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ISSN 1413-3555

Rev. bras. fisioter. Vol. 9, No. 1 (2005), 57-62


©Revista Brasileira de Fisioterapia

AVALIAÇÃO DA PROPRIOCEPÇÃO DO JOELHO EM INDIVÍDUOS


PORTADORES DE DISFUNÇÃO FEMOROPATELAR

Lobato, D. F. M.,1 Santos, G. M.,1 Coqueiro, K. R. R.,1 Mattiello-Rosa, S. M. G.,1


Terruggi-Junior, A.,1 Bevilaqua-Grossi, D.,2 Mattiello-Sverzut, A. C. M.,2 Bérzin, F.,3
Soares, A. B.4 e Monteiro-Pedro, V.1
1
Laboratório de Avaliação e Intervenção em Ortopedia e Traumatologia,
Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de São Carlos
2
Departamento de Biomecânica e Medicina do Aparelho Locomotor,
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, FMRP/USP
3
Departamento de Morfologia, Faculdade de Odontologia de Piracicaba, FOP/UNICAMP
4
Departamento de Engenharia Elétrica, Universidade Federal de Uberlândia
Correspondência para: Vanessa Monteiro-Pedro, Laboratório de Avaliação e Intervenção em Ortopedia e
Traumatologia, Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de São Carlos, Rod. Washington Luís, km 235,
C.P. 676, CEP 13565-905, São Carlos, SP, Brasil, e-mail: vanessa@power.ufscar.br
Recebido: 30/3/2004 – Aceito: 30/9/2004

RESUMO
Objetivo: Avaliar a propriocepção do joelho de indivíduos portadores de disfunção femoropatelar (DFP) e de indivíduos-controle
em dinamômetro isocinético. Método: Foram selecionados 20 sujeitos do sexo feminino, sendo 10 (22,5 ± 2,3 anos) portadores
de DFP unilateral sem sintomatologia dolorosa (grupo DFP) e 10 (21,3 ± 1,7 anos) clinicamente normais (grupo N). As voluntárias,
sentadas na cadeira do dinamômetro isocinético e com os olhos vendados, realizaram três reposicionamentos ativos para três diferentes
ângulos-alvo (30, 45 e 60 graus) de flexão do joelho. As variáveis estudadas foram o ângulo de reposicionamento ativo do joelho
e os erros absoluto e relativo em relação a cada ângulo-alvo avaliado. Resultados: O teste t evidenciou que não houve diferença
significativa na média dos reposicionamentos ativos (p30º = 0,33; p45º = 0,39; e p60º = 0,96) entre os grupos DFP e controle. Além
disso, a análise de variância (ANOVA) não mostrou diferença significativa, tanto na média do erro absoluto (p = 0,66) quanto na
média do erro relativo (p = 0,81) entre os diferentes ângulos-alvo de flexão do joelho. Conclusão: Nas condições experimentais
utilizadas, os dados do presente estudo não evidenciaram déficit proprioceptivo em relação ao senso de posição articular entre os
grupos DFP e controle.
Palavras-chave: propriocepção, disfunção femoropatelar, senso de posição articular, isocinética.

ABSTRACT

Evaluation of proprioception of the knee among individuals with patellofemoral dysfunction


Objective: To evaluate knee joint proprioception among subjects with and without patellofemoral pain syndrome (PFPS), using
an isokinetic dynamometer. Method: Twenty female subjects participated and were evaluated for proprioception: ten (22.5 ± 2.3
years) with asymptomatic unilateral PFPS (PFPS group) and ten (21.3 ± 1.7 years) healthy subjects (N group). The subjects were
seated on an isokinetic chair and blindfolded. They then performed three active repositioning tests at 30º, 45º, and 60° flexion
of the knee. The variables studied were the angle of active repositioning of the knee and the absolute and relative errors in relation
to each target angle. Results: The t test showed that there was no significant difference in the means for the active repositioning
(p30º = 0.33; p45º = 0.39; and p60º = 0.96) between the groups. Moreover, analysis of variance (ANOVA) did not show any significant
difference in the means of absolute error (p = 0.66) and relative error (p = 0.81), for the three target angles. Conclusions: Under
the experimental conditions utilized, the study data did not demonstrate any proprioceptive deficit relating to joint position sense,
between the PFPS group and the control group.
Key words: proprioception, patellofemoral pain syndrome, joint position sense, isokinetics.
58 Lobato, D. F. M. et al. Rev. bras. fisioter.

