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ISSN 1413-389X Temas em Psicologia da SBP—2004, Vol.

12, no 1, 28– 42

Neuroplasticidade, variação interindividual e


recuperação funcional em neuropsicologia
Vitor Geraldi Haase
Univerisdade Federal de Minas Gerais

Shirley Silva Lacerda


Hospital Israelita Albert Einstein

Resumo
As pesquisas sobre neuroplasticidade têm implicações para os modelos conceituais de correlação estrutura-
função no cérebro e para a compreensão dos mecanismos de recuperação funcional. A reativação de
aferências é considerada um dos principais mecanismos de plasticidade sináptica. O principio de “São
Mateus” prevê que quanto maiores os recursos pessoais e interpessoais disponíveis, previamente e após a
lesão, melhor o prognóstico. Três modelos conceituais, não excludentes, são reconhecidos em reabilitação
neuropsicológica: restituição, substituição e compensação. A abordagem enfatizada no processo de
reabilitação deve ser formulada individualmente de acordo com os dados disponíveis sobre os mecanismos
lesionais, recuperação funcional e fatores individuais relacionados ao prognóstico. De um modo geral, a
restituição funcional é enfatizada no início e a compensação adquire maior relevância com o tempo. Uma
perspectiva do desenvolvimento também é útil, ajudando a identificar as trilhas em que a auto-realização
permanece viável e os objetivos pessoais que o cliente pode perseguir.
Palavras chave: neuroplasticidade, reabilitação, neuropsicologia.

Neuroplasticity, interindividual variability and functional recovery in neuropsychology


Abstract
Research on neuroplasticity has implications for conceptual models of structural-functional correlations in the
brain, as well as for understanding mechanisms of functional recovery. Reactivation of afferents is one of the
most relevant mechanisms involved in synaptic plasticity. The Mathew‘s principle predicts that if more
personal and interpersonal resources are available, both before and after brain damage, then a better recovery
will be expected. Three non-excludent conceptual models are currently used in neuropsychological
rehabilitation: restitution, substitution, and compensation. The approach of choice depends on knowledge of
factors related to the lesion characteristics, functional recovery and individual prognostic factors. In general,
restitution is more important at the beginning of the rehabilitation and compensation gains salience gradually
over the course of the process. A developmental approach may be useful, helping to identify self-fulfilment
pathways which remain open and personal goals to pursue.
Key words: neuroplasticity, rehabilitation, neuropsychology.

_________________________________________________________________________________

Artigo apresentado no curso Fundamentos conceituais e metodológicos da reabilitação neuropsicológica da XXXII Reu-
nião Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia, 2002.
Apoio Financeiro: FAPEMIG
Endereço para correspondência: Av. Antonio Carlos 6627, 31270-901, Belo Horizonte, e-mail: haase@fafich.ufmg.br
29 V. G. Haase e S. S. Lacerda

Neuroplasticidade, variação inter-individual e porânea de como um sistema altamente com-


recuperação funcional em neuropsicologia plexo, do tipo representado pelo cérebro huma-
Neste trabalho são revisados modelos no, pode funcionar, é dada pelas redes neurais
conceituais sobre os mecanismos de lesão e conexionistas ou de processamento distribuído
recuperação funcional após lesões do sistema e paralelo (Smith, 1996, Tryon, 1995). A infor-
nervoso central, explorando suas implicações mação é representada nestas redes sob a forma
para a reabilitação neuropsicológica a partir de de padrões espaço-temporais de ativação, os
uma perspectiva dinâmica da correlação estru- quais dependem, por sua vez da força relativa
tura-função no cérebro. A neuroplasticidade ou de conexão entre as sinapses das suas inúmeras
plasticidade neural é definida como a capacida- unidades. O postulado de que o nível de ativi-
de do sistema nervoso modificar sua estrutura e dade pode modificar a força da conexão sináp-
função em decorrência dos padrões de experi- tica entre dois neurônios remonta ao psicólogo
ência. De acordo com Dennis (2000) a neuro- canadense Donald Hebb (1949). A chamada lei
plasticidade pode ser concebida e avaliada a de Hebb consiste em uma espécie de
partir de uma perspectiva estrutural “musculação sináptica” e envolve um mecanis-
(configuração sináptica) ou funcinal mo de detecção de coincidências temporais nas
(modificação do comportamento). Durante a- descargas neuronais: se dois neurônios estão
nos o localizacionismo estrito, ou doutrina de simultaneamente ativos, suas conexões são
uma implementação rigidamente modular das reforçadas; caso apenas um esteja ativado em
funções mentais em circuitos neuronais especí- dado momento, suas conexões são enfraqueci-
ficos, desviou a atenção de clínicos e pesquisa- das.
dores das possibilidades de recuperação fun- A possibilidade de modificações sinápti-
cional após lesões cerebrais (Henningsen e En- cas induzidas pela correlação espacial e, princi-
de-Henningsen, 1999). Se a pessoa nasce sem palmente, temporal de atividade representa um
um módulo funcional do cérebro, ou o módulo ressurgimento das idéias associacionistas (e.g.,
“pifa”, como descrito na vinheta, pode parecer Tryon, 1995), para as quais existe, atualmente,
que resta realmente muito pouca coisa a fazer. ampla documentação experimental. Trabalhos
Todo o processo de reabilitação neurop- de diferentes pesquisadores indicam, por exem-
sicológica, assim como as psicoterapias de um plo, que o mapeamento das diversas partes do
modo geral (vide Kandel, 1998, 1999), se ba- corpo no córtex sensorial primário de primatas
seiam na convicção de que o cérebro humano é não-humanos pode ser modificado em função
um órgão dinâmico e adaptativo, capaz de se das lesões ou de experiências de aprendizagem
reestruturar em função de novas exigências (e.g., Jenkins e Merzenich, 1992). O mesmo
ambientais ou das limitações funcionais impos- tipo de evidências foi obtido com seres huma-
tas por lesões cerebrais. nos, indicando que a aquisição de determinadas
habilidades sensoriais ou motoras, bem como
1. Concepções dinâmicas sobre neuroplasticidade e orga- amputação de partes do corpo, podem induzir o
nização neurofuncional remapeamento destes órgãos ao nível do córtex
A unidade funcional do sistema nervoso sômato-motor (e.g., Aglioti, Cortese e Franchi-
não é mais centrada no neurônio mas concebi- ni, 1994, Ramachandran, 1993).
da como uma imensa rede de conexões sinápti- Trabalhos realizados na Universidade de
cas entre unidades neuronais, além de céluls Munique desde a década de 70 indicam, por
gliais, as quais são modificáveis em função da exemplo, que a estimulação visual seletiva e
experiência individual, ou seja, do nível de ati- específica pode reverter quadros de perda das
vidade e do tipo de estimulação recebida funções visuais relacionados a hemianopsias
(Kandel, 1998). A reabilitação neujropsicológi- (Zihl e von Cramon, 1985, 1986). A implica-
ca, como qualquer processo psicoterápico, po- ção, então, é que o cérebro humano parece a-
de então ser concebida como uma forma de presentar uma capacidade plástica e de recupe-
aprendizagem. Os mecanismos que tornam isso ração funcional muito maior do que anterior-
possível serão abordados a seguir. mente suspeitada. Até hoje, nós temos nos con-
Uma representação psicológica contem- frontado mais com os limites desta capacidade
30 Neuroplasticidade e reabilitação neuropsicológica

