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INFORMATIVOS STF 2008

PROF. GABRIEL HABIB

INFORMATIVO 512

PRIMEIRA TURMA
Regime de Cumprimento de Pena e Falta de Vagas
A Turma, por maioria, deferiu habeas corpus para determinar que se observe o
cumprimento da pena tal como previsto no título judicial e, inexistente vaga em
estabelecimento próprio, que os pacientes aguardem em regime aberto. Tratava-se, na
espécie, de writ em que condenados a pena em regime semi-aberto, por infração ao
art. 157, § 2º, I, II e V, do CP, questionavam a imposição de seu recolhimento em
regime fechado até que surgissem vagas em local adequado na comarca. Tendo em
conta a impossibilidade do imediato cumprimento da sanção em colônia penal agrícola
e/ou colônia penal industrial ou em estabelecimento similar por deficiência do Estado,
entendeu-se que não se poderia manter alguém preso em regime mais rigoroso do que
o imposto na sentença condenatória. Vencida a Min. Cármen Lúcia, relatora, que
denegava a ordem por considerar que a instrução deficiente do pedido inviabilizaria a
comprovação da ilegalidade suscitada e, em conseqüência, o conhecimento da
presente ação.
HC 94526/SP, rel. orig. Min. Cármen Lúcia, rel. p/ o acórdão Min. Ricardo
Lewandowski, 24.6.2008. (HC-94526)

SEGUNDA TURMA

Art. 290 do CPM e Princípio da Insignificância


Em face do empate na votação, a Turma deferiu habeas corpus para reconhecer a
atipicidade material da conduta por aplicação do princípio da insignificância a militar
condenado pela prática do crime de posse de substância entorpecente em lugar sujeito
à administração castrense (CPM, art. 290). Inicialmente, salientou-se que a mínima
ofensividade da conduta, a ausência de periculosidade social da ação, o reduzido grau
de reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão jurídica
constituem os requisitos de ordem objetiva autorizadores da incidência do aludido
princípio. Enfatizou-se que a Lei 11.343/2006 veda a prisão do usuário, devendo a este
ser oferecidas políticas sociais eficientes para recuperá-lo do vício. Asseverou-se,
ainda, que incumbiria ao STF confrontar o princípio da especialidade da lei penal
militar, óbice à aplicação da Nova Lei de Drogas, com o princípio da dignidade humana,
arrolado como princípio fundamental (CF, art. 1º, III). Ademais, afirmou-se que outros
ramos do Direito seriam suficientes a sancionar o paciente. Vencidos os Ministros Ellen
Gracie, relatora, e Joaquim Barbosa que denegavam a ordem ao fundamento de que,
diante dos valores e bens jurídicos tutelados pelo aludido art. 290 do CPM, revelar-se-
ia inadmissível a consideração de alteração normativa pelo advento da Lei
11.343/2006. Assentaram que a conduta prevista no referido dispositivo legal
ofenderia as instituições militares, a operacionalidade das Forças Armadas, além de
violar os princípios da hierarquia e da disciplina na própria interpretação do tipo penal.
HC 90125/RS, rel. orig. Min. Ellen Gracie, rel. p/ o acórdão Min. Eros Grau,
24.6.2008. (HC-90125)

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Incompetência do Juízo e “Ne Bis in Idem”
A Turma, por maioria, deferiu habeas corpus impetrado contra acórdão do STM
que, ao prover recurso criminal interposto pelo Ministério Público Militar da União,
reformara decisão que rejeitara denúncia oferecida em desfavor de militar da ativa
acusado pela suposta prática de furto contra outro militar na mesma situação. Ocorre
que, anteriormente, fora instaurado, no âmbito da justiça estadual e para apuração
daquele mesmo delito, processo-crime contra o paciente, que, nos termos do art. 89
da Lei 9.099/95, encontra-se suspenso. Não obstante o reconhecimento da
incompetência da justiça estadual para processar e julgar o caso, entendeu-se que o
paciente se sujeitara ao que o Estado acusador lhe impusera. No ponto, assentou-se
que a justiça estadual já aplicara expediente substitutivo da sentença que deve ter, em
termos de impossibilidade de novo processo pelos mesmos fatos, a mesma
conseqüência jurídica. Vencida a Min. Ellen Gracie, relatora, que, ao salientar cuidar-se
de crime militar (CPM, art. 9º, II, a), indeferia o writ por reputar existente vício
insanável que contaminaria de nulidade absoluta o processo ajuizado perante justiça
absolutamente incompetente. Ordem concedida para determinar o trancamento do
processo instaurado no âmbito da Justiça Militar da União.
HC 91505/PR, rel. orig. Min. Ellen Gracie, rel. p/ o acórdão Min. Cezar Peluso,
24.6.2008. (HC-91505)

Tráfico de Drogas e Substituição de Pena Privativa de Liberdade por Restritiva


de Direitos - 1
A Turma iniciou julgamento de habeas corpus em que se questiona a
possibilidade, ou não, de incidência do art. 44, do CP, às hipóteses relacionadas aos
crimes hediondos e a eles equiparados. No caso, condenadas à pena em regime
integralmente fechado por infração ao art. 12, c/c o art. 18, ambos da Lei 6.368/76,
pleiteiam a progressão de regime de cumprimento de pena, bem como a substituição
da pena privativa de liberdade por restritivas de direito. A Min. Ellen Gracie, relatora,
deferiu, em parte, o writ, estabelecendo que o regime de cumprimento da pena será o
inicialmente fechado, permitindo-se a progressão do regime prisional, desde que
atendidos os requisitos do art. 2º, §§ 1º e 2º, da Lei 8.072/90, na redação que lhe foi
dada pela Lei 11.464/2007, não admitindo, no entanto, a substituição da pena corporal
por penas restritivas de direito. Em conseqüência, revogou a liminar anteriormente
concedida, devendo o magistrado verificar a presença dos requisitos subjetivos e
objetivos para eventual progressão do regime prisional à luz da Lei 11.464/2007.
HC 89976/RJ, rel. Min. Ellen Gracie, 24.6.2008. (HC-89976)

Tráfico de Drogas e Substituição de Pena Privativa de Liberdade por Restritiva


de Direitos - 2
A relatora, no tocante à aplicação do mencionado art. 44, do CP, asseverou que a
Corte já apreciara a questão, quando do julgamento do HC 85894/RJ (DJU de
28.9.2007), concluindo no sentido do cabimento da substituição da pena privativa de
liberdade pela restritiva de direitos, nos crimes hediondos, tendo em conta o
afastamento do óbice à progressão de regime. Entretanto, afirmou que, com o advento
da Lei 11.343/2006 (art. 44, caput), a mencionada conversão fora expressamente
vedada nas hipóteses de condenação pelos crimes de tráfico ilícito de substância
entorpecente e outros delitos assemelhados, e que tal lei apenas explicitara regra que
era implícita no sistema jurídico brasileiro. No ponto, considerou não haver incidência
retroativa da regra contida no art. 44, caput, da Lei 11.343/2006, à espécie, eis que o
sistema jurídico anterior a sua vinda já não admitia a substituição da pena corporal por
pena restritiva de direito quanto aos crimes hediondos e a eles equiparados. Dessa
forma, assentou a impossibilidade de substituição da pena privativa de liberdade por

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penas restritivas de direito, ainda que no período anterior ao advento da Lei
11.343/2006. Relativamente ao tema do regime de cumprimento da pena privativa de
liberdade em relação às pacientes, esclareceu que, com a nova redação, dada pela Lei
11.464/2007, ao § 1º, e a introdução do § 2º, ambos do art. 2º, da Lei 8.072/90,
deverão ser cumpridos os requisitos e condições impostas, mesmo quanto às pessoas
que praticaram condutas criminosas em época anterior à nova ordem jurídica
instaurada sobre o assunto. Do contrário, aduziu que haveria descumprimento do
comando constitucional contido no art.5º, XLIII, não cumprindo o papel axiológico e a
própria razão de ser da Lei dos Crimes Hediondos, a saber, tratar de modo mais severo
os casos referentes aos crimes hediondos e a eles equiparados. Após, a Turma
determinou fosse a matéria afetada ao Plenário.
HC 89976/RJ, rel. Min. Ellen Gracie, 24.6.2008. (HC-89976)

Tráfico de Drogas e Progressão de Regime


A Turma decidiu remeter ao Plenário julgamento de habeas corpus em que se
questiona a possibilidade, ou não, de progressão do regime de cumprimento de pena
corporal imposta no período de vigência da redação originária do art. 2º, § 1º, da Lei
8.072/90 (“Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de: ... § 1º A pena por
crime previsto neste artigo será cumprida integralmente em regime fechado.”). Trata-
se, na espécie, de writ em que condenado à pena em regime integralmente fechado
pela prática do crime de tráfico de substância entorpecente requer a progressão do
regime prisional. Sustenta a inconstitucionalidade do mencionado dispositivo legal, ao
argumento de que a Lei 8.072/90 não poderia impedir a aplicação do princípio da
individualização da pena.
RHC 91300/DF, rel. Min. Ellen Gracie, 24.6.2008. (RHC-91300)

INFORMATIVO 511

PRIMEIRA TURMA
Mercadoria Imprópria ao Consumo e Perícia
O tipo previsto no inciso IX, do art. 7º, da Lei 8.137/90 (“Art. 7° Constitui crime
contra as relações de consumo: ... IX - vender, ter em depósito para vender ou expor
à venda ou, de qualquer forma, entregar matéria-prima ou mercadoria, em condições
impróprias ao consumo;”) pressupõe a demonstração inequívoca da impropriedade do
produto para o uso. Com base nesse entendimento, a Turma deferiu habeas corpus
para absolver os pacientes da condenação por crime contra as relações de consumo
(Lei 8.137/90, art. 7º, IX), decorrente da fabricação de produtos para consumo em
desconformidade com normas regulamentares e sem registro no Ministério da Saúde.
Considerou-se que, no caso, embora se tratasse de crime formal, o elemento do tipo
não fora comprovado no processo ante a inexistência de perícia que atestasse a
imprestabilidade das mercadorias ao consumo. Ademais, ressaltou-se que a tipificação
desse crime estaria vinculada ao art. 18, § 6º, do Código de Defesa do Consumidor, o
qual estabelece os produtos impróprios ao consumo (“§ 6° São impróprios ao uso e
consumo: I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos; II - os produtos
deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados,
nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas
regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação; III - os produtos que, por
qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se destinam.”).
HC 90779/PR, rel. Min. Carlos Britto, 17.6.2008. (HC-90779)

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Crime contra o Sistema Financeiro e Competência
A Turma indeferiu habeas corpus em que alegada a competência da justiça
estadual para processar e julgar os pacientes, denunciados por estelionato e pela
suposta prática de crime contra o Sistema Financeiro Nacional (CP, art. 171 e Lei
7.492/86, art. 5º), consistente na operação, em instituição financeira de direito
privado, de esquema de pagamento de notas frias. A impetração sustentava que o
feito envolveria apenas interesses privados e que os pacientes não ocupavam, à época
dos fatos, cargo de direção ou de administração naquela instituição, o que afastaria a
incidência da referida Lei 7.492/86. Reputou-se que a regra nela contida (“Art. 26. A
ação penal, nos crimes previstos nesta lei, será promovida pelo Ministério Público
Federal, perante a Justiça Federal.”) não colidiria com aquela prevista no art. 109, VI,
da CF (“Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: ... VI - os crimes
contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema
financeiro e a ordem econômico-financeira;”). Nesse sentido, entendeu-se acertada a
decisão do STJ que assentara a competência da justiça federal para o processamento
da causa, não obstante o envolvimento de instituição privada. No ponto, enfatizou-se a
presença de interesses da União consubstanciados no controle, na higidez e na
legalidade do Sistema Financeiro Nacional. Ademais, em reforço à atração da
competência da justiça federal para o exame do caso, ressaltou-se que a denúncia
noticiaria que a operação do esquema delituoso utilizara-se da falsificação de
documento supostamente emitido pelo Banco Central do Brasil e que um dos pacientes
detinha, à época dos fatos, poderes e atribuições próprias de gerente de operações.
HC 93733/RJ, rel. Min. Carlos Britto, 17.6.2008. (HC-93733)

INFORMATIVO 510

PLENÁRIO

Dias Remidos e Falta Grave


O Tribunal, por maioria, aprovou o Enunciado da Súmula Vinculante 9 nestes
termos: “O disposto no artigo 127 da Lei 7.210/84 foi recebido pela ordem
constitucional vigente e não se lhe aplica o limite temporal previsto no caput do artigo
58”. Inicialmente, o Tribunal, por maioria, rejeitou questão de ordem suscitada pelo
Min. Marco Aurélio no sentido de ser observado, na proposta de súmula vinculante, um
procedimento mínimo, abrindo-se um processo administrativo para apreciação do
verbete quanto à matéria e ouvindo-se a Comissão de Jurisprudência da Corte.
Considerou-se o fato de haver reiterados precedentes da Corte no sentido da súmula
vinculante proposta, restando preenchidos todos os pressupostos para a sua
formulação (CF, art. 103-A). Vencido, no ponto, o suscitante. Quanto à questão de
fundo, o Min. Marco Aurélio também ficou vencido por entender que, no caso, não
caberia a edição de um verbete de súmula. Asseverou que não haveria como, diante
de uma falta grave verificada, fazer-se retroagir, em si, as conseqüências dessa falta
grave, a ponto de se afastar, do cenário jurídico, um pronunciamento judicial já
reconhecendo um direito que, portanto, passou a integrar o campo de interesses do
presidiário. Precedentes citados: RE 452994/RS (DJU de 29.9.2006); HC 91084/SP
(DJU de 11.5.2007); AI 570188/RS (DJU de 3.3.2006); HC 92791/RS (DJE de
7.3.2008); HC 90107/RS (DJU de 27.4.2007); AI 580259/RS (DJU de 26.10.2007); AI
490228/RS (DJU de 14.4.2004).