INTRODUÇÃO indicar que a modificação do estado funcional dos músculos


pode afetar a precisão do senso de posição.13
A dor no joelho é uma das queixas ortopédicas mais Está bem estabelecido na literatura que fatores como
comuns na prática clínica e, dentre elas, a dor femoropatelar idade (envelhecimento), fadiga e osteoartrite podem influenciar
está entre os sintomas mais freqüentemente observados.1,2 A negativamente a propriocepção, predispondo a doenças e/ou
disfunção femoropatelar (DFP) pode ser definida como dor disfunções do sistema osteomioarticular (SOMA) por meio
difusa na região anterior do joelho, geralmente de início de alteração no controle do movimento, levando a estresses
insidioso e progressão lenta, agravada sobretudo por ativi- anormais nos tecidos.10,11,19
dades que aumentam as forças de compressão na articulação A diminuição no senso de posição articular foi verificada
femoropatelar, como subir e descer escadas, correr e/ou andar, em sujeitos após acidente vascular cerebral (AVC),20 com
agachar e ajoelhar, bem como ao permanecer sentado por instabilidade articular,21 com osteoartrite,22 em idosos23 e com
período prolongado.3 Essa condição é usualmente encontrada lesão no ligamento cruzado anterior.24 Para indivíduos com
em atletas e afeta cerca de 20% da população em geral, DFP há a hipótese de que a dor e o aumento dos estresses
sobretudo adolescentes e adultos jovens do sexo feminino.4,5 articulares anormais, conseqüentes do mau tracionamento
Embora a etiologia da DFP ainda não esteja bem da patela, possam levar à anormalidade na propriocepção
definida na literatura,6 sabe-se que a mesma envolve uma do joelho. O tracionamento alterado afetaria a magnitude
combinação de fatores que podem contribuir para o e a distribuição das forças atuantes na articulação
desenvolvimento do mau alinhamento patelar, como: femoropatelar, especialmente as pressões no interior da
anormalidades ósseas, aumento do ângulo Q e deficiências articulação. Desse modo, a sensação de compressão, incluindo
do mecanismo de estabilização patelar em decorrência da a sensação de dor, poderia contribuir para a diminuição da
fraqueza do músculo quadríceps da coxa e sobretudo da propriocepção do joelho.25 A DFP apresenta irregularidades
insuficiência do músculo vasto medial oblíquo (VMO).6,7 na pressão de contato entre as superfícies articulares do fêmur
O controle neuromotor do joelho envolve a atividade e da patela que podem resultar em danos à cartilagem articular
coordenada dos músculos, principalmente do quadríceps da e alteração na propriocepção dos indivíduos.14 No entanto,
coxa, fornecendo estabilidade ativa para essa articulação.8 a literatura consultada revelou pouco conhecimento a respeito
A integridade da propriocepção no joelho é essencial para dos parâmetros da propriocepção em indivíduos com DFP,
o controle neuromotor, sendo sua avaliação, o teste evidenciando resultados conflitantes quanto à presença25 ou
proprioceptivo, um importante método de informação não14 de déficit proprioceptivo nesses indivíduos. Além disso,
diagnóstica e prognóstica, podendo gerar evidência da eficácia não foram encontrados estudos que utilizassem a dinamo-
(ou ineficácia) de procedimentos terapêuticos, bem como metria isocinética como meio de avaliação da propriocepção
aumentar a compreensão do grau de disfunção após lesão.8,9 em sujeitos com DFP.
A tarefa de definir o termo propriocepção tem criado Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi verificar
controvérsias na comunidade científica, mostrando o grau de e comparar a propriocepção do joelho representada pelo senso
complexidade desse tópico.10 O termo foi originalmente de posicionamento articular no movimento de extensão ativa
descrito, em 1906, por Sherrington como “o resultado de todas realizado com dinamômetro isocinético em indivíduos
as aferências oriundas de articulações, tendões, músculos e portadores de DFP e em indivíduos-controle, utilizando três
proprioceptores de tecidos profundos associados”. Essas ângulos-alvo de flexão do joelho.
aferências seriam projetadas ao Sistema Nervoso Central para
o seu processamento, resultando na regulação de reflexos e MATERIAIS E MÉTODOS
do controle motor.11 Atualmente, a literatura mostra que
propriocepção é uma condição complexa acompanhada por Sujeitos
diferentes tipos de sensações, isto é, senso de posição, Foram selecionados 20 sujeitos do sexo feminino, com
velocidade e detecção de movimento e força.12,13 Desses, o faixa etária entre 18-25 anos, sedentários ou que não pra-
senso de posição, definido como a “consciência da real posição ticassem atividade física regularmente, divididos em dois
do membro”13 ou a “habilidade para reproduzir ângulos grupos, sendo 10 (22,5 ± 2,3 anos) portadores de DFP
articulares”14 ou, ainda, “a habilidade para avaliar a posição unilateral sem sintomatologia dolorosa há pelo menos 3 meses
do membro sem a ajuda da visão”,15 é o mais usado e 10 (21,3 ± 1,7 anos) clinicamente normais. As voluntárias
clinicamente. O senso de posição é controlado por mecanismos foram avaliadas pela Ficha de Avaliação do Laboratório de
centrais e periféricos, principalmente receptores musculares, Avaliação e Intervenção em Ortopedia e Traumatologia
tendinosos, articulares e cutâneos.15 As respectivas funções (LAIOT) da Universidade Federal de São Carlos e assinaram
dessas várias fontes de informações aferentes têm sido debatidas um Termo de Consentimento Formal, segundo a Resolução
há algum tempo16,17 e, já em 1978, McCloskey18 verificou que 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. A pesquisa foi
os receptores musculares são a parte mais importante na aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
elaboração do senso de posição do membro. Essa função pode Federal de São Carlos.
Vol. 9 No. 1, 2005 Propriocepção do Joelho na Disfunção Femoropatelar 59