de modificação plástica dependente de experiên- cologia devem se basear nos conhecimentos


cia. As pesquisas estão avançando no sentido de sobre os mecanismos de recuperação funcional
aprofundar os conhecimentos sobre os mecanis- após lesões cerebrais (Pöppel e von Steinbü-
mos de recuperação funcional, bem como sobre chel, 1992, Kertesz, 1993, Henningsen e Ende-
os fatores relacionados às variações interindivi- Henningsen, 1999). Os principais mecanismos
duais. A sugestão de que fatores ligados à Oga- identificados são listados na Tabela 1 e passam
nização temporal do processamento de informa- a ser descritos a seguir.
ção podem desempenhar um papel importante
Tabela 1. Mecanismos de recuperação
nos mecanismos de neuroplasticidade (Wang, funcional após lesões cerebrais
Merzenich, Sameshima e Jenkins, 1995) realça
Diasquise ou depressão funcional transsináptica
a importância do papel que os microcomputado-
res podem representar no processo de reabilita- Supersensibilidade (pós-sináptica) de desnervação e/ou
hiperatividade pré-sináptica
ção, dada à possibilidade de controlar automati-
Reativação de aferências inativas e/ou preservação de
camente o oferecimento dos estímulos e o regis- colaterais
tro das respostas. Restituição por brotamento regenerativo e colateral
Tanto novas abordagens conceituais
Representação vicária ou substituição funcional
quanto dados empíricos estão permitindo deline-
ar paulatinamente uma nova visão do sistema Substituição comportamental
nervoso como um órgão dinâmico, constituindo
(a) Diasquise ou depressão funcional transsináptica
uma unidade funcional com o corpo e com o
ambiente, e dotado de características plásticas O termo “diaschisis” foi proposto pelo
neurologista austríaco von Monakow em 1914
que se manifestam sob a forma de modificações
(cf. Demeurisse, Verhas e Capon, 1991). O
estruturais decorrentes do exercício funcional
fenômeno é também conhecido como “efeitos à
adaptativo em contextos variáveis. Estas novas
concepções sugerem um equilíbrio muito sutil distância” e se refere ao fato de que a lesão em
entre fatores genéticos e ambientais na determi- uma área cerebral determinada A pode apre-
nação no desenvolvimento e do comportamento. sentar inicialmente manifestações associadas às
manifestações clínicas tradicionalmente atribu-
Se, por um lado, as características genéti-
ídas a uma outra área B. Na primeira metade
co-constitucionais restringem o repertório de
comportamentos possíveis, por outro lado, a do século XX, estas observações foram inter-
experiência individual, sob a forma de processos pretadas como argumento a favor das posições
de aprendizagem e recuperação funcional, regu- anti-localizacionistas. Estudos contemporâneos
com métodos de neuroimagem demonstram a
la os mecanismos de expressão gênica (Kandel,
presença de alterações metabólico-funcionais
1998). “Os genes são o canal pelo qual o ambi-
em áreas muito remotas ao foco de lesão, situa-
ente fala” (Godfrey-Smith, 1993, cit em Den-
nett, 1998, p. 412). É possível dizer que o fenó- das até mesmo no hemisfério oposto
tipo, inclusive comportamental, é o resultado de (Demeurisse, Verhas e Capon, 1991, Warbur-
um processo de equilibração entre o genótipo e ton, Price, Swinburn e Wise, 1999, Weiller e
Herrmann, 1999). Estas alterações são atual-
o ambiente. A atividade do Oganismo, na tenta-
mente interpretadas como indicativas de um
tiva de resolver problemas colocados pelo ambi-
ente, induz modificações na expressão gênica, processo trans-sináptico de depressão na exci-
individualizando o potencial genético. Ao mes- tabilidade neuronal. À medida que a depressão
mo tempo, a ação do Oganismo modifica o am- funcional regride nestas áreas mais distantes, o
quadro clínico neuropsicológico pode sofrer
biente, procurando adequar as contingências às
mudanças dramáticas de um dia para o outro. É
suas necessidades. Os resultados disponíveis
o caso da afasia global evoluindo para afasia de
podem, muitas vezes, não apresentar relevância
clínica direta, mas indicam caminhos promisso- Broca, ou da afasia de Broca evoluindo para
res por onde a pesquisa está rumando. uma afasia motora transcortical etc., à medida
que as condições funcionais cerebrais vão me-
2. Mecanismos de recuperação funcional após lesões cere- lhorando. Os mesmos estudos com neuroima-
brais gem indicam, por exemplo, que o prognóstico
Os modelos de reabilitação em neuropsi- das afasias por lesão hemisférica esquerda de-
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pende em grande parte da presença de depres- cam uma melhoria da eficácia sináptica depen-
são funcional concomitante em áreas homólo- dente de estimulação específica (Hebb, 1949).
gas do hemisfério direito (e.g., Weiller e Herr- As evidências experimentais, tanto em animais
mann, 1999). Segundo Pöppel e von Steinbü- quanto humanos, indicam que regimes especí-
chel (1992), a diasquise decorre de um dese- ficos de estimulação seletiva e repetitiva po-
quilíbrio entre excitação e inibição entre as dem induzir importantes modificações nas con-
diferentes áreas cerebrais após uma lesão. O figurações sinápticas cerebrais. A correlação
desaparecimento gradual deste desequilíbrio temporal, com retardo de fase da ordem de al-
não significa, portanto, um mecanismo genuíno guns milissegundos, desempenha um papel
de recuperação funcional, mas de desmascara- importante neste processo (Wang, Merzenich,
mento de uma potencialidade funcional que Sameshima e Jenkins, 1995). Os resultados de
havia sido comprometida transitoriamente. Wang e cols. indicam que, de acordo com a
previsão de Hebb, a estimulação sincrônica de
(b) Supersensibilidade (pós-sináptica) de desnervação e/ grupos neuronais tende a reforçar sua conecti-
ou hiperatividade pré-sináptica vidade sináptica fazendo com que eles passem
Imaginemos um neurônio idealizado e a funcionar como uma unidade funcional ou
suas conexões aferente e eferente, tais como assembléia neuronal.
representados na Figura 1. Gradualmente está se acumulando infor-
Figura 1. Representação de uma cadeia de mação sobre os mecanismos bioquímicos en-
volvidos na chamada sinapse de Hebb. As evi-
dências indicam a participação de diversas
A B C substâncias, tais como polipeptídeos denomina-
-----< -----< -----< dos fatores de crescimento neural ou neurotro-
finas, bem como de terceiros mensageiros co-
mo as substâncias ativadoras de genes de ex-
pressão precoce e que modificam a regulação
três neurônios genética da síntese proteica no controle deste
Suponhamos que o neurônio B seja des- processo (e.g., Kandel, 1998).
truído por algum processo patológico. Nas pri- Um modelo bastante plausível da sinap-
meiras horas e dias após a lesão, os neurônios A se de Hebb sugere o envolvimento de um re-
e C podem ter sua atividade funcional deprimida ceptor específico para o neurotransmissor glu-
(diasquise). Com o tempo voltam a recuperar e tamato, o qual funciona como um detector de
até mesmo exacerbar o seu nível de atividade. O coincidências temporais (Snyder e Bredt,
fenômeno da supersensibilidade foi descrito 1992). Quando o nível de despolarização na
como “lei da desnervação” por Cannon e Rosen- membrana pós-sináptica ultrapassa determina-
blueth em 1949 (cf. Pöppel e von Steinbüchel, do limiar, são desencadeadas mudanças alosté-
1992). Junto com a hiperatividade pré-sináptica ricas no receptor NMDA. O receptor NMDA é,
estes mecanismos representam um aspecto da portanto, considerado um detector de coinci-
atividade autopoiética ou auto-Oganizatória do dências, uma vez que só é ativado no momento
sistema nervoso, que como toda matéria viva, em que, simultaneamente, tanto o terminal pré-
tende compensar endogenamente por toda per- sináptico está ativo e liberando neurotransmis-
turbação funcional. A relevância clínica dos sor na fenda sináptica, quanto o terminal pós-
mecanismos de supersensibilidade de desnerva- sináptico exibe atividade suficiente para despo-
ção ou de hiperatividade pré-sináptica é desco- larizar a membrana até um certo limiar.
nhecida. A partir destas modificações na estrutura
(c) Reativação de aferências inativas e/ou preservação tridimensional do receptor NMDA é possibili-
de colaterais tado o influxo de íons cálcio para o citoplasma.
A preservação de colaterais foi descrita O cálcio age como um segundo mensageiro
por Cajal em 1928 (cf. Pöppel e von Steinbü- desencadeando uma cascata de reações quími-
chel, 1992). Tanto a preservação de colaterais cas, as quais regulam a atividade de determina-
quanto a reativação de aferências inativas impli-
32 Neuroplasticidade e reabilitação neuropsicológica

