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Capivari de Baixo
2011
SUMÁRIO
1. Os precursores da ergonomia............................................................................................. 2
3. O batismo da ergonomia..................................................................................................... 9
4. A evolução da ergonomia.................................................................................................. 10
6. Definições de ergonomia................................................................................................... 16
6.1 Ergonomia: ciência ou tecnologia ...............................................................................18
6.2 Uma proposta de definição 20
8. Tipificação da ergonomia 27
8.1. Quanto ao objeto de atuação 27
8.2. Quanto ao objetivo da intervenção 29
8.3. Quanto às ênfases 31
Embora, como veremos adiante, o nascimento “oficial” da ergonomia possa ser definido com
precisão, o seu primórdio remonta ao primeiro homem pré-histórico, quando este escolheu
uma pedra ou pedaço de madeira, de formato que melhor se adaptasse a forma e movimentos
de sua mão, para usá-los como arma. Durante séculos o homem dependeu de ferramentas e
utensílios rústicos construídos para abrigá-lo, auxiliá-lo na sobrevivência e tornar sua vida
mais tolerável. Esta adaptação de objetos artificiais ao ambiente natural foi produzida de
forma artesanal até o advento da era mecanizada.
O produto que era antes encomendado de acordo com as necessidades específicas do usuário,
passou a ser produzido em série de forma a atender as necessidades de um universo bem mais
amplo de usuários.
O século 18 testemunhou o surgimento das primeiras fábricas mecanizadas, que
caracterizavam-se por ser sujas, barulhentas, perigosas, escuras e as jornadas de trabalho
atingiam correntemente 12, 14 ou mesmo 16 horas por dia, com o emprego de crianças na
produção industrial, algumas vezes a partir dos 3 anos e, mais freqüentemente, a partir dos 7
anos. Tal prática veio a se consolidar, no século seguinte, como um período de
desenvolvimento do capitalismo industrial com um substancial crescimento da produção,
êxodo rural e concentração de novas populações urbanas. DEJOUR (1998) aponta esta época
como sendo de absoluta falta de higiene, promiscuidade, esgotamento físico, acidentes de
trabalho, subalimentação com a criação para condições de uma alta morbidade, alta
mortalidade e de uma longevidade dramaticamente reduzida. Ainda, segundo o autor, a luta
pela saúde entre os operários do século passado, identifica-se com a luta pela sobrevivência:
“viver, para o operário, é não morrer”.
De acordo com LAVILLE (1986), MONOD e VALENTIN (1979) e VALENTIN (1978), são
vários os estudos e pesquisas que antecederam a criação da ergonomia. Um resumo destes é
apresentado a seguir.
Físicos e fisiólogos
Médicos e higienistas
Psicólogos
No final do século XIX, iniciam-se as investigações sistemáticas para pesquisar como a tarefa
que o indivíduo desempenha e/ou os mecanismos que o rodeiam determinam a capacidade
humana para o trabalho.
Podem-se ainda citar, como exemplo das análises de Frank e Lillian Gilbreth, o trabalho de
equipes cirúrgicas em hospitais, que resultaram em procedimentos até hoje em uso: o
cirurgião obtém um instrumento solicitando-o à instrumentadora, que o colocava sobre a mão
do cirurgião na posição correta de uso. Antes do trabalho dos Gilbreth, os cirurgiões
apanhavam seus instrumentos numa bandeja e, praticamente, gastavam mais tempo
procurando os instrumentos do que propriamente operando os pacientes. De acordo com
SANDERS e MACCORMICK (1993) o casal Gilbreth pode ser considerado como um dos
pioneiros do que, mais tarde, se desenvolveu e transformou-se para dar origem à ergonomia.
Os estudos de Taylor e do casal Gilbreth deram origem a um ramo da engenharia industrial
que hoje se conhece como estudo de tempos e movimentos.
Nos anos seguintes, os engenheiros que se ocupavam dos estudos de tempos e movimentos
desenvolveram inúmeros princípios sobre a economia de movimentos, a programação das
atividades da tarefa e o planejamento da organização do trabalho - princípios que se
difundiram por toda a indústria moderna. Seja nos Estados Unidos, na Europa, na Rússia
(com o Stakanovismo), até a década de 60, os métodos e propostas da administração científica
do trabalho não sofreram qualquer questionamento ou foram objeto de qualquer proposta de
mudança. Somente nos anos 70 discutem-se novas formas de organizar o trabalho: o
enriquecimento do trabalho, o alargamento das tarefas, o trabalho em equipes.
