guia para algumas das políticas durante e


depois da Guerra Fria que geraram, e continuam a gerar,
blowback _ um termo que a CIA inventou para descrever a
probabilidade de nossas operações secretas resultarem em
retaliações aos americanos, civis e militares, internamente
e no exterior. Blowback foi primeiramente publicado na
primavera de 2000, aproximadamente dezoito meses antes
do 11 de Setembro. Minha intenção ao escrevê-lo era
advertir meus companheiros americanos para a natureza e
a condução da política externa dos EUA na segunda metade
do século anterior, focalizando particularmente o período
depois do fim da União Soviética, em 1991. Argumentei que
muitos aspectos do que o governo americano havia feito no
mundo virtualmente convidavam a ataques retaliatórios de
nações e povos. Não previ os acontecimentos do 11 de
Setembro, mas claramente afirmei que atos de retaliação
estavam por vir e deveriam ser prevenidos. “As políticas
mundiais no século 21”, escrevi, “muito provavelmente
serão conduzidas pelo blowback da segunda metade do
século 20 _ isto é, a partir das conseqüências não
intencionais da Guerra Fria e da decisão americana crucial
de manter uma postura de Guerra Fria num mundo pós-
Guerra Fria.”

Durante o primeiro ano após sua publicação, Blowback foi


amplamente ignorado nos Estados Unidos. Poucos no meio
das críticas de livros tomaram algum conhecimento do
livro, e o órgão oficial do Conselho de Relações Exteriores,
Foreign Affairs, escreveu que “Blowback parece um livro
cômico”. (1). Não é surpresa talvez que a resposta em
outras partes do mundo tenha sido de algum modo
diferente. O livro rapidamente foi traduzido para alemão,
italiano e japonês, e o editor de notícias internacionais do
Der Spiegel (*Influente revista alemã) chegou a viajar à
Califórnia para me entrevistar. (2)

Internamente, a falta de interesse mudou drasticamente


depois de 11 de setembro de 2001. O livro foi reimpresso
oito vezes em menos de dois meses e se tornou um
bestseller underground entre os americanos subitamente
sensibilizados com _ ou pelo menos desesperados para
conhecer _ algumas realidades do mundo em que viviam.
Os acontecimentos catastróficos do primeiro ano do novo
milênio não apenas jogaram uma luz incomum sobre o
papel auto-proclamado dos Estados Unidos de “nação
indispensável” e “última superpotência remanescente”,
mas também colocaram sérias questões e novos perigos
para outros governos aos quais subitamente foi perguntado
se eram a favor ou contra nossa “guerra contra o terror”. O
termo “blowback” deixou de ser um termo esotérico
relacionado às ações da CIA para se tornar praticamente
uma palavra familiar, surgindo em discussões sobre
desastres múltiplos que começavam a assaltar os Estados
Unidos _ dos ataques de antraz a senadores, à mídia e a
outros alvos até o episódio em que o Congresso foi
obrigado a engolir a Lei dos Direitos com a aprovação do
Ato Patriótico (por 76 votos a 1 no Senado e 337 a 79 na
Câmara dos Representantes). Também se espalhou no
mundo uma percepção de que os Estados Unidos mereciam
isto.

Blowback

As ações que geram blowback geralmente são totalmente


escondidas do público americano e da maioria de seus
representantes no Congresso. Isto significa que quando
civis inocentes se tornam vítimas de um ataque de
retaliação, eles são inicialmente incapazes de pôr isso num
contexto ou de compreenderem a seqüência de
acontecimentos que levou àquilo. Em sua definição mais
rigorosa, blowback não significa meras reações a
acontecimentos históricos, mas a operações clandestinas
realizadas pelo governo dos EUA com o objetivo de
derrubar regimes estrangeiros, ou de obter a execução de
pessoas que os Estados Unidos querem ver eliminadas por
exércitos estrangeiros “amigos”, ou de ajudar a lançar
operações de terrorismo de estado contra populações além-
mar. O povo americano pode não saber o que é feito em
seu nome, mas aqueles que são alvos certamente sabem _
inclusive os povos de Irã (1953), Guatemala (1954), Cuba
(de 1959 até hoje), Congo (1960), Brasil (1964), Indonésia
(1965), Vietnã (1961-73), Laos (1961-73), Camboja (1961-
73), Grécia (1967-74), Chile (1973), Afeganistão (de 1979
até hoje), El Salvador, Guatemala e Nicarágua (anos 80), e
Iraque (de 1991 até hoje), para citar apenas os casos mais
óbvios.

