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FUNDAÇÃO UNIVERSITÁRIA DE APOIO AO ENSINO, PESQUISA E

EXTENSÃO - FURNE

CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA – UNIPÊ

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO

COORDENADORIA GERAL DOS CURSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO

ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA

A SEXUALIDADE NA ESCOLA:

SUAS CONCEPÇÕES E PRÁTICAS

DJANIRA RODRIGUES TAVARES

CAMPINA GRANDE - PB
MAIO - 2010
DJANIRA RODRIGUES TAVARES

A SEXUALIDADE NA ESCOLA:

SUAS CONCEPÇÕES E PRÁTICAS

Monografia apresentada à Coordenadoria Geral dos Cursos de Pós-Graduação da


Fundação Universitária de Apoio ao
Ensino, Pesquisa e Extensão – FURNE e
UNIPÊ, como exigência parcial para a
conclusão do curso de especialização
Psicopedagogia.

Orientador: Prof. MSc. Maria do Socorro


Araújo de Arruda

CAMPINA GRANDE – PB
MAIO - 2010
DJANIRA RODRIGUES TAVARES

A SEXUALIDADE NA ESCOLA:

SUAS CONCEPÇÕES E PRÁTICAS

Monografia apresentada à coordenadoria geral dos cursos de Pós-Graduação da


Fundação Universitária de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão – FURNE, como
exigência legal para a obtenção do título de especialista em Psicopedagogia.

Aprovada em: ___________/__________/_______

Nota: ____________

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________

Prof. MSc. Maria do Socorro Araújo de Arruda - Orientadora

_______________________________________________________

Prof. MSc. Rosalva Dias da Silva


DEDICATÓRIA

Aos meus pais (Marizete e George) pelo


amor, dedicação e confiança que sempre
depositaram em mim.
E ao meu sobrinho Enzo que ficava
chorando todas as segundas e quartas
quando ia assistir ás aulas.
AGRADECIMENTOS

À Deus por ter me dado forças pra nunca desistir dos meus sonhos e objetivos.

A professora Socorro, pela orientação, atenção, compromisso e paciência que me


orientou.

Aos meus companheiros da especialização, em especial a Paulo Márcio, Kelly, Fabiana


e Suênia.
RESUMO

A presente monografia, intitulada: “A sexualidade na escola: suas concepções e


práticas” tiveram como objetivo principal captar o olhar do professor sobre a Orientação
Sexual. Esta pesquisa foi realizada numa instituição particular da cidade de Campina
Grande-PB, localizada na zona urbana. A amostra dos dados foi constituída por um
grupo de quatro professores, sendo 03 do sexo feminino e um do sexo masculino todos
formados em Pedagogia. O estudo foi desenvolvido através de questionário e a análise
dos dados caracterizou-se com fins de investigar como os mestres enfrentam a questão
em sala de aula. Chegamos à constatação através desses dados, que o professor ainda
relaciona sexualidade à questão da procriação e ao sexo; e que; possuem pouco
embasamento e conhecimento sobre Orientação Sexual; mesmo sabendo da importância
do assunto, observa-se que o mesmo não é discutido, não é estudado na escola, haja
vista os educadores não receberem nenhuma formação ou preparação para trabalhar
com as crianças sobre sexualidade. Sabemos que na sociedade esse tema
freqüentemente é tratado como assunto proibido e constrangedor. Todavia, hoje em dia,
tem estado presente em quase todos os lugares por onde passamos. Embora estejamos
no século da informação, da globalização, é incontestável a necessidade do educador
trabalhar junto às crianças, auxiliando-os e permitindo que elas desenvolvam sua
sexualidade de forma saudável e prazerosa.

Palavras Chave: Criança. Educador. Sexualidade Infantil


ABSTRACT

This research, titled Sexuality in Schools: Conception and Practices, has as main
objective to capture the teacher look on Sexual Orientation. This research was carried a
private institution of Campina Grande-PB, in downtown. The sample data consisted of a
group of four teachers of both sexes, all graduate in Pedagogy. The study was
conducted by questionnaire and data analysis occurred for purposes of investigating
how the masters deal the question in the classroom. In The observation by these data,
the teacher also relates to the issue of sexuality procreation and sex, who have little
foundation and knowledge about Sexual Orientation; knowing the importance of the
subject, there is that it is not discussed or studied in school, given the educators receive
no training or preparation for working with children about sexuality. We know that this
theme in society is often treated as a forbidden subject and embarrassing. However,
today, has been present in almost all places where passed. Although we are in the
century of information, globalization, disputed the need for educators working with
children, helping them and allowing them to develop their sexuality in order
healthy and pleasant.

Key-words: Child. Educator. Child sexuality.

SUMÁRIO
INTRODUÇÂO................................................................................................ 9
.
1. SEXO: PERCURSO HISTÓRICO E 1
CULTURAL.......................................... 1
1.1 Mulher: A Deusa e Diabólica............................................................................ 1
1
1.2 Um caminho a seguir: o casamento................................................................... 1
3
1.3 Sexo: Atributos Para Homens e Mulheres......................................................... 1
4
2. CONSTRUÇÃO DA SEXUALIDADE NA PERCEPÇÃO DE 1
GÊNERO...... 6
2.1 Erotização Infantil.............................................................................................. 1
6
2.2 Relações de Gênero........................................................................................... 2
0
3. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS 2
DADOS............................................... 8
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................ 3
5
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................. 3
7
APÊNDICE........................................................................................................
9

INTRODUÇÃO

Cada vez mais cedo, as crianças recebem doses altas de erotização, dos mais
variados meios. Como conseqüência, mais cedo ou mais tarde, as crianças começam a
nos fazer perguntas sobre o sexo. Essa situação é inevitável.
Muita gente cresceu aprendendo que sexo era uma coisa feia e suja. Por essa
razão, o melhor era não falar a respeito ou, caso alguma pergunta surgisse, dizer que
esse assunto não era para criança.
Tentar desvelar um pouco deste fenômeno, neste trabalho, foi, para nós, um
desafio. Desafio este enfrentado, cotidianamente, nas leituras, na prática, nos
depoimentos, enfim, em vários momentos desta pesquisa.
O interesse em investigar, precisamente, a questão da sexualidade na escola foi à
falta de conhecimento, o constrangimento e a má ou nenhuma preparação dos
educadores nesse sentido. Contrário a esta proposta, temos profissionais ao se deparar
com as necessárias duvidas dos educadores, logo buscam negar um acompanhamento e
orientação, justamente por conseguir tratar com “normalidade” as questões referentes ao
sexo, ao prazer. Questões estas que como sabemos foi sempre reservado ao lugar do
feio, do pecado.
A escola deve propor atividades que visem atender à curiosidade natural dos
alunos e, ainda, ajudá-los no desenvolvimento de uma sexualidade saudável. Afinal de
contas, o sexo faz parte da vida de todo mundo, é fonte de prazer, saúde e é muito
importante para a felicidade de muitos. Além do mais, o aprendizado de valores, como
respeito, o companheirismo e a solidariedade, começam na infância.
Diante disso, os educadores precisam estar devidamente preparados e bem
resolvidos sexualmente para lidar com questões relativas a esse assunto e, ao mesmo
tempo, incluir a questão na proposta curricular e desenvolver atividades adequadas com
seus alunos, para que os mesmos tenham um bom desenvolvimento nos aspectos
referentes à sexualidade.
Tendo em vista a necessidade de repensar a questão da sexualidade,
especificamente no ambiente escolar, nos propõem a captar o olhar do professor sobre a
Orientação Sexual na escola.
Ademais, a Orientação Sexual constitui-se numa das prioridades do processo
educativo, tendo em vista o desenvolvimento técnico-cientifico e as mudanças sócio-
culturais da sociedade contemporânea.
10