determinados genes de expressão precoce, que reabilitação neuropsicológica. Alguns modelos


por sua vez controlam a síntese proteica (vide de rede neural já começam, entretanto, a incor-
Kandel, 1998). Os resultados finais diferem con- porar a possibilidade de formação de novas si-
forme o intervalo temporal de estimulação. A napses para explorar suas conseqüências do
curto prazo pode ocorrer síntese de óxido nítri- ponto de vista da dinâmica de funcionamento e
co, um gás com meia vida muito curta e que se de desenvolvimento e de recuperação funcional
difunde em um espaço tridimensional do neuró- no sistema nervoso central (Eleito, Howarth e
pilo. Shadbolt, 1996, Quartz e Sejnowski, 1997).
Segundo uma proposta, o óxido nítrico
(e) Representação vicária ou substituição funcional
pode assegurar a formação de assembléias neu-
ronais altamente dinâmicas (Edelman e Gally, O princípio de representação vicária de
1992). A longo prazo as modificações na ex- funções em animais jovens foi demonstrado
pressão gênica desencadeiam alterações na sín- experimentalmente por Kennard em 1936. O
tese de receptores e neurotransmissores, que chamado princípio de Kennard sugere que,
constituem em última análise a base sináptica da quanto mais precoce a lesão, maiores as chan-
aprendizagem.Os aspectos genético-moleculares ces de recuperação funcional. O exemplo mais
destes processos são atualmente conhecidos nos típico de transferência das funções representa-
seus detalhes apenas‚ in vitro. Está sendo feito das em áreas lesadas para áreas homólogas no
um esforço de pesquisa no sentido de desenvol- hemisfério oposto é representado pelo caso das
ver abordagens que efetivamente facultem a afasias adquiridas da infância (Lenneberg,
aplicação destes conhecimentos na reabilitação 1967). Em tais casos, a severidade do quadro
neuropsicológica, tais como terapia gênica, afásico pode não ser muito pronunciada ou du-
transplantes neurais ou abordagens farmacológi- radoura, ocorrendo muitas vezes a remissão
cas (e.g., Hayes e Yang, 1997, Portavella, 1997; espontânea (Hecaen, 1976). As evidências dis-
Perino e Rago, 1997). poníveis sugerem que as funções lingüísticas
podem passar a ser representadas pelo hemisfé-
(d) Restituição por brotamento regenerativo e colate- rio direito, na maioria das vezes às custas das
ral funções viso-espaciais próprias deste hemisfé-
São clássicas as observações quanto à rio (e.g., Rasmussen e Milner, 1977, Teuber,
regeneração de elementos neurais em anfíbios, 1974). Estudos de neuroimagem funcional com
bem como de divisões celulares periódicas no adultos sugerem, por exemplo, que o grau de
sistema nervoso central de pássaros (e.g., Notte- recuperação após quadros afásicos depende,
bohm, 1981). A sabedoria convencional reafir- em grande parte, do status funcional de áreas
ma a impossibilidade de regeneração de elemen- homólogas no hemisfério direito (Weiller e
tos neuronais no sistema nervoso central de ma- Herrmann, 1999). Pesquisas ulteriores indicam,
míferos adultos. Algumas observações experi- contudo, que o princípio de Kennard precisa
mentais indicam, entretanto, que sob determina- ser nuançado: além da localização e da laterali-
das condições, é possível haver regeneração dade da lesão, os efeitos a longo-prazo de le-
neuronal em roedores (e.g., Raisman, 1969). sões cerebrais na infância podem depender
Experimentos realizados por Frost (e.g., Frost e também do estágio do desenvolvimento em que
Metin, 1985) indicam, por exemplo, que nos o cérebro estava por ocasião da lesão (Stiles,
estágios iniciais da ontogênese pode ser possível 2000). Déficits sutis no processamento sintáti-
um certo grau de regeneração funcional após a co ou discursivo têm sido consistentemente
transposição de estruturas do sistema visual e relatados em crianças com lesões precoces do
acústico em roedores. Observações mais recen- hemisfério esquerdo (Stiles, 2000, Woods e
tes indicam a possibilidade de ocorrer brotamen- Teuber, 1978).
to de terminações nervosas no cérebro de mamí-
feros adultos, principalmente no hipocampo de (f) Substituição comportamental
roedores (Ramirez, 1997), ou até mesmo a pos- O princípio de substituição comporta-
sibilidade de divisão celular (Goldman e Plum, mental ou funcional consiste em realizar o mes-
1997). Estes conhecimentos ainda não podem, mo comportamento servindo-se de outros meios
entretanto, ser utilizados no contexto prático da (Kertesz, 1993). O paciente, por exemplo, que
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não pode agachar-se para pegar o jornal na porta mente antes da lesão que causou a amputação.
devido a uma hemiplegia, pode servir-se de uma Memória esta que seria preservada em circui-
garra especialmente desenhada que o auxilie tos dedicados à representação do membro am-
nesta tarefa, preservando sua autonomia e inde- putado. A partir destas observações foi sugeri-
pendência funcional. do que a dor poderia ser prevenida através de
Do ponto de vista prático, o mecanismo uma anestesia periférica do membro, imedia-
de reativação de aferências, explorando o prin- tamente antes da amputação (Ramachandran e
cípio da correlação temporal dos padrões de Blakeslee, 2002).
descarga nos terminais pré- e pós-sináptico, é o Os dados disponíveis sobre os mecanis-
que tem sido mais explorado experimentalmen- mos neuroplásticos envolvidos na recuperação
te. Dados clínicos indicam que após amputa- funcional de lesões do sistema nervoso central
ções de partes do corpo, como por exemplo, a indicam, portanto, que a recuperação pode
mama ou o membro superior, ocorrem amplos decorrer tanto de modificações estruturais
processos de remapeamento da representação (regeneração) quanto de mecanismos funcio-
cortical dos órgãos amputados (Aglioti, Corte- nais (reativação de aferentes, substituição fun-
se e Franchini, 1993, Ramachandran, 1993). cional e substituição comportamental). Mu-
Grupos de neurônios que antes eram funcional- danças comportamentais indicam recuperação
mente alocados à representação do membro funcional, mas a reOganização estrutural só
amputado passam, com o tempo, a representar pode ser estudada com métodos neurobiológi-
regiões contíguas do corpo. Desta forma, é cos, como p. ex., a neuro-imagem funcional.
possível observar a eliciação de sensações no
membro fantasma a partir de outras regiões do 3. Variáveis que afetam a recuperação funcional
corpo. Do ponto de vista terapêutico, Rama- O prognóstico quanto à recuperação
chandran e Hirstein (1998) demonstraram que funcional após lesões do sistema nervoso pa-
manipulações indutoras de ilusões ópticas po- rece obedecer a uma lógica perversa denomi-
dem reduzir consideravelmente e persistente- nada de “Princípio de São Mateus” (Günther,
mente as sensações de membro fantasma. Haller, Holzner e Kryspin-Exner, 1997). O
Ramachandran tem procurado explorar prognóstico é indicado pelos recursos disponí-
também as conseqüências destes fenômenos de veis ao indivíduo tanto antes quanto depois da
neuroplasticidade para explicar a dor muitas lesão. Os dados de pesquisa indicam que, de
vezes presente em casos de membro fantasma um modo geral, o sexo feminino, a juventude,
(Ramachandran e Blakeslee, 2002). Os dados o nível educacional, o status sócio-econômico,
disponíveis indicam que apenas o fenômeno de a menor severidade da lesão, a preservação da
remapeamento não parece ser suficiente para capacidade de insight, a ausência de transtor-
explicar o surgimento da dor. Uma observação nos psicopatológicos ou adição a álcool/
clínica relatada por Ramachandran e Blakeslee drogas etc., são todos fatores correlacionados
diz respeito à capacidade de movimentação do
membro fantasma. Muitos pacientes referem Tabela 2. Variáveis que afetam a
que podem mover o membro fantasma, ou que, recuperação funcional
por vezes, o membro se move independente-
Localização da lesão
mente da sua vontade. Em outras ocasiões, o
Extensão e severidade do comprometimento
membro fantasma fica imobilizado, muitas ve- neuropsicológico
zes em posições que causam desconforto. A Etiologia e curso de progressão do processo patológico
sugestão de Ramachandran é de que, nestes últi-
mos casos o membro fantasma pode ter perma- Idade de início
necido imobilizado em um aparelho gessado, Tempo transcorrido desde o início do quadro
antes da amputação funcional. Variações na Oganização cerebral das funções
A hipótese sugerida, portanto, é de que
muitos fenômenos experienciados no caso de Condições ambientais, sócio-demográficas e estilo de
vida
membros fantasmas podem refletir uma memó- Fatores agravantes internos ou externos
ria do estado funcional do membro imediata-
34 Neuroplasticidade e reabilitação neuropsicológica