Num sentido mais amplo, blowback é outra maneira de


dizer que uma nação planta o que colhe. Embora os
indivíduos geralmente saibam o que plantaram, eles
geralmente têm o mesmo conhecimento em nível nacional,
principalmente porque o que os gerentes do império
americano têm plantado tem sido mantido em segredo.
Como conceito, blowback é obviamente mais compreendido
em suas manifestações diretas. As conseqüências
acidentais das estratégias e ações americanas no país X
levam a uma bomba na embaixada americana no país Y ou
a um americano morto no país Z. Certamente, uma
quantidade qualquer de americanos foi assassinada dessa
maneira, desde freiras católicas em El Salvador até turistas
em Uganda que simplesmente estavam andando por
cenários imperiais secretos sobre os quais nada sabiam.

Mas o blowback raramente está restrito a esses exemplos


razoavelmente diretos. Num sentido mais amplo, também
inclui o declínio de indústrias americanas cruciais _ devido
às políticas econômicas de exportação de nossos satélites,
ao militarismo e à arrogância do poder que inevitavelmente
entram em conflito com nossa estrutura democrática de
governo _ e a distorções de nossa cultura e nossos valores
básicos enquanto cada vez mais exigem de nós que
tentemos justificar nosso imperialismo.

O termo “blowback” apareceu primeiramente num


documento secreto do governo no relato pós-ação da CIA
sobre a derrubada secreta do governo iraniano em 1953.
Em 2000, James Risen , do New York Times, explicou:
“Quando a Agência Central de Inteligência ajudou a
derrubar o primeiro-ministro do Irã, Mohammed Mossadegh,
em 1953, assegurando mais 25 anos de regime para o xá
Mohammed Reza Pahlevi, a CIA já estava imaginando que
seu primeiro esforço para derrubar um governo estrangeiro
não seria o último. A CIA, na época com seis anos de idade
e profundamente comprometida com a vitória na guerra
fria, viu sua ação secreta no Irã como um projeto para
golpes em outros lugares do mundo, e assim autorizou uma
história secreta para detalhar a futuras gerações de
agentes da CIA como aquilo fora feito.... Na linguagem às
vezes curiosa do mundo da espionagem _ ‘bases de
segurança’, ‘recursos’ e similares _ a CIA adverte para a
possibilidade de ‘blowback’. A palavra desde então entrou
em uso como referência a conseqüências não intencionais
de operações secretas.” (3)

Os ataques do 11 de Setembro descendem numa linha direta de


acontecimentos de 1979, o ano em que a CIA, com plena autorização
presidencial, começou a executar sua maior operação clandestina _
armar secretamente os guerreiros da liberdade afegãos (mujahedin)
para fazer uma guerra por procuração contra a União Soviética, o que
envolvia o recrutamento e o treinamento de militantes de todo o mundo
islâmico. Vários membros do atual gabinete de Bush foram cúmplices
na criação do blowback do 11 de Setembro. O general Colin Powell
certamente sabe por que “eles” devem nos odiar. Ele foi o último
assessor de segurança nacional de Ronald Reagan e chefe do Estado
Maior Conjunto durante o governo de George H. W. Bush. Entre muitos
outros há o ex-secretário de Defesa Dick Cheney; a ex-funcionária do
Conselho de Segurança Nacional Condoleezza Rice, o ex-confidente de
Reagan e seu emissário para Saddam Hussein Donald Rumsfeld e Paul
Wofowitz, ex-funcionário do Pentágono nos governos de Reagan e
George H. W. Bush. Durante os anos 80, esses funcionários idealizaram
e implementaram a guerra secreta no Afeganistão e em seguida, depois
da retirada da União Soviética, tomaram a decisão de abandonar os
agentes islâmicos dos Estados Unidos.

