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modernidade
AUTOR: JOSÉ RICARDO CUNHA
1ª edição
ROTEIRO De CURSO
2008.2
Sumário
Epistemologia e modernidade
I. APRESENTAÇÃO DO CURSO..........................................................................................................................................................03
I. APRESENTAÇÃO DO CURSO
3. Formas de avaliação
EMENTA
6. Inatismo: Descartes.
7. Empirismo: Hume e Locke.
8. Formalismo Jurídico e Realismo Jurídico.
9. Criticismo: Kant.
OBSERVAÇÃO IMPORTANTE
NOTA AO ALUNO
Tema da aula
Objetivos da aula
x • OOque
quesignifica o espanto
significa ou ou
o espanto estranhamento comocomo
estranhamento condição para apara
condição filosofia?
a filosofia?
• O espanto ou estranhamento apenas pode acontecer diante das coisas que
x O espanto ou estranhamento apenas pode acontecer diante das coisas que
não são familiares?
não
• são familiares?
Qual a relação (ou quais as relações possíveis) entre estranhamento e verdade?
x Qual a relação (ou quais as relações possíveis) entre estranhamento e
Nada nos é mais familiar do que o tempo. Veja o que diz Santo Agostinho sobre
verdade?
o tempo:
Para se superar tais obstáculos, deve-se ter em conta que o pensamento é uma
Embora todos
experiência estes eelementos
existencial possam
histórica, por isso ao até fazer
mesmo partepessoal
tempo de um contexto
e social. Tam-maior do
pensamento, pensar
bém deve-se ter claro éque
mais do que
pensar é umPensar
não isso. ato, masé uma
criar.atitude
Pensarque
é poder fazer surgir o
nos define
diante da vida;
inexistente nos define
dando sentidocomo sujeitose criadores
às coisas ao mundo.e capazes
Assim,depensar
transcender
é umamovimento
mera de
repetição e a mesmificação. Representa, nesse sentido, 1) uma ruptura com as car-
reapropriação do mundo por meio da significação e resignificação do mundo, o que faz
tilhas e manuais; e 2) uma exigência de justificação permanente de todas as normas
e padrões de conduta.
Certamente, a experiência de pensamento vai muito além da ordem do banal e 9
exige esforço e superação. Leia a parábola abaixo, de Nietzsche, reflita e prepare-se
para o debate:
DasDastrês
trêsmetamorfoses
metamorfoses
Três metamorfoses, nomeio-vos, do espírito: como o espírito se
torna camelo e o camelo, leão e o leão, por fim, criança.
Três metamorfoses,
Muitos fardos pesados hánomeio-vos, doo espírito
para o espírito, espírito: como
forte, o espírito se
o espírito
de suportação,
torna cameloaoe qual inere o leão
o camelo, respeito;
e o cargas pesadas,
leão, por fim, as mais pesa-
criança.
das, pede fardos
Muitos a sua força.
pesados há para o espírito, o espírito forte, o espírito
“O que há de pesado?”, pergunta o espírito de suportação; e ajoe-
de suportação, ao qual inere o respeito; cargas pesadas, as mais
lha como um camelo e quer ficar bem carregado.
pesadas, pede a sua“O força.
que há de mais pesado, ó heróis”, pergunta o espírito de supor-
tação,
"O que há de“para que eu o tome
pesado?", sobre mim
pergunta e minha
o espírito deforça se alegre? e ajoelha como um camelo
suportação;
Não será isto: humilhar-se, para magoar o próprio orgulho? Fazer brilhar a pró-
e quer ficar bem carregado.
pria loucura, para escarnecer da própria sabedoria?
"O que háOude serámais
isto: pesado,
apartar-seódaheróis", pergunta
nossa causa, quando o espírito deo suportação,
ela celebra "para que eu
seu triunfo? Subir
o tome sobre
para altos mim e minha
montes, a fim deforça seoalegre?
tentar tentador?
Ou será isto: alimentar-se das bolotas e da erva do conhecimento e, por amor à
verdade, padecer fome na alma?
10
Ou será isto: estar enfermo e mandar embora os consoladores e ligar-se de ami-
zade aos surdos, que não ouvem nunca o que queremos?
Ou será isto: entrar na água suja, se for a água da verdade, e não enxotar de si nem
as frias rãs nem os ardorosos sapos?
Ou será isto: amar os que nos desprezam e estender a mão ao fantasma, quando
ele nos quer assustar?”
Todos estes pesadíssimos fardos toma sobre si o espírito de suportação; e, tal
como o camelo, que marcha carregado para o deserto, marcha ele para o seu próprio
deserto.
Mas, no mais ermo dos desertos, dá-se a segunda metamorfose: ali o espírito tor-
na-se leão, quer conquistar, como presa, a sua liberdade e ser senhor em seu próprio
deserto.
Procura ali, o seu derradeiro senhor: quer tornar-se-lhe inimigo, bem como do
seu derradeiro deus, quer lutar para vencer o dragão.
Qual é o grande dragão, ao qual o espírito não quer mais chamar senhor nem
deus? “Tu deves” chama-se o grande dragão. Mas o espírito do leão diz: “Eu quero”.
“Tu deves” barra-lhe o caminho, lançando faíscas de ouro; animal de escamas, em
cada escama resplende, em letras de ouro, “Tu deves !”
Valores milenários resplendem nessas escamas; e assim fala o mais poderoso de
todos os dragões: “Todo o valor das coisas resplende em mim.
Todo o valor já foi criado e todo o valor criado sou eu. Na verdade, não deve mais
haver nenhum ‘Eu quero’!” Assim fala o dragão.
Meus irmãos, para que é preciso o leão, no espírito? Do que já não dá conta sufi-
ciente o animal de carga, suportador e respeitador?
Criar novos valores – isso também o leão ainda não pode fazer; mas criar para si
a liberdade de novas criações – isso a pujança do leão pode fazer.
Conseguir essa liberdade e opor um sagrado “não” também ao dever: para isso,
meus irmãos, precisa-se do leão.
Conquistar o direito de criar novos valores – essa é a mais terrível conquista para
o espírito de suportação e de respeito. Constitui para ele, na verdade, um ato de
rapina e tarefa de animal rapinante.
Como o que há de mais sagrado amava ele, outrora, o “Tu deves”; e, agora, é
forçado a encontrar quimera e arbítrio até no que tinha de mais sagrado, a fim de
arrebatar a sua própria liberdade ao objeto desse amor: para um tal ato de rapina,
precisa-se do leão.
Mas dizei, meus irmãos, que poderá ainda fazer uma criança, que nem sequer
pôde o leão? Por que o rapace leão precisa ainda tornar-se criança?
Inocência, é a criança, e esquecimento; um novo começo, um jogo, uma roda que
gira por si mesma, um movimento inicial, um sagrado dizer “sim”.
Sim, meus irmãos, para o jogo da criação é preciso dizer um sagrado “sim”: o
espírito, agora, quer a sua vontade, aquele que está perdido para o mundo conquista
o seu mundo.
Nomeei-vos três metamorfoses do espírito: como o espírito torna-se camelo e o
camelo, leão e o leão, por fim criança.
Assim falou Zaratustra.
(Nietzsche, Assim Falou Zaratustra)
BIBLIOGRAFIA
Complementar
NOTA AO ALUNO
Tema da aula
Objetivos da aula
E o direito?
limites ontológicos e lógicos com os quais devemos conviver, a despeito da sensação
de insegurança que possa gerar em nós.
possível
lidar falar-se
com os problemas em verdade
de insegurança jurídica? ou seriam verdades? Como lidar com os
problemas de insegurança jurídica?
Aqui, deve-se apresentar aos alunos as categorias trabalhadas por autores como
Jerzy Wróblewski e Manuel Atienza: contexto da descoberta e contexto da
justificação. No direito não basta a verdade pura e simples. Como fenômeno da
cultura o direito importa valores, sentido moral ou ético. Por isso, suas normas –
genéricas ou concretas – devem ser justificadas. O justo está para o campo cultural FGV DIREITO RIO 15
como o verdadeiro está para o campo natural. No direito, verdadeiro e justo se
imbricam no campo ético.
CONTEXTO
Formas pelas quais
DA
epistemologia e modernidade
BIBLIOGRAFIA
Obrigatória
CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1994. (Unidade 3, Ca-
pítulo 2 Buscando a Verdade; e Capítulo 3 As Concepções de Verdade; pp.
94-107)
Complementar
NOTA AO ALUNO
1. Tema
Tema dadaaula
aula
Ontologia
Ontologia doo real:
do real: o problema
problema dodevir.
do ser e do ser e do devir.
Objetivos
2. Objetivos da aula
da aula
Introduzir
Introduzir o debate
o debate acercaacerca
do serdoe ser
do edevir
do devir
como como problema
problema ontológico
ontológico para a para a
compreensão
compreensão dada verdade
verdade acerca
acerca do real.
do real.
