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Suponhamos
Quinta, 26 de maio de 2011, 21h12
Sírio Possenti
De Campinas (SP)
Para fazer a denúncia das aventuras de Palocci, um jornal conta ao leitor que
analisou documentos, fez cálculos etc. Nos dias seguintes, revela mais
detalhes, cita os desmentidos, os desmentidos dos desmentidos, novos
nomes, novos números. Retoma-se o caso Francenildo etc.
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27/05/2011 Terra - Sirio Possenti
Suponhamos que a mídia tratasse da mesma forma o caso livro do MEC. Em
uma página, encontra duas ou três passagens das quais suspeita. Então, lê o
capítulo, depois, lê o livro. Acha que tem alguma coisa estranha. Vai mais
fundo: considera o fato de que se trata de um livro aprovado e distribuído pelo
MEC. Obviamente, quererá saber se há mais algum implicado. Analisa outros
livros de português abonados pelo Ministério. Encontra coisas semelhantes,
pelo menos em um capítulo em cada manual. Desconfiada, porque nunca ouviu
falar disso (só conhecia o manual da redação), decide investigar se é coisa do
PT. Avança sobre os livros de português distribuídos no governo anterior, na
certeza de que não encontrará nada disso (imagina!). Mas encontra. Tenta
descobrir que conversa é essa.
Como têm interesse em apurar a verdade, procuram Paulo Renato, que foi o
"ministro dos PCNs". Querem entender melhor essa coisa estranha. Ele
informa que vários dos que trabalharam na elaboração dos Parâmetros são
paulistas, e fizeram um trabalho semelhante durante o governo Montoro (um
petista doente!). Basta ir à CENP, órgão da Secretaria da Educação do Estado,
e ver os documentos, ele diz. Vão. Descobrem os textos do Projeto IPÊ (como
são radicais!), que foram distribuídos a todas as escolas do Estado,
distribuição seguida de numerosos cursos para professores de português, em
diversas cidades do Estado e, na capital, para coordenadores pedagógicos e
coordenadores da área. Está escrito: Governador: Montoro; Secretário da
Educação: Paulo Renato. Dois criptocomunistas, eles pensam. Mas era apenas
o primeiro governo democrático do Estado depois dos interventores!
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27/05/2011 Terra - Sirio Possenti
um dos que falaram mal do livro do MEC na ISTOÉ da semana. Pode-se supor
que leu pelo menos o documento da Secretaria que comandava, secretário
competente e responsável que era.
Não entendi
Não entendi (mesmo!) a bronca em relação ao livro Por uma vida melhor. Num
texto que escrevi para o caderno Aliás (Estadão, 22/05), cheguei a dizer que o
capítulo era conservador. Reafirmo que é. Por isso, não consigo mesmo atinar
com a origem da estrondosa reação. Afinal, o prof. Pasquale ministrou
centenas de aulas do mesmo tipo na TV Cultura. A diferença principal é que ele
"partia" de letras de música nas quais identificava um "erro" e, em seguida, dizia
qual era a regra que deveria ser seguida "no formal". Mas ele nunca corrigiu as
letras das músicas. Nenhuma diferença de fundo, portanto. Foi a palavra
"preconceito"? Foi "pode"?
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27/05/2011 Terra - Sirio Possenti
Terra Magazine
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Terra - Brasil
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20/05/2011 Terra - Sirio Possenti
Variação e mudança
Quinta, 27 de novembro de 2008, 20h07
Sírio Possenti
De Campinas (SP)
Isto quer dizer que o português que os professores falam e mesmo o que
escrevem não é necessariamente o português dos livros adotados nas
escolas. O que vale para professores de português vale também para os das
outras disciplinas, claro. E vale também para os jornalistas e para as
personalidades que eles entrevistam, tenham elas a formação que tiverem (em
geral, são especialistas em alguma coisa, sempre especialistas). É só ouvir os
debates ou os programas de entrevistas para verificar isso.
Dou dois exemplos banais. Duvido que haja 10% de professores ou falantes
letrados que profiram o dito futuro (aplicarei minha poupança em ações da
empresa X). Todos dizem "vou aplicar". Outro exemplo? Quase ninguém diz
"nós". Diz-se "a gente". Como pouco se diz "tu", exceto em algumas regiões, a
…terra.com.br/…/0,,OI3355716-EI8425,… 1/3
20/05/2011 Terra - Sirio Possenti
conjugação verbal do futuro é
Eu vou aplicar
Ou não é? Quem não fala assim que atire a primeira pedra. Não vou dizer (!!)
que todos falam sempre assim porque sei que uma língua sempre apresenta
variação. Alguns entrevistados, ou jornalistas, dirão (!!), talvez, de vez em
quando, no meio da conversa, "falaremos disso na próxima entrevista", claro,
sendo mais formais. Em compensação, alguns também dirão "vamo falá disso
na próxima veiz", sendo bem mais informais. E ninguém nota que falou errado
durante a entrevista. Por que? Porque ninguém fala errado mesmo! Isso não é
erro. Esse é o português falado culto do Brasil hoje. É um fato. Só isso.
Numa certa ocasião, fui entrevistado por uma emissora de TV (eu no estúdio e
um folclorista em outra cidade). Argumentava que a linguagem popular não tinha
nada de errado, era só diferente, e era enfrentado pela apresentadora que
"defendia nossa língua". Para dobrá-la, só me restou um recurso: ficar atento
ao que ela dizia e citar os "erros" que ela ia cometendo, segundo os próprios
critérios dela. Ficou meio sem jeito, e eu tive que insistir que ela falava
corretamente... o português real (e que aquele que ela defendia não existe
mais, pelo menos na fala).
O que muita gente não entende - ou não quer entender, porque significaria
perder uma boa teta! - é que a variação tem tudo a ver com a mudança. Todos
acham normal que aquila tenha derivado para águia, que asinus tenha
derivado para asno (tem muita coisa mudada aí, mas o básico é que a palavra
latina proparoxítona se torna paroxítona), mas acha ridículas formas como
fosfro (para fósforo), corgo (para córrego), xicra e chacra (para xícara e
chácara), embora a regra antiga que explica a mudança e a atual que explica a
variação sejam a rigor a mesma (os falantes seguem regras, não erram!!!),
sem contar que dizem, numa boa, sem se dar conta do que fazem, xicrinha e
chacrinha. Quá!
Variação tem tudo a ver com mudança. Mas, se entendêssemos isso, muita
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20/05/2011 Terra - Sirio Possenti
gente perderia uma grana preta!!
***
Pode até ser que o preconceito racial diminua com o tempo ou que venha a se
manifestar de forma diferente, menos agressiva, mais "cordial" (como sugere o
caderno especial da Folha de 23/11/2008). Mas o preconceito lingüístico está
mais firme do que nunca (mais ou menos sutil): Fernando de Barros e Silva
escreveu na Folha (24/11/2008) que o "pobrema" é mais embaixo. Por que
uma forma lingüística popular representa um problema mais embaixo? É lá
embaixo que está o povo? E o colunista diz isso logo em uma época em que
ficou claro que o problema é bem mais em cima!!
Terra Magazine
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Terra - Brasil
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19/05/2011 Terra - Sirio Possenti
Aceitam tudo
Quinta, 19 de maio de 2011, 21h22
Trecho do livro "Por uma Vida Melhor" apresenta a pergunta "posso falar
'os livro'?"
18 de maio de 2011
Reprodução
Sírio Possenti
De Campinas (SP)
De vez em quando, alguém diz que lingüistas "aceitam" tudo (isto é, que acham
certa qualquer construção). Um comentário semelhante foi postado na semana
passada. Achei que seria uma boa oportunidade para tentar esclarecer de novo
o que fazem os linguistas.
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19/05/2011 Terra - Sirio Possenti
Mas a razão para tentar ser claro não tem mais a ver apenas com aquele
comentário. Surgiu uma celeuma causada por notas, comentários, entrevistas
etc. a propósito de um livro de português que o MEC aprovou e que ensinaria
que é certo dizer Os livro. Perguntado no espaço dos comentários, quando
fiquei sabendo da questão, disse que não acreditava na matéria do IG, primeira
fonte do debate. Depois tive acesso à indigitada página, no mesmo IG, e
constatei que todos os que a leram a leram errado. Mas aposto que muitos a
comentaram sem ler.
Vou tratar do tal "aceitam tudo", que vale também para o caso do livro.
Ou seja: não se trata de aceitar ou de não aceitar nem de achar ou de não achar
correto que as pessoas digam os livro. Acabo de sair de uma fila de
supermercado e ouvi duas lata, dez real, três quilo a dar com pau. Eu deveria
mandar esses consumidores calar a boca? Ora! Estávamos num caixa de
supermercado, todos de bermuda e chinelo! Não era um congresso científico,
nem um julgamento do Supremo!
…terra.com.br/…/0,,OI5137669-EI8425,… 2/5
19/05/2011 Terra - Sirio Possenti
O caso é manjado: nesta variedade do português, só há marca de plural no
elemento que precede o nome - artigo ou numeral (os livro, duas lata, dez real,
três quilo). Se houver maias de dois elementos, a complexidade pode ser
maior (meus dez livro, os meus livro verde etc.). O nome permanece
invariável. O linguista vê isso, constata isso. Não só na fila do supermercado,
mas também em documentos da Torre do Tombo anteriores a Camões.
Portanto, mesmo na língua escrita dos sábios de antanho.
O linguista também constata the books no inglês, isto é, que não há marca de
plural no artigo, só no nome, como se o inglês fosse uma espécie de avesso
do português informal ou popular. O linguista aceita isso? Ora, ele não tem
alternativa! É um dado, é um fato, como a combustão, a gravitação, o bico do
tucano ou as marés. O linguista diz que a escola deve ensinar formas como os
livro? Esse é outro departamento, ao qual volto logo.