Art. 181, § 1º, a, da LEP e Princípio da Boa-fé Objetiva


Por não vislumbrar constrangimento ilegal no acórdão do STJ que assentara, nos
termos do art. 181, § 1º, a, da Lei de Execução Penal - LEP, a possibilidade de

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conversão da pena restritiva de direitos em privativa de liberdade se o condenado
estiver em lugar incerto e não sabido, a Turma indeferiu habeas corpus em que
pleiteada a citação editalícia do paciente para que tomasse conhecimento da decisão
que convertera a pena a ele imposta. A impetração sustentava não ser possível adotar
somente a interpretação literal do aludido dispositivo legal, devendo ser observados o
devido processo legal e a ampla defesa. Reputou-se razoável a presença de elemento
de discrímen no tratamento diferenciado disposto no art. 181, § 1º, da LEP (“Art. 181.
A pena restritiva de direitos será convertida em privativa de liberdade nas hipóteses e
na forma do art. 45 e seus incisos do Código Penal. § 1º A pena de prestação de
serviços à comunidade será convertida quando o condenado: a) não for encontrado por
estar em lugar incerto e não sabido, ou desatender a intimação por edital;”), haja vista
que o réu que participou de todos os atos processuais e que, ciente da condenação,
muda seu domicílio sem prévia comunicação ao juízo competente, viola o princípio da
boa-fé objetiva que deve reger todas as relações jurídicas, inclusive entre o agente e o
Estado. Salientou-se que, para alguns doutrinadores, a primeira parte da alínea a, do §
1º, do art.181, da LEP, refere-se àquele que, pessoalmente citado e intimado para
todos os atos processuais, desaparece na fase da execução da sentença, deixando de
comunicar ao juízo acerca de seu atual paradeiro, daí a certidão de se encontrar em
lugar incerto e não sabido. Assim, registrou-se que a citada regra não ofenderia o
devido processo legal e a ampla defesa, porquanto o acusado que acompanhara todo o
processo de conhecimento teria plena ciência de possíveis conseqüências que lhe
seriam prejudiciais caso deixasse de cumprir a pena restritiva de direitos que lhe fora
aplicada.
HC 92012/SP, rel. Min. Ellen Gracie, 10.6.2008. (HC-92012)

Regressão de Regime e Falta Grave - 2


A Turma retomou julgamento de habeas corpus impetrado contra acórdão do STJ
que reputara justificada a regressão de regime prisional imposto ao paciente por
considerar falta grave a evasão de estabelecimento prisional. No caso, a mencionada
sanção fora aplicada após a recaptura do paciente que, condenado a pena em regime
inicial semi-aberto, obtivera o benefício de saída temporária e não regressara ao
estabelecimento penitenciário — v. Informativo 506. Em divergência, a Min. Ellen
Gracie denegou o writ. Em seu voto-vista, enfatizou que a sentença condenatória, no
âmbito penal, transita em julgado com a cláusula rebus sic stantibus. Logo, a mudança
da situação de fato no curso da execução, comparativamente ao substrato fático
existente no início, impõe ao juiz da execução a adoção de medidas necessárias de
modo a adaptar a decisão à nova realidade. Entendeu que, nos termos do art. 33,
caput, do CP (“Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado,
semi-aberto ou aberto. A de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo
necessidade de transferência a regime fechado.”), se em matéria de condenação e
execução da pena de detenção revela-se possível a regressão para o regime fechado,
com mais razão nas hipóteses de condenação e execução de pena de reclusão. Dessa
forma, a regra do art. 118, I, da LEP (“Art. 118. A execução da pena privativa de
liberdade ficará sujeita à forma regressiva, com a transferência para qualquer dos
regimes mais rigorosos, quando o condenado: I - praticar fato definido como crime
doloso ou falta grave;”), não seria obstáculo à alteração do regime de cumprimento de
pena privativa de liberdade para regime mais gravoso do que aquele fixado na
sentença condenatória, desde que verificado algum dos pressupostos lá previstos.
Ademais, considerou que não haveria como se acolher a argumentação consoante a
qual o princípio da razoabilidade não aconselharia a regressão de regime e, por fim,
ressaltou que essa matéria não teria sido ventilada no STJ. Após, o Min. Cezar Peluso
pediu vista.

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HC 93761/RS, rel. Min. Eros Grau, 10.6.2008. (HC-93761)

INFORMATIVO 509

PRIMEIRA TURMA

Quadrilha e Crimes contra a Ordem Tributária: Autonomia - 4


Em conclusão de julgamento, a Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus
impetrado contra ato do STJ que denegara igual medida, em que se pretendia o
trancamento de ação penal instaurada contra denunciados pela suposta prática de
crimes contra a ordem tributária (Lei 8.137/90, art. 1º, c/c o art. 12), em concurso
formal impróprio e de forma continuada, bem como por infringência do art. 288, do CP
(“Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de cometer
crimes:...”) — v. Informativos 355, 358 e 476. Asseverou-se que, nessa fase de
simples recebimento da denúncia, poder-se-ia extrair dessa inicial fartura de detalhes
caracterizadores do fumus comissi delicti, autorizador da persecução penal em relação
ao delito de quadrilha. Salientou-se que a jurisprudência do STF admite
excepcionalmente o trancamento da ação penal por habeas corpus quando ausente
qualquer situação de iliquidez ou de dúvida objetiva quanto aos fatos subjacentes à
acusação penal, inocorrentes na espécie. Considerou-se improcedente a assertiva de
que inexistiria o elemento subjetivo do tipo do art. 288, do CP, tendo em conta que o
fato de os pacientes estarem na gerência da empresa não impediria que, nessa
condição, viessem a se associar para o fim de cometer crimes. Por fim, com base no
entendimento da Corte no sentido de que o crime de quadrilha ou bando, por ser delito
autônomo e formal, se consuma no momento em que se concretiza a convergência de
vontades e independe da realização ulterior do fim visado, concluiu-se que a
suspensão da ação penal pelo crime de sonegação fiscal, decorrente da adesão a
programa de recuperação fiscal, não implicaria falta de justa causa para acusação pelo
crime de quadrilha. Vencido o Min. Cezar Peluso que deferia parcialmente a ordem
para determinar o trancamento da ação penal quanto à acusação de formação de
quadrilha ou bando. O Min. Eros Grau retomou os fundamentos do seu voto originário.
HC 84223/RS, rel. Min. Eros Grau, 3.6.2008. (HC-84223)

Estelionato contra a Previdência e Crime Instantâneo

Aplicando o precedente firmado no julgamento do HC 86467/RS (DJU de


22.6.2007) no sentido de que o crime consubstanciado na concessão de aposentadoria
a partir de dados falsos é instantâneo, não o transmudando em permanente o fato de
terceiro haver sido beneficiado com a fraude de forma projetada no tempo, a Turma
deferiu habeas corpus para declarar extinta a punibilidade do paciente. No caso, o
paciente fora condenado por infringência do art. 171, § 3º, do CP, em virtude de haver
adulterado anotações da carteira de trabalho de co-réu, de modo a permitir que esse
recebesse aposentadoria. Tendo em conta que a pena aplicada seria inferior a 4 anos e
que já transcorrido o prazo prescricional superior a 8 anos (CP, art. 109, IV), concluiu-
se que o reconhecimento da prescrição retroativa se imporia.
HC 94148/SC, rel. Min. Carlos Britto, 3.6.2008. (HC-94148)

INFORMATIVO 508

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Suspensão Condicional do Processo e Cabimento de HC
A aceitação do benefício de suspensão condicional do processo (Lei 9.099/95, art.
89) não implica renúncia ao interesse de agir para impetração de habeas corpus com o
fim de questionar a justa causa da ação penal. Com base nesse entendimento, a
Turma, para evitar dupla supressão de instância, não conheceu de recurso ordinário
em habeas corpus, mas concedeu a ordem, de ofício, em favor de denunciada pela
suposta prática do crime de auto-acusação falsa (CP, art. 341). No caso, o STJ
denegara o writ lá impetrado ao fundamento de que com a aceitação da proposta de
suspensão condicional do processo formulada pelo Ministério Público não seria possível
o exame da ausência de justa causa por atipicidade da conduta, a menos que
retomada a ação penal. HC deferido, de ofício, para, remetendo-se os autos ao
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, cujo acórdão fica cassado, determinar que
proceda ao exame do mérito da impetração. Precedentes citados: HC 85747/SP (DJU
de 14.10.2005) e HC 89179/RS (DJU de 13.4.2007).
RHC 82365/SP, rel. Min. Cezar Peluso, 27.5.2008. (RHC-82365)

Liberdade Provisória e Tráfico de Drogas


A Turma indeferiu habeas corpus em que pleiteada a soltura da paciente, presa
em flagrante desde novembro de 2006, por suposta infringência dos artigos 33 e 35,
ambos da Lei 11.343/2006. A defesa aduzia que a paciente teria direito à liberdade
provisória, bem como sustentava a inocorrência dos requisitos para a prisão cautelar e
a configuração de excesso de prazo nessa custódia. Afirmou-se que esta Corte tem
adotado orientação segundo a qual há proibição legal para a concessão da liberdade
provisória em favor dos sujeitos ativos do crime de tráfico ilícito de drogas, o que, por
si só, seria fundamento para denegar-se esse benefício. Enfatizou-se que a aludida Lei
11.343/2006 cuida de norma especial em relação àquela contida no art. 310,
parágrafo único, do CPP, em consonância com o disposto no art. 5º, XLIII, da CF.
Desse modo, a redação conferida ao art. 2º, II, da Lei 8.072/90, pela Lei 11.464/2007,
não prepondera sobre o disposto no art. 44 da citada Lei 11.343/2006, eis que esta se
refere explicitamente à proibição da concessão de liberdade provisória em se tratando
de delito de tráfico ilícito de substância entorpecente. Asseverou-se, ainda, que, de
acordo com esse mesmo art. 5º, XLIII, da CF, são inafiançáveis os crimes hediondos e
equiparados, sendo que o art. 2º, II, da Lei 8.072/90 apenas atendeu ao comando
constitucional. Entendeu-se que, no caso, também deveria ser acrescentada a
circunstância de haver indicação da existência de organização criminosa integrada pela
paciente, a revelar a presença da necessidade da prisão preventiva como garantia da
ordem pública. Considerou-se, também, que a prisão possuiria fundamentação idônea.
Por fim, rejeitou-se a alegação de eventual excesso de prazo, uma vez que essa
questão não fora argüida no tribunal a quo, o que configuraria supressão de instância.
Além disso, existiriam elementos nos autos que evidenciariam a complexidade do
processo, com pluralidade de réus, defensores e testemunhas, assim como a notícia de
vários incidentes processuais suscitados por alguns defensores.
HC 92495/PE, rel. Min. Ellen Gracie, 27.5.2008. (HC-92495)

Crime Militar - Entorpecente - Posse - Uso Próprio - Quantidade Ínfima -


Princípio da Insignificância (Transcrições)

HC 94809 MC/RS*

RELATOR: MIN. CELSO DE MELLO

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EMENTA: “HABEAS CORPUS” IMPETRADO, ORIGINARIAMENTE, PERANTE
O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, POR MEMBRO DO MINISTÉRIO PÚBLICO
MILITAR DE PRIMEIRA INSTÂNCIA. LEGITIMIDADE ATIVA
RECONHECIDA. DOUTRINA. JURISPRUDÊNCIA. PORTE DE
SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE. CRIME MILITAR (CPM, ART. 290).
QUANTIDADE ÍNFIMA. INVOCAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA, COMO FATOR DE DESCARACTERIZAÇÃO MATERIAL DA
TIPICIDADE PENAL. POSSIBILIDADE DE SUA APLICAÇÃO AOS CRIMES
MILITARES. PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. MEDIDA
CAUTELAR DEFERIDA.

- O representante do Ministério Público Militar de primeira instância


dispõe de legitimidade ativa para impetrar “habeas corpus”,
originariamente, perante o Supremo Tribunal Federal, especialmente
para impugnar decisões emanadas do Superior Tribunal Militar.
Precedentes.
- A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal tem admitido a
aplicabilidade, aos crimes militares, do princípio da insignificância,
mesmo que se trate do crime de posse de substância entorpecente, em
quantidade ínfima, para uso próprio, ainda que cometido no interior de
Organização Militar. Precedentes.

DECISÃO: Reconheço, preliminarmente, a legitimidade ativa do membro do


Ministério Público Militar de primeira instância, para, mesmo em sede originária,
impetrar ordem de “habeas corpus” perante o Supremo Tribunal Federal, tal como
sucede na espécie em exame (fls. 02).
Impõe-se registrar, neste ponto, considerado o magistério doutrinário
(JULIO FABBRINI MIRABETE, “Código de Processo Penal Interpretado”, p. 1.461,
item n. 654.2, 7ª ed., 2000, Atlas, v.g.), que a própria jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal tem admitido a possibilidade de o representante do Ministério
Público, embora com atuação nos graus inferiores de jurisdição, ajuizar, em nome
do “Parquet”, ação originária de “habeas corpus” perante esta Suprema Corte (HC
84.307/RO, Rel. Min. CELSO DE MELLO – HC 85.725/RO, Rel. Min. CELSO DE
MELLO) ou junto a qualquer outro Tribunal judiciário:

“‘Habeas corpus’. Impetração, pelo Ministério Público, em favor do réu.


Legitimidade ativa ‘ad causam’ em qualquer grau de jurisdição. Inteligência
do art. 654 do CPP. (...) O Ministério Público, em qualquer grau de jurisdição,
tem legitimidade ativa ‘ad causam’ para impetrar ‘habeas corpus’ em favor
do réu, por força do disposto no art. 654 do CPP.”
(RT 764/485, Rel. Min. MOREIRA ALVES - grifei)

“Recurso de ‘habeas corpus’. Impetração pelo Ministério Público.


Impetração de ‘habeas corpus’ como qualquer pessoa e como promotor
público. Garantia constitucional da liberdade, tem o Ministério Público o
direito de impetrá-lo e, conforme as circunstâncias, o dever de fazê-lo, se
tem conhecimento de coação ilegal. Recurso de ‘habeas corpus’ conhecido e
provido para que o Tribunal de Justiça aprecie o mérito do pedido.”
(RT 603/432, Rel. Min. OSCAR CORRÊA - grifei)

8
A presente impetração insurge-se contra decisão, que, emanada do E. Superior
Tribunal Militar, encontra-se consubstanciada em acórdão assim ementado (fls.
15):

“SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE - APF - LOCAL SOB ADMINISTRAÇÃO


MILITAR.
Militar preso em flagrante, trazendo consigo substância entorpecente,
quando pretendia consumi-la no interior da Unidade.
Materialidade delitiva configurada pelo Laudo de Constatação e Laudo de
Exame de Substância Vegetal, este realizado pelo DPF, constatando resultado
positivo para ‘cannabis sativa L’, devido à presença de canabinóides, inclusive o
Tetraidrocanabinol (THC).
Autoria comprovada pela prova oral e confissão.
Jurisprudência pretoriana no sentido de que: ‘A pequena quantidade de
entorpecente apreendida não descaracteriza o crime de posse de substância
entorpecente.’
Pleito recursal, visando a reforma da Sentença por motivos humanitários e
pequena quantidade da droga apreendida, não pode ser acatado por estar em
desacordo com a legislação penal militar e jurisprudência castrense.
Sentença prolatada em plena consonância com o apurado, estando a
reprimenda coerente com as condições subjetivas do Apelante.
Negado provimento ao recurso.
Decisão majoritária.” (grifei)

A parte ora impetrante postula “(...) a concessão da LIMINAR, e, no mérito,


sua confirmação, reconhecendo faltar justa causa à condenação imposta na Apelação
nº 2006.01.050445-1/RS (Doc. 1), tendo em vista inexistir a tipicidade material
nas condutas imputadas ao Paciente, com a concessão do presente ‘writ’ (art. 648, I,
do CPP)” (fls. 12 - grifei).