DESENVOLVIMENTO
3. DESENVOLVIMENTO
No No contexto
contexto do pensamento
do pensamento pré-socrático,
pré-socrático, dois
dois grandes grandes
filósofos (ou filósofos (ousepensado-
pensadores)
res) se destacaram
destacaram pela visceralidade
pela visceralidade de seusde seus pensamentos.
pensamentos. Heráclito
Heráclito de Éfeso
de Éfeso e e Par-
mênides de Eléa plantaram para toda a posteridade filosófica a questão
Parmênides de Eléa plantaram para toda a posteridade filosófica a questão do ser e do ser e do
devir. Duas
do devir. Duascompreensões distintas
compreensões distintas e opostas
e opostas da ontologia
da ontologia do realdo real
que, ao que,
mesmoao mesmo
tempo, informam
tempo, informam e desafiam
e desafiam as concepções
as concepções de verdade.
de verdade.
Heráclito de Éfeso
HERÁCLITO DE ÉFESO
CONTEXTO
DA "Pois Formasbem, eu te direi, e tu recebe a palavra que ouviste, os únicos
pelas quais
chega-se à decisão.
DESCOBERTA “Pois bem, eu te direi, e tu recebe a palavra que ouviste, os únicos cami-
- Para uma boa síntese cf. KIRKHAM,caminhos de São inquérito que2003. são a pensar: o primeiro, que é e portanto
nhos de inquérito que são a pensar: o primeiro, que é e portanto que não
1
Richard L. Teorias da Verdade. Leopoldo: Unisinos,
que ser,
é não não é não ser,
de Persuasão é caminho de Persuasão
20 (pois à verdade é acompanha);
caminho (pois à verdade
o outro,
que não é e portanto
acompanha); que é preciso
o outro, que não nãoé ser, este então,que
e portanto eu te
é digo, é atalho
preciso não ser, este
de todo incrível; pois nem conhecerias o que não é (pois não é exeqüível),
então, eu te digo, é atalho de todo incrível; pois nem conhecerias o
nem o dirias...” (Fragmento 2).
que não é (pois não é exeqüível), nem o dirias..." (Fragmento 2).
Parmênides, de uma geração após Heráclito e seu principal opositor, pode-se
considerar
Parmênides, comodeo principal
uma geração representante após da Filosofia edo seu
Heráclito, Ser. Desta forma,
principal irá dis- pode-se
opositor,
tinguir dois caminhos básicos de reflexão filosófica: a do ser e a do não ser, sendo
considerar como o principal representante da Filosofia do Ser. Desta forma, irá
a segunda verdadeiramente impossível, dada sua não-existencialidade, e a primeira
distinguir
aquela quedois realmentecaminhos leva abásicos
certeza,de alétheia. a do ser e a do não ser, sendo
reflexão– filosófica:
a verdade
Fundamental
a segunda na leitura do fragmento
verdadeiramente impossível, nos dada parecesua
o caráter totalmente excludente
não-existencialidade, e a primeira
instaurado
aquela quepor Parmênides
realmente leva noà paradoxo
certeza, à serverdade
/ não ser. São duas proposições mutua-
– alétheia.
mente exclusivas. Não havendo intermediários possíveis e sendo o ser o único caminho
investigatório
então capaz
o que lê diz “é falso”. Contudo,de
se olevar
que ele adiz verdade,
é falso, então oeste
que lê é dizo“é absoluto, essência de todo o universo,
Ecaminho
o direito?filosófico é o do ser, aquele que possibilita o pensar; concomitantemente, o
limites ontológicos e lógicos com os quais devemos conviver, a despeito da sensação
de insegurança que possa gerar em nós.
pensar passaE a ser atividade intrínseca do ser na sua manifestação lógica: "... pois o
O DIREITO? Como o problema da verdade se relaciona
com oAcreditar
Direito? A todo no
temposer
somosparmenídico significa admitir que tudo
mesmo é a pensar e portanto ser", diz o filósofo
confrontados com
no seu fragmento de guarda
número três. O
uma essência imutável, ainda que uma camada superficial e acidental
expressões do tipo: “verdade dos fatos”, “verdade das
BIBLIOGRAFIA
Obrigatória
Complementar
ANEXO
Herói Anônimo
Herói Anônimo “O herói anônimo no processo de Topeka é McKin-
ley
"O Burnett,” que, na época,
herói anônimo era o presidente
no processo de Topekada seção
é McKinley
local da NAACP,
Burnett," que, nadiz C.E. (Sonny)
época, Scroggins,da
era o presidente chefe do local da
seção
Comitê de Kansas para a Comemoração do Caso Bro-
NAACP, diz C.E. (Sonny) Scroggins, chefe do Comitê de
wn Contra a Secretaria de Educação [Kansas Commit-
Kansas
tee para a Comemoração
to Commemorate Brown v. Board do Caso Brown Contra a
of Education].
“Foi Burnett que
Secretaria dereuniu Oliver Brown
Educação e os outrosCommittee
[Kansas pais e to
foi em frente com o desafio legal, com a ajuda dos
Commemorate Brown v. Board of Education]. "Foi Burnett
advo-
gados locais”, acrescenta Scroggins, um ponto de vista
Foto:
Foto: Cortesia
Cortesia de que reuniu Oliver Brown e os outros pais e foi em frente com
de Marita Davis.
confirmado por outras fontes em Topeka. Na verdade,
À esquerda, Walter White, vice-
Marita Davis. o desafio
Burnett – comlegal, comdaasecretária
a ajuda ajuda dos advogados
da NAACP Lu- locais",
president executivo da NAACP; à
À esquerda,
direita, presi- cinda
Walter
McKinley Burnett, Todd eScroggins,
acrescenta os advogadosumCharles
ponto Scott, Johnconfirmado
de vista Scott, por
dente da Seção da NAACP de To- Elisha Scott e Charles Bledsoe – desenvolveram uma
White, vice-president outras fontes em Topeka. Na verdade, Burnett -- com a
pekano início da década de 50. estratégia para ganhar a causa.
executivo da NAACP; ajuda da secretária da NAACP Lucinda Todd e os
Burnett morreu em 1970. Seu filho, Marcus, que tinha 13 anos na época do
processo inicial e que ainda mora em Topeka, diz que desafiar a segregação “foi
uma luta à qual meu pai se dedicou por toda a sua vida”. Ele era um trabalhador
comum que acreditava que a segregação poderia ser abolida por meio dos tribunais. 28
O tempo inteiro ele estava convencido de que venceríamos. “A irmã de Marcus
Burnett, Marita Davis, que atualmente mora em Kansas City, Kansas”, concorda.
“Meu pai estava sempre lutando pelos seus direitos”, ela diz. “Eu me lembro de
que, até mesmo quando eu era bem pequena, ele estava sempre escrevendo cartas
e organizando reuniões. A luta contra a segregação nas escolas se tornou uma coisa
muito importante para ele”.
Autores
De acordo com algumas fontes em Topeka, Oliver Brown tinha uma posição de
liderança entre os autores, principalmente porque ele era o único homem do grupo.
Mas Charles Scott Jr., filho do principal advogado local, diz que Oliver Brown “se
tornou o líder entre os autores porque o seu nome era o primeiro, por ordem alfa-
bética. O caso foi levado em frente por meu pai e por outros advogados locais, em
colaboração com o Sr. Brunett e a NAACP”.
Linda Brown Thompson, que atualmente tem 55 anos e ainda mora em To-
peka, reluta em falar sobre a sua experiência e sobre o papel do seu pai ao desafiar
o sistema, em parte porque ela acha que a mídia concentrou suas atenções em
demasia na sua pessoa, ignorando os outros 12 autores da ação em Topeka. Sua
irmã, Cheryl Brown Henderson, diretora-executiva da Fundação Brown para a
Igualdade, Excelência e Pesquisa na Educação [Brown Foundation for Educational
Equity, Excellence and Research], concorda com a avaliação de Charles Scott Jr.
“Temos muito orgulho do que nosso pai fez”, Henderson diz. “Mas é importante
que o caso Brown não seja simplificado demais – não devemos esquecer os advo-
gados, os outros autores em Topeka e os autores nos outros estados, que acabaram
sendo incluídos no caso Brown”.
Zelma Henderson e Vivian Scales, duas pessoas que fazem parte do grupo de
autores de Topeka, e que ainda moram na cidade, eram jovens mães no início da
década de 50. As duas mulheres estavam ansiosas para entrar no caso. E as duas são
muito gratas a McKinley Burnett e aos advogados locais, dizendo que foi a liderança
dessas pessoas que tornou possível a luta pela integração.
"Eu tinha que levar meus dois filhos de carro até o
“Eu tinha que levar meus dois filhos de carro até o
outro lado da cidade, passando por duas escolas só
outro lado da cidade, passando por duas escolas só para
para brancos,
brancos, até umaaté uma
escola escola
só para só para
negros”, negros", diz
diz Henderson.