Em relação ao re-planejamento da tarefa, da maquinaria, dos equipamentos, ferramentas e
ambiente de trabalho, podem-se considerar os engenheiros especialistas em tempos e
movimentos como precursores da ergonomia. No entanto, cumpre observar, que a análise do
trabalho que eles realizavam visava unicamente o aumento do rendimento do trabalho. O
principal critério de avaliação eram os índices de produção individual. Mais ainda, o modelo
de desempenho do homem em que se fundamentavam é análogo ao do funcionamento de uma
máquina. A ênfase da engenharia de tempos e movimentos centra-se no homem apenas como
fonte de força mecânica, que deve funcionar no mesmo passo da máquina, acompanhar o seu
ritmo, de modo ininterrupto, sem qualquer autonomia. O homem transforma-se, assim, num
componente padronizado, intercambiável, em uma peça do maquinismo, numa acepção oposta
aquela preconizada pela ergonomia.
2. AS MÁQUINAS NÃO LUTAM SOZINHAS
CHAPANIS (1972), apresenta uma ilustração bastante esclarecedora sobre o erro humano. No
final da Segunda Guerra Mundial, em dezembro de 1945, Fitts e Jones deram início a uma
pesquisa para apurar se alguns acidentes aéreos rotulados de “erro do piloto” não resultariam,
na realidade, de projetos imperfeitos ou inadequados. Entrevistaram-se 500 pilotos e as
análises demonstraram que muitos dos acidentes possuíam importantes elementos em comum.
"(...) Já não lhe aconteceu alguma vez pedir emprestado o carro de um amigo e ficar confuso
porque os comandos - seta, farol, etc. - deste automóvel são diferentes? Quando se fica
confuso num automóvel, quase sempre é possível encostar o veículo numa vaga ou num
acostamento até que venha a calma e a recuperação. Mas com o piloto de um avião é muito
diferente. Ele não tem o mínimo tempo para parar e fazer uma apreciação exata da situação.”
A “falha humana” propicia perdas para o sistema: aviões atingidos pelos inimigos e que não cumprem
a sua missão de bombardear os alvos programados, ou cidades inteiras expostas a ataques por não se
detectarem nos radares, a tempo, as informações sobre violações do espaço aéreo.
Difícil selecionar o homem que não erre, principalmente quando se necessitam mais e mais pilotos
para conduzir os modernos bombardeiros. A urgência e a precisão de renovar os efetivos - pilotos de
guerra morrem em combate e há de se renovar a frota e a equipe - também impossibilitam intensificar
e prolongar o treinamento para corrigir as deficiências da seleção.
Aviões custam caro. Conquistar a confiança da população civil é fundamental para o esforço de
guerra. Existe uma interface no sistema humano-máquina 2 cujos aspectos técnicos devem-se
considerar no momento do projeto: há de se adaptar as máquinas às características físicas, cognitivas e
psíquicas do homem.
Nasce a ERGONOMIA!.
A ergonomia enquanto disciplina tem suas origens na II Guerra Mundial, quando se agrava o conflito
entre o homem e a máquina e, por outro lado, falham as formas tradicionais de resolução deste conflito
- a seleção e o treinamento.
3. O BATISMO DA ERGONOMIA
O termo Ergonomia é utilizado pela primeira vez, como campo do saber específico, com
objeto próprio e objetivos particulares, pelo psicólogo inglês K. F. Hywell Murrel, no dia 8 de
julho de 1949, quando pesquisadores resolveram formar uma sociedade para “o estudo dos
seres humanos no seu ambiente de trabalho” - a “Ergonomic Research Society”
(PHEASANT, 1997). Nesta data, em Oxford, criou-se a primeira sociedade de Ergonomia,
que congregava psicólogos, fisiologistas e engenheiros ingleses, pesquisadores interessados
nas questões relacionadas à adaptação do trabalho ao homem.
