MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de Metodologia Científica.
7ª edição. São Paulo, 2010. Atlas.
No primeiro capítulo, aborda-se a ciência e o conhecimento científico. No segundo os
métodos científicos. Veremos simplificadamente o que vem a ser cada um deles, seus conceitos, classificação e método. Para se falar de conhecimento cientifico devemos diferenciá-lo dos outros conhecimentos. O conhecimento popular passado de geração em geração, sem formalidade com base em experiências pessoais, “portanto empírico” e desprovido de um conhecimento mais a fundo, mais sistemático, enquanto que o conhecimento cientifico é “transmitido por intermédio de treinamento apropriado” sendo um conhecimento formal, obtido por métodos científicos. Visa busca a forma como as coisas funcionam de modo sistemático. Podemos dizer que o homem detém vários tipos de conhecimento científico, desde aquele mais simples, comum a todas as pessoas e que nos passa despercebido, até aquele mais profundo e complexo não comum a todos indivíduos. O conhecimento de senso comum, o qual é estendido a todos os indivíduos, mesmo que não o percebamos, e nos vem como herança genética de geração em geração. Usamos este conhecimento diariamente, muitas vezes sem nos dar conta, em atividades corriqueiras sem questionarmos se está certo ou errado. Um exemplo disto é o uso secular que fizemos de ervas para confecção de vários tipos de chás para a cura de toda sorte de moléstias. Nunca paramos para pesar como elas funcionam em nosso organismo, confiamos em sua eficácia porque todas as pessoas usam e principalmente porque nos é indicado pelos mais velhos. Outro tipo de conhecimento é o científico. Surgiu da necessidade do ser humano querer saber como as coisas funcionam ao invés de apenas aceitá-las passivamente. Com este tipo de conhecimento o homem começou a entender o porquê de vários fenômenos naturais e com isso vir a intervir cada vez mais nos acontecimento ao nosso redor. Este conhecimento se bem usado é muito útil para humanidade, porém se usado incorretamente pode vir a gerar enormes catástrofes para o ser humano e tudo mais ao seu redor. Usamos como exemplo a descoberta pela ciência da cura de uma moléstia que assola uma cidade inteira salvando várias pessoas da morte, mas também, destruir esta mesma cidade em um piscar de olhos com uma arma de destruição em massa criada com este mesmo conhecimento. Já no período feudal, o sistema de cultivo era em faixas: duas cultivadas e uma terceira “em repouso”, alternando-as de ano para ano, nunca cultivando a mesma planta, dois anos seguidos, numa única faixa. Com isso estavam demonstrando possuírem outro tipo de conhecimento que o técnico, mas no entanto tinha a mesma eficiência. Existem dois tipos de conhecimentos: o primeiro , vulgar ou popular, geralmente típico do camponês, transmitido de geração para geração por meio da educação informal e baseado em imitação e experiência pessoal; portanto, empírico e desprovido de conhecimento sobre a composição do solo, das causas do desenvolvimento das plantas, da natureza, etc. O conhecimento cientifico é transmitido por intermédio de treinamento apropriado, sendo um conhecimento obtido de modo racional, conduzido por meio de procedimentos científicos. Segundo os autores, o conhecimento vulgar ou popular, às vezes denominado senso comum, não se distingue do conhecimento cientifico nem pela veracidade nem pela natureza do objeto conhecido: o que o diferencia é a forma, o modo ou o método e os instrumentos do conhecer. Para Bunge a descontinuidade radical existente entre a ciência e o conhecimento popular, em numerosos aspectos (principalmente no que se refere ao método), não nos deve fazer ignorar certa continuidade em outros aspectos, principalmente quando limitamos o conceito de conhecimento vulgar ao “bom senso”. O conhecimento científico iniciou-se da necessidade de conhecer aquilo que o homem não sabia explicar. A desmistificação dos fenômenos naturais e das ações do homem partiu de explicações filosóficas até atingirem um nível empírico (prático). A aquisição do conhecimento científico passa, então, a ser experimentado pelo cientista. É uma necessidade natural do homem querer conhecer e explicar aquilo que é desconhecido. O texto destaca também as divergências entre o conhecimento científico e o conhecimento popular (o senso comum). As autoras observam que a ciência não é o único caminho de acesso ao conhecimento e à verdade, já que o senso comum pode atingir esse nível embora por meios empíricos. Outro fato interessante é a forma como a ciência e o senso comum podem observar o mesmo objeto. Contudo, o conhecimento popular possui características bem próprias que o diferenciam do conhecimento científico. É superficial no seu observar, é sensitivo, empírico, tende a subjetividade e é assistemático, ou seja, não está disposto em categorias ou registros organizados. O conhecimento popular também é desprovido da criticidade científica, ou ao menos, lhe é facultativa. A classificação dos tipos de conhecimento feitos por Trujillo é feita de forma dialética, com características que são, em sua maioria, opostas. Vamos a estas oposições: O valorativo é uma característica que descreve o dogma ou sistema de valores próprios ou comunitários, onde não se prioriza