Henderson.
“Meus “Meus tiveram
filhos sempre filhos sempre
orgulhotiveram
do papelorgulho
que tive-do
mos
papelnaque
história”, ela na
tivemos continua. “Donald
história”, Andrew"Donald
ela continua. ainda
está aqui em Topeka. Ele tem 55 anos. Mas minha filha,
Andrew ainda está aqui em Topeka. Ele tem 55 anos.
Vicki Ann, morreu de câncer em 1984.”
Mas minha filha, Vicki Ann, morreu de câncer em
Scales também diz que tinha que levar sua filha, Ruth Ann à escola, “passando
1984."
por uma escola só para brancos que ficava bem em frente à nossa casa. Minha filha,
Scales também diz que tinha que levar sua filha, Ruth Ann à escola, "passando por
que ainda mora aqui e está com 57 anos, se sente muito bem devido ao que acon-
uma escola
teceu. Eu achosóque
para brancos
fizemos umaque
coisaficava
muitobem em frente à nossa casa. Minha filha, que
importante”.
ainda mora aqui e está com 57 anos, se sente muito bem devido ao que aconteceu.
EuAacho
Primeira Decisãouma coisa muito importante."
que fizemos
O dia de Burnett e dos autores no tribunal em Topeka foi o dia 28 de fevereiro
A Primeira Decisão
de 1951. Eles compareceram ao Tribunal Federal de Primeira Instância da Circuns-
O diadedeKansas
crição Burnett e dos
[U.S. autores
District Courtnofortribunal em Topeka
the District foi Raymond
of Kansas]. o dia 28 Carter,
de fevereiro de
que
1951.atualmente é juiz federal em
Eles compareceram Nova York,
ao Tribunal era, nade
Federal época, advogado
Primeira do Fundo
Instância de
da Circunscrição
Defesa Legal da
de Kansas NAACP
[U.S. [NAACP
District Court Legal
for theDefense Fund].
District Com a ajuda
of Kansas]. dos outros
Raymond Carter, que
advogados locais, ele apresentou o caso e solicitou a emissão de um mandado judi-
atualmente é juiz federal em Nova York, era, na época, advogado do Fundo de Defesa
cial que proibisse a segregação nas escolas primárias públicas de Topeka.
Legal da NAACP
Os juízes [NAACP
se mostraram Legal Defense
favoráveis Fund].
à causa dos Comdizendo,
autores, a ajudanados suaoutros advogados
decisão:
“A segregação
locais, de crianças brancas
ele apresentou o casoe enegras nas escolas
solicitou públicas
a emissão deé um
prejudicial
mandado para judicial
as que
crianças negras”. Mas no final a decisão dos juízes foi contra os autores porque a
proibisse a segregação nas escolas primárias públicas de Topeka.
Suprema Corte havia decretado, em uma decisão de 1896 – no caso Plessy contra
Os juízes– se
Ferguson quemostraram favoráveis
sistemas escolares à causa
“separados dos autores,
porém dizendo,
iguais” para negros na sua decisão: "A
e brancos
segregação
eram, de crianças
na verdade, brancase essa
constitucionais, e negras
decisãonas
nãoescolas públicas
havia sido é prejudicial
anulada. Portanto, para as
ocrianças
tribunal de KansasMas
negras." se sentiu forçado
no final a tomar uma
a decisão decisãofoi
dos juízes a favor da Secretaria
contra os autores de porque a
Educação de Kansas e contra os autores, por causa do episódio de Plessy.
Suprema Corte havia decretado, em uma decisão de 1896 -- no caso Plessy contra
“De certa forma, meu pai, os outros advogados locais e o Sr. Burnett não ficaram
Ferguson -- quedizsistemas
decepcionados”, escolares
Charles Scott "separados
Jr. “Eles sabiam que porém iguais"
a única formapara negros ae brancos
de derrubar
segregação no país inteiro
eram, na verdade, e não apenaseem
constitucionais, essaTopeka, era não
decisão perder a causa
havia sidoe anulada.
em seguida Portanto, o
entrar com
tribunal deum recursosenasentiu
Kansas Suprema Corte”.
forçado a tomar uma decisão a favor da Secretaria de
Educação de Kansas e contra os autores, por causa do episódio de Plessy.
FGV DIREITO RIO 21
"De certa forma, meu pai, os outros advogados locais e o Sr. Burnett não ficaram
decepcionados", diz Charles Scott Jr. "Eles sabiam que a única forma de derrubar a
segregação no país inteiro e não apenas em Topeka, era perder a causa e em seguida
epistemologia e modernidade
Depois da Decisão
A Secretaria de Educação de Topeka não esperou a ordem da Corte para unir as suas
escolas primárias negras e brancas. Antes do caso Brown, a lei de Kansas havia previsto
a segregação das escolas primárias das comunidades com população superior a 15.000
pessoas. As escolas de nível médio (equivalentes às sétima e oitava séries do primeiro
grau, e às três séries do segundo grau, no Brasil) nunca havia sido segregadas.
Mas em grande parte da nação, a tarefa seria mais difícil. Este é um dos motivos
pelos quais a Suprema Corte, em um ato posterior, menos conhecido, emitiu, em
1955, uma decisão judicial, determinando “um início imediato e razoável das pro-
vidências para a total conformidade” e a implementação da integração das escolas
“com a devida rapidez”.
Mesmo assim, houve muita resistência e a disposição das autoridades do poder
executivo de usar a força para implementar a decisão da Corte se fez necessária em
alguns lugares. O caso mais famoso ocorreu em 1957, quando o presidente Dwight
Eisenhower enviou tropas federais a Little Rock, Arkansas, depois que o governador
do estado desobedeceu uma ordem de um tribunal federal para integrar as escolas
locais – a primeira vez em que tropas federais entravam em um estado do sul para
proteger os negros desde os primeiros anos após a Guerra Civil.
Em outras partes do sul do país, a situação variava de lugar para lugar. Na maio-
ria dos lugares, a abolição da segregação ocorreu sem problemas, embora nem sem-
pre com rapidez. No ano letivo 1956-1957, “o fim da segregação, afetando 300.000
crianças negras, estava em andamento em 723 distritos escolares”, de acordo com
David Godfield, que conta em detalhes a história do fim da segregação em Black,
White and Southern [tradução livre: Negros, Brancos e Sulistas].
Por outro lado, diz Goldfield, os legisladores promulgaram 45 leis “com o ob-
jetivo de contornar a determinação da Suprema Corte” e até 1960, “menos de um
por cento dos estudantes do sul do país estavam freqüentando escolas integradas”.
O andamento do processo foi muito mais rápido em Topeka e no meio-oeste, de
modo geral; o sul finalmente recuperou o atraso no final da década de 60 e início
da década de 70. Embora a luta contra a segregação sancionada pelas leis tenha sido
vencida há muito tempo, os tribunais federais, atualmente, ainda estão lidando
com questões referentes à segregação nos distritos escolares, que são o resultado das
tendências na escolha de áreas residenciais.
NOTA AO PROFESSOR
epistemologia e modernidade
1. Tema da aula
NOTA AO ALUNO
2. Objetivos
Tema da aulada aula
A verdadeo como
Introduzir linguagem
debate acerca nadasofística.
relação entre verdade e linguagem a partir do
pensamento sofístico.
Objetivos da aula
1. Nada é;
A SENTENÇA SEGUINTE É FALSA
E o direito?
limites ontológicos e lógicos com os quais devemos conviver, a despeito da sensação
Para além da habilidade retórica, fica a distinção entre SER, PENSAR e DIZER, como
de insegurança que possa gerar em nós.
E O DIREITO?
três planos autônomos
Acreditar com
Acreditar
E O DIREITO? Como
na
ona dignidade
linguagem
linguagem
problema ecomo
da verdade como estatuto
campo
campo
se relaciona próprio.
próprio
próprio Assim, o dizer
da verdade
da verdade significa – linguagem –
significa
com o Direito? A todo tempo somos confrontados com
admitirdofilosófica
possui envergadura
expressões que as verdades
tipo: “verdade e fatos”,
dos jurídicas
autonomia
“verdade não decorrem
das para de planos
resignificar metafísicos
admitir que as verdades jurídicas não decorrem de planos
os entes na sua própria
metafísicos ououtranscendentes,
ou transcendentes, mas, antes, dos agentes
leis”, “verdade do processo” “verdade do intérprete”.mas,
antes, dos agentes lingüísticos
lingüísticos
É
que a instituem
identidade. Quebra-se que a o
possível falar-se em princípio
verdade
instituem
ou seriamda identidade,
de fala. Isso pois
verdades?
por um ato
Como
implicauma coisa pode
a conseqüência de ser (tornar-se) o
porcomum
lidar ato dede insegurança
os problemas fala. Isso implica a conseqüência de que também é pos-
jurídica?
Obrigatória
imbricam no campo ético.