Passo a examinar o pedido de medida cautelar formulado por ilustre Promotor


da Justiça Militar (fls. 02/12). E, ao fazê-lo, tenho para mim, na linha de decisões
por mim proferidas, que se reveste de plausibilidade jurídica a tese sustentada na
presente impetração.
Com efeito, esta Suprema Corte tem admitido a aplicabilidade, aos delitos
militares, inclusive ao crime de posse de quantidade ínfima de substância
entorpecente, para uso próprio, mesmo no interior de Organização Militar, do
postulado da insignificância:

“O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA QUALIFICA-SE COMO FATOR DE


DESCARACTERIZAÇÃO MATERIAL DA TIPICIDADE PENAL.
- O princípio da insignificância - que deve ser analisado em conexão com
os postulados da fragmentariedade e da intervenção mínima do Estado em
matéria penal - tem o sentido de excluir ou de afastar a própria tipicidade
penal, examinada na perspectiva de seu caráter material. Doutrina.
Tal postulado - que considera necessária, na aferição do relevo
material da tipicidade penal, a presença de certos vetores, tais como (a) a
mínima ofensividade da conduta do agente, (b) a nenhuma periculosidade
social da ação, (c) o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento
e (d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada - apoiou-se, em seu
processo de formulação teórica, no reconhecimento de que o caráter
subsidiário do sistema penal reclama e impõe, em função dos próprios
objetivos por ele visados, a intervenção mínima do Poder Público.

9
O POSTULADO DA INSIGNIFICÂNCIA E A FUNÇÃO DO DIREITO
PENAL: ‘DE MINIMIS, NON CURAT PRAETOR’.
- O sistema jurídico há de considerar a relevantíssima circunstância de que
a privação da liberdade e a restrição de direitos do indivíduo somente se
justificam quando estritamente necessárias à própria proteção das pessoas, da
sociedade e de outros bens jurídicos que lhes sejam essenciais, notadamente
naqueles casos em que os valores penalmente tutelados se exponham a dano,
efetivo ou potencial, impregnado de significativa lesividade.
O direito penal não se deve ocupar de condutas que produzam resultado
cujo desvalor - por não importar em lesão significativa a bens jurídicos
relevantes - não represente, por isso mesmo, prejuízo importante, seja ao
titular do bem jurídico tutelado, seja à integridade da própria ordem social.”
(HC 84.687/MS, Rel. Min. CELSO DE MELLO)

Não custa assinalar, neste ponto, que esse entendimento encontra suporte em
expressivo magistério doutrinário expendido na análise do tema em referência (LUIZ
FLÁVIO GOMES, “Delito de Bagatela: Princípios da Insignificância e da
Irrelevância Penal do Fato”, “in” Revista dos Tribunais, vol. 789/439-456;
FRANCISCO DE ASSIS TOLEDO, “Princípios Básicos de Direito Penal”, p. 133/134,
item n. 131, 5ª ed., 2002, Saraiva; CEZAR ROBERTO BITENCOURT, “Código Penal
Comentado”, p. 6, item n. 9, 2002, Saraiva; DAMÁSIO E. DE JESUS, “Direito Penal
– Parte Geral”, vol. 1/10, item n. 11, “h”, 26ª ed., 2003, Saraiva; MAURÍCIO
ANTONIO RIBEIRO LOPES, “Princípio da Insignificância no Direito Penal”, p.
113/118, item n. 8.2, 2ª ed., 2000, RT, v.g.).
Revela-se significativa a lição de EDILSON MOUGENOT BONFIM e de
FERNANDO CAPEZ (“Direito Penal – Parte Geral”, p. 121/122, item n. 2.1, 2004,
Saraiva) a propósito da matéria em questão:

“Na verdade, o princípio da bagatela ou da insignificância (...) não tem


previsão legal no direito brasileiro (...), sendo considerado, contudo, princípio
auxiliar de determinação da tipicidade, sob a ótica da objetividade jurídica.
Funda-se no brocardo civil ‘minimis non curat praetor’ e na conveniência da
política criminal. Se a finalidade do tipo penal é tutelar um bem jurídico quando a
lesão, de tão insignificante, torna-se imperceptível, não será possível proceder
a seu enquadramento típico, por absoluta falta de correspondência entre o fato
narrado na lei e o comportamento iníquo realizado. É que, no tipo, somente estão
descritos os comportamentos capazes de ofender o interesse tutelado pela
norma. Por essa razão, os danos de nenhuma monta devem ser considerados
atípicos. A tipicidade penal está a reclamar ofensa de certa gravidade
exercida sobre os bens jurídicos, pois nem sempre ofensa mínima a um bem
ou interesse juridicamente protegido é capaz de se incluir no requerimento
reclamado pela tipicidade penal, o qual exige ofensa de alguma magnitude a
esse mesmo bem jurídico.” (grifei)

Na realidade, e considerados, de um lado, o princípio da intervenção penal


mínima do Estado (que tem por destinatário o próprio legislador) e, de outro, o
postulado da insignificância (que se dirige ao magistrado, enquanto aplicador da lei
penal ao caso concreto), na precisa lição do eminente Professor RENÉ ARIEL DOTTI
(“Curso de Direito Penal – Parte Geral”, p. 68, item n. 51, 2ª ed., 2004, Forense),
cumpre reconhecer que o direito penal não se deve ocupar de condutas que
produzam resultado cujo desvalor - por não importar em lesão significativa a bens
jurídicos relevantes - não represente, por isso mesmo, prejuízo importante, seja ao
titular do bem jurídico tutelado, seja à integridade da própria ordem social.

1
Cumpre também acentuar, por relevante, que a jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal tem admitido, na matéria em questão, a inteira aplicabilidade do
princípio da insignificância aos crimes militares (HC 87.478/PA, Rel. Min. EROS
GRAU – HC 92.634/PE, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA – RHC 89.624/RS, Rel. Min.
CÁRMEN LÚCIA), mesmo que se cuide de delito de posse de quantidade ínfima de
substância entorpecente, para uso próprio, e ainda que se trate de ilícito penal
perpetrado no interior de Organização Militar (HC 93.822/SP, Rel. Min. CELSO DE
MELLO – HC 94.085/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.).
Entendo importante destacar, neste ponto, fragmento do voto (vencido) do
eminente Ministro FLÁVIO BIERRENBACH (que tem o beneplácito da jurisprudência
desta Suprema Corte), proferido quando do julgamento, que, emanado do E.
Superior Tribunal Militar, motivou a presente impetração (fls. 44/53, 44/47):

“Este é mais um caso de porte de entorpecente no interior de uma


organização militar. Tenho sustentado sistematicamente, nesta Corte, a
atipicidade da conduta de trazer consigo pequena quantidade de maconha. Sou
convencido de que o porte de quantidade insignificante daquela substância
específica é conduta incapaz de causar lesão significativa à saúde pública,
enquanto bem jurídico tutelado pela norma penal incriminadora.
.......................................................
Reputa-se insignificante um fato, ainda que formalmente típico, quando
o seu resultado é desvalorizado, quando a lesão ao bem jurídico tutelado é
considerada ínfima. Nessa hipótese, entende a jurisprudência que tal fato ou
conduta é materialmente atípico e, portanto, não suscetível de gerar punição
estatal.
Disso depreende-se que o chamado ‘delito de bagatela’ está
intrinsecamente associado ao nível de lesão ao bem jurídico tutelado. A avaliação
da tipicidade da conduta, portanto, exige a individualização do bem jurídico
protegido pela norma incriminadora e a avaliação do grau de lesão por ele sofrido.
.......................................................
É sob essas premissas que a conduta de portar ou usar substância
entorpecente, em área sob administração militar, deve ser analisada. Tal
conduta encontra-se tipificada e definida no art. 290 do Código Penal Militar, com
o ‘nomen juris’ de tráfico, posse ou uso de entorpecentes ou substância de efeito
similar.
.......................................................
À toda evidência, o fato dito criminoso no caso em apreço não apresenta
real ofensa ao bem jurídico tutelado pela norma incriminadora. O soldado do
Exército, Alex Silva de Campos, foi surpreendido com 3,0g (três gramas).
Trata-se de quantidade ínfima, risível, incapaz de gerar a menor ameaça que
seja à saúde e incolumidade públicas, bem jurídicos tutelados pela norma penal
incriminadora.
É nesse sentido a jurisprudência dominante dos tribunais, aplicando a
casos semelhantes o princípio da insignificância, por ausência de lesão ou
ameaça de lesão ao bem jurídico penalmente protegido, quando a quantidade
encontrada é incapaz de gerar dependência química ou psicológica.” (grifei)

Sendo assim, em juízo de estrita delibação, e sem prejuízo de ulterior


reexame da questão suscitada nesta sede processual, defiro o pedido de medida
liminar, em ordem a suspender, cautelarmente, até final julgamento da presente
ação de “habeas corpus”, a eficácia da condenação penal imposta, ao ora paciente,
nos autos do Processo nº 04/06-7 (3ª Auditoria da 3ª Circunscrição Judiciária
Militar), sustando, em conseqüência, qualquer medida de execução das penas em

1
referência, mantido íntegro, desse modo, o “status libertatis” de Alex Silva de
Campos.
Caso o paciente, por algum motivo, tenha sido preso em decorrência de
mencionada condenação penal (Processo nº 04/06-7 – 3ª Auditoria da 3ª CJM),
deverá ele ser imediatamente posto em liberdade, se por al não estiver preso.
Comunique-se, com urgência, transmitindo-se cópia da presente decisão ao
E. Superior Tribunal Militar (Apelação nº 2006.01.050445-1), à 3ª Auditoria da 3ª
Circunscrição Judiciária Militar (Processo nº 04/06-7) e ao ilustre membro do
Ministério Público Militar que subscreveu a presente impetração (fls. 02/12).

Publique-se.

Brasília, 30 de maio de 2008.

Ministro CELSO DE MELLO


Relator

INFORMATIVO 507
Nada

INFORMATIVO 506

SEGUNDA TURMA

Regressão de Regime e Falta Grave

A Turma iniciou julgamento de habeas corpus impetrado contra acórdão do STJ que
reputara justificada a regressão de regime prisional imposto ao paciente por considerar
falta grave a evasão de estabelecimento prisional. No caso, a mencionada sanção fora
aplicada após a recaptura do paciente que, condenado a pena em regime inicial semi-
aberto, obtivera o benefício de saída temporária e não regressara ao estabelecimento
penitenciário. A impetração sustenta que: a) os problemas graves de saúde do
paciente justificariam o fato de ele não haver retornado à prisão; b) o paciente não
cometera crime durante o período em que permanecera solto; c) o juiz da execução,
apesar de reconhecer a falta grave, não decretara a regressão de regime, restringindo-
se a cominar sanção disciplinar de isolamento e de averbação no prontuário do
apenado; d) a determinação de regressão para regime mais gravoso do que o fixado
na sentença condenatória não seria cabível. O Min. Eros Grau, relator, deferiu o writ
para cassar o acórdão do STJ e restabelecer o do Tribunal de Justiça do Estado do Rio
Grande do Sul, que vedara a regressão do regime semi-aberto para o fechado.
Enfatizou que, não obstante o entendimento de ambas as Turmas do STF no sentido
de que a prática de falta grave resulta na regressão do regime de cumprimento da
pena, na espécie, essa regressão não seria possível porque, quando do cometimento
da falta grave, o paciente ainda cumpria pena no regime inicial fixado na sentença
condenatória. Assim, não seria coerente admitir que a condenação do paciente se
tornasse mais severa, na fase de execução penal, em razão da prática da falta grave.
Essa, em tal hipótese, serviria para se determinar a recontagem do prazo necessário à
progressão. Ademais, asseverou que seria ilógico que o réu pudesse regredir de
regime sem ter progredido. Após o voto do Min. Joaquim Barbosa acompanhando o

1
relator, pediu vista a Min. Ellen Gracie.
HC 93761/RS, rel. Min. Eros Grau, 13.5.2007. (HC-93761)

INFORMATIVO 505

Art. 14 da Lei 10.826/2003 e Tipicidade Material

O mero fato de o funcionamento de arma de fogo não ser perfeito não afasta a
tipicidade material do crime definido no art. 14 da Lei 10.826/2003. Com base nesse
entendimento, a Turma indeferiu habeas corpus em que condenado por porte ilegal de
arma de fogo pleiteava o reconhecimento da atipicidade material de sua conduta, sob
a alegação de que não restara comprovada, de forma válida, a potencialidade lesiva da
arma apreendida. Aduzia, ainda, que a constitucionalidade do delito de arma
desmuniciada encontrar-se-ia em análise nesta Corte. Inicialmente, asseverou-se que
o presente writ não trataria do caso do porte de arma sem munição, nem do porte de
munição sem arma, dado que o paciente fora denunciado porque trazia consigo
revólver municiado com cartuchos intactos. Considerou-se que, na espécie, a perícia
não concluíra pela inidoneidade da arma municiada portada pelo paciente. Ressaltou-
se que o revólver não apresentava perfeitas condições de funcionamento, mas,
conforme destacado na sentença condenatória, possuiria aptidão de produzir disparos,
o que seria suficiente para atingir o bem juridicamente tutelado.
HC 93816/RS, rel. Min. Joaquim Barbosa, 6.5.2008. (HC-93816)

ECA: Remissão e Medida Sócio-Educativa - 1

A Turma deu provimento a recurso extraordinário para reformar acórdão do Tribunal


de Justiça do Estado de São Paulo que, por reputar inconstitucional a parte final do art.
127 do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, afastara medida sócio-educativa
aplicada a adolescente (“Art. 127. A remissão não implica necessariamente o
reconhecimento ou comprovação da responsabilidade, nem prevalece para efeito de
antecedentes, podendo incluir eventualmente a aplicação de qualquer das medidas
previstas em lei, exceto a colocação em regime de semiliberdade e internação.”).
Salientou-se que a remissão é instituto jurídico expressamente previsto no ECA
(artigos 126 a 128) e que pode ser identificado como a possibilidade da suspensão ou
do encerramento do procedimento judicial iniciado para a apuração de ato infracional,
sem incursão no exame da autoria e da materialidade do caso sub judice. Ademais,
aduziu-se que Lei 8.069/90 prevê duas espécies de remissão, a saber: a) pré-
processual ou ministerial (ECA, art. 126, caput), proposta pelo Ministério Público antes
do início do procedimento judicial para averiguação de ato infracional e que tem como
conseqüência a exclusão do processo; e b) judicial (ECA, art. 126, parágrafo único),
cabível depois de iniciado o procedimento judicial e proposta pela autoridade judiciária,
podendo suspender ou extinguir o processo. Na espécie, entendeu-se que a medida
sócio-educativa aplicada ao menor dera-se por imposição da autoridade judiciária, que
homologara remissão cumulada à medida de advertência cominada por promotora de
justiça. Assim, concluiu-se pela ausência de violação de garantia constitucional,
porquanto a medida sócio-educativa emanara de órgão judicial competente.
RE 248018/SP, rel. Min. Joaquim Barbosa, 6.5.2008. (RE-248018)