com melhor êxito após lesão cerebral adquirida espanto, quando é referido sobre experimentos
(e.g., Gauggel, Konrad, Wietasch, 1998, Ker- e trabalhos clínicos evidenciando recuperação
tesz, 1993, Meier, Strauman e Thompson, funcional no caso de hemianopsias causadas
1987). por lesões cerebrais isquêmicas (Zihl e von
Além do conhecimento dos fenômenos Cramon, 1985, 1986). A experiência acumula-
neurobiológicos fundamentais de plasticidade da indica, entretanto, não apenas que isto possí-
neural é preciso levar em consideração também vel, mas também que o prognóstico é muito
algumas variações interindividuais que afetam a mais favorável no caso de crianças do que a-
recuperação funcional após lesões do sistema dultos (Kasten, Schmielau, Behrens-Baumann,
nervoso central (Meier, Strauman e Thompson, Wüst e Sabel, 1997, Werth e Möhrenschläger,
1987). As quais podem ser sistematizadas da 1997). Apesar de estes dados serem bastante
seguinte maneira (vide Tabela 2). animadores, eles indicam que a localização
lesional ainda é um fator a ser considerado na
(a) Localização da lesão
determinação do prognóstico. O comprometi-
A localização lesional é um dos fatores
mento dos lobos frontais é decisivo, como ve-
prognósticos decisivos em neurologia (Irle,
remos a seguir.
1990). Pequenas lesões, situadas em loci críti-
cos podem causar efeitos devastadores, como é (b) Extensão e severidade do comprometimento neu-
o caso de pequenos tumores ou malformações ropsicológico
que obstruam o fluxo liquórico causando hidro- Algumas lesões de crescimento lento
cefalia e hipertensão intracraniana. Por outro podem atingir proporções quase gigantescas
lado, lesões relativamente extensas podem se antes de manifestarem qualquer sintomatologia
desenvolver gradualmente durante anos nas mais nítida, como é o caso dos meningiomas
chamadas “áreas silenciosas”, como é o caso parasagitais frontais (Adams e Victor, 1993).
do lobo frontal direito, quase sem causar sinto- Na maioria dos casos, entretanto, a extensão e
matologia (Adams e Victor, 1993). Luria severidade de comprometimento, associadas à
(1973) acreditava que as lesões corticais primá- localização lesional, constituem um fator cruci-
rias tivessem efeitos mais deletérios na infância al para o prognóstico funcional (Irle, 1990).
do que na idade adulta. Seria o caso, por exem- Wilson (1999) relata diversos casos de amnésia
plo, da cegueira precocemente adquirida. O em que os próprios pacientes conseguiram,
déficit funcional primário acarretaria, através com ajuda da família e da terapeuta, sistemas
de um efeito “bottom-up”, uma indiferenciação compensadores bastante complexos e engenho-
morfofuncional das áreas secundárias e primá- sos que lhes permitem uma vida razoavelmente
rias. Inversamente, as lesões primárias poderi- independente. A implementação das compen-
am ser compensadas “top-down” devido ao sações mnemônicas requer, no entanto, a pre-
desenvolvimento completo e funcionamento servação da capacidade de planejamento e da
mais aperfeiçoado das áreas corticais secundá- motivação. A presença de comprometimentos
rias e terciárias. As lesões de áreas terciárias neuropsicológicos múltiplos, principalmente
acarretariam conseqüências menos drásticas na dos lobos pré-frontais, torna inviáveis os proce-
infância, como parecia ser o caso das afasias dimentos de compensação. Um estudo condu-
adquiridas e mais terríveis para o adulto. Luria zido por Hanks, Rapport, Millis e Deshpande
menciona uma “lei” da corticalização progres- (1999) obteve resultados indicando que o de-
siva das funções para explicar estas suas con- sempenho em testes de funções executivas é
clusões. um importante indicador prognóstico no con-
Estes conceitos estão, entretanto, mudan- texto da reabilitação neuropsicológica.
do. Evidências mais recentes (Rasmussen e Mil-
ner, 1977, Stiles e Thal, 1993, Teuber, 1977) (c) Etiologia e curso de progressão do processo patoló-
indicam que a recuperação das afasias adquiri- gico
das da infância pode, muitas vezes, ocorrer às Evidentemente, é de se esperar que a
custas de um sacrifício das funções viso- etiologia degenerativa e o curso progressivo de
espaciais e comunicacionais não-verbais do he- algumas doenças sejam fatores limitantes quan-
misfério direito. Em muitos círculos ainda causa to às possibilidades de recuperação funcional.
35 V. G. Haase e S. S. Lacerda

