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a p p l i e d k n ow l e d ge

Memorandum of Economic and Financial Policies:

11 Perspectivas
Maio de 2011

Este documento recolhe a análise de professores da NOVA


sobre as políticas propostas no Memorando.

Índice
Introdução – José Ferreira Machado 2
Implementação – Pedro Santa Clara 3
Macroeconomia – Francesco Franco 4
Saúde – Pedro Pita Barros 6
Mercado de Trabalho – Pedro Portugal 9
Regulação e Concorrência – Vasco Santos 10
Banca – Paulo Soares de Pinho 12
Energia – Paulo Soares de Pinho 13
Telecomunicações – Steffen Hoernig 15
Administração Local – Susana Peralta 16
Justiça – Nuno Garoupa 18
Economia e Política – José Tavares 19
Nova School of Business and Management

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Introdução
José Ferreira Machado
Director da Nova School of Business and Economics

A liderança acarreta responsabilidade. Este documento recolhe a análise de


Para nós, na Nova School of Business and professores da NOVA sobre as políticas
Economics, essa responsabilidade traduz-se propostas no Memorando. Foram-lhes pedidas
fundamentalmente no esforço quotidiano análises sucintas e acessíveis.
de formação de mulheres e homens
equipados para competir no mercado global Aqui estão. São textos de mulheres e homens
e de produção de conhecimento rigoroso e livres, que só a eles comprometem.
relevante.
A Escola, enquanto tal, não faz análises
Momentos existem, todavia, em que uma nem emite opiniões. Mas é sua Missão ser a
escola líder deve envolver-se nos grandes casa plural que estimula, acolhe e divulga o
debates que atravessam a sociedade em que pensamento dos seus.
se insere. Espera-se então que pela análise
educada e descomprometida, auxilie os
cidadãos a formar opiniões mais informadas e
a tomar decisões mais esclarecidas.

Portugal vive um desses momentos. No


meio da maior crise da nossa memória
colectiva, foi firmado no dia 4 de Maio o
Memorandum of Economic and Financial Policies,
com representantes da União Europeia,
Banco Central Europeu e Fundo Monetário
Internacional. Em menos de 50 pontos,
as partes comprometem-se com o maior
programa de reformas estruturais jamais
levado a cabo no nosso País, abrangendo
áreas como Orçamento, Saúde, Administração
Pública, Justiça e Concorrência.

Acredito que – se levadas a cabo com


entusiasmo e rigor – estas reformas mudarão
Portugal para melhor. Quase todas as medidas
eram conhecidas. Quase todas haviam sido
propostas nos últimos 20 anos. A falta de
coragem, o eleitoralismo ou a cedência a
interesses instalados fizeram com que nunca
tivessem passado de intenções. Foi a crise que
forçou a cooperação e silenciou as reservas.
Mas a celebração do acordo representa tão
somente o “fim do princípio”.
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Implementação
Pedro Santa Clara

O acordo com o FMI, BCE e a CE é globalmente O documento prevê também a introdução de