a razão, dando vez à emoção e aos estados de ânimos. O julgamento valorativo pode ser considerado injusto porque não considera proposições que sejam verdade. Encaixam-se nesse atributo os conhecimentos popular, filosófico e religioso. Já o real ou factual é a característica de algo que é experimentado e de aceitação científica. Não é impregnado de valores pessoais ou comuns, portanto, de juízo aprovado e, caso se comprove, falível. Apenas o conhecimento científico é factual. Tudo o que está compendiado, registrado, categorizado, organizado e coerente pode ser considerado sistemático. No caso, quando estudamos certos tipos de conhecimento, fica bastante nítido que eles estão devidamente sistematizados. A biologia, o racionalismo e o cristianismo são exemplos de sistematização de conhecimentos. Logo, a ciência, a filosofia e a religião podem reunir seus conhecimentos e sistematizá-los. Não é o caso do conhecimento popular, que tende a ser o mais complexo e aberto possível, não sendo capaz de ter todo seu conteúdo reunido em um livro ou compêndio para sistematização ou categorização. Tudo o que podemos por à prova, testar, verificar é considerado verificável. Do contrário é considerado Não verificável. O conhecimento popular e o científico podem ser postos à prova, enquanto que o conhecimento filosófico e o religioso não. O conceito de falível e infalível parte mais do ponto de vista do conhecimento em questão do que aquilo que pode ser observado pelo pesquisador. Atribuímos o conceito de falível aos conhecimentos popular e científico porque estes podem ser reprovados, contestados ou superados por hipóteses ou experimentações comprobatórias. Já não se pode dizer o mesmo dos conhecimentos filosófico e religioso, que, partindo do ponto de vista de seu próprio conhecimento não podem ser passíveis de falha ou erro. Pelo mesmo motivo de serem infalíveis, os conhecimentos filosóficos e religiosos são exatos. Eles possuem uma sistematização que lhes confere todos os instrumentos para apreender a realidade ou o subjetivo, permitindo propor valores definidos de verdade e falsidade. Já o conhecimento popular, por não possuir essa sistematização, torna o conhecimento instável, por isso, inexato, já que não há registros ou compêndios que forneçam esses valores de verdade ou falsidade como absolutos. No conhecimento científico, pelo fato de ser sistematizado e falível, lhe é concedido um caráter de aproximadamente exato. Aproximadamente, porque não se pode atingir, na ciência, um valor de verdade completamente absoluto, pois, se houvesse essa possibilidade, seria contraditório dizer que é falível. Enfim, cada tipo de conhecimento tem uma característica intrínseca. O conhecimento popular é reflexivo, pois não consegue atingir um nível de sistematização de conhecimentos, tornando também o conhecer limitado ao indivíduo (experiências pessoais) ou a um grupo (comunidade). Já o conhecimento científico, por conseguir organizar e sistematizar sua rede de conhecimentos, é considerado contingente, porque seus valores de verdade podem ser confirmados ou contestados via experimentação, não apenas por simples reflexão. O conhecimento filosófico é racional, pois seus valores de verdade estão disponíveis apenas para discussões reflexivas, sem a experimentação científica. É inspiracional todo conhecimento de cunho religioso, visando que eles são dotados de valores que não tem como objetivos primários serem experimentados ou debatidos, mas serem aceitos como verdade e seguidos. Esses conhecimentos são revelados ao homem por fenômenos sobrenaturais, por isso são infalíveis e indiscutíveis (exatas). Já o conceito de ciência vária de acordo com a perspectiva do pesquisador. As autoras citam vários desses conceitos e os considera incompletos. Ciência é um conceito abrangente e é mais que acumulação, registros ou experimentações de hipóteses e teorias. Ander-Egg e Trujillo colocam características interessantes para compor o conceito de ciência. Numa construção própria do conceito, aglutinando aquilo que Trujillo e Ander-Egg colocaram, poderia definir ciência como conjunto de conhecimentos embasados na razão humana, de forma objetiva e experimental, com dados comprováveis, quase exatos, sistematizados coerentemente, onde estudiosos podem realizar seus estudos numa/sobre realidade concreta, tangível e observável. A ciência é composta de duas dimensões. Uma lógica, como o método de raciocínio e inferência daquilo que é observado/estudado e a outra dimensão é técnica, que abrange os processos de manipulação dos fenômenos em análise, procurando precisão, resultados satisfatórios e registrando cada reação ou variáveis relevantes. As autoras apresentam ainda o que seria uma classificação e divisão da ciência, segundo as perspectivas de Comte, Carnap, Bunge, Wundt. A posição das autoras em adotar um modelo similar ao de Bunge se justifica em alguns devido à alguns critérios. Neste texto, Lakatos e Marconi contextualizam sobre o conhecimento popular, o científico, filosófico e o religioso, caracterizando cada um deles de acordo com as características do conhecimento. Em seguida os autores falam sobre os métodos científicos, primeiramente dizendo que todas as ciências caracterizam-se pela utilização de métodos científicos; em contrapartida, nem todos os