Num sentido amplo, todavia, o termo “trabalho” aplica-se a qualquer atividade humana com
qualquer propósito, particularmente se ela envolve algum grau de experiência ou esforço. Ao
definir ergonomia em relação ao trabalho humano, utiliza-se em geral, a palavra trabalho com
este sentido amplo. Buscava-se um termo de fácil tradução para outros idiomas, que
permitisse derivação de outras palavras - ergonomista, ergonômico, etc. - e que não
implicasse que uma disciplina fosse mais importante que outra. Foi proposto o neologismo
“Ergonomia”, que compreende os termos gregos “ergo” (trabalho) e “nomos” (normas,
regras). Entretanto, a etimologia do vocábulo não define, precisamente, o objeto desta
disciplina.
O termo Ergonomia é utilizado na maior parte do mundo. A exceção fica por conta dos
Estados Unidos e Canadá, nos quais as expressões que mais se aproximam são: human factors
(fatores humanos), human factors engineering (engenharia dos fatores humanos), engineering
psychology (esta expressão poderia ser traduzida por ergopsicologia), man-machine
engineering (engenharia homem-máquina) e human performance engineering (engenharia do
desempenho humano). De acordo com, MONTMOLLIN e BAINBRIDGE (1984), embora
seja possível fazer distinções entre os termos Ergonomia e Fatores Humanos existe uma
tendência para a adoção do termo Ergonomia. No início dos anos noventa, a Human Factors
Society - Associação Americana de Ergonomia – realizou uma consulta junto aos seus
associados para a incorporação do termo "ergonomia" na sua denominação oficial
(LAUGHERY, 1992), passando então a ser denominada Human Factors and Ergonomics
Society. No Brasil, adotou-se o uso do termo ergonomia, consolidado com a difusão dos
primeiros livros aqui escritos: “Ergonomia: notas de aulas”, IIDA e WIERZZBICKI (1968) e
“Ergonomia: a racionalização humanizada do trabalho”, VERDUSSEN (1978).
4. A EVOLUÇÃO DA ERGONOMIA
Após a guerra, os ergonomistas voltaram a sua atenção para as centenas de máquinas que
cercam nosso cotidiano. Aí, descobriram que muitos dos mesmos erros de projeto que
atormentavam marinheiros, soldados e aviadores, existiam - e ainda existem - nas fábricas,
nas estradas, na sinalização urbana, nos tratores, caminhões, automóveis e mesmo num fogão
doméstico. Instrumentos que os operadores interpretam com dificuldade, controles que iludem
a dona de casa, sinais de trânsito que confundem motoristas, placas de sinalização que não
orientam os transeuntes - estas e outras centenas de exemplos são todos provas de projetos
inadequados, de incompatibilidades no sistema homem-tarefa-máquina, determinados pela
falta de adaptação às características físicas, psíquicas e cognitivas humanas.
A ergonomia continuou a crescer a partir dos anos 80. Um novo tema ocupa os ergonomistas:
o trabalho com terminais de vídeo. A revolução dos computadores coloca a ergonomia em
cartaz. Divulgam-se computadores ergonomicamente projetados, apresentam-se softwares
com interfaces amigáveis e os fatores humanos no escritório aparecem em muitos artigos de
jornais e revistas que lidam com computadores e pessoas. A tecnologia informatizada
propiciou novos desafios para a ergonomia. Novos dispositivos de controle, apresentação de
informações via telas de computador e o impacto de novas tecnologias sobre as pessoas
constituem-se em áreas de atuação do ergonomista.
Nos dias atuais, uma outra área que está contribuindo para o aumento da difusão da
ergonomia são os litígios sobre confiabilidade de produtos. As cortes solicitam a avaliação de
especialistas em ergonomia na análise de produtos envolvidos em acidentes durante o uso.
Os últimos vinte anos testemunharam uma ampla revolução tecnológica que foi responsável
por novas formas de relação usuário X produto, trabalhador X sistema de produção. Estas
novas formas de relação originaram novos conflitos que serão discutidos a seguir. O quadro 2,
abaixo, apresenta, de forma sucinta, a evolução tecnológica e os enfoques da ergonomia nos
últimos quarenta anos.
Anos 40/50
• Ergonomia militar
Anos 60/70
• Ergonomia civil: siderurgia e meios de
transportes
• Início da corrida espacial
• Indústria [estações de trabalho, produtos
manufaturados].
Anos 80
• Ergonomia do software
• Automatização de escritórios
• Controle de usinas nucleares e de processo
[Three Miles Island, Chernobyl e Bhopal].