Faço uma digressão para dar um exemplo de regra, porque sei que é um
conceito problemático. Se dizemos "as cargas", a primeira sílaba desta
sequência é "as". O "s" final é surdo (as cordas vocais não vibram para produzir
o "s"). Se dizemos ¿as gatas", a primeira sílaba é a "mesma", mas nós
pronunciamos "az" - com as cordas vocais vibrando para produzir o "z". Por que
dizemos um "z" neste caso? Porque a primeira consoante de "gatas" é sonora,
e, por isso, a consoante que a antecede também se sonoriza. Não acredita? Vá
a um laboratório e faça um teste. Ou, o que é mais barato, ponha os dedos na
sua garganta, diga "as gatas" e perceberá a vibração. Tem mais: se dizemos
"as asas", não só dizemos um "z" no final de "as", como também reordenamos
as sílabas: dizemos as.ga.tas e as.ca.sas, mas dizemos a.sa.sas ("as" se
dividiu, porque o "a" da palavra seguinte puxou o "s/z" para si). Dividimos "asas"
em "a.sas", mas dividimos "as asas" em a.sa.sas.
Volto ao tema do linguista que aceitaria tudo! Para quem só teve aula de certo /
errado e acha que isso é tudo, especialmente se não tiver nenhuma formação
histórica que lhe permitiria saber que o certo de agora pode ter sido o errado
de antes, pode ser difícil entender que o trabalho do linguista é completamente
diferente do trabalho do professor de português.
saberá que fala uma língua errada. Saberá, talvez (se estudar mais do que
você), que um ancestral dele falava formas arcaicas do português, como 300
cabrais.
Outro tema: o linguista diz que a escola deve ensinar a dizer Os livro? Não.
Nenhum linguista propõe isso em lugar nenhum (desafio os que têm opinião
contrária a fornecer uma referência). Aliás, isso não foi dito no tal livro, embora
todos os comentaristas digam que leram isso.
O linguista não propõe isso por duas razões: a) as pessoas já sabem falar os
livro, não precisam ser ensinadas (observe-se que ninguém falao livros, o que
não é banal); b) ele acha - e nisso tem razão - que é mais fácil que alguém
aprenda os livros se lhe dizem que há duas formas de falar do que se lhe
dizem que ele é burro e não sabe nem falar, que fala tudo errado. Há muitos
relatos de experiências bem sucedidas porque adotaram uma postura diferente
em relação à fala dos alunos.
…terra.com.br/…/0,,OI5137669-EI8425,… 4/5
19/05/2011 Terra - Sirio Possenti
Terra Magazine
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18/05/2011 Mulheres de Fibra: "Por uma vida melh…
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Mulheres de http://somosmulheresdefibra.blogspot.com/2011/05/por-uma-vida-melhor-por-que-abolir-os.html
Fibra
O blog Somos Mulheres de Fibra
participa do movimento de
blogueiros progressistas que
procuram contribuir, de forma TE R ÇA -FE IR A , 1 7 DE MA IO DE 2 01 1
responsável, para a
democratização e a pluralidade da "Por uma vida melhor": por que abolir os conceitos
informação e da comunicação na de “certo” e “errado”.
sociedade brasileira. Nosso blog
se apresenta como um espaço Por Daniela Jakubaszko*
aberto a debates sobre temas
diversos como política nacional e
internacional, questões de gênero,
atividades culturais e A polêmica que se criou em torno do livro Por uma vida melhor, da
manifestações de diferentes coleção Viver, aprender, adotado pelo MEC , é inútil e representa um
categorias sociais. retrocesso para a Educação.
2. O livro NÃO está propondo que o aluno escreva “nós pega” – como
estão divulgando por aí - ele está apenas constatando a existência da
expressão no registro “popular”. Do ponto de vista cotidiano, a expressão
é válida porque dá conta de comunicar o que se propõe. E ela é mais que
comum e, sejamos sinceros, é a linguagem que o leitor dessa obra usa e
entende. Será que é intenção da escola se comunicar com ele de
verdade? Se for, ela tem que usar um livro que consiga fazer isso. Uma
gramática cheia de exemplos eruditos e termos que o aluno não consegue
nem memorizar, com certeza, não vai conseguir.
Foto de Rinaldo Arruda 4. A questão é: como ensinar a norma culta num país de tradição oral, e
no qual existe um abismo entre a língua oral e a língua escrita? C omo
fazer isso com jovens adultos – que já apresentam um histórico de
“fracasso” em seu processo formal de educação e, muito provavelmente,
na aquisição dos termos da gramática e seus significados. Se esse jovem
não assimilou até o momento em que procurou o EJA (Educação de Jovens
e Adultos) a “concordância de número”, como o professor vai fazê-lo usar
a crase? Isso para mencionar apenas um dos tópicos mais fáceis da
gramática e que a maioria das pessoas, inclusive as “mais cultas e
graduadas”, algumas até mesmo com doutorado, ainda não sabem
explicar quando ela é necessária.
Vou mencionar apenas 3 razões, para não cansar demais o leitor, mas
C adê a tão falada liberdade de existem muitas outras, quem se interessar pode perguntar que eu passo a
expressão? bibliografia.
V IS IT A N T ES DES T E 1. Primeiro, por uma questão de honestidade com o aluno. A língua é viva,
…blogspot.com/…/por-uma-vida-melh… 1/5
18/05/2011 Mulheres de Fibra: "Por uma vida melh…
BLO G assim como a cultura, e não pode ser dirigida, por mais que tentem. Por
isso, não existe nem “certo” nem “errado”: as regras são convenções e
são alteradas de tempos em tempos por um acordo entre países falantes
blog c ounter de uma mesma língua. O que era “errado” há alguns anos, hoje pode ser
Diseño Web “certo”. Agora é correto escrever lingüística sem trema - o que discordo -
Imprenta Sevilla e ideia sem acento. Assim, o que existe é o “adequado à norma culta” e o
“inadequado à norma culta”. E essa norma é uma convenção, não uma lei
natural e imutável. Além disso, por mais que a escola seja representante
da norma culta, isto não significa que ela deva ficar “surda” diante dos
demais níveis de fala. A língua portuguesa – ou qualquer língua – não
pode ser reduzida à sua variante padrão. Tão pouco as aulas de português
G EN T E DE FIBRA devem ficar. Afinal, se numa narrativa aparece um personagem, por
exemplo, pescador e analfabeto, como o aluno deverá escrever uma fala
Seguir (verossímil) para ele? Escrever de forma inverossímil é certo? Aliás, o que
Google Friend Connect seria dos poetas e escritores se não fosse o registro popular da língua?
Acho que Guimarães Rosa nem existiria.
Seguidores (47) Mais »
C om certeza a crítica ao livro parte de setores conservadores e
normativos. Eu, como lingüista e professora, não apoio a retirada dos
livros porque não acho justo falar para o aluno que o jeito que ele fala é
errado, até porque não é, só não está de acordo com a norma culta, o que
é muito diferente. Depois que você explica isso para o aluno é que ele
entende o que está fazendo naquela aula. Essa troca faz toda a diferença.
2. Segundo, porque quando você diz para um aluno sucessivas vezes que
o que ele fez está “errado” você passa por cima da subjetividade dele e
Já é um membro? Fazer login acaba com toda a naturalidade dessa pessoa. Daí, ela não fala “certo” e
também não sabe quando fala “errado”. Assim, quando na presença de
pessoas que ela julga mais letradas que ela própria, não tenha dúvida, vai
LEIA T A MBÉM
ficar muda. A formação da identidade do sujeito passa obrigatoriamente
Luis Nassif Online pela aquisição da linguagem, viver apontando os erros é desconsiderar a
A invasã o dos ca rros experiência de vida daquela pessoa, é diminuí-la porque ela não teve
chinese s estudo. E não se engane: ela pode se tornar até uma profissional mais
desejada pelo mercado por usar melhor a norma culta, mas não
Tijolaço - O Blog do
necessariamente vai se tornar uma pessoa melhor.
Brizola Neto
Brizola , a ssim , tira ria
este sa pa to 3. Em terceiro, porque é urgente trocar o ponto de vista normativo pelo
científico. A lingüística reconhece que a língua tem seu curso e muda
Richard Jakubaszko
conforme o uso e a cultura: já foi muito errado falar (e escrever) "você",
"Por um a
vida por exemplo. A lingüística também reconhece que a língua é instrumento
m e lhor": de poder, por isso, nada mais importante do que desmistificar a gramática
por que
normativa. Isto não significa deixá-la de lado, mas precisamos exercitar
a bolir os
conceitos uma visão mais crítica. Esse aluno sente na pele a discriminação social
de “ce rto” devido ao seu nível de fala, nada mais natural que ele rejeite a norma
e “e rra do”. culta e considere pedante a pessoa que fala segundo a norma padrão. É
Cloaca News compreensível, ainda, que ele não entenda grande parte do que se diz em
NÓ S sala de aula. O que não é compreensível é o professor, ou melhor, “a
R O UBEMO Escola”, não entender a razão de isso acontecer.
AS
PALAVR A
DE O UTR O Em nenhum momento foi dito que a professora e autora do livro em
BLO G questão não iria corrigir ou ensinar a norma culta aos alunos, só ficou
validado o registro oral. Os alunos precisam entrar em contato com o
Viomundo - O que distanciamento científico. E os lingüistas não saem por aí corrigindo
você não vê na mídia ninguém, eles observam, e você, leitor, bem sabe como funciona a ciência
Ma rcos Ba gno:
Discussã o sobre livro - e um aluno de pelo menos 15 anos já precisa começar a ouvir falar do
didático só re ve la pensamento científico. Além disso, é muito bom que eles percebam se o
ignorâ ncia da gra nde nível de fala que usam tem prestígio ou não, e o porquê.
im pre nsa
CartaCapital Por que ignorar o estudo da língua oral em sala de aula? Eu fazia um
Ma rcha LGBT que r re unir trabalho nesse sentido com os meus alunos e só depois de transcrever
…blogspot.com/…/por-uma-vida-melh… 2/5
18/05/2011 Mulheres de Fibra: "Por uma vida melh…
30 m il pe ssoa s e m entrevistas orais eles conseguiam ouvir a si mesmos e tomar consciência
fre nte ao Congre sso de seu registro lingüístico: “nossa como eu falo gíria! Eu nem percebia!”.