ramos de estudo que empregam estes métodos são ciências. A expressão método científico utiliza-se com diferentes significados e, frequentemente, abusa-se dela para justificar uma determinada posição pessoal ou social com relativo desconhecimento da complexidade do conceito. Como o seu próprio nome indica representa a metodologia que define e diferencia o conhecimento da ciência de outros tipos de conhecimentos. A filosofia da ciência cria o método científico para excluir tudo o que tem natureza subjetiva e, portanto, não é susceptível de formar parte do que denomina conhecimento científico. Em última instância, aquilo que é aceite pelo sentido comum propriamente dito e, por isso, adquire caráter de geralmente aceite pela comunidade científica e pela sociedade. Por outro lado, sabemos que existem coisas cuja natureza é precisamente subjetiva. A aproximação científica a estes elementos é complexa e normalmente efetua-se através dos métodos científicos menores, desenhados para ramos específicos do saber. Trata-se daqueles que são distintos dos três métodos básicos (indutivo, dedutivo e hipotético- dedutivo ou de verificação de hipóteses) que se costumam aplicar às ciências naturais (física, química, biologia, etc.) em contraposição às chamadas ciências humanas (economia, política, etc.). Entre estes métodos podemos citar: hermenêutico, fenomenológico, dialético, funcionalismo, estruturalismo, etc. De um modo geral, os autores apóiam-se em diversos estudiosos para emitir suas conclusões. Numa das poucas oportunidades em que declara suas próprias ideias, Lakatos e Marconi nos relata sobre a ciência e o conhecimento científico de maneira clara, lembra que a decisão de adotar uma postura crítica, de procurar a verdade e valorizar a objetividade é uma decisão livre. A obra fornece subsídios à nossa pesquisa científica, à medida que trata dos principais autores/protagonistas da discussão/construção do método cientifico na história mais recente, reportando-se a esclarecimentos mais distantes sempre que necessário. Com sólidos conhecimentos acerca do desenrolar histórico, os autores empenham-se em apresentar clara e detalhadamente as circunstâncias e características da pesquisa cientifica, levando- nos a compreender as ideias básicas das várias linhas filosóficas contemporâneas, bem como a descobrir uma nova maneira de ver o que já havia sido visto, estudado. É uma leitura que exige conhecimentos prévios para ser entendida, além de diversas releituras e pesquisas quanto a conceitos, autores e contextos apresentados, uma vez que as conclusões emergem a partir de esclarecimentos e posições de diversos estudiosos da ciência e suas aplicações e posturas quanto ao método científico. A obra tem por objetivo discutir alternativas e oferecer sugestões para estudantes universitários e pesquisadores, a fim de que possam realizar, planejar e desenvolver as próprias pesquisas, na graduação e pós-graduação, utilizando-se do rigor necessário à produção de conhecimentos confiáveis. É de grande auxilio, principalmente, àqueles que desenvolvem trabalhos acadêmicos no campo da ciência social. Não se trata de um simples manual, com passos a serem seguidos, mas um livro que apresenta os fundamentos necessários à compreensão da natureza do método científico, nas ciências naturais e sociais, bem como diretrizes operacionais que contribuem para o desenvolvimento da atitude crítica necessária ao progresso do conhecimento. Eva Maria Lakatos foi uma socióloga da administração. Lakatos era graduada em Administração e Jornalismo e pós-graduada em Ciências Sociais. Mestre e Doutora em Ciências, Doutora em Filosofia (Metodologia Científica) e livre-docente em Sociologia, pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, onde foi vice-diretora. Foi professora de Sociologia e Metodologia Científica em cursos de graduação e pós-graduação. Marina de Andrade Marconi, Doutora pela UNESP – Franca, Pós-graduada pela Escola de Sociologia e Política, Graduada em História pela UNESP – Franca, Graduada em Pedagogia pelas Faculdades Claretianas de Batatais, Graduada em Estudos Sociais pela Faculdade de Pedagogia de Ituverava, Graduada em Educação Artística pela Faculdade de Música M. Julião, Graduada em Canto Orfeônico pela Faculdade de Música M. Julião e Graduada em Piano pela Faculdade de Música M. Julião. Atuou profissionalmente como Professora de Antropologia da UNESP de Franca por 16 anos, Professora de Sociologia das Faculdades Claretianas de Batatais por 10 anos, Professora de Antropologia da Faculdade de Filosofia de Ituverava por 3 anos Professora de música e História da Escola de 1º e 2º Grau do Estado por 18 anos. Marconi teve publicado as seguintes obras: Antropologia: uma introdução, Fundamentos de metodologia científica, Metodologia científica: ciência e conhecimento científico. Métodos científicos. teoria, hipóteses e variáveis. Metodologia jurídica, Metodologia do trabalho científico: procedimentos básicos. Pesquisa bibliográfica, projeto e relatório. Publicações e trabalhos científicos Sociologia geral (livro-texto) e Técnicas de pesquisa: planejamento e execução de pesquisas. Amostragens e técnicas de pesquisa. elaboração, análise e interpretação de dados.
1CORREA, Joceli Pureza. Acadêmica do Curso de Odontologia, turma 0D1/0D2/NA, do Instituto