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Fenasan 2009: expositores reafirmam o evento como a maior Feira de Saneamento na AL !

Cabeçalho

Ano X - Nº 32 - Janeiro/Fevereiro/Março 2009 x Impressa em papel reciclado

Entrevista e muito mais...


Prof. Pacheco Jordão >> Artigos técnicos sobre o universo
dos Lodos
O Prof. Pacheco Jordão, da UFRJ, destaca
>> Homenagem a um ícone da Sabesp
a importância do reaproveitamento do >> “Causos” conta a 2ª parte dos
lodo /com
Janeiro / fevereiro uso| benéfico.
Março 2009 “Pássaros Perdidos”Saneas 1
Cabeçalho

12, 13 e 14 de agosto de 2009


Pavilhão Amarelo do Expo Center Norte, São Paulo, SP

t e n t a bi l i d a d e
Sus ção
aliza
caminho para univers biental
do saneamento am

Participe do maior evento de saneamento


e meio ambiente da América Latina.
A FENASAN 2009 e o XX Encontro Técnico AESABESP, promovidos pela AESABESP,
confirmam o sucesso de 20 anos de existência. Em sua 20a edição, o evento contará
com mais de 150 empresas expositoras, um público visitante altamente especializado
estimado em 12.000 profissionais, 3.200 congressistas e palestrantes renomados.
Faça parte deste grande evento. Participe!

Temário do XX Encontro Técnico AESABESP


• Água e reuso • Legislação do setor de saneamento
• Águas subterrâneas • Manutenção e energia
• Aplicações de softwares no saneamento e meio ambiente • Meio ambiente
• Automação de sistemas de saneamento • Mudanças climáticas
• Desenvolvimento de produtos e materiais • Recursos hídricos
• Eficiência energética • Resíduos sólidos
• Gestão ambiental • Saúde pública
• Gestão de perdas • Sistemas de abastecimento de água
• inovações tecnológicas • Sistemas de coleta e tratamento de efluentes

Informações
www.fenasan.com.br
Fone / Fax: 11 3871 3626 - fenasan@acquacon.com.br
Fenasan: 13h às 20h
Encontro Técnico AESABESP: 9h às 17h

REALizAção PAtRocínio LocAL oRGAnizAção

AESABESP
Associação dos Engenheiros da Sabesp

APoio

2 Saneas Seção São Paulo Janeiro / Fevereiro / MArço | 2009


Editorial

Uma atenção especial


para o Lodo de ETAs e ETEs
ção para a indústria e saneamento básico, pela bió-
loga Mara Salvador.
E como Tratamento de Lodo de ETAs e ETEs é so-
bretudo uma questão ambiental, o próprio superin-
tendente de Meio Ambiente da Sabesp, Eng. Wander-
ley Paganini, que também é docente da Faculdade de
Saúde Pública da Universidade de São Paulo, discorre
sobre como esse processo é desenvolvido dentro da
Companhia Estadual de Saneamento Básico do Esta-
do de São Paulo.
Para completar o quadro de ilustres conhecedores
desse tema, o nosso entrevistado é o Prof. Dr. Eduardo
Pacheco Jordão, da Universidade Federal do Rio de Ja-
neiro, que foi um dos palestrantes no nosso Seminário
“Ano Internacional do Saneamento e a Macrometró-
O principal tema desta edição aborda aspectos pole ” , evento realizado no ano de 2008 em conjunto
muito discutíveis dentro do setor de saneamento: a com o Instituto de Engenharia. Aproveitamos a opor-
geração, o tratamento e as implicações da disposição tunidade para distribuir , dentro da Revista Sâneas,
final dos lodos de Estações de Tratamento de Águas o encarte do “Seminário Nacional Sobre Tratamento,
(ETA’s) e Estações de Tratamento de Esgotos (ETE’s), Disposição e Usos Benéficos de Lodos de Estações de
gerados no processo de tratamento de água e esgoto. Tratamento de Água”, que foi coordenado pela Eng.
Por um lado estes resíduos são considerados fon- Prof. Dra. Dione Mari Morita, da Escola Politécnica da
tes pontuais de poluição, mas por outro, podem ser USP e vice-diretora do Departamento de Engenharia
meios alternativos para a otimização de processos nos Civil do Instituto de Engenharia de São Paulo.
setores agrícolas, da construção civil, entre outros. To- O aspecto cotidiano e humanizado do setor tam-
davia, desde 2006, existe uma Resolução do Governo bém está reforçado nesta Revista pelas duas sessões
Federal, por meio do Conama (Conselho Nacional do detentoras de muito sucesso entre os nossos leitores:
Meio Ambiente), que apresenta uma série de exigên- a “Causos do Saneamento”, que conta a segunda e
cias para a utilização do lodo gerado nas Estações de última parte de uma adoção de passarinhos numa
Tratamento; aliás, muito difíceis de serem cumpridas unidade da Sabesp, e a “Palavra de Amigo”, que ho-
pelas pequenas Estações, em função do pouco vo- menageia um dos colegas mais prestigiados dentro
lume gerado. E este parecer é avaliado por uma das do saneamento paulista, o “meu irmão” Mario Pero
maiores autoridades no assunto, o professor da Escola Tinoco.
Politécnica da USP (Universidade de São Paulo), Pedro Tenho certeza que todos os leitores integrados
Além Sobrinho, na sessão “Ponto de Vista”. ao setor encontrarão uma leitura útil e agradável
Outra questão polêmica é o surgimento no mer- nesta edição.
cado de vários produtos biológicos para tratamento
de efluentes, experiência que, apesar de não ser uma Um grande abraço,
novidade, ainda apresentam resultados duvidosos
em sua concepção final. Em nossa sessão “Visão de Eng. Luiz Narimatsu
Mercado”, ela é defendida como uma grande evolu- Presidente da AESabesp

Janeiro / fevereiro / Março | 2009 Saneas 3


Expediente
Índice Saneas é uma publicação técnica bimestral da Associação dos
Engenheiros da Sabesp

DIRETORIA EXECUTIVA
Presidente - Luiz Yukishigue Narimatsu
Vice-Presidente - Pérsio Faulim de Menezes
1º Secretário - Nizar Qbar
2º Secretário - Ivo Nicolielo Antunes Junior
1º Tesoureiro - Luciomar Santos Werneck
2º Tesoureiro - Nélson Luiz Stábile

DIRETORIA ADJUNTA
Diretor de Marketing - Carlos Alberto de Carvalho
Diretor Cultural - Olavo Alberto Prates Sachs
Diretor de Esportes - Gilberto Margarido Bonifácio
Diretor de Pólos - José Carlos Vilela
Diretora Social - Cecília Takahashi Votta

08 Lodos de
Diretor Técnico - Choji Ohara

matéria tema CONSELHO DELIBERATIVO


Aram Kemechian, Carlos Alberto de Carvalho, Choji Ohara, Gert
Wolgang Kaminski, Gilberto Margarido Bonifácio, Helieder Rosa
Zanelli, José Carlos Vilela, Ivan Norberto Borghi, Luis Américo Magri,
Marcos Clébio de Paula, Nélson César Menetti, Olavo Alberto Prates

ETEs eETAs
Sachs, Ovanir Marchenta Filho, Sérgio Eduardo Nadur e Valter Katsume
Hiraichi

CONSELHO FISCAL
José Marcio Carioca, Gilberto Alves Martins e Paulo
Eugênio de Carvalho Corrêa

Entrevista Pólos da Região Metropolitana de São Paulo - RMSP


Coordenador - Aram Kemechian
5 Eduardo Pacheco Jordão Costa Carvalho e Centro - Maria Aparecida S.P. dos Santos
Leste - Luis Eduardo Pires Regadas
Norte - Robson Fontes da Costa
7 Ponto de vista Oeste - Evandro Nunes de Oliveira
Impactos na Resolução 375 do Conama sobre Ponte Pequena - Mercedino Carneiro Filho
Sul - Paulo Ivan Morelli Fransceschi
pequenas ETEs
Pólos AESABESP Regionais
Coordenador - Helieder Rosa Zanelli
matéria sabesp Baixada Santista - Ovanir Marchenta Filho
13 Alternativas para a disposição final de Lodos de ETAs Botucatu - Osvaldo Ribeiro Júnior
Franca - Marcos Marcelino de Andrade Cason
e ETEs Itapetininga - Rubens Calazans Filho
Lins - Marco Aurélio Saraiva Chakur
Presidente Prudente - Robinson José de Oliveira Patricio
visão de mercado Vale do Paraíba - José Galvão F. Rangel de Carvalho
20 Produtos biológicos em tratamentos de efluentes:
CONSELHO EDITORIAL - Jornal AESabesp
solução econômica e amiga do ambiente Sonia Regina Rodrigues (Coordenadora)

artigo técnico FUNDO EDITORIAL


Silvana de Almeida Nogueira (Coordenadora)
22 Uso de biossólidos na produção de mudas para Antonio Soares Pereto, Dione Mari Morita, Luiz Narimatsu, Maria Lúcia
reflorestamento de áreas degradadas da Silva Andrade, Milton Tsutiya, Miriam Moreira Bocchiglieri
28 Compostagem através de leiras revolvidas da ETE Coordenador do site: Luis Américo Magri
Limoeiro/Presidente Prudente como alternativa de
JORNALISTA RESPONSÁVEL
tratamento do lodo Maria Lúcia da Silva Andrade - MTb.16081
45 Reciclagem de lodo de estação de tratamento
Assistente de Redação: Walter Prandi
de água para remoção de fósforo de efluente de Foto de Capa: Odair Faria
sistema de lodos ativados
PROJETO VISUAL GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO
Neopix Design
fenasan 2009 neopix@neopixdesign.com.br
www.neopixdesign.com.br
51 XX Encontro Técnico AESabesp e Fenasan 2009
Associação dos Engenheiros da Sabesp
Rua 13 de maio, 1642, casa 1
“causos” do saneamento Bela Vista - 01327-002 - São Paulo/SP
53 O caso do Quero-Quero II: “O Sequestro” Fone: (11) 3284 6420 - 3263 0484
Fax: (11) 3141 9041
aesabesp@aesabesp.com.br
palavra de amigo www.aesabesp.com.br
54 Ao grande amigo Mário Tinoco

4 Saneas Janeiro / Fevereiro / MArço | 2009


Entrevista
Eduardo Pacheco Jordão

Para o Prof. Jordão da UFRJ:


Eduardo
Pacheco Jordão
é Doutor em
Engenharia,
Professor
Uso benéfico do lodo traria
Associado da
POLI-UFRJ ganhos ambientais
(Universidade
Federal do Rio de
Janeiro), autor
do livro clássico Saneas: Em sua vasta experiência no setor, o para o uso agrícola de lodos de estações de
“Tratamento senhor poderia nos descrever como era a visão tratamento de esgoto?
de Esgotos dos engenheiros que atuavam na área de sane- Eduardo Pacheco Jordão: Creio que a Resolu-
Domésticos”
amento com relação aos resíduos gerados nas ção é muito exigente em vários pontos, e pode
(com 10 mil
cópias vendidas) estações de tratamento de água e de esgoto? chegar a inviabilizar a ótima solução de aprovei-
e consultor de Eduardo Pacheco Jordão: Antigamente a ques- tamento agrícola dos biosólidos.
grandes projetos tão do destino final do lodo não era preocupa-
de estações ção primordial dos projetistas e operadores de Saneas: Em linhas gerais, o que está sendo
de tratamento estações de tratamento. Os lodos de ETAs eram feito, atualmente, com os lodos de ETAs e
na América
devolvidos diretamente aos rios, e os lodos de ETEs em outros países?
Latina, de planos
diretores de ETEs levados a aterros sanitários, em geral após Eduardo Pacheco Jordão: Em países adiantados
esgoto e de lodo, passarem por leitos de secagem, sem um maior existem duas preocupações: o reaproveitamento
e de empresas de estudo econômico e ambiental. do lodo com uso benéfico, e a redução do vo-
saneamento. lume do lodo, empregando nesse caso sistemas
Saneas: Qual a sua opinião sobre a Resolu- industriais de evaporação da água, como os se-
ção CONAMA no 375, de 29 de agosto de cadores de lodo, ou sistemas industriais de quei-
2006, que define critérios e procedimentos ma do lodo, como incineradores. São sistemas

Janeiro / fevereiro / Março | 2009 Saneas 5


Entrevista

“para uma Região


Metropolitana tão
grande como é o caso
de São Paulo, todas as
possibilidades devem ser
avaliadas, inclusive as
tecnologias emergentes
que dentro de alguns
anos estarão sendo
plenamente aplicadas.”

industriais, de custo elevado, e seu emprego deve ser Eu diria que para uma Região Metropolitana tão
feito após criterioso estudo econômico. Existem ainda grande como é o caso de São Paulo, todas as possibi-
vários outros processos em pesquisa ou estudo para lidades devem ser avaliadas, inclusive as tecnologias
atender de forma adequada esta importante questão emergentes que dentro de alguns anos estarão sendo
da redução de volume e destino final do lodo. plenamente aplicadas e poderão vir a ser de interesse
para nossa economia de escala.
Saneas: Quais as soluções que o senhor sugere
para os lodos de ETEs e ETAs gerados na Região Saneas: Há uma tendência internacional à redução
Metropolitana de São Paulo? da geração e ao uso benéfico de lodos. No Brasil,
Eduardo Pacheco Jordão: É difícil sugerir sem ter quais são os obstáculos a este uso benéfico?
dados reais do volume produzido, locais de disposi- Eduardo Pacheco Jordão: Não diria que há uma
ção final e possibilidades de uso benéfico, como em tendência internacional à redução da geração de lo-
agricultura, na construção civil como agregados le- dos, mas um receio muito grande em relação ao seu
ves de concreto, aproveitamento em áreas de reflo- aproveitamento em agricultura. No Brasil, como ainda
restamento, etc. Há cerca de 30 anos atrás a própria fazemos muito pouco aproveitamento agrícola, não
Sabesp realizou um importante estudo de produção creio que exista este receio. Mas já é tempo de se
de agregado leve para construção civil, construindo e mostrar à populaçao que podemos aproveitar o lodo
operando uma unidade piloto de demonstração, que como um rico biosólido, transformando um resíduo
na época mostrou-se de custo muito elevado. Talvez do tratamento em matéria que irá trazer benefícios e
hoje esta situação tenha se modificado. redução de custos, além dos ganhos ambientais. Nes-
O lodo gerado na RMSP deverá certamente ter seu se sentido é necessário uma campanha na mídia sobre
volume reduzido para economia de transporte, e as os benefícios desse aproveitamento de biosólidos.
possibilidades de aproveitamento ou de simples lan-
çamento final deverão ser estudadas sob uma ótica de Saneas: Qual é o destino comum do lodos de ETAs
melhor rendimento econômico e proteção ambiental. e ETEs no território brasileiro?
Há muitas vezes possibilidades de destino final que Eduardo Pacheco Jordão: Tipicamente os lodos de
vem a ser simples, e por isto mesmo deixam de ser ETAS vinham sendo devolvidos aos rios, e em muitos
estudadas com maior aprofundamento: seria o caso casos ainda tem sido prática. Os lodos de ETEs são em
de se verificar a possibilidade de recuperação de áreas maior parte lançados em aterros sanitários, o que é
degradadas, o uso em áreas florestais onde o manejo uma pena, pois podem ser aproveitados com vanta-
econômico se mostra importante, etc. gem como biosólidos.

6 Saneas Janeiro / Fevereiro / MArço | 2009


Ponto de vista
pedro alem sobrinho

Impactos na Resolução 375 do


Pedro Alem
Sobrinho é
engenheiro civil
pela Escola de
Engenharia
Conama sobre pequenas ETEs
de São Carlos/
USP, mestre em
Public Health O Conama (Conselho Nacional do Meio Am- de lodo de esgoto ou produto derivado classe A,
Engineering pela
biente) instituiu a Resolução nº 375, de 29 de exceto sejam propostos novos critérios ou limites
Universidade de
Newcastle Upon
agosto de 2006, que define critérios e procedi- baseados em estudos de avaliação de risco e da-
Tyne (Inglaterra), mentos para o uso agrícola de lodos de esgotos, dos epidemiológicos nacionais, que demonstrem
mestre em Saúde gerados em Estações de Tratamento de Esgoto a segurança do uso do lodo de esgoto Classe B” e
Pública e doutor Sanitário. Todavia, mesmo sendo um instru- no parágrafo 2º deste mesmo artigo: “As UGLs -
em Engenharia mento importante para disciplinar a reciclagem Unidades Geradoras de Lodo - terão, após a data
Hidráulica e
agrícola de lodos no país, as exigências nela de publicação desta Resolução, 18 meses para se
Sanitária pela
Universidade de
contidas, se não chegam a inviabilizar o fun- adequarem a esta Resolução”. Nesta questão, é
São Paulo. cionamento de pequenas estações, que tratam interessante observar que embora a norma in-
Atualmente, é somente esgoto doméstico, dificultam bastante dique a calagem como um processo necessário
Professor Titular a sua operacionalização, uma vez que os custos para obtenção de lodo tipo B, resultados preli-
da Universidade envolvidos na caracterização e no monitora- minares de estudos usando a secagem em estufa
de São Paulo.
mento são muito elevados. agrícola de lodo com cal têm indicado que ele
Possui vários
trabalhos
Segundo a norma, cada lote de lodo deve ser pode alcançar a classe A. No entanto, estas pes-
publicados caracterizado de acordo com aspectos de po- quisas ainda precisam ser aprofundadas.
sobre o tema tencial agronômico; de substâncias inorgânicas Outra tecnologia de remoção de patógenos
“Tratamento de e orgânicas potencialmente tóxicas; de indica- para obtenção de lodo classe A é a secagem tér-
esgoto sanitário”, dores bacteriológicos e agentes patogênicos e mica, mas, nas pequenas estações de tratamen-
em periódicos
de estabilidade. O número total de parâmetros a to, ela não é praticável economicamente.
nacionais e
internacionais.
serem determinados é de 62, incluindo os teores
de dioxinas e furanos e vírus entéricos. No Brasil,
há poucos laboratórios que possuem capacidade
para realizar estas determinações dentro dos li-
mites recomendados pela norma e com grau de
incerteza aceitável. Além da caracterização, de-
ve-se fazer o monitoramento do lodo e do solo
onde ele foi aplicado, resultando na obrigação de
realização de mais algumas análises.
Quanto à patogenicidade, a norma classifica
o lodo em A ou B. A primeira classe é bem mais
restritiva com relação aos limites para coliformes
termotolerantes e helmintos e inclui restrições
para vírus entéricos e ausência de Salmonella em
dez gramas de sólidos totais. A norma menciona
também no parágrafo 1º do artigo 11: “Decorri-
dos 5 anos a partir da data de publicação desta
Resolução, somente será permitida a aplicação

Janeiro / fevereiro / Março | 2009 Saneas 7


Matéria tema

Lodo
um ponto de
alerta no universo
do saneamento.

Se por um lado, o processo de crescimento econômico do Brasil


demandou a implantação de políticas governamentais para
o setor de saneamento básico, propiciando uma infra-
estrutura que melhorou a vida da população; por outro, os
próprios processos de tratamento de água e esgotos são
considerados fontes pontuais de poluição, por gerarem
lodo.

O tratamento e a disposição final dos lodos formam


um quadro preocupante, face ao grande volume
gerado, à dificuldade em se encontrar locais de
disposição, aos crescentes custos de transporte
e disposição e aos impactos ambientais.

Portanto, qualquer decisão sobre o


destino final mais apropriado para estes
resíduos depende de sua caracterização,
avaliação e minimização dos riscos de
contaminação ao meio ambiente e
8 Saneas Janeiro / fevereiro / Março | 2009
ao homem.
Matéria tema

Para entender a importância da destinação do Temos a maior reserva de água doce da Terra, equiva-
lodo, vamos partir para uma visão bem ampla: a do lente a 12% do total mundial. Porém, principalmente
Planeta Terra. Segundo dados da ONU (Organização nas regiões mais pobres, os recursos hídricos são li-
das Nações Unidas), sua área total é de aproximada- mitados e explorados de forma predatória, gerando
mente 510 milhões de quilômetros quadrados, sendo despejo da alta carga de poluentes.
que 149 milhões de km2 são de terra e 361 milhões de A degradação dos rios que atravessam as grandes
km2 são de água. cidades do País é apontada como um dos maiores
Desse total de água, apenas 2,5% é doce. Os rios, problemas ambientais brasileiros. Tanto que soluções
lagos e reservatórios de onde a humanidade retira o para recuperação de leitos, que obtiveram êxitos em
que consome só correspondem a 0,26% desse per- outros países, ganham cada vez mais espaço na mídia,
centual. De acordo com as estimativas mundiais, 10% como apresentação de alternativas para a minimiza-
da utilização da água vão para o abastecimento pú- ção dessa problemática. Mas para se conseguir solu-
blico, 23% para a indústria e 67% para a agricultura. ções de recuperação, o procedimento mais indicado
No Brasil, de acordo com a divisão adotada pela é a coleta e tratamento de esgotos, que geralmente
Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério do Meio são lançados in natura nos rios. Tal procedimento
Ambiente, são oito as suas grandes bacias hidrográ- ameniza a deterioração dos mananciais, posto que
ficas: a do rio Amazonas, a do rio Tocantins, as do reduz a sua carga de poluentes e gera, como pro-
Atlântico Sul, trechos Norte e Nordeste, a do rio São duto final, um resíduo rico em matéria orgânica e
Francisco, as do Atlântico Sul, tre- nutrientes, denominado lodo, mas
cho Leste, a do rio Paraná, que também necessita de
a do rio Paraguai, e tratamento uma
as do Atlântico adequada dis-
Sul, trecho posição fi-
Sudeste. nal.

