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COLARES
O RESSURGIMENTO DE UMA DAS REGIÕES VINÍCOLAS MAIS AFAMADAS DE PORTUGAL
THE RESURGENCE OF ONE OF PORTUGAL'S MOST FAMED WINE REGIONS
TEXTOTEXT | TRADUÇÃOTRANSLATION | FOTOGRAFIAS PHOTOS ANDRÉ MAGALHÃES
O CONVITE DA FUNDAÇÃO ORIENTE PARA PROVAR EM PRIMEIRA MÃO O RESULTADO DO NOTÁVEL TRABALHO
FEITO NOS ÚLTIMOS SETE ANOS EM PROL DA REQUALIFICAÇÃO DOS VINHOS DE COLARES, SERVIU DE MOTE
PARA, NESTA EDIÇÃO DE ANIVERSÁRIO, ASSINALAR TAMBÉM COM JÚBILO O RESSURGIMENTO DESTA REGIÃO
VINÍCOLA.
AN INVITATION BY THE FUNDAÇÃO ORIENTE FOR A FIRST-HAND TASTING OF THE WINES THAT RESULT FROM THE
FOUNDATIONS REMARKABLE WORK IN REQUALIFYING GRAPE PRODUCTION IN THE REGION OF COLARES, SET THE
TONE TO, IN THIS FIRST ANNIVERSARY EDITION, TO EVOKE AND CELEBRATE THE RESURGENCE OF THIS WINE
REGION.
Há indícios de que actividades
relacionadas com a vinha na zona de
Colares remontam aos tempos da
ocupação romana e estão perfeitamente
documentadas desde o século XII,
existindo relatos de que a casta Ramisco –
a mais reputada da região – terá sido
introduzida por volta de 1255, quando D.
Afonso III fez a doação do Reguengo de
Colares a Pedro Miguel e à sua mulher
Maria Estêvão com a obrigação de aí
plantar umas videiras que o rei mandara vir
de França, isto levou o visconde de
Juromenha a, na sua “Cintra Pinturesca”,
inferir que a dita uva daí poderia originar.
Também Ferreira Lapa como que corrobora
a tese: “Colares é um vinho que possui
todos os requisitos e qualidades dos vinhos
tintos de Médoc, é o vinho mais francês
que possuímos, os que alcoolizam este
vinho para o puxar ao tipo geral dos nossos
outros vinhos cometem um erro industrial e
um desacato à elegância do bom gosto. A
aguardente empasta e obscurece os
sabores delicados deste vinho, fica
descozida neles, tira-lhe o aroma fino do
éter tartárico e do éter butírico,
substituindo-o pelo cheiro vinoso, picante e
alcoólico dos vinhos carregados em lota”.
Na sua vasta obra literária, Eça de Queirós
cita o vinho de Colares inúmeras vezes,
não só na forma ficcionada, sugerindo
mesmo nas suas farpas que durante as
sessões da Câmara de Deputados de
então se consumiam grandes quantidades
do afamado vinho. Outro factor que lhe
adicionou notoriedade foi o facto de ter sido
dos poucos os vinhedos em Portugal a ter
resistido à filoxera, provávelmente pelo
062 Wine Passion . 2007
facto de tradicionalmente as varas serem
«unhadas» em regime de «pé franco»,
permitindo os solos arenosos
característicos da região que as raízes se
implantassem para além do alcance da
praga. Há quem defenda que a casta
Ramisco será a única variedade «vinífera»
a nunca ter sido enxertada.
O facto é que os vinhos de Colares
grangearam tal fama que a procura
excedeu a oferta, mesmo com plantíos de
mais de mil hectares. Isto levou
comerciantes menos escrupulosos a
misturarem-lhes vinhos de outras regiões
de modo a suprir tal demanda e tais
práticas conduziram rápidamente ao
descrédito do vinho. Numa primeira
tentativa de remediar a situação cria-se a
DOC de Colares em 1908, por decreto do
rei D.Carlos. Com Salazar como ministro
das finanças editam-se leis que
regulamentam o vinho de Colares e
fomentam o associativismo o que leva à
constituição da Adega Regional de
Colares. A região toma um novo fôlego e o
negócio floresce com a expansão do
mercado das Colónias. Em finais da
década de 60 chegam a produzir-se um
milhão de litros de bom vinho de Colares.
