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Ilha das Flores

Um olhar sobre a sua linguagem cinematográfica

Disciplina: Filmologia
Professores: João Mário Grilo e Sérgio Dias Branco
Aluno: Christian Tanto
Número de aluno: 25357
O cinema com seus poucos anos, comparados com outras artes já
milenares, já conta com vários teóricos e práticos que pensaram e
desenvolveram os diversos aspectos desta nova arte. Uma destas linhas que
se desenvolveu é a teoria da montagem cinematográfica, que desde o início do
século XX confrontou duas grandes tendências ideologias, a norte americana
com os principais nomes como David Griffith e Edwin Porter e a soviética com
nomes como Sergei Eisenstein, Dziga Vertov, Vsevolod Pudovkin e Lev
Kulechov.

O que pretendemos neste trabalho é de forma breve verificar as


possíveis influências das teorias da montagem cinematográfica norte-
americana e soviética em um documentário intitulado “Ilha das Flores”,
realizado em 1989 ganhou vários prémios nacionais e internacionais, realizado
por Jorge Furtado e montado por Giba Assis Brasil.

Antes de entrarmos na análise do “Ilha das Flores” vale lembrar a grande


dificuldade e discussão que envolve uma definição de género, não é diferente
com o documentário. Principalmente quando vemos um filme como este que
gera muita polémica sobre ser ou não um documentário. “Ilha das Flores” faz-
nos recordar John Grierson que afirmava que o documentário é o “tratamento
criativo da realidade”. Jorge Furtado arriscou ao ir de encontro ao modelo
clássico do documentário.

«Um dos primeiros


documentaristas, que ousaram questionar
o modelo clássico de documentário, no
Brasil, foi Jorge Furtado. […] Este filme era
para ser mais um documentário sobre
tratamento de lixo. No entanto, Ilha das
Flores satiriza as marcas textuais do modo
expositivo de representação, distanciando
o espectador, que, a priori, espera uma
leitura passiva em relação ao filme.»
(Jesus, 2006)

O filme «narra a trajetória de um tomate que é vendido num


supermercado e que apodrece, vindo parar no lixão da Ilha das Flores, onde
acaba sendo disputado por porcos e seres humanos.» (Guidotti, 2007)

“Ilha das Flores” inicia com a musica “O Guarani”, do maestro e


compositor Carlos Gomes, que ficou conhecida pela grande maioria dos
brasileiros como a abertura do programa “Voz do Brasil”, noticiário radiofónico
público, transmitido de segunda-feira a sexta-feira das 19 as 20 horas. Esta
música esta sendo usada juntamente com as frases “Este não é um filme de
ficção” e “Existe um lugar chamado Ilha das Flores” para buscar credibilidade e
um tom de real assim como a “Voz do Brasil”.

O que se nota a princípio é uma estrutura narrativa clássica com uma


voz off de um narrador sendo imparcial, objectivo, sem expressar sentimento
sempre num mesmo tom de voz, onde o texto da sentido as diversas imagens
que vão surgindo no ecrã, como ocorre em documentários clássicos.

Mas o que há de não convencional esta na forma que o texto foi


estruturado, o texto lido são na maioria verbetes retirados de dicionários, um
tipo de linguagem enciclopédica. As imagens por sua vez são imagens fictícias,
recortes de revistas, colagens e composições, imagens reais de arquivo como
a bomba de Hiroshima e os corpos dos judeus mortos no holocausto. Surgindo
assim um hipertexto

«O comentário é construído como


um hipertexto, onde as associações4 são
as mais diversas entre fenômenos, como a
localização geográfica de uma colheita de
tomates, as características do ser humano
e suas diferenciações com o tomate e o
porco, o surgimento do comércio e do
dinheiro, a definição e função do
supermercado, a preparação do porco e do
tomate para a alimentação de uma família,
a explicação das doenças causadas por
alimento deteriorado, o conceito e destino
do lixo e, finalmente, a caracterização da
Ilha das Flores.» (Jesus, 2006)

Temos uma montagem acelerada, com imagens sem nenhuma relação


directa, onde a anterior chama a seguinte para mantermos o dinamismo e para
que a «situação sensório-motora seja mantida.» (Guidotti, 2007). Temos aqui
uma “concepção deleuziana do cinema” a imagem-movimento muito bem
conseguida por Jorge Furtado, conseguindo uma “imagem relativa e dinamica”.

Podemos assim chamar “Ilha das Flores” de documentário reflexivo.


Representação de modo reflexivo se desenvolve mais na década de 1960, mas
já era pensado por Dziga Vertov em 1919, ele « acreditava que a verdade não
é algo captável por uma câmera, mas é o produto dialético entre factualidade e
montagem » (Guidotti, 2007). Ainda segundo Nichols o documentário reflexivo
é aquele que evidencia o discurso e desrealizar as imagens.

Agora já não temos dúvidas de que a inspiração de montagem é em


Sergei Eisenstein, melhor dizendo na montagem dialéctica de Eisenstein, que
não precisa reproduzir o real mas sim propor uma interpretação. Segundo
Aumont para o soviético «O que está em jogo na montagem é o conflito entre
os fragmentos. É o princípio único e central que rege toda produção de
significação.» É isto que distingue a montagem de Eisenstein e Griffith em
quem ele se inspirou inicialmente.