Janeiro / fevereiro / Março | 2009 Saneas 9


Matéria tema

O lado útil do lodo


A definição mais básica do lodo de esgoto é que se
trata de um resíduo semi-sólido, predominantemente
orgânico, com teores variáveis de componentes inor-
gânicos, provenientes do tratamento de águas resi-
duárias domiciliares ou industriais. A sua composição
variada é devido à origem e ao tipo de tratamento
que está sendo utilizado. De acordo com Camargo &
Bettiol (2000), as formas mais utilizadas para o apro-
veitamento ou disposição final do lodo são: disposição
em aterro sanitário; reúso industrial, como produção
de agregado leve, fabricação de tijolos e cerâmica e
produção de cimento; conversão em óleo combus-
tível; recuperação de solos em áreas degradadas e
de mineração e pode ter como fim o uso agrícola e
florestal através da aplicação direta no solo, compos-
tagem e solo sintético. Todavia, a utilização para fim
agrícola e florestal apresenta-se como uma das mais
convenientes, pois, como o lodo é rico em matéria or-
gânica e em macro e micronutrientes para as plantas,
é amplamente recomendado como condicionador de
solo. Entre os nutrientes advindos do lodo, destacam-
se como os mais relevantes o nitrogênio e o fósforo.

Nitrogênio (N) Fósforo (P)


O Nitrogênio (N) é o componente principal Devido a sua reatividade, o fósforo não é
da atmosfera terrestre (78,1% em volume). encontrado nativo na natureza, porém for-
O elemento está presente na composição de ma parte de numerosos minerais. O ácido
substâncias excretadas pelos animais, usu- fosfórico concentrado é importante para a
almente na forma de uréia e ácido úrico; agricultura, já que forma os fosfatos em-
nos dejetos presentes no esgoto e em al- pregados para a produção de fertilizantes.
guns efluentes industriais, tais como mata- Os fosfatos também são usados para a
douros, curtumes, indústrias farmacêuticas, fabricação de fogos, bombas, cristais, lâm-
etc. É encontrado nas formas inorgânicas, padas e na produção de aço e bronze. A
como nitritos, nitratos e nitrogênio amo- sua projeção no lodo geralmente vem dos
niacal e orgânicas, constituindo proteínas, dejetos domésticos, detergentes que uti-
aminoácidos, aminoaçúcares, amidos, etc. lizam fosfatos como aditivos e efluentes
Daí o fato de seu alto valor econômico, industriais.
como elemento proveniente do lodo.

10 Saneas Janeiro / fevereiro / Março | 2009


Matéria tema

De acordo com Lake (1987), “quando o teor de um de nº 375, de 29 de agosto de 2006, a qual dispõe
determinado metal num resíduo é menor ou igual ao de parâmetros para a utilização do lodo de esgoto.
teor do mesmo metal no solo, pode-se inferir que o Para a caracterização do lodo e monitoramento de
resíduo não apresente potencial de contaminação. sua qualidade durante a aplicação agrícola, devem ser
Entretanto, o autor ressalta que, quando se trata de determinados parâmetros agronômicos, inorgânicos
resíduos orgânicos, a mineralização da matéria orgâ- e orgânicos, além da deteminação da concentração
nica, que poderá ocorrer após a disposição no solo, de patógenos, sendo estes últimos importantes para
tenderá a aumentar os riscos de contaminação”. classificação do lodo em A ou B.
Dessa forma, constatada a presença de nutrientes e A partir da data que essa Resolução foi institu-
metais pesados na composição do lodo de esgoto, o ída, as estações de tratamento têm um prazo de 5
seu emprego como condicionador de solo pode trazer anos, portanto até 29 de agosto de 2011, para de-
vantagens, por promover a reciclagem de nutrientes e monstrar que o lodo classe B pode ser utilizado para a
melhoria da fertilidade do solo; mas também pode se agricultura. Caso contrário, deverão cumprir todas as
traduzir em prejuízos, se houver formação de nitratos exigências para a classe A, o que será bastante difícil
e acúmulo de metais pesados em plantas. para pequenas ETEs, pois exigirão a instalação equi-
Outra questão peculiar no tratamento de lodo é a pamentos tais como secadores térmicos, pasteuriza-
presença de patógenos, cuja origem geralmente se dá dores, etc para atender a norma. Mas, de qualquer
em razão do material fecal contido no esgoto. Portan- forma, uma análise séria e compatível com os nossos
to, as características epidemiológicas da população recursos é um instrumento constantemente necessá-
local e dos efluentes lançados na rede coletora defi- rio à disposição final do lodo, para que este resíduo
nem os tipos de vírus, fungos, bactérias e parasitas. seja mais do que uma preocupação ou um alerta: uma
O Governo Federal, por meio do Conama - Con- solução e uma alternativa de otimização dos recursos
selho Nacional do Meio Ambiente - criou a resolução ambientais.

quando se trata de resíduos orgânicos,


a mineralização da matéria orgânica, que
poderá ocorrer após a disposição
no solo, tenderá a aumentar os
riscos de contaminação.

Janeiro / fevereiro / Março | 2009 Saneas 11


Matéria tema

Lodo de Estações de em ETAs no meio ambiente tem-se mostrado extre-


mamente danoso, especialmente nos grandes centros
Tratamento de Água urbanos, seja pelo aumento da quantidade de sólidos
e da turbidez em corpos d’água, ou seja pelo aumento
Richter (2001) considera que lodo de estação de da sua toxicidade que, por sua vez, pode comprome-
tratamento de água é o resíduo constituído de água e ter a estabilidade da vida aquática.
sólidos em suspensão originalmente contidos na fon- Nos processos convencionais de tratamento de
te de abastecimento, acrescidos de produtos resultan- água, os resíduos são gerados basicamente nos de-
tes dos reagentes aplicados à água nos processos de cantadores ou, eventualmente, em flotadores e nas
tratamento, bem como suas impurezas. operações de lavagem dos filtros. Cada linha geradora
Os lodos formados por hidróxidos de alumínio e de resíduos apresenta características distintas em ter-
ferro são de difícil adensamento e desaguamento, mos de vazão e concentração de sólidos, razões pelas
sendo necessário o seu pré-condicionamento, antes quais diferentes concepções de tratamento devem ser
de serem submetidos a esses processos. Por isso, uma consideradas.
prática comum nestas ETAs é o uso de polímeros, se- Experiências em países do 1º mundo atestam que
jam eles catiônicos, aniônicos ou não iônicos. o lançamento destes resíduos nos corpos d’água não
vem sendo realizado e tem-se incentivado a minimi-

Os descartes de zação, o reúso e a reciclagem, em virtude de legisla-


ções mais rigorosas de controle da poluição e desper-
resíduos de ETAs dício, inclusive com relação ao descarte de 2 a 6% do
volume de água produzido numa Estação de Trata-
Também provenientes das Estações de Tratamento mento de Água em atividades de lavagem dos filtros e
de Água (ETAs), os descartes de resíduos nos rios têm descargas dos decantadores.
contribuído para deterioração da qualidade das águas
dos mananciais, principalmente em regiões onde há Fontes de consulta: ETEC-Diadema, Fundação
escassez dos recursos hídricos. Oswaldo Cruz, IFET – Instituto Federal de Educação,
Embora não seja um problema recente, o efeito da Ciência e Tecnologia (Gestão Ambiental), Portal do
disposição inadequada dos resíduos sólidos gerados Ministério do Meio Ambiente, Wikipédia.

12 Saneas Janeiro / fevereiro / Março | 2009


matéria sabesp
Wanderley Paganini

Alternativas para a disposição final


de lodos de estações de tratamento de
água e estações de tratamento de esgotos
Geração e destinação dos
resíduos gerados pela
atividade humana
A população mundial hoje ultrapassa 6 bilhões
de pessoas. Com os elevados índices de crescimento
populacional esperados para os próximos 90 anos,
estima-se que ultrapassaremos a casa dos 10 bilhões
de habitantes no planeta.
A atividade humana e industrial, a intensa explo-
ração dos recursos naturais e a quantidade de resídu-
os a serem gerados, certamente atingirá proporções
gigantescas se não houver uma radical mudança nos
hábitos de consumo das pessoas, na utilização racio-
nal dos recursos e no uso benéfico dos resíduos.
Em relação aos impactos ao meio ambiente, a des-
tinação final desses resíduos é objeto de muita preo-
cupação, merecendo especial atenção o lodo gerado
pelos serviços de saneamento, que sem dúvida alguma
será um dos grandes problemas ambientais a serem
enfrentados nos próximos anos. Porém, adotando-se
uma visão bem realista, constata-se que em relação à
disposição final de lodos, o amanhã já chegou!

A universalização dos serviços de


saneamento no Brasil e as
demandas ambientais
A prestação dos serviços de saneamento no Brasil
ainda é bastante deficitária. A população atendida com
abastecimento de água é de 91,9%, conforme os da-
dos do IBGE, 2007¹. Em relação aos serviços de esgotos,
68,7% da população têm seus esgotos coletados (IBGE,
2007)¹ e apenas 34,3% da população é contemplada
com tratamento de esgotos (SNIS, 2007)².
O Governo Federal, em 2007, anunciou o Progra-
ma de Aceleração do Crescimento (PAC), prevendo in-
vestimentos de R$ 40 bilhões em saneamento básico

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matéria sabesp

até 2010. Desse montante, até julho de 2008 foram A busca de alternativas para viabilizar a disposição
contratados R$ 19 bilhões para iniciativas nas moda- final dos lodos gerados em estações de tratamento
lidades abastecimento de água, esgotamento sanitá- de água - ETAs e estações de tratamento de esgotos
rio, saneamento integrado, manejo de águas pluviais, - ETEs, tem sido foco de inúmeras pesquisas desen-
manejo de resíduos sólidos, dentre outros³. O Ministé- volvidas das mais variadas formas: em bancadas, em
rio das Cidades declarou que o déficit de saneamento pilotos e em escala real.
no País necessita de investimentos de R$ 9 bilhões Esses resíduos são produzidos em grande volume,
anuais, em 20 anos, para que a universalização dos e ainda assim, a maioria das plantas de tratamento
serviços seja concluída4. em operação no país não contempla adequadamente
Temos um longo caminho a percorrer. Não é acei- o destino final do lodo. A disposição final desses resí-
tável que haja morte por diarréia no País nos níveis duos requer cuidados específicos de modo a garantir
hoje verificados. Segundo a Organização Mundial da a proteção ao meio ambiente e à saúde pública.
Saúde, 6% de todas as doenças são causadas por con- Devolver aos mananciais o lodo resultante do tra-
sumo de água inadequada, falta de coleta de esgoto tamento de água é procedimento inadequado do pon-
e de higiene5. De acordo com dados do IBGE, 2006, to de vista ambiental, operacional e legal. Da mesma
a taxa nacional de mortalidade infantil sofreu uma forma, o lodo das estações de tratamento de esgotos
queda de 44,9% em 16 anos. O Caderno Brasil 2008 não pode ser disposto no ambiente sem a realização
da UNICEF “Situação Mundial da Infância” atribui esse de estudos prévios, buscando a destinação final mais
fator a uma série de melhorias nas condições de vida e apropriada, reduzindo os possíveis impactos ambien-
na atenção à saúde da criança, em relação a questões tais decorrentes de uma disposição final inadequada.
como segurança alimentar e nutricional, saneamento O que não falta ao homem é criatividade e ca-
básico, vacinação e outros6. pacidade para o desenvolvimento de tecnologias. As
Esses dados são alguns indicadores da real ne- possibilidades para a destinação de lodos são muitas.
cessidade de se investir em saneamento, tendo como E todas elas devem ser avaliadas e consideradas.
foco a universalização do atendimento. Essas múltiplas alternativas para destinação final
A prestação dos serviços de saneamento requer de lodo são justificadas pelo fato de que é necessário
uma progressividade, conceito já consagrado, deri- evitar situações de dependência tecnológica, estra-
vado de uma tendência observada nos países desen- tégica ou logística, fator de alto risco em qualquer
volvidos, que considera necessário ter-se sempre em atividade, especialmente na prestação de serviços
conta uma escala de prioridades. públicos de saneamento, onde a geração de lodo é
Fornecer água, a prioridade zero. Depois coletar diária e elevada. Deste modo, a operação segura dos
os esgotos, ação sanitária de âmbito local, com com- sistemas de abastecimento de água e de esgotamen-
provada eficácia em termos de melhoria da saúde pú- to sanitário requer alternativas múltiplas disponíveis
blica. Só então, tratar e dispor os esgotos, uma ação para a destinação dos lodos gerados. A dependência
ambiental, de âmbito regional. de um único setor ou de uma única alternativa é um
Ainda que a universalização do atendimento obe- risco indesejável.
deça a uma escala de prioridades, não é possível isolar Para ilustrar essa afirmação pode-se fazer um pa-
a questão da destinação dos lodos gerados. Tratar a ralelo com situação ocorrida em relação à adição de
água e os esgotos e dispor o lodo gerado adequada- fluor nas águas de abastecimento público. Estudos
mente são parte integrante desse processo. desenvolvidos apontaram que o ácido fluossilícico,
A universalização trará ao Brasil problemas ainda um subproduto resultante do processo de fabricação
mais representativos quanto à destinação final dos de ácido fluorídrico (usado na produção de sais fluo-
lodos, se não forem buscadas soluções adequadas. rados, gases refrigerantes, defensivos agrícolas, deter-
gentes, teflon, etc), era uma substância que atendia às
Múltiplas soluções para necessidades para o processo de fluoretação da água.
disposição final do lodo: Não foi preciso muito tempo para que a indústria mu-
questão de segurança dasse de postura, passando a considerar esse “rejeito”
operacional e tecnológica como “produto”, aumentando os preços, gerando inú-

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meras inseguranças quanto ao seu fornecimento para então estará em equacionamento a questão da dispo-
o saneamento. sição final desses resíduos.
A tendência atual aponta para os chamados “usos Ainda em relação ao lodo de ETA, o seu tratamen-
benéficos do lodo”. A própria denominação já é por si to em ETEs é assunto que gera polêmica. Discute-se
um atrativo. Nada pode ser melhor do que possibilitar que as novas ETAs devam possuir unidades específicas
o uso benéfico de um resíduo, seja ele qual for. Não para o processamento do lodo. Por se tratar de um
resta dúvida. Mas não é admissível deixar que essa material predominantemente inorgânico, não é de-
destinação de resíduos se torne um monopólio, espe- gradado na ETE, o que confere a esse procedimento
cialmente nos casos em que prioritariamente o obje- a característica de transferência e não de disposição
tivo é o de gerar lucro financeiro. final do resíduo. Questiona-se o fato de que o lodo é
concentrado na ETA, diluído no sistema de coleta e in-
Disposição final do lodo de ETA terceptação e novamente concentrado na ETE7. É fato.
Estudos recentemente desenvolvidos apontam Mas num cenário como o da Região Metropolitana de
que no Estado de São Paulo o processamento dos lo- São Paulo – RMSP e nos grandes centros, ainda que
dos de estações de tratamento de água na indústria com os possíveis inconvenientes mencionados, essa
cerâmica consiste num cenário promissor para a sua prática pode ser a melhor alternativa apresentada. A
destinação, seja pela viabilidade técnica e ambiental, condição teórica ideal seria o lançamento direto na
seja pela capacidade de absorção do lodo gerado pe- fase sólida das ETEs, mas não há estrutura disponi-
las cerâmicas. Merece atenção. Não é alternativa a ser bilizada para o transporte exclusivo do lodo até esse
desprezada, mas não pode ser considerada como a ponto (lododuto). A execução de obras desse porte
única opção para esta disposição final. também pode causar impactos ambientais de grandes
Outras destinações de lodo de ETA estão em estu- proporções.
do e algumas têm se mostrado igualmente adequa- Caso típico de grande parte das ETAs em opera-
das, como o seu emprego para fechamento de valas ção em áreas fortemente urbanizadas é a limitação
e para a recuperação de áreas degradadas. Quando para a realização do tratamento do lodo na própria
resolvidas e implantadas essas múltiplas alternativas, planta, em função da ausência de espaço físico e de

Wanderley da Silva Paganini é engenheiro


civil pela UNESP de Bauru/SP, engenheiro sani-
tarista, mestre e doutor em Saúde Pública pela
Faculdade de Saúde Pública da Universidade
de São Paulo - USP, livre-docente em Sanea-
mento Básico e Ambiental pela Faculdade de
Saúde Pública da USP. Funcionário da SABESP
desde Janeiro de 1980, atuou como Assistente
Executivo da Diretoria do Interior e da Diretoria
de Sistemas Regionais da SABESP, foi Superin-
tendente Regional da Unidade de Negócio do
Médio Tietê e atualmente é o Superintendente
de Gestão Ambiental da Diretoria de Tecnologia,
Empreendimentos e Meio Ambiente da SABESP e
Professor Associado do Departamento de Saú-
de Ambiental da Faculdade de Saúde Pública
Wanderley da Silva Paganini junto ao presidente da AESabesp, da USP. É autor de diversos artigos científicos
Luiz Narimatsu, no lançamento do seu livro na Fenasan 2008 publicados no Brasil e no exterior nas revistas
“A Identidade de um rio de contrastes: o Tietê e seus
múltiplos usos.” especializadas. É autor dos livros “A identidade
de um rio de contrastes: o Tietê e seus múltiplos
usos” e “Disposição de Esgotos no Solo”.

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sua localização geográfica, muitas vezes desfavorável com a Prefeitura Municipal de São Paulo, a possibi-
à circulação de caminhões para transporte de lodo no lidade de mistura do lodo de ETA com resíduo sólido
entorno da estação. inerte, oriundo da construção civil, para recuperação
Ressalta-se também que o recebimento de lodo de de áreas degradadas, erosões e cavas de mineração.
ETA em ETE é comumente realizado em todo o mun-
do, principalmente nos Estados Unidos e na Europa Disposição final do lodo de ETE
(Tsutiya, 2001)8, com resultados bastante satisfató- Um dos grandes problemas ambientais verificado
rios e promissores. nos grandes centros e em cidades de médio porte se
Vários estudos realizados pela Sabesp também refere à disposição final do lodo gerado pelos sistemas
apontam que o recebimento de lodo de ETA em ETE, de tratamento de esgotos. Seja qual for a alternativa
do ponto de vista técnico e operacional, é plenamente adotada para o tratamento, todos os processos co-
viável, configurando-se numa boa opção a ser consi- nhecidos geram lodo, seja em regime constante, seja
derada para a disposição desses lodos. em batelada, ainda que se trate de uma “batelada de
A comunidade técnico-científica recomenda a 20 anos”, como é o caso do tratamento por lagoas
avaliação dessa prática, de maneira isolada e crite- de estabilização, tecnologia que digere e armazena o
riosa, caso-a-caso, ressaltando que para o processo lodo por períodos de aproximadamente 20 anos, mas
de lodos ativados, a principal limitação se refere à di- que também demanda destinação final.
gestão do lodo. Quanto maior o sistema de tratamento, maior é
Ensaios de bancada desenvolvidos na RMSP para a dificuldade para dispor o lodo gerado. A disposição
avaliar a atividade metanogênica do lodo, simulando dos resíduos em aterros é uma solução que pode se
o recebimento de lodo de ETA em digestores de ETE, esgotar em função do tempo, do porte da ETE e das
mostraram que não houve indícios de inibição dos características locais.
processos anaeróbios para as condições avaliadas. A co-disposição de lodos em aterros, também é al-
Outros experimentos já apontaram para um efe- ternativa frágil. Recentemente foi noticiado que 1 em
tivo aumento na eficiência de remoção de Fósforo cada 3 aterros sanitários de cidades do Estado de São
Total, o que pode representar um ganho ambiental Paulo com mais de 100 mil habitantes está com a vida
significativo, em decorrência dessa prática. útil “esgotada”. (Jornal O Estado de São Paulo, 2009)10
Outros aspectos favoráveis a se considerar nos Várias alternativas de disposição estão em estudo
processos de disposição do lodo de ETA em ETE se re- e em operação. Dentre elas podemos mencionar:
ferem à possibilidade de: ■■ Disposição de lodo no solo para fins agrícolas
■■ Redução de consumo de materiais de tratamento ■■ Compostagem
para o desaguamento do lodo ■■ Condicionadores de solo
■■ Aumento na remoção de matéria orgânica no de- ■■ Co-incineração com resíduos sólidos domésticos
cantador primário, aumentando a capacidade da ■■ Co-processamento em indústria de cimento
ETE na fase secundária ■■ Aterros exclusivos
■■ Minimização de investimentos e custos operacionais Legislação e normatização para a
■■ Aproveitamento da mão de obra especializada da utilização agrícola do lodo de ETE
operação da ETE. O lodo de ETE é bastante indicado para disposi-
Ressalta-se que a Lei Estadual nº 12.3009 de 16 ção no solo, sendo uma substância rica em matéria
de março de 2006 em seu Artigo 6º, inciso II, classifica orgânica e nitrogênio, além de outros elementos que
os lodos gerados em ETEs e ETAs como resíduos sóli- podem ser considerados micro-nutrientes para as
dos, não permitindo o seu lançamento em “sistemas plantas, como é o caso de alguns metais.
de redes de drenagem de águas pluviais, de esgotos, A disposição do lodo no solo tem sido objeto de
de eletricidade, de telecomunicações e assemelhados” vários estudos. Acumulamos também alguma expe-
(Artigo 14, inciso V). O texto da lei pode gerar inter- riência em escala real, e o lodo gerado em sistemas
pretações diversas. de tratamento de esgotos sanitários já foi classificado
A Sabesp também está estudando em conjunto como produto e obteve a certificação do Ministério