A invasão do Afeganistão pela URSS foi deliberadamente


provocada. Em suas memórias de 1996, o ex-diretor da CIA
Robert Gates escreve que os serviços de inteligência
americanos na verdade começaram a ajudar guerrilheiros
mujahedin no Afeganistão não depois da invasão soviética
do país, mas seis meses antes dela. (4) E numa entrevista
em 1998 à revista semanal francesa Le Nouvel
Observateur, Zbigniew Brzezinski, ex-assessor de
Segurança Nacional do ex-presidente Carter, confirmou sem
deixar dúvidas a afirmação de Gate. (5).

“De acordo com a versão oficial da história, disse


Brzezinski à Nouvel Observatour, “a ajuda da CIA
aos mujahedin começou durante o ano de 1980,
ou seja, depois de o exército soviético invadir o
Afeganistão em 24 de dezembro de 1979. Mas a
realidade, bem guardada até agora, é
completamente outra: Na verdade, foi em 3 de
julho de 1979 que o presidente Carter assinou a
primeira diretriz para ajuda secreta aos oponentes
do regime pró-soviético em Cabul. E naquele
mesmo dia, eu escrevi uma nota ao presidente em
que expliquei a ele que na minha opinião essa
ajuda induziria a intervenção militar soviética.”
Quando lhe perguntaram se estava arrependido
dessas ações, Brzezinski respondeu:

“Arrepender-se de quê? Aquela operação secreta foi


uma idéia excelente. Teve o efeito de levar os
russos para a armadilha afegã e você quer que eu
me arrependa? No dia em que os soviéticos
oficialmente cruzaram a fronteira eu escrevi ao
presidente Carter, essencialmente: ‘Agora temos
a oportunidade de dar à URSS sua Guerra do
Vietnã.’”

Nouvel Observation: “E o senhor não se arrependeu


nem de ter apoiado o fundamentalismo islâmico,
que tem dado armas e assessoria aos futuros
terroristas?”

Brzezinski: “O que é mais importante na história do


mundo? O Talibã ou o colapso do império
soviético? Alguns muçulmanos agitados ou a
libertação da Europa Central e o fim da guerra
fria?”

Brzezinski, Carter e seus sucessores no governo Reagan,


inclusive George H. W. Bush, Cheney, Rumsfeld, Rice,
Wolfowitz, Armitage e Powell _ e nenhum deles foi à frente
para chamar a atenção para essa história _ todos tem
alguma responsabilidade por 1,8 milhão de baixas afegãs,
2,6 milhões de refugiados e dez milhões de minas
terrestres que não explodiram, o que se seguiu a suas
decisões, bem como pelo “efeito colateral” que se abateu
sobre a cidade de Nova York em setembro de 2001 vindo
de uma organização que ajudaram a criar durante os anos
da resistência afegã anti-soviética.

A CIA apoiou Osama bin Laden, assim como muitos outros


fundamentalistas extremistas entre os mujahedin no
Afeganistão, pelo menos de 1984 em diante. Em 1096,
construiu para ele o complexo de treinamento e os túneis
de armazenamento de armas perto da cidade afegã de
Khost, onde ele treinou muitos dos 35 mil “afegãos árabes”.
Os homens de Bin Laden constituíram um tipo de Brigada
Abraham Lincoln Islâmica de jovens voluntários vindos do
mundo muçulmano que queriam lutar ao lado dos afegãos
contra a União Soviética. Em agosto de 1998, sob ordens do
presidente Bill Clinton, o complexo de Khost foi atingido por
mísseis de cruzeiro, em retaliação aos ataques de Bin
Laden naquele mês às embaixadas americana em Quênia e
Tanzânia. Pelo menos uma vez a CIA sabia exatamente
onde estavam os alvos, uma vez que os construíra.

