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RESUMO:
Introdução
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Este artigo é versão sintética da Dissertação de Mestrado em Letras, Lite-
ratura Comparada, apresentada à UFRJ, em agosto de 2008.
Anais do V Congresso de Letras da UERJ-São Gonçalo
riana, em uma área que vai desde a fronteira entre Nigéria e Cama-
rões até a África do Sul. Não é demais atentarmos para a observação
de SILVA (1992):
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Tais pesquisas objetivavam o registro do Jongo do Sudeste como Patrimô-
nio Imaterial Brasileiro.
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Aniceto de Menezes e Silva Junior um dos fundadores da Escola de Sam-
ba Império Serrano e morador da Comunidade da Serrinha.
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do isso ou mãe. O Jongo é muito respeitado, o Jongo mata, o
Jongo carece até de cabeças maduras, pelo seguinte motivo: o
Jongo é deitado no metá-metá, o linguajar do caboclo e eu falar
consigo dirigindo-me a ele. E tem que saber desamarrar, desatar
aquilo, entender que é consigo o que eu estou falando. (Apud
MOURA, 1995, p. 139)
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Posteriormente conhecido como Mestre Darcy, será o principal introdutor
de mudanças no Jongo,como a presença de crianças, primeiro da Serrinha
e que depois irão espalhar às demais comunidades.
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Observe que
5 RIBEIRO (1960, p. 26) Também aponta esse parentesco, mas não se apro-
funda nem assume, pelo que entendemos, essa posição.
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A narrativa e a memória
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Há de se lembrar que, nos portos de embarque de escravos, havia a árvore
ou portal do esquecimento. Homens e mulheres eram obrigados a dar, res-
pectivamente, 9 ou 7 voltas ao redor deste e em sentido horário. As memó-
rias, o passado, a cultura e a identidade eram ritualisticamente esquecidas,
rompendo todos os vínculos, todos os laços de pertencimento. Deste mo-
do, os cativos perdiam a condição de viventes, convertendo-se em mortos
em vida.
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Nesse sentido, as experiências narrativas na diáspora revivificavam os
cativos, anulando o ritual da árvore do esquecimento
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Ética ancestral
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Na gravação feita pelo pesquisador norte-americano não fica claro se é
dembo que, neste caso, viria do kimbunbu ndembu autoridade superior ou
ndenbo, umbundu, rainha. (LARA E PACHECO, 2008, p.178)
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Seguiremos a notação dos estudos internacionais sobre povos e línguas
africanos. Grafaremos termos nas línguas de origem em itálico somente
na primeira aparição.
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Os territórios que passam de uma tribo a outra não perdem os laços com o
ocupante anterior. Pode existir, no seio da tribo ocupante, um descendente
da etnia que outrora habitava aquele solo e este será conselheiro com po-
der de veto. Caso não haja um descendente vivo ou a terra conquistada
agora já tenha pertencido a outro povo, são feitas oferendas para os ante-
passados destes.
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Oi Tambu, oi tambu
Quando eu for me embora pra bem longe
Quando eu for me embora pra bem longe, eu levo comigo
Ah esse som bate forte em meu coração
Tim tim tim tim tim, oi tambu
Tim tim tim tim tim oi tambu
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José Antônio Marcondes Filho.
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A confecção de um tambor é um grande segredo. Os jongueiros velhos
sempre desconversam e os mais novos dizem não saber como fazê-los.
Ouvi de vários jongueiros que não se cortava a árvore, deveria esperar
que ela caísse.
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Uma das coisas mais espetaculares da pesquisa nas tradições orais negras
é o fato de que uma série de elementos permanecem ocultos, aguçando a
imaginação e a curiosidade.
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Também chamado de ingoma, engoma, angona, angomba.
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A comunidade de Santo Antônio de Pádua é uma das poucas que vi utili-
zando-a.
