“ A invenção da fotografia não pode ser confundida com a
descoberta das placas sensíveis à luz e por isso a data de 1826 ( quando Niépce registra ou fixa a imagem na chapa fotográfica pela primeira vez) é arbitraria para designar o nascimento do processo. A fixação fotoquímica dos sinais de luz é apenas uma das técnicas constitutivas da fotografia; a câmera fotográfica, porem, já estava inventada desde o Renascimento, quando proliferou sob a forma de aparelhos construídos sob o principio da câmera obscura. ”
Principio da câmera obscura.
“ Os pintores renascentistas utilizavam com muita freqüência esses
aparelhos, pois eles pareciam favorecer uma reprodução mais “fiel” do mundo visível. “
“ Alguns modelos mais aperfeiçoados chegaram mesmo a
prenunciar os modernos sistemas reflex, fazendo a imagem rebater para o alto, através de um espelho colocado a 45 graus do orifício,de forma que o “reflexo” se fazia projetar num vidro despolido situado em cima da câmera. “ Tipo de câmera obscura utilizada por pintores renascentistas., que visavam uma reprodução mais fiel
Uma das provas de que alguns pintores utilizavam a câmera
obscura para se reproduzir quadros é o fato de que em alguns lugares da pintura se tem um desfoque ou então a luz representada não remete a aquilo que se enxerga, essas pequenas anomalias são formadas a partir da refração da luz que passa pela lente que era colocada na abertura da câmera.
Menina com uma Flauta (1665), Jan Vermeer.
Pode-se observar um desfoque na cabeça do leão logo atrás da menina. A câmera obscura foi utilizada também no período barroco e no rococó, para possibilitar a representação de vistas panorâmicas das cidades.
“ Do ponto de vista óptico, já estava resolvido no Renascimento o
problema da fotografia; o que a descoberta das propriedades fotoquímicas dos sais de prata significou foi simplesmente a substituição da mediação humana pela mediação química do daguerreótipo ou da película gelatinosa ”
No começo se tinha um problema, tudo na fotografia ficava em foco,
devido ao pequeno tamanho do buraco ( que seria o diafragma atualmente) na câmera mas a definição não era boa, mais tarde, século XVI, Daniele Bárbaro inventou um sistema de lentes côncavas e convexas que refratavam a luz que passava por elas e assim corrigiam os defeitos que antigamente eram gerados, mas com a aquisição das lentes ocorreu outro problema, a falta de foco em alguns lugares. Faltava apenas em como fazer com que a imagem se fixasse em algum lugar, então descobriram que por meio de certas substancias, como o betume da Judéia, ou por alguns compostos de prata isso era possível.
A junção da câmera obscura com um jeito de fixar essa imagem
“inventou” a fotografia.
“ Se a fixação da informação luminosa na película gelatinosa é
tomada como principio do processo fotográfico, é de se supor que em toda fotografia deve intervir uma verdade originária, pois é o próprio objeto focalizado que “imprime” os seus sinais nos grãos de prata do negativo. [...] Sem duvida, o raciocínio mais generalizado, o ponto de vista predominante envolve a fotografia como fenômeno semiótico é o dos “realistas” e , nesse sentido, vale a pena seguir a sua evolução para trazer a tona os seus suportes ideológicos.
A visão “realista” coincide, de certo modo, com a concepção
ingênua e largamente aceita por todos de que a fotografia fornece uma evidência: não se coloca em duvida que ela “reflete” alguma coisa que existe ou existiu fora dela e que não se confunde com o seu código particular.”
Por a fotografia “refletir” uma coisa que é real alguns povos
acreditam que a imagem formada de certo modo rouba o espírito da pessoa retratada, e não deixam de modo algum serem fotografadas.
Balzac defendia que todos temos um numero infinito de capas
auráticas, e quando a pessoa ou objeto era fotografado essa capa era transferida para a película. Esse pensamento é atualmente utilizado, mesmo que de forma inconsciente, exemplo disse é quando não queremos nos desfazer de fotos antigas de pessoas que eram queridas e faleceram, como se a pessoa que foi estivesse la sempre que olhar para a foto. Outro exemplo é a utilização de fotos para documentos, para que assim seja afirmado que é mesmo a pessoa.
Em sua classificação dos signos, Pierce coloca a fotografia na parte
dos índices, que significa que entre aqueles signos que se referem ao objeto por conexão física. Susan Sontag também considera que “a fotografia não é apenas uma imagem, uma interpretação do real; ela é também um traço, algo diretamente gravado pelo real, como um pegada ou uma mascara mortuária...”
“Em ambos os casos, a analogia da foto com o seu referente é
justificada com a base na pura e simples realidade química do processo fotográfico: são ondas de luz refletidas pelo referente que vão impressionar a película e determinar a configuração final da imagem. ”
Tem-se também fotografias feitas sem uma câmera, os chamados
fotogramas, que são feitos a partir de luz e sombra em cima da película sensível, que ira queimar onde não existe a sombra, formando uma imagem.
“ Marx sempre insistiu na distinção entre a aparência visível do
mundo e o seu movimento real invisível, de onde decorre, como premissa metodológica do marxismo, que o conhecimento não é nunca contemplação, mas ação sobre o mundo. As coisas não são como elas “se mostram” ao olhar desprevenido: para compreendê- las, é preciso fazer um desvio, dar um salto “por trás” da miragem do visível [...]. A realidade não é essa coisa que nos é dada pronto e predestinada, impressa de forma imutável nos objetos do mundo: é uma verdade que advém e como tal precisa ser intuída, analisada e produzida.[...] A fotografia, portanto, não pode ser o registro puro e simples de uma imanência do objeto: como produto humano, ela cria também com esses dados luminosos uma realidade que não existe fora dela, nem antes dela, mas precisamente nela.”
Portanto nem tudo que se vê em fotografias é precisamente o real,
o fotografo pode modificar o angulo e com isso fazer parecer outra coisa que na verdade não é.
O ato de mirar para fotografar e conseguir uma imagem é
comparado por Susan Sontag com o ato de mirar com um fuzil e atirar, os dois roubam um momento daquilo que esta sendo mirado, mas a fotografia rouba apenas a imagem, o fuzil pode roubar a vida.