Osama bin Laden, o bem-conectado, rico e jovem saudita


(nasceu em torno de 1957), estava vem posicionado para
se tornar um íntimo aliado de outros amigos da CIA: o
príncipe Turki Bin Faisal, chefe do Istakhbarat, o Serviço de
Inteligência Saudita, e o tenente-general Hameed Gul,
chefe da agência Inteligência Inter-Serviços (ISI), que os
Estados Unidos usaram para escoar dinheiro e armas para
os mujahedin, com o objetivo de manter uma fachada de
negativas à União Soviética. A partir de 1982, a ISI também
assumiu a liderança do recrutamento de muçulmanos
radicais para irem ao Paquistão receber treinamento e lutar
do lado afegão.

Só depois de os russos bombardearem o Afeganistão


levando o país de volta à idade da pedra e de sofrerem uma
derrota como a do Vietnã, e só depois de os Estados Unidos
se distanciarem da morte e da destruição que a CIA havia
ajudado a causar, foi que Osama bin Laden se voltou contra
seus aliados americanos. A gota d’água, até onde ele sabia,
foi a maneira como os soldados americanos “infiéis” _ cerca
de 35 mil deles _ permaneceram na Arábia Saudita depois
da primeira Guerra do Golfo para apoiar aquele regime
fortemente autoritário. Cidadãos devotadamente
muçulmanos daquele reino viram a presença dos soldados
como uma humilhação para o país e uma afronta a sua
religião. Sauditas dissidentes começaram a lançar ataques
contra os americanos e contra o próprio regime saudita. Em
junho de 1996, terroristas associados a Osama bin Laden
atacaram os apartamentos das Torres Khobar, perto do
aeroporto de Dhahran, matando dezenove membros da
força aérea americana e ferindo muitos mais.
Naquele mesmo ano, o comentarista de relações
internacionais William Pfaff fez uma previsão razoável:
“Dentro de 15 anos no máximo, se as políticas americana e
árabe-saudita continuarem, a monarquia saudita será
derrubada e um governo radical e antiamericano assumirá
o poder em Riad.” (6) Tal curso de eventos ocorrera em
outros lugares muitas vezes antes _ em Cuba, Vietnã, Irã,
Grécia, Filipinas e Coréia do Sul, onde povos indígenas
lutaram firmemente para se libertar das ditaduras apoiadas
por americanos. Mas a política externa americana
permaneceu no piloto automático, em vez de se retirar de
um lugar onde a presença dos EUA só piorava uma
situação perigosa. Só depois da derrota do Iraque na
primavera de 2003 os Estados Unidos realmente
anunciaram que retirariam a maior parte de suas forças da
Arábia Saudita. Na época, porém, o gesto não teve
significado. Os Estados Unidos têm forças maciças
concentradas nos próximos Qatar, Kuwait, Bahrein,
Repúblicas Árabes Unidas e Omã, sem contar suas bases
recentemente adquiridas em países muçulmanos como
Iraque, Afeganistão, Jordânia, Quirguízia, Uzbequistão,
Paquistão, Djibuti e em territórios com grande populações
muçulmanas, como Kosovo e Sérvia. Tudo isso sugere um
futuro blowback contra os Estados Unidos.

A Natureza do Terrorismo Político


Os assassinos suicidas de 11 de setembro de 2001 não
“atacaram os Estados Unidos”, como líderes políticos e a
mídia nos Estados Unidos tentaram sustentar; eles
atacaram a política externa americana. Empregando a
estratégia do fraco, mataram pessoas inocentes, cuja
inocência, é claro, não é diferente da inocência dos civis
mortos por bombas americanas em Iraque, Sérvia,
Afeganistão e outros lugares. Foi provavelmente o mais
impressionante exemplo na história das relações
internacionais de uso de terrorismo político para influenciar
acontecimentos.