Anos 90
• Geração de sistemas de informação, de
multimídias, de hipertextos e de programas
aplicativos
• Informatização de postos de trabalho
• Participação na elaboração de normas
técnicas
• Participação em litígios judiciais
• Macroergonomia
Novo século
• Manufatura híbrida, automação e robótica
• Usabilidade de produtos e sistemas
complexos
• Tráfego e transporte
• Idosos e envelhecimento.
Uma análise especial deve ser direcionada ao que ocorreu a partir da década de oitenta, com a
participação da ergonomia na renovação produzida pela Informática. Mais uma vez, a
preocupação com os fatores humanos não acompanhou pari passu o progresso tecnológico.
Do mesmo modo que se enfatizava o funcionamento eficaz durante o projeto de máquinas
energizadas a vapor, eletricidade e petróleo, com a microeletrônica ocorreu o mesmo. O
projeto de computadores, a implantação de centros de processamento de dados, a geração de
sistemas de informação, multimídias, hipertextos e programas aplicativos contemplam
primordialmente o funcionamento - a capacidade e velocidade dos componentes, a
conservação, a manutenção das máquinas, a rapidez no uso. A interação entre as máquinas e
os seus usuários raramente foi uma consideração a priori - e, no caso da informatização, nada
mudou -, daí a importância da ergonomia.
Como escreveu MONTMOLLIN (1996), as conclusões de uma enquete do New York Time,
que o Le Monde reproduziu em 30 de janeiro de 1985, diziam que os empregados ao
descobrirem um escapamento comunicaram o fato a um contramestre, que lhes respondeu que
verificaria o problema depois de tomar seu chá. Este mesmo contramestre declarou, no
entanto, que apenas fora informado de um escapamento de água. A matéria do New York
Times, ainda segundo MONTMOLLIN, declara que os empregados disseram que, em
desacordo com o regulamento, a direção da fábrica desativara uma unidade de resfriamento de
gás, vários meses antes do acidente. Em continuação, o New York Times afirma que o
escapamento começou duas horas depois que um trabalhador - cuja formação não era
adequada - recebeu a ordem de limpar uma tubulação cuja vedação não estava perfeita -
contrariamente, mais uma vez, às normas de segurança. Os trabalhadores estimaram que a
reação química que desencadeou a catástrofe provavelmente teve este fato como origem.
Como escreveu MONTMOLLIN (1996), as conclusões de uma enquete do New York Time,
que o Le Monde reproduziu em 30 de janeiro de 1985, diziam que os empregados ao
descobrirem um escapamento comunicaram o fato a um contramestre, que lhes respondeu que
verificaria o problema depois de tomar seu chá. Este mesmo contramestre declarou, no
entanto, que apenas fora informado de um escapamento de água. A matéria do New York
Times, ainda segundo MONTMOLLIN, declara que os empregados disseram que, em
desacordo com o regulamento, a direção da fábrica desativara uma unidade de resfriamento de
gás, vários meses antes do acidente.
Em continuação, o New York Times afirma que o escapamento começou duas horas depois
que um trabalhador - cuja formação não era adequada - recebeu a ordem de limpar uma
tubulação cuja vedação não estava perfeita - contrariamente, mais uma vez, às normas de
segurança. Os trabalhadores estimaram que a reação química que desencadeou a catástrofe
provavelmente teve este fato como origem.
Por mais que se tente sanar as falhas humanas e eliminar o erro humano através de sistemas
automatizados, não se consegue prescindir do homem como controlador - a ele cabe inclusive
intervir e decidir nos momentos de pane total.
Do mesmo modo que o radar não é o “olho da armada”, o computador não pensa. Entretanto,
buscam-se máquinas “inteligentes” que resolvam problemas e tomem decisões sozinhas,
desconsiderando-se as capacidades humanas. A automação e a robótica estão aí, a exigir
novos equipamentos e a colocar novos problemas - como a produção de sistemas de apoio a
decisão, expert systems, etc. A revolução industrial substituiu o trabalho humano no que se
refere à energia física necessária para manipular materiais. A automação vem substituir o
trabalho humano no processamento de informações, na determinação do que fazer e como
fazer. A ergonomia mais uma vez sai em campo para adaptar estes programas às
características cognitivas do operador humano. O trabalho das “salas de controle” dos
operadores de terminais de vídeo e o projeto de ajudas informatizadas e de sistemas de
comunicação são agora campos de atuação do ergonomista.