Blog da Cidadania Aí sim eles entendem que, com o amigo, com os pais, eles podem dizer
Por ge ntile za , vã o se "os peixe", mas que na prova é preciso escrever "os peixes", no seminário
sodom iza r é preciso dizer “os peixes”, mas ele precisa estar à vontade para fazer
isso. A realidade em sala de aula é que os alunos não entendem onde
Metal Cadente
estão errando. Quando você explica o conceito de norma culta eles
Joaquim Fernandes entendem. C ria-se um parâmetro e não uma tábua de salvação
Neto inatingível. É aceitando o registro desse interlocutor e apresentando mais
O DEVENIR E A LEI DA uma possibilidade de uso da língua para ele que vai surgir o esforço para
R ENÚNCIA
aprender. Se você insistir no “certo” e no “errado” ele vai ficar com raiva
Gonzum e rejeitar o novo. Quer apostar?
Fúria , fúria , contra a
m orte da luz Ter uma boa comunicação não é sinônimo de usar bem as regras da
gramática. Para ensinar os conceitos de "gramática natural" e "gramática
A Moeda
normativa" temos de dar esses exemplos. Os conservadores se arrepiam
Conversa Afiada porque eles partem do princípio que você nunca pode escrever ou falar
nada errado na frente do aluno. Para mim isso é hipocrisia: o aluno tem
direito de saber que o registro que ele usa em casa é diferente daquele
A RQ U IV O DO BLO G que ele usa na rua, no estádio de futebol, na escola, no trabalho, em
frente ao juiz. E tem o direito de saber que o “correto” se define por
▼ 2011 (51)
aquele que tem mais prestígio social. Essas são só as primeiras noções de
▼ Maio (7)
sociolingüística, para quem quiser abrir a cabeça e saber. Ou será que a
Para 57% dos franceses o
língua portuguesa se aprende descolada da realidade? É isso que se está
diretor do FMI foi
tentando mudar. É tão difícil assim perceber isso?
vítima...
"Por uma vida melhor": Quando me perguntam qual é a função do professor de português na
por que abolir os escola, eu respondo: oferecer ao aluno um grau cada vez mais elevado de
conceitos...
consciência lingüística; oferecer instrumentos para que ele possa transitar
O MEC , os Linguistas e a conscientemente entre os diversos níveis de linguagem. Só depois de
Língua Portuguesa. realizada essa operação o aluno vai conseguir escrever conforme as
Hoje, a partir de 19h, regras da norma culta. E falar a norma padrão com naturalidade. Ou,
noite de abertura do ainda, escolher falar conforme o ambiente em que cresceu e formou a sua
#RioBl... subjetividade (Lula que o diga, comunica-se muito bem, sem camuflar as
suas origens). É bom ficar claro que a função do professor não se reduz a
Alguém tramou o director
"corrigir" o aluno. Isso, o google, até o word, pode fazer. Ajudar o aluno a
do FMI? - Mundo -
ter consciência de seu nível de fala é outra história...
PUBLIC O...
Nem todos os moradores O problema não é uma pessoa dizer “nós pega”, o problema é ela não
de Higienópolis se entender que esse uso não é adequado em determinados contextos, o
sentem r...
problema é não saber dizer “nós pegamos”. Ou sequer compreender
Pedro Tobias a nova face porque não pode falar “nós pega”... É, leitor, tem muito aluno que não
do PSDB entende porque precisa aprender uma lista de nomes difíceis que nada
significam para ele e que ele não enxerga a relação direta entre uso da
► Abril (10)
norma culta e como esta vai ajudá-lo a melhorar de vida.
► Março (3)
C onheço quilos, ou toneladas, de gente formada, pós-graduada, que fala
► Fevereiro (27)
“seje” e não tem consciência de que está falando assim, e ainda critica
► Janeiro (4) quem fala “menas”. Ouvir a si mesmo é uma das coisas mais difíceis de
fazer. E como ajudar o aluno a fazer isso?
► 2010 (265)
E então, leitor, o que é mais honesto com esse aluno que chega no EJA
…blogspot.com/…/por-uma-vida-melh… 3/5
18/05/2011 Mulheres de Fibra: "Por uma vida melh…
com a autoestima lá em baixo? C omeçar falando a língua dele e depois
trazê-lo para a norma padrão ou começar de cara a humilhá-lo com uma
língua que ele não entende?
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…blogspot.com/…/por-uma-vida-melh… 4/5
18/05/2011 LIVRO APROVADO PELO MEC É ALVO …
A língua é um fenômeno curioso. Nela, existe algum mistério que está além do simples certo ou errado, alguma força maior que a
faz viver em movimento constante, de forma múltipla e particular. Ao falar sobre questões linguísticas deveria se ter mais
cuidado, um mínimo de conhecimento e, principalmente, uma postura não daquele que julga, mas daquele que antes busca
conhecer.
A distribuição do livro “Por uma vida melhor”, da professora Heloísa Ramos, com supostos “erros gramaticais” pelo Programa
Nacional do Livro Didático, do Ministério da Educação, tem feito muito barulho e dentro de todo esse barulho muita coisa
equivocada foi dita. O livro busca dar maior importância à linguagem oral, contemplando-a juntamente com a linguagem escrita
e sua norma culta, neste sentido, leva em consideração que frases como “nós pega o peixe” poderiam ser consideradas corretas
em certos contextos.
A questão é será que há mesmo algo a temer pela língua? Será que ela precisa mesmo de
tantos jornalistas, gramáticos e escritores atacando as formas da linguagem oral porque esta
pode destruir a norma culta e aí sim seremos um país de pessoas analfabetas que não sabem
escrever e falar corretamente? Há um medo absurdo em toda essa crítica que chega ao
desespero típico dos que matam uma nova forma, para não mexer no esquema das antigas.
Em primeiro lugar, deve ser dito que muitos dos jornalistas que estão criticando o livro
didático e sua proposta ao falarem e redigirem seus textos cometem muitos dos “erros” que
eles tanto condenam, sem dizer que, a maioria não tem conhecimento mínimo de linguística
para sair falando e revestem seu discurso de tanto preconceito que não há espaço para
qualquer tipo de reflexão.
Outra proposta para o ensino de
Em segundo lugar, deve se lembrar de que os gramáticos têm muita dificuldade em lidar com gramática
as formas novas da língua, afinal, elas exigem mudanças nos sagrados manuais, assim, eles
abraçam a causa de uma língua que supostamente deve ser defendida a todo custo, inclusive da própria língua. Pois faz parte do
movimento da língua introduzir formas novas como “os livro.
Além disso, ao dizer “os livro”, por exemplo, não há um problema comunicacional, é possível entender o que se diz, a construção
não está de todo equivocada, o problema que existe aí é de outra ordem e obviamente deve ser estudado, no entanto, é
importante sim que as gramáticas e os livros didáticos contemplem essas novas formas explicando por que uma língua permite
que surjam construções como essa e dizendo, obviamente, qual é a norma culta, a forma consagradamente correta de dizer.
Sem dúvida, a gramática que for dinâmica como é a própria língua, será uma gramática muito mais completa e eficiente, afinal,
quando simplesmente se aponta uma forma como errada, perde-se muito mais do que quando se procura entender quais
mecanismos mentais e sociais propiciaram que aquela forma existisse. Por isso, pode-se dizer que esse livro didático ao invés de
pisotear a norma culta está colocando-a no mais alto patamar, pois não se aprende uma língua sem abrir-se para a sua totalidade.
Se fôssemos levar em consideração todas essas críticas que têm sido feitas, um escritor como Guimarães Rosa poderia ser
apedrejado em praça pública por inventar palavras e frases que desmerecem a sagrada norma culta. No entanto, muitos dos
jornalistas, escritores e membros da Academia que estão agora condenando o livro didático da professora Heloísa Ramos, rendem
ao escritor vastas homenagens. E o incrível é que com os escritos de Guimarães a língua não parece ter se perdido, muito pelo
contrário.
Abaixo, alguns trechos de notícias e comentários que saíram na imprensa sobre o assunto:
glaucocortez.com/…/livro-aprovado-p… 1/3
18/05/2011 LIVRO APROVADO PELO MEC É ALVO …
Do Globo
Por Cássio Bruno
Escritores e educadores criticaram ontem a decisão de distribuir o livro, tomada pelos responsáveis pelo Programa Nacional do Livro Didático. Para Mírian
Paura, professora do Programa de Pós-graduação em Educação da Uerj, as obras distribuídas pelo MEC deveriam conter a norma culta:
- Não tem que se fazer livros com erros. O professor pode falar na sala de aula que temos outra linguagem, a popular, não erudita, como se fosse um dialeto.
Os livros servem para os alunos aprenderem o conhecimento erudito.
Na obra “Por uma vida melhor”, da coleção “Viver, aprender”, a autora afirma num trecho: “Posso falar ‘os livro?’ Claro que pode, mas dependendo da
situação, a pessoa pode ser vítima de preconceito linguístico.” Em outro, cita como válidas as frases: “nós pega o peixe” e “os menino pega o peixe”.
Autor de dezenas de livros infantis e sobre Machado de Assis, o escritor Luiz Antônio Aguiar também é contra a novidade:
- Está valendo tudo. Mais uma vez, no lugar de ensinar, vão rebaixar tudo à ignorância. Estão jogando a toalha. Isso demonstra falta de competência para
ensinar. (Texto completo)
“Nós pega o peixe” ou “os menino pega o peixe”. Para os autores do livro de língua portuguesa Por uma Vida Melhor, da Coleção Viver, Aprender, adotado
pelo Ministério da Educação (MEC), o uso da língua popular – ainda que com seus erros gramaticais – é válido.