Esta verdade, não deve nos induzir, toda- (d) Idade de início
via, ao niilismo terapêutico. Diversas linhas de O princípio de Kennard (1936) anterior-
evidência (e.g., Erhardt e Plattner, 1999) indi- mente mencionado, nos permite formular em
cam que mesmo na doença de Alzheimer há termos gerais que “se você vai ter uma lesão
muita margem de atuação para as intervenções cerebral, seria melhor fazê-la logo”, uma vez
reabilitadoras. Após o diagnóstico, a sobrevida que as possibilidades de recuperação funcional
dos doentes de Alzheimer varia entre 6 a 9 anos. em indivíduos mais jovens são bem melhores.
São descritos três períodos na história natural da Este princípio tem sido questionado (e.g., Kolb
doença: uma fase inicial em que a adaptação e Fantie, 1997), mas mantém-se como regra
psicossocial se mantém em um patamar razoá- geral. Os trabalhos experimentais de Kolb e
vel, uma fase intermediária em que começa a colaboradores (vide Kolb e Fantie, 1997), bem
deterioração comportamental e cognitiva e uma como observações clínicas, sugerem que mui-
fase final, de vida quase vegetativa. Os avanços tos efeitos das lesões pré-frontais precoces po-
reabilitadores ocorridos nos últimos permitem dem passar desapercebidos nos primeiros anos
descrever para as famílias por ocasião do diag- de vida. Algumas alterações cognitivas e com-
nóstico, um panorama mais otimista. Atualmen- portamentais decorrentes de lesões frontais
te, existem evidências empíricas de que os mé- podem se manifestar apenas a partir da idade
todos cognitivos e comportamentais de reabilita- escolar ou até mesmo da adolescência. O prog-
ção permitem postergar o início da fase de dete- nóstico para as lesões precoces pode não ser
rioração, apesar de não mudarem a expectativa tão bom, quanto anteriormente suposto, mas as
de vida (Günther, Haller, Holzner e Krispin- casuísticas clínicas indicam que a idade é um
Exner, 1997). fator decisivo (Stiles, 2000). A idade pode de-
A reabilitação de pacientes portadores de sempenhar um papel também no tipo de sín-
doenças cronicamente progressivas e incapaci- drome neuropsicológica apresentada. A inci-
tantes, tais como a doença de Alzheimer e a Es- dência de afasia de Broca é maior em indiví-
clerose Múltipla, é um dos maiores desafios duos mais jovens, enquanto indivíduos idosos
para a neuropsicologia contemporânea apresentam mais afasia de Wernicke (Basso e
(Thompson, 2000). A natureza progressiva de Pizzamiglio, 1999, Pedersen, JOgensen, Naka-
muitas doenças neurológicas torna remotos ou yama, Raaschou e Olsen, 1995). A afasia de
irreais os objetivos terapêuticos relacionados à Wernicke geralmente apresenta um prognósti-
restituição funcional. Mesmo assim, há razão co mais reservado, o qual se compõe com ou-
para otimismo. Diversos estudos indicam, por tros fatores de risco, tais como a presença de
exemplo, que tanto o treinamento aeróbico para lesões múltiplas e menor nível de escolariza-
reduzir a sintomatologia de fadiga (Petajan, ção.
Gappmaier, White, Spencer, Mino e Hicks, (e) Tempo transcorrido desde o início do quadro
1996), quanto o treinamento cogntivo (Jonsson, Algumas observações recentes citadas por Wil-
Korfitzen, Heftberg, RavnbOg, e Byskov- son (1999) indicam que, em casos excepcionais,
Ottosen, 1993).) podem ser altamente eficazes alguma recuperação funcional pode ocorrer até
na melhoria da qualidade de vida de portadores mesmo anos após a instalação da lesão. A expe-
de Esclerose Múltipla e que em alguns casos é riência prática indica, entretanto, que nos pri-
mesmo possível constatar melhorias objetivas meiros seis meses após a lesão ainda ocorre
na performance cognitiva (Plohmann, Kappos, muita recuperação espontânea e que a reabilita-
Ammann, Thordai, Wittwer, Huber, Bellaiche ção pode ser eficaz no sentido de produzir resti-
e Lechner-Scott, 1998). Mesmo no caso da do- tuição funcional até cerca de dois anos depois
ença de Alzheimer, há evidências quanto à efi- do insulto cerebral (Gauggel, Konrad e Wietas-
cácia, principalmente de intervenções que incor- ch, 1998). A natureza dos problemas enfrenta-
porem conceitos de qualidade de vida e de psi- dos pelos pacientes e pelas famílias muda tam-
cologia da saúde (Günther, Haller, Holzner e bém com o decorrer do tempo (e.g. Gauggel,
Krispin-Exner, 1997, Kasl-Godley e Gatz, Konrad e Wietasch, 1998). Nas fases iniciais,
2000). logo após a instalação de um quadro clínico a-.
36 Neuroplasticidade e reabilitação neuropsicológica