ECA: Remissão e Medida Sócio-Educativa - 2

Em seguida, ultrapassada a questão referente à legitimidade para imposição da


medida sócio-educativa, asseverou-se que a argüição incidental de

1
inconstitucionalidade da parte final do art. 127 do ECA merecia apreciação.
Considerou-se, no ponto, que não haveria afronta ao devido processo legal na
cumulação da remissão com a medida de advertência. Enfatizou-se que a incidência
dessa medida poderia ser vista, na hipótese, como um modo de o Poder Judiciário
chamar a atenção do adolescente, alertando-o para a gravidade de seus atos, sem ter
que submetê-lo ao streptus inerente a um procedimento judicial. Ademais, destacou-se
que o Pleno desta Corte já assentara que o aludido dispositivo legal não violaria
qualquer norma constitucional. RE provido para reformar o acórdão impugnado,
afastando-se a declaração de inconstitucionalidade nele contida, e reconhecendo-se a
possibilidade de aplicação de medida sócio-educativa, pela autoridade judiciária, a
requerimento do Ministério Público, em remissão por este concedida. Precedente
citado: RE 229382/SP (DJU de 31.10.2002).
RE 248018/SP, rel. Min. Joaquim Barbosa, 6.5.2008. (RE-248018)

INFORMATIVO 504
nada

INFORMATIVO 503

PRIMEIRA TURMA

HC de Ofício: Porte de Arma e Perícia


A Turma indeferiu habeas corpus em que condenado pela prática do crime de
porte ilegal de arma de fogo (Lei 9.437/97, art. 10, caput) almejava o
restabelecimento de sua absolvição. Na espécie, a sentença condenatória fora
reformada pelo tribunal de justiça local que o absolvera por reconhecer a nulidade do
exame de “constatação de funcionamento e potencialidade” da arma, realizado por
policiais civis e não por peritos. O Ministério Público estadual interpusera, então,
recurso especial, provido sob o fundamento de que seria prescindível para a afirmação
da caracterização do crime previsto no art. 10 da Lei 9.437/97 a análise pericial que
atestasse a potencialidade da arma apreendida. A Min. Cármen Lúcia, relatora,
ressaltou que a questão de fundo objeto da impetração não se confundiria com aquela
submetida ao Plenário, referente à atipicidade da arma desmuniciada e sem
possibilidade de municiamento imediato. Tratar-se-ia de saber se a aptidão da arma
para o disparo, independentemente de estar ela municiada ou não, constituiria
elemento indispensável para a caracterização do crime de porte de arma. O Min.
Menezes Direito aduziu que essa matéria relativa à perícia deveria ser de início
apreciada. Se reputada dispensável a perícia, seria cabível a concessão da ordem, de
ofício, para que o tribunal local analisasse os outros argumentos da defesa; se
necessária, e tendo em conta a nulidade do laudo pericial, seria viável o
restabelecimento do acórdão proferido pela Corte de origem. Enfatizou-se, contudo,
que o tribunal de justiça restringira-se a absolver o paciente sem apreciar as demais
questões suscitadas na sua apelação e que o STJ, ao prover o recurso especial do
parquet, não poderia, desde logo, restabelecer a condenação imposta em 1º grau.
Dessa forma, denegou-se o pedido formulado, porém, concedeu-se habeas corpus de
ofício, para que se prossiga na apreciação da apelação perante o Tribunal de Justiça do
Estado do Rio Grande do Sul. O Min. Marco Aurélio explicitou em seu voto que o porte
prescinde da averiguação se a arma estaria apropriada ou não ao uso.
HC 89665/RS, rel. Min. Cármen Lúcia, 22.4.2008. (HC-89665)

Detração e Crime Anterior

1
Não é possível creditar-se ao réu, para fins de detração, tempo de
encarceramento anterior à prática do crime que deu origem à condenação atual. Com
base nessa jurisprudência, a Turma indeferiu habeas corpus em que se pretendia
abater da pena aplicada ao paciente período em que este estivera anteriormente
custodiado. Asseverou-se que, se acolhida a tese da defesa, considerando esse período
como “crédito” em relação ao Estado, estar-se-ia concedendo ao paciente um “bill” de
indenidade. Precedentes citados: RHC 61195/SP (DJU de 23.9.83); HC 55614/SP (DJU
de 3.3.78); HC 51807/Guanabara (DJU de 23.8.74).
HC 93979/RS, rel. Min. Cármen Lúcia, 22.4.2008. (HC-93979)

ECA e Prescrição Penal


Por não vislumbrar constrangimento ilegal, a Turma indeferiu habeas corpus em
que pleiteado o reconhecimento da prescrição da pretensão executória de medida
sócio-educativa. Inicialmente, reputou-se cabível a incidência do instituto em questão
a tais medidas dispostas na Lei 8.069/90. Asseverou-se que, em princípio, as normas
gerais do Código Penal seriam integralmente aplicáveis às hipóteses sujeitas ao
Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, incluindo-se os dispositivos referentes à
prescrição, haja vista não existirem incompatibilidades entre as medidas sócio-
educativas e as normas que prevêem a extinção da punibilidade pelo transcurso do
lapso temporal. Ressaltou-se que o fato de o ECA não ter previsto a prescrição como
forma de extinção da pretensão punitiva e executória não seria motivo suficiente para
afastá-la. Em seguida, enfatizando que tal diploma não estabelecera quantum mínimo
e máximo das medidas sócio-educativas, aduziu-se que aí residiria a dificuldade em se
fixar o parâmetro a ser adotado para a aplicação dos prazos prescricionais. No ponto,
entendeu-se que a maneira mais adequada de resolver o tema, sem criar tertium
genus e sem ofender o princípio da reserva legal, seria a solução adotada, pelo STJ, no
acórdão impugnado: considerar a pena máxima cominada ao crime pela norma
incriminadora pertinente, combinada com a redução à metade do prazo prescricional,
em virtude da menoridade, prevista no art. 115 do CP. Assim, tendo em conta o lapso
temporal decorrido, verificou-se que a prescrição não estaria configurada na espécie.
HC 88788/SP, rel. Min. Joaquim Barbosa, 22.4.2008. (HC-88788)

INFORMATIVO 502
nada

INFORMATIVO 501

Furto Qualificado e Hibridismo Penal


A causa de aumento de pena relativa ao concurso de pessoas no crime de roubo
(CP, art. 157, § 2º) não pode ser aplicada ao crime de furto quando existe, para este,
idêntica previsão legal de aumento de pena (CP, art. 155, § 4º, IV). Com base nesse
entendimento, a Turma indeferiu habeas corpus em que pleiteada a anulação de todo o
processo criminal ou o restabelecimento do acórdão do tribunal de origem, mais
benéfico ao paciente, que, ao aplicar à pena de furto simples a majorante prevista
para o crime de roubo, reduzira a sanção imposta. Rejeitou-se, ainda, a alegação de
ilegalidade no reconhecimento da reincidência, a traduzir bis in idem. Asseverou-se
que o recrudescimento da sanção resultaria da escolha do paciente por continuar
delinqüindo. Precedentes citados: HC 92626/RS (j. em 25.3.2008); HC 73394/SP (DJU
de 21.3.97); HC 74746/SP (DJU de 11.4.97); HC 91688/RS (DJU de 26.10.2007).
HC 93620/RS, rel. Min. Eros Grau, 8.4.2008. (HC-93620)

1
INFORMATIVO 500

PRIMEIRA TURMA

Crime Continuado e Reunião de Feitos - 3


A Turma concluiu julgamento de habeas corpus em que advogado, denunciado por
suposta obtenção fraudulenta de benefícios junto ao INSS (CP, artigos 71, § 3º; 299 e
304), pretendia o reconhecimento da continuidade delitiva em relação aos crimes
imputados, bem como a reunião de mais de 500 processos em curso contra ele — v.
Informativo 495. Em votação majoritária, deferiu-se parcialmente a ordem para
determinar que os processos instaurados contra o paciente sejam submetidos ao
mesmo juízo prevento. Asseverou-se que, relativamente à reunião dos feitos com base
nas conexões subjetiva e probatória, se o juiz natural da causa reputara não ser
conveniente a reunião dos processos em uma única ação, não caberia ao STF, em
habeas corpus, substituir-se ao órgão julgador para afirmar o contrário. Além disso,
enfatizou-se que, desde que submetidos ao mesmo juízo, o magistrado pode utilizar-se
da faculdade de não reunir processos conexos, por força do que dispõe a regra contida
no art. 80 do CPP (“Será facultativa a separação dos processos quando as infrações
tiverem sido praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando
pelo excessivo número de acusados e para não lhes prolongar a prisão provisória, ou
por outro motivo relevante, o juiz reputar conveniente a separação.”). Observou-se, no
entanto, que embora a conexão não implique, necessariamente, a reunião dos feitos
em um único processo, eles devem ser submetidos à competência do mesmo juízo
prevento. De outro lado, quanto à alegada inviabilização do direito de ampla defesa do
paciente, entendeu-se que a multiplicidade de ações penais não constituiria, por si só,
obstáculo ao exercício dessa garantia, não podendo o vício em questão ser invocado
em situações abstratas. Vencidos, em parte, os Ministros Marco Aurélio e Carlos Britto,
que deferiam o writ em maior extensão para fulminar os processos em curso e
assentar que apenas um deveria merecer a seqüência cabível. O Min. Carlos Britto
reajustou o voto proferido em 19.2.2008.
HC 91895/SP, rel. Min. Menezes Direito, 1º.4.2008. (HC-91895)

Prisão Preventiva e Progressão de Regime


A Turma iniciou julgamento de habeas corpus em que condenado pela prática dos
crimes de quadrilha, falsidade ideológica, coação no curso do processo e favorecimento
pessoal, preso preventivamente desde meados de 2004, reitera as alegações de
excesso de prazo da custódia e ausência de fundamentação na sentença condenatória.
A Min. Cármen Lúcia, relatora, indeferiu o writ, no que foi acompanhada pelos
Ministros Ricardo Lewandowski e Menezes Direito. Inicialmente, aplicou a
jurisprudência da Corte no sentido de que, com a superveniência da sentença
condenatória, que constitui novo título da prisão, encontra-se superada a questão
relativa ao antecedente excesso de prazo. Entendeu que, com o julgamento da
apelação interposta pelo paciente, além de prejudicada a matéria concernente à
excessiva demora na apreciação daquele recurso, também não haveria mais que se
discutir eventual falta de motivação da sentença condenatória, a qual fora substituída
pelo acórdão de apelação. A relatora informou, ainda, que na presente impetração não
houvera a formulação de pedido específico quanto a possíveis benefícios referentes à
execução da pena. Assentou que, não obstante o paciente tivesse sustentado seu
direito à progressão de regime e ao livramento condicional, poder-se-ia concluir que o
tema fora suscitado somente a título de evidência do alegado excesso de prazo da
prisão. No ponto, considerou não caber a concessão da ordem, de ofício, uma vez que

1
as instâncias antecedentes decidiram corretamente ao deixar de analisar o pleito de
progressão, enfatizando que, já tendo sido extraída guia de execução provisória da
sentença, caberia ao paciente requerer aquele benefício, originariamente, ao juízo das
execuções criminais, sob pena de supressão de instância. Por outro lado, aduziu que o
exame dos requisitos para a concessão dos benefícios da progressão de regime de
cumprimento da pena, ou mesmo livramento condicional, ultrapassaria os limites da
via eleita. Após o voto do Min. Marco Aurélio que concedia a ordem por vislumbrar
excesso de prazo, pediu vista o Min. Carlos Britto.
HC 93443/RJ, rel. Min. Cármen Lúcia, 1º.4.2008. (HC-93443)

Roubo: Emprego de Arma de Fogo e Causa de Aumento


A Turma iniciou julgamento de habeas corpus impetrado contra acórdão do STJ
que restabelecera a condenação do paciente ao fundamento de que, para a
caracterização da majorante prevista no art. 157, § 2º, I, do CP, não seria exigível que
a arma de fogo fosse periciada ou apreendida, desde que comprovado, por outros
meios, que fora devidamente utilizada para intimidar a vítima. No caso, o paciente
ingressara, com arma de fogo na cintura, em estabelecimento comercial e, subjugando
funcionária, subtraíra valores. A impetração requer a manutenção da pena imposta
pelo tribunal de origem, ao argumento de que seria indispensável a apreensão e a
perícia da arma para aferição da mencionada causa de aumento. Sustenta que a
potencialidade lesiva desse instrumento não poderia ser atestada por outros elementos
de prova contidos nos autos. A Min. Cármen Lúcia, relatora, deferiu o writ para anular
o referido acórdão do STJ e restabelecer a condenação do paciente pelo crime de
roubo, descrito no art. 157, caput, do CP. Entendeu que o emprego de arma de fogo
simulada, ineficiente, descarregada ou arma de brinquedo não poderia constituir causa
especial de aumento de pena na prática do roubo, embora pudesse servir de
instrumento de intimidação. Asseverou ser incabível dar ao objeto “arma” alcance
extensivo, diverso daquele que a caracteriza como instrumento capaz de lesar a
integridade física de alguém, sob pena de se atribuir à majorante interpretação diversa
para conseqüente aplicação extensiva, proibida no Direito Penal. Assim, enfatizou que,
se a arma não for apreendida para fins de perícia ou não for possível atestar a sua
potencialidade lesiva por outros meios de prova, como ocorrera na espécie, não teria a
acusação como fazer prova da idoneidade da arma. Nessas condições, considerou que
a aludida arma deveria ser reputada inidônea à ofensividade exigida pela norma, e,
ainda, ineficaz à causação efetiva ou potencial de dano, o que impediria a incidência da
causa de aumento disposta no inciso I do § 2º do art. 157 do CP. Após, o julgamento
foi suspenso em virtude do pedido de vista do Min. Ricardo Lewandowski.
HC 92871/SP, rel. Min. Cármen Lúcia, 1º.4.2008. (HC-92871)

Crime de Receptação - Cominação Penal - Ofensa ao Princípio da


Proporcionalidade (Transcrições)

HC 92525 MC/RJ*

RELATOR: MIN. CELSO DE MELLO

EMENTA: RECEPTAÇÃO SIMPLES (DOLO DIRETO) E RECEPTAÇÃO


QUALIFICADA (DOLO INDIRETO EVENTUAL). COMINAÇÃO DE PENA MAIS LEVE
PARA O CRIME MAIS GRAVE (CP, ART. 180, “CAPUT”) E DE PENA MAIS SEVERA
PARA O CRIME MENOS GRAVE (CP, ART. 180, § 1º). TRANSGRESSÃO, PELO
LEGISLADOR, DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA PROPORCIONALIDADE
E DA INDIVIDUALIZAÇÃO “IN ABSTRACTO” DA PENA. LIMITAÇÕES MATERIAIS
QUE SE IMPÕEM À OBSERVÂNCIA DO ESTADO, QUANDO DA ELABORAÇÃO DAS

1
LEIS. A POSIÇÃO DE ALBERTO SILVA FRANCO, DAMÁSIO E. JESUS E DE CELSO,
ROBERTO, ROBERTO JÚNIOR E FÁBIO DELMANTO. A PROPORCIONALIDADE
COMO POSTULADO BÁSICO DE CONTENÇÃO DOS EXCESSOS DO PODER
PÚBLICO. O “DUE PROCESS OF LAW” EM SUA DIMENSÃO SUBSTANTIVA (CF,
ART. 5º, INCISO LIV). DOUTRINA. PRECEDENTES. A QUESTÃO DAS
ANTINOMIAS (APARENTES E REAIS). CRITÉRIOS DE SUPERAÇÃO.
INTERPRETAÇÃO AB-ROGANTE. EXCEPCIONALIDADE. UTILIZAÇÃO,
SEMPRE QUE POSSÍVEL, PELO PODER JUDICIÁRIO, DA INTERPRETAÇÃO
CORRETIVA, AINDA QUE DESTA RESULTE PEQUENA MODIFICAÇÃO NO TEXTO
DA LEI. PRECEDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. MEDIDA CAUTELAR
DEFERIDA.