A obra também lembra que, caso deixem a norma culta, os alunos podem sofrer “preconceito linguístico”.
Diz um trecho do livro, publicado pela Editora Global: “Você pode estar se perguntando: “Mas eu posso falar “os livro”?” Claro que pode. Mas fique atento,
porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico. Muita gente diz o que se deve e o que não se deve falar e
escrever, tomando as regras estabelecidas para a norma culta como padrão de correção de todas as formas linguísticas”. (Texto completo)
A menção a leituras informa que a frase reproduzida no título do post não foi pinçada de alguma discurseira de Lula. Mas os autores do livro didático “Por uma
vida melhor”, chancelado pelo MEC, decerto se inspiraram na oratória indigente do Exterminador do Plural para a escolha de exemplos que ajudem a ensinar
aos alunos do curso fundamental que o s no fim das palavras é tão dispensável quanto um apêndice supurado. O certo é falar errado, sustenta o papelório
inverossímil.
A lição que convida ao extermínio da sinuosa consoante é um dos muitos momentos cafajestes dessa abjeta louvação da “norma popular da língua
portuguesa”. Não é preciso aplicar a norma culta a concordâncias, aprendem os estudantes, porque “o fato de haver a palavra os (plural) já indica que se
trata de mais de um livro”. Assim, continuam os exemplos, merece nota 10 quem achar que “nós pega o peixe”. E só podem espantar-se com um medonho
“Os menino pega o peixe” os elitistas incorrigíveis.
“Muita gente diz o que se deve e o que não se deve falar e escrever tomando as regras estabelecidas para norma culta como padrão de correção de todas
as formas linguísticas”, lamenta um trecho da obra. Por isso, o estudante que fala errado com bastante fluência “corre o risco de ser vítima de preconceito
linguístico”. A isso foram reduzidos pelo Brasil de Lula e Dilma os professores que efetivamente educam: não passam de “preconceituosos linguísticos”. (Texto
completo)
ESCOLA PÚBLICA RESERVA UM TEMPO PARA O APRENDIZADO DA CULTURA POPULAR BRASILEIRA POR MEIO
DA TRADIÇÃO ORAL
AS PALAVRAS E SEUS SIGNIFICADOS DIZEM ADEUS AO PAPEL E MIGRAM PARA AS TELAS DIGITAIS
VEJA AS PALAVRAS E EXPRESSÕES MAIS USADAS COM HÍFEN, DE ACORDO COM A NOVA ORT OGRAFIA
AGÊNCIA EP, NOTÍCIA Brasil, CULTURA, EDUCAÇÃO, escrita, gramática, Jornalismo, língua, norma popular, normal culta, NOTÍCIA, oralidade
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18/05/2011 Lobato entra de sola na nova polêmica…
Aguardamos você com café e torradas aqui e com maiores intimidades à direita. ==>>
Sergio Leo
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Mentiras do Rio
Está divertido ver a patrulha do gramaticalmente correto (à qual pertenço, aliás, embora não
entre na histeria atual) contra um livro distribuído pelo MEC para educação de jovens e adultos. Dizem até que o livro quer impor a fala das ruas e
avacalhar a norma culta, quando ele faz o contrário, tentando dar o conhecimento da norma culta a quem conhece pouco mais que o linguajar popular,
como se vê no capítulo polêmico, AQUI.
(Se você estava preso em uma mina no Chile, só agora foi salvo e não está entendendo do que falamos aqui no Sítio, o tema desse post é o que bem
esclarece esse blogue AQUI).
…opsblog.org/…/lobato-entra-de-sola-… 1/6
18/05/2011 Lobato entra de sola na nova polêmica…
Divertida a polêmnica porque pouco tempo atrás metiam o pau no MEC acusando o governo de querer censurar Monteiro Lobato porque um
conselho pediu cuidado com os trechos racistas do escritor, ao distribuir seus livros nas escolas. Agora querem censurar o livro “Por uma vida melhor”
do MEC, que tem uns trechos que me fizeram lembrar Lobato, embora menos agressivo em suas propostas do que os escritos do velho escritor
paulista.
Esclareço que não pertenço à turma que acha a defesa da norma culta um “preconceito linguístico”; já falei disso aqui no Sítio. Autores como Marcos
Bagno (popularíssimos hoje em dia nas escolas de letras) apontam questões relevantes, como a necessidade de reconhecer o valor da fala popular, mas
misturam isso num caldeirão ideológico para acusar a norma culta de ser apenas um instrumento de dominação, seleção e controle de classe. Para mim
é evidente que não é isso, mas seria assunto para outro post. (Nada contra a ideologia também, , apenas contra certos usos dela).
Os trechos a seguir estão no livro”Prefácios e Entrevistas”, último tomo das obras completas do autor, editora Brasiliense, de 1949. Falei dele aqui no
Sítio, antes .Vamos ao Lobato, pois, tão defendido pelos articulistas que hoje acham coisa de maluco da Al Qaeda dizer que não é errado dizer
“pescar os peixe”:
“Essa língua descende da que os portugueses introduziram e que alijou a língua geral então existente nesses territórios: o tupu-guarani. Ficou a língua
portuguesa sendo a língua geral do Brasil e até hoje o é. E por que o é? Porque aprendemos o português de duas maneiras, de ouvido e de leitura. Se
o aprendessemos só de ouvido, como acontece com o jeca, a nossa “língua geral” estaria hoje tão distanciada da língua portuguesa que um português
não a entenderia. O que conserva as línguas e impede que caminhem com velocidade excessiva pela tentadora estrada da evolução é a escrita.
Mas como o jeca nunca soube ler nem escrever, a evolução da língua portuguesa em sua boca se fez a galope…
… Por que nossos filólogos não extraem a gramática dessa língua do jeca? Que interessante seria! Quanta “mutação” vocabular, quanta variação de
sintaxe, da prosodia, de tudo! Troca do “b” pelo “v”: cumbérsa, bérso, cuvérta… o “lh” substituído pelo “i”: “abêia”, “páia”, “máia” (malha)… O “ou”
reduzido a “ô”: “fumô”, “botô”, “juntô”… Quantos aspectos!
Devíamos fazer a gramática da interessantíssima “língua do jeca” como os franceses fizeram a gramática da “língua de oc”; e devíamos enviar essa
gramática às escolas, lado a lado com a gramática portuguesa… Que vantagem haveria nisso? Oh, grande _ podermos falar com os 15 milhões de
jecas que há no território brasileiro.
A evolução da língua é curiosíssima e inteligentíssima, como todas as evoluções não atrapalhadas pelos breques dos artificialismos. A forma escrita das
línguas é um artificalismo tremendamente embaraçador da evolução natural das línguas. Tão emperrado que, no inglês, a
língua falada está pra cá e a escrita está pra lá. Mr Churchill escreve “enough” e diz “inâf”. O jeca teve a felicidade de não saber ler nem escrever, de
não se preocupar com a Academia de Letras, de usar dos jornais unicamente o papel _ e graças a isso “evoluiu” a língua portuguesa só de ouvido e
sempre de acordo com as injunções da “lei do menor esforço” e da “lei da melhor compreensão”. E como suprimiu besteiras inúteis! Os verbos, por
exemplo. Nós, por causa da tirania da escrita, ainda estamos com tantas variações quanto o latim. Di8zemos: Eu tenho, Tu tens, Ele tem, Nós temos,
Vós tendes, Eles têm. Há um grave defeito aqui. Se opronome já indica a pessoa do verbo, por que indicá-la de novo com a variação do verbo?
Redundância, bobagem – perda de esforço. O jeca, porque vive na maior das penpurias, diz: Eu tenho, vancê tem, ele tem, nós tem, Vânces tem, eles
tem. O inglês diz: I have, You have, He has, We have, You have, they have – e tanto o jeca como o inglês exprimem perfeitamente a “pessoa que tem”,
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18/05/2011 Lobato entra de sola na nova polêmica…
sem estarem latinescamente variabndo o pobre verbo.
…
O jeca forma os seus plurais com a mesma inteligência e economia do inglês; diz, por exemplo, “as casa”, “os home”, “as
muíé”, em vez de dizer redudantemente como o português, “as casas”, “os homens”, ” as mulheres”. O inglês diz “the men”, “the women”, “the houses”
– a mesma coisa que o jeca, só que invertido. Se pondo apenas o artigo no plural a frase fica perfeitamente clara, para que botar no plural também o
substantivo? pensa com muita razão o jeca e o inglês faz o mesmo raciocínio quando pluraliza o substantivo e não mexe no artigo.”
Mais adiante, no livro, que tem rpefácios a granel, muitos para livros obscuros dos amigos do escritor, como é o caso do Nho Bento que motivou essa
peça de linguística amadora de Lobato:
“… o mesmo direito que tiveram os portugueses de corromper o latim e transformá-lo em línguaportuguesa temos nós, letrados, de
corromper a língua portuguesa e transformá-la na língua brasileira; e tem o iletrado jeca de “evoluí-la” em outro rumo. mais
cientificamenter, podemos dizer que a língua portuguesa bno Brasil está sofrendo duas variações: uma lenta, de gente que sabe ler e
escrever e outra rápida, de gente da roça segregada do urbanismo , do livro, do jornal e do rádio – o abençoadop jeca que tem a sorte de
não ler os jornais do governo nem da oposição e de não ouvir a “Hora do Brasil”.