gudo como um traumatismo de crânio ou aci- Um indivíduo ambidestro vai enfrentar


dente vascular cerebral, predominam as preo- menos dificuldade para aprender a usar a mão
cupações com a sobrevida e com a recuperação esquerda após uma hemiplegia direita. A repre-
funcional. À medida que o tempo vai passando sentação bilateral da linguagem pode facilitar a
e que a recuperação vai, em certa medida ocor- recuperação funcional após um quadro de afa-
rendo, começa a aumentar a importância das sia (Meier, Strauman e Thompson 1987). O
preocupações relativas à adaptação psicossoci- sexo também desempenha um papel importante
al. Os padrões disfuncionais de adaptação psi- na Oganização cerebral das funções e na sua
cossocial são freqüentemente agravados devido recuperação. A incidência de afasias é menor
a expectativas irrealistas e incompreensão da em mulheres e seu prognóstico é melhor
natureza dos sintomas, tanto por parte do paci- (Kertesz, 1993). Mulheres, por outro lado, são
ente e da família. Em outras ocasiões, a dinâ- mais susceptíveis à depressão e homens a dis-
mica de funcionamento familiar pode contribu- túrbios externalizantes de comportamento. E-
ir para o agravamento dos sintomas, sob a for- xiste também uma importante variação anatô-
ma de diminuição do investimento no paciente mica na vascularização cerebral, com a presen-
e reforçamento negativo de comportamentos ça de vias anastomósticas alternativas que per-
desadaptativos (Gauggel, Konrad e Wietasch, mitem a reperfusão arterial depois de determi-
1998). nados processos isquêmicos (Adams e Victor,
Em outras circunstâncias, e apesar da na- 1993). Um outro fator vascular, diz respeito às
tureza progressiva de muitas doenças, com acu- variações na irrigação arterial terminal de terri-
mulação de incapacidade, o tempo parece correr tórios corticais. Estas variações anatômicas
a favor do paciente e da sua família. Tal parece explicam por que lesões de tamanho e localiza-
ser o caso da Esclerose Múltipla. Há evidências ção parecidas podem causar sintomatologia
indicando que uma das piores fases do ponto de clínica diversa.
vista da qualidade de vida e do bem-estar psico- (g) Condições ambientais, sócio-demográficas e estilo
lógico dos portadores é logo após o diagnóstico de vida
(Antonak e Livneh, 1995, Roberts e Stuifber- O apoio familiar e social é um dos fato-
gen, 1998). Com o passar dos anos a tendência é res mais importantes na recuperação funcional,
de que os indivíduos se adaptarem progressiva- da mesma forma que a motivação. Meier, S-
mente, recuperando em certa medida as suas trauman e Thompson (1987) mencionam al-
percepções de bem-estar. Como a Esclerose guns fatores sócio-demográficos associados ao
Múltipla é uma doença que compromete predo- prognóstico: educação, profissão, nutrição, saú-
minantemente indivíduos jovens, o tempo pode de física e mental, etc. É especialmente no que
desempenhar um papel benéfico também por diz respeito às condições pré-mórbidas de a-
permitir comparações sociais mais favoráveis, à daptação e características sócio-demográficas
medida que o indivíduo envelhece (Roberts e que o princípio do evangelista Mateus parece
Stuifbergen, 1998). encontrar o seu domínio de validade. Ou seja,
As considerações mencionadas sobre o quanto melhor o nível adaptativo pré-mórbido
papel do tempo na recuperação funcional e a- e quanto mais leve o comprometimento, me-
daptação psicossocial sugerem fortemente que lhor o curso de reabilitação funcional.
as intervenções neuropsicológicas se iniciem o Muito mais do que variáveis objetivas e exter-
mais cedo possível após o diagnóstico. Do pon- namente verificáveis, são as percepções subje-
to de vista da recuperação funcional, as inter- tivas do indivíduo que muitas vezes também
venções precoces podem otimizar os processos desempenham um papel determinante na previ-
de naturais de recuperação funcional. Do ponto são de uma série de êxitos relacionados à saúde
de vista da adaptação psicossocial, as interven- (Knäuper e Schwarzer, 1999). Diversos mode-
ções precoces podem minorar o sofrimento los teóricos em psicologia da saúde, tais como
quando ele é mais intenso e, ao mesmo tempo, a teoria cognitiva de stress e “coping” (Lazarus
prevenir a instalação e manutenção de padrões e Folkman, 1984) ou a teoria da aprendizagem
desadaptativos de comportamento. social (Bandura, 1977) enfatizam o papel que
(f) Variações na organização cerebral das funções as crenças e percepções do indivíduo desempe-
37 V. G. Haase e S. S. Lacerda