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da Agricultura, possibilitando sua utilização agrícola alternativa remota de disposição final. É preciso tra-
como condicionador de solo. balhar no sentido de viabilizar o aproveitamento dos
A legislação específica, no entanto, é bastante res- benefícios advindos dessa prática, largamente uti-
tritiva. A Resolução Conama 375/0611 define critérios lizada desde tempos remotos, e que nos dias atuais
e procedimentos para o uso do lodo na agricultura. A é sustentada por estudos e critérios que introduzem
referida Resolução estabelece que para essa prática, é segurança a esse procedimento.
imprescindível o processamento do lodo em Unidades
de Gerenciamento de Lodo - UGLs, que deverão re- Gestão pública integrada dos
ceber, processar, caracterizar, transportar, destinar e resíduos
monitorar os efeitos ambientais, agronômicos e sani- A disposição do lodo em aterros sanitários é alter-
tários de sua aplicação em área agrícola. nativa que também gera inúmeras discussões. Para as
Atualmente, no âmbito estadual, encontra-se em prestadoras de serviços de saneamento, ter dentre as
fase de discussão junto ao órgão ambiental, o proce- opções de destinação final do lodo um aterro sanitá-
dimento para a obtenção do licenciamento de UGLs. rio em condições de recebimento, confere segurança
Esse processo de licenciamento não poderá se tornar ao processo operacional, uma vez que esses aterros
outro agente limitante da disposição do lodo na agri- são unidades projetadas para minimizar os impactos
cultura, que já é pouco utilizada em virtude das eleva- ambientais, utilizando os princípios da engenharia em
das exigências de qualidade requeridas, ressaltando- sua concepção.
se que a própria UGL já é por si mesma, uma exigência A redução da utilização de aterros para destinação
bastante restritiva. de resíduos e a busca por alternativas ambientalmen-
Não é aceitável que, sob a ótica do controle da te adequadas e sustentáveis para o seu tratamento e
poluição, a utilização agrícola do lodo se torne uma destinação final, configuram-se como uma tendên-

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matéria sabesp

cia mundial. Porém, existe um importante fator a ser chorume que pode ser tolerada numa ETE sem causar
considerado no caso do saneamento, que se refere à a deterioração da qualidade do efluente da ETE.
produção de chorume pelos aterros e de lodo pelas Em vista disso, considera-se recomendável a re-
ETEs, e à necessidade de se dar o tratamento adequa- alização de estudos de viabilidade de “troca de cho-
do a esses resíduos. rume por lodo”, considerando as cargas provenientes
Uma alternativa oportuna é a modalidade de troca do chorume nos projetos de estações de tratamento
de “chorume por lodo” entre as estações de tratamen- de esgotos e contemplando o recebimento dos lodos
to de esgotos e os aterros sanitários. Essa prática pode das ETEs na concepção dos aterros. Esta também deve
representar ganhos operacionais, ambientais, econômi- ser uma das múltiplas soluções a serem consideradas.
cos e operacionais significativos, desde que praticados Esses estudos irão possibilitar que se tenha uma
a partir de critérios técnicos e legais específicos. visão abrangente e integrada do saneamento, trans-
A co-disposição de lodo com o lixo urbano é atual- formando efetivamente o chamado “ciclo do sanea-
mente a principal destinação dada ao lodo gerado na mento” em um “ciclo virtuoso”.
Região Metropolitana de São Paulo. O chorume gerado
nos aterros é encaminhado para as estações da Sabesp. Evolução tecnológica, política
O sistema público de tratamento possui uma boa ambiental e planejamento
flexibilidade no tratamento em virtude da grande urbano
diluição do chorume pelos esgotos sanitários. Desta Para o equacionamento da disposição final de lo-
forma, há um grau para o qual o chorume afluente dos ainda temos muito a aprender. As universidades
pode ser admitido sem perturbar o processo de tra- e institutos de pesquisa precisam desenvolver estu-
tamento de esgotos em andamento. Vários autores dos de bancada, buscando a evolução tecnológica.
têm determinado experimentalmente a proporção de Também precisam estimular as operadoras e agências

Filtro Prensa

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ambientais à pesquisa operacional, voltada para a Visão Geral da Prestação de Serviços. Brasília, 2009.
adoção de tecnologias diversificadas e adequadas aos 3. BRASIL. PNUD. Entrevista. “Falta de regras prejudica
diversos ambientes que compõem o estado e o país. o Brasil”. Disponível em <http://www.pnud.org.br>.
Não existe solução única para o destino final dos Acesso em 2009, abr.
lodos de ETAs e ETEs, já é uma lição aprendida! O que 4. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Wiki. Comitê de Organi-
se deve buscar, sem dúvida alguma, são soluções múl- zação da Informação. Disponível em: <http://wikicoi.
tiplas que suportem em conjunto e com longevida- planalto.gov.br/coi/Acesso_Direto/EmDestaque/Te-
de a destinação final e os usos benéficos dos lodos. mas/Saneamento_set08.pdf>. Acesso em: abr, 2009.
Trata-se de mudança de postura e de posicionamento 5. Um planeta em busca de água potável. O Estado de
técnico e até jurídico-legal. São Paulo. São Paulo, 2008 mar 20. Caderno Espe-
Ainda que os aterros sanitários se configurem cial, p. H1.
numa alternativa de disposição final ambientalmen- 6. BRASIL UNICEF. Fundo das Nações Unidas para a In-
te segura, é ilusão acreditar que eles sejam a solução fância. Situação Mundial da Infância 2008. Caderno
única e definitiva para o problema. Brasil. Brasil (DF), janeiro de 2008. Disponível em
As soluções diversificadas e múltiplas nos levarão <http://www.unicef.org/brazil/pt/cadernobrasil2008.
a condições de independência tecnológica e princi- pdf>. Acesso em: abr, 2009.
palmente de versatilidade e flexibilidade operacional. 7. INSTITUTO DE ENGENHARIA. Relatório de conclusões.
Uma lição antiga que já deveríamos ter aprendido Lodos de estações de tratamento de água. Morita,
com o dito popular: ”não se deve carregar todos os D.M. (red.). São Paulo, 2008
ovos em um único cesto”! 8. TSUTIYA,M.T. Seminário sobre disposição de lodos.
A Política de Meio Ambiente vigente na Sabesp Transporte de Lodo de ETA em Coletores de Esgo-
está voltada para direcionar a atuação da Empresa to de Franca. Sabesp, dezembro, 2006. [Documento
considerando o meio ambiente de forma sistêmica, Interno].
a partir da adoção de uma série de novas condutas, 9. SÃO PAULO (Estado). Lei Estadual nº 12.300 de 16 de
visando a utilização sustentável dos insumos naturais março de 2006 Institui a Política Estadual de Resíduos
e energéticos. Sólidos e define princípios e diretrizes. Diário Oficial
Porém, não é o bastante. O encaminhamento da do Estado de São Paulo, São Paulo, 17.mar.06.
questão ambiental só irá atingir patamares mais ele- 10. TOMAZELA. J.M. 1 em cada 3 aterros sanitários do inte-
vados a partir da articulação entre os vários setores de rior de São Paulo está esgotado. O Estado de São Paulo.
desenvolvimento urbano, e a destinação dos resíduos São Paulo, 2009 mar 15. Cidades – Metrópole, p. C4.
gerados pela atividade humana é um fator chave para 11. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Resolução CO-
o planejamento ambiental e a gestão das cidades. NAMA nº375 de 17 de março de 2005. Dispõe sobre a
Essa integração é fundamental para a promoção classificação dos corpos de água e diretrizes ambien-
gradativa de melhorias ambientais, de saúde e de quali- tais para o seu enquadramento, bem como estabelece
dade de vida, contribuindo também para a responsável, as condições e padrões de lançamento de efluentes, e
eficiente e eficaz prestação de serviços públicos. dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasí-
lia, DF, 18 mar. 2005.
Referências consultadas
1. BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e
Gestão. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
– IBGE. Síntese de Indicadores Sociais. Uma Análise
das Condições de Vida da População Brasileira. Rio
de Janeiro, 2008.[Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios 2007].
2. BRASIL. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional
de Saneamento AMBIENTAL. Programa de Moderni-
zação do Setor Saneamento – PMSS. Diagnóstico dos
Serviços de Água e Esgotos – 2007. Parte 1. Texto.

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Visão de mercado
Celso Schneider & Mara Salvador

Celso Schneider
é Diretor Técnico
Produtos biológicos em tratamentos
da SuperBac, com
atuação nos setores de efluentes: solução econômica e
amiga do ambiente
de desenvolvimen-
to dos produtos e
novas aplicações
e de análise dos
tratamentos. Há
Indústrias de vários segmentos podem se beneficiar de produtos
mais de 16 anos na de qualidade, aplicados de maneira correta e customizada
área, já atuou como
consultor de trata-
mentos de efluente
na America do Sul, Os produtos biológicos para tratamento A confiabilidade na aplicação aumenta por-
America Central e de efluentes representam uma grande evolu- que avança a previsibilidade de crescimento dos
Ásia. E-mail: ção para a indústria e saneamento básico. Eles microorganismos puros, assim como a atuação
celso@super-
evoluíram e a forma de aplicá-los também. Nos dos mesmos, o que eleva a eficiência e reduz
bac.com.br
últimos cinco anos, houve avanços expressivos custos das estações de tratamento. Os produtos,
na concentração de microorganismos existen- com atuação pontual e contínua, possibilitam
tes nestes produtos - nos melhores do mercado, reduções significativas do lodo descartado pelas
a concentração é superior a 3 bilhões de UFCs ETEs. A quantidade de lodo pode cair em 50%,
por grama. É relevante também a quantidade reduzindo os custos de descarte do lodo. A apli-
de microorganismos que entra em atividade cação dos produtos, também chamados de re-
com o desenvolvimento dos micronutrientes - mediadores, aumenta a capacidade de operação
praticamente a totalidade da concentração de em cerca de 30%, pelo crescimento da atividade
bactérias fica ativa, garantindo uma ação mais biológica proporcionada pela melhor qualidade
eficaz nos sistemas. da biota. Além destas vantagens, o uso dos pro-
Mara Eliza
Pereira Salvador é
gerente ambiental
da Lequip, bióloga
especialista em
Poluição Ambien-
tal, pela Universi-
dade de São Paulo
(USP). Atuou por
20 anos na Cetesb,
onde “desenvolveu
e implementou
ferramentas para
avaliação da quali-
dade das águas
do Estado de São
Paulo, tornando-se
uma das autoras
do Índice de Pre-
servação da Vida
Aquática (IVA)”. E-
mail: mara.eliza@
lequip.com.br

20 Saneas Janeiro / Fevereiro / MArço | 2009


Visão de mercado

dutos biológicos pode ainda reduzir a necessidade de A questão do custo deve ser objeto de atenção: se
energia elétrica, eliminar camadas de gorduras e óleos o produto não funcionar de maneira otimizada e ade-
e melhorar atividade e queimas de gás em bioreatores, quada, ele já terá custado caro. A solução do produto
solucionando diversos problemas das plantas de tra- biológico é vantajosa desde que resolva efetivamente
tamento ou efluentes de difícil degradação. o problema. Desta forma, então, a questão não é com-
O aumento na eficiência de redução de carga or- parar o custo por quilo, mas considerar o aumento de
gânica está sempre presente, porém em ETEs que já competitividade que os produtos gerarão no processo
tenham uma grande eficiência neste item o uso dos como um todo. Outro fator fundamental é que os pro-
produtos tem maior vantagem na redução de outros dutos específicos, produzidos para cada tipo de efluente
parâmetros e custos. e solução, conferem períodos mais curtos de adaptação
O cuidado na escolha, porém, é fundamental, uma aos sistemas, assim como menores tempos de resposta
vez que nem todos os produtos existentes no mercado às necessidades e alterações das condições.
têm qualidade. É preciso ter laudos comprobatórios Pode-se concluir que os produtos biológicos
de concentrações de microorganismos, de ausência alcançaram um estágio de muita importância nos
de patogenias e toxicidade, além do suporte técnico sistemas de tratamentos de efluentes, possibilitan-
oferecido pela empresa fornecedora, aliás a aplicação do correções, reduções de parâmetros e economia.
correta é uma das chaves do sucesso na aplicação dos Porém é preciso ter cuidado na escolha e utilização,
remediadores biológicos, e somente técnicos capaci- para que a tecnologia traga apenas vantagens aos
tados podem prover a melhor maneira de utilização tratamentos e ao meio ambiente.
destes produtos. Produtos e profissionais confiáveis
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Uso de biossólidos na produção de


mudas para reflorestamento de
áreas degradadas
Olavo Alberto Prates Sachs
Engenheiro Sanitarista pela Faculdade de Ciências Tecnológicas da PUC – Campinas (1985). Pós-Graduação
em Engenharia de Segurança do Trabalho pela FAAP (1990). MBA pelo Instituto de Tecnologia MAUA (2003).
Mestre em Tecnologia Ambiental pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo – IPT (2005). Professor
do curso de Engenharia e Segurança do Trabalho da UNICAMP, desde 1992. Engenheiro especialista da SA-
BESP desde 1986, com experiência nas áreas de planejamento, projeto, operação, administrativa e manuten-
ção, trabalhando atualmente na Divisão de Operação de Água Oeste – MOEG e Diretor Cultural da AESabesp
nas gestões 2005/2007 e 2007/2009.

O presente trabalho é um resumo da disserta- mus, sendo as evoluções dos ensaios acompanhadas
ção de mestrado apresentada por mim no curso de ao longo de um determinado tempo por intermédio
Tecnologia Ambiental do IPT cujo tema foi “Uso de de medidas e pesagens executadas nas plantas, além
biossólidos na produção de Cytharexyllum myrian- de análises de parâmetros físico-químicos dos solos,
thum Cham. (pau-viola) e foi formulado a partir da húmus e biossólidos que forneceram subsídios para
necessidade de elaboração de estudos no Brasil com analisar os resultados.
alto grau de confiabilidade, que apresentem soluções Os otimos resultados obtidos com o uso de biossó-
para a utilização de lodo provenientes de Estações de lido para esta espécie de planta, nas concentrações de
Tratamento de Esgoto - ETE. (25%,50% e 75%), levam a acreditar que esta é uma
Por intermédio de consultas a revisões bibliográ- alternativa viável a disposição final de lodos, desde
ficas, foram pesquisados artigos sobre a utilização do que sejam tomadas as medidas legais exigidas.
biossólido como substrato ou condicionador de solo
para as mais variadas culturas. Vale ressaltar que para 1. Uso Agrícola do Biossólido
realização deste trabalho foi imprescindível a cola- Como todo assunto polêmico, a seguir, o estudo
boração do biólogo Mauricio Alexandre Mennella da apresentará sínteses de artigos a favor e contra a prá-
MA, responsável pelo viveiro de mudas utilizado, da tica do uso agrícola do lodo de esgoto ou biossólido
Companhia de Saneamento Básico do Estado de São como alternativa de disposição final deste resíduo
Paulo – SABESP, localizado na Reserva Florestal (RF) desde que tomados seus devidos cuidados, em subs-
do Morro Grande, pertencente ao município de Cotia, tituição aos aterros sanitários, que está se tornando
na Região Metropolitana de São Paulo – RMSP, onde um assunto que tem gerado inúmeros experimentos,
foram feitos estudos dos efeitos do uso de biossólidos e estes alimentados vários livros, teses, dissertações,
na cultura de Cytharexyllum myrianthum ou pau- artigos em sites, revistas técnicas que serão sintetiza-
viola, com 252 amostras distribuídas em 6 tratamen- dos neste item.
tos com diferentes porcentagens de biossólido (0%, “A disposição do biossólido em aterros sanitários,
25%, 50% e 75%), na composição volumétrica do de forma contínua e em grande quantidade, diminuiu
solo utilizado, mais tratamentos com nutrientes e hú- rapidamente a vida útil destes locais... atualmente

22 Saneas Janeiro / Fevereiro / MArço | 2009


artigo técnico

existe uma tendência mundial em se priorizar alter- comercial de grande expressão no Espírito Santo, e
nativas que promovam a reciclagem do lodo” (RO- que esta sendo cultivada em solos de tabuleiros que
CHA, GONÇALVES, MOURA, 2004, p.624). são, em sua maioria, arenosos, com baixos teores de
Exemplos em São Paulo e no Paraná apontam para matéria orgânica e pobres em nutrientes. A diferença
a viabilidade do uso agrícola do biossólido, como con- visual na coloração das folhas (mais verdes), devido
dicionador físico e químico de solos usados em culti- ao nitrogênio presente no lodo de esgoto, e o cresci-
vos agrícolas e florestais. mento das plantas em relação às outras testemunhas
“O biossólido é usado em cultivos florestais em que não receberam concentrações variáveis de bios-
vários países, principalmente em regiões temperadas. sólidos foi significativo.
Em países tropicais, seu uso ainda é restrito e pouco Berton et al. (2005) elaborou projetos do uso de
estudado. No Estado de São Paulo, vastas áreas desti- biossólido em bananicultura no Vale do Ribeira e em
nadas às florestas poderiam absorver grande parte do plantações de pupunha no litoral norte do Estado de
biossólodo produzido nas ETE’s.” (ROCHA, GONÇAL- São Paulo no período de 2001 a 2004 e para ambas as
VES, MOURA, 2004, p.624). culturas mesmo com doses elevadas de biossólido, não
Poggiani (2003) coordena estudos junto a Escola foram observados fatores negativos nem na qualidade
Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – ESALQ – nem no crescimento e desenvolvimento das plantas.
USP, que utilizaram lodos de ETE na forma de torta Bettiol (2002) afirma que o lodo de esgoto é utili-
proveniente da ETE – Barueri (BAR) e pellets da ETE zado como fertilizante em culturas de cana de açúcar,
– São Miguel (SM) que estão sendo testados na Esta- milho, feijão, sorgo, soja, arroz, girassol e eucalipto. Por
ção Experimental de Itatinga – SP, em plantações de ser rico em matéria orgânica, reduz a quantidade de
Pinus e Eucalyptus, com ótimos resultados. fungos causadores de pragas. Porém, o lodo não deve
Bettiol (2000) comenta que o biossólido de esgoto ser usado em hortaliças e tubérculos, pois as culturas
é um resíduo obtido na estação de tratamento de esgo- teriam contato direto com o material aplicado.
to e devido a isto devemos tomar um cuidado especial Comparini (2005), apresentou o “case” do biossó-
com o uso indiscriminado deste lodo como adubo para lido chamado SABESFERTIL, produzido na ETE – Franca
a lavoura, pois como o próprio autor comentou no Se- e que obteve registro no Ministério da Agricultura e
minário Gestão, Impacto e Usos de Resíduos no CREA- do Abastecimento sob o nº SP – 09599 00001 – 0, em
SP (2003), “a agricultura não é a latrina do mundo”. 29 de outubro de 1999, como condicionador de solo.
Melo et al. (2005) fez estudos em culturas de café Toda a atual produção do SABESFERTIL é utilizada
e milho utilizando biossólido oriundo da ETE – Barueri, em culturas de café (92%), milho e citrus nas cidades
mais Latossolo Vermelho-Escuro e Latossolo Roxo, du- de Franca, Pedregulho, Ribeirão Corrente, Patrocínio
rante o período de 1997 a 2004, obtendo resultados pro- Paulista, Restinga, Cristais Paulista, Jeriquara, Itirapuã
missores mesmo em solos mais pobres em nutrientes. e São João da Boa Vista.
Também segundo Marchioni Junior (1998), as do- Também temos informações de que o lodo de-
ses de lodo de esgoto proporcionaram aumento na sidratado na ETE de Jundiaí esta sendo utilizado em
produção de colmos de cana-de-açucar e a produção plantações de cana de açúcar na região de Capivari/
mais alta foi observada quando se aplicou 160 Mg ha- SP, com muito sucesso, pois como sabemos o mesmo
1
. A redução da adubação mineral em 50% provocou é rico em nitrogênio e fósforo, elementos essências
aumento de produção de colmos, em relação à adu- para um bom desenvolvimento das plantações.
bação mineral completa. Já a aplicação de 80 Mg ha-1 McCann (2002) revela que outros países além dos
de lodo de esgoto teve efeito semelhante à adubação Estados Unidos e Europa estão preocupados com o
mineral completa. que eles chamam de “Sludge: a global concern”, ou
A pesquisa com a utilização de lodo de ETEs, se- seja, lodo de esgoto uma preocupação global, visando
gundo Costa (2001), em mamoeiro é uma abordagem sua utilização, relegando a um segundo plano os de-
inédita, principalmente por se tratar de uma cultura vidos cuidados legais na utilização dos mesmos.

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artigo técnico

O artigo apresenta exemplos bem sucedidos no Bra- benácea, que é uma espécie pioneira de pleno sol e
sil, Egito, Yemen, Taiwan e Turquia, no que diz respeito à crescimento rápido, que possibilitou um ensaio em
utilização deste produto em culturas agrícolas, mas aler- curto espaço de tempo.
ta para a necessidade do controle dos metais pesados. A Cytharexyllum myrianthum, também conhecida,
Análises das amostras devem ser constantemen- segundo Lorenzi (2002), como pau-viola, tucaneiro
te coletadas para determinarmos macronutrientes e (SC), pau-de-viola (SP), tucaneira, jacareúba, baga-
principalmente evitar que metais pesados como Arsê- de-tucano, pombeiro, tarumã e tarumã-branco.
nio, Cádmio, Chumbo, Mercúrio, Níquel, Selênio, Cro-
mo e Zinco, tenham parâmetros superiores aos limites 3. Desenvolvimento do ensaio e
de concentração de lodo permitidos para aplicação seus substratos
por mg/kg segundo a Standars for the Use and Dispo-
sal of Sewage Sludge e NSSS – Pesquisa Nacional de 3.1. Biossólidos
Lodos de ETE nos EUA. A proposta deste projeto baseia-se em um sub-
O CONAMA através de suas resoluções 380 de 31 produto do lodo obtido por intermédio de um proces-
de outubro de 2006 que retifica a resolução CONAMA so de secagem térmica, produzido no secador térmico
nº375/06 – Define critérios e procedimentos para o existente dentro da Estação de Tratamento de Esgoto
uso agrícola de lodos de esgoto gerados em estações de São Miguel - SM que transforma a torta de lodo
de tratamento de esgoto sanitário e seus produtos proveniente da Estação de Tratamento de Esgoto de
derivados, e da outras providências. Barueri – BAR, com aproximadamente 30% de mate-
rial sólido (MS), em pellets, (Foto 2) com circunferên-
2. Escolha das mudas cia média de 4 a 6 mm e MS em torno de 95%.
Entre as espécies de mudas florestais nativas A capacidade atual de produção de pellets da ETE-
existentes no viveiro, foi escolhida a de pau-viola ou SM é da ordem de 20 t/dia.
Cytharexyllum myrianthum (Foto 1), da família ver-

Foto 1 -Mudas de Cytharexyllum myrianthum ( pau-viola). Foto 2 - Detalhe dos pellets de biossólido com diâmetro de 4 a 6
Fonte: Próprio autor, (2004). mm. Fonte: Próprio autor, (2005).