positivo. Dá-nos um mapa para encontrar a um sistema de contabilidade pública de acordo
competitividade perdida. Mas temos que ser com standards internacionais, e a melhoria
nós a fazer o caminho… do controlo de despesas, incluindo despesas
diferidas. Todas estas são boas medidas, que
Infelizmente, não temos tido na nossa história sem dúvida limitarão a margem de manobra
recente capacidade para reformar a nossa para gastar sem prestar contas. Como
economia, e temos um Estado aprisionado por dizia a minha avó, “a luz do sol é o melhor
interesses de muitas e variadas espécies que desinfectante”.
se prevê farão oposição cerrada às reformas
que os afectarem. Parece-me por isso da Em particular, o acordo prevê um exame
maior relevância pensar em mecanismos que detalhado das PPP e uma melhoria na
permitam ultrapassar os obstáculos e fazer qualidade da informação disponibilizada.
mesmo as mudanças necessárias. Neste capítulo, Esta pode ser uma área interessante para
a ajuda do FMI é preciosa mas não é suficiente. impulsionar a credibilidade do acordo. Se
– como se supõe – houver margem para
Em primeiro lugar, a ajuda financeira ao nosso renegociar com vantagem as garantias
país será dispensada gradualmente, mediante exageradas oferecidas pelo Estado, teremos
o cumprimento dos objectivos traçados. Este uma vitória rápida que será motivadora para o
é o mecanismo mais forte para garantir a resto do programa.
implementação do acordo. Mas funciona um
pouco como a bomba atómica: só pode ser Um assunto em que o acordo é omisso é a
usado uma vez porque tem consequências responsabilização dos decisores por gestão
demasiado drásticas. Seria útil ter um danosa da coisa pública. Neste país, em que a
mecanismo de recompensa e castigo mais culpa costuma morrer solteira, é fundamental
gradual. Uma ideia simples seria tornar a taxa que quem desempenha funções de importância
de juro do empréstimo ao país dependente na sociedade seja monitorizado, avaliado e – se
da avaliação feita pelo FMI nas suas visitas for caso disso – castigado. Temos que ser nós a
trimestrais. Tenho a certeza que um incentivo criar os mecanismos deste processo, sob pena
destes faria maravilhas pela nossa diligência de voltarmos a uma situação desastrosa como
na implementação do acordo. a actual, relativamente à qual (aparentemente)
ninguém tem culpa!
Uma medida interessante que está prevista
no Memorando é a criação de um Conselho de
Finanças Públicas independente para avaliar a
performance da estratégia fiscal. Instituições
deste tipo – como o Office for Budget
Responsibility no Reino Unido – analisam
detalhadamente a sustentabilidade das contas
públicas e estudam as implicações fiscais de
políticas económicas. Esta instituição pode ser
um travão importante à fraude e ofuscação
orçamental a que temos assistido.
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Macroeconomia
Francesco Franco

Resumo macroeconómico Dois terços da consolidação fiscal serão


O enquadramento macroeconómico do conseguidos através da redução da despesa
Memorando de Entendimento é bastante robusto. e apenas um terço através do aumento de
Integra as reformas estruturais necessárias num receitas. O aumento das receitas é alcançado
modelo que tem em consideração o efeito da através de um conjunto de impostos,
actividade agregada na economia (no ambiente tendencialmente na área do consumo.
actual, com taxas de juro fixadas pelo acordo e Assim, a política de aumento de receitas
uma política monetária exógena, os potenciais está em consonância com o esforço de
canais de expansão de uma consolidação fiscal reequilíbrio externo. Finalmente, o acordo
estão ausentes). reforça a estabilidade e resiliência dos bancos
portugueses, permitindo um processo mais
Esta abordagem torna o cenário estável de desalavancagem nacional.
macroeconómico subjacente bastante realista.
Os objectivos fundamentais das políticas O caminho para a consolidação fiscal
descritas no Memorando são o reequilíbrio da A tabela abaixo mostra a evolução fiscal
economia e o aumento da sua taxa potencial recente e o caminho da consolidação implícito
de crescimento. As medidas essenciais para no Memorando. O plano de consolidação
atingir estes objectivos são a melhoria da estabiliza o rácio entre a dívida e o PIB, e
competitividade externa, uma consolidação permite atingir o limite máximo de deficit
fiscal implementável e mecanismos para definido pelo acordo de Maastricht - 3% - até
assegurar um sistema financeiro estável. 2013.

A recuperação da competitividade externa

UE/UME r
é a meta mais urgente, mas também a mais
Dívida

Deficit

FMI r
Ano

desafiante. As políticas estruturais necessárias


g

para atingir esta meta passam pelo aumento


da produtividade e atractividade do sector 2008 71.6 -3.5 1 4.3

transacionável – através da liberalização de 2009 83 -10.1 -2.9 3.5

mercados de trabalho – e pelo aumento de 2010 93 -9.1 2.8 3.26

concorrência no sector não transacionável. 2011 103 -5.9 -1.6 3.25 ?


2012 111 -4.5 0 3.25 ?