O desenvolvimento humano com relação à sexualidade acontece gradualmente e


é indicado pelo contato físico, ou seja, quando os bebês são segurados, afagados e
acariciados. A partir daí, a capacidade erótica do ser humano se desenvolve.
Atualmente, vários fatores contribuem para o afloramento e o desperta da sexualidade
de crianças e adolescentes, como podemos destacar: as cenas sexuais mostradas na TV e
a erotização da programação infantil.
A discussão sobre a inclusão da Orientação Sexual no currículo escolar, bem
como sua prática, é uma questão que vem sendo debatida desde a década de 70 e se
intensificou na década de 80, em virtude da preocupação com o risco da contaminação
pelo HIV (vírus da AIDS) entre jovens e adolescentes e com o crescimento de gravidez
na adolescência. Essa questão parece mudar quando em 1997 o MEC lança os PCN’s do
Ensino Fundamental que incluem a Orientação Sexual no currículo das escolas como
tema transversal. No entanto, verifica-se certa resistência por parte das escolas em
incluir essa temática em suas propostas pedagógicas.
Ao tratar o tema Orientação Sexual, buscamos considerar a sexualidade como
algo inerente à vida, que se expressa desde cedo no ser humano e contribui para o seu
desenvolvimento global. A ausência dessa abordagem tanto na família, na igreja, como
na escola gera dúvidas e conflitos, que acabam levando ao bloqueio da sexualidade
adulta. Se não há conversa em casa e nem na escola, é na rua que elas e eles
provavelmente vão mesmo buscar matar a curiosidade.
Por isso, é necessário incluir a Orientação Sexual nos currículos escolares, pois
só assim as crianças e os adolescentes conhecerão as verdades, os mitos e as mentiras
sobre sexo, sexualidade, métodos contraceptivos, DST’s e tudo o que ainda pode ser
entendido como tabu para pais e os próprios professores.
Esta monografia apresenta-se estruturada em três capítulos:
No primeiro capítulo, apresentaremos um breve relato do Sexo: Percurso
Histórico e Cultural ao longo da história da humanidade, desde a antiguidade aos dias
atuais. Resumidamente, abordaremos Mulher: a deusa e diabólica, Um caminho a
seguir: o casamento e Sexo: atributos para homens e mulheres.
No segundo, explicaremos a Construção da Sexualidade na Percepção de
Gênero, enfocando as questões da Erotização Infantil e das Relações de Gênero.
No terceiro e último, descreveremos o caminho metodológico da pesquisa que
foi qualitativa e realizada em uma escola particular do município de Campina Grande-
PB, por fim apresentamos as considerações finais e as referências bibliográficas.
11

1. SEXO: PERCURSO HISTÓRICO E CULTURAL

1.1 Mulher: a deusa e diabólica

Desde a antiguidade a Mulher era considerada uma Deusa, devido á relação que
ela tinha com a Terra; Terra esta que produzia vida, nascimento, morte e acolhimento. A
semelhança entre a Terra e a Mulher estava relacionada com a questão da fertilidade e
fecundidade que ambas possuíam. Barros (2001, p.20) afirmava que “existia uma
analogia entre a terra e a mulher. Ambas foram vistas como um ventre capaz de gerar a
vida”.
A figura feminina era considerada guerreira, caçadora que tinha o controle e o
poder sobre os homens e a natureza. Na religião, a Mulher foi considerada a primeira
divindade a ser cultuada pelos povos antigos. Nesse período, também foram criadas as
primeiras estátuas femininas para celebrar a fecundidade e o reinado da Deusa/Mulher,
como nos diz Barros (2001) predominava neste período “a Religião da Mãe”.
No período Mesolítico o homem passa a considerar a idéia de fixar lugar, de usar
a força animal em beneficio próprio, para isso, era necessário domesticá-los. Nessa
ocasião, o homem assumiu seu sedentarismo e cultivo da terra. Nesse contexto, surge a
organização das tribos, das comunidades, das famílias, pois até então, o homem era
nômade. De certa maneira começaria o homem a ganhar espaço, mas o culto a Deusa
Mãe continuaria inabalável, pois, o homem venerava a Mulher como sendo única,
sublime, soberana.
O reinado da Deusa/Mulher começaria a ruir quando o homem percebe a sua
contribuição no ato da procriação, pois até o momento, ele considerava um mistério a
geração da vida, da gestação e do nascimento. Surgi á descoberta mediante o contato
com os animais, onde ele percebe que a fêmea só gerava suas crias com a participação
do macho, portanto, não seria diferente entre o homem e a mulher. Diante disso, o
homem começa a demarcar o seu poder e dominação entre os animais e principalmente
com as mulheres. Acerca da referida participação relata Barros (2001, P.25):
12

As fêmeas eram incapazes de procriar sozinhas, enquanto que ao lado dos


machos o feminino sempre ocorria. Se a fêmea animal não gera sozinha, ela,
assim como a fêmea humana e a terra, funcionava como receptáculo de grão
que nela era introduzida

Segundo Barros (2001), a descoberta da participação do homem na reprodução


humana contribuiu enormemente para o surgimento do patriarcado e, por conseguinte,
sendo este um forte atributo para que a mulher venha a perder a sua coroa de santa e
doadora da vida e passa a ser considerada detentora do mal e da luxuria. Com o
patriarcado se estabelece o reinado do homem e o culto ao Deus único. Nessa
construção do reinado do macho, a mulher é considerada a imagem demoníaca e,
portanto, a causadora da perdição do homem. A origem de tais prerrogativas estabelece
na mulher um caráter perigoso constituído de uma força misteriosa que a define como o
“santuário do segundo sexo” em que Delumeau (1989, p.311) “O homem definiu-se
como apolíneo e racional e por oposição à mulher dionisíaca e instintiva, mas invadida
que ele pela obscuridade, pelo inconsciente e pelo sonho.”
Na visão de Tomás de Aquino, religioso da época, a mulher era detentora da
função gerativa por ser criada apenas com a finalidade da reprodução. Na condição de
ter sido criada da costela do homem deveria ser, portanto, inferior e atribuída das
condições de luxúria, subordinação e passividade. Tomás atribuía ao homem a função
nobre do pensamento, das operações da razão e do princípio de existência humana por
ter sido criado primeiro a imagem e semelhança do criador. Associava ao masculino as
qualidades de ativo e dominante.
A cultura, a religião e a sexualidade eram interligadas, oriundas da mesma fonte
a Deusa. Essa Deusa que passou a ser considerada uma pecaminosa, diabólica, pois
induziu Adão ao pecado da serpente e lhe mostrou o sexo. Isso devido afirmação que
Clemente de Alexandria que o sexo surgiu a partir do momento em que Eva fez Adão
pecar, Santo Agostinho também relacionava a relação sexual, ao desejo e ao Pecado
Original.
A Mulher era vista em dualidade sendo, num momento considerado como um
ser espiritual e em outro momento abominável, devendo o homem amar a sua mulher na
sua qualidade de criatura de Deus renovada, mas odiar nesta a sua natureza sexual. Com
esta compreensão dar-se a construção da mulher como sinônimo do mal e tentação e
conseqüentemente a ligação desta ao sexo, ao desejo e tudo que afasta o homem da
13

razão e do conhecimento. Diante do exposto fica explícito a construção da imagem da


mulher em seus pólos distintos de Mãe e provedora da vida a imagem demoníaca e
apaixonante do feminino.

1.2 Um caminho a seguir: o casamento

No percurso de imagem demoníaca da Mulher a Igreja e seus seguidores


associavam a figura feminina ao sexo sujo, pecaminoso, impuro e impróprio. Na Idade
Média, Santo Agostinho outro religioso da época abominava o sexo e os prazeres,
acreditando que este impedia o homem de crescer espiritualmente e para tanto, só
considerava o sexo permitido apenas com fins de procriação. Sendo o melhor para
homens e mulheres o caminho da castidade e da virgindade e em caso de
impossibilidade de permanecer distante do sexo, o casamento era o melhor remédio.
Macedo (1992) justifica que a ação da igreja era considerar o casamento um meio de
sustentar a ordem pública. De acordo com Arruda (2009, p. 27) Lutero e Calvino
descreve o “casamento como um remédio, um hospital necessário para impedir que
mergulhemos na lascívia irrefreada”.
Na verdade, o casamento nessa época era um negócio, um pacto arranjado entre
duas famílias ligadas por interesses de preservar o patrimônio familiar. Nesses
casamentos não existiam amor, respeito, companheirismo. Estando neste pacto á mulher
obrigada a levar para a nova união um dote e a se submeter ás ordens do marido. Diante
disso Macedo (1992) afirma que depois de casada, a mulher perdia o direito de herdar
os bens paternos e tornava-se estranha à família anterior. Além do mais não podiam
exercer funções públicas, políticas e nem tão pouco religiosas, eram apenas donas de
casas dedicadas aos cuidados dos filhos, marido e a igreja. Caso ficasse viúva o filho
mais velho era quem tinha a responsabilidade de cuidar da mãe, dos irmãos e da casa.
De acordo com Roberts (1998) “a vida das mulheres era atrofiada: uma existência de
contínua frustração, obediência e silêncio, cujo único papel era prover o marido com
herdeiros homens – é uma verdadeira tragédia grega” (1998, p.34). O casamento para o
homem passa a ser um bom negócio, pois ganhava prestígio social, respeito e poder,
enquanto a mulher passa a ser submissa ao homem, pecadora e considerada a culpada de
todos os males causados ao homem pela sua sexualidade.
14