24 Saneas Janeiro / Fevereiro / MArço | 2009


artigo técnico

3.2 Terra de subsolo localizada no bairro Água Funda na zona sul de São
Terra de subsolo também chamada de terra de bar- Paulo, ponto este o mais próximo do local do ensaio
ranco, muito utilizada nos viveiros de mudas da compa- em situado em Cotia.
nhia, proveniente da região de Atibaia/SP cujas análises
das características físicas e químicas foram executadas 3.5 Tratos culturais das mudas
As mudas foram dispostas aleatoriamente nos
3.3 Húmus de minhoca canteiros a pleno sol e irrigadas através de micro-
Húmus de minhoca, rico em micronutrientes é aspersores diariamente, até atingir a capacidade de
conhecido como um dos mais antigos adubos de campo. As plantas daninhas foram eliminadas manu-
origem orgânica, utilizado na agricultura para me- almente, através da monda e eliminação das folhas
lhorar as características do solo para o desenvolvi- basais senescentes (toalete) a cada 2 meses. As pra-
mento das plantas. gas foram controladas através da aplicação em pul-
verização de defensivos agrícolas. Para evitar danos
3.4 Dados meteorológicos às mudas numa eventual geada, tomou-se o cuida-
Segundo Minami (1995) as condições ambien- dos de cobrir os canteiros com filmes transparentes
tais afetam as funções fisiológicas até a formação de polietileno, nas noites de maior probabilidade de
folhas e podem inibir ou reduzir o pleno funciona- ocorrência do fenômeno.
mento das mesmas.
Dados levantados das médias mensais das tem- 3.6 Composição dos substratos
peraturas do ar, referentes ao ano de 2004, período Foram formulados seis substratos considerando
do experimento, foram obtidos junto a Estação Me- o uso do biossólido, terra de subsolo – TS e húmus
teorológica da Universidade de São Paulo, no Ins- de minhoca, sendo, que se constituíram nos seguin-
tituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmos- tes tratamentos:
féricas, Seção Técnica de Serviços Meteorológicos, Tratamento 1 (T1) composto por 97,5% de terra

Foto 3 - Vista dos trata-


mentos de 1 a 6.
Fonte: Próprio autor,
(2004).

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artigo técnico

Figura 4.
Médias observadas em função do tempo para as variáveis (comprimento raiz, diâmetro caule, altura da planta, massa seca da raiz, massa
seca da folha, massa seca do caule, massa seca da parte aérea da planta e massa seca total), para cada tratamento, na espécie Cythare-
xyllum myrianthum, IPT, São Paulo, SP.
Sendo:
T1- composto por 97,5% de terra de subsolo (TS), 2,5% de húmus de minhoca, correção do pH e adubação.
T2 -, 25% de biossólido – BIO, (em forma de pellets, a 95% de material sólido – MS) e 75% de TS;
T3 -, 50% de BIO e 50% de TS;
T4 - 75% de BIO e 25% de TS;
T5 – terra de subsolo (TS); e
T6 - 50% de húmus e 50% TS.

de subsolo (TS), 2,5% de húmus de minhoca, corre- Tratamento 3 (T3), 50% de BIO e 50% de TS;
ção do pH e adubação. Tratamento 4 (T4), 75% de BIO e 25% de TS;
Obs: Segundo a formulação de Raij et al. (1997), Tratamento 5 (T5), só utilizando TS; e
fez-se a correção de pH do substrato do T1 com apli- Tratamento 6 – T6, 50% de húmus e 50% TS.
cação de 110 g de calcário dolomítico com PRNT de Em cada tratamento foram utilizadas mudas de
100% e incorporação de 35 g de cloreto de potás- pau-viola, provenientes da estufa nº 1, existente no
sio e 77 g de superfosfato simples para cada 0,2 m3 viveiro, onde foram semeadas em bandejas de polies-
terra de subsolo. tireno com 128 células piramidais, contento o subs-
Tratamento 2 (T2), 25% de biossólido – BIO, (em trato comercial marca Plantmax Florestal.
forma de pellets, a 95% de material sólido – MS) e O experimento teve início em 14/05/2003, com
75% de TS; mudas de aproximadamente 5 meses de idade. Foram

26 Saneas Janeiro / Fevereiro / MArço | 2009


artigo técnico

transplantadas em saquinhos plásticos de polietileno Segundo Mantovi, Baldoni e Toberi (2004), os efei-
de cor preta com dimensões de 20 cm de altura e 12 tos dos usos de esgoto a longo prazo em comparação
cm de diâmetro e capacidade de 1 L. com o fertilizante mineral, comprova que o biossólio-
Estes recipientes foram distribuídos em um can- do traz maiores benefícios mas pode causar efeitos
teiro, composto de 40 mudas de pau-vióla, Cythare- negativos na qualidade da água devido as grandes
xyllum myrianthum. quantidades de P e na constituição do solo com a
A seguir as plantas foram separadas em 6 tra- acumulação de Zn.
tamentos enfileirados com os seguintes cuidados Por sua vez o trabalho de Oliver; McLaughin e Mer-
quanto à manutenção: rington (2004), trazem os estudos comparativos dos
■■ canteiros posicionados a pleno sol; elementos presentes nos biossólidos utilizados ao re-
■■ irrigação diária; dor das grandes cidades australianas, durante dezoito
■■ controle manual de plantas daninhas (monda); anos de 1983 a 2001, que apresentaram melhoras sig-
■■ aplicação de defensivos adequados para controle nificativas nas concentrações de metais pesados, com
de pragas; reduções de até 60% devido a melhora na qualidade
■■ dança das plantas e “toalete” a cada 2 meses; e dos efluentes das industrias, graças a uma política de
■■ quando necessário, cobertura das plantas com te- indústrias mais limpas que poluem menos.
lado para prevenir danos contra geada.
5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
4.Discussões finais De acordo com as observações experimentais e as
Embora neste trabalho não tenha sido executado análises dos resultados obtidos, podem ser apresenta-
um ensaio da viabilidade econômica do produto, Tri- das as seguintes conclusões e recomendações:
gueiro e Guerrini (2003), no seu estudo comentam que ■■ O lodo de esgoto ou biossólido (BIO), de acordo com
quando comparando as quantidades de adubo utiliza- os resultados de campo e laboratoriais, finalizados
das nos tratamentos com biossólidos e com o substra- com os ensaios de massa seca, dos tratamentos T3
to comercial Multiplant para a produção das mudas, (50% BIO + 50% TS) e T4 (75% BIO + 25% TS), que
obteve-se uma economia de fertilizantes da ordem de mostrou um potencial positivo e promissor como
64% para o eucalipto e 12,5% para o pinus quando a melhor alternativa a substituição dos fertilizan-
as mudas foram produzidas com biossolidos. Sugere-se tes comerciais, agrícolas/florestais para a espécie
maiores estudos sobre a disponibilização dos nutrientes Cytharexyllum myrianthum.
contidos no biossólido, de forma a se atender as reais ■■ O uso de biossólido em viveiros de mudas e áreas
necessidades das plantas durante sua fase de viveiro, de reflorestamento é uma alternativa viável a dis-
para que, assim, possam ser estabelecidos índices ainda posição final de lodos, desde que sejam tomadas
maiores de economia de fertilizantes. Este, talvez, seja todas as medidas legais exigidas.
o maior atrativo ao usar biossólido como componente ■■ São recomendáveis a elaboração de novos estudos,
em substratos para produção de mudas, sem considerar com outras espécies de plantas nativas, para confir-
o enorme benefício ambiental. mar a total eficácia do substrato em questão. Além
Segundo Dias (1998), o uso de biossólido na agri- de uma ampla divulgação dos seus resultados peran-
cultura brasileira requer uma regulamentação para te a sociedade científica, governo e a comunidade,
seu uso, de maneira similar como é feito, nos Estados disseminando o uso do biossólido, um resíduo sólido
Unidos e Comunidade Européia. Como esses produtos que se tornou uma matéria prima de alta qualidade,
são fertilizantes orgânicos excelentes, a regulamenta- um fertilizante ecologicamente correto.
ção visando proteção ambiental, não precisa abordar ■■ Os substratos com as menores produções em todas
os biossólidos sob esse prisma, visto que tais produ- as variáveis consideradas foram aqueles formula-
tos, submetem a legislação específica do Ministério da dos somente com subsolo (T5) e subsolo com cor-
Agricultura. Por outro lado resta a questão dos metais reção e adubação (T1).
pesados, patógenos, transporte e outras questões es- ■■ Os substratos que apresentaram os melhores resul-
pecífica ao assunto. A melhor alternativa parece ser a tados, foram aqueles formulados com biossólidos
consulta a modelos de regulamentação adotada em nas proporções de 25% de biossólido com 75% de
países desenvolvidos, que tem décadas de experiência, terra de subsolo, 50% de biossólido com 50% de
complementada pela experiência brasileira. terra de subsolo e o com 75% de biossólido com
25% de terra de subsolo.

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Artigo técnico

COMPOSTAGEM ATRAVÉS DE LEIRAS REVOLVIDAS


DA ETE LIMOEIRO/PRESIDENTE PRUDENTE COMO
ALTERNATIVA DE TRATAMENTO DO LODO
Marcelo Kenji Miki (1)
Engenheiro civil pela Escola Politécnica da USP/EPUSP e Mestre em Engenharia Hidráulica pela e Sanitária
pela EPUSP. Engenheiro do Departamento de Controle Sanitário Ambiental/ROA da Diretoria de Sistemas
Regionais - R.
Júlio Chizzolini Júnior
Engenheiro civil do Setor de Produção de Água e Tratamento de Esgotos de Presidente Prudente/RBRP9, res-
ponsável pela operação da ETE Limoeiro em Presidente Prudente.
Fernando Carvalho Oliveira
Engenheiro agrônomo, Mestre e Doutor pela ESALQ/USP.
Jonas Jacob Chiaradia
Engenheiro agrônomo, Mestre pela Universidade Federal de Lavras/UFLA e Doutor pela ESALQ/USP.

Endereço(1): Av. do Estado, nº 561, Unidade ROA, Prédio 3 - Bairro Bom Retiro - São Paulo - SP - CEP: 01107-
900 - Brasil - Tel: +55 (11) 3388-7497 - Fax: +55 (11) 3388-7477 - e-mail: mmiki@sabesp.com.br

INTRODUÇÃO Esta avaliação foi feita com base em resultados


A ETE Limoeiro, localizada no município de Presi- de ensaios piloto com o lodo da ETE Limoeiro em
dente Prudente, foi inaugurada em 2004 e desde en- campo experimental.
tão vem buscando soluções relativas ao lodo.
A questão do tratamento e disposição final do 2 ALTERNATIVAS DE DISPOSIÇÃO FINAL
lodo não foi devidamente equacionada. O atual tra- DO LODO DE ETE
tamento do lodo através de estabilização com cal re- A disposição final do lodo de ETE é uma tarefa fre-
sulta num produto muito fluido e de difícil manipula- qüentemente desprezada na etapa de planejamento
ção. Para que o lodo seja manipulável, são necessárias e a sua devida adequação só é feita na etapa opera-
novas extensões de área para realizar esta secagem ção propriamente dita, levando a muitas dificuldades
adicional e que não foram previstas em projeto. logísticas. Antigamente na etapa de projeto de uma
Devido a esta falha na técnica com a calagem, ETE, a solução de disposição final do lodo limitava-se
vários esforços vêm sendo realizados de forma a se a uma flecha e um caminhão.
estudar a compostagem como alternativa de trata- Sabe-se hoje que a fase sólida de uma ETE é res-
mento do lodo para disposição final agrícola. ponsável por 40% dos custos de investimento, 50% dos
Este estudo veio somar estes esforços de forma a custos operacionais e 90% dos problemas operacionais,
aprofundar na questão de parâmetros operacionais e conforme VESILIND (1980) apud SPELLMAN (1997).
de projeto, de forma a subsidiar o processo de escolha A dificuldade da definição da disposição final esbarra
de alternativas de tratamento de lodo. também na dificuldade de se prever a qualidade do lodo
e a inexistência de caracterização deste lodo, não sendo
1 OBJETIVO possível checar a possibilidade de disposição agrícola.
Avaliar a compostagem como alternativa de tra- Desta forma, a primeira opção a ser levada em con-
tamento do lodo da ETE Limoeiro, tomando como pa- ta na etapa de projeto para disposição final do lodo
râmetro de comparação o método atual de calagem. deveria ser a utilização de aterro sanitário. Sabe-se, no

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Artigo técnico

entanto, que muitos municípios do Estado de São Paulo cagem, ser utilizado como condicionador de solo, ou
não possuem aterros sanitários, o que inviabilizaria esta como substrato de planta.
alternativa. Caberia desta maneira a adoção de aterros
exclusivos para resolver a solução do problema de lodos Tabela 3.1: Vantagens e desvantagens do processo de com-
postagem em relação a outros tratamentos de lodo
na fase inicial de operação da ETE. Em segunda etapa,
Vantagens Desvantagens
buscar-se-iam soluções que privilegiassem a reutiliza-
Produto final estocável Necessita de um teor de sólidos do
ção, como por exemplo, o uso agrícola.
lodo entre 18 a 30%
Para o problema de lodo da ETE Limoeiro, a etapa
Produto final com potencial Necessita agentes estruturantes
de curto prazo escolhida foi a implantação do aterro para venda
exclusivo de lodo. Em paralelo, estuda-se a viabilidade Pode ser combinado com Pode necessitar de grandes áreas
técnica e econômica de utilização agrícola do lodo. outros processos
Para realizar este uso agrícola, o lodo deve sofrer um Baixos custos comparados Altos custos em comparação com a
processo de tratamento, que pode ser tanto a com- com a incineração aplicação direta no solo
postagem como a estabilização química com cal. Potencial geração de bioaerosóis
Tanto um tipo de tratamento como outro depen- Potencial geração de maus odores
dem ainda de estudos mais aprofundados para torná-
lo operacional. Cabe em primeiro lugar definir certos conceitos
Este estudo procurou aprofundar mais especifi- utilizados na agronomia, de modo possibilitar uma
camente a compostagem como alternativa de trata- visão mais clara do processo aos profissionais perten-
mento do lodo para a ETE Limoeiro. centes a engenharia sanitária.
Os produtos derivados de lodo de ETE (como por
3.1 GENERALIDADES SOBRE exemplo, lodo compostado e lodo estabilizado com
A COMPOSTAGEM cal) são categorizados como fertilizantes, de acordo
De acordo com GOLUEKE (1977) apud SPINOSA; VE- com a Instrução Normativa/IN nº 23, 31/08/2005,
SILIND (2001) a compostagem é um método controlado publicada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e
de decomposição biológica dos componentes orgânicos Abastecimento – MAPA.
do lodo em determinadas condições e cujo produto No artigo 1º, do Anexo I, da IN 23, tem-se a se-
final pode ser manipulado, estocado e/ou aplicado ao guinte definição:
solo sem afetar de forma adversa o meio ambiente. ■■ fertilizante orgânico: produto de natureza funda-
De acordo com WEF (1996), os principais objetivos mentalmente orgânica, obtido por processo físico,
da compostagem são: químico, físico-químico ou bioquímico, natural ou
■■ Conversão biológica da matéria orgânica putrescí- controlado, a partir de matérias-primas de ori-
vel numa forma estabilizada; gem industrial, urbana ou rural, vegetal ou ani-
■■ Destruição de patógenos. O calor gerado durante mal, enriquecido ou não de nutrientes minerais;
a compostagem resulta numa desinfecção (e não E mais adiante no inciso d:
esterilização) do produto final. ■■ lodo de esgoto: fertilizante orgânico composto,
■■ Redução da massa total de lodo através da remo- proveniente do sistema de tratamento de esgotos
ção de água e sólidos voláteis (embora a introdu- sanitários, que resulte em produto de utilização
ção de um agente estruturante feita para facilitar segura na agricultura, atendendo aos limites esta-
o processo de compostagem possa resultar num belecidos para contaminantes;
volume maior que o original de lodo); No artigo 2º, do Anexo I, da IN 23, cita-se que os
■■ Produção de produto final utilizável. fertilizantes orgânicos são classificados de acordo com
KROGMANN (2001), autor do capítulo de compos- as matérias primas utilizadas. E no inciso IV temos:
tagem de SPINOSA; VESILIND (2001), cita as vanta- ■■ Classe “D”: fertilizante orgânico que, em sua produção,
gens e desvantagens deste processo, conforme tabela utiliza qualquer quantidade de matéria-prima oriun-
3.1. A maior vantagem da compostagem é a obtenção da do tratamento de despejos sanitários, resultando
de um produto final de uso imediato, ou, após esto- em produto de utilização segura na agricultura.

Janeiro / fevereiro / Março | 2009 Saneas 29


Artigo técnico

Antes destas definições, o lodo de esgoto recaía na De acordo com METCALF & EDDY (2003), aproxi-
definição de corretivo, como foi o caso do registro do madamente 20 a 30% dos sólidos voláteis são con-
biossólido de Franca, realizado em 1999 e documenta- vertidos em dióxido de carbono e água. À medida que
do em TSUTIYA (2001). A definição atual de fertilizante a matéria orgânica no lodo se decompõe, o composto
pode dar a falsa idéia de que o lodo de esgoto possui atinge temperaturas na faixa de pasteurização (50
todos os nutrientes necessários para o desenvolvimen- a 70ºC) e conseqüentemente destruindo os organis-
to das plantas, erro este que não ocorria quando o lodo mos patogênicos. Na compostagem, a destruição de
era categorizado como condicionador de solo. matéria orgânica em conjunto com a produção de
Ainda segundo KROGMANN (2001), os custos de ácido húmico produz o composto final estabilizado.
investimento e de operação podem ser maiores ou Os microorganismos envolvidos recaem em três cate-
menores que outras formas de tratamento e disposi- gorias: bactérias, actinomicetos (particular grupo de
ção final. As maiores desvantagens da compostagem bactérias) e fungos. Embora a inter-relação destas po-
de lodo são o possível aumento de volume devido pulações microbiológicas não seja totalmente enten-
ao acréscimo de agentes estruturantes e emissões dida, a atividade bacteriana aparenta ser responsável
de maus odores e bioaerosóis (partículas com bac- pela decomposição de proteínas, lipídios e gorduras
térias, fungos ou vírus). Devido à adição de agentes a temperaturas termofílicas, assim como também
estruturantes, o volume do composto final pode ser pela maior parte do calor gerado. Os fungos e acti-
o mesmo ou mesmo maior que o volume original de nomicetos estão também presentes nas fases meso-
lodo. Agentes estruturantes, como o cavaco de ma- fílica (abaixo de 40ºC) e termofílica (acima de 40ºC)
deira, são misturados com o lodo de forma a ajustar da compostagem e aparentemente são responsáveis
as propriedades da mistura. A adição de um agente pela destruição de compostos orgânicos complexos e
estruturante pode ser cara caso não haja outros resí- a celulose fornecida na forma de agente estruturante.
duos disponíveis, como por exemplo, podas de árvore. Durante o processo de compostagem, são observados
Outra desvantagem da compostagem é a necessidade 3 estágios de atividade a associado à temperatura:
de grandes áreas para a sua implantação. mesofílica, termofílica e maturação conforme ilus-
trado na figura 3.1. No estágio inicial mesofílico, a
3.2 PROCESSO DE COMPOSTAGEM temperatura na pilha de compostagem sobe da tem-
Na compostagem, adiciona-se ao lodo um mate- peratura ambiente a aproximadamente 40ºC com o
rial, conhecido com o nome de agente estruturante. surgimento de fungos e bactérias produtoras de áci-
Na realidade este termo não exprime completamente dos. A medida que a temperatura da massa de com-
a sua função, pois além de proporcionar uma estrutu- posto sobe para a região termofílica de 40 a 70 ºC,
ra à mistura com o lodo, este material tem a função estes microrganismos dão lugar às bactérias termofí-
de adicionar carbono para ajustar o balanço de ener- licas, actinomicetos e fungos termofílicos. É na faixa
gia e a relação carbono/nitrogênio (C/N). termofílica de temperatura que ocorre a máxima de-
De acordo com KROGMANN (2001), a composta- gradação e estabilização de matéria orgânica. A fase
gem pode processar todos os tipos de lodo. No en- de maturação caracteriza-se pela redução da ativida-
tanto, a compostagem de um lodo não digerido tem de microbiana e a troca dos organismos termofílicos
maiores chances de desprender maus odores do que pelos fungos e bactérias mesofílicas. Durante a fase
a compostagem de um lodo digerido e aproximada- de maturação, ocorrerá uma evaporação adicional de
mente 40% a mais de área de pátio de processo. Por água do composto, assim como o pH se estabilizará e
outro lado, um lodo não digerido irá produzir muito se completará a formação de ácido húmico.
mais calor e conseqüentemente um teor de sólidos A descrição do processo de compostagem a seguir
final mais alto. Durante o processo de compostagem, também foi retirada de METCALF & EDDY (2003).
os microorganismos degradam a matéria orgânica do A maior parte das operações de compostagem se-
lodo e, numa menor proporção, do agente estrutu- gue as seguintes etapas: 1) pré-processamento através
rante. Os produtos finais da degradação aeróbica são da mistura do lodo desidratado com agente estrutu-
em sua maioria água, dióxido de carbono, biomassa rante; 2) decomposição a alta taxa através da aeração
(microrganismos) e o composto estabilizado. da pilha de composto tanto por adição de ar como por