A política que – a curto prazo – acelera e 2013 115 -3 2.4 3.25 - 4.25 ?

sustenta o processo de reequilíbrio externo


é a desvalorização fiscal: a troca de receitas
Sobre a tabela…
provenientes da Taxa Social Única (TSU) por
- Dívida e Deficit são expressos em percentagem de
receitas provenientes do aumento de IVA, com PIB
efeito neutro no orçamento. - g é a taxa nominal de crescimento do PIB
- r é a taxa de juro média
- O PIB nominal (tal como o crescimento do PIB) é
A redução na TSU deverá traduzir-se em calculado dividindo a meta do deficit em euros
preços mais baixos, aumentando assim a pela meta do deficit em percentagem de PIB
competitividade e favorecendo o aumento - A taxa de juro implícita é o rácio entre o
pagamento de juros totais e divida remanescente
das exportações. O aumento na taxa de IVA
favorecerá a poupança e reduzirá importações.
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A consistência deste caminho de consolidação


é condicionada pela taxa de juro cobrada
na tranche do empréstimo disponibilizada
pela UE – UME (“?” na tabela). As autoridades
europeias têm que oferecer uma taxa de
juro que não ponha em risco a consolidação
fiscal. Mais: qualquer spread acima da taxa
de juro paga pela facilidade europeia tem
que ser justificada. Um spread punitivo
para quem utiliza a facilidade é aceitável,
mas um spread sem justificação e aberto a
várias interpretações não é. A monitorização
frequente da consolidação para assegurar uma
implementação rigorosa das medidas fiscais
(diminuição da despesa, aumento de impostos)
é também crucial.

O acordo prevê a criação um Gabinete


Português para o Orçamento, que terá como
objectivo a monitorização, assistência e
preparação de relatórios imparciais sobre o
processo de consolidação orçamental. Uma
estratégia produtiva podia ser permitir que
este novo Gabinete participasse no processo de
monitorização contínuo planeado pela troika
para os próximos três anos.

O caminho para a competitividade externa


A desvalorização fiscal é uma alteração na
estrutura de impostos (com efeito neutro no
orçamento) que aumenta a poupança privada
e as exportações líquidas, funcionando como
substituto de uma desvalorização nominal.
O aumento da taxa de IVA – principalmente
o aumento das taxas mais reduzidas – e a
redução da TSU só poderão ter os resultados
esperados se forem acompanhados a curto
prazo de moderação salarial, e se a redução da
TSU resultar em preços mais baixos.
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Saúde
Pedro Pita Barros

A exigência de poupança é forte: 550 milhões Actualmente, a estrutura das taxas


de euros. moderadoras tem já a diferenciação entre
centro de saúde / USF e consulta no hospital. E
As medidas propostas no Memorando de havendo margem para subir algumas (poucas)
Entendimento não se limitam a procurar taxas moderadoras, não será por aqui que se
obter poupanças de curto prazo. Existe uma alcançará o equilíbrio financeiro do sector
preocupação subjacente de estabelecer público. Vale a pena assinalar que os valores
mecanismos que assegurem um maior controlo deverão manter-se dentro de limites razoáveis.
das despesas com saúde no futuro. Esses Afinal, o objectivo destas taxas moderadoras
mecanismos envolvem avaliação de desempenho, não é financiar o sistema (arrecadando
utilização de mecanismos de concorrência no receitas), mas sim prevenir consumos
aprovisionamento público, e criação de boas excessivos, resultantes em mais despesa
práticas de transparência e informação. pública.