A ergonomia passa a ter então a sua importância alicerçada no estudo dos limites, limiares,
capacidades do homem, suas características físicas e psíquicas. Sendo assim, qualifica-se para
definir parâmetros ergonômicos para o projeto de produtos, processos produtivos (métodos e
planejamento, programação e controle da produção), sistemas de informação, ambientes
arquiteturais e treinamento para o trabalho de forma a propiciar segurança, saúde, conforto,
bem estar e melhoria da qualidade de vida das pessoas.
6. DEFINIÇÕES DE ERGONOMIA
Também é importante registrar a definição que a IEA apresentou para a ergonomia em seu
Congresso realizado em 1969:
No momento, esta tecnologia única e especial possui pelo menos quatro componentes
principais identificáveis que, do mais antigo ao mais recente, são os seguintes:
tecnologia da interface homem-máquina ou ergonomia de “hardware”; tecnologia da
interface homem-ambiente ou ergonomia ambiental; tecnologia da interface usuário-
sistema ou ergonomia de “software” e tecnologia da interface organização-máquina ou
macroergonomia” (HENDRICK, 1991).
• “A Ergonomia objetiva o design de equipamentos, sistemas técnicos e tarefas de forma a
melhorar a segurança, saúde, conforto e desempenho do homem”. (…) As situações
inseguras, não saudáveis, desconfortáveis ou ineficientes no trabalho ou na vida diária são
A palavra significante nestas definições é design, porque ela nos separa de disciplinas
puramente acadêmicas como antropologia, fisiologia e psicologia” (CHAPANIS, 1996).
“A Ergonomia, também conhecida como fatores humanos, é uma disciplina científica
que trata da interação entre os homens e a tecnologia. A Ergonomia integra o
conhecimento proveniente das ciências humanas para adaptar tarefas, sistemas,
produtos e ambientes às habilidades e limitações físicas e mentais das pessoas”
(KARWOWSKI, 1996).
Diante das diversas definições expostas, pode-se observar que cada qual representa a
formação ou linha de pensamento do respectivo autor. Muitas classificam a ergonomia como
ciência, outras como tecnologia. Tal distinção será detalhadamente discutida a seguir.
6.1 Ergonomia: ciência ou tecnologia?
Como foi visto anteriormente, alguns autores classificam a ergonomia como ciência, outros
como tecnologia. Alguns destacam os aspectos sistemáticos e comunicacionais, enquanto
outros focalizam a questão da adaptação da máquina ao homem.
No entanto, a questão onde aparecem mais divergências é, sem dúvida, o caráter científico da
ergonomia. É como se os ergonomistas, no afã de afirmar a seriedade da nova disciplina,
buscassem no termo ciência um status que a tecnologia, por sua proximidade com a técnica,
não possui. Cabe, portanto, esclarecer este ponto, para que a ergonomia possa se definir como
tecnologia.
perspectiva do uso destes dispositivos técnicos pela população normal dos trabalhadores,
com suas capacidades e limites, sem implicar numa seleção que escolha os “homens
certos”;
Tais conflitos se expressam através de custos humanos do trabalho para o operador, como
fadiga, doenças profissionais, lesões temporárias ou permanentes, mutilações e mortes.
Também se expressam através de acidentes, incidentes, erros excessivos, paradas não
controladas, lentidão e outros problemas de desempenho, assim como danificação e má
conservação de máquinas e equipamentos. Isto comumente acarreta em redução no nível de
produção, desperdício de matérias-primas, baixa qualidade dos produtos - o que acaba por
comprometer a produtividade e a qualidade do sistema homens-máquinas.
Com base nos enfoques sistêmico e informacional, a ergonomia como tecnologia operativa
trata de definir para projetos de produtos, estações de trabalho, sistemas de controle, sistemas
de informação, diálogos computadorizados, organização do trabalho, operacionalização da
tarefa e programas instrucionais, os parâmetros interfaciais, instrumentais, informacionais,
acionais, comunicacionais, cognitivos, interacionais, movimentacionais,
espaciais/arquiteturais, físico-ambientais, químico-ambientais, securitários, operacionais,
organizacionais, instrucionais, do espaço interno, urbanos, psicossociais e de acessibilidade.