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Informações colhidas durante ciclo de palestras: Jongá, cantos de traba-
lho e orgia, no auditório da Caixa Cultural, Rio de Janeiro, entre 06 e 20
de novembro de 2007.
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A dança
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O sentido é o oposto ao do realizado no ritual da árvore do esquecimento,
conforme falamos (Cf. nota 5).
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Cheguei na angoma
Tinha muita diferença
Quero cantar meu pontinho
E meus pais velhos dão licença.
Era desse modo que os escravos sabiam que algum outro cati-
vo estava sendo castigado e corriam para acudi-lo, conforme relatou,
aos pesquisadores do IPHAN, uma jongueira de Santo Antônio de
Pádua, infelizmente não identificada.
Mas o ponto nunca converge para uma única direção, uma vez
que nele passam infinitas retas. Deste modo, podemos ler a metáfora
do ponto de outro modo: apesar de ser diminuto e frágil, por isso
comparado aos escravos, o mosquito-pólvora ou maruim, endêmico
nas regiões de manguezal, possui uma picada dolorosa que provoca
inchaço e, em alguns casos, febre.
Em oposição a ele, está o marimbondo, representação do feitor
ou do Senhor. Muito maior que o mosquito e dono de um ferrão que
inocula veneno poderoso, tem hábito solitário. O ponto exorta a uni-
ão guerreira dos pequenos contra o grande opressor.
A linguagem dos jongueiros é dúbia, com imagens aparente-
mente simples, tomadas da realidade próxima (natureza, plantas, o
trabalho da roça, os animais). O sentido atribuído a entes é movedi-
ço, pois as decifrações dos códigos cantados eram exclusivas às co-
munidades, vigiadas continuamente por feitores, intendentes ou por
brancos que se aproximavam da roda para buscar diversão, como nos
informa D.ª Zé, jongueira de Guaratinguetá (Apud DIAS, op. cit., p.
875):
os escravo, num podia comunicá com ninguém, eles não tinha li-
berdade, né? Então, quando eles entrava na senzala é que eles
iam participá um co outro. Então, no meio eles faziam a roda de
Jongo e, ali, cada um cantava o Jongo falando o que queria falá,
mas sobre... pela canção. Daí, um entendia o que tinha que sê fei-
to. As vezes o que se passô no dia, o que ia acontecê. Então, um
já avisava o outro. E, era por meio de ponto de Jongo que era
comunicado as coisa.
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Essa seqüência é feita sem pausas ou explicações que rompam a unidade
da roda.
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Cheguei na angoma
Tinha muita diferença
Quero cantar meu pontinho
E meus pais velhos dão licença.
(Tia Maria Luíza, de Angra dos Reis In JONGO DO SU-
DESTE, 200, p. 39)
Eu vim aqui
E não vim pra demorar
Eu vim cumprimentar
O povo desse lugar
Eu cheguei aqui no Jongo de pé no chão
No balanço dessas ondas vim lá de Angola
Arrastei o pé na´ngoma poeira sumbiu
Pra pedir a proteção de Mamãe senhora
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Oi, amigo meu eu quero cantar um pontinho memo que tudo po-
de cantar e depois tudo pode gatinhá, pra nóis brincá sossegado.
Oi quando eu sai de casa, eu moro no bairro do Selado desse
memo município Natividade da Serra, mai conversa com São Lui
do Pairaitinga e tem contato com São Lui do Paraitinga. Oi, meus
amigo
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Sinto saudade
De quem se foi (bis)
saravá Canário Zumba
n’Aruanda
Sinto saudades de quem se foi
Saravá o meu filho
n’Aruanda
(as Alma Preta)
(Zé capelão)
(Dito Prudente)
(...) nAruanda
Vapor da Paraíba
Vapor berrou na Paraíba,
chora eu, chora eu Vovó.
Fumaça dele na Madureira,
e chora eu.
O vapor berrou piuí, piuí.
Ô irê, irê, irê,
ô irê, irê, irê .