Em relação ao sexo, a Igreja determinava como os casais deveriam viver e


principalmente os dias, ás horas e a maneira da prática sexual, que era o homem por
cima da mulher, pois, qualquer outra posição era condenada pela igreja. Mediante a
afirmação de Richards (1993, p.39) o sexo no casamento para as mulheres era “Proibido
em todos os dias de festas religiosas e jejum [...], aos domingos e nos períodos impura
(durante a menstruação, durante a gravidez, durante o aleitamento e por quarenta dias
após o parto)”.
Diante de tanto rigor da Igreja em abominar o sexo e suas paixões, não deixava
de acontecer á masturbação, o adultério, a homossexualidade feminina e masculina, a
bissexualidade e a prostituição. Mesmo sendo comum essa prática, a Igreja condenava e
punia seus fiéis através das penitencias a pão e água. Essas eram práticas comuns entre
os indivíduos, aos quais foram convencidos socialmente.
Como podemos destacar na fala de Taylor (1997, p.17):

Tomando como ponto de partida 5.000 anos atrás, é possível documentar


uma grande diversidade na sexualidade humana na Eurásia: bestialidade,
homossexualidade, prostituição (enfaticamente, não é a profissão mais
antiga), travestismo (masculino e feminino), transexualidade, hormonais,
sadomasoquismo [...] Essa variação foi encoberta quando os valores cristãos
foram adotados publicamente, depois que o ideal cavalheiresco de amor
romântico e de preferência não consumado deu origem a uma visão de sexo
físico como essencialmente pecaminoso e proibido, da qual o legado perdura.

Fica evidente que a Igreja procurava controlar os desejos e impulsos sexuais dos
seus fieis e da sociedade de um modo geral, mas isso não impedia que os atos
libidinosos acontecessem de um modo reprimido, escondido entre homens e mulheres.

1.3 Sexo: atributos para homens e mulheres

Diante da soberania que a Mulher tinha na condição de doadora da vida e


acolhedora na morte, de Deusa Mãe e provocadora do pecado esta permanecia na
posição de dualidade ora venerada, ora execrada. Infelizmente a história encarregou-se
de associar à Mulher todas as culpas e males relacionados ao sexo, mediante o pecado
original e a construção da imagem de tentação ao masculino. E essa Mulher passou a ser
rotulada como fraca, tentadora, diabólica, perdendo toda a magia, encanto, prestígio e
valor adquirido na época da Deusa/Mãe. Estando o pedromínio do masculino
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estabelecido na cultura, o homem passa a ser considerado único soberano e dono da


mulher, principalmente porque ela fora criada da costela de Adão, tornando-se inferior
física e intelectualmente. Dessa identificação construída por leigos e homens da Igreja
está o cerne do medo da mulher e a supervalorização do macho. Em que é autorizado:

A imposição dos valores patriarcais com referência exclusiva ao masculino e


conseqüentemente desmoronamento do feminino implicam, sem dúvidas, nas
causas dos conflitos atuais que exigem da mulher uma transformação no
âmago da sua consciência, especialmente, no tocante às atitudes e maneiras
da nossa cultura encarar sua sexualidade (ARRUDA, 2009 p.69).

A esse respeito, afirmamos que o advento do patriarcado só poderá ser refeito a


partir de um olhar distanciado e constituído de verdade por meio de um aguçado espírito
científico. Acerca desta verdade comenta Araújo (1989, p 41) que, “Verdade é uma
visão desconcertante, dado que exige que se constitua um novo juízo sobre esses
preconceitos estabelecidos desde a pré-história.
Educadas para guardar a castidade como forma de honrar a família e a salvação
da alma, as mulheres eram a todo tempo incentivadas para afastarem dos possíveis
vícios da carne e exercer os papeis da maternidade, de boa esposa e casta sob o
comando do marido. Assegurando essas determinações Aires (1985, p.135\136)

No próprio ato sexual ele era supostamente ativo, portanto superior à mulher,
que, supunha-se, devia se submeter aos seus assaltos com passividade [...] A
união sexual só era legítima, dentro do próprio casamento, se fosse realizada
para uma boa finalidade, isto é, para gerar filhos, ou para dar ao cônjuge o
que lhe havíamos prometido no contrato do casamento.

Neste entendimento o sexo aos moldes tradicionais permitia sua prática para as
mulheres alicerçada à disciplina, a obrigação, ao medo e desamor. Estando
determinando para os homens uma sexualidade alicerçada em privilégios e liberdade.
Neste percurso acerca do sexo e da sua permissão para homens e mulheres
buscamos demonstrar a construção e o estabelecimento da imagem de sexo como
demoníaco e merecedor de negação, especialmente para o gênero feminino. Assim
como oportunizou a necessária reflexão acerca da força do feminino e busca de
alternativas que apontem para um despertar profundo no ser mulher, na sua sexualidade
e nas riquezas que emanam deste ser provido de dom da vida, da proteção e do prazer.
Neste sentido “Urge que cai por terra idéias retrógadas de superioridade masculina
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como é urgente o reconhecimento e aceitação da mulher como um ser humano com


igual possibilidade de atuação no mundo” (TAVARES,2008,p.9).
Muraro (2000) confirma que o masculino busca perpetuar na cultura, o
convencimento de inferioridade da mulher em relação ao homem. Desta ideologia,
surge a necessidade de que é preciso precaver-se de todas as maneiras contra a mulher
e, com isso, impedi-la de participar do lado prazeroso da sem vida sem ônus e rotulação.
Portanto, as tentativas de subversões da ordem estabelecida pelos homens para o
“segundo sexo” são merecedoras de reflexões, mudanças na crença de que tudo é
possível quando nos alçamos a transpor nossos receios e prisões em nome da nossa
almejada e tão temida sexualidade.

2. CONSTRUÇÃO DA SEXUALIDADE NA PERCEPÇÃO DE GÊNERO

2.1 Erotização Infantil

Antes do que podemos imaginar a criança já é erotizada, pois esse processo


começa a se desenvolver no período intra-uterino e, continua principalmente, nos
primeiros anos de vida. Quando ela está sendo gerada e os pais lhe dão todo carinho
através daquela enorme barriga, já a estão erotizando e este ato continua logo após o
nascimento. Afagada junto ao peito, banhada, tocada, higienizada e no momento em que
o bebê suga o seio da mãe, a criança começa a descobrir o mundo em que ela está
inserida, começa a entender a sua sexualidade. Todos esses toques se caracterizam
como erotização, em cada parte do corpo da criança.
A erotização é um processo natural e que contribui para a sexualidade adulta,
esta erotização promove no individuo uma relação de intimidade com o próprio corpo e
essas descobertas facilitam uma intimidade maior entre os demais indivíduos que estão
ao seu redor. E o adulto que, por qualquer motivo, tenha sido privado desta erotização,
pode construir a possibilidade de erotização necessária para o resgate da sua
sexualidade satisfatória. Essa erotização é construída através do toque, do carinho, da
descoberta dos pontos mais sensíveis do seu corpo.
17

Diante disso o meio ambiente é fundamental para a aprendizagem da criança.