O terrorismo político é geralmente definido por seus


objetivos estratégicos. Seu primeiro objetivo normalmente
é transformar condições internas ou internacionais que os
terroristas percebem como injustas em situações
revolucionárias instáveis. A uma população abalada, os atos
terroristas tem a intenção de demonstrar que o monopólio
da força exercido por autoridades incumbidas pode ser
rompido. A idéia essencial é desorientar a população,
“demonstrando por meio de violência aparentemente
indiscriminada que o regime existente não pode proteger
as pessoas nominalmente sob sua autoridade. O efeito nas
pessoas é supostamente não apenas ansiedade, mas
retirar-se de relacionamentos que formam a ordem
estabelecida da sociedade. “(7)
É claro que tal estratégia raramente funciona como
pretendido: geralmente tem o efeito oposto de encorajar
pessoas a apoiar qualquer forte reafirmação de autoridade.
Foi de fato o que aconteceu nos Estados Unidos depois dos
ataques do 11 de Setembro, mas não necessariamente no
mundo islâmico, onde o objetivo dos terroristas de mostrar
as vulnerabilidades dos Estados Unidos e de desestabilizar
o mundo das nações capitalistas avançadas foi em geral
eficiente.

Um segundo objetivo estratégico do terrorismo


revolucionário é levar as elites governantes a uma
desastrosa reação exagerada, criando assim um amplo
ressentimento contra elas. Esta é uma estratégia clássica, e
quando funciona, o impacto pode ser devastador. Como
explicou Carlos Marighella, o líder guerrilheiro brasileiro
cujos escritos influenciaram terroristas políticos nos anos 60
e 70, se um governo pode ser levado puramente a uma
resposta militar ao terrorismo, sua reação exagerada vai
alienar as massas, levando-as a “se revoltarem contra o
exército e a polícia e a culpá-lo pelo estado de coisas.”(8). A
segunda intifada palestina, de 2000-03, ilustra a dinâmica:
ataques terroristas resultaram em reações militares
israelenses fortes e desproporcionais que levaram a um
ciclo cada vez maior de mais ataques e mais retaliação,
militarizando completamente as relações entre os dois
povos.
Em nosso mundo globalizante, as massas alienadas por tais
reações exageradas podem ser internas. O ataque ao
Afeganistão que os Estados Unidos lançaram em 7 de
outubro de 2001 causou grande sofrimento em muitos civis
inocentes, um padrão repetido no Iraque, onde o número de
civis mortos em agosto de 2003 era superior a 3.000,
número que observadores informados acham que pode
chegar a 10.000 à medida que mais provas sejam reunidas.
(9). Juntando tudo, em vez de agirem para resolver a crise
pós-11 de Setembro, os Estados Unidos a exacerbaram com
ataques militares maciços ao Afeganistão e ao Iraque, duas
guerras imprudentes e desnecessárias que inflamaram o
mundo islâmico e foram rejeitadas por enormes maiorias
em cada país democrático da Terra.

Afeganistão e Iraque

As duas guerras que os Estados Unidos lançaram


preemptivamente eram os projetos de estimação dos
grupos de interesse especiais que usaram os ataques do 11
de Setembro como uma cobertura para seqüestrar a
política externa americana e implementar suas agendas
particulares. Esses grupos de interesse incluem o complexo
industrial-militar e as forças armadas profissionais; aliados
próximos dos americanos e assessores do Partido Likud, em
Israel; e entusiastas neoconservadores da criação de um
império americano. Esse terceiro grupo, concentrado nas
fundações e nos centros de estudo de direita em
Washington, é composto por “falcões medrosos” amantes
da guerra (isto é, chamados estrategistas militares sem
qualquer experiência em forças armadas ou guerra) que se
aproveitaram do sentimento confuso depois do 11 de
Setembro para empurrar o governo Bush para conflitos
que não foram nem relevantes nem bem-sucedidos em seu
objetivo de destruir a al-Qaeda. Em vez disso, as guerras
aceleraram o recrutamento de mais terroristas suicidas e
promoveram proliferação nuclear em países que esperam
impedir ataques antecipados semelhantes dos Estados
Unidos. Dois anos depois do 11 de Setembro, os Estados
Unidos estão inquestionavelmente num perigo de sérias
ameaças terroristas maior como nunca estiveram antes.