(JONGO DA SERRINHA, 2002)
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Lá vem o navio
Apinhado de escravo,
Vem da África trazendo
Esse povo maltratado!...
(AGUIAR, s/d)
Ei campo, quimô
Ei campo quimô
Piquira ta curiano
Piquira ta curiano ê...
(RIBEIRO, 1960, p. 24)
No dia 13 de maio
Quando o senhor me batia
Eu gritava por Nossa Senhora, meu Deus
Quando a pancada doía.
(CAXAMBU DE SANTO ANTÔNIO DE PÁDUA. In:
JONGO DO SUDESTE, 2007).
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O Mãe África
Vem lembrar seu cativeiro
O como chora meu Tambu (ai meu tambu)
Oi como chora o Candongueiro (ai candongueiro)
De tanto soluçar, soluçar, soluçar
Vai molhar o meu terreiro
Axé
Pisei na pedra
A pedra balanceou
O mundo estava torto
A rainha endireitou.
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Pisei na pedra
Pedra balanceou
Levanta meu nego
Cativeiro se acabou!
(FEITICEIROS DA PALAVRA, 2001)
Tava no genheco
Quando o imperador passo
Respondo bom dia se quisé
Pruque lovado já cabo.
(RIBEIRO, 1960, p, 34)
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E umbaúba é coronel.
(TEOBALDO, 2003, p. 72)
Eu num é doutô,
Eu num é “fermêro”.
Como vai tomá conta de butica na Piedade?
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Ou este:
Bombeiro da bomba,
Bombeiro da bomba , me da um copo d'água
A sede me tomba
(QUILOMBO DE SÃO JOSÉ, 2004)
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Ou Delcio Bernardo:
Cheguei na ingoma
Tive muita diferença
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Outra variação deste ponto fala que vovó não quer palha de
cana no terreiro. Terreiro é o espaço mínimo reconquistado pós-
Abolição e quase sempre roubado. Sendo assim, a negra ex-escrava
reconquista seu direito à terra e a dar as ordens. Neste espaço ela
quer fixar a lembrança em outros fragmentos que não sejam os que
lembrem o cativeiro. Isto fica claro noutra variação:
Pega a vassoura
Varre a páia do terreiro
Vovó num qué
Se alembrá do cativeiro.
Tatu tá cavucano
A catacumba do meu pai
Pra baixo ele não desce
Pra cima ele não sai
O tatu
E a resposta:
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O tatu tá cavucano
Na casa de dona Aurora
Não cavuca muito não, gente
Que o tatu chegou agora
(BATUQUES DO SUDESTE)
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O tatu tá cavucando,
E a terra tá sumindo;
Quero que o mestre jongueiro diz,
Pra onde a terra tá indo
ou em
Você corta ponto de Jongo
Mas não corta cemitério
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Aqui o Jongo se afasta do candomblé. Neste é a presença da criança santi-
fica o lugar. Nemhuma entidade, nem Exu mexe com elas. Temos mais
um indício de diferenças entre as tradições bantu e iorubanas.
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Canta beija-flor
Canta sabiá
Caxambu mirim
Que acabou de chegar
Ele tá morrendo
Eu tá caluturai20
Perengando21 tô, peregando tô
Reze por mim quem me gosta
Pro Zâmbi nosso sinhô
Cheguei de terra distante
Radiquei-me no Brasil
Vivi mais de quatro séculos
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Pessoa muito acabada.
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Doente, sofredor.
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Burro.
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Conclusão
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Referências Bibliográficas
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no=detalheInstitucional;
http://portal.iphan.gov.br/portal/montarDetalheConteudo.do?id=1378
9&sigla=Documento&retorno=detalheDocumento.
REDE MEMÓRIA DO JONGO. In: http://www.eefd.ufrj.br/rede
jongo/home.html.
Fontes Sonoras
Fontes Audiovisuais
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