Quem condena como coisa errada o modo de falar ou a língua do jeca revela-se curto de miolo. Os modos de avriação duma língua são
fenômenos naturais, en não há erro nos fenômenos naturais. Erro é coisa humana. Temos de estudar essas variações em vez de tolamente
condená-las, pois condená-las equivale, por exemplo, a condenar os anéis de Saturno em nome dos planetas que não tem anéis.”
Tem mais. Sei não, acho que, contra toda censura, deveriam distribuir esse texto do Lobato nas escolas.
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http://www.acaoeducativa.org.br/downloads/ESCLARECIMENTOS_AE.pdf
2011-04-18
Esclarecimentos sobre o livro “Por uma vida melhor”, para Educação de
Jovens e Adultos
Uma frase retirada de seu contexto na obra Por uma vida melhor, cuja responsabilidade
pedagógica é da Ação Educativa, vem gerando intensa repercussão na mídia. Diante da
enorme quantidade de informações incorretas ou imprecisas que foram divulgadas, a Ação
Educativa se coloca à disposição dos órgãos de imprensa para promover um debate mais
qualificado, e esclarece:
1. “Escrever é diferente de falar”. Como o próprio nome do capítulo indica, os autores se
propõem, em um trecho específico do livro, a apresentar ao estudante da modalidade
de Educação de Jovens e Adultos (EJA) as diferenças entre a norma culta e as variantes
que ele aprendeu até chegar à escola, ou seja, variantes populares do idioma.
2. Os autores não se furtam, com isso, a ensinar a norma culta. Pelo contrário, a
linguagem formal é ensinada em todo o livro, inclusive no trecho em questão. No
capítulo mencionado, os autores apresentam trechos inadequados à norma culta para
que o estudante os reescreva e os adeque ao padrão formal, de posse das regras
aprendidas. Por isso, é leviana a afirmação de que o livro “despreza” a norma culta.
Ainda mais incorreta é a afirmação de que o livro “contém erros gramaticais”.
3. Para que possa aprender a utilizar a norma culta nas mais diversas situações, o
estudante precisa ter consciência da maneira como fala. A partir de então, poderá
escolher a melhor forma de se expressar. Saberá, assim, que no diálogo com uma
autoridade ou em um concurso público, por exemplo, deve usar a variante culta da
língua. Mas não quer dizer que deva abandoná‐la ao falar com os amigos, ou outras
situações informais.
4. É importante frisar que o livro é destinado à EJA – Educação de Jovens e Adultos. Ao
falar sobre o tema, muitos veículos omitiram este “detalhe” e a mídia televisiva
chegou a ilustrar VTs com salas de crianças. Nessa modalidade, é necessário levar em
consideração a bagagem cultural do adulto, construída por suas vivências e biografias
educativas.
5. O livro “Por uma vida melhor” faz parte do Programa Nacional do Livro Didático. Por
meio dele, o MEC promove a avaliação de dezenas de obras apresentadas por
editoras, submete‐as à avaliação de especialistas e depois oferece as aprovadas para
que secretarias de educação e professores façam suas escolhas. O livro produzido pela
Ação Educativa foi submetido a todas essas regras e escolhido, pois se adequa aos
parâmetros curriculares do Ministério e aos mais avançados parâmetros da educação
linguística.
6. A Ação Educativa tem larga experiência no tema, e a coleção Viver, Aprender é um dos
destaques da área. Seus livros já foram utilizados como apoio à escolarização de
milhões de jovens e adultos, antes de ser adotado pelo MEC, em vários estados.
Conheça o livro! Leia o capítulo na íntegra, em pdf, aqui.
Leia também artigo de Vera Masagão, coordenadora geral da Ação Educativa, sobre o caso
(página 3).
Contexto: outros trechos, do mesmo capítulo, não mencionados na
cobertura da imprensa
“A língua escrita não é o simples registro da fala. Falar é diferente de escrever”
“Como a linguagem possibilita acesso a muitas situações sociais, a escola deve se
preocupar em apresentar a norma culta aos estudantes”
“A norma culta existe tanto na linguagem escrita como na linguagem oral, ou seja,
quando escrevemos um bilhete a um amigo, podemos ser informais, porém, quando
escrevemos um requerimento, por exemplo, devemos ser formais, utilizando a norma
culta”
“Algo semelhante ocorre quando falamos: conversar com uma autoridade exige uma
fala formal, enquanto é natural conversarmos com as pessoas de nossa família de
maneira espontânea, informal. Assim, os aspectos que vamos estudar sobre a norma
culta podem ser postos em prática tanto oralmente como por escrito”
Fontes:
Para obter os contatos dos especialistas listados abaixo, fale com nossa Assessoria de
Imprensa: (11) 3151‐2333 ramal 160 (Ana) ou 170 (Fernanda)
Vera Masagão – Doutora em educação, Coordenadora Geral da Ação Educativa
Heloísa Cerri Ramos – uma das autoras do livro
Algumas fontes conceituadas no campo linguístico podem ser consultadas sobre o tema:
Marcos Bagno
Doutor em Linguística pela USP e professor da UnB
Magda Becker Soares
Professora emérita da UFMG, especialista em alfabetização e letramento
Sírio Possenti
Professor associado no Departamento de Linguística do Instituto de Estudos da
Linguagem (IEL‐Unicamp)
Marco Antônio de Oliveira
Doutor em Linguística pela Universidade da Pennsylvania, professor da PUC‐MG
Egon Rangel de Oliveira
Professor do Departamento de Linguística da Faculdade de Comunicação e Filosofia da
PUC‐SP
Rodolfo Ilari
Professor de semântica da Unicamp
Milton do Nascimento
Doutor em Linguística pela Universidade de Paris VIII, St. Denis e professor de
Linguística da PUC‐MG
Maria Cecília Mollica
Professora titular de Linguística da UFRJ
Ataliba de Castilho
Professor titular da Universidade de São Paulo (USP)
Maria José Nóbrega
Consultora especialista em ensino de língua portuguesa
ABRALIN – Associação Brasileira de Linguística
ARTIGO
Livro para adultos não ensina erros
Uma frase retirada da obra Por uma vida melhor, cuja responsabilidade pedagógica é da Ação
Educativa, vem gerando enorme repercussão na mídia. A obra é destinada à Educação de
Jovens e Adultos, modalidade que, pela primeira vez neste ano, teve a oportunidade de
receber livros do Programa Nacional do Livro Didático. Por meio dele, o Ministério da
Educação promove a avaliação de dezenas de obras apresentadas por editoras, submete‐as à
avaliação de especialistas e depois oferece as aprovadas para que secretarias de educação e
professores façam suas escolhas.
O trecho que gerou tantas polêmicas faz parte do capítulo “Escrever é diferente de falar”. No
tópico denominado “concordância entre palavras”, os autores discutem a existência de
variedades do português falado que admitem que substantivo e adjetivo não sejam
flexionados para concordar com um artigo no plural. Na mesma página, os autores completam
a explanação: “na norma culta, o verbo concorda, ao mesmo tempo, em número (singular –
plural) e em pessoa (1ª –2ª – 3ª) com o ser envolvido na ação que ele indica”. Afirmam
também: “a norma culta existe tanto na linguagem escrita como na oral, ou seja, quando
escrevemos um bilhete a um amigo, podemos ser informais, porém, quando escrevemos um
requerimento, por exemplo, devemos ser formais, utilizando a norma culta”.
Pode‐se constatar, portanto, que os autores não estão se furtando a ensinar a norma culta,
apenas indicam que existem outras variedades diferentes dessa. A abordagem é adequada,
pois diversos especialistas em ensino de língua, assim como as orientações oficiais para a área,
afirmam que tomar consciência da variante linguística que se usa e entender como a
sociedade valoriza desigualmente as diferentes variantes pode ajudar na apropriação da
norma culta. Uma escola democrática deve ensinar as regras gramaticais a todos os alunos
sem menosprezar a cultura em que estão inseridos e sem destituir a língua que falam de sua
gramática, ainda que esta não esteja codificada por escrito nem seja socialmente prestigiada.
Defendemos a abordagem da obra por considerar que cabe à escola ensinar regras, mas sua
função mais nobre é disseminar conhecimentos científicos e senso crítico, para que as pessoas
possam saber por que e quando usá‐las.
O debate público é fundamental para promover a qualidade e equidade na educação. É
preciso, entretanto, tomar cuidado com a divulgação de matérias com intuitos políticos pouco
educativos e afirmações desrespeitosas em relação aos educadores. A Ação Educativa está
disposta a promover um debate qualificado que possa efetivamente resultar em
democratização da educação e da cultura. Vale lembrar que polêmicas como essa ocupam a
imprensa desde que o Modernismo brasileiro em 1922 incorporou a linguagem popular à
literatura. Felizmente, desde então, o país mudou bastante. Muitas pessoas tem consciência
de que não se deve discriminar ninguém pela forma como fala ou pelo lugar de onde veio. Tais
mudanças são possíveis, sem dúvida, porque cada vez mais brasileiros podem ir à escola tanto
para aprender regras como parar desenvolver o senso crítico.
Vera Masagão Ribeiro é doutora em Educação e coordenadora geral da Ação Educativa
18/05/2011 Ação Educativa - Nota Pública: Livro p…
Início Nota Pública: Livro para adultos não ensina erros Ação na Justiça
Boletins Observatório da
Posicionamento institucional da Ação Educativa sobre a polêmica envolvendo livro distribuído pelo Educação
Legislação MEC.
Espaço de Cultura
Imprensa Uma frase retirada da obra Por uma vida melhor, cuja responsabilidade pedagógica é da Ação
Educativa, vem gerando enorme repercussão na mídia. A obra é destinada à Educação de Jovens
Agenda e Adultos, modalidade que, pela primeira vez neste ano, teve a oportunidade de receber livros do
Programa Nacional do Livro Didático. Por meio dele, o Ministério da Educação promove a avaliação
Videoteca Virtual de dezenas de obras apresentadas por editoras, submete-as à avaliação de especialistas e
depois oferece as aprovadas para que secretarias de educação e professores façam suas
Ponto de Cultura escolhas.