Assiste-se então a um segundo declínio
acentuado pela descolonização e a
instabilidade económica que se arrastou
até aos anos oitenta. Este contexto quase
que acabou com o vinho de Colares: a
maioria das vinhas eram propriedades
familiares com uma dimensão inferior a
meio hectare, a população de produtores
estava a envelhecer e muitos iam
abandonando as vinhas, aqueles que
persistiam não se actualizaram nem ao nivel das boas práticas nem da
capacidade de captar subvenções e recursos o que resultou num
decréscimo das produções tanto em termos de qualitativos como
quantitativos. A pequena franja de mercado que continuou fiel aos
vinhos da região permitiu que duas reputadas adegas da região
mantivessem até hoje as portas abertas engarrafando e escoando a
produção da Adega Regional de Colares: as casas de António
Bernardino Paulo da Silva e Jacinto José Baeta, Filhos Lda. Ambas
possuem ainda inestimáveis stocks de vinhos da região dos quais se
destacam o jovem e algo exuberante Colares Chitas 1983 e os Viúva
Gomes de 1931 e 1934 ainda cheios de vivacidade.
Sendo a região demarcada mais ocidental da Europa continental,
Colares é actualmente a mais pequena região produtora de vinhos de
Portugal, isto se se (continuar a) ignorar a existência da Região
Vitivinícola de Carcavelos.
Perante cenário tão cinzento, tal o clima instável que confere ao terroir
de Colares as suas caracteríscas únicas, surgiu em bom momento a
Fundação Oriente que resgatou a última grande vinha da região (8 ha),
até então propriedade da Cockburn, da predação dos interesses
imobiliários a que estaria irremediávelmente votada pela irredutível
decisão da dita S.A. em pô-la à venda. Após uma avaliação do estado
dos vinhedos de Ramisco que tinham uma idade média de 18 anos, os
técnicos de viticultura contratados pela fundação aconselharam a que,
face aos diversos problemas sanitários que limitavam o seu potencial
qualitativo e quantitativo, a mesma vinha fosse replantada. Decidiu-se
então arrancar numa primeira fase metade das vides com o objectivo
de as replantar respeitando escrupulosamente as práticas culturais da
região. Tal processo averou-se ser de tal forma moroso e oneroso que
numa alteração estratégica se optou por preeencher a restante àrea de
plantio com outras castas tradicionais de região mas nestas caso
brancas: a Malvasia e o Arinto de Colares, estas também com recurso a
varas de pé franco.
Desta vinha nova com apenas dois anos resultou um branco com uma
belíssima estrutura, fresco e mineral que se presta a variadas
harmonias gastronómicas, tal como as gulosas “mise en bouche” do
chefe Carlos Martins servidas durante a prova demonstraram. Os tintos
são 100% Ramisco sendo que o primeiro, o 2004, foi elaborado a partir
ainda das vinhas mais antigas com 18 anos, um Ramisco de perfil
clássico com nuances de madeira nova a precisar ainda de estágio em
garrafa. O 2005 foi o vinho mais surpreendente com um perfil
marcadamente diferente, vivaz e fácil de beber. A colheita de 2006
estava nitidamente “verde” mas denotando vir a ser menos exuberante
que a do ano anterior, ainda que com um potencial interessante.
Para além de louvar esta iniciativa da Fundação Oriente, é também
importante encorajar os pequenos produtores e sócios da Adega
Regional de Colares para que perseverem nos seus esforços e
incentivem as gerações mais novas a prosseguir na preservação dos
valores tradicionais.
Estes desenvolvimentos são de tal modo relevantes que o Slow
Portugal vai propôr à Fundação Slow Food para a Biodiversidade que
esta iniciativa seja inscrita na lista mundial de produtos a preservar. •
saboresflavours
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THERE'S PROOF THAT WINE
production in Colares dates as far back as
the time of the roman occupation of the
Peninsula. Wine related activities have been
accurately documented since the 12 th
century and there are accounts that the
Ramisco grape – a legendary variety – is to
have been introduced in the region at
around 1255, when king Afonso the 3rd
donated the land of Colares to Pedro
Miguel and his spouse Maria Estevão, in
turn, they had the duty of planting and
harvesting vines that the king had ordered
to be sent from France.
The viscount of Juromenha in his account
“Cintra Pinturesca-a description of the town
of Cintra, Collares and it's surroundings”
suggests that this grape variety is indeed of
French origin, this theory is corroborated by
Ferreira Lapa, a famous agronomist of the
19th century who wrote: “Colares is a wine
that possesses all the qualities and
requirements of the reds of the Médoc, it's
the Frenchest of Portuguese wines, those
who fortify it in order to make more like the
general type of our other wines, is incurring
in an industrial mistake, an attempt on
elegance and good taste. Fortification
thickens and troubles the delicate tastes in
this wine, alcohol remains disconcocted, it
removes its subtle aromas of tartar and
butyric ether, replacing them with that
vinous, spicy and alcoholic smell of blended
wines”. Eça de Queirós, the great writer
and diplomat, mentions the wine from
Colares several times throughout his vast
works, not only in the glass of his fictional
characters but also in his political papers
where he suggests that it was consumed in
large quantities during the parliamentary
sessions of the time.