As guerras no Afeganistão e no Iraque resultaram em


vitórias americanas fáceis, mas ambas logo voltaram a
irromper como atritos de lutas de guerrilha. A experiência
tem mostrado que forças armadas de alta tecnologia, como
as dos Estados Unidos, são inapropriadas, são instrumentos
excessivamente obscuros contra terroristas e guerrilheiros.
O que se pediu foi cooperação internacional de polícias para
caçar terroristas e mudanças na política externa para
separar ativistas militantes de seus aliados passivos, cujas
reclamações precisam ser ouvidas. O objetivo deveria ter
sido transformar aliados em informantes contra os
militantes, portanto permitindo que estes fossem
identificados e capturados. Sérios esforços da inteligência
de alto nível contra organizações como a al-Qaeda e o
compartilhamento de informações secretas com outros
serviços que poderiam ter mais acesso ou capacidade do
que o nosso são também importantes nesse contexto,
assim como esforços de colaboração para interromper o
financiamento de atividades terroristas e impedir a
lavagem de dinheiro.

Em vez disso, quando aconteceu o 11 de Setembro os


Estados Unidos vieram com uma estratégia particularmente
cínica e destrutiva. Enviaram agentes da CIA ao Afeganistão
com milhões de dólares para subornar os mesmos exércitos
de senhores da guerra que o Talibã derrotara para reabrir a
guerra civil, prometendo a eles apoio aéreo em sua nova
ofensiva. Os senhores da guerra, com uma pequena ajuda
dos Estados Unidos, derrubaram então o governo talibã e
logo retomaram seus velhos hábitos de exploração
regional. O Afeganistão caiu numa anarquia comparável à
que predominara antes do crescimento do implacável mas
religiosamente motivado Talibã. O aparato de propaganda
do Pentágono propagou uma vitória estupenda dos EUA no
Afeganistão, mas, na verdade, líderes do Talibã e da al-
Qaeda escaparam e o país rapidamente se tornou um
celeiro ainda mais virulento de terroristas.

No primeiro ano depois da “libertação” do Afeganistão, a


produção de ópio, heroína e morfina, controlados por
senhores da guerra aliados dos Estados Unidos, aumentou
18 vezes, passando de 185 para 3.400 toneladas. Até
mesmo o primeiro-ministro Tony Blair admitiu em janeiro de
2003 que 90% da heroína consumida na Grã-Bretanha
vinham do Afeganistão (10). Aliados antes vacilantes dos
terroristas têm entrado em organizações militantes.
Governos muçulmanos que no passado cooperaram com os
Estados Unidos, principalmente Arábia Saudita, Egito,
Indonésia e Paquistão, estão enfrentando uma crescente
dissidência interna. Na maior parte do mundo, o espetáculo
do país mais rico e mais bem armado do mundo usando seu
poder aéreo contra um dos países mais pobres do mundo
rapidamente corroeu a alta moral concedida aos Estados
Unidos como vítima dos ataques do 11 de Setembro.
Nossas “guerras preventivas” asseguraram a afegãos,
iraquianos e seus aliados amplos motivos durante muito
tempo para matar todo e qualquer americano,
particularmente os inocentes, exatamente como as forças
americanas massacraram seus civis com suas campanhas
de bombardeios de “choque e pavor” contra as quais não
há defesa alguma.

A guerra com o Iraque que se seguiu à conquista do


Afeganistão teve ainda menos justificativa e subverteu o
sistema de cooperação internacional que os Estados Unidos
haviam trabalhado desde a Segunda Guerra Mundial para
criar. Imediatamente depois do 11 de Setembro, líderes
americanos começaram a fabricar pretextos para invadir o
Iraque. Estes foram disseminados sem críticas pela
imprensa e pela mídia de televisão americana, levando uma
maioria de americanos a acreditar que Saddam Hussein era
uma ameaça imediata a sua própria segurança e que ele
pessoalmente apoiara a al-Qaeda em seus ataques do 11
de Setembro. Como não havia qualquer prova de qualquer
daquelas proposições, o público americano formou sua
impressão com base em histórias plantadas pelo presidente
e seus seguidores e em seguida repetidas de maneira
interminável e enfeitadas por jornalistas e redes de
comunicação cúmplices.