nham na manutenção e recuperação dos seus ticidade sináptica e de recuperação funcional


níveis de bem-estar. Evidências disponíveis para orienta a formulação dos princípios básicos e
o caso da Esclerose Múltipla, por exemplo, indi- modelos de reabilitação, enquanto o conheci-
cam que tanto a adequação das estratégias de mento dos fatores prognósticos permite sua apli-
“coping” empregadas à natureza do problema cação racional. A partir do conhecimento dos
enfrentado (Sullivan, Mikail e Weinshenker, mecanismos de recuperação funcional após le-
1997), quanto as crenças de auto-eficácia sões cerebrais, Zangwill (1947, cit. em Wilson,
(Barnwell e Kavanagh, 1997), desempenham 1999, p. 15) enunciou os três princípios ainda
um papel muito importante na regulação do es- válidos da reabilitação neuropsicológica: restitu-
tado de humor e do bem-estar psicossocial. As ição, substituição e compensação. A substitui-
crenças e percepções do indivíduo podem se ção funcional e comportamental já foram men-
constituir em um foco muito frutífero de inter- cionadas. A restituição funcional após lesões
venções neuropsicológicas (Pakenham, 1999). cerebrais é possível quando estas lesões são par-
A constatação de que fatores subjetivos, como ciais ou circunscritas. As tentativas de restitui-
as percepções de apoio social e a motivação, ção funcional se baseiam na prescrição de trei-
podem influir sobre o processo de recuperação namentos funcionais específicos com vários
funcional após lesões do sistema nervoso central graus de complexidade.
levanta a questão dos mecanismos envolvidos a Um dos primeiros preconizadores do de-
nível tecidual. Cotman e Berchtold (2002) revi- senvolvimento de compensações sob a forma de
sam dados indicando que o exercício físico é uma reOganização funcional foi Luria (1973).
uma forma de experiência que induz alterações Luria formulou o princípio de análise de siste-
plásticas no sistema nervoso central em animais mas funcionais. Em sua opinião, cada comporta-
de experimentação, tais como potenciação de mento ou atividade mental complexa pressupõe
longo prazo, bem como aumento de níveis de a Oganização de um sistema funcional integran-
mRNA relacionado com fatores de crescimento do diversas áreas em vários níveis do neuro-
neural. Em humanos existem evidências de que eixo. Cada parte deste sistema funcional com-
manipulações do estado emocional induzem plexo desempenha uma função específica. A
modificações significativas no desempenho cog- análise de uma síndrome complexa em seus
nitivo (Bartolic, Basso, Schefft, Glauser e Tita- componentes funcionais permite a identificação
nic-Schefft, 1999). do componente afetado e orienta o planejamento
dos exercícios reabilitadores. Assim, por exem-
(h) Fatores agravantes internos ou externos plo, no caso da afasia de Wernicke, Luria acre-
Alguns fatores agravantes são especialmente ditava que o comprometimento principal estava
deletérios, tais como o uso de álcool, tabaco, relacionado às dificuldades de discriminação
drogas e a presença de psicopatologia prévia fonêmica. Ele partia da suposição de que o siste-
(Meier Strauman e Thompson, 1987). Estes ma funcional responsável pela discriminação
fatores agravantes interagem muitas vezes de fonêmica originou-se ontogeneticamente de um
modo complexo com agravos ao sistema ner- sistema mais global, que além do aspecto acústi-
voso central. Um episódio de esquizofrenia co, envolvia também sensações visuais e sines-
pode, por exemplo, ser precipitado por um tésicas. Desta, forma a reabilitação da discrimi-
traumatismo de crânio em um indivíduo com nação fonêmica deveria iniciar pela reconstru-
alterações prévias de personalidade ção do sistema a partir das suas raízes visuais e
(observação pessoal). Em muitas ocasiões tor- sinestésicas (e.g., Luria, Naydin, Tsevtkova e
na-se difícil para o neuropsicólogo precisar o Vinarskaya, 1969).
que é efeito de uma lesão agudamente adquiri- Contemporaneamente, existem duas cor-
da e o que eventualmente é manifestação de rentes advogando a restituição funcional: a rea-
um transtorno prévio do desenvolvimento, por bilitação cognitiva e a neuropsicologia cogniti-
exemplo. va. A neuropsicologia cognitiva preconiza o
4. Modelos conceituais para a reabilitação neuropsicológi- estudo intensivo e aprofundado de casos isola-
ca dos (e.g., Ridoch e Humphreys, 1994, Wilson,
O conhecimento dos mecanismos de plas- 1999). A análise e identificação das fases do
38 Neuroplasticidade e reabilitação neuropsicológica