Periferia no Centro
Editais abertos O trecho que gerou tantas polêmicas faz parte do capítulo “Escrever é diferente de falar”. No
tópico denominado “concordância entre palavras”, os autores discutem a existência de
variedades do português falado que admitem que substantivo e adjetivo não sejam flexionados
Contato para concordar com um artigo no plural. Na mesma página, os autores completam a explanação:
“na norma culta, o verbo concorda, ao mesmo tempo, em número (singular – plural) e em pessoa
Español (1ª –2ª – 3ª) com o ser envolvido na ação que ele indica”. Afirmam também: “a norma culta existe
tanto na linguagem escrita como na oral, ou seja, quando escrevemos um bilhete a um amigo,
English podemos ser informais, porém, quando escrevemos um requerimento, por exemplo, devemos ser
formais, utilizando a norma culta”.
Busca
Pode-se constatar, portanto, que os autores não estão se furtando a ensinar a norma culta,
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apenas indicam que existem outras variedades diferentes dessa. A abordagem é adequada, pois
diversos especialistas em ensino de língua, assim como as orientações oficiais para a área,
afirmam que tomar consciência da variante linguística que se usa e entender como a sociedade
valoriza desigualmente as diferentes variantes pode ajudar na apropriação da norma culta. Uma
escola democrática deve ensinar as regras gramaticais a todos os alunos sem menosprezar a
cultura em que estão inseridos e sem destituir a língua que falam de sua gramática, ainda que esta
não esteja codificada por escrito nem seja socialmente prestigiada. Defendemos a abordagem da
obra por considerar que cabe à escola ensinar regras, mas sua função mais nobre é disseminar
conhecimentos científicos e senso crítico, para que as pessoas possam saber por que e quando
usá-las.
acaoeducativa.org.br/portal/index.php… 1/1
Ação Educativa - Por uma vida melhor - MEC, 2011
Capítulo 1
Escrever é diferente de falar
“Preciso entregar esse texto e queria que você leitor para lhe explicar o que queremos dizer.
lesse antes, para ver se está bom.” Você, que é falante nativo de português,
aprendeu sua língua materna espontaneamen-
A frase acima traduz uma situação bastante te, ouvindo os adultos falarem ao seu redor. O
comum. Mesmo alguém experiente na leitura aprendizado da língua escrita, porém, não foi
e na escrita sente necessidade da avaliação de assim, pois exige um aprendizado formal. Ele
outra pessoa sobre o que escreve. Escritores ocorre intencionalmente: alguém se dispõe a
consagrados, do passado e da atualidade, tam- ensinar e alguém se dispõe a aprender. Geral-
bém mantiveram, e mantêm, o hábito de trocar mente há local, momento e material próprios
correspondências sobre sua obra. para isso. Obviamente, em algumas ocasiões, é
Há momentos em que surgem dúvidas sobre possível improvisar: um irmão mais velho pode
a grafia das palavras (se têm acento, se levam um ensinar o que já aprendeu na escola para o ir-
s ou dois...), sobre a pontuação, o emprego de mão mais novo, por exemplo. De qualquer for-
maiúsculas etc. Às vezes, somos dominados por ma, dificilmente aprendemos a ler e a escrever
uma insegurança que nos impede até mesmo por acaso, sem ter a intenção disso.
de saber ao certo qual é nossa dúvida. Sentimos Outro ponto importante: da mesma forma
que falta algo no texto, mas não sabemos o que que uma criança aprende a falar observando os
é. Isso é natural, pois se trata de uma dificulda- outros falarem, o aprendizado da língua escrita
de enfrentada por todos que estão aprendendo o requer acesso a textos escritos, ou seja, apren-
funcionamento da língua escrita. À medida que demos a ler lendo e a escrever escrevendo. A lei-
ampliamos nosso conhecimento sobre ela, essas tura e a escrita necessitam de prática. Por isso,
sensações vão sendo superadas. mesmo que uma ou outra atividade de escrita
A língua escrita não é o simples registro da lhe ofereça dificuldade, você deve se empenhar
fala. Falar é diferente de escrever. A fala es- ao máximo para realizá-la. Procure reler e revi-
pontânea, por exemplo, é menos planejada, sar o que foi escrito, e, quando necessário, pas-
apresenta interrupções que não são retomadas. se o texto a limpo. No começo, você pode achar
Além disso, conta com outros recursos, como os difícil, mas os resultados compensarão.
gestos, o olhar, a entonação. Já a escrita possui Neste capítulo, vamos exercitar algumas ca-
muitas convenções. Ela precisa ser mais contí- racterísticas da linguagem escrita. Além disso,
nua, sem os cortes repentinos da fala, e mais vamos estudar uma variedade da língua portu-
exata, porque geralmente não estamos perto do guesa: a norma culta. Para entender o que ela é
A violência em nosso pais esta a cada dia que passa se acentuando mais, isto devido a diversos fatores
podemos citar o fator economico a ganancia do homem pelo dinheiro, o desemprego dos pais, a falta de
moradias, alimentação e educação impedem o de criar seus filhos dignamente dai a grande violencia
da sociedade o menor abandonado, que sozinho sem ter uma mão firme que o conduza pela vida, parte
para o crime o roubo na tentativa de sobreviver.
VAL, Maria da Graça Costa. Redação e textualidade. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 75. (Fragmento.)
Emprego do ponto
De acordo com a norma culta escrita, o pa- “As cidades são obras complexas.”
rágrafo acima apresenta falhas. Para adequá-lo, b) Em seguida, acrescenta uma frase que justifi-
é preciso que se apliquem algumas regras da ca essa declaração:
modalidade escrita, como as que serão vistas a “As cidades são obras complexas. As caracte-
seguir. rísticas marcantes delas são a concentração
As várias ideias que compõem um texto pre- de pessoas e edificações e a grande diversi-
cisam ser apresentadas de maneira que o leitor dade social e econômica.”
possa acompanhá-las. Por isso, é importante c) Como a explicação não está completa, ele
saber usar um determinado sinal de pontuação: prossegue:
o ponto [.]. Ele marca o fim de uma declaração. “As cidades são obras complexas. As caracte-
Em seguida, pode-se iniciar outra, empregan- rísticas marcantes delas são a concentração
do sempre a letra maiúscula. de pessoas e edificações e a grande diversida-
Leia o parágrafo abaixo: de social e econômica. Sobretudo em países
como o Brasil, a cidade também é cenário de
grandes desigualdades.”
As cidades são obras complexas as características
É essa divisão que permite ao leitor acompa-
marcantes delas são a concentração de pessoas e
nhar a informação que o autor traz. Seria difícil
edificações e a grande diversidade social e econômica
se o leitor tivesse que, sozinho, identificar cada
sobretudo em países como o Brasil a cidade também
ideia do texto. Ele provavelmente precisaria ler
é cenário de grandes desigualdades.
repetidas vezes para corrigir os enganos que
GIANSANTI, Roberto. A cidade e o urbano no mundo atual. São
Paulo: Global/Ação Educativa, 2003. p. 11. certamente ocorreriam.
(Fragmento adaptado para fins didáticos.) A frase que se inicia com a letra maiúscula e
se estende até o ponto é chamada de período. Os
períodos também podem terminar com ponto
Agora, examine a sequência abaixo para en- de interrogação (?) e ponto de exclamação (!).
tender como empregar o ponto nesse texto, a Em alguns textos, os períodos são mais lon-
fim de separar suas ideias. gos. Isso é possível desde que o leitor possa
a) O autor faz a primeira declaração: acompanhá-los sem se perder.
A violência em nosso pais esta a cada dia que passa se acentuando mais,
isto devido a diversos fatores podemos citar o fator economico a ganancia
do homem pelo dinheiro, o desemprego dos pais, a falta de moradias,
alimentação e educação impedem o de criar seus filhos dignamente dai a
grande violencia da sociedade o menor abandonado, que sozinho sem ter
uma mão firme que o conduza pela vida, parte para o crime o roubo na
tentativa de sobreviver.
Você deve ter observado que o tema do texto é a violência, pois isso fica
claro logo no início. Mas o texto não facilita o trabalho do leitor, e você,
que tentou lê-lo, deve saber por quê. A divisão do texto em períodos,
marcados com ponto, não ocorreu.
Em uma das partes, o leitor consegue determinar onde poderia estar
o ponto:
A violência em nosso país está a cada dia que passa se acentuando mais,
isto devido a diversos fatores podemos citar [...]
Nesse trecho, percebe-se que a intenção do autor era escrever:
A violência em nosso país está a cada dia que passa se acentuando mais.
Isto devido a diversos fatores. Podemos citar [...]
Porém, a partir daí, o leitor não detecta com facilidade o que o autor
quis dizer. De todas as possibilidades, vamos optar por uma que pareça
coerente a fim de prosseguir em nossa análise:
Podemos citar o fator econômico, a ganância do homem pelo dinheiro. O
desemprego dos pais, a falta de moradias, alimentação e educação impedem
o de criar seus filhos dignamente. Daí a grande violência da sociedade.
Esse trecho permite-nos constatar que uma cuidadosa divisão em perí-
odos é decisiva para a clareza dos textos escritos. A língua oral conta com
gestos, expressões, entonação de voz, enquanto a língua escrita precisa
contar com outros elementos. A pontuação é um deles.
2. Leia as palavras da lista abaixo. Reescreva-as dividindo suas sílabas, circule a sílaba tônica
de cada uma e acentue quando necessário.
principe: japonesa:
tucano: grafico:
magico: tecnologia:
cupuaçu: tecnologico:
maximo: onibus:
e) Fui à casa de meus avós e apresentei minha noiva para meus avós.
h) Meus pais moram longe de mim, mas meus pais recebem muitas notícias minhas.
j) Aquele senhor é teimoso e parcial. Precisamos sempre dizer para aquele senhor que
aquele senhor não é dono da verdade.