Como critérios de inclusão no grupo portador de DFP, paração no presente estudo apenas os dados referentes aos
as voluntárias deveriam ter apresentado em algum episódio joelhos com sinais clínicos de DFP (grupo DFP) e um dos
prévio, porém não nos três meses anteriores à avaliação, dor joelhos, escolhido aleatoriamente por sorteio, dos indivíduos
durante atividades como subir ou descer escadas, ajoelhar- do grupo-controle (grupo N). A seqüência dos ângulos-alvo
se, agachar-se e/ou ao ficar agachada ou sentada por tempo avaliados (30o, 45o e 60o de flexão do joelho) também foi
prolongado (“sinal do cinema” positivo). Além disso, foi aleatorizada por sorteio, para cada voluntária.
necessária a presença (unilateral) de no mínimo três dos A posição inicial do teste foi de 90º de flexão do joelho,
seguintes sinais clínicos:3, 26 ângulo Q superior a 16º, pronação seguido de seu posicionamento passivo, a uma velocidade
subtalar excessiva, torção tibial externa (rotação lateral da constante de 2º/s, no primeiro ângulo-alvo sorteado (30o, 45o
perna), patela alta e/ou medializada, presença de hipo ou ou 60o de flexão), durante 15 segundos, e então retorno ao
hipermobilidade patelar, sinal da baioneta positivo e dor à ângulo de referência inicial do dinamômetro (90º de flexão),
palpação das facetas patelares. Foram considerados como sendo mantido nessa posição por cerca de 8 segundos. Em
critérios de exclusão a presença bilateral dos sintomas e/ou seguida, foi solicitada às voluntárias a extensão ativa do joelho
sinais clínicos característicos da DFP. até o momento em que percebessem o ângulo-alvo testado,
Como critério de inclusão no grupo-controle, além da interrompendo o movimento por meio de um disparador
ausência dos sinais clínicos da DFP, as voluntárias poderiam manual. Cada voluntária realizou três reposicionamentos ativos
apresentar no máximo dois testes e/ou sinais positivos (com para cada ângulo-alvo, totalizando nove reposicionamentos.
exceção daqueles que caracterizam lesão ligamentar e/ou É importante enfatizar que todas as voluntárias desconheciam
meniscal) aplicados à articulação do joelho, especialmente o valor numérico dos ângulos-alvo utilizados.
os referentes à articulação femoropatelar. O senso de posicionamento articular do joelho das
Foram considerados ainda como critérios de exclusão voluntárias foi representado pela magnitude das médias de
para ambos os grupos: atividade física regular, fisioterapia seus reposicionamentos ativos (em graus), de seus erros
prévia ao estudo e história pregressa de cirurgia, lesão e/ou absolutos (em graus) e de seus erros relativos (em graus)
trauma do SOMA do membro inferior testado. em relação a cada ângulo-alvo. O erro absoluto pode ser
definido como a diferença entre as posições de teste e de
Instrumentação resposta, sem considerar tendências direcionais de super ou
Para a aquisição dos dados foi utilizado um dinamômetro subestimação do ângulo-alvo,25 ao contrário do erro relativo,
isocinético (Biodex Multi-Joint System II) com seus acessórios que considera essas tendências, atribuindo um sinal positivo
para conexão e avaliação da articulação do joelho, um aos valores referentes à superestimação ou ultrapassagem
computador, um disparador manual e um software de do ângulo-alvo e um sinal negativo àqueles referentes à
avaliação proprioceptiva existente no próprio equipamento, subestimação do referido ângulo, indicando o quanto faltou
além de uma máscara para vendar os olhos das voluntárias para a posição de resposta se aproximar da posição de teste.
durante a execução do teste.
Análise Estatística
Procedimentos As comparações dos ângulos de reposicionamento ativo
Antes da realização do teste, os sujeitos realizaram entre os grupos DFP e N foram feitas por meio da estatística
exercícios de alongamento dos músculos quadríceps da coxa, descritiva (média) dos ângulos de reposicionamento e pelo
isquiotibiais e tríceps da perna durante três minutos (um minuto teste t de Student para cada ângulo-alvo de flexão do joelho
para cada grupo), seguidos, aproximadamente, de um período (30o, 45o e 60o graus), com p ≤ 0,05.
de repouso de 5 minutos, no qual os sujeitos foram colocados Comparações entre as médias dos erros absolutos e
na cadeira do dinamômetro e estabilizados na posição sentada relativos ocorreram entre os três diferentes ângulos-alvo pela
por cintos de contenção pélvico, peitoral e de coxa, com a análise de variância com dois fatores: ângulos/grupos – ANOVA
fossa poplítea posicionada pelo menos 10 cm fora do assento TWO WAY, também com nível de significância de 5%.
da cadeira, a fim de eliminar possíveis interferências cutâneas.27
A articulação do joelho foi posicionada inicialmente a 90º de RESULTADOS
flexão e o eixo articular foi alinhado com o eixo do
dinamômetro, previamente calibrado de acordo com os A média dos ângulos de reposicionamento ativo dos
procedimentos técnicos descritos no manual do fabricante. sujeitos dos grupos DFP e N nos três ângulos-alvo (30o, 45o
Conforme recomendado por Barrack et al.,19 cada voluntária e 60o) está apresentada na Tabela 1. O teste t para amostras
teve seus olhos vendados, para eliminação da retroalimentação independentes evidenciou que não houve diferença signi-
visual. ficativa na média dos reposicionamentos ativos entre os dois
A avaliação isocinética foi realizada em ambos os joelhos, grupos, apesar de verificar-se que os valores obtidos pelo
para os dois grupos. No entanto, foram escolhidos para com- grupo DFP foram menores em relação ao grupo N. Além disso,
60 Lobato, D. F. M. et al. Rev. bras. fisioter.