Por isso deve existir a liberdade da descoberta, pois muitos adultos não foram
estimulados e não conseguem se sentir, se descobrir, conhecer como e onde são as
partes do seu corpo mais sensíveis ao prazer. Diante disso, Maldonado afirma “[...] que
a descoberta do corpo do outro se faz a partir da descoberta do nosso próprio corpo; é
preciso se sentir para poder sentir o outro de forma plena” (1984 p.63).
Para Maldonado (1984 p.64) “é necessário reaprender a tocar e a sentir,
relembrar os pilares da nossa existência para que a vida seja fonte de prazer e alegria.”
Nesse caso, não há uma proibição quanto à busca do conhecimento do corpo, ao
contrário, esse ato traz benefícios para uma vida adulta mais saudável.
Vygotsky (1988) defende a idéia que a criança já nasce num mundo social e,
desde o nascimento vai formando uma visão desse mundo através da interação com os
adultos. Por meio da interação com o meio social e cultural a criança vai construindo
seu corpo sexuado. Ademais, dependendo do relacionamento com os pais, será
determinada a capacidade de se doar aos que ama e, principalmente, ao exercício da
sexualidade. Mas para essa sexualidade existir com naturalidade é preciso o contato
corpo a corpo, pele a pele e olho no olho. Os pais erotizam seus filhos através do toque,
do carinho, vejamos o que diz Maldonado (1984, p.63) a respeito disso:

Sentir o toque sensual e agradável das mãos percorrendo o corpo sensível,


erógeno, excitá-lo; descobrir os requintes do prazer erótico em pontos
especiais do território do outro, ocupar-se com o dar e receber prazer – tudo
isso são desdobramentos das possibilidades essenciais do contato pele a pele
da primeira infância.

O corpo está presente desde que iniciamos nossa história de vida, ainda dentro
do útero materno. Esse corpo se constrói a partir das relações que estabelecemos com as
pessoas mais íntimas e próximas a nós. Aprendemos a amar e a ser amada, a tocar e a
ser tocada. O corpo cresce, vai se desenvolvendo e atravessa uma série de
transformações. Às vezes nos assusta, nos surpreende, abre novos horizontes e
transgride regras. O corpo é sinônimo de prazer, desejos, sonhos e experiências.
Segundo Neckel (2003, p. 62), “o corpo e a sexualidade fazem parte do processo
de erotização.” E nesse processo de erotização é preciso cuidar do corpo, para que o
mesmo seja um lugar gostoso e limpo. Pois são os pequenos atos de higiene corporal
que garantem esse bem-estar com o próprio corpo. Por isso, o trabalho de erotização
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com crianças não se instala apenas através do agir, mas também do sentir. O objetivo
principal é dar à criança o poder de seu próprio desenvolvimento.
Assim sendo, é mister confirmar que:

“cada um traz escrito, em seu corpo, uma memória de vida, uma história, um
contexto familiar; saber olhar esses corpos com a pecualiaridade de cada um
é o fundamento de uma didática cuidadosa, que valoriza a subjetividade e
estimula as potencialidades” (GARCIA, 2002, p.24).

O desenvolvimento da criança segundo Vygotsky (1988) acontece do social para


o individual. Por isso a aprendizagem acontece através da interação social e que dessa
relação do individuo com a sociedade vai ser mediada o seu desenvolvimento social,
afetivo e cognitivo. O objetivo principal de Vygotsky é dar a criança o poder de seu
próprio desenvolvimento através da segura interação com o meio que ela está inserida.
Ademais a estruturação psicossexual da criança se dá na troca afetiva entre ela, seus
pais e familiares, na qual cada um tem sua função determinada, o que permite que a
criança vá, aos poucos, e de acordo com suas possibilidades e limites construindo e
organizando seus impulsos eróticos em consonância com as regras do seu sistema
familiar.
A sexualidade se constrói em cima de regras, limites, valores e que sem regras,
não é possível estruturar uma sexualidade propriamente humana. A criança possui uma
sexualidade com características diferentes da sexualidade adulta, porque ela ainda não
tem maturidade para organizar todos aqueles impulsos e impressões eróticos. Só aos
poucos ela vai organizar e coordenar seu erotismo na direção da genitalidade, isto é, da
relação propriamente dita, isso só irá acontecer na puberdade.
Tanto para Vygotsky (1988) como para Freud (1996) as crianças são
consideradas seres vivos, e não adultos em miniaturas. Elas têm suas características,
suas particularidades e capacidades de aprendizagem. Ambos reconhecem o papel da
relação entre o indivíduo e a sociedade, em Vygotsky (1988) esta relação é que
determina o desenvolvimento do indivíduo. Enquanto Freud (1996) caracteriza essa
aprendizagem através dos estágios ou fases que a criança apresenta em cada etapa do
desenvolvimento que são:

1) Fase Oral – obtenção de prazer pela boca, pela sucção do seio materno,
chupeta e o ato de levar objetos á boca;
19

2) Fase Anal – quando aprende a controlar a atividade esfincteriana, que é o


controle muscular;
3) Fase Fálica – interesse pelos genitais e pelas diferenças entre meninos e
meninas;
4) Fase Genital – a auto-estimulação dos genitais que é o conhecimento do
corpo.
Essas fases são de extrema importância no desenvolvimento infantil, que
segundo a teoria freudiana, estão ligadas ao deslocamento da libido (energia sexual) a
qual cada criança deve passar para estimular as zonas erógenas que estão embutidas no
próprio corpo. Assim a criança deve passar pela fase oral, pela fase anal, e por outras,
até chegar á puberdade. A auto-estimulação de zonas erógenas não se configura
propriamente como uma masturbação (atividade característica da puberdade) e sim
como tipo de sexualidade especialmente infantil, diferente da adolescente e da adulta.
Essas fases representam para a criança a descoberta e o conhecimento do próprio
corpo e dos demais a sua volta. A sexualidade atinge a meninada desde cedo, mas o que
deflagra a excitação, a curiosidade muda de criança para criança. Além do mais a
maneira como a criança vê a sexualidade depende muito de como os pais e os
educadores se posicionam a respeito.
Fica evidente que a noção de erotização é algo inerente á vida, deve ser
compreendida pelos pais e que as crianças também fazem parte desse processo. É
importante perceber que a erotização é diferente em cada fase do desenvolvimento
humano. As crianças, os adolescentes, os adultos e os idosos são seres sexuados e, a
cada fase da vida, possuem interesses sexuais e exprimem em comportamentos a própria
erotização ou a sexualidade.
Trabalhar com o tema sexualidade não é fácil, exige estudos, pesquisas, enfim,
preparação de todos os profissionais envolvidos na educação: pais, professores e
gestores; pois, em geral, a referenda temática é abordada com preconceitos e de forma
velada. Nesse sentido existem muitas idéias pré-concebidas em diferentes aspectos
culturais, nos quais temos que levar em conta, não podemos simplesmente impor
conceitos repletos de modernismo sem nos preocuparmos com os efeitos que causarão
às crianças.
Para que possamos estimular em nossas crianças uma sexualidade bem resolvida
e com menos tabus. Num primeiro momento devemos buscar informações que possam
nos orientar para lidarmos bem com o assunto e depois, falar com os pequenos de forma
20

aberta e descomplicada, deixando a criança à vontade quando a curiosidade surgir, na


certeza de que, através da disponibilidade e da informação as coisas acontecem.
Só assim poderemos orientar as crianças para que se tornem no futuro um adulto
com mais firmeza na sua vida sexual, pautada na responsabilidade, naturalidade e
soltura permitida.

2.2 Relações de Gênero

Se o sexo é tão pouco conhecido e compreendido, a sexualidade ainda é muito


mais desconhecida e incompreendida. Normalmente, costuma-se, usar ambos os termos
como sinônimos, quando se trata de duas realidades diferentes, portanto, sendo
indispensável compreender a diferença que existe entre estes termos.
A palavra gênero antigamente era usada apenas na gramática para conceituar os
substantivos, só em 1955 que o biólogo John Money mencionou o gênero para dar conta
dos aspectos sociais do sexo. Depois disso, é que a palavra gênero ganhou a definição
atual, que segundo Silva (2004, p. 91) gênero refere-se aos aspectos socialmente
construídos do processo de identificação sexual, e o sexo são aspectos biológicos.
O sexo é relativo ao fato natural, biológico da diferença física entre o homem e a
mulher, ou seja, no popular, o sexo é entendido como a relação sexual e os órgãos
genitais. Enquanto que a sexualidade é o modo próprio como cada pessoa vive, o fato de
ser sexuado em masculino e feminino. Portanto, a sexualidade é uma categoria
existencial subjetiva, muito distante de órgãos ou funções biológicas.
Ao definir sexualidade como sendo o modo pessoal de viver, o fato de ser
sexuado, compreende a existência de diferentes modos de fazê-lo. Uma sexualidade,
vivida com prazer e equilíbrio, é uma sexualidade vivenciada de forma saudável, fonte
de gratificação e realização pessoal. Ao contrário da sexualidade vivida de forma
conflituosa e tensa, com problemas de insatisfação, frustração, desequilíbrio etc. Neste
último caso, temos como exemplos, pessoas que não aceitam o sexo, rejeitam sua
condição sexual, em síntese, não aceitam ou rejeitam o seu modo próprio de ser e viver
como sexuado.
Andrade (1998, p.527) diz que “os pais devem ter o cuidado de orientar os seus
filhos (as) no sentido de criarem condições para os mesmos desenvolverem uma
identificação de sexo clara e firme”, pois sentir-se como membro de seu próprio sexo é
fundamental para a saúde mental do indivíduo. Nesse sentido, é preciso compreender
21

