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OS JOVENS DA GERAÇÃO Y
INSPIRAM UMA REVOLUÇÃO NAS
ESTRATÉGIAS DE MARKETING E
VENDA DE GRANDES EMPRESAS
{Andreas Müller com colaboração marcas, comunicar-se com o consumidor preço razoável. Eu me considero uma
de Annie Piagetti Müller*} - e vender. 'As diferenças ainda não estão consumidora exigente e dou prioridade
claras e é preciso cuidar com as rotulagens. a coisas criativas'', explica ela.
les passam o tempo todo conec- Mas as empresas terão de assimilar que Essa tendência à infidelidade expõe
tados à internet. Usam e abusam a forma como o consumidor lida com os as empresas tanto a ameaças quanto
da comunicação eletrônica e mantêm produtos e serviços está mudando'', explica a oportunidades. Para aquelas que já
um grande círculo de relacionamentos Carlos Honorato Teixeira, professor do contam com marcas estabelecidas, re-
on-line. Tratam amigos, colegas, chefes Programa de Estudos do Futuro (Profuturo), latos como o de Caroline soam como
ou subordinados sem muitas deferências, ligado à FIA, de São Paulo. um alerta contra a acomodação. Não há
estabelecendo com eles diálogos abertos, Parte dessa mudança tem a ver com como se manter no radar do consumidor
rápidos e informais. Também são imedia- o nivel de lealdade às marcas - que, no Y sem um esforço constante de inovação
tistas e estão sempre dispostos a viver o caso dos representantes da Geração Y, é e rejuvenescimento de marca, já para as
"aqui-e-agora" - mesmo que, às vezes, isso zero. Com idades que hoje variam entre companhias que ainda estão tentando
signifique deixar para trás uma carreira 21 e 30 anos, eles formam um segmento buscar seu espaço, a chegada dessa gera-
promissora ou projetos que só dariam de consumo aberto à experimentação e ção traz muitas oportunidades. Trata-se,
retorno no longo prazo. E que fique já habituado à obsolescência de produ- afinal, de um mercado mais tolerante ao
claro: eles não têm nenhum interesse de tos e serviços. Juntos, representam um novo, com compradores que não têm
ficar muito tempo no mesmo emprego, mercado com alto poder aquisitivo, mas grandes preconceitos em relação a marcas
principalmente se a rotina desse emprego que dá pouco valor à força das marcas. A desconhecidas - aliás, muitas vezes eles
conflitar com o que eles consideram uma estudante de Psicologia Carolina Veiga, até preferem as desconhecidas.
vida plena em autorrealização. de Porto Alegre, é um caso típico. Aos Para o consultor em comportamento
Essas são apenas algumas das caracte- 21 anos, ela já sabe claramente qual é sua de consumo Daniel Portillo Serrano, a
rísticas que definem os jovens da Geração marca preferida: nenhuma. "Não vou Geração Y é a grande responsável por
Y. Nascidos entre 1978 e 1990, conforme a pela marca, não costumo 'seguir' marcas deflagrar o efeito "cauda longa''. "Estamos
convenção mais aceita, eles representam em si. Gosto de comprar livros e roupas, falando de um segmento de mercado
uma nova classe de profissionais que está especialmente as que estão na moda. que se deixa guiar mais pelos benefícios
começando a assumir posições estratégicas Mas não sou 'fiel' a marcas de maneira da compra do que pelo status da marca.
dentro das empresas. É consenso: cada vez alguma" diz ela. Carolina faz questão de Tanto é que nunca houve uma profusão
mais, as companhias que quiserem atrair e esclarecer que essa rejeição às grifes não tão grande de produtos e serviços quanto
reter talentos terão de adaptar suas práticas tem nada a ver com a típica indecisão agora. Há oportunidades para todos, algo
de gestão de pessoas aos gostos e atitudes dos jovens. Ela sabe claramente do que que está muito relacionado à cauda longa'',
dessa geração. O que pouca gente percebeu gosta e não do que não gosta - e é capaz explica Serrano, que também é editor-
até agora é que a emergência da Geração Y de enumerar facilmente os atributos de -chefe do Portal do Marketing - www.
afeta não só o departamento de RH, mas um produto capaz de atrair sua atenção. portaldomarketing.com.br. Criado pelo
também o de marketing. E demanda mu- "É necessário que tenha diversidade de n o r t e - a m e r i c a n o Chris Anderson, o
danças definitivas na forma de se construir opções, que seja novo e venha com um conceito de cauda longa prega que, em
Marcon, gerente de pesquisas organizacio-
nais do Hay Group. Pois a mesma lógica se
aplica na forma como eles se relacionam
com as marcas. Para o consumidor Y, uma
grife de valor não é necessariamente aquela
que confere status e aceitação social. "Eles
usam as marcas, basicamente, para dizer
quem eles são. É um meio de comunicação
e de expressão pessoal, uma forma de dizer
que eles são únicos'', define a pesquisadora
Eline Kullock, presidente do Grupo Foco,
especializado em seleção e recrutamento
de executivos.