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Figura 3.1: Fases durante a compostagem relatadas em função da respiração de dióxido de carbono e temperatura

revolvimento mecânico; 3) recuperação de agente es- um produto uniforme. No método estático, o material a
truturante (no final da decomposição de alta taxa ou ser compostado permanece parado e o ar é succionado
na fase de maturação, se praticável); 4) maturação e através dele. A leira revolvida é o método mais comum
estocagem, que permite uma maior estabilização e do tipo agitado, enquanto a pilha estática é o método
uma diminuição da temperatura do composto; 5) pós- mais comum do tipo estático. Também há compostagem
processamento através de gradeamento para remoção em reatores fechados com registro de propriedade.
de material não degradável como metais e plásticos ou De acordo com VESILIND (2003), o termo matu-
ainda trituração para redução de tamanho e 6) disposi- ração refere-se à conversão dos componentes rapi-
ção final. Algumas vezes, uma porção do produto final damente biodegradáveis do lodo e do agente estru-
retorna para a etapa de pré-processamento para con- turante em substâncias similares ao húmus do solo
dicionar a mistura do composto. que se decompõe de forma devagar. Um composto
O estágio de decomposição a alta taxa vêm so- sem a adequada maturação irá se reaquecer e gerar
frendo melhorias de engenharia e de controle de odores na estocagem sob nova adição de água. Tam-
processo devido à necessidade de redução de odores, bém pode inibir a germinação de sementes através da
suprimento de maiores taxas de aeração e manuten- geração de ácidos orgânicos e inibir o crescimento de
ção de controle de processo. O processo de maturação plantas através da remoção de nitrogênio a medida
sofre menor atenção da engenharia, menor controle e que se decompõe.
também pequena consideração nos projetos. De acor- De acordo com PEREIRA NETO (2000), cita que a
do com HAUG (1993) apud METCALF & EDDY (2003), a prática do uso de composto não maturado a partir de
maturação é parte integrante de um projeto de com- lixo doméstico tem levado a compostagem a gran-
postagem e da operação, e a produção de um com- de descrédito, pois acreditam, erroneamente, ser este
posto bem maturado depende destas considerações. um problema associado ao uso de composto orgâ-
Os principais métodos de compostagem nos EUA nico proveniente da fração orgânica do lixo urbano.
são classificados como agitado ou estático. No método Na verdade, qualquer composto não maturado leva à
agitado, o material a ser compostado é agitado perio- produção de toxinas no solo, o que inibe a germinação
dicamente para a introdução de oxigênio, para o con- de sementes e atrofia as plântulas, leva à liberação de
trole de temperatura e para misturar o material e obter amônia (que é tóxica aos vegetais) e pode provocar

Janeiro / fevereiro / Março | 2009 Saneas 31


Artigo técnico

uma redução bioquímica do nitrogênio do solo, etc. 3.4 VARIÁVEIS OPERACIONAIS


Ou seja, o composto não maturado só trará malefícios As principais variáveis operacionais de um proces-
aos solos e plantas. so de compostagem por leira revolvida são: umidade
resultante, aeração da pilha, temperatura, relação C/N
3.3 PARÂMETROS DE PROJETO e pH (faixa ótima entre 7 e 8).
DE COMPOSTAGEM COM LEIRAS De acordo com KROGMANN (2001), a umidade
REVOLVIDAS é essencial para o processo de decomposição, pois a
Dentre os sistemas existentes de compostagem, maior parte da atividade microbiana ocorre nas finas
damos destaque para o sistema de leiras revolvidas camadas de líquido situada sobre a superfície das
devido à maior experiência prática no Brasil. Foram partículas. Os microrganismos absorvem os nutrien-
realizados alguns testes de leira estática com o lodo tes dissolvidos oriundo do substrato do composto.
de São José dos Campos, mas os testes não se mos- Durante o processo de compostagem, o conteúdo
traram promissores devido a grande quantidade de mínimo de umidade depende das demandas dos mi-
agente estruturante a ser incorporado. croorganismos pela água, onde a máxima umidade
De acordo com METCALF & EDDY (2003), neste mé- para compostagem é determinada pela competição
todo as leiras são revolvidas e misturadas durante o entre ar e água nos poros (suprimento de O2). A fai-
período de compostagem. Sob condições típicas opera- xa mínima de umidade requerida para a degradação
cionais, a leira é revolvida no mínimo 5 vezes enquan- microbiológica ocorrer situa-se entre 12 a 25%. De
to a temperatura é mantida em temperatura igual ou acordo com a WEF (1995), a umidade inicial da mis-
maior a 55ºC. Numa leira de compostagem, as condi- tura de lodo com agente estruturante deve se situar
ções aeróbicas são difíceis de serem mantidas ao longo entre 55 a 60%.
da seção da leira. Desta forma, a atividade microbiana De acordo com KROGMANN (2001), a aeração,
dentro da pilha pode ser aeróbia, facultativa, anaeróbia, além de fornecer oxigênio, tem a função de secar o
ou várias combinações, dependendo da freqüência de composto e controlar a temperatura, que pode ser
revolvimento da leira. O revolvimento da leira normal- prejudicial aos microrganismos, caso não for con-
mente é acompanhado do desprendimento de odores. trolada. No começo do processo de compostagem, a
O desprendimento de maus odores ocorre tipicamente alta taxa de degradação resulta numa alta demanda
quando são desenvolvidas condições predominante- de oxigênio comparada com a demanda média. Uma
mente anaeróbias dentro da leira. Para realizar a mistu- maior oxigenação pode ser obtida através uma fre-
ra do lodo com o agente estruturante são necessários qüência maior de revolvimento da leira.
equipamentos especialmente desenvolvidos para esta De acordo com KROGMANN (2001), a maior parte
função. Em alguns casos, as operações de leira revolvi- dos experimentos concluiu que a temperatura ótima
das são feitas de forma coberta. de compostagem na fase de alta degradação é de
Os parâmetros de projeto e de operação para leira aproximadamente 55ºC. Em temperaturas acima de
revolvida são apresentados a seguir. 60ºC, a diversidade de microrganismos é extrema-
Leiras de 1 a 2 m de altura e 2 a 4,5 m de largura mente reduzida. A 70ºC a atividade microbiológica
de base;* total é aproximadamente de 10 -15% da atividade a
Tempo de detenção de 21 a 28 dias;* 60ºC. Já entre 75 a 80ºC, não há atividade biológica
Tempo de cura: 30 dias**, significativa. Durante a maturação, a temperatura é
Revolvimento mínimo de 5 vezes;* baixa. Por exemplo, a temperatura ótima para nitrifi-
Temperatura acima de 55 º C,* cação ocorre em aproximadamente 30 ºC.
Teor de sólidos inicial da mistura: 40 a 45%;** De acordo com KROGMANN (2001), a quantidade
* Fonte: Wastewater engineering, Metcalf and Eddy, 2003. de nutrientes necessários para a compostagem depen-
** Fonte: Wastewater treatment plant design, Vesilind, de da composição química dos microorganismos de-
WEF, IWA, 2003. compositores e doa elementos adicionais que são en-
De acordo com WEF (1998) o teor de sólidos inicial volvidos no metabolismo. Com exceção do nitrogênio,
da mistura de lodo com o agente estruturante numa os resíduos normalmente contém macro-nutrientes o
faixa de 40 a 45%. suficiente incluindo carbono, compostos sulfurosos,

32 Saneas Janeiro / Fevereiro / MArço | 2009


Artigo técnico

Teor de sólidos do lodo Teor de sólidos do Agente Proporção Volumétrica de agente estru-
desidratado (%) estruturante (%) turante / lodo desidratado
Função do Teor de Sólidos do lodo desidratado
16 55 3,3
18 55 3,02
20 55 2,75
22 55 2,47
24 55 2,2
26 55 1,92
Função do Teor de Sólidos do agente estruturante
20 45 8,33
20 50 4,17
20 55 2,75
20 60 2,08

Tabela 3.1: Cálculo da proporção de agente estruturante e lodo desidratado


Premissas:
Teor de sólidos da mistura: 40%
Massa específica da mistura: 978,95 kg/m3
Massa específica do agente estruturante: 474,64 kg/m3
Esta tabela aplica-se para uma pilha estática utilizando-se cavacos de madeira. A extrapolação para maiores teores
de sólidos pode levar a uma insuficiência de material agregante de forma a proporcionar porosidade.
Fonte: WEF (1998)

Resíduo pH % água SF/ST (%) P% N% C% C/N


estruturante
Resíduos de 6,9 30 9 0,09 1,1 51 46
podas de árvore
Bagaço de cana 3,7 20-40 3 0,1 0,20 47 235
de açúcar
Serragem de 8,0 30 2 0,50 0,10 49 490
madeira
Sabugo de 7,5 10 7 0,30 0,40 46 115
milho
Palha de trigo 7,5 6 5 0,50 0,50 43 86
Cascas de café 5,1 10 5 0,08 1,20 46 38

Tabela 3.2: Características de alguns resíduos vegetais utilizados como agentes estruturantes na compostagem do lodo
Fonte: PROSAB (1999) apud Silva et Fernandes, 1998; Fernandes et Soares, 1992; Fernandes et al, 1988

Parâmetro Baixo Médio Alto


Altura (m) 0,9 1,4 2,1
Base (m) 3,7 4,3 7,0
Volume por comprimento (m3/m) 2,3 3,1 8,8
Relação superfície/volume (m3/m2) 2,6 1,6 0,8

Tabela 3.3: Comparação entre dimensões das leiras e áreas necessárias para a compostagem, pelo sistema de leira reviradas
Fonte: PROSAB (1999) apud Hay et al, 1985.

Janeiro / fevereiro / Março | 2009 Saneas 33


Artigo técnico

enxofre, fósforo, potássio, magnésio, cálcio, e micro- neste ano de 2008. Foi adotado como regime opera-
nutrientes para manter o processo de compostagem. cional a idade de lodo de 12 dias.
No começo do processo de compostagem a relação de Adotando-se um teor de sólidos da torta de 16%
C/N deve se situar entre 20:1 a 30:1. Muitas vezes a e massa específica de 1,1 t/m3, teremos uma produção
relação C/N é negligenciada. Uma relação C/N muito de lodo de 57,5 t/dia ou 52,3 m3/dia.
alta diminui a velocidade de degradação microbiana
e uma relação C/N muito baixa resulta no despren- 4.2 BAGAÇO DE CANA
dimento de amônia. O método mais importante de O bagaço de cana utilizado possuía as seguintes
controle desta relação é através da variação da com- características:
posição de agente estruturante e lodo. Massa específica: 0,2 t/m3
Teor de sólidos: 70%;
4 ENSAIOS UTILIZADOS
Para checar os valores citados na literatura, foi 4.3 TESTE PILOTO EM JUNDIAÍ DE
realizado um teste piloto de forma a obter dados SISTEMA DE LEIRAS REVOLVIDAS
operacionais e assim confrontá-los com os de lite- A metodologia operacional adotada para a reali-
ratura de forma a poder se estabelecer parâmetros zação do teste de compostagem foi a seguinte.
específicos de projeto para o caso da ETE Limoeiro Estabeleceu-se uma proporção inicial de volumétri-
de Presidente Prudente. ca de bagaço/lodo. A proporção inicial adota foi próxi-
ma de 1:1, o que levou a anaerobiose após 2 horas.
4.1 LODO A segunda proporção volumétrica estabelecida foi de
O lodo utilizado foi gerado na ETE Limoeiro do mu- 2:1 e iniciou-se o acompanhamento e monitoramento.
nicípio de Presidente Prudente e cujo fluxograma está No dia da mistura de lodo com bagaço de cana,
apresentado na figura 4.1. O lodo é do tipo secundário, foi revolvida a pilha duas vezes por período (manhã
gerado no tanque de aeração de um sistema de lodos e tarde).
ativados. No sistema existente não há decantador pri- No 2º dia, a mistura foi revolvida por duas vezes,
mário e nem digestor anaeróbio de lodo. De forma a uma de manhã e outra no período final da tarde.
tornar o lodo menos agressivo, a ETE está operando Do 3º dia até o 5º dia o composto foi revolvido
com uma idade de lodo mais alta que a proposta origi- apenas uma vez ao dia.
nalmente em projeto, em torno de 18 dias. A partir do 6º dia até o 11º dia, o revolvimento foi
Para efeitos de dimensionamento, a produção de feito uma vez por dia em dias alternados.
lodo adotada será de 9,2 t em base seca por dia. Este A partir do 12º dia em seguida, o revolvimento
horizonte refere-se à ampliação de recebimento de ocorreu uma vez por semana para deixar maturar.
vazão da ETE Limoeiro de 478 L/s prevista para chegar

Figura 4.1: fluxograma da ETE Limoeiro

34 Saneas Janeiro / Fevereiro / MArço | 2009


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4.3.1 DADOS INICIAIS ■■ massa seca inicial: 2,2 t;


a) Caracterização do lodo Para esta proporção o teste não deu prosseguimento.
Parâmetro Unidade (1) Valor Para proporção aproximada de 1: 2
pH 6,9 ■■ massa total: 5,2 t;
Umidade, a 60 - 65ºC % (m/m) 83,9 ■■ volume: 26 m3;
Sólidos Totais % (m/m) 16,1 ■■ massa seca inicial: 3,6 t;
Sólidos Voláteis % (m/m) 65,8 ■■ Proporção volumétrica: 26/14,10 = 1,8 bagaço/
Carbono orgânico g de C/kg 386 lodo;
Nitrogênio Kjeldahl g de N/kg 48,5 ■■ Proporção em massa: 3 lodo/bagaço;
Nitrogênio, amoniacal mg de N/kg 313
■■ Proporção em massa seca: 1,4 bagaço/lodo
Nitrogênio, nitrato-nitrito mg de N /kg 11,9
■■ Leira Resultante de 1,1 de altura com 3,0 m de base,
Alumínio mg de Al/kg 9240
largura do topo superior de 0,8 m e comprimento
Arsênio mg de As/kg <0,5(2)
de 16 m, conforme ilustrado na figura 3.2.
Bário mg de Ba/kg 461
Boro mg de B/kg 10,3
4.3.2 DADOS FINAIS
■■ tempo de processamento: 30 dias
Cádmio mg de Cd/kg <0,5(2)
■■ massa resultante final de composto: 6,576 tonela-
Cálcio g de Ca/kg 5,2
das (base úmida);
Chumbo mg de Pb/kg 4,7
■■ teor de sólidos final: 70%;
Cobre mg de Cu/kg 194
■■ massa específica do composto: 0,5 t/m3;
Cromo mg de Cr/kg 572
■■ volume final de composto: 13,2 m3;
Enxofre g de S/kg 9,0
Ferro mg de Fe/kg 12720
De forma resumida, apresentamos a seguir a tabela
Fósforo g de P/kg 10,0
4.2 com os volumes e massas envolvidas no teste piloto.
Magnésio g de MG/kg 2,3
Manganês mg de Mn/kg 78,8
Mercúrio mg de Hg/kg <0,5(2)
Molibdênio mg de Mo/kg 0,8
Níquel mg de Ni/kg 29,6
Potássio mg de K/kg 3350
Selênio mg de Se/kg <0,5(2)
Sódio mg de Na/kg 817
Zinco mg de Zn/kg 534

b) Lodo
■■ massa inicial: 15,5 t;
■■ volume inicial: 14,1 m3
■■ teor de sólidos: 16%; Figura 4.2: Seção da leira inicial formada
- Volume da Leira de Composto (Lodo + Bagaço)
■■ SF/ST: 34,2%;
(3,0 + 0,8) x (1,10/2) x 16 = 33,4 m3
■■ massa específica: 1,1 kg/L; - Cálculo da massa específica resultante da mistura inicial de lodo
■■ massa seca inicial: 2,5 t; mais bagaço:
c) Bagaço de Cana Massa total: 15,5 + 5,2 = 20,7 t
Massa específica da mistura inicial: 20,7/33,4 = 0,6 t / m3
Características:
■■ massa específica: 0,2 kg/L;
■■ teor de sólidos: 70%
Para proporção aproximada de 1:1
■■ massa total: 3,2 t;
■■ volume: 16 m3;

Janeiro / fevereiro / Março | 2009 Saneas 35


Artigo técnico

Tabela 4.3: Monitoramento de temperatura na leira

Item Massa espe- Teor de Volume Massa Massa 4.3.3 DADOS DE MONITORAMENTO DE
cífica (t/m3) Sólidos (m3) (t)
seca (t) TEMPERATURA
(%)
O monitoramento da temperatura da leira foi feito
Lodo 1,1 16% 14,1 15,5 2,5
em três seções e em cada seção em três pontos. Os
origi-
nal dados monitorados estão apresentados na Tabela 4.3.
Baga- 0,2 70% 26 5,2 3,6
ço 5 ANÁLISE DOS RESULTADOS
d e
cana 5.1 ATENDIMENTO AOS CRITÉRIOS
C o m - 0,6 30% 33,4 20,7 6,1 DE REDUÇÃO DE ATRATIVIDADE DE
posto VETORES E REDUÇÃO ADICIONAL DE
inicial
PATÓGENOS
C o m - 0,5 70% 13,2 6,6 4,6
A Resolução CONAMA nº 375 (29/08/2006) e sua
posto
final respectiva alteração, CONAMA nº 380 (31/10/2006)
estabelecem as condições aceitas de redução adicio-
nal de patógenos (necessários para a obtenção de lo-
Tabela 4.2: Quadro resumo de massas e volumes envolvidos
dos de esgoto ou produto derivado tipo A) e redução
na compostagem
da atratividade de vetores.

36 Saneas Janeiro / Fevereiro / MArço | 2009


Artigo técnico

Para compostagem por leiras revolvidas têm-se a) proporção volumétrica aproximada de 1: 1


condições específicas estabelecidas nestas resoluções. Lodo: C = 38,60%; N = 4,85%
Para a redução de atratividade de vetores, tem-se Bagaço de Cana: C = 45,30%; N = 0,30%;
a seguinte condição: Massa seca de lodo (t) = 16% x 15,5 t = 2,5 t
“critério 5 - relacionado à compostagem ou outro Massa seca de bagaço de cana (t) = 70% x 3,2 = 2,2 t
processo aeróbio: durante o processo, a temperatura C/N = (2,5 x 38,60% + 2,2 x 45,30%) / (2,5 x 4,85%
deve ser mantida acima de 40º C por pelo menos 14 + 2,2 x 0,30%) = 15
dias. A temperatura média durante este período deve Ou seja, a proporção de 1:1 não atendeu ao cri-
ser maior que 45°C”. tério C/N.
Para a redução adicional de patógenos, tem-se a b) proporção volumétrica aproximada de 1 (lodo):2
seguinte condição: (bagaço)
“compostagem confinada ou em leiras aeradas Massa seca de lodo (t) = 16% x 15,5 t = 2,5 t
(3 dias a 55ºC no mínimo) ou com revolvimento das Massa seca de bagaço de cana (t) = 70% x 5,2 = 3,6 t
leiras (15 dias a 55ºC no mínimo, com revolvimento C/N = (2,5x 38,60% + 3,6 x 45,30%) / (2,5 x 4,85%
mecânico da leira durante pelo menos 5 dias ao longo + 3,6 x 0,30%) = 20
dos 15 do processo); O valor de C/N de 20% foi bem no limite inferior
O critério de redução de atratividade de vetores da faixa recomendável. Podemos considerar aceito,
foi atendido através da constatação de uma tempe- pois a operação foi satisfatória com relação à tempe-
ratura média na leira acima de 45ºC do 2º ao 26º dia ratura atingida na leira.
durante 25 dias. Outra questão interessante a ser abordada é a
O critério de redução de adicional de patógenos influência do teor de sólidos na proporção C/N, para
foi atendido através da constatação de uma tempe- uma mesma proporção volumétrica de bagaço/lodo.
ratura média na leira acima de 45ºC do 3º ao 22º dia Caso a fase de desidratação de lodo apresentasse
durante 20 dias. valores maiores ou menores que o desempenho atu-
A fase mesofílica (acima de 40 ºC) foi extremamen- al de 16% de teor de sólidos da centrífuga, podemos
te rápida, ocorrendo em menos de 12 horas da monta- calcular, para uma mesma proporção volumétrica de
gem da leira. Até o fim do experimento a temperatura bagaço/lodo, os diferentes valores de C/N.
permaneceu na fase termofílica (acima de 40ºC). Podemos observar que a relação C/N fica prejudica-
Desta forma, o processo adotado atendeu aos cri- da quanto maior for o teor de sólidos do lodo original.
térios estabelecidos pela Resolução CONAMA. Ou seja, quanto maior o teor de sólidos do lodo original,
Um aspecto que merece ser levantado refere-se à maior será a dosagem de bagaço de cana em proporção
ênfase dada a questão de higienização do composto volumétrica, de modo a preservar a relação C/N.
pela Resolução nº 375 (29/08/2006) e a total ausência Por outro deve-se ressaltar que há um limite ope-
de requisito operacional na questão de maturação do racional do baixo teor de sólidos do lodo de forma a
composto. Se for levada em conta apenas a etapa de resultar numa pilha com aeração. Para o teor de sólidos
higienização, a demanda de área será menor em re- de 16% foi ainda possível montar uma pilha aerada.
lação à demanda conjunta de higienização e matura-
ção. No entanto esta demanda não chega a ser o do- 5.3 CHECAGEM DO TEOR DE
bro da área, conforme vai ser calculado mais a frente. SÓLIDOS DA MISTURA INICIAL DE
Na fase de maturação, parte da matéria orgânica já LODO DESIDRATADO + AGENTE
terá sido convertida em gás carbônico, diminuindo- ESTRUTURANTE
se o volume e as pilhas podem ser feitas com alturas O teor de sólidos da mistura resultante deve ser
bem maiores que as da fase de higienização. entre 55 e 65%. A checagem também foi feita tanto
para a proporção volumétrica (lodo/bagaço) inicial de
5.2 CHECAGEM DA PROPORÇÃO C/N 1: 1 como de 1: 2.
A relação C/N deve ficar entre 20 a 30%. A che- a) proporção volumétrica aproximada de 1: 1
cagem foi feita tanto para a proporção volumétrica massa inicial de lodo: 15,5 t
(lodo/bagaço) inicial de 1: 1 como de 1: 2. massa seca de lodo: 2,5 t