The key factor in the great notoriety
attached to the wine of this is the fact that
it's vineyards were among the few to have
resisted Phylloxera, probably because they
are planted in very deep sand and are
multiplied through ungrafted rootstocks.
064 Wine Passion . 2007
Some claim that Ramisco is the only
«vinifera» variety in the world never to have
been grafted.
The fact is that these wines were so sought
after that demand exceeded offer, this at a
point when local vineyards covered an area
of more that a thousand hectares. Less
scrupulous wine merchants started
blending them with wines from other
regions and such practices soon led to the
its total discredit. In a first attempt to solve
the problem the DOC of Colares was
created in 1908 by royal decree of D.Carlos
the first. In the early thirties, with Salazar as
the treasury minister, new laws were
created to regulate wine production in the
region and encouraged producers to
associate, this leads to the creation of
Adega Regional de Colares. The region
catches a new breath and business
flourishes with the expansion of colonial
markets. The late sixties see production
years well in excess of a million liters of
good quality Colares wine.
The region suffers then a second decline,
accentuated by the loss of the
administration of the colonies and by the
economical crisis that ensued. This adverse
context almost did away with the vineyards
of Colares: most of them
mall family estates, owned by an aging
population as the younger seeked jobs
elsewhere. Those who remained didn't
update their technical capacity, nor were
they educated enough to be able to source
subventions or other means of financing
their businesses. Production decreased
both in quantity and in quality.
The small fringe of consumers who
remained loyal to the wines from Colares,
allowed for two reputed local wine
merchants, António Bernardino Paulo da
Silva and Jacinto José Baeta, Filhos Lda.,
to stay in business bottling and distributing
the wines from the surviving members of
the Adega Regional de Colares. Both
houses still hold remarkable stocks of old
wines such as the “young” and racy Colares Chitas 1983 or the
Viúva Gomes harvests of 1931 and 1934 both still full of vivacity.
Colares is the westernmost DOC in continental Europe and now the
smallest wine region in Portugal, this if one omits the existence of
the nearby wine region of Carcavelos.
Before such a grim backdrop, appears the Fundação do Oriente,
who in 1999 rescued the last big vineyard in Colares (8 hectares)
from being sold by Cockburn Smithes & Co.,S.A. for land
developing purposes. In of the previous owner's irreversible decision
to sell, despite local outrage, the Foundation reacted promptly and
acquired the property. The Ramisco vines were in average 18 years
old and a technical evaluation determined that given it's poor state
due lack of proper sanitary practices, the vineyards potential both in
terms of quality and quantity was very limited. It was decided that it
should be uprooted and replanted, strictly respecting the regions
cultural practices.
In a first phase, half the vineyard was replaced, but the procedure
was so long and expensive, also due to lack of the original rootstock
that it required a change in strategy: it was decided that the
remaining half be planted with other traditional grape varieties but
this time white ones: Malvasia ( a local cousin of Malmsey ) and
Arinto de Colares. In this instance the planting was also done using
ungrafted rootstock.
Back to the tasting mentioned at the beginning of this article. From
this latter new vineyard, now two years old, a white wine was
produced for the first time. It has great structure, it's fresh and
mineral, very versatile in food pairings as was demonstrated at the
tasting by chef Carlos Martins who served a variety of «mises en
bouche» all in harmony with this white. The reds were all 100%
Ramisco, the 2004 having been made with the last crop of the 18
year old vines, a Colares wine with a classical profile, with clear hints
of new oak wood but still rather rough, still requiring taming by a
long rest in the bottle. The 2005 was the most surprising one, very
different in profile, obviously from the fact that it came from young
vines, vivacious and easy to assimilate. The 2006, a cask sample,
was still very “green”, but suggesting an interesting potential
although not as exuberant as the previous harvest.
Besides praising Fundação Oriente and it's initiative, it's important to
encourage the small producers and the associates of Adega
Regional de Colares to persevere in their efforts and entice younger
generations to pursue in preserving traditional values.
These developments are relevant to the point that the Slow Food
movement in Portugal is going to apply with the Slow Food
Foundation for Biodiversity in order for the wine of Colares to be a
member of its Ark of Taste. •