ambos os grupos apresentaram valores inferiores aos ângulos- o senso de posicionamento articular quanto em relação aos
alvo determinados, situando-se em angulações mais próximas erros absoluto e relativo, corroborando os achados de
da extensão completa (0º) e evidenciando tendência à Kramer et al.,14 que também não encontraram alteração no
superestimação (ultrapassagem) dos ângulos-alvo, consi- senso de posição articular do joelho quando avaliaram a
derando que a posição inicial do teste era de 90º de flexão propriocepção dessa articulação (também de forma ativa)
do joelho. Embora não significativa, a superestimação do entre indivíduos normais e com DFP por meio da eletro-
ângulo-alvo (em média) foi maior no grupo DFP em todos goniometria, tanto em cadeia cinética aberta (CCA) como
os ângulos testados. em cadeia cinética fechada (CCF), em 4 angulações espe-
As Tabelas 2 e 3 mostram a média, o desvio-padrão, cíficas, incluindo as utilizadas no presente estudo. No
valores mínimo e máximo dos erros absoluto e relativo para entanto, nossos resultados estão em desacordo com os de
os grupos DFP e N, bem como a análise de variância Baker et al.,25 que encontraram déficit proprioceptivo em
(ANOVA). Os resultados mostraram que não houve diferença sujeitos portadores de DFP quando comparados a sujeitos
significativa na média dos erros absoluto (p = 0,66) e relativo normais, apresentando maiores valores de erros absoluto
(p = 0,81) entre os diferentes ângulos-alvo de flexão do joelho e relativo e sugerindo que o senso de posicionamento
em ambos os grupos analisados. Além disso, apontam para articular do joelho dos indivíduos portadores de DFP é
erros absoluto e relativo predominantemente maiores no grupo menos preciso e consistente que o de indivíduos sem a
DFP. disfunção. Ainda segundo esses autores, houve erros relativo
e absoluto significativamente maiores no ângulo de 60o que
DISCUSSÃO em 20 o, o que em comparação indireta também encontra-
se em desacordo com o presente estudo, uma vez que apenas
Os resultados deste estudo evidenciaram que não houve o grupo N apresentou maiores médias de erro absoluto e
diferença significativa entre os grupos DFP e N, tanto para relativo em 60 o do que em 30o de flexão do joelho.