CONTEXTO
DA
Formas pelas quais
chega-se à decisão. 48
1
CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da filosofia: dos pré-socráticos a Aristó-
DESCOBERTA
- Para uma boa síntese cf. KIRKHAM, Richard L. Teorias da Verdade. São Leopoldo: Unisinos, 2003.
teles. São Paulo: Brasiliense, 1994. (Capítulo III. Os Sofistas e Sócrates: o
AULA 4
Humano como tema e problema: seção
LINGUAGEM E VERDADE: Os Sofistas
20
3 Os Sofistas ou a arte de ensinar)
49
epistemologia e modernidade
Complementar
BARKER, Ernest. Teoria política grega. Brasília: EdUnB, 1978. (Capítulo IV. A
Teoria Política dos Sofistas)
AULA
1. 5. CONCEITO
Tema da aula E VERDADE: SÓCRATES
Tema da aula
2. Objetivos da aula
A verdade como conceito abstrato.
Introduzir o debate acerca da verdade como conceito puramente racional a partir do
pensamento socrático.
Objetivos da aula
O mais conhecido
PREPARE-SE divisor de águas da filosofia ocidental é, sem dúvida, Sócrates. Não
PARA A AULA
há comprovação histórica de sua existência, mas a filosofia se vale do arcabouço
O mais conhecido divisor de águas da filosofia ocidental é, sem dúvida, Sócrates.
“Sócrates” para demarcar uma etapa inicial e decisiva do pensamento ocidental. A
Não há comprovação histórica de sua existência, mas a filosofia se vale do arcabouço
partir de Sócrates
“Sócrates” deu-seuma
para demarcar a clivagem racionalista
etapa inicial e decisivaque
do nos marca a ocidental.
pensamento todos até A hoje.
partir de Sócrates deu-se a clivagem racionalista que nos marca a todos até hoje.
AA chamada"reconstrução
chamada “reconstrução socrática”
socrática"recolocou
recolocou o tema da ver-
o tema da verdade
dade como aletheia no centro de todas as discussões. Trata-se da
como aletheia no centro de todas as discussões. Trata-se da opção
opção que faz Sócrates pela Razão como fundamento primeiro
que
de tudofazque
Sócrates pela Razão
é verdadeiro, certo e como
justo. Afundamento
partir desse primeiro
filósofo, de tudo
aque
razão deixa de ser certo
é verdadeiro, uma prática
e justo.de comunicabilidade
A partir desse filósofo, entre os
a razão deixa
indivíduos para se tornar inteligibilidade do real. Esta
de ser uma prática de comunicabilidade entre os indivíduos para se
guinada
representará um dos mais profundos cortes no pensamento de
tornar
toda inteligibilidade
a tradição, marcando do todos
real. os
Esta guinada
aspectos representará
da vida humana. um dos
maisSócrates,
Para profundos cortes no
o homem pensamento
é dotado de razão deetoda a tradição,
sentido, marcando
sendo este último otodos os aspectos
que nos
dá
da acesso ao mundoPara
vida humana. empírico, que, oporém,
Sócrates, homem é superficial
é dotadopor de modificar-se constan-
razão e sentido, sendo este
temente. Já a razão nos possibilita conhecer o mundo inteligível, aquele onde a
último o que nos dá acesso ao mundo empírico, que, porém, é superficial por
verdade e a justiça se apresentam de forma definitiva. Verdade e justiça tornam-se
modificar-se
sinônimos constantemente.
dentro Já a razão
de uma racionalidade nos possibilita
universal, conhecer
necessariamente o mundo
válida para to-inteligível,
aquele
dos onde a verdade
os homens, que reduze os
a justiça se apresentam
princípios de forma definitiva. Verdade e justiça
à unidades conceituais.
A verdade
tornam-se não residedentro
sinônimos na linguagem
de umaou na opinião –universal,
racionalidade dóxa – de necessariamente
cada indivíduo. válida
Da mesma forma, o real fundamento das relações não está nas convenções e normas
para todos os homens, que reduz os princípios à unidades conceituais.
– nómos – específicas que produzem justiças singulares. O realmente verdadeiro e
realmente justo é o que se eleva acima das múltiplas individualidades e somente é
alcançado pelo sujeito virtuoso que abandona todos os seus preconceitos. O ponto 52
central do pensamento socrático é que a prática da justiça como virtude apenas será
alcançada pelo conhecimento da justiça. Assim, a questão epistemológica será a
tos e sua ignorância sobre o tema em debate; o segundo é a maiêutica, onde, tam-
A SENTENÇA SEGUINTE É FALSA
Abém
SENTENÇA através
ANTERIOR deÉ VERDADEIRA
perguntas, leva seu interlocutor a descobrir uma verdade conceitual
dentro
Estamos diantede si mesmo
de uma comqueavemutilização
inconsistência lógica sendo discutida da razão.
e enfrentada há
muito tempo pela filosofia.1 Independente dos resultados a que se chegue, o fato é
que mesmo em relação à verdade, não há apenas várias correntes ou definições, mas
E o direito?
limites ontológicos e lógicos com os quais devemos conviver, a despeito da sensação
de insegurança que possa gerar em nós.
razão.
leis”, Assim,
“verdade mais
do processo” importante
ou “verdade do intérprete”. Éque as experiências jurídicas concretas
possível falar-se em verdade ou seriam verdades? Como
sãocomosos problemas
lidar centros de referência
de insegurança jurídica? conceitual do direito. Tais centros, no
sistema romano-germânico, são comumente compreendidos como a
Aqui, deve-se apresentar aos norma
alunos asescrita. Daí que
categorias trabalhadas por é comum
autores como o recurso ao texto da lei (ainda que
mediado pela doutrina) para se explicar e entender as categorias jurídicas, mesmo
Jerzy Wróblewski e Manuel Atienza: contexto da descoberta e contexto da
justificação. No direito não basta a verdade pura e simples. Como fenômeno da
que,o muitas
cultura vezes,
direito importa valores, desligado
sentido moral ou doético.mundo
Por isso, suasdanormas
vida. – Ganha-se em segurança, mas perde-
genéricas ou concretas – devem ser justificadas. O justo está para o campo cultural
se em adaptatividade que é essencial à realização da justiça.
como o verdadeiro está para o campo natural. No direito, verdadeiro e justo se
imbricam no campo ético.
CONTEXTO
Formas pelas quais
DA chega-se à decisão.
BIBLIOGRAFIA
DESCOBERTA
1
- Para uma boa síntese cf. KIRKHAM, Richard L. Teorias da Verdade. São Leopoldo: Unisinos, 2003.
Obrigatória 20
Complementar
BARKER, Ernest. Teoria política grega. Brasília: EdUnB, 1978. (Capítulo V. Só-
crates e os Socráticos Menores)
NOTA AO ALUNO
Tema da aula
Objetivos da aula
Introduzir o debate acerca da verdade como resultado de uma razão inata a partir
do subjetivismo cartesiano.
RACIONALISMO EMPIRISMO
Fundamentado numa razão inata Fundamentado na percepção dos sentidos
Opera dedutivamente Opera indutivamente
Alcança o mundo externo por meio de uma
Alcança o mundo externo por meio de uma
experiência possibilitada pela percepção
inferência (representação) lógica
sensível e por uma operação mental
“Mas não temerei dizer que penso ter tido muita felicidade de
“Mas não temerei dizer que penso ter tido muita felicidade
de mehaver
me haverencontrado, desdea ajuventude,
encontrado, desde juventude,
em em certos
certos cami-caminhos
nhos
que queme me conduziram a considerações
conduziram consideraçõese máximas, de que de que
e máximas,
formei um método, pelo qual me parece que eu tenha meio de
formei um método, pelo qual me parece que eu tenha meio de
aumentar gradualmente meu conhecimento, e de alçá-lo, pouco
aaumentar gradualmente
pouco, ao mais meu
alto ponto a que conhecimento,
a mediocridade de meueespí-
de alçá-lo,
pouco
rito a pouco,
e a curta duraçãoaodemais
minhaalto
vidaponto a que atingir.”
lhe permitam a mediocridade
1 de
meu espírito e a curta duração de minha vida lhe permitam atingir.”2
Este parágrafo, registrado no início do Discurso do Método, sintetiza a perspectiva
cartesiana no pensamento moderno. Descartes cria um tipo de construtivismo ali-
Este parágrafo,
cerçado sobre duasregistrado no início
tarefas básicas: do toda
destruir Discurso
formadode Método, sintetiza
conhecimento que ahaja,
perspectiva
ao menos, uma
cartesiana no boa razão para não
pensamento se acreditar;
moderno. reconstruir
Descartes criaumumnovo
tipoe seguro tipo
de construtivismo
de conhecimento
alicerçado que não
sobre duas se encontre
tarefas básicas:motivo
destruirfundamentado
toda forma depara não acreditarque haja,
conhecimento
nele. Pode-se dizer que Descartes, como o inaugurador da moderna escola raciona-
ao menos, uma boa razão para não se acreditar; reconstruir um novo e seguro tipo de
lista ou idealista, teve os mesmo ideais de pessoas em perspectiva oposta, como Ba-
conhecimento
con, por exemplo.que não seinfluenciado
Também encontre motivo fundamentado
pelas técnicas para nãoprocura
e pela matemática, acreditar nele.