que a escola e as relações de gênero caminham juntas, pois o nosso cotidiano está
repleto de exemplos práticos (modelos) de como essas relações acontecem. Não é de
hoje que os padrões de comportamento são diferenciados para homens e mulheres e, ao
mesmo tempo, vêm sendo transmitidos para nossas crianças e jovens.
Na sociedade, o sexo masculino sempre teve o poder da dominação das relações
entre homens e mulheres. E as crianças observam esses modelos de dominação e
submissão diariamente em suas casas, comunidades e na própria escola. Basta
observarmos, por exemplo, o modo como se dá a divisão e o desempenho das atividades
domésticas na família: as funções de lavar, passar, cozinhar, limpar a casa, cuidar dos
filhos etc, como os meios de comunicação retratam homens e mulheres e vendem uma
imagem pré-fabricada da sexualidade masculina e feminina.
Infelizmente o mundo não vive apenas do capitalismo, mas também do
patriarcado, que estabelece as desigualdades e diferenças entre os homens e mulheres,
diferenças essas refletidas na educação e nos currículos.
É dessa forma que as crianças aprendem e reproduzem como devem
desempenhar o papel sexual que lhes é atribuído, consolidando, assim, os modelos
discriminatórios de masculino e feminino que já conhecemos. Devemos recuar um
pouco mais no tempo, para entendermos melhor isso, pois as atividades domésticas
sempre estiveram relacionadas a funções servis e de subserviência, geralmente
executados por escravos, ou por pessoas com pouca ou sem nenhuma instrução. Elas
sequer eram entendidas como fonte de trabalho quando muito, entendidas como
obrigações das mulheres para com a família e o marido, como ainda acontece em muitas
sociedades modernas. As profissões e certas carreiras eram consideradas territórios
masculinos, e por isso a mulher era estritamente excluída de determinados trabalhos.
Podemos observar esse preconceito na fala do autor quando diz:

[...] os estereótipo e os preconceitos de gênero, eram internalizados pelos


próprios professores e professoras que inconscientemente esperavam coisas
diferentes de meninos e meninas. Essas expectativas, por sua vez,
determinavam a carreira educacional desses meninos e meninas,
reproduzindo, assim, as desigualdades de gênero (SILVA, 2004, p. 92 e 93).

Atualmente, podemos observar mudanças na construção e formação da família


tida como padrão e nas atividades domésticas atribuídas a homens e as mulheres, onde
22

na maioria das vezes os papéis são invertidos, diante das circunstâncias e necessidades
da vida. Com isso o patriarcado perde seu reinado de provedor da família. E na maioria
dos casos o homem passa a educar os filhos, a cuidar das tarefas domésticas, enquanto a
mulher trabalha fora para ganhar o sustento da casa.
Mas para isso acontecer é preciso trabalhar desde cedo os modelos que
estimulam as desigualdades sociais. Os educadores devem aproveitar as brincadeiras
infantis como, por exemplo, a casinha de boneca, ou as brincadeiras de bonecas,
consideradas como território feminino, para desenvolver atividades relacionadas com as
relações de gênero. De acordo com Rosa (2003, p.19), “a brincadeira de boneca pode
ser utilizada para exercitar ludicamente, não só o papel da maternidade junto ás
meninas, mas em especial, para oportunizar aos meninos o exercício da paternidade.”
Segundo Ribeiro (2001, p.49), “meninos brincam de boneca e muitas vezes
sabem ninar ou trocar a fralda, bem melhor que as meninas”. E nem por isso deixam de
ser meninos/homens, só por executarem tarefas femininas. É preciso repensar o
machismo, isso também é um problema da mulher, pois hoje em dia a mãe continua
ensinando aos filhos papéis masculinos e femininos. Ribeiro ressalva que o mais
importante é quando as crianças podem brincar de “diferentes tipos de brincadeiras”,
prevalecendo o gosto de cada um, sem ter que discriminar se a brincadeira ou atividade
é de menino ou menina.
Os professores precisam reconhecer a importância das questões de gênero e
trabalhar essas questões em sala de aula, pois só assim conseguiremos mudar essa
sociedade desigual e injusta, principalmente em se tratando das relações entre
meninos/meninas e entre homens/mulheres. Pois ainda é muito forte o entendimento de
que a educação dos filhos é de competência e responsabilidade das mulheres, inclusive
a educação sexual. Isso fica bem claro nas reuniões de pais promovidas pelas escolas,
nas quais a maior proporção de participantes é, na realidade, de mães.
O modo como a escola é organizada, as atividades de limpeza, cozinha e
educação que são realizadas por mulheres, as brincadeiras infantis e as atividades
pedagógicas que separam meninos e meninas ou que valorizam determinadas
características como sendo femininas ou masculinas, os livros didáticos e as histórias de
príncipes encantados (contadas nas séries iniciais com a idéia de uma princesa indefesa
que será salva por um cavalheiro valente), e as demais situações do cotidiano escolar,
contribuem para as crianças formarem um perfil estereotipado de masculino e feminino,
e o acompanhará por toda vida escolar e adulta.
23

O professor precisa melhorar o seu olhar para o currículo, mas é necessário


entender que o currículo é um artefato de gênero, ou seja, uma construção de
aprendizagem que envolvesse tanto as questões masculinas como femininas. Para
colocar em prática a construção de crianças, adultos, mas abertos a
diferenças\diversidades. Acerca desta construção comenta Neckel (2003, p.123).

...a escolha dos materiais e livros didáticos sobre o assunto precisa passar
por uma análise criteriosa, pois muitos deles apresentam uma argumentação
cristalizada e essencialista em relação à sexualidade, principalmente no que
se refere às relações de gênero, contribuindo assim para a manutenção das
desigualdades entre homens e mulheres, bem como entre os diferentes
grupos sociais.

Acredita-se que o maior desafio do professor é fazer com que os alunos, não só
reconheçam as desigualdades que caracterizam as relações sexuais, sociais, afetivas e de
trabalho entre homens e mulheres, mas também reconheçam e reflitam sobre as relações
intrínsecas de poder/dominação e submissão que estão por trás dessas desigualdades,
com suas idéias e valores.
Ademais, se faz necessário reforçar a importância que a compreensão dos
professores tem para o trabalho de Orientação Sexual, porque grande parte do nosso
aprendizado ocorre através de inter-relações humanas.
Os PCN’s destacam que, na discussão sobre as relações de gênero, deve-se
“combater relações autoritárias, questionar a rigidez dos padrões de conduta
estabelecidos para homens e mulheres a apontar para a sua transformação”. (Brasil,
1997, p.144). Sendo assim, as relações de gênero são construídas socialmente, com
conseqüências passiveis de transformações e mudanças, cabendo a nós, adultos e,
principalmente aos educadores, ajudar as crianças a desenvolverem uma percepção mais
saudável da sexualidade e a se relacionarem da forma mais equilibrada possível. Isso
implica romper com a reprodução desse modelo de poder-submissão, da supremacia de
um sexo sobre o outro, implícita nos papéis sexuais, iniciando a mudança por nós
mesmos.
Acredita-se que ser homem, ser mulher ou simplesmente, ser diferente desse
padrão estabelecido pela sociedade, não significa ser melhor ou pior do que ninguém,
mas ter capacidades e características próprias que nos fazem seres únicos e especiais.
Sabe-se que a família é o primeiro educador da criança, é através dos pais que
elas têm contato com o mundo, e cabe aos pais transmitir as primeiras noções de
24

relacionamento e educação, que contribuirá para a formação e desenvolvimento pessoal


