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PARTE I
Simone Lisniowski
psicosimone@yahoo.com.br
Brasília-DF
2006
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PARTE I1
Simone Lisniowski2
psicosimone@yahoo.com.br
Resumo
A questão nesta parte I deste artigo se concentra na busca de definir ‘conhecimento científico’
problema do conhecimento para as ciências humanas. A fim de ordenar uma reflexão partirei
Marxista.
o sujeito cognoscente e o objeto a ser conhecido. Até o século XVII a filosofia se concentrava
acredita que na ciência se representa uma visão de mundo, e que ao se expressar em uma
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Trabalho apresentado como parte da avaliação da disciplina de Metodologia ministrada pelo Prof. Dr. Pedro
Demo no Departamento de Pós-Graduação de Sociologia na Universidade de Brasília.
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Doutoranda na Pós-Graduação em Sociologia na UnB. Mestre em Direito e graduada em Psicologia pela
Universidade Federal do Paraná.
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quanto de fragmentação.
Ao contrário da ciência moderna, os mitos gregos não tinham como objetivo alcançar
a verdade e não tratavam de causa e efeito, mas isto incomodava os pensados da época. Foi
somente com a filosofia grega que começaram as buscas de uma superação dos mitos, que
para eles representavam ilusões. Portanto a filosofia grega busca uma base com a razão e pela
razão, para separa o mito da realidade. A filosofia “teria surgido a partir do estranhamento do
felicidade no bem viver”. (Ghiraldelli, 2001, p. 26). A filosofia colocou a questão: “O que é
realidade?” e a partir daí se diferenciou do mito por inferir uma dicotomia entre o real e o não
real. E chegou à conclusão que o real é a natureza, a essência, o imutável. Aqui começa a se
delinear uma nova perspectiva do homem, é preciso que o homem esteja em contato com sua
essência para viver o mundo real e não com a mitologia, pois viveria apenas de ilusões. Logo
começaram as diferenças de concepção sobre a busca desta verdade, com diferentes visões de
mundo e de homem.
Enquanto os sofistas acreditavam que tudo era fruto de convenções e que não existia
natureza, os phýsis buscavam o fundamento natural para o mundo, semelhante aos positivistas
e cientistas modernos. A idéia eleática é que a realidade é uma estrutura lógica e até
lingüística, e neste caso o ser é idêntico a si mesmo, o ser não se transforma. Esta concepção
está muito presente na metafísica, pois uma coisa é pensar o mundo na sua mutabilidade,
dizia que somente a mudança é real. Platão tenta dar uma solução a esta disputa e formou um
campo de saber que engloba várias dualidades, dizendo que Heráclito estava certo em relação
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verdade). O mundo real é o mundo sensível, mas o mundo ideal é o mundo das essências e é o
verdadeiro real. Para Platão esta é a relação entre o original e a cópia, e é através da dialética
Para Aristóteles este mundo ‘das sombras’ do Platão é o mundo real e as mutações e
multiplicidades seria a essência deste mundo. A ciência que alcançaria a verdade seria a
física. Mas ele admitia que a física dependia da filosofia primeira, de uma metafísica, “capaz
de distinguir que aquilo que a física pesquisa é algo real e verdadeiro – um fundamento”.
buscar “a essência do mundo natural e de nós mesmos no próprio mundo natural e de nós
mesmos, e não em outro mundo, o mundo das coisas puras de Platão”. (Idem, p. 33). A
essência estaria nas próprias coisas, na experiência, e não em outro mundo, no mundo das
idéias.
Aristóteles admitiu diferentes essências para diferentes seres, o divino seria o ideal,
imutável, o homem e o mundo são mutáveis e estão separados do divino. Cada ciência teria
seu objeto e elas estariam unificadas pela filosofia. Este desenvolvimento do que é essência
metafísica.
Mas, ao contrário do que defendia Aristóteles, o século XVII foi marcado pela crença
de que a filosofia dependia do avanço da física e da matemática para acessar o real, e não que
como se não comportasse uma concepção de homem e de mundo, mas fosse a concepção que
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séculos XVII e XVIII. E para conhecer e usar o mesmo método era preciso saber como
executar esse processo, e a preocupação não é mais com o objeto, mas com o método, é real
pergunta: “o que é real?”. Já os modernos tinham em mente outra pergunta: “como é possível
Antes o existente era algo que estava apresentado e a verdade deveria ser desvelada,
pelo ‘sentimento de evidência’. A pergunta moderna faz surgir algo entre o real e o
conhecimento: a subjetividade.