INFORMATIVO Nº 499

Lei 11.596/2007: Prescrição e Acórdão Condenatório


A Lei 11.596/2007, ao alterar a redação do inciso IV do art. 117 do CP (“Art. 117 -
O curso da prescrição interrompe-se: ... IV - pela publicação da sentença ou acórdão
condenatórios recorríveis;”), apenas confirmara pacífico posicionamento doutrinário e
jurisprudencial no sentido de que o acórdão condenatório reveste-se de eficácia
interruptiva da prescrição penal. Com base nesse entendimento, a Turma indeferiu
habeas corpus em que pleiteada a declaração de extinção da punibilidade do paciente
que, inicialmente condenado por abuso de autoridade (Lei 4.898/65, art. 4º, a), tivera
sua sentença reformada, pelo tribunal de justiça local, para a prática do crime de
extorsão, sendo este acórdão anulado pelo STJ no tocante à causa especial de
aumento de pena. Inicialmente, aduziu-se ser juridicamente relevante a existência de
dois lapsos temporais, a saber: a) entre a data do recebimento da denúncia e a
sentença condenatória e b) entre esta última e o acórdão que reformara em definitivo
a condenação, já que o acórdão que modifica substancialmente decisão monocrática
representa novo julgamento e assume, assim, caráter de marco interruptivo da
prescrição. Tendo em conta a pena máxima cominada em abstrato para o delito de
extorsão simples ou a sanção concretamente aplicada, constatou-se que, no caso, a
prescrição não se materializara. O Min. Marco Aurélio ressaltou em seu voto que a
mencionada Lei 11.596/2007 inserira mais um fator de interrupção, pouco importando
a existência de sentença condenatória anterior, sendo bastante que o acórdão, ao
confirmar essa sentença, também, por isso mesmo, mostre-se condenatório.
HC 92340/SC, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 18.3.2008. (HC-92340)

Trancamento de Ação Penal e Norma Penal em Branco


Constitui ilegalidade reparável pela via do habeas corpus fazer com que alguém
responda pelo exercício ilegal de uma profissão que ainda não foi regulamentada. Com
base nesse entendimento, a Turma deferiu, em parte, habeas corpus para determinar,
quanto à acusação de exercício ilegal da profissão de árbitro ou mediador (Lei de
Contravenções Penais, art. 47), o trancamento de ação penal instaurada contra
acusada também pela suposta prática dos delitos de formação de quadrilha, falsidade
ideológica e usurpação de função pública (CP, artigos 288, 299 e 328, parágrafo único,
respectivamente). Considerou-se que, ausente regulamentação legal das condições
jurídicas necessárias ao desempenho da função de árbitro, ou mediador, não seria
possível dar-se por caracterizada, nem mesmo em tese, a conduta descrita no art. 47
da LCP (“Art. 47. Exercer profissão ou atividade econômica ou anunciar que a exerce,

1
sem preencher as condições a que por lei está subordinado o seu exercício:”).
Enfatizou-se que os requisitos referidos na figura típica devem estar regulamentados
por lei, sem os quais restaria inviabilizado, no caso, o manejo da ação penal com base
no art. 47 da LCP que, por se tratar de norma penal em branco, depende da indicação
de lei que estabeleça as condições para o exercício de determinada atividade.
Entendeu-se que, quanto aos demais crimes, a denúncia apresentaria os elementos
mínimos necessários ao prosseguimento da persecução penal.
HC 92183/PE, rel. Min. Carlos Britto, 18.3.2008. (HC-92183)

Furto Qualificado e Hibridismo Penal


A Turma indeferiu habeas corpus em que condenado pela prática de furto
qualificado pelo concurso de agentes (CP, art. 155, § 4º, III) pleiteava a manutenção
da decisão proferida pelo tribunal de origem que, ao aplicar à pena de furto simples a
majorante prevista para o crime de roubo (CP, art. 157, § 2º), reduzira a sanção
imposta. Inicialmente, salientou-se que a analogia in bonam parte realizada pelo
tribunal de justiça estadual — que aumentara a pena-base do furto em um terço e não
no dobro, como determina a lei —, ainda que com fundamento nos princípios
constitucionais da proporcionalidade e da isonomia, não se mostrara de boa técnica.
Esclareceu-se que o legislador estabelecera diferença entre a qualificadora existente no
furto e a causa de aumento de pena disposta na hipótese de roubo. Asseverou-se que,
do ponto de vista técnico, não se poderia afirmar que o legislador aumentara a pena
do furto no caso de concurso de agentes, mas que, na verdade, ter-se-ia novo tipo
penal, cujo elemento definidor seria o concurso. Ademais, considerou-se errônea a
assertiva de que o legislador, na espécie, não teria atentado para a necessária
proporcionalidade entre o crime e a pena, pois ao criar novo tipo penal, com a
correspondente sanção, certamente levara em conta critérios de valoração, em
matéria de política criminal, que não se reduziriam a mera equivalência aritmética.
Assim, entendeu-se que, em se tratando de furto qualificado, não haveria exasperação
circunstancial a partir de um tipo penal básico, como ocorre no roubo, porém uma
figura típica diversa para a qual cominada sanção autônoma, não se podendo concluir,
dessa forma, que o aumento da pena em dobro (CP, art. 155, § 4º) violaria aos
mencionados princípios constitucionais da proporcionalidade e da isonomia.
HC 92626/RS, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 25.3.2008. (HC-92626)

Liberdade Provisória: Lei 11.464/2007 e Tráfico de Drogas - 1


A Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus impetrado contra acórdão do STJ
que denegara liberdade provisória a denunciado pela suposta prática do crime de
tráfico ilícito de drogas (Lei 11.343/2006, art. 33, caput) que, preso em flagrante em
10.2.2007, alegava excesso de prazo e falta de óbices à concessão do referido
benefício. Preliminarmente, tendo em conta a jurisprudência do STF no sentido de que,
com a superveniência da sentença condenatória, que constitui novo título da prisão,
encontra-se superada a questão relativa ao antecedente excesso de prazo da custódia,
não se conheceu do writ, no ponto. Contudo, entendeu-se que, nas circunstâncias do
caso, não restaria prejudicado o exame do pedido de concessão de liberdade
provisória, uma vez que a solução quanto ao seu cabimento teria influência direta na
discussão relativa à possibilidade de o paciente apelar em liberdade. Assim, salientou-
se que, se correta a tese sustentada pela defesa de que deveria ter sido concedida a
liberdade provisória desde o início do processo, o paciente, ao tempo da sentença,
estaria em liberdade e, portanto, poderia, em princípio, suscitar a aplicação do art. 59
da Lei 11.343/2006 (“Nos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 a 37 desta

1
Lei, o réu não poderá apelar sem recolher-se à prisão, salvo se for primário e de bons
antecedentes, assim reconhecido na sentença condenatória.”).
HC 93302/SP, rel. Min. Cármen Lúcia, 25.3.2008. (HC-93302)

Liberdade Provisória: Lei 11.464/2007 e Tráfico de Drogas - 2


No mérito, aduziu-se que, para a Constituição, a prisão em flagrante seria espécie
de prisão processual, ficando, de regra, reservada à legislação ordinária definir se
admite, ou não, a liberdade provisória, podendo tal benesse ser negada de duas
formas: a) expressamente ou b) dispondo que o delito é inafiançável. Se admitida, a
liberdade provisória pode dar-se com ou sem o pagamento de fiança. Nesse sentido,
os incisos LXVI, (“ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir
a liberdade provisória, com o sem fiança;”), XLII (“a prática do racismo constitui crime
inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;”) e XLIII
(“a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da
tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos
como crimes hediondos...”), todos do art. 5º, da CF. No tocante a esse último
dispositivo, asseverou-se que esse inciso possuía eficácia limitada até a superveniência
da Lei 8.072/90 (art. 2º, II), que proibiu a concessão de fiança e liberdade provisória
aos crimes hediondos e equiparados. No ponto, esclareceu-se que, para o deslinde da
presente questão, dever-se-ia analisar se a Lei 11.464/2007, ao alterar o referido art.
2º, II, da Lei 8.072/90, excluindo a expressão “e liberdade provisória”, teria
possibilitado a concessão desta aos presos em flagrante pela prática de tortura, tráfico
de entorpecentes e drogas afins, terrorismo e delitos definidos como hediondos.
HC 93302/SP, rel. Min. Cármen Lúcia, 25.3.2008. (HC-93302)

Liberdade Provisória: Lei 11.464/2007 e Tráfico de Drogas - 3


Considerou-se que a inafiançabilidade imposta ao delito imputado ao paciente
bastaria para impedir a concessão de liberdade provisória, sendo irrelevante a
alteração efetuada pela Lei 11.464/2007 que, mantendo a vedação de fiança, somente
retirara uma redundância contida no texto originário do art. 2º, II, da Lei 8.072/90.
Ressaltou-se que esta Corte possui orientação consolidada no sentido de que a
proibição de liberdade provisória nos processos por crimes hediondos e assemelhados
decorre da própria inafiançabilidade imposta pela Constituição à legislação ordinária.
Dessa forma, por maiores razões, incabível esse benefício aos presos em flagrante por
tráfico de drogas. Ademais, enfatizou-se que a Lei 11.464/2007 não alcançaria os
dispositivos legais que cuidam do delito de tráfico de drogas que, ao tempo da sua
entrada em vigor, já contava com disciplina específica a respeito (Lei 11.343/2006:
“Art. 44. Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 a 37 desta Lei são
inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e liberdade provisória,
vedada a conversão de suas penas em restritivas de direitos. Parágrafo único. Nos
crimes previstos no caput deste artigo, dar-se-á o livramento condicional após o
cumprimento de dois terços da pena, vedada sua concessão ao reincidente
específico.”). Assim, reputou-se que a Lei 11.464/2007 não poderia modificar a
disciplina que, quando do seu advento, já constava de lei especial, aplicável à espécie.
Por fim, rejeitou-se a proposta de concessão de habeas corpus de ofício para que o
paciente progredisse de regime prisional, porquanto ainda pendente de apreciação
recurso da acusação que, se provido, majoraria a pena a período superior ao tempo
em que custodiado o paciente. Atentou-se para o fato de que este fora preso em
flagrante quando vigente a Lei 11.343/2006, que passou a exigir, na hipótese, o
cumprimento de, pelo menos, 2/5 da pena para a progressão. Vencido, no ponto, o
Min. Marco Aurélio que concedia a ordem, de ofício, para que o juízo de primeiro grau
analisasse as condições, visando à progressão de regime de cumprimento da pena.

2
HC 93302/SP, rel. Min. Cármen Lúcia, 25.3.2008. (HC-93302)

Substância Entorpecente - Porte - Crime Militar - Aplicabilidade da Norma


Penal mais Benéfica (Transcrições)

HC 94085 MC/SP*

RELATOR: MIN. CELSO DE MELLO

EMENTA: PORTE DE SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE. CRIME MILITAR (CPM,


ART. 290). SUPERVENIÊNCIA DA LEI Nº 11.343/2006, CUJO ART. 28 – POR
NÃO SUBMETER O AGENTE A PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE – QUALIFICA-
SE COMO NORMA PENAL BENÉFICA. CONTROVÉRSIA EM TORNO DA
APLICABILIDADE, OU NÃO, A ESSE DELITO MILITAR (CPM, ART. 290), DO
ART. 28 DA LEI Nº 11.343/2006. A QUESTÃO DA PRECEDÊNCIA DO PRINCÍPIO
CONSTITUCIONAL DA “LEX MITIOR” SOBRE REGRAS PENAIS MAIS GRAVOSAS,
MESMO QUE INSCRITAS EM DIPLOMA NORMATIVO QUALIFICADO COMO “LEX
SPECIALIS”. DOUTRINA. PRECEDENTE DO STF (2ª TURMA). INVOCAÇÃO,
AINDA, DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA, COMO FATOR DE
DESCARACTERIZAÇÃO MATERIAL DA TIPICIDADE PENAL. POSSIBILIDADE DE
SUA APLICAÇÃO AOS CRIMES MILITARES. PRECEDENTES DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL. MEDIDA CAUTELAR DEFERIDA.

DECISÃO: A presente impetração insurge-se contra decisão, que, emanada do E.


Superior Tribunal Militar, encontra-se consubstanciada em acórdão assim
ementado (fls. 16):

“APELAÇÃO. PORTE DE SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE. PRINCÍPIO DA


INSIGNIFICÂNCIA. APLICAÇÃO DA LEI 11.343/06. IMPOSSIBILIDADE.
- Não há que se falar da não aplicação do ‘caput’ do art. 290 em razão da
edição da nova Lei de Tóxicos.
- O princípio da insignificância igualmente não se aplica aos casos de
porte de entorpecente em área sujeita à administração militar.
- Recurso improvido. Decisão unânime.” (grifei)

A parte ora impetrante postula a anulação da “(...) condenação, para aplicar-


se o disposto no art. 28 da Lei nº 11.343/2006” (fls. 04).

Passo a examinar o pedido de medida cautelar formulado pela Defensoria


Pública da União. E, ao fazê-lo, tenho para mim, na linha de decisão por mim
proferida no HC 93.822-MC/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO, não obstante
julgamentos em sentido contrário emanados da colenda Primeira Turma do
Supremo Tribunal Federal (HC 91.759/MG, Rel. Min. MENEZES DIREITO - HC
92.462/RS, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA), que se reveste de plausibilidade jurídica a
tese sustentada na presente impetração, que se fundamenta na aplicabilidade, ao
crime militar de porte e guarda de substância entorpecente (CPM, art. 290), da
disciplina penal mais benéfica consubstanciada na Lei nº 11.343/2006, que se
qualifica, sob tal perspectiva, considerado o disposto no art. 28 desse novo
diploma legislativo, como verdadeira “lex mitior”.