Os Estados Unidos vão sentir durante décadas o blowback


dessa aventura militar imprudente e mal preparada. A
guerra já teve as conseqüências não pretendidas de
fraturar seriamente a aliança democrática ocidental,
eliminar qualquer potencialidade para a liderança britânica
na União Européia, enfraquecer gravemente a lei
internacional, inclusive a carta das Nações Unidas, e
destruir a credibilidade do presidente, do vice-presidente,
do secretário de estado e de outras autoridades como
resultado da mentira deles para a comunidade
internacional e para o povo americano. Mais importante, o
ataque militar não autorizado ao Iraque comunicou ao
mundo que os Estados Unidos não estavam querendo
buscar um modus vivendi com as nações islâmicas e eram,
portanto, um alvo apropriado, até mesmo necessário, para
outros ataques terroristas.
A história tem mostrado que a virtude mais importante na
condução de relações internacionais é a prudência _ ser
cauteloso e discreto em ações, circunspeto e sensível no
que se diz, suspeitar de ideologias e ser lento para chegar a
conclusões. Durante a Guerra Fria, o confronto de
superpotências impôs um alto grau de cautela a ambos os
lados. Um erro de uma das partes certamente seria
explorado pela outra, e tanto os Estados Unidos quanto a
URSS sabiam o quanto o outro estava pronto para tirar
vantagens de políticas impetuosas e mal consideradas.
Depois de 1991 e do colapso da União Soviética, os Estados
Unidos já não sentiam essa pressão e pareciam relaxar todo
o senso de prudência. Por exemplo, o presidente George H.
W. Bush apertou o freio dos mesmos neoconservadores
ideológicos e inexperientes que, no governo de seu filho,
tiveram as rédeas livres. Essa perda de senso comum
garante uma era ainda mais letal de blowback do que as
políticas dos Estados Unidos durante a Guerra Fria já
geraram.

Os Estados Unidos e o Leste da Ásia

A preocupação dos Estados Unidos depois do 11 de


Setembro tem sido primordialmente com o mundo islâmico.
Mas o leste da Ásia continua sendo uma área de grande, e
talvez maior, preocupação. Os satélites mais ricos dos
Estados Unidos são Japão e Coréia do Sul, mas eles estão
firmes dentro da órbita americana. Em dezembro de 2002,
o Centro de Pesquisas Pew realizou uma pesquisa sobre
atitudes nacionais em quarenta e dois países. Descobriu
que impressionantes 44% de sul-coreanos tinham opiniões
desfavoráveis sobre os Estados Unidos, superando 34% na
França e 35% na Alemanha. Uma pesquisa do Gallup
coreano realizada mais ou menos na mesma época
descobriu que 53,7% dos sul-coreanos tinham opiniões
“desfavoráveis” e “um pouco desfavoráveis” sobre os
Estados Unidos. Este grupo incluía mais de 80% dos
universitários consultados. (11)

No município mais pobre do Japão, a minúscula ilha de


Okinawa, cerca de 38 bases militares americanas estão
localizadas sob os termos do Tratado de Segurança
Japonês-Americano de 1960, e a revolta contra nossa
presença militar é endêmica. Como eu discuto neste livro, a
situação em Okinawa é tão volátil quanto aquela que
cercou o Muro de Berlim em 1989: quando a inevitável
explosão antiamericana ocorrer, provavelmente atingirá
toda a presença dos EUA no leste da Ásia, assim como a
queda do Muro de Berlim derrubou todo o edifício de
satélites soviéticos na Europa Oriental.

Em outros lugares do leste da Ásia, os Estados Unidos têm


interferido repetidamente em assuntos internos da
Indonésia, a maior nação islâmica do mundo. A pesquisa do
Pew citada acima descobriu que se em 2000 cerca de 75%
dos indonésios disseram ter uma opinião favorável sobre os
Estados Unidos, em 2003 83% disseram ter uma opinião
desfavorável. Apesar da longa tradição da Indonésia de ter
uma abordagem relaxada e heterodoxa da religião, o ultraje
com a arrogância dos Estados Unidos e com as atitudes
racistas com os muçulmanos começou a voltar o país para
o fundamentalismo e a militância islâmicos. (12). Este é um
desastre em potencial para os Estados Unidos.