provisória e, portanto, o dever da ciência, sua ética, era encontrar a essência imutável da
realidade. Assim, Ghiraldelli (2001, p. 39) nos apresenta uma síntese do processo de produção
descoberta ou como criação) do sujeito, a verdade como certeza é um aval dado pelo sujeito a
melhor for apresentada a relação sujeito-objeto melhor se forneceria uma explicação sobre o
Galileu era de que o mundo real estava dividido em virtudes primárias e secundárias. As
subjetivas, relativas, que estão em nós e não nas coisas, assim tudo que nossos cincos sentidos
percebem pertencem aos cinco sentidos e não às coisas. As características sensíveis estão na
psique e não no mundo real, no mundo natural. E a ciência que desejasse estudar o mundo
como ele realmente era deveria tratar das quantidades e não das qualidades. Esta premissa
puramente subjetivas, ou seja, não são reais. Entre nós e o mundo real, objetivo tem uma
barreira, os sentidos do homem. Nós não temos a experiência do mundo, nós temos
experiência de nossas próprias representações. O corpo humano lida somente com qualidades
e conseqüentemente não é da ordem do real. Para que o homem tenha acesso ao real ele
sentidos têm da realidade, pois esta representação vai sendo construída na interação entre
mas de todas as formas de pensar a lógica é a única que pode produzir conhecimento
que é um mero meio, instrumento. O pensar é um ato espiritual, este sim tem acesso à
conhecimento científico vem de Deus, fonte de toda verdade. Esta era a crença no século de
acesso ao absoluto, e não se tem acesso ao absoluto através dos sentidos. Se o homem fosse
apenas sensibilidade, apenas o corpo, ele não teria nenhum acesso à verdade. Algum acesso só
é possível porque o homem tem o inteligível, deus não o fez apenas corpo, deu-lhe a alma.
matemático, podem ser testemunhos do mundo e da verdade, outros são falsos, são frutos da
concepção de conhecimento nas ciências humanas. Os positivistas queriam criar uma ciência
sentidos), é da ordem do inteligível, por isso todo conhecimento científico deve seguir o
método lógico-matemático.
científico? A única maneira que nos foi apresentada por Descartes foi Deus. Ele é o garantidor
Até que a própria ciência trouxe uma evidência que fez a primeira lacuna no
pensamento moderno: o homem antes de racional era animal. Darwin fez o que Freud chamou
de segunda ferida narcísica: a constatação que a origem do homem é animal e não semente do
absoluto. A primeira ferida tinha sido a descoberta de Copérnico de que a Terra não era o
centro do Universo.
paradigma. Assim, se Deus morre, morre muita coisa com ele, morre a ciência positivista, e
com ela, morre também a possibilidade de uma verdade absoluta. Deus é o fundamento da
razão e do conhecimento científico, se ele morre a concepção de verdade tem que mudar,
uma exigência que veio das ciências naturais. De forma alguma um pensador naquela época
faria uma filosofia que não se harmonizasse com a física. A ciência exata constrói outro
universo não captável pelos sentidos, a água é H2O, são moléculas, na verdade isso nós não
relação direta com o mundo, o sujeito deixa de ser um contingente de um saber que vem de
Deus. Há na ciência cartesiana uma tomada da consciência tal como são as coisas, o mesmo
método científico cartesiano trabalha com o homem natural, mas as ciências humanas
objeto que serviu de base para a racionalidade moderna onde o conhecimento “é menos um
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partir daí surgiram diferentes correntes que se contrapõem ao modelo cartesiano e que exigem
Para Stein (2001, p. 22) “a condição humana sempre aponta para além de si mesma,
porque ela mantém a exigência contínua de abertura. Omite-se o fato de que, precisamente, a
Para ilustrar como as posições em busca do conhecimento podem ser contrárias, para
Rousseau o sentimento de certeza era garantido pela ‘sinceridade do coração’, que é expresso
da seguinte forma: “Tendo em mim o amor à verdade como filosofia, e como método único
uma regra fácil e simples que me dispensa da vã sutileza dos argumentos, volto com esta
regra ao exame dos conhecimentos que me interessam, resolvido a admitir como evidentes
todos aos que na sinceridade do coração, não puder recusar meu assentimento, como
verdadeiros todos os que me parecem ter uma ligação necessária com os primeiros, e deixar
todos os outros na incerteza, sem os rejeitar nem admitir, e sem me atormentar com os
esclarecer desde que não me levem a nada de útil na prática. 4 Ou seja, a verdade é avaliada
por uma pessoa, uma subjetividade que é a consciência moral, organizada à base dos
ética na ciência, pois o bem está ligado à verdade. Posteriormente, Kant afirmou que a razão
razão prática (ética) serve ao julgamento, isto é, à distinção entre o certo e o errado. Ambas
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Heidegger, 1984, IN Ghiraldelli, 2001, p. 40.
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Rousseau, 1979, p. 303/304, IN Ghiraldelli, 2001, p. 44.
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“age sempre de uma maneira tal que você possa erigir a máxima da tua ação em lei
universal”. Kant inclui a questão ética na construção da verdade pela ciência. Porém, constrói
este pressuposto exclui, por si só, a ciência positivista, que busca uma verdade absoluta. Para
a ciência positivista as leis que regem a natureza e o sujeito são as leis matemáticas, vindas de
mundo, a aparência sensível é a apreensão da própria coisa. Esta teoria é uma crítica da
tradição científica positivista, e também tenta construir uma nova teoria da experiência, onde
sujeito, um contingente que tem conteúdos (conhecimento científico), e estes conteúdos vêm
considerar que o homem não é sujeito e depois veio ao mundo, ele não é um contingente, ele é
“ser no mundo”, e ao “estar no mundo” ele é capaz de produzir conhecimento. Ele está
inteiramente tomado pelo mundo, ele não é mais interior, não é uma substância oposta à outra
substância.