2
É importante registrar, neste ponto, que, com a superveniência da Lei nº
11.343/2006 – e ainda que mantida, por esta, a criminalidade do porte de
drogas para consumo pessoal (RE 430.105-QO/RJ, Rel. Min. SEPÚLVEDA
PERTENCE) -, tal conduta, agora, não mais sofre a incidência de pena privativa de
liberdade, expondo-se, ao contrário, a penas meramente restritivas de direitos.

É por essa razão que os autores qualificam como juridicamente mais benigna
essa nova legislação penal (GUILHERME DE SOUZA NUCCI, “Leis Penais e
Processuais Penais Comentadas”, p. 303/310, 2ª ed., 2007, RT; RENATO MARCÃO,
“A Nova Lei de Drogas e seus Reflexos na Execução Penal”, “in” Consulex, ano
XI, nº 258, p. 58/62; LUIZ FLÁVIO GOMES, “Lei de Drogas Comentada Artigo por
Artigo: Lei 11.343/2006, de 23.08.2006”, p. 155, item n. 7, 2ª ed., 2007, RT; e
JOSÉ GERALDO DA SILVA, WILSON LAVORENTI e FABIANO GENOFRE, “Leis Penais
Especiais Anotadas”, p. 186/200, item n. 4, 9ª ed., 2006, Millennium, v.g.), o que
legitima a aplicação da cláusula inscrita no inciso XL do art. 5º da Constituição da
República, cuja eficácia tem o condão de inibir a incidência de normas penais mais
gravosas, à semelhança do que se registra com o art. 290 do CPM (“lex gravior”).

Não se pode perder de perspectiva, neste ponto, que a norma penal benéfica
– como aquela inscrita no art. 28 da Lei nº 11.343/2006 (notadamente se
confrontada com a regra consubstanciada no art. 290 do CPM) – reveste-se de
eficácia retroativa, apta a torná-la incidente, enquanto “lex mitior”, a fatos delituosos
praticados em momento anterior ao de sua vigência.

Impende reconhecer, por necessário, que a eficácia retroativa da lei penal


benéfica possui extração constitucional, traduzindo, sob tal aspecto, inquestionável
direito público subjetivo que assiste a qualquer suposto autor de infrações penais.

Esse entendimento – decorrente do exame do significado e do alcance normativo


da regra consubstanciada no inciso XL do art. 5º da Constituição Federal - reflete-se
no magistério jurisprudencial firmado por esta Suprema Corte (RTJ 140/514, Rel.
Min. CELSO DE MELLO – RTJ 151/525, Rel. Min. MOREIRA ALVES, v.g.) e, também,
por outros Tribunais da República (RT 467/313 – RT 605/314 - RT 725/526 - RT
726/518 – RT 726/523 - RT 731/666):

“LEI Nº 9.099/95 - CONSAGRAÇÃO DE MEDIDAS DESPENALIZADORAS


- NORMAS BENÉFICAS - RETROATIVIDADE VIRTUAL.
- Os processos técnicos de despenalização abrangem, no plano do direito
positivo, tanto as medidas que permitem afastar a própria incidência da sanção
penal quanto aquelas que, inspiradas no postulado da mínima intervenção
penal, têm por objetivo evitar que a pena seja aplicada, como ocorre na hipótese
de conversão da ação pública incondicionada em ação penal dependente de
representação do ofendido (Lei nº 9.099/95, arts. 88 e 91).
- A Lei nº 9.099/95, que constitui o estatuto disciplinador dos Juizados
Especiais, mais do que a regulamentação normativa desses órgãos judiciários
de primeira instância, importou em expressiva transformação do panorama
penal vigente no Brasil, criando instrumentos destinados a viabilizar,
juridicamente, processos de despenalização, com a inequívoca finalidade de
forjar um novo modelo de Justiça criminal, que privilegie a ampliação do
espaço de consenso, valorizando, desse modo, na definição das controvérsias
oriundas do ilícito criminal, a adoção de soluções fundadas na própria vontade
dos sujeitos que integram a relação processual penal.

2
Esse novíssimo estatuto normativo, ao conferir expressão formal e
positiva às premissas ideológicas que dão suporte às medidas
despenalizadoras previstas na Lei nº 9.099/95, atribui, de modo conseqüente,
especial primazia aos institutos (a) da composição civil (art. 74, parágrafo
único), (b) da transação penal (art. 76), (c) da representação nos delitos de
lesões culposas ou dolosas de natureza leve (arts. 88 e 91) e (d) da suspensão
condicional do processo (art. 89).
As prescrições que consagram as medidas despenalizadoras em causa
qualificam-se como normas penais benéficas, necessariamente
impulsionadas, quanto à sua aplicabilidade, pelo princípio constitucional que
impõe, à ‘lex mitior’, uma insuprimível carga de retroatividade virtual e,
também, de incidência imediata.”
(RTJ 162/483-484, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno)

“O sistema constitucional brasileiro impede que se apliquem leis


penais supervenientes mais gravosas, como aquelas que afastam a
incidência de causas extintivas da punibilidade (...), a fatos delituosos cometidos
em momento anterior ao da edição da ‘lex gravior’.
A eficácia ultrativa da norma penal mais benéfica - sob cuja égide foi
praticado o fato delituoso - deve prevalecer por efeito do que prescreve o art.
5º, XL, da Constituição, sempre que, ocorrendo sucessão de leis penais no
tempo, constatar-se que o diploma legislativo anterior qualificava-se como
estatuto legal mais favorável ao agente. Precedentes do Supremo Tribunal
Federal.”
(RTJ 186/252, Rel. Min. CELSO DE MELLO)

Vê-se, pois, que a circunstância de ordem temporal decorrente da sucessão


de leis penais no tempo revelar-se-ia apta a conferir aplicabilidade, no caso, às
disposições contidas no art. 28 da Lei nº 11.343/2006 (“lex mitior”).

É certo, no entanto, que a incidência, no caso, da cláusula constitucional da


norma penal benéfica supõe a resolução de uma antinomia que se registra entre o
que prescreve o art. 290 do CPM (“lex specialis”) e o que dispõe o art. 28 da Lei nº
11.343/2006 (“lex generalis”), a reclamar, portanto, como fator de superação
desse (aparente) conflito normativo, a aplicação do critério da especialidade.

Tal matéria, contudo, deverá constituir objeto de oportuno exame, quando


do julgamento final da causa por esta Suprema Corte, eis que este provimento
cautelar tem, como suporte, um mero juízo de delibação.

Assentadas tais premissas, torna-se imperioso salientar que assume


expressivo relevo a alegação de que a cláusula da aplicabilidade dos estatutos penais
benéficos, impregnada de caráter mandatório, por ostentar natureza
eminentemente constitucional (CF, art. 5º, XL), tem precedência sobre quaisquer
diplomas legislativos, independentemente de estes se subsumirem à noção mesma
de “lex specialis”.

Foi por tal motivo que o eminente Ministro GILMAR MENDES, na condição de
Relator do HC 91.356-MC/SP, deferiu o provimento cautelar então postulado,
fazendo-o com apoio em seu entendimento de que “o art. 28 da Lei nº 11.343, de
23 de agosto de 2006, poderia ser aplicado com relação ao ora paciente” (grifei),
não obstante se tratasse, no caso que examinou – e tal como sucede na espécie

2
ora em análise -, de condenação pelo crime militar de porte de substância
entorpecente (CPM, art. 290).

Não foi por outra razão que o Supremo Tribunal Federal, apreciando essa
mesma questão, deferiu ordem de “habeas corpus” em caso rigorosamente
idêntico ao que se examina na presente sede processual, e no qual proferiu decisão
consubstanciada em acórdão assim ementado:

“‘HABEAS CORPUS’. PENAL MILITAR. USO DE SUBSTÂNCIA


ENTORPECENTE. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. APLICAÇÃO NO
ÂMBITO DA JUSTIÇA MILITAR. ART. 1º, III, DA CONSTITUIÇÃO DO
BRASIL. PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA.
1. Paciente, militar, preso em flagrante dentro da unidade militar, quando
fumava um cigarro de maconha e tinha consigo outros três.
2. Condenação por posse e uso de entorpecentes (...).
.......................................................
4. A Lei n. 11.343/2006 - nova Lei de Drogas - veda a prisão do
usuário. Prevê, contra ele, apenas a lavratura de termo circunstanciado.
Preocupação, do Estado, em mudar a visão que se tem em relação aos usuários
de drogas.
5. Punição severa e exemplar deve ser reservada aos traficantes, não
alcançando os usuários. A estes devem ser oferecidas políticas sociais eficientes
para recuperá-los do vício.
6. O Superior Tribunal Militar não cogitou da aplicação da Lei n.
11.343/2006. Não obstante, cabe a esta Corte fazê-lo, incumbindo-lhe
confrontar o princípio da especialidade da lei penal militar, óbice à aplicação da
nova Lei de Drogas, com o princípio da dignidade humana, arrolado na
Constituição do Brasil de modo destacado, incisivo, vigoroso, como princípio
fundamental (art. 1º, III).
7. Paciente jovem, sem antecedentes criminais, com futuro comprometido
por condenação penal militar quando há lei que, em vez de apenar - Lei n.
11.343/2006 - possibilita a recuperação do civil que praticou a mesma
conduta.
8. Exclusão das fileiras do Exército: punição suficiente para que restem
preservadas a disciplina e hierarquia militares, indispensáveis ao regular
funcionamento de qualquer instituição militar.
9. A aplicação do princípio da insignificância no caso se impõe, a uma,
porque presentes seus requisitos, de natureza objetiva; a duas, em virtude da
dignidade da pessoa humana.
Ordem concedida.”
(HC 92.961/SP, Rel. Min. EROS GRAU - grifei)

Há a considerar, ainda, para efeito de exercício da jurisdição cautelar, um


outro fundamento que me parece juridicamente relevante.

Refiro-me à aplicabilidade, ao caso, do postulado da insignificância, cuja


utilização tem sido admitida, em inúmeros casos, pelo Supremo Tribunal
Federal:

“O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA QUALIFICA-SE COMO FATOR DE


DESCARACTERIZAÇÃO MATERIAL DA TIPICIDADE PENAL.
- O princípio da insignificância - que deve ser analisado em conexão com
os postulados da fragmentariedade e da intervenção mínima do Estado em

2
matéria penal - tem o sentido de excluir ou de afastar a própria tipicidade
penal, examinada na perspectiva de seu caráter material. Doutrina.
Tal postulado - que considera necessária, na aferição do relevo
material da tipicidade penal, a presença de certos vetores, tais como (a) a
mínima ofensividade da conduta do agente, (b) a nenhuma periculosidade
social da ação, (c) o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento
e (d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada - apoiou-se, em seu
processo de formulação teórica, no reconhecimento de que o caráter
subsidiário do sistema penal reclama e impõe, em função dos próprios
objetivos por ele visados, a intervenção mínima do Poder Público.
O POSTULADO DA INSIGNIFICÂNCIA E A FUNÇÃO DO DIREITO
PENAL: ‘DE MINIMIS, NON CURAT PRAETOR’.
- O sistema jurídico há de considerar a relevantíssima circunstância de que
a privação da liberdade e a restrição de direitos do indivíduo somente se
justificam quando estritamente necessárias à própria proteção das pessoas, da
sociedade e de outros bens jurídicos que lhes sejam essenciais, notadamente
naqueles casos em que os valores penalmente tutelados se exponham a dano,
efetivo ou potencial, impregnado de significativa lesividade.
O direito penal não se deve ocupar de condutas que produzam resultado
cujo desvalor - por não importar em lesão significativa a bens jurídicos
relevantes - não represente, por isso mesmo, prejuízo importante, seja ao
titular do bem jurídico tutelado, seja à integridade da própria ordem social.”
(HC 84.687/MS, Rel. Min. CELSO DE MELLO)

Não custa assinalar, neste ponto, que esse entendimento encontra suporte em
expressivo magistério doutrinário expendido na análise do tema em referência (LUIZ
FLÁVIO GOMES, “Delito de Bagatela: Princípios da Insignificância e da
Irrelevância Penal do Fato”, “in” Revista dos Tribunais, vol. 789/439-456;
FRANCISCO DE ASSIS TOLEDO, “Princípios Básicos de Direito Penal”, p. 133/134,
item n. 131, 5ª ed., 2002, Saraiva; CEZAR ROBERTO BITENCOURT, “Código Penal
Comentado”, p. 6, item n. 9, 2002, Saraiva; DAMÁSIO E. DE JESUS, “Direito Penal
– Parte Geral”, vol. 1/10, item n. 11, “h”, 26ª ed., 2003, Saraiva; MAURÍCIO
ANTONIO RIBEIRO LOPES, “Princípio da Insignificância no Direito Penal”, p.
113/118, item n. 8.2, 2ª ed., 2000, RT, v.g.).

Revela-se significativa a lição de EDILSON MOUGENOT BONFIM e de


FERNANDO CAPEZ (“Direito Penal – Parte Geral”, p. 121/122, item n. 2.1, 2004,
Saraiva) a propósito da matéria em questão:

“Na verdade, o princípio da bagatela ou da insignificância (...) não tem


previsão legal no direito brasileiro (...), sendo considerado, contudo, princípio
auxiliar de determinação da tipicidade, sob a ótica da objetividade jurídica.
Funda-se no brocardo civil ‘minimis non curat praetor’ e na conveniência da
política criminal. Se a finalidade do tipo penal é tutelar um bem jurídico quando a
lesão, de tão insignificante, torna-se imperceptível, não será possível proceder
a seu enquadramento típico, por absoluta falta de correspondência entre o fato
narrado na lei e o comportamento iníquo realizado. É que, no tipo, somente estão
descritos os comportamentos capazes de ofender o interesse tutelado pela
norma. Por essa razão, os danos de nenhuma monta devem ser considerados
atípicos. A tipicidade penal está a reclamar ofensa de certa gravidade
exercida sobre os bens jurídicos, pois nem sempre ofensa mínima a um bem
ou interesse juridicamente protegido é capaz de se incluir no requerimento

2
reclamado pela tipicidade penal, o qual exige ofensa de alguma magnitude a
esse mesmo bem jurídico.” (grifei)

Na realidade, e considerados, de um lado, o princípio da intervenção penal


mínima do Estado (que tem por destinatário o próprio legislador) e, de outro, o
postulado da insignificância (que se dirige ao magistrado, enquanto aplicador da lei
penal ao caso concreto), na precisa lição do eminente Professor RENÉ ARIEL DOTTI
(“Curso de Direito Penal – Parte Geral”, p. 68, item n. 51, 2ª ed., 2004, Forense),
cumpre reconhecer que o direito penal não se deve ocupar de condutas que
produzam resultado cujo desvalor - por não importar em lesão significativa a bens
jurídicos relevantes - não represente, por isso mesmo, prejuízo importante, seja ao
titular do bem jurídico tutelado, seja à integridade da própria ordem social.