rabisco pelo corpo), sessões de cinema e, que é o da Grendene, que vem explorando educação e gráfico-editorial, o grupo
é claro, as redes sociais - Facebook, MyS- a fundo a interatividade para promover paranaense vem fazendo o possível para
pace, Orkut, YouTube, Twitter etc. Mas, uma de suas marcas mais famosas, a Me- responder à multiplicação dos consumi-
atenção: não basta estar presente nesses lissa. Há três anos, a empresa aposta em dores Y. Mainardi garante que o centro de
meios. É preciso saber usá-los de forma uma política de marketing que dá pouca pesquisa e desenvolvimento de produto
integrada e, de preferência, responder ênfase às mídias de massa e valoriza a da companhia conta, hoje, com múltiplas
rapidamente aos questionamentos que interatividade. O principal canal de co- linhas de pesquisa sobre o assunto. Ao
surgem dessa interação. "De certa forma, municação da marca é a internet. Além
mesmo tempo, o Positivo está apostando
o consumidor da Geração Y tenta cons- do site, que acumula 400 mil acessos por
alto nas multimídias - não só para se co-
mês, a Melissa conta com um time de
truir seu próprio mundo customizado. municar com o consumidor, mas também
blogueiras que divulga novidades e ain-
As empresas que permitem essa custo- para servi-lo. "Neste momento, estamos
da responde a comentários e perguntas
mização, utilizando os meios digitais e começando a entrar na plataforma tablet,
do público externo. "Temos os blogs e
aderindo às ferramentas wiki, serão as a partir do trabalho do nosso grupo de
estamos em todas as redes sociais. Hoje,
primeiras a alcançá-lo'', diz a A M A N H Ã estudos para educação a distância. Esta-
chamamos nossas consumidoras de fãs'',
o norte-americano Bruce Tulgan, uma mos atentos às principais experiências no
revela Raquel Scherer, coordenadora de
das maiores autoridades do assunto no mundo'', avisa Mainardi.
marketing da Melissa.
mundo. "Mas para isso é preciso cultivar
a interação, trabalhar uma pessoa por "A verdade é que todas as empresas Em busca de um sentido
vez e mostrar que cada uma delas pode terão de repensar seus processos de Há um elemento essencial que ajuda
conseguir o que quer'', destaca Tulgan, que comunicação. A Geração Y traz mais a entender a forma como os Ys se relacio-
também dirige a consultoria Rainmaker nam com o trabalho e com o consumo:
do que novos hábitos para o mercado. É
Thinking (confira a íntegra da entrevista
todo um modelo mental ao qual teremos eles foram criados acreditando que têm
dele no Portal Amanhã).
de nos adaptar'', analisa Rogério Mainar- um papel muito importante a cumprir
Algumas empresas já estão aplicando di, diretor corporativo de marketing do no mundo. Bruce Tulgan, da Rainmaker
na prática essas lições - e com resultados Grupo Positivo. Embora atue em mer- Thinking, argumenta que essa geração
bastante animadores. Um caso de desta- cados variados, como o de informática, cresceu na "década da criança'', um pe-
ríodo marcado pala superproteção dos Tulgan. Por isso, diz ele, os jovens da menos ter um significado especial para o
pais e pela eclosão do mercado global Geração Y só conseguem se sentir ver- grupo ao qual eles pertencem.
de produtos e serviços infantis. "Eles se dadeiramente motivados com aquilo que A estilista Paula Escher, de 25 anos,
acostumaram a ser o centro das atenções. tem propósitos nobres. E aí está mais uma não é filiada a nenhum movimento social
Quando eram pequenos, eles eram ou- diferença na maneira como esses consu- ou ambiental. Mas, no dia a dia, procura
vidos, estudados, medicados e educados midores se relacionam com as marcas: a dar sua contribuição para diferentes cau-
com uma atenção inédita - que seus pais compra de um produto ou serviço precisa sas a partir de seus próprios hábitos de
da Geração X nunca receberam'', explica reforçar o papel deles no mundo - ou pelo consumo. "Sou vegetariana e tento levar
isso para tudo com que me relaciono,
desde as marcas até os pequenos detalhes
da vida'', afirma ela. Paula acompanha
diariamente as notícias da O N G interna-
cional People for the Ethical Treatments
of Animals, o Peta, que luta contra os
maus-tratos aos animais. Participa de
abaixo-assinados contra empresas que
utilizam matérias-primas animais (couro,
carnes etc). E já deixou de comprar mar-
cas de cosméticos ao descobrir que elas
testavam seus produtos em bichos. Paula
ainda participa todos os anos da Hora do
Planeta e, na internet, segue O N G s como
a WWF, a Anistia Internacional e usa o
Facebook Causes - uma ferramenta que
ajuda a divulgar causas entre amigos e
contatos da rede social.
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Fonte: Amanhã, Porto Alegre, ano 24, n. 273, p. 46-57, abr. 2011.