Tabela 1. Média e desvio-padrão dos ângulos de reposicionamento ativo das voluntárias dos grupos DFP e normal nos ângulos-alvo de 30o,
45o e 60o de flexão do joelho (n = 10).

DFP Normal
Ângulos T P
X σ X σ
30º 22,63º ± 6,37º 25,3º ± 5,63º –0,99 0,33
45º 37,17º ± 8,63º 40,13º ± 6,4º –0,87 0,39
60º 53,97º ± 5,91º 54,13º ± 8,00º –0,05 0,96

Tabela 2. Análise de variância, média, desvio-padrão, valor mínimo e máximo do erro absoluto (em graus) nos ângulos-alvo de 30o, 45o e
60o de flexão do joelho nos grupos DFP e normal (n = 10).

Grupo DFP Grupo normal


Ângulos F P
X (σ) Min. Max. X (σ) Min. Max.
30º 7,37° (± 6,37) 0,00° 19,33° 5,90° (± 4,19) 0,67° 13,33°
45º 8,90° (± 7,39) 0,33° 23,00° 5,67° (± 5,62) 1,00° 14,44° 0,41 0,66
60º 6,23° (± 5,68) 1,00° 15,33° 6,87° (± 7,06) 1,33° 20,67°

Tabela 3. Análise de variância, média, desvio-padrão, valor mínimo e máximo do erro relativo (em graus) nos ângulos-alvo de 30o, 45o e 60o
de flexão do joelho nos grupos DFP e normal. (n = 10).