e social da criança. Segundo Basso (apud. Andrade, 1998, p.525) “é na família que a
criança recebe as primeiras informações e as mensagens verbais e não verbais
transmitidos em relação ao exercício da sexualidade.”
Diante disso, a orientação sexual é realizada pelos pais de uma maneira natural,
ou seja, informal e espontânea. Por isso, Mattos afirma: “a família é o modelo
emocional, que o bebê aprenderá através da observação, reciprocidade das relações e da
imitação dos familiares e que permitirá mais tarde, o seu relacionamento com o
mundo.” (apud. Andrade, 1998, p.526). Se não há conversa em casa, será na rua que
crianças e adolescentes provavelmente irão buscar informações para sanar suas
curiosidades em relação ao sexo, à sexualidade. Crianças e adolescentes querem e
precisam falar sobre sexo, métodos contraceptivos, DSTs e sobre tudo o que ainda pode
ser entendido como tabu para pais e professores.
A família deve ser o primeiro educador. Todo esse esfacelamento das famílias –
as pessoas hoje não têm tempo para compartilhar as experiências de vida –
principalmente quando a questão é relacionada à sexualidade das crianças e dos
adolescentes. As informações que eles recebem através de campanhas, da mídia de um
modo geral, são informações soltas. É preciso que, em casa e na escola, as informações
sejam completas e direcionadas a cada faixa etária, de forma que as dúvidas destes
sejam esclarecidas com segurança e veracidade.
Essa é uma função familiar, mas muitos pais encontraram e encontrarão
dificuldades, preconceitos, receios e, principalmente, despreparo para assumir essa
tarefa. Isso acontece devido, a maioria dos pais teve uma educação rígida, reprimida e
não sabe conversar sobre essa temática com seus filhos, pois nunca tiveram uma
educação sexual. E, por esse motivo, acaba transferindo essa responsabilidade para a
escola.
A sexualidade está escondida em todos os lugares e isso não é diferente no
ambiente escolar, basta um olhar mais atento para perceber essa realidade. Cabe à
escola transmitir conhecimento, informação sobre o tema educando o indivíduo ao
desenvolvimento da solidariedade, da responsabilidade, e do respeito às diferenças que
existem entre os indivíduos. Segundo Andrade (1998, p. 526), “esses objetivos nem
sempre são atingidos, especialmente em se tratando de um tema tão polêmico quanto à
educação sexual”.
25

A orientação sexual deveria ser transmitida pela escola de uma maneira formal e
sistematizada, desde a inclusão da criança (educação infantil) na escola. O ideal seria a
família e a instituição escolar trabalharem em conjunto para transmitir e desenvolver
uma sexualidade sadia.
Diante disso, os PCN’s compreendem que a ação da escola é o complemento à
educação dada pela família. Havendo essa junção entre a escola e a família, a sociedade
é a única beneficiada, pois todos nós somos encarregados, querendo ou não, de tratar da
educação da sexualidade de nossos alunos/as e de nossos filhos/as.
Considerando que somos todos arrastados nesse processo, é possível concluir
que, para se exercer a função de educador ou orientador sexual, não é necessário ter o
diploma de professor, ou ter o conhecimento profissional da área de saúde e ciências
biológicas. “O preparo para tratar das questões relacionadas à sexualidade tem pouco a
ver com a formação acadêmica do educador e muito a ver com a postura frente à
sexualidade” (Oliveira, 1998, p.101).
Além do mais, é preciso lembrar que os pais são os principais educadores
sexuais das crianças e, que o professor não pode julgar como certa ou errada a educação
que cada família oferece, mas sim, complementá-la. Nesse sentido, deveria existir uma
parceria entre a escola e os pais, ou seja, estes devem ser informados sobre o projeto e
objetivos do trabalho de orientação sexual e que enfatiza não somente a dimensão
biológica, mas psíquica e sócio-cultural.
De acordo com os PCN’s, as escolas que trabalham com Orientação Sexual
tiveram resultados satisfatórios com relação ao aumento do rendimento escolar, pois
diminuiu a preocupação e tensão com questões ligadas a sexualidade e,
conseqüentemente aumentou a solidariedade e o respeito entre os alunos e professores.
Já para as crianças (educação infantil) relatem as informações corretas ajudam a
diminuir a angústia e agitação sem sala de aula (apud. Sampaio, 2005, p.14).
A escola que pretende incluir a orientação sexual nos seus currículos deve
analisar de forma crítica a sua visão em relação à sexualidade. Pois ainda hoje, os
conteúdos escolares retratam o sexo como sendo apenas um componente biológico-
reprodutor. Esses conceitos estão claramente expostos nos currículos, livros didáticos e
muitas vezes nas falas dos professores. Isso devido ao pouco conhecimento que o
professor tem de educação infantil tem sobre a sexualidade e gênero.
Oliveira diz que a sexualidade deve ser vista de uma forma “pluridimensional”,
porque ela é construída em diversos contextos: “o biológico, o familiar e o social”
26

(1998, p.103). Ademais, se faz necessário que a escola compreenda que a questão da
sexualidade, no cotidiano escolar, é muito mais ampla, pois também envolve a formação
de identidades sexuais e gênero.
Diante disso Louro (1997, p. 49) ressalta que:

As identidades não se instalam no sujeito a partir de uma determinada idade


e de forma irremediável. As identidades devem ser compreendidas como
plurais, múltiplas: identidades que se transformam, que não são fixas ou
permanentes. As intituições escolares ainda estão muito preocupadas em
uniformizar os seus discentes na tentativa de eliminar possíveis diferenças.
Tal preocupação está presente também em relação à sexualidade.

Trabalhar com o tema Sexualidade não é fácil, nossa sociedade, existem muitos
preconceitos em diferentes aspectos culturais, nos quais temos que levar em conta, não
podemos simplesmente impor conceitos repletos de modernismo sem que nos
preocupemos com os efeitos que causarão à criança.
O educador pode tratar questões de sexualidade com os alunos de forma simples
e natural, mas, para isso acontecer, os educadores precisam está devidamente
preparados e, ao mesmo tempo, incluir a questão na proposta curricular, desenvolvendo
atividades adequadas com a faixa etária dos alunos.
Diante disso Meyer (2004, p.39) destaca que:

Que os educadores e educadoras precisam estar em constante processo de


atualização, para que possam ter a possibilidade de assumir atitudes e
posições reflexivas em relação às situações que acontecem cotidianamente
nos espaços educacionais em relação a gênero, à sexualidade, à raça, etnia,
dentre outros.

As crianças por volta dos quatros anos estão na fase das perguntas, dos porquês e
o educador como os pais precisam ter paciência, para lidar com isso. De acordo com
Belini (2003), as perguntas das crianças devem ser respondidas na medida em que
surgem, dizendo sempre a verdade e esclarecendo somente o que foi perguntado. Em
sala de aula, as crianças que já manifestaram curiosidade pela questão sexual escutarão
com mais atenção do que as outras. As que não se interessaram pela atividade não
deverão ser forçadas a ouvir.
Se o educador não souber a resposta ou achar que precisa de um tempo para isso,
deve dizer francamente que vai procurar saber a resposta e depois volta a falar com eles
(crianças), fazer isso é melhor do que enrolá-las.
27