Várias das medidas são válidas e importantes, As taxas moderadoras têm como objectivo
mesmo fora do contexto de uma crise. evitar abusos de utilização, e por esse motivo
Não há no entanto uma grande surpresa não é expectável que subam para valores
entre as reformas propostas, uma medida muito elevados (na Grécia por exemplo, a taxa
inesperada que surpreenda completamente. moderadora é ainda mais baixa do que em
Diversas medidas aliás, sob uma ou outra Portugal, mesmo após um aumento).
forma, encontravam-se já presentes
em recomendações da Comissão para a Seguro de saúde por dedução fiscal
Sustentabilidade Financeira do SNS, de 2006. Os benefícios fiscais constituem um “seguro de
saúde implícito” oferecido pelo Estado.
Globalmente, o efeito destas medidas depende Sobre este seguro incidem duas medidas
crucialmente do empenho com que forem distintas:
aplicadas. Não há uma transformação brutal do • A dedução em todos os benefícios fiscais é
Serviço Nacional de Saúde com esta proposta. determinada de acordo com o escalão de
taxa marginal de imposto, sendo zero para o
Revisão das taxas moderadoras escalão mais elevado;
Preconiza-se não apenas uma revisão do • Introdução de um limite às deduções com
valor das taxas moderadoras, mas também despesas de saúde.
das isenções que actualmente existem (que
resultaram de sucessivos alargamentos no Estas duas medidas têm consequências
perímetro de isenção, e que é adequado positivas e negativas.
revisitar). Adicionalmente, pretende-se Do lado positivo, reduzem a regressividade
a criação de uma indexação das taxas que é introduzida por estes benefícios
moderadoras à inflação e uma estrutura em fiscais, evidenciada em vários documentos
que as taxas moderadoras de clínica geral são e resultante em grande medida de os mais
menores que as de especialidade, e estas ainda pobres não terem de pagar IRS e por isso não
menores que as pagas em episódio de urgência. terem possibilidade de deduzir despesas de
Medidas muito semelhantes foram propostas saúde (suportando-as por inteiro). Do lado
em 2006. negativo, corresponderão a um aumento
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dos co-pagamentos efectivos da população local, medidas de esforço agregado – como


portuguesa, podendo diminuir o interesse o PIB – sejam apresentadas em contraponto
em solicitar aos prestadores de cuidados de com o PIB tendencial, e não o verificado, para
saúde recibos do serviço recebido (favorecendo que a leitura de evolução das contas públicas
assim uma eventual evasão fiscal). O corte não seja influenciada por oscilações de ciclo
proposto é de 2/3 do benefício fiscal. Presume- económico da economia. Esta medida deverá
se que – sendo actualmente elegíveis 30% das ser implementada tendo em mente desde o
despesas privadas em saúde para crédito fiscal início a sua aplicação para além do período
– esse valor baixará para os 10%. a que este Memorando de Entendimento diz
respeito. Este enquadramento plurianual
Uma medida similar tinha já sido proposta em fornece ainda ao Ministro da Saúde um
2006, pela Comissão para a Sustentabilidade argumento técnico na negociação de verbas
Financeira do Serviço Nacional de Saúde. A dentro do próprio Governo, na afectação dos
opção pela redução e não pela eliminação recursos disponíveis entre as diferentes áreas.
radica num argumento simples: “o valor deverá
realizar um balanço entre redução do benefício Sector do Medicamento
fiscal e a manutenção da eficiência fiscal Na área do medicamento existem três
associada à sua existência (desincentivando a medidas relevantes: preço máximo do novo
evasão fiscal neste domínio). genérico (60% do medicamento de origem
respectivo), alteração do sistema de preços
Redução dos subsistemas públicos por referenciação internacional para passar a
O objectivo é que 50% dos custos com seguir o preço mais baixo, e um objectivo de
subsistemas de saúde públicos sejam despesa pública em medicamentos de 1,25 e
suportados pelos seus beneficiários. Propõe- 1% do PIB de despesa pública para o sector.
se por isso uma redução dos benefícios. Com
uma redacção distinta, já em 2006 tinha sido Seguir o preço mais baixo dos países de
apresentada ideia semelhante: “recomendação referência é susceptível de agravar – ou pelo
nº 7 – retirar do espaço orçamental os menos não melhorar – o registo de introdução
subsistemas públicos, sendo evoluções de novos produtos no mercado, com
possíveis a sua eliminação ou a sua auto- desfasamento temporal (que pode chegar a
sustentação financeira”. vários anos de atraso).