Grupo DFP Grupo normal


Ângulos F P
X Min. Max. X Min. Max.
30º 7,37° (± 6,37) 0,00° 19,33° 4,70° (± 5,63) 0,67° 13,33°
45º 7,83° (± 8,62) –5,33° 23,00° 4,87° (± 6,40) –2,00° 14,44° 0,21 0,81
60º 6,03° (± 5,91) –1,00° 15,33° 5,87° (± 8,00) –5,00° 20,67°
Vol. 9 No. 1, 2005 Propriocepção do Joelho na Disfunção Femoropatelar 61

Embora haja conflito entre os nossos resultados e os de Deve ser ressaltado que essas são hipóteses especulativas
estudos anteriores, é fundamental enfatizar a importância clínica e que requerem estudos bem delineados para determinar sua
que a avaliação e a quantificação da propriocepção merecem, validade. Entretanto, incorporam teorias válidas utilizadas
bem como os parâmetros a ela relacionados, considerando que nas pesquisas em Fisioterapia e Neurofisiologia.
as intervenções terapêuticas devem ser planejadas e aplicadas
com base em resultados obtidos por meio de exame clínico CONCLUSÕES
e com fundamentação científica para seu uso.32 No entanto,
apesar de o treinamento proprioceptivo ser um dos componentes Nas condições experimentais utilizadas, o presente
fundamentais no tratamento das doenças e/ou disfunções trabalho verificou que não houve diferença significativa na
relacionadas ao joelho, especialmente da DFP,1,31 a avaliação propriocepção dos joelhos dos indivíduos portadores de DFP,
dessa variável com dados objetivos raramente é realizada na quando comparada com a dos indivíduos-controle, nos testes
prática clínica. Esse fato pode conduzir a tratamentos de extensão ativa utilizando os ângulos-alvo de 30o, 45o e
equivocados ou impróprios para determinado estágio de 60o de flexão do joelho no dinamômetro isocinético, sugerindo
reabilitação e/ou treinamento, bem como à falta de controle que o déficit proprioceptivo não está presente em indivíduos
dessa variável com a evolução do quadro do paciente. com DFP e assintomáticos.
A discordância nos resultados encontrados entre o Em virtude das diferenças metodológicas e dos diversos
presente estudo e os anteriores pode ter ocorrido em função resultados encontrados na literatura consultada são necessários
de diferenças metodológicas em relação ao instrumento de novos trabalhos, tanto em cadeia cinética aberta quanto em
avaliação proprioceptiva do joelho (a dinamometria cadeia cinética fechada, que possam analisar e esclarecer
isocinética), à amostra utilizada (sem sintomatologia dolorosa o quanto a DFP pode estar associada a um possível déficit
há pelo menos 3 meses) e ao tipo de exercício envolvido na proprioceptivo, bem como os mecanismos responsáveis por
atividade proposta para essa avaliação (cadeia cinética aberta). essas anormalidades.
Dentre essas diferenças, acredita-se que o perfil da
Agradecimentos: Agradecemos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento
amostra utilizada – sem sintomatologia dolorosa há pelo Científico e Tenológico (CNPq) – Projeto Integrado de Pesquisa Proc. no
menos 3 meses no presente estudo e sintomática no estudo 52419096-8.
de Baker et al.25 – seja o principal fator na geração dos
resultados conflitantes, uma vez que há indícios de que a REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
presença de dor e/ou inflamação desencadeia propriocepção
anormal em razão da grande proporção de terminações 1. Gotlin RS. Effective rehabilitation for anterior knee pain. The
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de DFP com etiologia a partir de déficits musculares poderiam 6. Monteiro-Pedro V, Vitti M, Bérzin F, Bevilaqua-Grosso D. The
não apresentar alterações na propriocepção, sugerindo ainda effect of free isotonic contraction exercises of the hip adduction
que o déficit proprioceptivo, quando assim verificado, seja on vastus medialis oblique muscle: an electromyographic study.
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62 Lobato, D. F. M. et al. Rev. bras. fisioter.

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