Exemplos de tais parâmetros são apresentados a seguir.
O recorte da ergonomia se faz através do seu objeto - o ser humano em seu trabalho,
trabalhando em situação real -, de seus múltiplos recortes do sistema homem-tarefa-máquina e
da ênfase na análise da tarefa (trabalho e atividades). Cumpre, portanto, observar que o
sistema humano-tarefa-máquina pode ser um shopping center, um hospital, uma sala de
controle, uma agência bancária, um terminal rodoviário, um laboratório de análise, uma
galeria de exposições, um parque, uma banca de jornal, um banheiro público para deficientes,
um sistema de sinalização de uma universidade, um console de controle, a estação de trabalho
de um digitador, um banco de praça, etc.
A ergonomia como tecnologia substantiva implica interações com várias ciências - as
disciplinas afluentes. A ergonomia como tecnologia operativa compreende interações com
diversas tecnologias projetuais - as disciplinas efluentes.
• Disciplinas afluentes são aquelas que fornecem subsídios (i) sobre os aspectos físicos e
mentais do homem (anatomia, antropometria, biomecânica ocupacional, fisiologia do
trabalho, medicina do trabalho, psicologia do trabalho, psicologia experimental,
psicologia cognitiva); (ii) sobre as interações sociais e culturais das relações de
produção (sociologia do trabalho, economia do trabalho, antropologia) e (iii) sobre a
comunicação humana (semiótica).
• Disciplinas efluentes são aquelas para as quais a ergonomia - a partir da abordagem
sistêmica, da modelação das comunicações, da análise da tarefa e de experimentos
com variáveis controladas - define requisitos ergonômicos de projeto de produtos e
estações de trabalho, de ambiente espacial, de elementos de comunicação visual, de
ambiente físico, de operacionalização da tarefa, de programas de treinamento, de
sistemas de informação, de sistemas gerenciais, de projeto de software (hipertextos) e
programas de comunicação. São elas: desenho industrial, engenharia do produto,
programação visual, plant layout, arquitetura, espaço construído, conforto ambiental,
engenharia de segurança, engenharias de produção e de transportes, organização do
trabalho, recursos humanos e engenharias de sistemas e de software.
8. TIPIFICAÇÃO DA ERGONOMIA
Pode-se classificar a ergonomia de acordo com (i) o seu objeto de atuação (sistemas,
produção/produto, informacional/gestual e transferência de tecnologia,); (ii) segundo o
objetivo de intervenção (correção/concepção/transformação, proteção/desenvolvimento) e (iii)
os tipos de ênfases (comportamental, cognitiva, sóciotécnica ou experimental).
8.1 Quanto ao objeto de atuação
Num sistema produtivo ou de controle, a tarefa do operador e a maneira como ele a executa
dependem do desempenho de outros postos anteriores. Por outro lado, o produto das
atividades do operador alimenta um outro posto com o qual ele pode estar em relação direta,
no caso de um trabalho em equipe (informações numa sala de controle centralizado, por
exemplo, ou o material processado, no caso de indústrias de transformação). Ocorrem também
relações indiretas, quando o operador recebe ou fornece entradas ou saídas de partes do seu
trabalho de, ou para, outros postos com os quais não interage.
Tal distinção, no entanto, não repercute nos métodos que o ergonomista utiliza. Parte-se
sempre do enfoque sistêmico e das comunicações/interações entre homens e máquinas,
através da análise da tarefa ou das tarefas e tomam-se sempre como parâmetros de avaliação
os custos humanos físicos, cognitivos ou psíquicos do trabalho.
Ergonomia da produção
Ergonomia informacional
Ergonomia gestual
A ergonomia gestual abrange os sistemas de respostas ao nível psicomotor (movimentos,
posturas, deslocamentos). Envolve problemas biomecânicos e musculares e trata da
manipulação e movimentação de comandos e cargas.
Transferir uma máquina, um processo técnico de fabricação, uma fábrica inteira, dentro de
uma mesma região, de uma região para outra num mesmo país, de um país para outro, ou de
um continente para outro, exige o conhecimento das características da população que os
utilizará e do local onde se situará. Uma indústria não pode ter as mesmas características
arquiteturais em um país tropical e em um país frio.