Para Andrade (1998), a sexualidade deveria receber a mesma atenção, cuidado e


estímulo que recebem os outros conteúdos escolares. Ademais, estaríamos agindo de
forma coerente e construtiva, enriquecendo uma função que, como cita Mary Calderone,
“envolve aprendizado, reflexão, planejamento, adiamento, desenvolvimento de valores
morais e tomada de decisões” (apud. Andrade, 1998, p. 526).
Para desenvolver um trabalho voltado para a sexualidade o educador deve ter a
consciência que a sexualidade faz parte do processo de desenvolvimento das crianças e
que as curiosidades e descobertas constituem esse processo, que não passa de uma
construção histórica e social do próprio corpo.
De acordo com os PCN’s, é fundamental que exista confiança e respeito na
relação aluno professor, pois essa relação contribuirá para o professor expressar e
respeitar os valores, crenças e opiniões dos seus alunos e ao mesmo tempo não impor os
seus próprios conceitos.
Os PCN’s funcionam como o ponto norteador para o desenvolvimento
educacional que trata sobre o tema Sexualidade, dando-lhe grande importância,
apontando uma forma de inclusão do mesmo no currículo da Educação Infantil e
Fundamental, valorizando o respeito mútuo entre o professor e aluno.
O educador da Educação Infantil deve integrar as atividades relacionadas a
sexualidade no dia-a-dia da escola, pois é importante que os conteúdos de sexualidade
estejam interligados com os demais conteúdos curriculares, essa é a proposta
apresentada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais.
As manifestações da sexualidade infantil acontecem na sala de aula, através de
brincadeiras, jogos e piadas, cabendo ao professor aproveitar essas oportunidades para
intervir e desenvolver atividades relacionadas à orientação sexual de maneira natural e
espontânea. Mas, segundo Ribeiro (1999, p.173), o professor deve ter uma
“metodologia especifica”.
O momento mais adequado para iniciar a Orientação Sexual deve ser indicado
pela própria criança, a partir do momento que sentir necessidade de saber algo, ele
perguntará.
Quando a criança começa a descobrir a sexualidade, ela se satisfaz olhando os
irmãos e os pais, sem roupa. E quando isso não acontece em casa, será na escola. Nesse
caso o professor pode oferecer desenhos ou bonecos em que apareçam os órgãos
sexuais. Obras de artes que mostram corpos nus também constituem um rico material;
28

livros com ensinamentos sobre o corpo humano também poderão auxiliar na construção
da identidade sexual da criança.
Já no relacionamento da sexualidade e identidade pessoal da criança é preciso
explicar para eles que, antes mesmo de nascerem, os meninos e meninas têm
semelhanças e diferenças físicas. O nosso corpo é um indicador do sexo a que
pertencemos, isto é, se somos mulher ou homem. É preciso respeitar as diferenças
físicas que existem entre homens e mulheres, mas os direitos e deveres são iguais para
ambos.
A sexualidade é um dos aspectos da identidade pessoal e social de cada um, isso
construirá a personalidade do indivíduo e essa identidade será construída á partir do
meio social em que a criança está inserida.

3. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS.

Neste capítulo iremos descrever o percurso metodológico para a realização dessa


pesquisa. Apresentaremos os instrumentos de coleta de dados e a análise dos mesmos.
A referente pesquisa foi realizada com o objetivo de captar o olhar do professor
sobre a orientação sexual na escola. Esta pesquisa foi realizada numa instituição
particular da cidade de Campina Grande-PB, localizada na zona urbana. A amostra dos
dados foi constituída por um grupo de quatro professores, sendo 03 do sexo feminino e
um do sexo masculino todos formados em Pedagogia. .
Este estudo, de natureza qualitativa, nos possibilitou compreender o fenômeno
estudado em seu contexto, uma vez que o comportamento humano é significativamente
influenciado pelo contexto em que está inserido. Desse modo, pudemos entender um
pouco do processo no qual as pessoas constroem significados. Segundo Minayo (1999,
p. 21), “a abordagem qualitativa aprofunda-se no mundo dos significados das ações e
relações humanas, um lado não perceptível e não captável em equações, médias e
estatísticas”.
Os dados obtidos particularmente nas entrevistas foram analisados através da
análise temática, que consiste em uma das modalidades da análise de conteúdo. Para
Bardin (1977, p.105), a análise temática objetiva desvendar o que está por trás das
palavras sobre as quais se debruça, e assim “descobrir os ‘núcleos de sentido’ que
29

compõem a comunicação e cuja presença ou freqüência de aparição pode significar


alguma coisa para o objetivo analítico escolhido".
Ao iniciarmos a análise, optamos por denominar de sujeitos os participantes da
pesquisa, representadas por números de 1 a 4. Dessa forma, mantivemos o sigilo da sua
identidade. Em seguida, separamos as entrevistas por perguntas para podermos
visualizar o discurso de cada sujeito a respeito de determinado assunto. Então, fizemos
uma “leitura flutuante”, com o objetivo de conduzir a algumas questões norteadoras.
Após essa leitura, verificamos alguns elementos que se repetiam e alguns divergentes.
Depois dessa etapa realizamos uma leitura mais analítica, classificando algumas
unidades de sentido nos discursos das entrevistadas.
Em seguida, organizamos e elencamos as falas dos sujeitos e passamos para a
fase de categorização. As entrevistas foram realizadas seguindo um roteiro (apêndice
A), a partir do qual extraímos as concepções das entrevistadas acerca de nosso objeto de
estudo. Estas concepções foram categorizadas da seguinte forma: Qual a sua definição
de Sexualidade? Existe algum trabalho de orientação sexual na escola que você
trabalha? Você concorda com a inclusão da orientação sexual nos currículos escolares?
Porquê ? Já participou de algum treinamento ou capacitação para tal? Qual? Quais as
suas reações diante das manifestações da sexualidade infantil em sala de aula? Qual sua
visão acerca da diversidade sexual?

• Qual a sua definição de Sexualidade?

Ao serem perguntadas sobre a definição do que significa sexualidade, os entrevistados,


de um modo geral, associam a sexualidade ao ato sexual e aos órgãos sexuais.
Demonstram essa visão em vários momentos da entrevista. E assim se expressam:

(S3) Um meio de propagação da espécie.

(S2) Conjunto de todos os sexos, conforme ao que pertence,


sendo distintos.

Percebemos que os educadores ainda relacionam a sexualidade como algo feio,


demoníaco, relacionado apenas para a procriação, como acreditam Santo Agostinho e
tanto outros profetas da época. Mas na verdade o termo Sexualidade tem a ver com a
30

identidade e com as infinitas maneiras de ser homem ou mulher na sociedade, na cultura


e com o caminho pessoal da construção de cada um.
Segundo Cerruti (apud. Andrade,1998, p.523) “ a sexualidade é uma forma de
expressão, uma linguagem que permite uma comunicação total e transcendente entre os
seres humanos.”
A sexualidade é uma necessidade de todas as pessoas, na juventude, na
maturidade e mais tarde na velhice. A sexualidade é a manifestação daquilo que somos,
da nossa personalidade e se reflete no comportamento diário. È uma manifestação do
carinho, do respeito que sentimos em relação a nós mesmos e aos outros, a sexualidade
é mais que contato sexual... é amor, liberdade, diálogo, prazer.

• Existe algum trabalho de orientação sexual na escola que você


trabalha?

(S1) – Sim
(S2, S3, S4) - Não

Nas falas dos entrevistados fica evidente que não existe o trabalho de Orientação
Sexual na escola pesquisada. Apesar da sexualidade está presente na vida de todos nós,
entretanto, nas escolas ainda nega-se, omite-se essa questão tão importante e natural que
merece ser refletida pelos professores, pois ainda hoje perdura a desinformação, e o
conhecimento dos tempos antigos que o sexo, a sexualidade não era coisa de criança.
Concordo com Oliveira (1998), quando ele propõe a realização sistemática de
reuniões entre professores para refletir, discutir as situações de sala de aula, que
envolvem os conteúdos referentes à sexualidade das crianças.

• Você concorda com a inclusão da Orientação Sexual nos currículos


escolares? Porquê ?

A inclusão da Orientação Sexual é fundamental para a formação da criança e, na


escola, esse trabalho deve ser intensivo, para que a criança possa vivenciar com seu
corpo, as descobertas e curiosidades de cada etapa do seu desenvolvimento psicosocial,
emocional e porque sua sexualidade . Quer seja numa aula de matemática, português,
artes ou educação física, o que importa é que o corpo e suas manifestações de
sexualidade não sejam ignorados neste processo.
31

Nesse sentido, os entrevistados esclarecem, em seus depoimentos a relevância


do tema no curriculo.

(S1) Sim concordo. Pois a temática sexualidade é de suma


importância no ambiente escolar. Porém, muitos jovens estão
iniciando sua vida sexual precocimente, aumentando a incidência
de gravidez endesejada entre os adolescentes e com o risco da
infecção pelo HIV- “virus da AIDS” entre os jovens.

Sendo assim, acredito que essa temática deveria ser tratada no curriculo como
disciplina obrigatória e não como: Tema Transversal!.

(S2) Sim. Podemos orientar os alunos de forma que não seja


antecipada, e que eles possam se descobrir aos pucos e tirando
todas as dúvidas.

(S4) Sim. Pois a sexualidade está de forma direta/indireta inclusa


em nosso desenvolvimento como ser humano.