lançar
Pode-se as bases
dizer de uma
que nova fundamentação
Descartes, para a própria
como o inaugurador verdade, através
da moderna escola de um
racionalista ou
tipo de conhecimento
idealista, teve os mesmo seguroideais
e verdadeiro (ciência)
de pessoas emque pudesse desvendar
perspectiva as forças
oposta, como Bacon, por
e as leis próprias da natureza para que o homem a controlasse definitivamente. É
exemplo. Também influenciado pelas técnicas e pela matemática, procura lançar as
isso que torna a perspectiva cartesiana construtivista, pois não está interessado em,
bases de
apenas, uma onova
destruir fundamentação
tradicional conhecimento parasobre
a própria verdade,
o mundo, mas simatravés de um tipo de
em recolocá-
lo sobre bases supostamente
conhecimento mais seguras:
seguro e verdadeiro (ciência) que pudesse desvendar as forças e as
leis próprias da natureza para que o homem a controlasse definitivamente. É isso que
“Não que imitasse, para tanto, os céticos, que duvidam apenas por duvidar e
torna afetam
a perspectiva
por semprecartesiana
irresolutos:construtivista, poistodo
pois ao contrário, nãooestá
meu interessado
intuito tendiaem,
tão apenas,
destruir o tradicional
somente conhecimento
a me certificar sobre
e remover a terra o mundo,
movediça maspara
e a areia, sim em recolocá-lo
encontrar a rocha sobre
ou a argila.”2
2
- DESCARTES, René. Discurso do Método. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 29.
Querendo alcançar tal intento, Descartes propõe um método para conduzir o
espírito ao conhecimento verdadeiro, sem ter que submetê-lo às autoridades exte-
riores. Trata-se da dúvida metódica como forma de reconstruir em bases seguras e 57
verdadeiras o próprio mundo à nossa volta, ou, como afirma o próprio Descartes,
a proposição de um método para bem conduzir a razão e procurar a verdade nas
ciências. Como dito, o método que leva à verdade implica a dúvida como condi-
ção epistemológica: “...mas, por desejar então ocupar-me somente com a pesqui- 1
DESCARTES, René. Discurso do
sa da verdade, pensei que era necessário agir exatamente ao contrário, e rejeitar método. São Paulo: Abril Cultu-
ral, 1979. p. 29.
como absolutamente falso tudo aquilo que pudesse imaginar a menor dúvida, a
2
DESCARTES, René. Ob. Cit.,
fim de ver se, após isso, não restaria algo em meu crédito, que fosse inteiramente p. 44.
indubitável.”3 Praticando este método, segundo Descartes, qualquer pessoa pode- 3
DESCARTES, René. Ob. Cit.,
ria conhecer de maneira nítida e clara as idéias que são inatas no espírito e, por p. 46.
isso mesmo, superiores àquelas idéias que derivam dos sentidos (adventícias) ou
àquelas que são fabricadas pela imaginação (fictícias). As idéias inatas são racionais
e existem porque nascemos com elas, o que significa dizer que a razão, como facul-
dade inata, é o único lugar possível para as “idéias claras e distintas”, para o verda-
deiro conhecimento. Essa é a grande descoberta do “penso, logo existo” – cogito,
ergo sum – que verifica que a certeza do conhecimento não vem do objeto exterior,
mas reside no próprio cogito como evidência apodíctica, irrefutável:
“Mas, logo em seguida, adverti que, enquanto eu queria assim pensar que tudo
era falso, cumpria necessariamente que eu, que pensava, fosse alguma coisa. E, no-
tando que esta verdade: eu penso, logo existo, era tão firme e tão certa que todas as
mais extravagantes suposições dos céticos não seriam capazes de abalar, julguei que
podia aceitá-la, sem escrúpulo, como o primeiro princípio da filosofia que procura-
va.”4
Por isso, somente a razão conduzida logicamente, tendo o cogito como paradig-
ma metodológico, poderá decifrar todos os códigos do mundo, e o conhecimento
apenas dela pode advir. Conforme se infere da leitura do Discurso do Método, Des-
cartes, na busca do conhecimento verdadeiro, toma a realidade à sua volta e se pro-
põe a dúvida como método, ou seja, duvidar de tudo aquilo que se tenha ao menos
uma razão para duvidar. Através da dúvida metódica ele comprova a falsidade de
todo tipo de conhecimento sensível e chega à verdade absoluta do cogito, onde a
razão distingue as idéias inatas e faz delas representações seguras e verdadeiras que
deduzem o mundo, conhecido com exatidão geométrica, “cientificamente”.
Para o racionalismo cartesiano, a razão é a natureza perfeita existente num ser
imperfeito por força da ação de um Ser perfeito: Deus. Embora Deus seja a causa
operativa última, mais importante é a razão perfeita, “deusa razão”,que universaliza
o conhecimento e torna acessível a verdade tão necessária ao homem e que jamais
seria conhecida se estivesse fora dele. Portanto, é o nosso espírito que possui a razão
e a verdade e não o mundo externo e é justamente por isso que pode ser conhecida
com segurança. O modelo epistemológico das ciências é o matemático, fundado
em critérios internos e abstrações, onde o raciocínio lógico é o mestre que conduz o
pensamento e evita as contradições e vacilações. Descartes adota, para o alcance da
verdade via ciência, quatro preceitos da lógica:
“O primeiro era o de jamais acolher alguma coisa como verdadeira que eu não
conhecesse evidentemente como tal; isto é, de evitar cuidadosamente a precipitação
e a prevenção, e de nada incluir em meus juízos que não se apresentasse tão clara e
tão distintamente a meu espírito, que eu não tivesse nenhuma ocasião de pô-lo em
dúvida. O segundo, o de dividir cada uma das dificuldades que eu examinasse em
tantas parcelas quantas possíveis e quantas necessárias fossem para melhor resol-
vê-las. O terceiro, o de conduzir por ordem meus pensamentos, começando pelos
objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir, pouco a pouco, como por
degraus, até o conhecimento dos mais compostos, e supondo mesmo uma ordem 4
Idem.
entre os que não se procedem naturalmente uns aos outros. E o último, o de fazer
em toda parte enumerações tão completas e revisões tão gerais que eu tivesse certeza
de nada omitir.”5
então o que lê diz “é falso”. Contudo, se o que ele diz é falso, então o que lê diz “é
verdadeiro”.
Claro que, na verdade, não há paradoxo, pois o fato de alguém ser mentiroso não quer
Como visto, tal método pode ser associado ao procedimento matemático para
dizer que tudo que ele diz é mentira. Mas o problema aponta para o paradoxo real que
solução de uma equação. Mas é na base desta razão calculadora que Descartes pensa
pode ser apresentado pela frase: Esta sentença é falsa. Se a sentença é falsa, então
ela é verdadeira, mas se for verdadeira, então ela é falsa. Pode-se desqualificar este
ter descoberto
paradoxo dizendo-se ser eleosemnovo
sentido eportal de acesso
autoreferenciado. aodarconhecimento
Mas podemos uma verdadeiro. Inaugura-se o
moderno princípio epistemológico da razão suficiente, que domina e controla o
versão que não é auto-referente e tem pleno sentido gramatical:
Amundo transformando
SENTENÇA SEGUINTE É FALSA os fenômenos naturais e/ou sociais em fórmulas e abstra-
A SENTENÇA ANTERIOR É VERDADEIRA
ções. Diferentemente do indutivismo dos empiristas, Descartes abre o caminho do
dedutivismo
Estamos racionalista
diante de uma inconsistência moderno.
lógica que vem sendo discutida e enfrentada há
muito tempo pela filosofia.1 Independente dos resultados a que se chegue, o fato é
que mesmo em relação à verdade, não há apenas várias correntes ou definições, mas
E o direito?
limites ontológicos e lógicos com os quais devemos conviver, a despeito da sensação
de insegurança que possa gerar em nós.
do próprio direito.
cultura o direito importa valores, sentido moral ou ético. Por isso, suas normas –
genéricas ou concretas – devem ser justificadas. O justo está para o campo cultural
como o verdadeiro está para o campo natural. No direito, verdadeiro e justo se
imbricam no campo ético.
CONTEXTO
BIBLIOGRAFIA
DA
Formas pelas quais
chega-se à decisão.
DESCOBERTA
1
- Para uma boa síntese cf. KIRKHAM, Richard L. Teorias da Verdade. São Leopoldo: Unisinos, 2003.