Para a fenomenologia não é possível ter representação do mundo sem ter acesso ao
permanentemente para fora de si, está no mundo. A experiência tem que ser primeiro sensível
para depois ser científica, a linguagem científica vai estar estruturada na experiência. O que é
sentidos dão acesso ao mundo, e com eles se constrói o mundo, onde perceber é um
lugar, porque nós participamos da construção do mundo. É o ser humano que compõe o
positivista é apenas um dos lugares subjetivos possíveis de apreensão da realidade, mas que
não pode ser universalizado. A teoria fenomenológica vai abrir o leque e diferenciar ciências
Para a fenomenologia, o campo não pode ser confundido com a soma das partes,
envolve também entendimento. Para Dussel trata-se de explicar e descrever o vivido. Trata-se
de vivenciar, explicar, descobrir, descrever a vivência tal como ela é vivida, pois o ser
humano se constitui o tempo todo. O vivido é inserido no tempo. Não se separa o sujeito do
objeto, a idéia dos fenomenólogos é romper com a interioridade, a maneira como uma pessoa
organiza o mundo é ela própria, é a maneira como ela é. A linguagem da ciência é uma entre
muitas linguagens. Para Heidegger não há verdades eternas, mas “essa ‘limitação’ não
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Apud Stein, 2001, p. 30.
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que não existe só ciência, que há outro lado, o lado da subjetividade. Heidegger nos faz
um sujeito que diz o que existe é a enunciação que vem de Deus, e com ela um conhecimento
pretenso universal. Segundo Dussel (2001, p. 523) este método “pode ter um critério de
inteligibilidade, mas nunca poderá ter um critério de verdade” que se refere à realidade
científico se relaciona com a natureza, com o mundo, com a sociedade, os grupos, o outro, e a
No século XIX há a constituição das ciências humanas a partir do século XIX, e com
a diversidade surge, a querela dos métodos, de um lado a insuficiência do método das ciências
naturais para explicar o fenômeno humano, por outro, é este método que dá estatuto de
manter científica. O mito positivista é insuficiente para explicar certos fenômenos do século
XIX, ocorrendo uma espécie de ruptura entre as ciências naturais e as ciências humanas. A
ciência positivista objetificou o sujeito, não o percebe como diferente de outros objetos das
ciências naturais.
Marx tratou disso quando fez sua crítica social em relação ao trabalhador como
analisar como acontece este processo, Marx introduziu a idéia de ideologia, de ‘falsa
consciência’, o “homem age como falso sujeito, pois não é de fato senhor de seus
pensamentos nem responsável único pelos seus atos.” (Ghiraldelli, 2001, p. 52). Portanto,
para conhecer sua realidade o homem precisa conhecer o modo de organização de seu
Esta forma de organização social, por sua vez, possibilitou a contribuição inventiva
outras inovações que tem modificado continuamente as relações de trabalho, alienando ainda
criticidade. Ela abstrai os sujeitos e usa o modelo das ciências naturais para analisar o ser
humano, que é social e subjetivo. Mas este conhecimento é apenas técnico e serve à
dominante.
o sujeito está submetido à ideologia e somente ao estar consciente dela é que poderá se
as técnicas foram orientadas pelo avanço filosófico e cientifico, mas também pela luta de
científico, da realidade social. Mas é um idealismo quando Marx tenta transformar esta
idéias são técnicas e fazem a historia avançar, então, ou elas são o próprio motor da historia
ou são apenas um dos elementos retirados de um todo social mais complexo. E Castoriadis
compreende que as idéias são elementos de um todo muito mais complexo, incluindo a idéia
da determinação econômica da sociedade. Ou seja, “os fatos técnicos não são só idéias ‘em
atraso’ (significações que foram encarnadas), eles são também idéias ‘em avanço’ (significam
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produção (e assim, as relações jurídicas, religiosas, políticas, etc.), estamos dizendo que há no
ser humano uma motivação econômica, ou seja, desde sempre o homem quer o crescimento
de sua produção e do consumo. Mas isto é negar que os valores humanos são criações sociais,
necessidade, é mais verdade é que o homem vai além de suas necessidades. Falar de
afirmação de universalidade.
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CAPRA, F. O tao da Física. Um paralelo entre a Física moderna e o misticismo oriental. São
CASSIRER, E. Ensaios sobre o homem: introdução a uma filosofia da cultura humana. São
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301.
_______. Sobre a Fenomenologia da Linguagem IN: Textos Selecionados. São Paulo: Nova
MULKAY, M. Science and the Sociology of Knowledge. London: George Allen & Unwin,
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PRIGOGINE, I. & STENGERS, I., A Nova Aliança. Brasília: Universidade de Brasília, 1984.
STEIN, Ernildo Diferença e Metafísica: ensaios sobre a desconstrução. Porto Alegre: Editora
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