Cumpre acentuar, finalmente, por relevante, que a jurisprudência do Supremo


Tribunal Federal tem admitido, na matéria em questão, a inteira aplicabilidade do
princípio da insignificância aos crimes militares (HC 87.478/PA, Rel. Min. EROS
GRAU – HC 92.634/PE, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA – RHC 89.624/RS, Rel. Min.
CÁRMEN LÚCIA).

Sendo assim, em juízo de estrita delibação, e sem prejuízo de ulterior


reexame da questão suscitada nesta sede processual, defiro o pedido de medida
liminar, em ordem a suspender, cautelarmente, até final julgamento da presente
ação de “habeas corpus”, a eficácia da condenação penal imposta, ao ora paciente,
nos autos do Processo nº 18/06-5 (2ª Auditoria da 2ª Circunscrição Judiciária
Militar), sustando, em conseqüência, qualquer medida de execução da pena em
referência, mantido íntegro o “status libertatis” de Demétrios de Araújo, medida
esta que estendo, ainda, ao co-réu Ademir Schultz de Carvalho Filho (fls. 06).

Caso o paciente ou o seu co-réu, por algum motivo, tenham sido presos em
decorrência de mencionada condenação penal (Processo nº 18/06-5), deverão eles
ser imediatamente postos em liberdade, se por al não estiverem presos.

Comunique-se, com urgência, transmitindo-se cópia da presente decisão ao


E. Superior Tribunal Militar (Apelação nº 2007.01.050568-7/SP) e à 2ª Auditoria da
2ª CJM (Processo nº 18/06-5).

2. Solicite-se, à 2ª Auditoria da 2ª CJM (São Paulo/SP), informação sobre a fase


em que se acha, presentemente, a execução da condenação penal imposta ao ora
paciente e ao seu co-réu.

Publique-se.

Brasília, 28 de março de 2008.

Ministro CELSO DE MELLO


Relator

INFORMATIVO Nº 498

Apropriação Indébita Previdenciária e Natureza


O Tribunal negou provimento a agravo regimental interposto contra decisão do
Min. Marco Aurélio, que determinara o arquivamento de inquérito, do qual relator, em

2
que apurada a suposta prática do delito de apropriação indébita previdenciária (CP,
art. 168-A: “Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos
contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional:”). Salientando que a
apropriação indébita previdenciária não consubstancia crime formal, mas omissivo
material — no que indispensável a ocorrência de apropriação dos valores, com
inversão da posse respectiva —, e tem por objeto jurídico protegido o patrimônio da
previdência social, entendeu-se que, pendente recurso administrativo em que discutida
a exigibilidade do tributo, seria inviável tanto a propositura da ação penal quanto a
manutenção do inquérito, sob pena de preservar-se situação que degrada o
contribuinte.
Inq 2537 AgR/GO, rel. Min. Marco Aurélio, 10.3.2008. (Inq- 2537)

Enquadramento na Denúncia e Responsabilidade Objetiva


A Turma iniciou julgamento de habeas corpus em que se pretende o trancamento
de ação penal instaurada contra denunciado, com terceiros, pela suposta infração aos
artigos 12 e 14, da Lei 6.368/76 e ao art. 180, do CP, todos combinados com o art. 69
do referido código. A impetração sustenta a ilegalidade da custódia preventiva, sob os
seguintes fundamentos: a) excesso de prazo; b) inexistência dos requisitos previstos
no art. 312 do CPP; e c) falta de justa causa para a ação penal, considerada a
atipicidade da conduta. Alega, ainda, que a denúncia não conteria a descrição
individualizada dos fatos imputados ao paciente. O Min. Marco Aurélio, relator, ante o
pronunciamento do STJ em idêntica medida, declarou o prejuízo parcial da impetração
no tocante à prisão preventiva. No mérito, deferiu o writ quanto aos fatos narrados na
denúncia e o enquadramento dela constante. Aduziu que, relativamente ao paciente,
os fatos diriam respeito à imputação ligada à circunstância de adquirir produto que
sabia de procedência ao menos duvidosa, implementando, assim, prática enquadrável
no delito de receptação. Asseverou que o Ministério Público estadual, no entanto, a
partir da premissa de ter o paciente adquirido produto de acusado de tráfico de
drogas, o denunciara também por associação para tal fim e até mesmo por tráfico.
Entendeu que o parquet fizera ilação incompatível com o ordenamento jurídico vigente,
chegando-se assim à responsabilidade objetiva. Após, o julgamento foi suspenso em
virtude do pedido de vista do Min. Ricardo Lewandowski.
HC 92258/SP, rel. Min. Marco Aurélio, 11.3.2008. (HC-92258)

Lei de Imprensa e Prescrição Retroativa


É possível a incidência do instituto da prescrição retroativa em tema de delitos de
imprensa. Com base nesse entendimento, a Turma deferiu habeas corpus para
declarar extinta a punibilidade do paciente por efeito da consumação da prescrição
penal. Asseverou-se que, na espécie, já havendo sentença condenatória transitada em
julgado para o querelante, a prescrição não deveria ser considerada em abstrato, mas
sim calculada pelo dobro da pena aplicada (Lei 5.250/67: “Art . 41. A prescrição da
ação penal, nos crimes definidos nesta Lei, ocorrerá 2 anos após a data da publicação
ou transmissão incriminada, e a condenação, no dôbro do prazo em que fôr fixada.”).
HC 89684/PB, rel. Min. Celso de Mello, 11.3.2008. (HC-89684)

Culturas Ilegais de Plantas Psicotrópicas e Área a ser Desapropriada


A Turma, acolhendo proposta do Min. Eros Grau, submeteu ao Plenário julgamento
de recurso extraordinário, do qual relator, em que se discute se a desapropriação das
glebas onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas, nos termos do
disposto no art. 243, da CF, restringe-se à área efetivamente cultivada ou estende-se
a todo o terreno (“Art. 243. As glebas de qualquer região do País onde forem
localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas serão imediatamente expropriadas

2
e especificamente destinadas ao assentamento de colonos, para o cultivo de produtos
alimentícios e medicamentosos, sem qualquer indenização ao proprietário e sem
prejuízo de outras sanções previstas em lei.”).
RE 543974/MG, rel. Min. Eros Grau, 11.3.2008. (RE-543974)

INFORMATIVO Nº 497

PRIMEIRA TURMA

Injúria Preconceituosa e Legitimidade do Ministério Público - 1


A Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus impetrado em favor de 2 cidadãos
norte-americanos que pleiteavam o trancamento de ação penal contra eles instaurada
pela suposta prática do ato de preconceito de procedência nacional (Lei 7.716/89, art.
20: “Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia,
religião ou procedência nacional.”). No caso, durante vôo internacional, um dos
pacientes, com o incentivo de seu colega, também comissário de bordo, teria
supostamente ofendido um passageiro brasileiro. Alegava a impetração: a)
ilegitimidade do Ministério Público Federal para propor a ação penal, porque os fatos
narrados na inicial configurariam, em tese, o crime previsto no art. 140, § 3º, do CP,
de iniciativa do ofendido, e não o delito de injúria preconceituosa; e b) falta de justa
causa para a ação penal, pois não haveria, nos autos, prova material suficiente para
embasar a imputação.
HC 90187/RJ, rel. Min. Menezes Direito, 4.3.2008. (HC-90187)

Injúria Preconceituosa e Legitimidade do Ministério Público - 2


Entendeu-se que, na espécie, a questão relativa à legitimidade ad causam do MPF
se confundiria com a própria necessidade de se instruir a ação penal, haja vista que
seria no momento da prolação da sentença que o juiz poderia confirmar o tipo penal
indicado na inicial acusatória ou, se reputar conveniente, desclassificar a conduta
descrita, nos termos previstos no art. 383 (emendatio libelli) ou no art. 384 (mutatio
libelli) do CPP. Dessa forma, concluiu-se que qualquer capitulação jurídica feita sobre
um fato na denúncia é sempre provisória até a sentença, tornando-se definitiva apenas
no instante decisório final. Logo, não caberia ao STF, em habeas corpus, antecipar-se
ao magistrado de primeiro grau e, antes de iniciada a instrução criminal, firmar juízo
de valor sobre as provas indiciárias trazidas aos autos para tipificar a conduta
criminosa descrita. Rejeitou-se, de igual modo, o argumento de ausência de justa
causa para a ação penal, porquanto existiriam elementos concretos suficientes com
relação aos pacientes para amparar a denúncia, nos moldes em que fora proposta, e
ensejar a continuidade da persecução penal. Ademais, salientou-se a jurisprudência
consolidada da Corte no sentido de que o trancamento da ação penal por tal motivo,
em sede de habeas corpus, constitui medida excepcional que, em princípio, não tem
lugar quando os fatos narrados na denúncia caracterizam crime em tese. Enfatizou-se,
por fim, que o contraditório se desenvolveria na ação penal, na qual produzidos os
elementos de convicção do julgador e garantidos aos pacientes todos os meios de
defesa constitucionalmente previstos. Vencido o Min. Marco Aurélio que, por considerar
que a definição sobre tratar-se de ação penal pública ou privada não dependeria de
prova posterior, mas da descrição do fato narrado, deferia o writ para assentar que a
presente ação necessitaria da iniciativa da vítima (CP, art. 141, § 3º) e que, no tocante

2
ao segundo paciente, não se teria peça hábil a chegar-se a persecução criminal, já que
deficiente quanto à exposição do verbo “incitar”.
HC 90187/RJ, rel. Min. Menezes Direito, 4.3.2008. (HC-90187)

Estelionato: Prestações Periódicas e Crime Instantâneo


A Turma, por maioria, deferiu habeas corpus para pronunciar a prescrição da
pretensão punitiva do Estado relativamente ao paciente, condenado por estelionato em
razão de, na qualidade de advogado, haver induzido em erro sua cliente, obtendo para
si crédito a ser por ela recebido de município, através de precatório, decorrente de
ação indenizatória anteriormente ajuizada. Entendeu-se que a circunstância de a
satisfação do crédito se dar por meio de precatório não alteraria a conduta praticada
pelo paciente, a qual consubstanciaria crime instantâneo, verificada a vantagem ilícita
em prejuízo de terceiro, muito embora, sob o ângulo pecuniário, essa fosse alcançada
posteriormente. Entretanto, não obstante haver-se enfatizado que o desdobramento
do ato, no tocante à percepção das parcelas, seria simples conseqüência do crime
instantâneo, concluiu-se pela aludida prescrição, tendo em conta que o delito fora
perpetrado em 1997. Vencido o Min. Menezes Direito que indeferia o writ ao
fundamento de tratar-se, no caso, de crime permanente, cuja prescrição se
prolongaria no tempo.
HC 88872/MS, rel. Min. Marco Aurélio, 4.3.2008. (HC-88872)

SEGUNDA TURMA

Porte Ilegal de Munição


A Turma iniciou julgamento de habeas corpus em que a Defensoria Pública da
União sustenta que o simples porte de munição sem autorização legal não
representaria ofensa ao bem jurídico protegido pela Lei 10.826/2003, qual seja, a paz
social. O Min. Joaquim Barbosa, relator, indeferiu o writ, no que foi acompanhado pelo
Min. Eros Grau. Ressaltando que a intenção do legislador fora de tornar mais rigorosa
a repressão aos delitos relativos às armas de fogo, considerou que o crime de porte de
munição seria de perigo abstrato e não feriria as normas constitucionais nem padeceria
de vícios de tipicidade. Enfatizou que a aludida norma tem por objetivo a proteção da
incolumidade pública, sendo dever do Estado garantir aos cidadãos os direitos
fundamentais relativos à segurança pública. Ademais, asseverou que, no caso, o
paciente também fora condenado, em concurso material, pela prática do crime de
receptação, não sendo o porte de munição um fato isolado. Assim, tendo em conta
essas particularidades, concluiu no sentido da tipicidade material da conduta, aduzindo
que, para se afirmar o contrário, seria exigível o revolvimento das provas dos autos,
incabível na via eleita. Após, o julgamento foi suspenso em virtude do pedido de vista
do Min. Cezar Peluso.
HC 92533/RS, rel. Min. Joaquim Barbosa, 4.3.2008. (HC-92533)

INFORMATIVO Nº 496

PLENÁRIO

ADPF e Lei de Imprensa

O Tribunal, por maioria, referendou liminar deferida em argüição de


descumprimento de preceito fundamental ajuizada pelo Partido Democrático

2
Trabalhista - PDT para o efeito de suspender a vigência da expressão “a espetáculos de
diversões públicas, que ficarão sujeitos à censura, na forma da lei, nem”, contida na
parte inicial do § 2º do art. 1º; do § 2º do art. 2º; da íntegra dos artigos 3º, 4º, 5º, 6º
e 65; da expressão “e sob pena de decadência deverá ser proposta dentro de 3 meses
da data da publicação ou transmissão que lhe der causa”, constante da parte final do
art. 56; dos §§ 3º e 6º do art. 57; dos §§ 1º e 2º do art. 60; da íntegra dos artigos
61, 62, 63 e 64; dos artigos 20, 21, 22 e 23; e dos artigos 51 e 52, todos da Lei
5.250/67 (Lei de Imprensa). Preliminarmente, tendo em conta o princípio da
subsidiariedade, o Tribunal, também por maioria, conheceu da ação. Vencido, no
ponto, o Min. Marco Aurélio, que não a conhecia por reputar inadequada a argüição. No
mérito, entendeu-se configurada a plausibilidade jurídica do pedido, haja vista que o
diploma normativo impugnado não pareceria serviente do padrão de democracia e de
imprensa vigente na Constituição de 1988 (CF, artigos 1º; 5º, IV, V, IX e XXXIII e
220, caput e § 1º). Considerou-se, ademais, presente o perigo na demora da
prestação jurisdicional, afirmando-se não ser possível perder oportunidade de evitar
que eventual incidência da referida lei, de nítido viés autoritário, colidisse com aqueles
valores constitucionais da democracia e da liberdade de imprensa. Vencidos, em parte,
os Ministros Menezes Direito, Eros Grau e Celso de Mello, que, desde logo, suspendiam
a vigência de toda a Lei 5.250/67, autorizando a aplicação da legislação ordinária de
direito civil e de direito penal, e o Min. Marco Aurélio, que negava referendo à liminar.
O Tribunal, empregando por analogia o art. 21 da Lei 9.868/99, estabeleceu o prazo
de 180 dias, a contar da data da sessão, para retorno do feito para o julgamento de
mérito.
ADPF 130 MC/DF, rel. Min. Carlos Britto, 27.2.2008. (ADPF-130)