Quem é Juó
Bananére? Migna terra
Juó Bananére é o Migna terra tê parmeras,
pseudônimo literário
de Alexandre Ribeiro Che ganta inzima o sabiá,
Marcondes Machado, As aves che stó aqui,
que nasceu em
Pindamonhangaba Tambê tuttos sabi gorgeá.
(SP) em 1892 e morreu
em 1933. Machado
passou a infância A abobora celestia tambê,
no interior paulista Che tê lá na mia terra,
e em 1917 formou-
se engenheiro pela Tê moltos millió di strella
Faculdade Politécnica Che non tê na Ingraterra.
da Universidade de São
Paulo.
Empregando uma Os rios lá sô maise grandi
linguagem toda especial,
escrevia sátiras em Dus rio di tuttas naçó;
algumas revistas e I os matto si perdi di vista,
parodiava poetas
conhecidos, como Olavo Nu meio da imensidó.
Bilac e Camões, além
de satirizar políticos
da época. Seus poemas Na migna terra tê parmeras
foram reunidos no livro Dove ganta a galligna dangolla;
La divina increnca,
publicado em 1924. Na migna terra tê o Vapr’elli,
O autor praticamente Chi só anda di gartolla.
permaneceu anônimo,
sobressaindo seu estilo
BANANÉRE, Juó. La divina increnca.
original e irreverente São Paulo: Ed. 34, 2001. p. 8.
sob a identidade de Juó
Bananére.
4. Nestas frases, as palavras destacadas estão escritas como, geralmente, são pronunciadas.
Reescreva-as de acordo com as regras de ortografia:
a) Comecei a trabalhá em um lugar agradável.
b) Não foi fácil acostumá com essa ideia.
c) Vim com uma prima para ajudá na costura.
d) Não tenho nada a falá sobre esse assunto.
e) Talvez não conseguisse voltá para casa.
f) Passeei bastante antes de percebê que tava perdida.
5. Reescreva as frases, corrigindo os verbos que foram escritos incorretamente.
a) Eu quero dizê para vocês que os ônibus dessa linha tão cada vez mais raros.
e) Tá tudo bem, mas poderia está melhor, se não fosse a falta de respeito com a população.
f) Eles fizero uma pesquisa para sabê quantas pessoas teria oportunidade de trabalhá.
d) Quanto é 25 39?
e) Quanto eu o aconselho a não fazer isso, você faz!
f) Gosto de filmes, os livros me interessam do que eles.
g) Já fiz tudo por ele, não farei nada.
h) Você disse que não pode comprar nada esse mês, hoje é
aniversário da Ana.
7. Leia o modelo e, a seguir, complete as frases.
É preciso estudar as regras.
Lembre-se: palavra
É preciso estudá-las. oxítona que termina
a) Eu gostaria de admirar o país. em a tem acento;
se o i estiver
Eu gostaria de sozinho na sílaba
tônica, ele é
b) Não consegui ouvir o pedido. acentuado.
Não consegui
c) Esqueci-me de grifar as palavras.
Esqueci-me de .
d) Não houve tempo de concluir o projeto.
Não houve tempo de .
Livro
• CAMARGO, José Eduardo e SOARES, L. O Brasil das placas. São Paulo: Panda Books, 2007.
Site
• Sunetto futuriste, de Juó Bananére, na voz de Francisco Papaterra Limongi Neto: <http://www.carbonoquatorze.
com.br/versaopaulo/primeiro/>.
Música
• “Inútil”, de Ultraje a Rigor. WEA, 1983. Pode ser ouvida em: <http://roxmo.sites.uol.com.br/musicas/inutil.html>.
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/helioschwartsman/916634-uma-defesa-do-erro-de-portugues.shtml
16/05/2011 - 19h19
Eu mesmo faria coro aos moderados, não fosse o fato de que, do ponto de vista da
linguística --e não o da pedagogia ou da gramática normativa--, a posição da
professora Heloísa Ramos é corretíssima, ainda que a autora possa ter sido inábil ao
expô-la.
Acredito mesmo que, excluídos os ataques politicamente motivados, tudo não passa
de um grande mal-entendido. Para tentar compreender melhor o que está por trás
dessa confusão, é importante ressaltar a diferença entre a perspectiva da linguística,
ciência que tem por objeto a linguagem humana em seus múltiplos aspectos, e a da
gramática normativa, que arrola as regras estilísticas abonadas por um determinado
grupo de usuários do idioma numa determinada época (as elites brancas de olhos
azuis, se é lícito utilizar a imagem consagrada pelo ex-governador de São Paulo
Claúdio Lembo). Podemos dizer que a segunda está para a primeira assim como a
pesquisa da etiqueta da corte bizantina está para o estudo da História. Daí não
decorre, é claro, que devamos deixar de examinar a etiqueta ou ignorar suas
prescrições, em especial se frequentarmos a corte do "basileus", mas é importante ter
em mente que a diferença de escopo impõe duas lógicas muito diferentes.
Se, na visão da gramática normativa, deixar de fazer uma flexão plural ou apor uma
vírgula entre o sujeito e o predicado constituem crimes inafiançáveis, na perspectiva da
linguística nada disso faz muito sentido. Mas prossigamos com um pouco mais de
vagar. Se os linguistas não lidam com concordâncias e ortografia o que eles fazem?
Seria temerário responder por todo um ramo do saber que ainda por cima se divide
em várias escolas rivais. Mas, assumindo o ônus de favorecer uma dessas correntes,
eu diria que a linguística está preocupada em apontar os princípios gramaticais
comuns a todos os idiomas. Essa ideia não é exatamente nova. Ela existe pelo menos
desde Roger Bacon (c. 1214 - 1294), o "pai" do empirismo e "avô" do método
científico, mas foi modernamente desenvolvida e popularizada pelo linguista norte-
americano Noam Chomsky (1928 -).
Há de fato boas evidências em favor da tese. A mais forte delas é o fato de que a
linguagem é um universal humano. Não há povo sobre a terra que não tenha
tools.folha.com.br/print?url=http%3A… 1/3
linguagem
18/05/2011 é um universal humano.
Folha.comNão háSchwartsman
- Hélio povo sobre a terra
- Uma … que não tenha
desenvolvido uma, diferentemente da escrita, que foi "criada" de forma independente
não mais do que meia dúzia de vezes em toda a história da humanidade. Também
diferentemente da escrita, que precisa ser ensinada, basta colocar uma criança em
contato com um idioma para que ela o adquira quase sozinha. Mais até, o fenômeno
das línguas crioulas mostra que pessoas expostas a pídgins (jargões comerciais
normalmente falados em portos e que misturam vários idiomas) acabam
desenvolvendo, no espaço de uma geração, uma gramática completa para essa nova
linguagem. Outra prova curiosa é a constatação de que bebês surdos-mudos
"balbuciam" com as mãos exatamente como o fazem com a voz as crianças falantes.
O cientista cognitivo Steven Pinker, ele próprio um ferrenho defensor do inatismo, extrai
algumas consequências interessantes da teoria. Para começar, ele afirma que o
instinto da linguagem é uma capacidade única dos seres humanos. Todas as tentativas
de colocar outros animais, em especial os grandes primatas, para "falar" seja através
de sinais ou de teclados de computador fracassaram. Os bichos não desenvolveram
competência para, a partir de um número limitado de regras, gerar uma quantidade em
princípio infinita de sentenças. Para Pinker, a linguagem (definida nos termos acima) é
uma resposta única da evolução para o problema específico da comunicação entre
caçadores-coletores humanos.
Outro ponto importante e que é o que nos interessa aqui diz respeito ao domínio da
gramática. Se ela é inata e todos a possuímos como um item de fábrica, não faz muito
sentido classificar como "pobre" a sintaxe alheia. Na verdade, aquilo que nos
habituamos a chamar de gramática, isto é, as prescrições estilísticas que aprendemos
na escola são o que há de menos essencial, para não dizer aborrecido, no complexo
fenômeno da linguagem. Não me parece exagero afirmar que sua função é
precipuamente social, isto é, distinguir dentre aqueles que dominam ou não um
conjunto de normas mais ou menos arbitrárias que se convencionou chamar de culta.
Nada contra o registro formal, do qual, aliás, tiro meu ganha-pão. Mas, sob esse
prisma, não faz mesmo tanta diferença dizer "nós vai" ou "nós vamos". Se a linguagem
é a resposta evolucionária à necessidade de comunicação entre humanos, o único
critério possível para julgar entre o linguisticamente certo e o errado é a compreensão
ou não da mensagem transmitida. Uma frase ambígua seria mais "errada" do que uma
que ferisse as caprichosas regras de colocação pronominal, por exemplo.
Podemos ir ainda mais longe e, como o linguista Derek Bickerton (1925 -), postular
que existem situações em que é a gramática normativa que está "errada". Isso ocorre
quando as regras estilísticas contrariam as normas inatas que nos são acessíveis
através das gramáticas das línguas crioulas. No final acabamos nos acostumando e
seguimos os prescricionistas, mas penamos um pouco na hora de aprender. Estruturas
em que as crianças "erram" com maior frequência (verbos irregulares, dupla negação
etc.) são muito provavelmente pontos em que estilo e conexões neuronais estão em
tools.folha.com.br/print?url=http%3A… 2/3
18/05/2011 Folha.com - Hélio Schwartsman - Uma …
desacordo.
Mais ainda, elidir flexões, substituindo-as por outros marcadores, como artigos,
posição na frase etc., é um fenômeno arquiconhecido da evolução linguística. Foi,
aliás, através dele que os cidadãos romanos das províncias foram deixando de dizer
as declinações do latim clássico, num processo que acabou resultando no português e
em todas as demais línguas românicas.