Apesar da saliência do terrorismo islâmico contra os


Estados Unidos, as duas superpotências do leste da África,
China e Japão, bem como o impasse militarizado entre os
Estados Unidos e a Coréia do Norte, vão importar mais nas
primeiras décadas do século 21. A China é a economia que
cresce mais rapidamente no planeta, capitalista na
orientação mas não uma democracia (rejeitando um
princípio cultivado na ideologia americana de que os dois
inevitavelmente seguirão juntos). A China tem uma
população altamente educada quatro vezes maior que a
dos EUA e é a única nação no planeta que tem potencial
para se defender militarmente dos Estados Unidos. Uma
guerra sino-americana seria uma reedição ainda mais
catastrófica da Guerra do Vietnã.

O Japão continua sendo uma usina geradora de produtos,


embora preso há mais de uma década num mal-estar
político e econômico causado em parte por sua dócil
subserviência aos Estados Unidos. A Coréia do Norte é uma
das três nações _ juntamente com Iraque e Irã _ que o
presidente Bush identificou como membros do “eixo do
mal” em seu discurso do Estado da União de 2002. Embora
Bush tenha insistido que Saddam Hussein tinha armas
nucleares, ele não tinha; enquanto a Coréia do Norte tem,
assim como mísseis para lançá-las. Este livro, em parte,
analisa o blowback que já veio da região do Pacífico
Ocidental no passado e que quase certamente virá no
futuro.

Os Ganhos do Imperialismo

Desde o 11 de Setembro, o número de incidentes


terroristas significativos cresceu, e intensidade aumentou.
Estes incluem a tentativa, em 22 de dezembro de 2001, de
Richard Reid, um cidadão britânico, explodir um jato que
seguia para Miami usando um artefato explosivo escondido
em seu sapato; as explosões de 12 de outubro de 2002
numa boate em Bali, Indonésia, matando 202 turistas, na
maioria australianos; as explosões de 13 de maio de 2003
em três conjuntos residenciais e em escritórios de um
funcionário da defesa americana em Riad, na Arábia
Saudita; os assassinatos três dias depois, em 16 de maio de
2003, de 33 pessoas num restaurante e centro da
comunidade judaica em Casablanca, Marrocos; o uso de um
carro-bomba em 5 de agosto de 2003 para atacar o novo
Marriott Hotel, símbolo do imperialismo americano em
Jacarta, a capital indonésia; a morte de pelo menos 19
pessoas numa explosão na embaixada jordaniana em
Bagdá, em 7 de agosto de 2003; e a explosão da sede das
Nações Unidas em Bagdá em 19 de agosto de 2003,
matando Sergio Vieira de Mello, representante especial do
secretário-geral, e muitos outros. Também houve
numerosos assassinatos de funcionários e homens de
negócios americanos no mundo e 184 soldados morreram
no Iraque nos seis meses seguintes a 1º de maio de 2003,
dia em que o presidente Bush grandiosamente declarou
que a guerra havia acabado. (13)

Além do terrorismo, o perigo que prevejo é de que


tenhamos entrado num caminho não muito diferente
daquele da antiga União Soviética pouco mais de uma
década atrás. Aquele país desmoronou por três razões _
contradições econômica internas, excessivo imperialismo e
incapacidade de realizar reformas. Em todos os sentidos,
éramos de longe a mais rica das superpotências da Guerra
Fria, portanto vai demorar um pouco mais para que
sofrimentos semelhantes aconteçam. Mas em nenhum
lugar está escrito que os Estados Unidos, com sua
aparência de império dominante no mundo, precisa
continuar em frente para sempre. O blowback da segunda
metade do século XX apenas começou.

Chalmers Johnson
Cardiff, Califórnia
Outubro de 2003

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