INFORMATIVO Nº 494

Porte Ilegal de Arma e Ausência de Munição - 3


O Tribunal, por votação majoritária, julgou prejudicado habeas corpus impetrado
em favor de condenado pela prática do crime previsto no art. 10 da Lei 9.437/97
(porte ilegal de arma), no qual se pretende a nulidade da sentença, sob alegação de
atipicidade da conduta, em razão de a arma portada estar desmuniciada, e declinou de
sua competência para o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo — v. Informativos
404 e 411. Considerou-se o julgamento do HC 86834/SP (j. em 23.8.2006), no qual o
Tribunal, por maioria, firmou entendimento no sentido de que é incompetente para
apreciar e julgar pedidos de habeas corpus impetrados contra atos de Turmas ou
Colégios Recursais de Juizados Especiais. Vencidos os Ministros Sepúlveda Pertence,
Carlos Velloso e Joaquim Barbosa, que deferiram o pedido em assentada anterior.
Reajustaram seus votos os Ministros Eros Grau e Cezar Peluso.
HC 85240/SP, rel. Min. Carlos Britto, 14.2.2008. (HC-85240)

Porte Ilegal de Arma de Fogo sem Munição com Sinal de Identificação


Suprimido - 3
Em conclusão de julgamento, o Tribunal desproveu recurso ordinário em habeas
corpus interposto em favor de condenado pela prática do crime de porte ilegal de arma
de fogo com numeração de identificação suprimida (Lei 10.826/2003, art. 16,
parágrafo único, IV), no qual se pretendia a nulidade da condenação, por atipicidade
da conduta, em face da ausência de lesividade da arma desmuniciada apreendida
(“Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito,

3
transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter
sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido ou
restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: ...
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. ... Parágrafo único. Nas mesmas
penas incorre quem: ... IV - portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de
fogo com numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado,
suprimido ou adulterado;”) — v. Informativos 447 e 486. Entendeu-se que os fatos
descritos na denúncia amoldar-se-iam ao tipo previsto no art. 16, parágrafo único, IV,
da Lei 10.826/2003. Inicialmente, enfatizou-se que, nas condutas descritas no referido
inciso, não se exigiria como elementar do tipo a arma ser de uso permitido ou restrito,
e que, no caso, a arma seria de uso permitido, tendo sido comprovada a supressão do
seu número de série por abrasão. Diante disso, concluiu-se ser impertinente a
discussão acerca da inadequação da conduta descrita na denúncia e tipificação pela
qual fora o recorrente condenado.
RHC 89889/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, 14.2.2008. (RHC-89889)

Porte Ilegal de Arma de Fogo sem Munição com Sinal de Identificação


Suprimido - 4
Quanto ao argumento de atipicidade da conduta em face da ausência de lesividade
da arma de fogo apreendida por estar ela desmuniciada e não haver, nos autos,
comprovação de munição portada pelo recorrente, esclareceu-se que se teria, na
espécie, hipótese diversa da analisada quando do julgamento do RHC 81057/SP (DJU
de 29.4.2005), já que se tratara, naquela ocasião, do art. 10 da Lei 9.437/97,
substituído, no sistema jurídico, pela norma do art. 14 da Lei 10.826/2003. Afirmou-se
que o tipo do inciso IV do parágrafo único do art. 16 da Lei 10.826/2003 é um tipo
novo, já que, na Lei 9.437/97, punia-se aquele que suprimisse ou alterasse marca,
numeração ou qualquer sinal de identificação de arma de fogo ou artefato. Assim, a
nova figura teria introduzido cuidado penal inédito do tema, tipificando o portar,
possuir ou transportar a arma com a supressão ou alteração do número de série ou de
outro sinal de sua identificação, independentemente de a arma de fogo ser de uso
restrito, proibido ou permitido, tendo por objeto jurídico, além da incolumidade, a
segurança pública, ênfase especial dada ao controle pelo Estado das armas de fogo
existentes no país, pelo que o relevo ao municiamento ou não da munição da arma
que se põe nos tipos previstos no caput dos artigos 14 e 16 da Lei 10.826/2003 não
encontraria paralelo no inciso IV do parágrafo único deste último dispositivo.
RHC 89889/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, 14.2.2008. (RHC-89889)

Confissão Espontânea e “Reformatio in Pejus”


A Turma deferiu habeas corpus impetrado contra acórdão do STM que, acolhendo
embargos infringentes opostos pelo Ministério Público Militar, majorara a pena aplicada
a ex-sargento do Exército condenado pela prática de homicídio qualificado.
Inicialmente, reconheceu-se a presença da circunstância atenuante de confissão
espontânea do paciente. Entretanto, asseverou-se que sua incidência seria inócua para
a anulação do acórdão impugnado, porquanto o tribunal a quo mantivera a pena-base
no mínimo legal. No ponto, enfatizou-se que a existência de atenuantes não poderia
conduzir à redução da pena abaixo do mínimo legal (Enunciado da Súmula 231 do
STJ). Por outro lado, entendeu-se que a decisão não estaria devidamente
fundamentada quanto à exclusão, do homicídio qualificado (CPM, art. 205, § 1º), de
minorante, haja vista que o STM se limitara a afirmar que não existiriam provas nos
autos da injusta provocação da vítima contra o paciente, desconsiderando os
elementos disponíveis no processo no sentido de que este era constantemente
provocado pela vítima. De igual modo, relativamente ao regime fechado imposto pela

3
sentença condenatória, não tendo o parquet, em apelação, se insurgido, reputou-se
preclusa essa matéria para a acusação, motivo pelo qual não poderia o STM ter
piorado a situação do paciente, em flagrante ofensa ao princípio do ne reformatio in
pejus. Ordem concedida para afastar o acórdão do STM, proferido nos embargos
infringentes, e restabelecer a sentença condenatória, tal como proferida.
HC 90659/SP, rel. Min. Menezes Direito, 12.2.2008. (HC-90659)

Lei 10.826/2003: Atipicidade Temporária e Posse de Arma de Fogo


A Turma indeferiu habeas corpus em que se pretendia o reconhecimento da
extinção da punibilidade com fundamento na superveniência de norma penal
descriminalizante. No caso, o paciente fora condenado pela prática do crime de posse
ilegal de arma de fogo de uso restrito (Lei 9.437/97, art. 10, § 2º), em decorrência do
fato de a polícia, em cumprimento a mandado de busca e apreensão, haver encontrado
uma pistola em sua residência. A impetração sustentava que durante a vacatio legis do
Estatuto do Desarmamento, que revogou a citada Lei 9.437/97, fora criada situação
peculiar relativamente à aplicação da norma penal, haja vista que concedido prazo (Lei
10.826/2003, artigos 30 e 32) aos proprietários e possuidores de armas de fogo, de
uso permitido ou restrito, para que regularizassem a situação dessas ou efetivassem a
sua entrega à autoridade competente, de modo a caracterizar o instituto da abolitio
criminis. Entendeu-se que a vacatio legis especial prevista nos artigos 30 e 32 da Lei
10.826/2003 (“Art. 30. Os possuidores e proprietários de armas de fogo não
registradas deverão, sob pena de responsabilidade penal, no prazo de 180 dias (cento
e oitenta) dias após a publicação desta Lei, solicitar o seu registro apresentando nota
fiscal de compra ou a comprovação da origem lícita da posse, pelos meios de prova em
direito admitidos. Art. 32. Os possuidores e proprietários de armas de fogo não
registradas poderão, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias após a publicação desta
Lei, entregá-las à Polícia Federal, mediante recibo e, presumindo-se a boa-fé, poderão
ser indenizados, nos termos do regulamento desta Lei.”), não obstante tenha tornado
atípica a posse ilegal de arma de fogo havida no curso do prazo que assinalou, não
subtraiu a ilicitude penal da conduta que já era prevista no art. 10, § 2º, da Lei
9.437/97 e continuou incriminada, com mais rigor, no art. 16 da Lei 10.826/2003.
Ausente, assim, estaria o pressuposto fundamental para que se tivesse como
caracterizada a abolitio criminis. Ademais, ressaltou-se que o prazo estabelecido nos
mencionados dispositivos expressaria o caráter transitório da atipicidade por ele
indiretamente criada. No ponto, enfatizou-se que se trataria de norma temporária que
não teria força retroativa, não podendo configurar, pois, abolitio criminis em relação
aos ilícitos cometidos em data anterior.
HC 90995/SP, rel. Min. Menezes Direito, 12.2.2008. (HC-90995)

INFORMATIVO Nº 493

Crime Societário e Trancamento de Ação Penal - 2

No mérito, indeferiu-se o writ. A impetração pleiteava o trancamento de ação penal


instaurada contra acusado, com terceiros, pela suposta prática dos crimes de falsidade
ideológica, contrabando, formação de quadrilha (CP, artigos 299, 344 e 288,
respectivamente) e de importação de produto nocivo ao meio ambiente (CP, art. 334 e
Lei 9.605/98, art. 56). Alegava para tanto: a) inépcia da denúncia, por ausência de
individualização da conduta; b) atipicidade da conduta, ante a inexistência de proibição
legal, à época dos fatos, de importação de pneus recauchutados; e c) ocorrência de
abolitio criminis, decorrente da superveniência de normas que teriam descriminalizado
a importação de produto nocivo ao meio ambiente. Considerou-se que, na hipótese, a

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denúncia demonstrara o delito em sua totalidade e que especificara a conduta
supostamente ilícita do paciente. No ponto, asseverou-se que, em se tratando de
crimes societários, a denúncia que contém condição efetiva que autorize o denunciado
a proferir adequadamente a defesa não configura indicação genérica capaz de ensejar
a sua inépcia. Ademais, enfatizou-se que o trancamento de ação penal em habeas
corpus impetrado com fundamento na falta de justa causa é medida excepcional que,
em princípio, não tem cabimento quando a denúncia ofertada narra suficientemente
fatos que constituem crime. Por fim, relativamente ao último argumento, aduziu-se
que a via eleita não comporta dilação probatória, exame aprofundado de matéria fática
ou nova valoração dos elementos de prova. Alguns precedentes citados: HC 90320/MG
(DJU de 25.5.2007); HC 87324/SP (DJU de 18.5.2007); HC 85496/SC (DJU de
8.9.2006); HC 91334/PA (DJU de 17.8.2007); HC 84278/SP (DJU de 22.10.2004).
HC 90326/RS, rel. Min. Menezes Direito, 11.12.2007. (HC-90326)

Dosimetria e Suspensão Condicional da Pena - 2

A Turma concluiu julgamento de habeas corpus impetrado contra acórdão do STM que
condenara militar à pena de 6 meses de detenção pela prática do crime de desacato
(CPM, art. 299), reformando decisão que, ao aplicar o princípio da insignificância,
absolvera-o. No caso, contra a decisão condenatória a defesa impetrara outro HC
perante o STF, que fora deferido para determinar a manifestação do STM
relativamente ao direito do paciente à suspensão condicional da pena (HC 88281/PA,
DJU de 5.6.2006). Realizado novo julgamento, o STM denegara o referido benefício,
concedendo-lhe o direito de recorrer em liberdade. A impetração requeria a nulidade
do referido acórdão, alegando a falta de fundamentação na dosimetria da reprimenda,
porquanto não observados o princípio da individualização da pena e o critério trifásico.
Pleiteava, também, a concessão da suspensão condicional da pena, ao argumento de
se tratar de direito subjetivo do paciente — v. Informativo 492. Em face do empate na
votação, deferiu-se o writ para que o juízo da execução fixe as condições da suspensão
condicional da pena. Considerou-se que a situação do processo revelaria contradição
absoluta, uma vez que, fixada a pena-base no mínimo legal, implicitamente se
proclamara que as circunstâncias judiciais seriam favoráveis ao condenado, não
podendo o STM, em passo seguinte e de forma incoerente, pronunciar-se sobre dados
relativos ao cometimento do crime para afastar o mencionado benefício. Assim, ou
estariam presentes circunstâncias judiciais que levariam à fixação da pena-base acima
do mínimo previsto para o tipo ou não haveria essas circunstâncias, inexistindo óbice
para a suspensão condicional da pena. Vencidos os Ministros Cármen Lúcia, relatora, e
Ricardo Lewandowski que denegavam a ordem. O Min. Carlos Britto reajustou seu
voto.
HC 92322/PA, rel. orig. Min. Cármen Lúcia, rel. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio,
18.12.2007. (HC-92322)

SEGUNDA TURMA

Liberdade Provisória: Lei 11.464/2007 e Crime Hediondo - 1

Com o advento da Lei 11.464/2007, que alterou a redação do art. 2º, II, da Lei
8.072/90, tornou-se possível a concessão de liberdade provisória aos crimes hediondos
ou equiparados, nas hipóteses em que ausentes os fundamentos previstos no art. 312
do CPP. Tendo em conta esse entendimento, bem como verificada a falta de motivação
idônea para a prisão do paciente, a Turma conheceu, em parte, de habeas corpus e, na

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parte de que conheceu, deferiu-o para determinar que seja expedido alvará de soltura
em favor do paciente, salvo se por outro motivo deva permanecer custodiado. Na
espécie, o paciente, preso em flagrante pela suposta prática de homicídio qualificado
(CP, art. 121, § 2º, IV), tivera a segregação mantida pela sentença de pronúncia que,
reportando-se aos fundamentos do decreto de prisão preventiva, negara pedido de
liberdade provisória com base no art. 2º, II, da Lei 8.072/90 e por reputar presentes
os requisitos do art. 312 do CPP, a saber: garantia da ordem pública e da aplicação da
lei penal.
HC 92824/SC, rel. Min. Joaquim Barbosa, 18.12.2007. (HC-92824)

Liberdade Provisória: Lei 11.464/2007 e Crime Hediondo - 2

Inicialmente, asseverou-se que a Lei 11.464/2007 expressamente suprimiu a proibição


à liberdade provisória que constava do art. 2º, II, da Lei 8.072/90, tendo permanecido
apenas o termo “fiança” (“Art. 2º. Os crimes hediondos ... são insuscetíveis de : ... II -
fiança.”). Em seguida, afastado o óbice à concessão do referido benefício de liberdade
provisória, considerou-se que a gravidade em abstrato do crime não seria, por si só,
justificativa hábil para a decretação da custódia preventiva embasada na ameaça à
ordem pública. Ademais, ressaltou-se que a jurisprudência do STF é no sentido de que
o perigo de reiteração criminosa e a periculosidade do agente devem ser analisados no
caso concreto, podendo caracterizar-se como razões legitimadoras da prisão cautelar.
No ponto, aduziu-se que o paciente é primário, possui bons antecedentes e exerce
ocupação lícita e que não fora demonstrada a necessidade concreta de sua prisão.
Alguns precedentes citados: HC 83865/SP (DJU de 7.12.2007); HC 89183/MS (DJU de
25.8.2006); HC 85268/SP (DJU de 15.4.2005); HC 85868/RJ (DJU de 15.12.2006).
HC 92824/SC, rel. Min. Joaquim Barbosa, 18.12.2007. (HC-92824)

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