Janeiro / fevereiro / Março | 2009 Saneas 37


Artigo técnico

teor de sólidos do lodo: 16% Cabe observar que este balanço de massa foi es-
massa de bagaço: 3,2 t pecífico para o lodo da ETE Limoeiro, que é um lodo
massa seca de bagaço: 2,2 t do tipo secundário e digerido de forma precária. Este
teor de sólidos do bagaço: 70% tipo de lodo é um dos mais difíceis de manipulação
massa total de lodo e bagaço: 18,7 t de processo. A alta proporção de SV/ST do lodo da
massa seca de lodo e bagaço: 4,7 t ETE Limoeiro de 65,8% tem como conseqüência uma
teor de sólidos da mistura de lodo e bagaço: 4,7/18,7 desidratação de lodo menos eficiente devido a alta
= 25% proporção de água intra-celular. Esta estabilização
Não atendeu ao critério de teor de sólidos entre 45 a 40. deficiente também gera problemas de alta atração de
b) proporção volumétrica aproximada de 1: 2 vetores e odores, levando à necessidade de uma esta-
massa inicial de lodo: 15,5 t bilização deste lodo.
massa seca de lodo: 2,5 t Por outro lado esta mesma deficiência de estabi-
teor de sólidos do lodo: 16% lização favoreceu a alta reatividade do lodo com o
massa de bagaço: 5,2 t bagaço de cana, levando-se a atingir altas temperatu-
massa seca de bagaço: 3,6 t ras num curto espaço de tempo, significativa perda de
teor de sólidos do bagaço: 70% massa em base seca e grande perda de umidade.
massa total de lodo e bagaço: 15,5 + 5,2 = 20,7 t
massa seca de lodo e bagaço: 2,5 + 3,6 = 6,1 t 6 AVALIAÇÃO DE CUSTOS
teor de sólidos da mistura de lodo e bagaço: 6,1/20,7 OPERACIONAIS E DE INVESTIMENTO
= 29% Neste item iremos avaliar os custos operacionais e
De acordo com o critério de umidade, o teor de de investimento para a alternativa de compostagem e
sólidos da mistura de 29% não atendeu a faixa re- de estabilização com cal.
comendada de teor de sólidos entre 45 a 40%. No
entanto, este teor de sólidos baixo não prejudicou o 6.1 INVESTIMENTOS NECESSÁRIOS
processo de compostagem e possibilitou uma estru- PARA COMPOSTAGEM
tura na pilha com a criação de poros suficientes para Para a leira inicial admitiremos as mesmas dimen-
permitir a aeração. Isto foi devido ao tipo de agente sões obtidas no teste piloto, ou seja, altura de 1,10 m,
estruturante utilizado (bagaço de cana), bem como do base de 3,0 m e topo com largura de 0,8 m. Admitire-
adequado ajuste da máquina de revolvimento de leira mos que cada leira terá 200 m.
e sua adequada operação. - Comprimento da leira: 200 m;
Podemos considerar, para este caso, que a relação - Volume total de 1 leira: (3,0 + 0,8)/2 * 1,10 * 200 =
C/N seria o fator mais limitante que a o teor de sólidos 418 m3 por leira;
da mistura inicial resultante. - áreas de borda: 10 m cabeceira;
- teor de sólidos do lodo: 16%;
5.4 AUMENTO OU DIMINUIÇÃO - produção de lodo: 57,5 t/dia ou 52,3 m3/dia;
DO VOLUME E DA MASSA NA - Proporção volumétrica de bagaço de cana por lodo
COMPOSTAGEM desidratado: 2;
Desconsiderando a ocorrência de mudanças sig- - teor de umidade do bagaço de cana: 30% (ou 70%
nificativas de massa e volume na fase de maturação, de teor de sólidos);
podemos analisar os dados somente nesta fase de hi- - massa específica do bagaço de cana: 200 kg/m3;
gienização a favor da segurança. - tempo de compostagem/higienização: 28 dias;
O processo de compostagem apesar de incorpo- - Bagaço de cana: C = 45,30%; N = 0,30%;
rar uma significativa parcela de sólidos secos ao lodo, - Lodo: C = 38,60%; N = 4,85%;
não leva necessariamente a um aumento de volume - tempo de maturação: 28 dias;
ou de massa no produto final. Durante o processo de - Produção semanal de lodo: 7 x 52,3 m3/dia = 366,1
compostagem, ocorrem simultaneamente a perda de m3/semana x 1,1 t/m3 = 402,71 t/semana;
água (ou umidade) e de sólidos através da digestão da - Necessidade semanal de bagaço de cana: 2 x 366,1
matéria orgânica com geração de gás carbônico. m3 = 732,2 m3/semana;

38 Saneas Janeiro / Fevereiro / MArço | 2009


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- Massa semanal de bagaço: 732,2 m3 x 0,2 t/m3 = - volume final do composto calculado de 1278 m3;
146,4 t/semana; - como há um volume sobrando devido a incorporação
- Adotando-se a massa específica da mistura inicial de mais 1 módulo, podemos utilizar esta área excedente
igual a 0,6 t/m3, tem-se: para aumentar o período de maturação ou ainda utilizar
Massa total inicial de lodo e bagaço por semana: esta área para estocar agente estruturante.
402,71 + 146,4 = 549,11 t por semana Para 4 módulos a largura total é de:
Volume total inicial de lodo mais bagaço por semana: L = 12,8m x 4 unidades = 51,2 m;
549,11/ 0,6 = 915,18 m3 L1 = largura necessária para higienização = 8 x 3 + 7
915,18/418 = 2,2 leiras por semana ou aproximada- x 0,5 = 27,5 m;
mente 2 leiras por semana L2 = largura necessária para maturação = 12 m;
Área Coberta para etapa de higienização da Espaço entre L1 e L2 = 0,5 m;
compostagem Borda Lateral = 51,2 -27,5 – 12 – 0,5 = 11,2 m ou
Comprimento: 200 m; 5,6m de cada lado;
Largura: 8*3,0m + 7*0,5 = 27,5 m Cobertura do pátio de compostagem: R$ 67 / m2
Área total: 200 x 27,5 = 5500 m2; Área útil de m2 = 200 x 4 x 12,8 = 10.240 m2
Como as coberturas são modulares, escolheremos Custo de cobertura: 10.240 m2 x R$67/m2 = R$
um tipo de módulo de forma a determinar a quanti- 686.080
dade de módulos. Para a operação das máquinas e dos caminhões,
Módulo (200 m) necessita-se uma borda lateral. Para as extremidades
Módulos de: 12,8 m de largura x 5,2 m altura livre e superior e inferior, recomenda-se uma borda de 10,0
200 m de comprimento; m e para as faixas laterais uma borda de 7,0 m.
Para a compostagem adotaremos inicialmente 4 mó- Também se necessita prever uma área de estoca-
dulos de 200 m de comprimento. gem para o bagaço de cana, o que pode ser uma faixa
Módulos de: 12,8 m de largura x 5,2 m altura livre e lateral de 200 m por 15 m, totalizando 2500 mm2.
200 m de comprimento;
Largura total do pátio: 4 x 12,8 m = 51,2 m 6.2 CUSTOS DE AGENTE ESTRUTURANTE
Largura necessária para etapa de higienização: 8 pi- E DE TRANSPORTE FINAL PARA
lhas x 3,0 m por pilha + 7 entre pilhas x 0,5 m entre COMPOSTAGEM
pilhas = 27,5 m Produção diária de lodo: 57,5 t/dia ou 52,3 m3/dia;
Durante o processo de compostagem ao longo de Necessidade diária de bagaço de cana: 2 x 52,3 =
28 dias, irá ocorrer a transformação da matéria orgâ- 104,6 m3/dia ou 21 t/dia;
nica do lodo em gás carbônico e água. Assumindo que Adotando-se uma redução aproximada de 15% em
ocorrerá uma redução de volume igual ao que ocor- relação ao volume original de lodo temos:
reu no experimento piloto, teremos um novo volume Volume de composto: 0,85 x 52,3 = 44,5 m3/dia x 30
final para maturação: = 1335 m3/mês
- Volume inicial de lodo + bagaço de cana por sema- Massa específica do composto = 0,5 t/m3;
na: 798,7 m3 Massa de composto: 667,5 t/mês
- Redução de 40% em volume; Conforme levantamentos preliminares na região de
- Volume final de lodo + bagaço de cana por semana: Presidente Prudente, o preço do bagaço de cana é de
319,5 m3 R$ 15/m3.
- Volume final de lodo + bagaço de cana em 4 sema- O custo diário de bagaço de cana será de:
nas: 1278 m3 Custo diário de bagaço de cana: 104,6 m3 x R$ 15/m3
Considerando uma pilha de maturação com base = R$ 1569/dia
de 12m, base menor de 3,2 m, altura de 4,4 m e 200 Custo mensal de bagaço de cana =R$ 47.070/mês
m de comprimento teremos: Foi feito um levantamento do custo de transporte
- volume da pilha de maturação: (12+3,2) x (4,4/2) x do composto para uma propriedade localizada a 60
200 = 6688 m3; km da ETE. O preço de mercado para o transporte de

Janeiro / fevereiro / Março | 2009 Saneas 39


Artigo técnico

composto com uma massa específica de 0,5 t/m3 é de Uma possível explicação para a ocorrência deste
R$ 0,20/km.m3. Para uma distância de 60 km resulta lodo extremamente fluido pode ser dada à reação de
em R$ 12/m3 de composto. um material extremamente úmido com uma grande
O custo diário de transporte de composto será de: quantidade de cal, o que poderia levar à incorporação
Custo diário de transporte de composto: 1335 m3/ de uma grande quantidade de gases devido a reação
mês x R$12/ m3 = R$ 16.020/mês. exotérmica. Ou seja, a fluidez do lodo calado seria ini-
cialmente devido a quantidade de gases dissolvidos
6.3 CUSTO DE DOSAGEM E na massa de lodo mais cal.
TRANSPORTE FINAL DA Esta fluidez excessiva dificulta a manipulação deste
ESTABILIZAÇÃO COM CAL lodo da ETE Limoeiro. Há a necessidade de se pesquisar
Produção diária de lodo: 57,5 t/dia ou 52,3 m3/dia; novas formas de tornar este lodo mais manipulável.
Produção diária de lodo em massa seca: 16% x 57,5 t/ Uma alternativa de curto prazo para o pós-tra-
dia = 9,2 t/dia tamento do lodo com cal é a disposição temporária
Dosagem de 40% de cal; no aterro exclusivo de resíduos da ETE Limoeiro (em
Pureza da cal: 90% forma de lagoas), de forma a permitir a um aumento
Preço da cal: R$ 0,37/kg no teor de sólidos e torná-lo mais manipulável.
Teor de sólidos final após 60 dias: 50% Apesar de, na prática, não se conseguir realizar
Massa específica após 60 dias: 1,2 t/m3 este revolvimento com o equipamento enleirador, ire-
Massa diária de cal utilizada: 9,2 t x 40% = 3,7 t de mos adotar uma espessura de lodo no pátio de 30 cm
cal pura = 4,1 t de cal/dia para efeitos comparativos. O tempo de detenção a ser
Massa seca total inicial: 9,2 t + 4,1 t = 13,3 t/dia adotado será de 60 dias.
Custo diário da cal: 4,1 t/dia x R$370/t = R$ 1517 por De acordo com o IAP a área necessária para esto-
dia = R$ 45.510 por mês cagem de lodo deve ser dimensionada em função da
Transporte diário de lodo + cal capacidade de empilhamento do material. Podem ser
Massa final após 60 dias a 20%, conforme PEGORINI utilizados como parâmetros de projeto:
ET AL( 2006): 13,3/0,20 = 66,5 toneladas por dia ou ■■ Para biossólidos que tenham “comportamento se-
1995 t/mês ou 1813 m3/mês melhante ao de sólidos” (teor de ST igual ou supe-
O custo de transporte de lodo até uma proprie- rior a 40%): 1,50 a 0,80 m3 de biossólidos/m2 de
dade agrícola é de R$ 0,42/m3 km, conforme último área de armazenagem;
contrato estabelecido na ETE Limoeiro. Para uma pro- ■■ Para biossólidos na forma pastosa (teor de ST su-
priedade localizada a uma distância de 60 km, tere- perior a 10% e inferior a 30%) recomenda-se 0,80
mos um preço de R$ 25,20/m3. a 0,40 m3 de biossólidos / m2 de pátio;
Custo do transporte por mês: ■■ Para os “biossólidos mais líquidos” (teor de ST <
= 1813 m3/mês x R$25,20/m3 = R$ 45.687,60 10%) o projeto deverá definir especificamente a
por mês forma de armazenagem a ser adotada.
Desta forma a área necessária será de:
6.4 INVESTIMENTO PARA - teor de sólidos inicial da mistura lodo + cal: = (13,3)/
REVOLVIMENTO DO LODO COM CAL (57,5+4,1) = 21,5%;
Para tornar o lodo manipulável necessita-se dis- - Massa inicial de lodo + cal: (57,5 + 4,1) = 61,6 t/dia;
por este lodo em estufa e provocar periodicamente - Volume inicial de lodo + cal: (61,6/1,1) = 56 m3/dia;
um revolvimento. - área necessária: (56 m3/dia) x 60 dias/0,30 m = 11.200
Foi feito uma tentativa de revolver o lodo com m2;
cal através do equipamento enleirador. Ao se dispor Custo estimativo do pátio de calagem:. 11.200 m2
o lodo no pátio, o lodo apresentou uma consistên- x R$ 67 / m2 = R$750.400;
cia muito fluida e com extrema dificuldade de formar
pilhas. A lâmina de lodo formada foi extremamente
baixa, demandando muita área para manipulação.

40 Saneas Janeiro / Fevereiro / MArço | 2009


Artigo técnico

6.5 CUSTOS OPERACIONAIS Custo total do transporte interno para composta-


DOS EQUIPAMENTOS gem = R$ 2,50/m3 x 1569 m3/mês = R$3922,50 /mês
Não foi possível a obtenção dos custos operacio- Para a estabilização com cal, o volume a ser consi-
nais de equipamentos para as operações de revolvi- derado será o do lodo original produzido mais a dosa-
mento do lodo para compostagem e para a calagem. gem de cal. Para efeitos de cálculo, iremos adotar que
A operação dos equipamentos para compostagem o teor de sólidos após a dosagem de cal irá passar de
está bem dominada quanto à questão operacional, 16% para 21,5 % e não haverá alteração significativa
devido à realização dos testes piloto. Já o revolvimen- de massa específica.
to do lodo com cal, ainda permanecem sérias dúvidas Dosagem de 40% de cal;
quanto a sua operação devido à falta de dados práti- Pureza da cal: 90%
cos e confiáveis. Teor de sólidos imediatamente após a dosagem:
A hipótese que iremos adotar é de que ambos os 21,5%
custos estejam na mesma ordem de grandeza, não Massa específica após dosagem: 1,1 t/m3
prevalecendo nem uma nem outra solução. Massa diária de cal utilizada: 9,2 t x 40% = 3,68 t de
Para efeitos de estimativa iremos adotar um preço cal pura = 4,1 t de cal/dia
de R$ 30.000/mês para o enleirador e o revolvedor do Massa inicial de lodo + cal: (57,5 + 4,1) = 61,6 t/
lodo com cal. dia;
Este preço é aproximadamente uma vez e meia o Produção diária de lodo: 56 m3/dia ou 1680 m3/mês;
preço de aluguel de um trator com pá carregadeira, Custo total do transporte interno para calagem = R$
que hoje está em R$ 20.000/mês. 2,50/m3 x 1680 m3/mês = R$4200/mês

6.6 CUSTOS OPERACIONAIS DE 6.7 CUSTOS DE MONITORAMENTO


TRANSPORTE INTERNO Produção mensal de composto: 667,5 t/mês
Para calcular os custos operacionais de transporte Teor de sólidos do composto de 70%
interno, devemos retornar aos volumes originais de Produção de composto em base seca: 467,25 t/mês
lodo produzido na desidratação e o lodo imediatamen- ou 5607 t/ano
te estabilizado com cal. O transporte interno refere-se Produção mensal de lodo estabilizado com cal: 1995
ao transporte do lodo gerado na desidratação até o t/mês ou 1813 m3/mês
pátio de compostagem ou de secagem adicional. No Teor de sólidos do lodo estabilizado com cal de 20%
caso da estabilização com cal, há uma incorporação Produção de lodo estabilizado com cal em base seca:
de massa logo após a desidratação neste local. 399 t/mês ou 4788 t/ano
O transporte do local de desidratação até o pátio Tanto para um caso como para outro, a produção
coberto deverá ser feito com os caminhões do tipo toco, de lodo de esgoto ou produto derivado se situará na
que possuem uma capacidade volumétrica de m3. faixa de monitoramento bimestral estabelecida no
Para a compostagem o volume a ser considerado Art. 10 da Resolução CONAMA nº 375 (29/08/2006).
no transporte interno será o próprio volume original O monitoramento do lodo deve incluir os seguin-
de lodo produzido. Ou seja, o volume será de 52,3 m3/ tes aspectos:
dia ou 1569 m3/mês. - potencial agronômico;
Na Sabesp, o preço de transporte interno está em - substâncias inorgânicas e orgânicas potencialmente
R$1,43/m3 para uma distância de 150 m e de R$ 5,11/ tóxicas;
m3 para uma distância de 1500 m. A distância aproxi- - indicadores bacteriológicos e agentes patogênicos;
mada entre a desidratação de lodo e o pátio de mane- - estabilidade.
jo de lodo para compostagem ou secagem adicional Para o monitoramento do solo, para a produção
é de 500 m. estimada da ETE Limoeiro prevemos uma quantidade
Fazendo-se uma interpolação chegamos no preço aproximada de 10 amostras por ano, o que totalizaria
de R$ 2,38/m3. Para efeitos de cálculo iremos conside- um custo de R$37.550/ano.
rar um preço de R$ 2,50/m3.

Janeiro / fevereiro / Março | 2009 Saneas 41


Artigo técnico

6.7 RESUMO DE CUSTOS Há outros fatores de difícil estimativa, mas que


Para o horizonte de projeto de Q = 478 L/s merecem ser citados de forma a embasar a solução
(2008), temos: adotada de compostagem para a ETE Limoeiro.
- produção original de lodo: 57,5 t/dia ou 53,5 m3/dia, A compostagem descrita para a ETE Limoeiro ainda
com 16% de teor de sólidos; é passível de uma otimização operacional. Por exemplo,
Na tabela 6.8 a seguir apresentamos um resumo na questão do transporte do composto até a proprie-
dos custos para posterior discussão. dade agrícola, pode-se vislumbrar uma possível eli-
minação deste custo, a exemplo do que ocorreu com
7 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS o emblemático caso de Franca, aonde os agricultores
Para o caso da ETE Limoeiro de Presidente Pruden- vinham até a ETE para buscar o lodo para as plantações
te, a compostagem apresentou vantagens econômi- de café. Como o composto possui um valor agregado
cas em relação à estabilização com cal. maior, esta é uma possibilidade bem factível.
Para a cobertura do pátio, não houve uma dife- Ainda em relação ao transporte, a própria carreta
rença significativa de praticamente o dobro do preço que leva o bagaço de cana poderia ser aproveitada
de investimento da alternativa da estabilização da cal para levar o composto já produzido para a propriedade
sobre a compostagem. Há ainda o problema de não se agrícola. Pelo menos em 50% das viagens de bagaço
saber se esta cobertura seria o suficiente para realizar de cana até a ETE, estaria aberta esta possibilidade de
a secagem adicional do lodo com cal, devido à falta de aproveitamento de viagens, pois a proporção de bagaço
parâmetros de projeto confiáveis. de cana para lodo original é de 2:1. Nas estimativas de
Tendo em conta uma possível deficiência de argu- cálculo, por segurança não se considerou este cenário,
mentação devido a falta de uma informação técnica, devido à necessidade de um acerto logístico.
podemos comparar os outros custos de forma a bus- Em relação à aplicação agrícola há várias impli-
car outros embasamentos. cações logísticas a seguir listadas entre a adoção do
Com relação aos transportes do produto final, quer composto versus o lodo estabilizado com cal. O com-
seja interno como externo, a compostagem também posto apresenta uma condição bem mais favorável de
apresentou vantagens. O custo de transporte total manipulação, sendo perfeitamente assimilado pelos
(interno e externo) para compostagem resultou em implementos agrícolas disponíveis. Já o lodo estabi-
R$ 19.942,50 por mês e para a estabilização com cal lizado com cal esta utilização ainda é incerta, sendo
resultou em R$ 49.887,6 por mês, ou seja, o transpor- necessário o desenvolvimento de implementos agrí-
te de lodo com cal representou 2,5 vezes o transporte colas. Na ETE Belém do Paraná, a companhia de sa-
de composto. neamento foi obrigada a comprar equipamentos para
Já em relação ao custo de agentes adicionados (cal se fazer a disposição agrícola do lodo estabilizado
e bagaço de cana), não houve diferença significativa. com cal. Esta facilidade de manipulação do composto
Os outros custos foram iguais, como monitora- favorece ainda mais a atratividade deste produto, de
mento de lodo, solo, e aluguel de equipamentos. forma a potencializar que o agricultor venha a buscar
Esta vantagem da compostagem sobre a calagem o composto na própria ETE.
para o caso da ETE Limoeiro foi influenciada pela ques- A utilização de um lodo estabilizado com cal tam-
tão geográfica favorável, próximo a centros produtores bém poderia limitar a aplicação numa determinada
de bagaço de cana e centros receptadores do composto área agrícola devido à maciça contribuição de cálcio no
e também devido ao tipo de lodo produzido. O lodo solo. Isto poderia levar a ampliar as extensões de terra
do tipo secundário resulta numa desidratação com alta para disposição final em relação à compostagem.
umidade e uma proporção alta de SV/ST, favorecendo
que se alcance altas temperaturas por um longo perío- 8 RECOMENDAÇÕES E CONCLUSÕES
do e conseqüentemente significativa perda de massa. Para a realização de um projeto de compostagem
A metodologia adotada para dimensionamento do recomenda-se, sempre que possível, a realização de
pátio de compostagem baseou-se nos resultados prá- ensaios piloto com o lodo existente ou similar ao que
ticos obtidos em escala piloto e devidamente otimiza- vai ser produzido na ETE conjuntamente com o agen-
dos, com o menor consumo de agente estruturante. te estruturante da região. Isto possibilitará a execução