O educador reconhece a impotância e a necessidade de incluir a Orientação


Sexual nos curriculos escolares, principalmente pelas manifestações apresentadas pelas
crianças em sala de aula, pela polêmica e tabu que o tema representa. De acordo com os
PCN’s a implantação de Orientação Sexual nas escolas “contribui para o bem-estar das
crianças e dos jovens na vivência de sua sexualidade atual e futura.” (Brasil, 2001,
p.115)
Infelizmente essa realidade não existe na maioria das escolas brasileiras e
campinenses, o que é uma pena disperdiçar uma temática tão importante como essa para
o desenvolvimento social e emocional das crianças.

• Já participou de algum treinamento ou capacitação para tal ? Qual ?

Como vimos anteriormente, os sujeitos desta pesquisa enfatizaram a importância


de se incluir a Orientação Sexual nos curriclos, pois este é fundamental no processo
ensino-aprendizagem e no desenvolvimento emocional e psicosocial da criança.
Mas é lamentável que os educadores nunca tiveram a oportunidade de participar
de treinamentos ou capacitações sobre sexualidade infantil. O que sabem é baseado em
curiosidades de revistas e troca de informações com os colegas, ou na leitura de livros
que só traduz o biológico.
32

Cabe a escola proporcionar curso de formação ao seu corpo docente,


capacitando-o para que possa desenvolver em sala de aula, um trabalho de Orientação
Sexual, de foram segura e eficiente.
Podemos observar isso nas respostas apresentas pelos educadores:

(S1) Nunca participei de nenhum treinamento sobre o tema. Mas


procuro ler acerca do assunto. Uma atitude que me facilita em
agir em determinadas situações na sala de aula.

(S2 ,S3, S4) - Não

Analisando estes discursos, constatamos que não existem momentos para se


trabalhar com a sexualidade, ela está presente, ativa, é participante de todo o processo
educativo. Mas os educadores não estão aptos a trabalhar e nem tão pouco preparados
para lidar com a questão da sexualidade, as curiosidades e as descobertas do corpo em
sala de aula. O corpo é sinônimo de prazer, desejos, sonhos e experiências.

• Quais as suas reações diante das manifestações da sexualidade


infantil em sala de aula?

As manifestações da sexualidade infantil é inerente a qualquer criança e sua


demostração será particular a cada uma, sendo que aos educadores cabe conhecê-la,
respeitá-la, conduzí-la de forma adequada, sem estimulação nem repressão e tendo
sempre em mente uma auto-refleção de sua própria sexualidade.
É importante que a criança conheça o seu corpo e saiba cuidar dele,que desde
pequena aprenda a se proteger e a respeitar o corpo do outro. Por isso as manifestações
da sexualidade são fundamentais nesse processo da descoberta. Segundo Ribeiro (2009)
“o erotismo tem suas bases na infância.”
É fundamental que o educador seja natural com relação a sexualidade, pois
somos nós, adultos quem construimos essa visão distorcida, feia, suja, errada do corpo
e da sexualidade. Assim sendo os entrevistados se expressam com relação as
manifestações da sexualidade.
33

(S1) De natureza natural, pois sabemos que a manifestação da


sexualidade afloram em todas as faixas etárias do ego, reclamar,
ignorar, reprimir são atos errônios, pois esse é um assunto que
interessa tanto a familia como a escola. Enfim, procuro me
posicionar de forma correta, tratando de maneira natural !

(S2) Tento explicar de forma discreta, justificando que o tal


assunto terá o seu tempo certo.

(S3) Há principio observar a situação e de acordo com o fato


orientá-los, não apenas agir de forma repressora.

(S4) Tento agir da forma mais natural possivel, conversando com


a criança em particular ( se possivel), que: aquele ato é prazeroso,
nos satisfaz, porém é um momento intimo e não público.

Percebemos que os educadores reagem com naturalidade as manifestações da


sexualidade em sala de aula, buscando sempre a observação, o diálogo com seus alunos.
Sem dizer o que é certo ou errado na sua visão, pois essa função cabe aos pais ou
responsáveis.
O educador não deve se omitir, ao contrário, deve orientar para brincadeiras e
comportamentos adequados, mas sem passar valores morais reprovadores, como se a
curiosidade fosse algo negativo, feio ou pecaminoso. Pelo contrário o professor deve
ensinar questões que passam pelo prazer, respeito por si e pelo outro, responsabilidade,
prevenção para que o aluno no futuro se torne um cidadão no sentido amplo da palavra.

• Qual sua visão acerca da diversidade sexual?

A formação da identidade sexual ou de gênero é um aspecto do desenvolvimento


da personalidade de cada pessoa. Os pais são fundamentais nessa construção da
identificação sexual dos seus filhos, por isso é importante que os pais tenham noções
corretas do que seja os esteriótipos de masculino e feminino, para que não eduquem
seus meninos/homens machões e as meninas/mulheres o sexo frágil da história.
O professor nunca deve reprimir as manifestações de sexualidade do seu aluno e
agir com naturalidade em relação as opções de brincadeiras dos meninos por bonecas ou
das meninas por carrinhos ou bolas, isso não quer dizer que eles serão diferentes dos
34

padrões normais por gostarem de brincar de maneira diferente. É preciso respeitar as


diferenças, podemos destacar isso nos depoimentos dados pelos professores.

(S1) A minha visão acerca da diversidade sexual e de tratar o


tema de maneira consciente, de aceitar o outro com suas
diferenças, de abrir uma reflexão permanente sobre o assunto
entre os educandos. Enfim, a escola deve ter seu papel definido
sobre como trabalhar a temática de forma significativa, tratando o
tem junto aos valores da familia.

(S2) Apesar de não apoiar, respeito e cada um tem o direito de


fazer o que quer da vida.

(S3) Todo ser humano tem o livre acesso a escolha, mas que seja
de forma preventiva.

(S4) Eu particularmente respeito, pois cada ser tem sua opinião e


escolha própria.

Fica evidente nas falas dos entrevistados que eles respeitam a escolha sexual de
cada um, mas na escola é preciso ensinar valores, conceitos, respeito por si mesmo e ao
próximo,independente de sua opção sexual. Pois a identidade sexual é muito mais além
do que ser menin/homem ou menina/mulher.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista o objetivo proposto para esta pesquisa, após a análise dos dados,
observamos que as respostas decorrem, em parte, da falta de conhecimento dos
educadores em relação à sexualidade infantil. È demosntrando o grande indice de
desinformação e despreparo dos professores na abordagem do assunto, manifestando
dúvidas e tabus.
A noção de que a sexualidade é algo inerente a vida, deve ser compreendida
pelos educadores e que as crianças também fazem parte desse processo da construção da
sexualidade. È importante perceber que a sexualidade é diferente em cada etapa do
desenvolvimento humano e que cada um reagi de maneira diferente em relação a essas
descobertas do corpo. As crinças, os adolescentes, os adultos e os idosos são seres
sexuados e, a cada fase da vida, possuem interesses sexuais diferentes e exprimem em
comportamentos a própria sexualidade.
Para que possamos estimular em nossas crianças uma sexualidade mais bem
resolvida e com menos tabus, devemos num primeiro buscar informações que possam
nos orientar para lidarmos bem com o assunto, e depois, falar com os pequenos de
forma aberta e descomplicada, deixando a criança à vontade quando a curiosidade
surgir.
No decorrer da análise percebemos que a Orientação Sexual não é discutida e
nem estudada pela escola, haja visto que os educadores não recebem nenhuma
preparação para trabalhar com as crianças sobre a sexualidade.
Tentando amenizar a falta de informação de grande parte dos educadores,
propõe-se que a escola inclua em seu curriculo a referida temática e ofereça cursos de
formação ao seu corpo docente, capacitando-o para que possa desenvolver em sala de
aula, um trabalho de Orientação Sexual, de forma segura e eficiente.
Ademais, fica evidente que não existe regras pra trabalhar a questão da
sexualidade infantil, tudo vai aconteçendo no dia a dia em sala de aula, na convivência,
na descoberta e curiosidades dos alunos.
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Muitos de nós viemos de uma educação repressora, em que tudo era proibido,
feio, sujo, pecado, sei que não é fácil mudar, trabalhar valores, conceitos que não
estamos acostumados, mas é necessário a mudança, para construir uma sociedade de
cidadões conscientes com sua sexualidade e com a do próximo, além das questões de
valores, respeito, solidariedade.
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