Não sei se algum professor da rede pública aproveita o livro de Heloísa Ramos para
levar os alunos a refletir sobre a linguagem, mas me parece uma covardia privá-los
dessa possibilidade apenas para preservar nossas arbitrárias categorias de certo e
errado.
E-mail: helio@uol.com.br
Leia as colunas anteriores
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18/05/2011 marcosbagno.com.br: Polêmica ou ign…
Obras técnicas e didáticas
Gramática: passado, presente e futuro
Não é errado falar assim!
Nada na língua é por acaso
A norma oculta
Lingüística da norma http://marcosbagno.com.br/site/?page_id=745
Língua materna
Norma lingüística
Português ou brasileiro?
Dramática da língua portuguesa
O processo de independência do Brasil
Preconceito lingüístico
Machado de Assis para principiantes
Pesquisa na escola
A língua de Eulália
Deu no Jornal
Entrevista ao Jornal do Commercio
Consonância entre teoria e prática
Autor discute o certo e o errado da língua falada
Erro de português não existe
A língua de eulália
Links
Alunos
Sugestão de leitura
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Polêmica ou ignorância?
POLÊMICA OU IGNORÂNCIA?
DISCUSSÃO SOBRE LIVRO DIDÁTICO SÓ REVELA IGNORÂNCIA DA GRANDE
IMPRENSA
Marcos Bagno
Universidade de Brasília
Para surpresa de ninguém, a coisa se repetiu. A grande imprensa brasileira mais uma vez exibiu sua ampla e larga ignorância a respeito
do que se faz hoje no mundo acadêmico e no universo da educação no campo do ensino de língua.
Jornalistas desinformados abrem um livro didático, leem metade de meia páginae saem falando coisas que depõem sempre muito mais
contra eles mesmos doque eles mesmos pensam (se é que pensam nisso, prepotentementeconvencidos que são, quase todos, de que
detêm o absoluto poder da informação).
Polêmica? Por que polêmica, meus senhores e minhas senhoras? Já faz mais de quinze anos que os livros didáticos de língua portuguesa
disponíveis no
mercado e avaliados e aprovados pelo Ministério da Educação abordam o tema da variação linguística e do seu tratamento em sala de
aula. Não é coisa de
petista, fiquem tranquilas senhoras comentaristas políticas da televisão brasileira e seus colegas explanadores do óbvio.
Já no governo FHC, sob a gestão do ministro Paulo Renato, os livros didáticos de português avaliados pelo MEC começavam a
abordar os fenômenos da
variação linguística, o caráter inevitavelmente heterogêneo de qualquer língua viva falada no mundo, a mudança irreprimível que
transformou, tem
transformado, transforma e transformará qualquer idioma usado por uma comunidade humana. Somente com uma abordagem assim as
alunas e os
alunos provenientes das chamadas “classes populares” poderão se reconhecer no material didático e não se sentir alvo de zombaria e
marcosbagno.com.br/site/?page_id=745 2/4
18/05/2011 marcosbagno.com.br: Polêmica ou ign…
preconceito. E, é claro,
com a chegada ao magistério de docentes provenientes cada vez mais dessas mesmas “classes populares”, esses mesmos profissionais
entenderão que seu
modo de falar, e o de seus aprendizes, não é feio, nem errado, nem tosco, é apenas uma língua diferente daquela – devidamente
fossilizada e conservada
em formol – que a tradição normativa tenta preservar a ferro e fogo, principalmente nos últimos tempos, com a chegada aos novos
meios de
comunicação de pseudoespecialistas que, amparados em tecnologias inovadoras, tentam vender um peixe gramatiqueiro para lá de
podre.
Enquanto não se reconhecer a especificidade do português brasileiro dentro doconjunto de línguas derivadas do português quinhentista
transplantados para as colônias, enquanto não se reconhecer que o português brasileiro é uma língua em si, com gramática própria,
diferente da do português europeu, teremos de conviver com essas situações no mínimo patéticas.
A principal característica dos discursos marcadamente ideologizados (sejam eles da direita ou da esquerda) é a impossibilidade de ver
as coisas em
perspectiva contínua, em redes complexas de elementos que se cruzam e entrecruzam, em ciclos constantes. Nesses discursos só existe
o preto e o
branco, o masculino e o feminino, o mocinho e o bandido, o certo e o errado e por aí vai.
Darwin nunca disse em nenhum lugar de seus escritos que “o homem vem do macaco”. Ele disse, sim, que humanos e demais primatas
deviam ter se
originado de um ancestral comum. Mas essa visão mais sofisticada não interessava ao fundamentalismo religioso que precisava de um
lema distorcido
como “o homem vem do macaco” para empreender sua campanha obscurantista, que permanece em voga até hoje (inclusive no
discurso da
candidata azul disfarçada de verde à presidência da República no ano passado).
Da mesma forma, nenhum linguista sério, brasileiro ou estrangeiro, jamais disse ou escreveu que os estudantes usuários de variedades
linguísticas mais
distantes das normas urbanas de prestígio deveriam permanecer ali, fechados em sua comunidade, em sua cultura e em sua língua. O
que esses profissionais vêm tentando fazer as pessoas entenderem é que defender uma coisa nãosignifica automaticamente combater a
outra. Defender o respeito à variedade linguística dos estudantes não significa que não cabe à escola introduzi-los aomundo da cultura
letrada e aos discursos que ela aciona. Cabe à escola ensinar aos alunos o que eles não sabem! Parece óbvio, mas é preciso repetir isso
a todo momento.
Não é preciso ensinar nenhum brasileiro a dizer “isso é para mim tomar?”, porque essa regra gramatical (sim, caros leigos, é uma regra
gramatical) já faz
parte da língua materna de 99% dos nossos compatriotas. O que é preciso ensinar é a forma “isso é para eu tomar?”, porque ela não
faz parte da
gramática da maioria dos falantes de português brasileiro, mas por ainda servir de arame farpado entre os que falam “certo” e os que
falam “errado”, é
dever da escola apresentar essa outra regra aos alunos, de modo que eles – se julgarem pertinente, adequado e necessário – possam vir
a usá-la
TAMBÉM. O problema da ideologia purista é esse também. Seus defensores não conseguem admitir que tanto faz dizer assisti o filme
quanto assiti ao filme,
que a palavra óculos pode ser usada tanto no singular (o óculos, como dizem 101% dos brasileiros) quanto no plural (os óculos, como
dizem dois ou três
gatos pingados).
O mais divertido (para mim, pelo menos, talvez por um pouco de masoquismo) é ver os mesmos defensores da suposta “língua certa”,
no exato momento em quea defendem, empregar regras linguísticas que a tradição normativa que eles acham que defendem rejeitaria
imediatamente. Pois ontem, vendo o Jornal das Dez, da GloboNews, ouvi da boca do sr. Carlos Monforte essa deliciosa pergunta:
“Como é que fica então as concordâncias?”. Ora, sr. Monforte, eu lhe
devolvo a pergunta: “E as concordâncias, como é que ficam então?
Nome (requerido)
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21/05/2011 CONTEÚDO LIVRE: Dona Norma - JOS…
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padrão verbal ditado pelos segmentos letrados como único a ser seguido.
MARCELO COELHO -
Politicamente fascista
Discutirei adiante algumas consequências pedagógicas disso. Mas a que Todo pateta com
me parece inquestionável, e adotada com propriedade no livro de Heloisa pretensões à originalidade e
à ironia toma a iniciativa de
Ramos, é a importância de não se estigmatizar os usos populares da se dizer "incorreto" O
língua, reconhecendo em vez disso a validade do seu funcionamento. É COMEDIANTE Danilo
Gentili pediu descul...
nessa hora que ela dava como exemplo a famigerada frase "Nós pega o
peixe", ou, então, "Os menino pega o peixe". A autora não diz que é Editorial - Folha de São
assim que se deve escrever. Mas também não deprecia a expressão: Paulo
preconceitos à parte, é preciso reconhecer que no seu uso comum a frase editoriais@uol.com.br
Homofobia no Senado
funciona, porque a marca do plural no pronome ou no artigo é suficiente Inclusão de preconceito
para indicar que a ação é exercida por um conjunto de meninos, e não contra os gays na lei
por um só. Desse ponto de vista, eminentemente pragmático, nenhum antidiscriminação é
saudável, mas arrisca
erro. cerce...
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21/05/2011 CONTEÚDO LIVRE: Dona Norma - JOS…
Afirmar cegamente, com alarme e com alarde, que o livro é um Ministério de E...
atentado, tornado oficial, à língua portuguesa, pelo respeito localizado
CONTARDO
que ele dá às variantes populares de fala que não usam extensivamente CALLIGARIS -
as flexões, isto é, as normas letradas de concordância, é um sintoma Considerações sobre novos
desejos
ignorante e disseminado de que se concebe a língua como um
Causa da depressão pode
instrumento de prestígio, de privilégio e de poder. não ser perda e frustração,
mas a chegada de novo
desejo, que é silenciado
Mais que isso, a defesa exaltada e capciosa da suposta correção
UM JOVEM não sabe o
linguística, desconsiderando todo o resto, é uma desbragada que ele está a f...
demonstração de ignorância em nome da denúncia da sua perpetuação.
Culta, neste caso, é de uma incultura cavalar. O tom desinformado e
espalhafatoso da denúncia encobre, mal, aquilo de que ele tenta fugir: o
nosso analfabetismo crônico, difuso, contagiante.
O inglês, por sua vez, é muito menos flexional que o português. A frase
"the boys get the fish", por exemplo, que funciona perfeitamente para
marcar o plural, é, do ponto de vista estrutural, uma espécie de "nós
pega o peixe" institucionalizado. Já é um membro? Fazer login
Não se pode fazer por menos. Além de "Para uma vida melhor", tem que
ser também "Para uma vida maior". / plantão
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Operação de combate a crimes
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Casal de viajantes ensina a arte
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