42 Saneas Janeiro / Fevereiro / MArço | 2009


Artigo técnico

de um projeto com dados mais próximos da realidade nados principalmente devido a falhas operacionais.
e evitará potenciais ociosidades ou limitações. PEREIRA NETO (2000), relatou que um dos principais
Deve-se observar que na fase de maturação al- entraves na operação de usinas de compostagem de
guns aspectos levam a um dimensionamento do pátio lixo no país é a falta de mão de obra capacitada e
diferente na fase de higienização, dos quais podemos raramente encontra-se coordenando uma usina de
citar: menor volume de composto nesta fase devido compostagem, pessoas especializadas ou treinadas
à conversão da matéria orgânica em gás carbônico e para tal função. Recomenda-se que a operação de
água; teor de sólidos do composto mais alto devido ao compostagem seja devidamente coordenada por um
aumento da temperatura no interior da pilhar; alturas profissional treinado e capacitado, caso este tipo de
maiores da pilha de maturação devido às proprieda- tratamento seja o escolhido para a ETE Limoeiro.
des do composto mais seco. Optou-se por incluir ex- O agente estruturante escolhido para a compos-
plicitamente a fase de maturação de forma a garantir tagem do lodo da ETE Limoeiro foi o bagaço de cana.
a viabilidade até a disposição final no solo propria- Este material ainda é considerado resíduo em muitas
mente dita. Caso o dimensionamento do processo regiões, no entanto, há indícios de que algumas usinas
de compostagem se limitasse tão somente ao aten- vêm desenvolvendo tecnologias de reaproveitamento
dimento da legislação, a fase de maturação poderia deste bagaço de cana para geração de energia elétrica.
ser descartada, pois a ênfase presente na lei refere-se Recomenda-se sempre a busca permanente de outros
à higienização do composto. Cabe recomendar ainda agentes estruturantes de forma a tornar a solução de-
qual seria o tempo mínimo de maturação adequado pendente de uma única matéria prima. Pode-se reco-
de forma a não prejudicar o solo devido a liberação de mendar, por exemplo, a utilização de podas de árvores
substâncias deletérias e conseqüentemente diminuir oriundas do trabalho das prefeituras municipais como
o tamanho do galpão e custos operacionais. agente estruturante. Para isto tornar-se operacional,
A montagem inicial da leira mostrou-se crítica no deve-se disponibilizar uma máquina trituradora para
processo, pois a partir daí que se criam condições para tornar as podas de árvores em agente estruturante.
o desenvolvimento dos microrganismos responsáveis Os agentes estruturantes utilizados em composta-
pela degradação da matéria orgânica. Para que isto gem são gerados de forma sazonal. Por outro lado a
ocorra é necessário que se criem condições de porosi- produção de lodo é contínua e dificilmente pode ser
dade suficiente na leira de modo a torná-la predomi- acumulada por muitos meses. É muito difícil estimar
nantemente aeróbia. Uma umidade excessiva da mis- a compatibilização entre a demanda e a oferta, devido
tura de lodo e agente estruturante pode inviabilizar a esta sazonalidade e também devido a possibilidade
estas condições aeróbias. Outros fatores operacionais de se trabalhar com diferentes agentes estruturantes.
que influenciam este desenvolvimento aeróbio inicial Esta sazonalidade pode levar a custos operacionais
são referentes ao equipamento enleirador. Para o caso flutuantes. A prática desta compostagem poderá for-
do teste piloto realizado, o equipamento enleirador necer subsídios locais para checar se esta viabilidade
utilizado foi objeto de vários ajustes e possibilitou a econômica se sustentará.
execução de uma leira adequada. Outra consideração As características do lodo da ETE Limoeiro de alta
importante nesta fase inicial refere-se a um maior umidade e de alta proporção de SV/ST tornaram a
número de revolvimentos do equipamento enleirador compostagem uma alternativa interessante de trata-
na mistura inicial, propiciando uma estrutura devida- mento do lodo. Uma recomendação que pode ser de-
mente porosa que permitiu a sua aeração. rivada das observações deste trabalho é checar num
O processo de compostagem apesar de incorpo- sistema de lodos ativados convencional (decantador
rar uma significativa parcela de sólidos secos ao lodo, primário, tanque de aeração, decantador secundário
não leva necessariamente a um aumento de volume e digestor anaeróbio de lodo), a influência de “by-
ou de massa no produto final. Para o estudo realizado pass” do lodo secundário nos digestores. Este lodo
houve uma redução de 58% de massa em relação a secundário seria então misturado ao lodo primário
quantidade original de lodo. (que permaneceria um tempo maior de degradação
Uma das maiores críticas em relação à compos- no digestor anaeróbio de lodo) e seguiria daí para a
tagem refere-se à geração de maus odores, ocasio- desidratação. Acredita-se que estes sólidos voláteis do

Janeiro / fevereiro / Março | 2009 Saneas 43


Artigo técnico

lodo secundário favoreceriam o desenvolvimento de tir a um aumento no teor de sólidos e torná-lo mais
bactérias termofílicas na compostagem e conseqüen- manipulável. Recomenda-se realizar este tipo de pós-
temente favorecendo a destruição de organismos pa- tratamento de lodo com cal e checar as condições de
togênicos. No entanto, deveria se fazer a checagem secagem adicional, bem como estudar formas de se
das dosagens de agente estruturante em função do retirar o lodo destas lagoas de forma a não compro-
teor de sólidos da torta resultante da mistura de um meter a integridade física das lagoas, principalmente
lodo secundário com o lodo primário digerido. E partir o fundo com impermeabilização. Desta forma haveria
daí fazer o balanço econômico de uma possível van- uma flexibilidade operacional de se trabalhar com um
tagem econômica. material ou outro, e não se criar uma dependência
Independente de a solução ser de estabilização para uma única solução.
com cal ou compostagem é necessário a instalação A solução de tratamento de lodo através da com-
de um galpão de processamento de lodo. Para o caso postagem possui o atrativo ambiental de se dar um
da ETE Limoeiro, o galpão de compostagem resultou destino adequado para 2 tipos de resíduos (lodo e
numa menor área, sendo a opção adotada para o agente estruturante). Já a estabilização de lodo com cal,
tratamento do lodo. utiliza-se um material nobre para realizar o tratamento
Apesar da compostagem para ETE Limoeiro ser do resíduo/lodo. Deste ponto de vista, a estabilização
mais atraente, recomenda-se um desenvolvimento com cal é menos atrativa do que a compostagem. Na
técnico em escala real para tornar o lodo estabilizado compostagem, o processo de mistura de 2 resíduos leva
com cal mais manipulável. Uma alternativa de curto necessariamente a uma diminuição na massa final. Já
prazo para o pós-tratamento do lodo com cal é a dis- na estabilização com cal, o que ocorre de fato é um
posição temporária no aterro exclusivo de resíduos da aumento na massa final de resíduos.
ETE Limoeiro (em forma de lagoas), de forma a permi-

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Paulo, Mestre em Engenharia Hidráulica e Sanitária pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo - EPUSP.
Engenheira do Departamento de Desenvolvimento e Inovação Tecnológica - TOD da Companhia de Saneamento
Básico de São Paulo – SABESP

Dione Mari Morita


Engenheira Civil, doutora em engenharia hidráulica e sanitária pela Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo, docente do Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica da Universidade de
São Paulo -USP.

Thadeu Hiroshi Ferraz


Graduando em Engenharia Ambiental pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo -USP

O presente trabalho foi desenvolvido com o objeti- siderando o reaproveitamento e encaminhamento


vo de avaliar a possibilidade e a eficiência de remoção do lodo de ETA como insumo a ser utilizado no fim
de fósforo do efluente de um sistema convencional do processo de tratamento de esgotos para remoção
de lodos ativados (Estação de Tratamento de Esgotos de fósforo do efluente final, em consonância com os
de Barueri) pelo lodo de uma estação de tratamento conceitos de produção mais limpa.
de água, que utiliza sulfato de alumínio como coagu-
lante (Estação de Tratamento de Água do Alto Cotia). 1. INTRODUÇÃO
Para o desenvolvimento prático da pesquisa, foram A importância da remoção de nutrientes no tra-
realizados testes de bancada, variando o tempo de tamento de esgotos fundamenta-se na proteção
permanência do lodo nos decantadores, a dosagem à qualidade das águas de rios e reservatórios e por
de lodo, o pH da mistura, o tempo de contato e o conseqüência, à biota delas dependente. Os nutrien-
tempo de sedimentação. Os ensaios foram realizados tes, principalmente nitrogênio e fósforo, por consti-
com lodo sem e com polímero. Obteve-se até 100% tuírem-se em complemento nutricional usado pelos
de remoção de fósforo solúvel (concentração inicial organismos aquáticos, são capazes de desencadear o
de 2,9 mg P/L), em pH de 4,5 a 6,5 com dosagem de 37 fenômeno da eutrofização, caracterizado pelo cresci-
mg lodo/L, tempo de mistura de 15 minutos a 40 s-1 mento excessivo de plantas aquáticas e proliferação
de gradiente, tempo de sedimentação de 30 minutos, de organismos com predominância de grupos algais,
tempo de permanência do lodo no decantador de 80 que causam graves conseqüências para o meio am-
dias, sem polímero. Nestas condições, a concentração biente e à saúde pública.
de fósforo do efluente tratado foi de 0,01mg P/L. Os O fósforo é considerado como o nutriente de maior
resultados obtidos no presente trabalho sinalizam importância nos fenômenos de eutrofização e têm
uma alternativa tecnológica, que pode vir a ser uti- sido o foco de atenções para a melhoria da qualidade
lizada em projetos sustentáveis, em que as estações dos corpos d’água, pois este elemento é considerado
de tratamento de esgotos e estações de tratamento fator limitante ao desencadeamento das florações de
de água sejam planejadas de forma integrada, con- algas, uma vez que, sendo fornecido por fontes iden-

Janeiro / fevereiro / Março | 2009 Saneas 45


Artigo técnico

tificáveis, naturais ou principalmente artificiais, pode O problema torna-se especialmente preocupante,


melhor ser controlado, enquanto que o nitrogênio, em face da potencialidade de produção e liberação
como pode ser metabolizado por algumas espécies de de substâncias tóxicas destes organismos ao meio,
algas a partir do ar atmosférico, é de difícil controle com graves conseqüências para o meio ambiente e
(THOMANN; MUELLER, 1987, CARMICAEL et al 2001; à saúde pública.
CHORUS & BARTRAM,1999; HOSPER, 1998; MAAS- Algumas destas cianotoxinas ocasionam a morte
DAM, et al 1998; MOSS, 1998; REEDERS et al, 1998; de mamíferos por parada respiratória após poucos
VAN DUI et al,1998; WHO, 2003). minutos de exposição, e têm sido identificadas como
As conseqüências da eutrofização, para as empre- alcalóides ou organofosforados neurotóxicos. Outras
sas de saneamento básico, resultam em elevados cus- atuam com menor velocidade e são identificadas
tos operacionais, tanto para a adequação da água de como peptídeos ou alcalóides hepatotóxicos (CRUZ et
abastecimento como para a resolução de problemas al, 2002). Estas toxinas são de difícil remoção e por
nas estações de tratamento de água (ETAs), decorren- sua característica de persistência, podem estar pre-
tes das florações de algas. sentes na água mesmo após tratamento, o que pode
Alguns problemas operacionais detectados na agravar seus efeitos crônicos, reduzindo a qualidade e
operação de tratamento de águas de mananciais eu- as possibilidades de usos (MORITA, 2004).
trofizados referem-se à maior ocorrência de entupi- Com base nesses conceitos, a remoção de fósforo
mento dos filtros e a conseqüente necessidade de au- de efluentes de estações de tratamento de esgotos
mento de lavagens e de utilização de carvão ativado deve ser avaliada à luz de soluções tecnológicas e
para remoção de gosto e odor; pré-cloração devido economicamente viáveis para o enfrentamento dos
às maiores concentrações de matéria orgânica, o que problemas ambientais, tanto em relação à disposição
leva à formação de compostos precursores de triha- do lodo de estação de tratamento de água (ETA) como
lometanos - uma séria ameaça à saúde pública, por do lançamento de esgotos tratados.
suas características carcinogênicas (MAASDAM, et O meio científico reconhece as vantagens da re-
al 1998; MOSS, 1998; HOSPER, 1998; REEDERS et al, moção biológica de fósforo em relação ao tratamen-
1998; VAN DUI et al,1998; TUNDISI, 2005). to físico-químico (EKAMA, G.A.et al 1984; WENTZEL,
Segundo Agujaro (2002), os problemas desenca- M.C et al 1990, 1991; EL-BESTAWY, E et al 2005; VAN
deados com a eutrofização dos corpos hídricos pelo HANDEL ; MARAIS 1999). No entanto, se por um lado,
lançamento de nutrientes, levam à proliferação e pre- o primeiro é considerado o melhor método em rela-
dominância de grupos algais tóxicos, como o das cia- ção aos custos/benefícios, por outro lado, no descarte
nobactérias. Apresenta-se na Figura 1 uma foto ilus- de lodo de estações de tratamento de água ETA são
trativa de um trecho da represa Billings eutrofizado. desprezadas toneladas de produtos químicos, que po-
deriam ser recicladas e utilizadas como insumo para
remoção de fósforo por tratamento físico-químico,
com vantagens econômicas, já que os lodos gerados
em ETAS têm elevado potencial para remoção de fós-
foro por adsorção, próprio de sua composição quími-
ca baseada em óxidos e hidróxidos de ferro e alumí-
nio e de sua estrutura amorfa, uma característica que
aumenta a área superficial dos sais de alumínio em
comparação com a forma cristalina. De modo geral,
os pesquisadores têm considerado que os processos
de retenção de fósforo englobam os mecanismos de
adsorção e precipitação, sendo os óxidos e hidróxidos
de alumínio e de ferro os principais responsáveis por
esses processos. (STUM, 1992; BASTA, 1996; GALLI-
MORE et al., 1999; ELLIOT et al 2002; REIS, 2002).
Dessa forma, essa pesquisa teve por objetivo ava-
liar a possibilidade técnica de utilização de lodo de
ETA para remover fósforo do efluente final de esta-
ções de tratamento de esgoto (ETE), e apresentar uma
Figura 1 – Foto Aérea da Represa Billings - Braço do Rio Grande contribuição que possa vir a ser utilizada em projetos

46 Saneas Janeiro / Fevereiro / MArço | 2009


Artigo técnico

futuros, de forma que esse subproduto das ETAs entre realizadas análises para a determinação dos seguintes
na ETE no fim do processo secundário, como insumo parâmetros: DBO, fósforo total e solúvel, cádmio, chum-
para remoção de fósforo do efluente final, em conso- bo, cobre, cromo, ferro total e solúvel, manganês total,
nância com os conceitos de produção mais limpa. mercúrio, zinco, série nitrogenada, sulfato e sulfeto.
As amostras foram compostas de 24 horas e co-
2 – OBJETIVOS letadas com amostrador automático, preservadas
A presente pesquisa foi desenvolvida tendo por e analisadas seguindo os procedimentos do APHA;
objetivo avaliar a possibilidade de remoção de fósforo AWWA; WEF (2002). Após a caracterização do lodo
do efluente de um sistema de tratamento biológico e do efluente, foram realizados testes de jarros para
de esgotos convencional por lodos ativados pelo lodo avaliação da remoção de fósforo. Para estes ensaios,
de uma estação de tratamento de água, que utiliza foram adicionadas dosagens variadas de lodo nos jar-
sulfato de alumínio como coagulante; ros de dois litros de volume útil (figura 2), ajustados
os valores de pH, misturados os conteúdos a 40 s-1
3 – MATERIAIS E MÉTODOS de gradiente durante diferentes tempos de mistura e
Para o desenvolvimento prático da pesquisa, em- deixados em repouso para sedimentação. Decorridos
pregou-se o lodo da Estação de Tratamento Conven- os tempos pré-estabelecidos de sedimentação, foram
cional de Água do Alto Cotia, que utiliza sulfato de coletadas amostras dos sobrenadantes e determi-
alumínio como coagulante, e o efluente da ETE Ba- nadas as concentrações de fósforo solúvel, através
rueri, sistema convencional de lodos ativados, ambas do método do ácido ascórbico, constante no APHA;
localizadas na Região Metropolitana de São Paulo AWWA; WEF (2002)
(RMSP), Brasil. As condições operacionais avaliadas foram:
O lodo da ETA foi caracterizado segundo os se-
guintes parâmetros: pH, fósforo solúvel e total, sólidos
totais, alumínio, cádmio, chumbo, cobre, mercúrio e
zinco. A coleta com amostrador de fundo, a preserva-
ção das amostras e as técnicas analíticas empregadas
foram as preconizadas no APHA; AWWA; WEF (2002).
Além das análises físico-químicas, foram realizados
ensaios de difratometria e fluorescência de raios-X
no Laboratório de Caracterização Mineralógica do
Departamento de Engenharia de Minas e Petróleo da
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.
No primeiro ensaio, a amostra de lodo, seca a 103
± 2oC até peso constante, foi quarteada para obten-
ção de uma fração de aproximadamente 20 g. Em se-
guida, foi reduzida granulometricamente para aproxi-
madamente mesh 200 (74 m) e uma alíquota entre 1
a 3 g foi compactada em uma cavidade de 27 mm de
diâmetro por 2,5 mm de profundidade de um suporte
metálico. Posteriormente, foi introduzida no difratô- Figura 2 – Fotografia do equipamento do jar test utilizado nos
metro marca Philips, modelo MPD 1.880. A identifica- ensaios de remoção de fósforo com lodo de ETA
ção das fases cristalinas foi feita por comparação do
difratograma da amostra com o banco de dados do
ICDD – International Centre for Diffraction Data. · Dosagens de lodo: 27, 29, 37, 39, 40, 52, 63, 65,
A metodologia do ensaio de fluorescência de 73, 80, 91, 100, 103, 109, 180, 213 mg/L;
raios-X incluiu as etapas de secagem e quarteamento · pH: 4,0 a 7,0;
da amostra para obtenção de uma fração de aproxi- · tempo de permanência do lodo no decantador
madamente 50 g; redução granulométrica para apro- da ETA: 7, 14, 21, 30, 40, 44, 80, 94 dias;
ximadamente mesh 400 (37 m); compactação do pó · tempo de mistura: 15, 30, 240 minutos;
em prensa de 20 t e introdução da amostra compac- · tempo de sedimentação: 15, 30, 60, 240 minutos.
tada no equipamento de fluorescência de raios-X. · Gradiente de velocidade: a 40 s-1
Para a caracterização do efluente da ETE, foram Os testes foram feitos com lodo com e sem polímero.

Janeiro / fevereiro / Março | 2009 Saneas 47


Artigo técnico

4. RESULTADOS a qualidade da água, em relação à turbidez, melhora


significativamente e, em conseqüência, são utilizadas
4.1 CARACTERÍSTICAS DO LODO DA menores dosagens de produtos químicos.
ETA DO ALTO COTIA Em relação ao fósforo, as grandes variações podem
Os resultados obtidos na caracterização das amos- ser decorrentes do tempo de permanência do lodo no
tras de lodo dos decantadores da ETA do Alto Cotia decantador na época da amostragem, a exemplo das
são mostrados na tabela 4-1. Estes foram comparados concentrações de fósforo total encontradas no lodo
com as características dos lodos de outras estações de de 2 a 20 mg/L, que correspondem a lodos com idades
tratamento de água brasileiras, que utilizam o sulfato de 45 e 150 dias, respectivamente.
de alumínio como coagulante. A difração de raios X mostrou que os minerais pre-
Dos resultados mostrados na tabela 4-1, veri- sentes no lodo da ETA são: a caulinita, o quartzo e a
fica-se que há uma ampla faixa de variação para gibbsita. A fluorescência indicou a predominância de
cada parâmetro. Al2O3, Fe2O3 e SiO2. Estas características influenciam
Segundo AWWA (1990), esta característica está na absorção do fósforo no lodo.
relacionada à operação da ETA e às características
da água bruta, que variam sazonalmente, tendo sido 4.2 – CARACTERÍSTICAS DO
verificados que nos períodos de chuvas, os parâme- EFLUENTE FINAL DA ETE BARUERI
tros de controle de qualidade de água, como turbi- Na Tabela 4-2, são mostrados os valores médios dos
dez, apresentam elevados valores, relacionados com diversos parâmetros determinados no efluente final da
o escoamento superficial. Em conseqüência, são uti- ETE Barueri no período da investigação experimental.
lizadas maiores dosagens de sulfato de alumínio, que De acordo com a tabela 4 -2, nitratos, nitritos, sulfa-
repercute em elevadas faixas de valores para vários tos e sulfetos, presentes no efluente da ETE Barueri,
parâmetros, sobressaindo-se o alumínio e os sólidos. poderiam competir com o fósforo solúvel pelos sítios
Nesses períodos de chuva, é acrescentado ao trata- ativos do lodo da ETA, conforme mencionado por
mento, polímero aniônico como auxiliar de flocula- Stumm (1992). Entretanto, Urano; Tachikawa (1991)
ção, que também contribui para diferenças nas ca- concluíram que esta influência só acontece em eleva-
racterísticas do lodo. Durante o período de estiagem, das concentrações de sulfato e nitrato.

Tabela 4-1
Características físico-químicas do lodo da ETA Alto Cotia e
comparação com os valores encontrados na revisão bibliográfica.

Parâmetros Unidade ETA Alto Cotia(1) (2005) Dados de literatura(2)

pH U pH 5,8 a 6,1 5,8 a 7,6


Sólidos Totais mg/L 1.114 a 25.826 1.100 a 81.575
Alumínio mgAl/kg 40.000 a 63.689 1.700 a 171.769
Cádmio mgCd/L 0,01 a 0,02 0,01 a 0,14
Chumbo mgPb/L <0,01 0,50 a 2,66
Cobre mgCu/L 0,1 a 0,7 0,06 a 2,06
Mercúrio (µgHg/L) 0,6 a 1,3 0,10 a 1,30
Zinco mgZn/L 0,1 a 0,9 0,10 a 4,25
Fósforo Total mgP/L 2 a 20 2 a 34
Fósforo Solúvel mgP/L 0,01 a 6,0 0,01 a 6,0

(1) Média das análises realizadas em 2005


(2) Cordeiro (1993); Andrade (2005).