Obrigatória
20
REALE, Miguel. Filosofia do direito. São Paulo: Saraiva, 1996. (Parte I – Capítulo
VIII. Do Conhecimento Quanto a Origem).
Complementar
5
DESCARTES, René. Ob. cit., pp.
37-38.
epistemologia e modernidade
NOTA AO PROFESSOR
AULA 7. EMPIRISMO: HUME E LOCKE
Tema da aula
NOTA AO ALUNO
A verdade como resultado da experiência empírica.
Tema da aula
Objetivos da aula
Introduzir o debate acerca da verdade como resultado da experiência empírica a partir
do Introduzir
empirismooinglês.
debate acerca da verdade como resultado da experiência empírica a
partir do empirismo inglês.
DESENVOLVIMENTO
PREPARE-SE PARA A AULA
“A “Amaneira
maneira pela
pelaqual
qualadquirimos
adquirimosqualquer conhecimento
qualquer constitui constitui
conhecimento
suficiente prova de que não é inato. Consiste numa opinião estabelecida
suficiente prova de que não é inato. Consiste numa opinião
entre alguns homens que o entendimento comporta certos princípios
estabelecida
inatos, entre
certas noções alguns koinaì
primárias, homens que
énoiai, o entendimento
caracteres, os quais esta-comporta
certos
riam princípios
estampados inatos,
na mente certas cuja
do homem, noçõesalma primárias,
os recebera em koinaì
seu énoiai,
ser primordial os
caracteres, e osquais
transportara
estariamconsigo ao mundo. na
estampados Seria suficiente
mente para
do homem, cuja
convencer os leitores sem preconceito da falsidade desta hipótese se pu-
alma os recebera em seu ser primordial e os transportara consigo ao
desse apenas mostrar (o que espero fazer nas outras partes deste tratado)
mundo. Seria
como suficiente
os homens, para convencer
simplesmente pelo usoosdeleitores sem preconceito
suas faculdades da falsidade
naturais, podem adqui- desta
hipótese se pudesse
rir todo apenas
o conhecimento quemostrar
possuem (semo aque espero
ajuda fazer impressões
de quaisquer nas outras partes
inatas e deste
podem alcançar a certeza sem quaisquer destas noções ou princípios
tratado) como os homens, simplesmente pelo uso de suas faculdades naturais, podem originais.” 6
Neste parágrafo, Hume lança as bases da filosofia que irá associá-lo ao pensamento
epistemologia e modernidade
Neste parágrafo, Hume lança as bases da filosofia que irá associá-lo ao pensa-
mento empirista, inaugurado por Bacon e continuado por Locke, dentre outros.
Contudo, pode-se dizer que o empirismo de Hume é o mais inovador e radical,
colocando-o em posição de destaque dentre os próprios empiristas. Segundo sua
filosofia, não há conhecimento da realidade que não se inicie com as impressões dos
sentidos. Na verdade, estes são estimulados por dados internos ou externos ao sujei-
to, dando início a um processo psicológico que vai, etapa a etapa, produzindo um
tipo de “verdade” sobre os dados da realidade. Por isso, no parágrafo em epígrafe,
afirma que somente a vivacidade do sentimento original é capaz de responder ou
explicar uma dada situação. Nesse sentido, pode-se dizer que Hume compreende a
verdade sobre o entendimento humano (o que Descartes chamaria de cogito) como
a própria vivência imediata do pensar estimulado indutivamente por impressões, ou
seja, não existe consciência mas, apenas, vivências. Numa síntese geral do processo
de conhecimento exposto por Hume na sua Investigação sobre o Entendimento Hu-
mano11, temos que os conhecimentos começam com as sensações (experiência dos
sentidos) estimuladas pelos objetos exteriores. É a reunião das várias e diferentes
sensações que permite perceber um objeto exterior, ou seja, as sensações reunidas
formam a percepção. Na medida em que as percepções vão se repetindo, elas se
combinam, se associam, quer seja porque são semelhantes (semelhança), porque
se repetem no mesmo espaço ou próxima umas das outras (contiguidade espacial)
ou porque se repetem sucessivamente no tempo (sucessão temporal). O fato é que,
com esta repetição, ocorre o hábito da associação das percepções, fazendo com que,
assim, surjam as idéias. Em outras palavras, as idéias correspondem à associação das
percepções trazidas pela experiência sensível, que são levadas à memória, onde a
razão forma os pensamentos. É a experiência que inscreve as idéias em nosso espí-
rito e a razão as arranja (combinando ou separando), formando, desta maneira, os
pensamentos. Assim, Hume afirma que a razão nada mais é que o hábito de associar
idéias, seja por semelhança, seja por diferença.
Negando fundamentos abstratos e metafísicos, Hume encerra a Investigação cri-
ticando a idéia do apriorismo como meio de acesso ao conhecimento verdadeiro
dos acontecimentos do mundo real, dos fatos; bem como criticando a resposta da
velha teologia de que um Ente Supremo precisa ter sido a causa de tudo que foi
criado e do que será criado, já que a relação de causalidade depende de uma expe-
riência pessoal não universalizável sobre bases seguras. Assim, a causa corresponde
à imaginação do sujeito afetada por uma determinada experiência dos sentidos.12
Com efeito, para Hume, não pode haver conhecimento pleno e cientificamente
válido fora do campo meramente conceptual, como é o caso da matemática, já
que em relação aos fatos, não há demonstração possível, na medida em que “tudo
que é pode não ser”13, acusando mesmo de enganação e ilusão qualquer tentativa
de levar o raciocínio das ciências abstratas de quantidade e número para os fatos
concretos. 11
HUME, David. Ob. Cit., pp.
141-157.
12
HUME, David. Ob. Cit., p. 204.
13
HUME, David. Ob. Cit., p. 203.
realismo jurídico.
Aqui, deve-se apresentar aos alunos as categorias trabalhadas por autores como
Jerzy Wróblewski e Manuel Atienza: contexto da descoberta e contexto da
justificação. No direito não basta a verdade pura e simples. Como fenômeno da
cultura o direito importa valores, sentido moral ou ético. Por isso, suas normas –
Bibliografia
genéricas ou concretas – devem ser justificadas. O justo está para o campo cultural
como o verdadeiro está para o campo natural. No direito, verdadeiro e justo se
imbricam no campo ético.
Obrigatória
CONTEXTO
Formas pelas quais
DA chega-se à decisão.
DESCOBERTA
1
REALE, Miguel. Filosofia do direito. São Paulo: Saraiva, 1996. (Parte I – Capítulo
- Para uma boa síntese cf. KIRKHAM, Richard L. Teorias da Verdade. São Leopoldo: Unisinos, 2003.
Complementar
NOTA AO ALUNO
Tema da aula
Objetivos da aula
RACIONALISMO EMPIRISMO
FUNDAMENTO
Fundamentado
NO numa razão inata Fundamentado na percepção dos sentidos
Opera dedutivamente Operadeindutivamente
Método abstração
conceitual
Alcançaque confere externo por meio de uma
o mundo
PRINCÍPIO DA
Alcança o mundo externo por meio de uma plenitude de sentido às
RACIONALIDADE experiência
prescrições possibilitada pela percepção
inferência (representação) lógica
sensível e por uma operação mental
normativas.
Ordenamento jurídico
DIREITO POSITIVO
No direito, o racionalismo influencioupreciso
tanto o jusnaturalismo do século XVIII,
e completo.
COERENTE
mas, sobretudo, o formalismo positivista do século XX. Já o empirismo está na base
dos realismos jurídicos. Procedimentos de
FUNDAMENTO NA decidibilidade que
LEI subsumem o valor
justiça ao valor
segurança,
FORMALISMO JURÍDICO materializado no
conceito de legalidade.
3. Os códigos não deixam nenhum arbítrio ao intérprete. Esse não faz o direito
porque já o encontra realizado;
4. As determinações metajurídicas não têm valor jurídico, devendo-se encon-
trar todas as soluções dentro do próprio sistema jurídico;
5. A linguagem jurídica é formal e, portanto, precisa: possui um unívoco senti-
do dispositivo;
6. O juiz é neutro;
7. A Ciência Jurídica deve estudar, sem formular juízos valorativos, o direito
positivo vigente.
REALISMO JURÍDICO
Novamente Luiz Alberto Warat apresenta alguns postulados que podem ser úteis
na compreensão do realismo jurídico. Continue sua preparação refletindo sobre os
novos postulados:
afirmações metafísicas;
Claro que, na verdade, não há paradoxo, pois o fato de alguém ser mentiroso não quer
dizer que tudo que ele diz é mentira. Mas o problema aponta para o paradoxo real que
pode 3. A linguagem
ser apresentado jurídica
pela frase: Esta sentença não
é falsa. é hermética
Se a sentença é falsa, então nem auto-suficiente. O sentido das
4. ASEGUINTE
A SENTENÇA Ciência É FALSAdo direito constrói-se elaborando teses sobre os comportamentos
judiciários. Os conceitos teóricos devem ter base empírica, razão porque só
A SENTENÇA ANTERIOR É VERDADEIRA
E o direito?
de insegurança que possa gerar em nós.
matrizes epistemológicas?
leis”, “verdade do processo” ou “verdade do intérprete”. É
possível falar-se em verdade ou seriam verdades? Como
lidar com os problemas de insegurança jurídica?