Mesmo tendo na montagem dialéctica a sua inspiração, os fragmentos


de imagens não são da mesma natureza, causando assim choques e conflitos
entre elas. «Eisenstein defendia que a continuidade cinematográfica ideal era
aquela em que cada mudança de plano desse lugar a um novo choque, com
vista à obtenção de novas ideias.» (Canelas, 2010)

Este despejar de imagens e os vários efeitos de transição, são repetidos


de forma cada vez mais curta como se focem forma de recapitulação para o
espectador não se perder no meio de tantas imagens. Também é uma forma
de deixar claro, de «unificar, totalizar, linearizar, tornar transparente a
significação» (Guidotti, 2007), mas que pode não deixar tempo para se
conseguir pensar e processar o que recebemos e gerar outros significados o
cristalizando.

De um momento para outro isso se encerra, tomando uma forma


completamente diferente. A trilha utilizada no início do filme ganha uma versão
rock, as imagens ficam em slow motion, como diz Jorge Furtado “tudo fica
bonito”.

«Com uma lente 200, filmando a 60


quadros por segundo, até o lixo fica bonito.
Qualquer coisa. A gente vê um mendigo
desdentado no meio do lixo e diz: que
lindo. A lente faz isso, e o final de Ilhas das
Flores é exatamente isso. Os mendigos,
uma tele, uma trilha de fundo, e filmando
em slow motion. Mas é necessário saber
disso. Se a gente for filmar a mesma coisa
com uma lente 32, velocidade normal e
sem trilha, a gente não vai emocionar
ninguém» (FURTADO, 1992, p. 37 in
Guidotti, 2007).

Tudo isso culmina no último plano geral do lixão, onde temos uma
catadora de lixo com um saco nas costas em slow motion, com a música “O
Guarani” em versão Rock, como uma forma de protesto. Juntamente com isso
temos a voz off definindo liberdade utilizando Cecília Meireles com uma parte
do poema “Bandeira da Inconfidência”. “Liberdade é uma palavra que o sonho
humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não
entenda.” Segundo Guidotti «Nesse momento, a imagem-movimento cede
lugar a uma imagem-tempo, e, como afirma André Parente, "no regime de
imagem-tempo, passar de uma imagem a outra não é passar de um antes e um
depois, é reunir o antes e o depois para expressar um devir”»

Esse momento do filme diferente de todos os outros nos leva a reflectir,


a sentir “o puro devir. É imagem-tempo.” Segundo Deleuze quando descreve a
imagem-tempo

«Uma situação ótica e sonora não


se prolonga em ação, tampouco é induzida
por uma ação. Ela permite apreender, deve
permitir apreender algo intolerável,
insuportável. Não uma brutalidade como
agressão nervosa, uma violência
aumentada que sempre pode ser extraída
das relações sensório-motoras na imagem-
ação. Tampouco se trata de cenas de
terror, embora haja, às vezes, cadáveres e
sangue, Trata-se de algo poderoso
demais, ou injusto demais, mas às vezes
também belo demais, e que portanto
excede nossas capacidades sensório-
motoras. Stromboli: uma beleza grande
demais para nós, como uma dor
demasiado forte, Pode ser uma situação
limite, a erupção de um vulcão, mas
também o mais banal, uma mera fábrica,
um terreno baldio.» (Deleuze, 1985)

Esta sequência final explicada em poucas palavras por Jorge Furtado,


nada mais é do que uma forma de chocar o espectador faze-lo desalienar.
«Para convencer o público a participar de uma viagem por dentro de uma
realidade horrível, eu precisava enganá-lo. Primeiro, tinha que seduzi-lo e
depois dar a porrada.» (FURTADO, 1992, p. 63 in Guidotti, 2007).

Apesar de Jorge Furtado afirmar que para ele uma boa montagem se
compreende mesmo sem som, utilizou o som de forma a adicionar mais força,
mais poder a sua montagem, como previam Eisenstein, Pudovkin e Alexandrow
em “Declaração sobre o futuro do cinema sonoro” no livro “A Forma do Filme”
de Eisenstein.

«O som, tratado como um novo


elemento da montagem (como um fator
divorciado da imagem visual),
inevitavelmente introduzirá novos meios de
enorme poder para a expressão e solução
das mais complicadas tarefas que agora
nos pressionam ante a impossibilidade de
superá-los através de um método
cinematográfico imperfeito, que só trabalha
com imagens visuais.» (Eisentein, 1949)
Bibliografia

AUMONT, Jacques; MARIE, Michel. Dicionário Teórico e Crítico de Cinema.


Tradução de Eloísa Araújo Ribeiro. Campinas: Papirus, 2001.

CANELAS, Carlos. Os Fundamentos Históricos e Teóricos da Montagem


Cinematográfica: os contributos da escola norte-americana e da escola
soviética. 2010. Disponível em http://www.bocc.ubi.pt/pag/bocc-
canelas-cinema.pdf. Acesso em 19 de Dezembro de 2010.

DELEUZE, Giles. A imagem-tempo. Tradução de Eloísa de Araújo Ribeiro. São


Paulo: Brasiliense, 1985

EISENSTEIN, Sergei, A Forma do Filme. Tradução de Teresa Ottoni. Jorge


Zahar Editor Ltda. 1949.

GUIDOTTI, Flávia Garcia. Dez mandamentos de Jorge Furtado: cartografias


em três platôs. 2007.
http://bdtd.unisinos.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=310 Acesso
em 25 de Dezembro 2010

JESUS, Rosane Meire Vieira de. Ilha das Flores o documentarista em primeiro
plano. In: OficinaCinema-História. n. 8. 2006. Disponível em:
www.oolhodahistoria.ufba.br. Acesso em 25 Dezembro. 2010.

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