48 Saneas Janeiro / Fevereiro / MArço | 2009


Artigo técnico
Tabela 4-3 – Resultados dos ensaios de remoção de fósforo solúvel do efluente da ETE Barueri, com
diferentes dosagens de lodo de ETA e diversas condições operacionais

Dosagem Tempo de perma- Tempo de Melhores valores de pH


Tempo de mistura Presença de Máxima % de
de lodo nência do lodo no sedimentação obtidos por batelada de
(minutos) polímero no lodo remoção de fósforo
(mg/L) decantador (dias) (minutos) ensaios

27 40 15 30 SIM 5,0 17
29 94 30 30 SIM 6,0; 7,0 21
37 80 15 15 NÃO 4,5; 5,0; 5,5 99

37 80 15 30 NÃO 4,5; 5,0; 5,5; 6,5 100

37 80 15 60 NÃO 4,5; 5,0; 5,5; 6,5 100


37 80 15 240 NÃO 4,5; 5,0; 5,5; 6,5 100
37 80 30 15 NÃO 4,5; 6,5 71
37 80 30 30 NÃO 4,5; 5,0; 5,5; 6,0 69
37 80 30 60 NÃO 5,0 70
37 80 30 240 NÃO 5,0 72
40 40 15 30 SIM 4,0 15
39 94 30 30 SIM 4,0; 5,0; 6,0 16
52 94 15 30 NÃO 6,0 56
52 94 30 30 SIM 7,0 29
52 40 15 30 SIM 7,0 23
63 94 30 30 SIM 7,0 45
65 40 15 30 SIM 5,0 85
73 94 30 30 SIM 7,0 46
80 40 15 30 SIM 6,0 57
91 40 15 30 SIM 6,0 77
100 7 30 30 NÃO 4,0 19
100 14 30 30 NÃO 4,0 24
100 21 30 30 NÃO 4,0 26
100 30 30 30 NÃO 4,0 46
100 44 30 30 NÃO 4,0 66
100 44 240 30 NÃO 4,0 100
103 40 15 30 SIM 7,0 56
109 94 30 30 SIM 7,0 44
180 94 30 30 SIM 6,0; 7,0 51
213 94 30 30 SIM 5,0; 6,0;7,0 78

Janeiro / fevereiro / Março | 2009 Saneas 49


Artigo técnico

Tabela 4-2 Cornwell et al (1987) verificaram reduções de


Características do esgoto bruto e efluente tratado 43% na concentração de fósforo em uma ETE após
da ETE Barueri no período estudado o lançamento de lodo de ETA, que utilizava sulfato
de alumínio como coagulante primário. Neste expe-
rimento, realizado em escala real, o lodo foi lançado
Parâmetro Afluente Efluente
diretamente na entrada de uma ETE, onde o fósfo-
DBO 298 53 ro está presente tanto na forma solúvel quanto na
Fósforo total 7 3 forma orgânica. Os pesquisadores observaram que a
concentração de fósforo total diminuiu de 7 para 4
Cádmio (µg Cd/L) 6 4
mgP/L. Provavelmente, esta redução se deve à parcela
Chumbo (µg Pb/L) 20 10 solúvel e não à orgânica.
Cobre total (µg Cu/L) 166 39 Segundo Galarneau e Gehr (1999), no Canadá, a
maioria das estações de tratamento de esgotos remove
Cromo6+ (µg Cr6+/L) 5 2
fósforo por tratamento físico químico com sulfato de
Ferro total (mg Fe/L) 4,4 0,6 alumínio e cloreto férrico. Devido ao fato de que várias
Ferro Solúvel (µg Fe/L) 450 120 ETEs no Quebec recebem lodo de ETA para tratamento
conjunto com os esgotos domésticos e industriais, têm
Manganês total (µg Mn/L) 103 60
sido verificado, em algumas destas estações, que os pa-
Mercúrio (µg Hg/L) 2 1 drões de lançamento para fósforo têm sido atendidos,
Zinco (µg Zn/L) 470 112 sem adição de produtos químicos ou melhoria no tra-
NTK (mg N/L) 59 20 tamento biológico para remoção de fósforo.
Harri et al (2003), em experimento realizado em
Nitrogênio amoniacal
45 18 ETEs na Suécia, observaram aumento dos níveis de
(mg N-NH3/L)
reduções de fósforo de 47 % para 57%, após recebi-
Nitrato (µg N-NO3-/L) 32 5740 mento de lodo de ETA na ETE, apesar de não ter ficado
Nitrito (µg N-NO2 -/L) 29 2300 totalmente esclarecido se esse aumento na remoção
Sulfato (mg SO42-/L) 66 56 era devido exclusivamente ao lodo de ETA ou a efeitos
remanescentes de uma aplicação anterior de sulfato
Sulfeto (mg S2-/L) 5 2
férrico em dosagens elevadas.

5. CONCLUSÕES
As conclusões obtidas nesta pesquisa, para as con-
dições operacionais estudadas, foram:
4.3 – REMOÇÃO DE FÓSFORO DO 1. No descarte de lodo de estações de tratamento
EFLUENTE DA ETE PELO LODO DA ETA de água – ETAs, que utilizam sulfato de alumínio, são
Foram realizados 180 testes, visando otimizar as desprezadas toneladas de produtos químicos, que po-
condições operacionais de forma a se obter as melho- deriam ser recicladas e utilizadas como insumo para
res eficiências de remoção de fósforo. Na Tabela 4-3 são remoção de fósforo de efluentes de estações de trata-
mostrados os resultados obtidos nos vários ensaios. mento de esgotos (ETEs);
A tabela 4-3 indica que o lodo da ETA Alto Cotia 2. Entre as 180 diferentes condições operacionais
remove fósforo do efluente da ETE Barueri. Mostra, estudadas na presente pesquisa, a melhor eficiência
ainda, que a máxima remoção foi obtida com 37 mg/L de remoção de fósforo do efluente da ETE Barueri foi
de lodo, 15 minutos de mistura, pH de 4,5 a 6,5, tem- de 100% (concentração de fósforo inicial de 2,9 mg/L),
po de sedimentação de 30 minutos, a 40 s-1 de gra- com tempo de permanência do lodo no decantador
diente, lodo sem polímero e tempo de permanência da ETA do Alto Cotia de 80 dias, valores de pH entre
do lodo no decantador de 80 dias. Esta alta remoção 4,5 a 6,5, tempo de mistura de 15 minutos, tempo de
se justifica pelo fato do fósforo estar predominante- sedimentação de 30 minutos a 40 s-1 de gradiente e
mente na forma solúvel no efluente da ETE. sem a utilização de polímero na coagulação/flocula-
Os resultados obtidos no presente trabalho corro- ção da água bruta.
boram com os encontrados pelos seguintes autores:

50 Saneas Janeiro / Fevereiro / MArço | 2009


Fenasan 2009

XX Encontro Técnico AESabesp e


Fenasan 2009
Expositores Já Lotam A Área De Todo O Pavilhão Amarelo Do Expo Center Norte

Promovidos há 20 anos pela Associação dos Enge- do milênio e do consumo de água”; “ A Parceria Públi-
nheiros da Sabesp, o XX Encontro Técnico AESabesp e ca Privada (PPP) como alternativa para a universali-
Fenasan 2009 (Feira Nacional de Saneamento e Meio zação do saneamento básico no Brasil - apresentação
Ambiente), considerada a maior exposição técnica- de cases” e “Regulação do setor de saneamento na
mercadológica do setor na América Latina, serão rea- atualidade”.
lizados em 12, 13 e 14 de agosto. Estima-se a presença de 13.000 visitantes na Feira,
O espaço de exposição do amplo Pavilhão Amarelo cuja entrada é gratuita, e 3.000 participantes no En-
do Expo Center Norte, em São Paulo – SP, está pratica- contro Técnico, cujos valores para a freqüência são:
mente lotado, com um grande número de expositores,
geralmente empresas fabricantes de equipamentos para
Valores de inscrição do XX Encontro Técnico
o setor, criadoras de programas de desenvolvimento da
área, prestadoras de serviços e de demais segmentos A partir de
Categoria Até 30/06
complementares à esfera do saneamento. 01/07
O clima é de otimismo, apesar do quadro econô- Associados e autores
mico recessivo, uma vez que o saneamento é um setor 95,00 110,00
de trabalho
que resiste à crise e conta com altos investimentos para
atender a demanda de mercado: um aporte de R$ 7 Congressistas 300,00 350,00
bilhões, até 2010, para se manter a universalização no
fornecimento de água tratada e chegar a 84% na coleta Estudantes 150,00 170,00
e esgoto, nos 367 municípios atendidos pela Sabesp.
Além da área da Feira, os Auditórios do Pavilhão Obs.: associado AESABESP autor de trabalho é isento.
serão permanentemente ocupados pela realização Limitado a uma isenção por trabalho inscrito.
do XX Encontro Técnico da AESabesp, que já conta
com mais de 100 trabalhos inscritos, de autorias de
docentes de universidades, de técnicos de Compa- O XX Encontro Técnico AESabesp e Fenasan 2009
nhias de Saneamento de todo o País e de empresas ainda contam com os apoios institucionais das res-
fornecedores de peças, equipamentos e serviços de pectivas entidades integradas ao setor: AAPS, ABAR,
saneamento e meio ambiente, que abordarão como ABAS, ABES, ABESCO, ABEE, ABETRE, ABCON, ABGE,
principais assuntos: regulação do setor, eficiência ABIMAQ, ABIQUIM, ABMACO, ABNT, ABPE, ABRAMPA,
operacional, recuperação de áreas degradadas e no- ABRATT, AECESP, AIDIS, AEAARP,ANA, ASEC, CREA,
vas tecnologias. CRQ-IV, FIESP, SINAENCO, SEESP e Saneamento Bá-
Ainda estão previstas palestras institucionais e sico, o Site.
cinco mesas redondas, com abordagem sobre os te-
mas: “Equilíbrio entre o capitalismo e sustentabilida-
de numa empresa - cases bem sucedidos”; “Sustenta- Informações
bilidade nas contratações de projetos, equipamentos
e obras”; “Estratégias para implementação das metas www.fenasan.com.br

e n t a b i l i d a d e
Sust
m inho para universalização
ca
ntal
do saneamento ambie
Janeiro / fevereiro / Março | 2009 Saneas 51
8m m²
120 ²
110 Ru 110
16m 3 18m 8 a1 7
² 120 ²
111 100
m² 18m²
16m
²
5 3m
0
Telefones H 18m
16m 120
Presenças confirmadas

HIDRANTE
H ²
² 7 1 111
WC. Fem. WC. Masc. WC 120 8m² 2
9 111
na Fenasan 2009
. Fe Tele 16m 3m
m. fone ²
s Ru 16m 121 18m²
Saí a1 ² 1
WC em da 200 1
Ma
• Sabesp – Companhia de Saneamento Básico do Estado de ao Paulo
.
sc. • erg de
Higra Industrial 121 8m
• Abimaq – Associação Brasileira de Indústria de Máquinas e Huesker ênci 16m 3

a 120 ²
Equipamento, com a Ilha Sindesan (Sindicado Nacional das Indústrias • Imbil - Indústria e Manutenção
2
12mde Bombas ITA
de Equipamentos para Saneamento Básico), formada por um “pool”
o pavilhão (colunas,etc.).
• Imefer Industrial e Mercantil de Ferragens
² 120
de empresas que atendem o setor de saneamento. • Imperveg Poliuretano Vegetal 12m 4
120

3m
• ABS Indústria de Bombas Centrífugas • ²
Interativa Indústria, Comércio e Representações
• Acquasan Equipamentos para Tratamento de Água e Efluentes • Interlab Distribuidora de Produtos Científicos 12m 6
• Aerzen do Brasil • Invel Comércio Indústria e Participações ² 2m
• Ag Solve Monitoramento Ambiental • ITT Brasil Equipamentos para Bombeamento e Tratamento de Água e
• Albrecht Equipamentos Industriais Efluentes
• Organização
Allonda Comercial de Geossintéticos Ambientais • Kaeser Compressores do Brasil
• Amanco Brasil • Kanaflex Indústria de Plásticos
• Amitech Brasil Tubos • Kemwater Brasil
• Aquamec Equipamentos • KSB Bombas Hidráulicas
• Aquablue Produtos para Tratamento de Águas • Krieger Metalúrgica Ind. e Comércio 74m
• Acquasan Equipamentos para Tratamento de Água e Efluentes • Lamon Produtos ²
• AVK Válvulas do Brasil • Máquinas Agrícolas Jacto
• BBL Engenharia Construção e Comércio Ltda. • Mark Grundfos
• B&F Dias Indústria e Comércio • Marte Balanças e Aparelhos de Precisão
• Bermad Brasil Importação e Exportação • Masterserv - Controle de Erosão e Comércio
• Bombas Leão • Mission Ruber do Brasil
• Brasbom Comercial Importação e Exportação • Multi Conexões Indústria e Comércio
• Bugatti Brasil Válvulas • N. Mello Comércio de Máquinas Hidráulicas
• Caravela Ambiental Comércio de Equipamentos • Netzsch do Brasil Indústria e Comércio
• Centroprojekt do Brasil • Niagara Comercial
• CMR4 Engenharia e Comércio Ltda. - Caetano Tubos • Nivetec Instrumentação e Controle
• Coester Automação • Nunes Oliveira Máquinas e Ferramentas

14/11/08
• Comercial Marwil • Parkson do Brasil
• Conexões Especiais do Brasil • Planthae Consultoria em Normas Técnicas
• Continuum Chemical Latin América • Perenne Equipamentos e Sistemas de Água
• C.R.I. Bombas Hidráulicas • Tentcamom do Brasil
• Danfoss do Brasil Indústria e Comércio • Pieralisi do Brasil
• De Nora do Brasil • Plastimax Indústria e Comércio
• Degrémont Tratamento de Águas • Planthae Consultoria em Normas Técnicas
• Digitrol Indústria e Comércio • Poly Easy do Brasil Indústria e Comércio
• Dinatécnica Indústria e Comércio • Proacqua Processos de Saneamento de Efluentes e Comércio
• Dositec Bombas Equipamentos e Acessórios • Prominas Brasil Equipamentos
• Ebara Indústrias e Comércio • Restor Comércio e Manutenção de Equipamentos Eletromecânicos
• Ebro Stafsjö do Brasil Importação e Exportação de Válvulas • Robuschi Pumps and Blowers
• Ecosan Equipamentos para Saneamento • Saint - Gobain Canalização
• Edra Saneamento Básico Indústria e Comércio • Sampla do Brasil Indústria e Comércio de Correias
• Eletrônica Santerno Indústria e Comércio • Sanemais Ind. e Com. de Tubos e Conexões
• Emec Brasil Sist. Tratamento de Água • Schneider Eletric Brasil
• Emicol Eletro Eletrônica • Sondamar Poços Artesianos
• Enmac Engenharia de Materiais Compostos • Stocktotal Telecomunicações
• Environquip Engenharia de Sistemas Ambientais Ltda. • SMV Válvulas Industriais
• ESA Eletrotécnica Santo Amaro • Sondamar Poços Artesianos
• Exatta Precisão em Dosagem • Sondeq Indústria de Sondas e Equipamentos
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• Fernco do Brasil • Sparsol Indústria e Comércio de Equipamentos Industriais
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52 Saneas Janeiro / Fevereiro / MArço | 2009


“causos” do saneamento

O caso do Quero-Quero II: “O Sequestro”


por Edson Santana Borges

Quem leu meu artigo na edição anterior, sabe que


contei a história do quero-quero, um pássaro que
escolheu como residência o centro do tão disputado
campo de futebol que ficava na regional da Mooca,
sobre um reservatório, em 1991.
Desculpe-me o leitor, mas vou continuar falando
daquele tempo.
Imagine na Sabesp de hoje as equipes operacio-
nais indo para a rua, no seu dia a dia, com o uniforme
rasgado, viaturas velhas quebrando a todo momento,
sem ferramentas nem equipamentos, contratos ter-
ceirizados sendo cancelados, almoxarifados vazios,
treinamento zero, e o pior, aliás consequência de
tudo, desmotivação geral dos funcionários.
Pesadelo? Não. Era um pouco de nossa realidade
no início da década de 90. Por inconformismo, resol-
vemos agir. grande bobagem de querer levar um deles para casa.
Com intenso trabalho do Engº Joaquim Hornink Cuidadosamente, preparou uma caixa e, em um final de
Filho, começamos a pesquisar ferramentas e equi- tarde, sem que ninguém visse, embalou o filhote.
pamentos para o saneamento, aqui e em outros paí- Coitado! Não sabia de uma coisa – assim como os
ses, que devagar fomos introduzindo no dia a dia da funcionários da Mooca brigavam para mudar a situ-
antiga Regional Mooca, com a participação integral ação em que a regional se encontrava, com grande
dos funcionários daquela unidade. Na verdade, eles demonstração de amor ao que faziam, os pais Quero-
tiveram total participação na implantação de tudo. Os Quero também sabem brigar por seus filhotes. Isso
resultados foram fantásticos! tudo, sem contar do apego dos funcionários da área
Diante disso, elaboramos um plano de trabalho aos verdadeiros “Mascotinhos” da Regional.
para propagar as inovações às outras unidades da Os pais passaram a dar “rasantes” sobre a lona da
RMSP, agora, já com apoio da nova Diretoria Metro- tenda, exatamente onde o filhote se encontrava, e a
politana (M). Então, sobre o reservatório da Mooca, foi fazer um escândalo tão grande que era impossível, a
erguida uma grande tenda. As empresas que partici- todos os presentes não perceberem que alguma coisa
param do desenvolvimento das ferramentas e equipa- de errado estava acontecendo.
mentos, ali montaram seus estandes, ao mesmo tem- Em minutos, funcionários da Mooca vasculhavam
po em que funcionários das outras unidades faziam o estande indicado pelos pais zelosos. Lá estava ele.
visitas e recebiam treinamentos para utilização dessas Uma boa reprimenda no autor do sequestro, que
novidades. Foi a primeira “Feira Técnica” realizada na desapareceu da área, e a volta do filhote para o con-
Sabesp por uma unidade operacional! vívio dos pais. Alegria geral!
Enquanto o evento transcorria, os filhotes de quero- E foi assim que o autor do sequestro aprendeu que
quero passeavam sobre o gramado do campo de futebol. ninguém mexe com aquilo, ou aquele, que os outros
Um funcionário de uma das empresas expositoras amam e fica impune.
também se encantou com os bichinhos, só que fez a

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Palavra de amigo

Ao grande amigo Mário Tinoco


Por Renato Traballi Veneziani

Nesses vinte e sete anos de Sabesp e nessa atual


fase de despedidas, na qual alguns dos nossos gran-
des e velhos amigos estão entrando em um processo
de retirada, eu não poderia deixar de falar de um pro-
fissional, do qual tenho a honra de estar ao seu lado
no dia a dia. Trata-se do Eng. Mário Pero Tinoco, que
há mais de vinte anos entrou na empresa, aqui em
São José dos Campos, onde conquistou vários cargos
até chegar a Diretor de Planejamento. É bom ressaltar
que, dentro de toda história da Sabesp, o Mário foi o
único funcionário que continuou sua vida profissional
dentro da Companhia após ter ocupado um cargo de
diretoria. Hoje, ele é Engenheiro na área de Manuten-
ção do Vale do Paraíba.
Este nosso grande amigo, seja no seu tamanho fí- não só como meu amigo, mas sim como amigo de to-
sico ou no seu coração de ouro, diariamente nos traz dos, algumas vezes até como o nosso Pai, pois é assim
uma lição de vida e de amizade. Para muitos que o ro- que sinto na convivência diária com este ser ilumi-
deiam na Sabesp, ele é um orientador, um articulador nado, na qual não há segredos... Imaginem vocês que
e principalmente um conselheiro, sempre pronto para não temos segredos pessoais e profissionais. Bonito
nos dar apoio em nossos momentos de conflitos pro- né? Coisa de Deus...
fissionais e principalmente pessoais, com a habilidade Também quero falar um pouco do vovô Mário, por
ímpar de nos conduzir a uma nova visão, dentro de saber o quanto os valores familiares são importantes
um horizonte maior e com mais felicidade. para ele, que é um alucinado pelos seus filhos e netos,
Além disso tudo que ele representa aqui para os principalmente pelo netinho Breno, que está fazendo
amigos do Vale do Paraíba, Mário hoje é Delegado com que ele se aposente da Sabesp e de nós. Mas ele
Sindical, Diretor do Sindicato dos Engenheiros, mem- também tem um carinho especial pelo seu outro neto,
bro da Diretoria da subseção ABES do Vale do Paraíba, Isaías, bem como pela sua amada Carminha, compa-
Conselheiro do CREA e representante da Sabesp no nheira de longo tempo, que junto com ele se dedicam
comitê de Bacia do Rio Paraíba do Sul. Ele é tão poli- de corpo e alma para o bem estar da sua família.
valente, que ainda tenho certeza que me esqueci de Então, é isso, meu grande amigo! O pouco que
algo, mas posso afirmar que é extremamente atuante escrevo é de coração e feito com muita emoção, na
em todas as representações citadas, sempre defen- certeza de que a sua ausência na convivência diá-
dendo os interesses da nossa categoria e jamais o seu ria nos fará uma enorme falta. Contudo, desejo-lhe
interesse pessoal. muita felicidade nesta nova etapa da sua vida. Com
Agora é hora de falar um pouco do seu “ombro nós, ficarão registrados os seus grandes ensinamen-
amigo”, espaço onde compartilhamos nossos momen- tos, que jamais serão esquecidos. Garanto que serei
tos de angústia, tristezas, alegrias e geralmente procu- um batalhador para que nunca morra essa amizade,
ramos ajuda, uma palavra de carinho e, sobretudo uma harmonia e a cumplicidade, implantada por você, que
orientação, coisas preciosas que nunca são negadas. é um homem de grande valor para mim e acredito que
Vocês podem perceber que eu me refiro ao Mário para todos que te conheceram na Sabesp.

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