Aqui, deve-se apresentar aos alunos as categorias trabalhadas por autores como
Jerzy Wróblewski e Manuel Atienza: contexto da descoberta e contexto da
justificação. No direito não basta a verdade pura e simples. Como fenômeno da
Bibliografia
cultura o direito importa valores, sentido moral ou ético. Por isso, suas normas –
genéricas ou concretas – devem ser justificadas. O justo está para o campo cultural
como o verdadeiro está para o campo natural. No direito, verdadeiro e justo se
Obrigatória
imbricam no campo ético.
CONTEXTO
Formas pelas quais
TEIXEIRA,
DA
DESCOBERTA
Antonio Braz.
chega-se Sentido e valor do direito: introdução à filosofia jurídi-
à decisão.
1
- Para uma boaca.
síntese Lisboa: Casa da Moeda,
cf. KIRKHAM, Richard L. Teorias da Verdade. 2000.
São Leopoldo: Unisinos,(Parte
2003. I. Ontologia do Direito. Capítulo
I. Perspectivas contemporâneas da ontologia 20 jurídica – Seções 17, 18, 19 e
20).
Complementar
epistemologia e modernidade
NOTA AO PROFESSOR
AULA 9. CRITICISMO: KANT
Tema da aula
NOTA AO ALUNO
Tema da aula
A síntese crítica de inatismo e empirismo.
Objetivos da aula
Objetivos da aula
Paradesenvolver
Para desenvolver plenamente
plenamenteseus estudos,
seus sem sem
estudos, dar margens
dar margens a
a nenhum tipo de inconsistência, Kant se propôs um saber críti-
nenhum tipo de inconsistência, Kant se propôs um saber crítico. Daí
co. Daí sua filosofia também ser conhecida como criticismo, que
sua filosofia
consiste também
no exame ser conhecida
de valor que se podecomo sobre uma que
fazer criticismo, consiste no
teoria,
uma conduta
exame ou uma
de valor queexperiência,
se pode fazer a fim sobre
de buscar
uma suas condições
teoria, uma conduta
de possibilidade, de validade e os seus limites.
ou uma experiência, a fim de buscar suas condições de Podemos afirmar
que o criticismo surge do movimento realizado por Kant dian-
tepossibilidade, de validade e os seus limites. Podemos afirmar que o
daquilo que considera como dois erros, a saber: a) o erro do
criticismo surge
dogmatismo do movimento
racionalista, que confia realizado
cegamente porna Kant diante
razão, daquilo
caindo, que mesmo,
por isso considera como
numa metafísica
dois erros, ilusória;
a saber: a) b) o errodododogmatismo
o erro empirismo, que reduz tudoque
racionalista à mera experiên-
confia cegamente na
cia subjetiva, caindo, por isso mesmo, num ceticismo quanto ao
razão, caindo, por isso mesmo, numa metafísica ilusória; b) o erro do empirismo que
conhecimento ea
verdade. Dessa forma, o criticismo kantiano irá buscar as verdadeiras bases para um
reduz
uso tudodaà razão,
correto mera investigando
experiênciaosubjetiva,
que ela pode caindo,
e o quepor elaisso mesmo,
não pode, num ceticismo
em outras
quanto ao
palavras, conhecimento
suas possibilidadesee alimites.
verdade. Dessa
É por forma,
isso que o criticismo
comumente kantiano
se fala irá buscar as
sobre o “tri-
bunal da razão”
verdadeiras na filosofia
bases para um kantiana, onde da
uso correto a razão
razão,ocupa, curiosamente,
investigando o queum eladuplo
pode e o que
papel: de juiz e de réu, ou seja, ela está sendo julgada por ela mesma. É a razão que
ela não pode, em outras palavras, suas possibilidades e limites. É por isso que
se submete às suas próprias leis. Assim, a razão crítica é aquela da qual nada escapa a
comumente
um minuciososeexame;
fala sobre
até mesmoo “tribunal da erazão”
seu agente operador na éfilosofia kantiana,
visto e analisado poronde
ela, a razão
ocupa,
para quecuriosamente,
nada fique à mercêum duplo papel: de
de respostas juiz e de eréu;
dogmáticas semoufundamento
seja, ela está sendo julgada
racional.
O
porconhecimento
ela mesma. É como ciência
a razão queé,seexatamente,
submete às essesuas
que próprias
é submetidoleis.ao império
Assim, da crítica
a razão
razão para se apresentar de forma verdadeira e sistemática, segundo as características
é aquela da qual nada escapa a um minucioso exame; até mesmo seu agente e
de um sujeito autônomo, posto que também submetido à razão. A razão crítica é,
operador
antes é visto
de tudo, a razão e que
analisado
se criticapor
a siela, paraimpedindo
mesma, que nadaseus fique à mercê
delírios de respostas
megaloma-
níacos e reconhecendo, humildemente, suas possibilidades:
83
“Em todos os seus empreendimentos a razão tem que se submeter à crítica, e não
pode limitar a liberdade da mesma por uma proibição sem que isto a prejudique
e lhe acarrete uma suspeita desvantajosa. No que tange à sua utilidade, nada é tão
importante nem tão sagrado que lhe seja permitido esquivar-se a esta inspeção atenta
e examinadora que desconhece qualquer respeito pela pessoa. Sobre esta liberdade
repousa até a existência da razão; o veredicto desta última, longe de possuir uma
autoridade ditatorial, consiste sempre em nada mais do que no consenso de cidadãos
livres dos quais cada um tem que poder externar, sem constrangimento algum, suas
objeções e até seu veto.”14
“Até agora se supôs que todo o nosso conhecimento tinha que se regular pelos
objetos; porém todas as tentativas de mediante conceitos estabelecer algo a priori so-
bre os mesmos, através do que ampliaria o nosso conhecimento, fracassaram sob esta
pressuposição. Por isso tente-se ver uma vez se não progredimos melhor nas tarefas
da Metafísica admitindo que os objetos têm que se regular pelo nosso conhecimento,
o que concorda melhor com a requerida possibilidade de um conhecimento a priori
dos objetos que se deve estabelecer sobre os mesmos antes de nos serem dados.”16
p. 12.
obstante traça como que todo o seu contorno, tendo em vista tanto os seus limites 17
KANT, Immanuel. Ob. Cit.,
como também toda a sua estrutura interna.”17 Temos, assim, que o conhecimento p. 14.
abre e fecha, pois, caso contrário, não seria porta. Agora, vejamos o juízo a porta KANT, Immanuel. Ob. Cit., pp.
19
24-26.
está aberta. Esta proposição realmente acrescenta um dado novo sobre o sujeito que 20
KANT, Immanuel. Ob. Cit.,
não era conhecido anteriormente, fazendo o conhecimento avançar. Contudo, este p. 27.
conhecimento somente pode ser considerado válido para aquele sujeito especifica-
mente, não podendo se dizer por que esta porta está aberta, que todas as portas do
mundo estão abertas. Dessa forma, o juízo porta abre e fecha é analítico, tal qual o
juízo o triângulo têm três lados ou todos os corpos são extensos; já o juízo a porta está
aberta é sintético, tal qual todos os corpos se movimentam.
Acontece que, isoladamente, estes conceitos ainda não respondem ao problema
do conhecimento científico, pois os juízos sintéticos são empíricos e fazem avançar
o conhecimento, mas não são universais e necessários, não servido, portanto, para
explicar o funcionamento das ciências. Já o conhecimento a priori é universal e ne-
cessário, mas apenas traduz juízos analíticos, onde não se revela nenhuma novidade
sobre o sujeito, de forma que não faz avançar o conhecimento e, também, não serve
para explicar o funcionamento das ciências. A resposta está numa categoria empíri-
ca, onde o predicado não esteja contido no sujeito mas que, ao mesmo tempo, seja
universal e necessária: trata-se do juízo sintético a priori.21 Somente os juízos sintéti-
cos fazem a ciência avançar, na medida em que acrescentam uma informação sobre
o sujeito; contudo, é necessário, para que haja ciência, que a informação não se
restrinja a uma única observação específica de um fenômeno, mas possa ser tomada
como atributo universal e necessário de dado objeto cognoscível.
Os juízos sintéticos a priori representam o conhecimento científico porque são
universais e crescentes, ao mesmo tempo:
p. 28.
Assim descreve Kant: 22
SALGADO, Joaquim Carlos.
A Idéia de Justiça em Kant: seu
fundamento na liberdade e na
“Denominamos sensibilidade a receptividade de nossa mente receber representa- igualdade. Belo Horizonte: Edi-
tora UFMG, 1995, p. 87.