processamento de informação que estão com- crocomputadores, o que permite a utilização


prometidas em cada caso permitem a formula- destes procedimentos em larga escala, além de
ção de uma estratégia terapêutica. Esta aborda- permitir um melhor controle temporal do ofere-
gem é reminiscente, de uma certa maneira, da- cimento de estímulos e registro automático das
quela preconizada por Luria. As aplicações da respostas. Já existem evidências de estudos
neuropsicologia cognitiva dizem respeito, por meta-analíticos indicando que, ao menos no
exemplo, à aplicação do modelo de dupla-rota caso de traumatismos cranianos, métodos de
para a reabilitação dos distúrbios adquiridos de reabilitação cognitiva podem ser eficazes na
leitura em crianças e adultos (Seymour e Bunce, remediarão de diversos tipos de déficits
1994), à aplicação de modelos de estrutura da (Cicerone e cols., 2000).
sentença com base em papéis temáticos na rea- As abordagens baseadas na tentativa de
bilitação dos distúrbios de programação da frase restituição funcional não são excludentes da-
(Mitchum e Berndt, 1994), ou ao uso de conhe- quelas fundamentadas na compensação. Consi-
cimentos sobre a estrutura da memória semânti- derando que uma desvantagem não é um atri-
ca e processos de categorizado para orientar o buto do indivíduo, mas característica de uma
processo de reabilitação das anomias e distúr- relação com o meio (Bach, 1986), o termo
bios da compreensão lingüística (Ellis, Franklin compensação significa a procura de um novo
e Crerar, 1994). Os métodos e modelos da neu- equilíbrio entre as habilidades disponíveis e as
ropsicologia cognitiva são bastante sofisticados exigências impostas pelo ambiente, o que é
e possuem uma base teórica muito sólida. Suas conseguido por meio de estratégias, artifícios e
exigência quanto ao emprego intensivo e exten- dispositivos auxiliares (Gauggel et al, 1998).
sivo de tempo e de mão de obra, impedem sua Exemplos da vida cotidiana dizem respeito ao
aplicação em escala maior. Os conhecimentos uso de uma agenda ou bloco de anotações, ócu-
obtidos a partir da neuropsicologia cognitiva, los, aparelho para surdez, escrita Braille, lin-
podem, entretanto, servir de base para os méto- guagem de sinais, etc. Algumas estratégias de
dos usados na remediado ou reabilitação cogni- compensação são desenvolvidas espontanea-
tiva. mente pelo cliente ou por sua família, podendo
A outra corrente contemporânea de resti- ser aperfeiçoadas a partir de sugestões do tera-
tuição funcional, a reabilitação cognitiva, é e- peuta. Na maioria das vezes, entretanto, o uso
xemplificada pela abordagem de Sohlberg e de compensações exige um treinamento muito
Mateer (1989). Estas autoras definiram alguns intenso e enorme capacidade de disciplina e
princípios gerais: planejamento, por parte do paciente e de sua
I - As funções cognitivas comprometidas são família. Um pré-requisito fundamental para a
identificadas pelo exame neuropsicológico. implementação de compensações é capacidade
II - Um modelo teoricamente embasado define o de insight sobre a própria incapacidade. Isto só
processo cognitivo que vai ser treinado. se desenvolve, muitas vezes com o tempo. Em
III - As tarefas terapêuticas são exercitadas repe- outros casos, a presença de anosognosia exige
titivamente. a utilização de testes da realidade.
IV - Os objetivos são hierarquicamente Ogani- O trabalho de Barbara Wilson (e.g.,
zados. 1999) com sujeitos amnésicos é uma das ex-
V - O processo de remediado é individualizado, periências mais ricas com o uso de compensa-
ou seja, ajustado ao nível de performance do ções. De um modo geral, as compensações ou
indivíduo. próteses mnemônicas podem ser dividas em
VI - O uso de tarefas “para casa” e testes de ge- internas e externas. As compensações externas
neralização permite verificar a aplicação das envolvem o uso de mais tempo para decorar a
melhorias de desempenho na vida cotidiana. informação, o uso do método PQRST para
VII - As medidas de sucesso ou fracasso dizem compreender e decorar textos, o de associa-
respeito à capacidade de vida independente e ções imagéticas em relação à face para guar-
reabilitação profissional. dar o nome de pessoas, a composição de his-
Os proponentes da reabilitação cognitiva tórias absurdas para decorar uma lista de pala-
fazem uso extensivo de técnicas utilizando mi- vras, etc. As compensações externas consis-
39 V. G. Haase e S. S. Lacerda

tem no uso de agendas, blocos de anotações, Psychosocial adaptation to disability and its
alarmes, bilhetes, pôsteres e, mais recentemen- investigation among persons with multiple
te, o neuropager. sclerosis. Social Science and Medicine, 44,
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estão mais ativos. Com o passar do tempo, o Prediction of psychological adjustment in
papel do terapeuta é auxiliar o cliente e sua multiple sclerosis. Social Science e
família na construção de uma avaliação realista Medicine, 45, 411-418.
do perfil de funções comprometidas e preserva- Bartolic, E. I.; Basso, M. R.; Schefft, B. K.;
das. A partir da definição de quais trilhas te- Glauser, T. e Titanic-Schefft, M. (1999).
nham eventualmente se fechado e quais perma- Effects of experimentally-induced emotional
necem viáveis é possível passar para uma se- states on frontal lobe cognitive task
gunda fase no processo reabilitador, em que as performance. Neuropsychologia, 37, 677-
estratégias compensatórias ganham realce, 683.
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cordo com o modelo SOC, o cliente pode a- T. F.; Felicetti, T.; Giacino, J. T.; Harley, J.
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seu potencial de desenvolvimento, como por S.; Laatsch, L. e Morse, P. A. (2000).
exemplo, a família, ou participação social, con- Evidence-based cognitive rehabilitation:
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