ções na medida em que é afetada de algum modo; em contrapartida, denominamos
então o que lê diz “é falso”. Contudo, se o que ele diz é falso, então o que lê diz “é
verdadeiro”.
em relação aos fins, degenerando na forma de certas condutas consideradas mera-
Claro que, na verdade, não há paradoxo, pois o fato de alguém ser mentiroso não quer
20
REALE, Miguel. Filosofia do direito. São Paulo: Saraiva, 1996. (Parte I. Capítulo
VIII. Do Conhecimento Quanto a Origem).
Complementar
AULA 10.PROFESSOR
NOTA AO O POSITIVISMO: COMTE
NOTA AOaula
Tema da ALUNO
Tema da aula
O positivismo filosófico.
O positivismo filosófico.
Objetivos da aula
Objetivos
Apresentar o da aula filosófico conforme desenvolvido por Augusto Comte.
positivismo
outras palavras, se tudo estiver em ordem, haverá o progresso, donde a crença que o
progresso decorre da ordem. Para garantir a ordem que produz progresso, a ciência
– com sua pluralidade de objetos e unidade metodológica – descobre as leis gerais
imutáveis da estática (ordem) e da dinâmica (progresso).30 Segundo o positivismo, é
exatamente isso que ocorre nas sociedades. Por isso a definição da sociologia como
uma física social que investiga o fenômeno social como um dado objetivo e natural,
chegando às suas leis gerais imutáveis. No lugar da democracia, considerada por
Comte como sendo anarquista, e da aristocracia, considerada por ele reacionária,
propõe uma sociocracia fundada no conhecimento científico da sociedade e, por
isso, capaz de conduzir o espírito humano numa trajetória moral evoluída e verda-
deiramente livre. Para tanto, basta compreender que, consoante concepção positi-
vista, toda sociedade é formada por uma estática social e por uma dinâmica social,
sendo a primeira uma condição constante da sociedade que lhe garante a harmonia:
ordem; e sendo a segunda o resultado de suas leis gerais de evolução que lhe garante
o desenvolvimento: progresso. Nesse sentido, para uma boa existência da sociedade
e sua respectiva evolução, bastaria a implantação de um Estado sociocrata interven-
cionista que garantisse o funcionamento dos órgão sociais, assegurando a vitalidade
do organismo e evitando as disfunções socialmente patológicas que pudessem ou
impedir o progresso. Essa acepção positivista, que torna a política dependente da
ciência, também produz a idéia de que a política pode ser vista como uma técnica de
arranjo social, ocultando a questão fundamental das correlações de força e de busca
pelo poder, como se ciência e política fossem neutras, isentas de influências ideoló-
gicas na busca e na realização de uma “verdade pura”. Michael Lövy explica como as
ciências sociais foram tomadas por este modelo epistemológico, sendo conduzidas
basicamente pelos seguintes princípios: 1) A sociedade é regida por leis naturais,
isto é, leis invariáveis, independentes da vontade e da ação humanas; na vida social,
reina
então o queuma
lê diz “é harmonia
falso”. Contudo, senatural;
o que ele diz é2)falso,A sociedade
então o que lê diz “é pode, portanto, ser epistemologica-
verdadeiro”.
mente assimilada pela natureza e ser estudada pelos mesmos métodos e processos
Claro que, na verdade, não há paradoxo, pois o fato de alguém ser mentiroso não quer
empregados
dizer que tudo que ele dizpelas ciências
é mentira. daaponta
Mas o problema natureza; 3)realAsqueciências da sociedade, assim como as
para o paradoxo
pode ser apresentado pela frase: Esta sentença é falsa. Se a sentença é falsa, então
daé verdadeira,
ela natureza, mas se devem
for verdadeira,limitar-se
então ela é falsa.à observação
Pode-se e à explicação causal dos fenômenos,
desqualificar este
CONTEXTO
Formas pelas quais
DA chega-se à decisão.
epistemologia e modernidade
Bibliografia
Obrigatória
Complementar
NOTA AO ALUNO
Tema da aula
Objetivos da aula
nidade) imaginou a sociedade como uma ordem, uma arquitetura baseada sobre 1994, p. 36.
é um dos que melhor nos oferece uma boa compreensão do racionalismo típico da
dizer que tudo que ele diz é mentira. Mas o problema aponta para o paradoxo real que
pode ser apresentado pela frase: Esta sentença é falsa. Se a sentença é falsa, então
modernidade,quando
ela noseladebruçamos,
é verdadeira, mas se for verdadeira, então no este
é falsa. Pode-se desqualificar prefácio do livro Princípios da Filosofia
paradoxo dizendo-se ser ele sem sentido e autoreferenciado. Mas podemos dar uma
do Direito,
versão sobre esua
que não é auto-referente famosa
tem pleno afirmação: “o que é racional é real e o que é real é racio-
sentido gramatical:
nal.” Nessa esteira de pensamento, toda ordem existente na sociedade só pode ser
37
A SENTENÇA SEGUINTE É FALSA
Aracional, já que
SENTENÇA ANTERIOR somente a razão é capaz de consubstanciar-se na história, como o
É VERDADEIRA
Aqui, deve-se apresentar aos alunos as categorias trabalhadas por autores como
Jerzy Wróblewski e Manuel Atienza: contexto da descoberta e contexto da
justificação. No direito não basta a verdade pura e simples. Como fenômeno da
Bibliografia
cultura o direito importa valores, sentido moral ou ético. Por isso, suas normas –
genéricas ou concretas – devem ser justificadas. O justo está para o campo cultural
como o verdadeiro está para o campo natural. No direito, verdadeiro e justo se
Obrigatória
imbricam no campo ético.
CONTEXTO
Formas pelas quais
TOURAINE,
DA
DESCOBERTA
Alain. Crítica
chega-se à decisão. da Modernidade. Petrópolis: Vozes, 1994. (Primeira
1
- Para uma boaParte – A Modernidade
síntese cf. KIRKHAM, Richard L. Teorias da Verdade.Triunfante: Capítulo 1 – As Luzes da Razão.)
São Leopoldo: Unisinos, 2003.
20
Complementar
NOTA AO ALUNO
Tema da aula
Civil, conhecido como Código de Napoleão. Este fato históri- básica é a lei manifestada sob o rótulo de
preparou o segundo [positivismo jurídico] através de sua crítica radical dojurídico”. direito
HESPANHA, Como
44 afirmado,
António Manuel. o paradigma des
co foi o marco
103
para o surgimento da nova corrente positivista: Ob. Cit., p. 175.
onatural.” A formaA básica
legalismo jurídico. do básica
sua forma historicismo jurídico, que
é a lei manifestada sobtambém corresponde pretendeu ao seu
de positivismo foi o Código de Napole
regularO Positivis-
BOBBIO, Norberto.
45 de maneira absoluta a to
oaspecto fenomênico,
rótulo de é a tradição,
“código jurídico”. Comoconsiderada por Savigny como o “espírito dodas
afirmado, o paradigma povo”
mo Jurídico:
situações liçõesjuridicamente
de filosofia do relevantes na s
direito. São Paulo: Ícone, 1995,
desta
ou, em forma de positivismo
alemão, volksgeist. foi o Código de Napoleão, que
de abrangência. Isto gerou no legal
p. 45.
expectativa de um sistema jurídico c
pretendeu regular de maneira absoluta a totalidade das situ- Idem. 46
coerente e sem lacunas, possível de ser apl
maneira mecânica, conforme a vontade exata do legislador que foi a au
No início do século XIX, maisque precisamente
competente o elaborou e promulgou.na
Assim, para o legalismo jurídico, dir
FGV DIREITO RIO 59
e não há direito fora da lei, por isso, mesmo que dura a lei deve ser aplicada,
França em 1804, entrou em vigor o novo Código
expressão dura lex, sed lex. A principal forma de consubstanciação do legalis
Civil, conhecido como Código deExegese,
Escola da Napoleão.
na França Este fato
do século XIX.
epistemologia e modernidade
Bibliografia
Obrigatória
Complementar
FICHA TÉCNICA
Joaquim Falcão
DIRETOR
Fernando Penteado
VICE-DIRETOR ADMINISTRATIVO
Sérgio Guerra
VICE-DIRETOR DE PÓS-GRADUAÇÃO
Ronaldo Lemos
Coordenador do Centro de Tecnologia e Sociedade
Rogério Barcelos
COORDENADOR DE ENSINO DA GRADUAÇÃO
Tânia Rangel
COORDENADORA DE MATERIAL DIDÁTICO
Wania Torres
COORDENADORA DE SECRETARIA DE GRADUAÇÃO
Diogo Pinheiro
COORDENADOR DE FINANÇAS
Milena Brant
COORDENADORA DE MARKETING ESTRATÉGICO E PLANEJAMENTO