A discussão à volta dos subsistemas públicos O objectivo de proporção do PIB em


tem-se centrado, em parte, no argumento que medicamentos é simples, mas na verdade
não é justo todos contribuírem via impostos pouco relevante, uma vez que nada nos diz
para algo que apenas alguns usufruem. Mas que a média europeia é um bom ponto de
este argumento não tem em conta o lado das referência.
empresas que - incluindo nos seus custos o
custo com estes seguros de saúde – beneficiam No caso das farmácias, prevê-se uma redução
de um crédito fiscal. Pelo menos esse valor de da margem segundo o escalão de despesa.
crédito fiscal com os seguros de saúde deverá Esta pode ser uma oportunidade para rever
ser retomado. a própria estrutura, reduzindo o peso da
componente proporcional para dar lugar a um
Enquadramento plurinanual valor fixo por acto de dispensa.
Exercício de apresentação de um
enquadramento orçamental das despesas Prescrição electrónica e qualidade da
públicas em saúde, de 3 a 5 anos – esta é prescrição
uma medida que já tem sido apontada de É defendida a sua introdução. É um tema
diversos lados, e que contribuirá para um pacífico. Mas é também adicionada uma teia
melhor planeamento público. Apesar de não de acções que pretende fazer uma avaliação
ser especificamente referido, afigura-se de permanente dos padrões de prescrição ao nível
toda a vantagem que nesse enquadramento médico, com base primeiro em regularidades
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estatísticas, e depois em identificação dos


casos anómalos, com indicação de informação
de retorno ao médico.
De algum modo esta mesma preocupação
esteve já presente nos trabalhos da Comissão
para a Sustentabilidade Financeira do SNS.

Eficiência
Várias medidas neste campo foram sendo
propostas. Na procura de poupanças, a recolha
de economias de escala é algo obviamente
desejável. Papel central de um mecanismo
centralizado de compras do Estado. Reduções
de preços junto das entidades privadas que
fornecem serviços de diagnóstico e terapêutica
ao sector público. Reafirmação da aposta nos
cuidados de saúde primários. Construção de
um sistema de avaliação por comparação
de desempenho (benchmark) dos hospitais,
e adopção de medidas para evitar situações
de dívidas a fornecedores com prazos muito
elevados. Continuação da reorganização e
racionalização da rede hospitalar.

Uma análise rápida mostra que, no essencial,


os principais problemas estavam já delineados:
“recomendação nº2 – maior eficiência na
prestação de cuidados de saúde, traduzida
quer por uma menor despesa, quer por uma
menor taxa de crescimento da despesa pública
em saúde”.

Evolução do número e disponibilidade de


médicos
Prevê a actualização dos números referentes
a total de médicos em especialidade, idade,
sexo, etc., um aspecto que estava já discutido
no documento de 2006, embora referente a
todas as profissões, e não apenas aos médicos.
Já a introdução de mobilidade geográfica
de médicos (de profissionais de saúde, num
sentido mais geral) é um aspecto relevante
para contrariar a má distribuição geográfica de
pormenores.
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Mercado de Trabalho
Pedro Portugal

O conjunto de iniciativas dedicadas ao mercado Invocando a necessidade de reduzir a


de trabalho reflecte uma percepção apurada segmentação do mercado de trabalho entre
da situação polar das instituições portuguesas. “insiders” (trabalhadores com contratos
De facto, quando se estabelecem comparações permanentes) e “outsiders” (desempregados,
internacionais, verifica-se que Portugal é um caso contratados a prazo e “falsos recibos verdes”)
extremo de protecção ao emprego, de protecção são sugeridos alguns passos no sentido
ao desemprego e de rigidez nominal dos salários. de diminuir os custos de despedimento.
A rigidez da legislação laboral tem tradução no Avança-se, timidamente, no sentido de
facto de Portugal ser o país da OCDE em que a considerar mais razões para o despedimento
duração média do desemprego é a mais longa, a individual, mas não é explicitamente
taxa de criação de ofertas de emprego é a mais contemplada a simplificação de procedimentos
baixa, e em que o peso do trabalho temporário é e a “desjudicialização” do processo de
o segundo mais elevado. Neste enquadramento, despedimento. E reduzem-se desde já as
o Memorando de Entendimento aproxima, de indemnizações por despedimento para os
forma contida e gradual, a legislação portuguesa novos contratos. Para os actuais trabalhadores,
à legislação europeia. deverá ter-se presente que já terão pago –
através de salários mais baixos – a expectativa
A evolução dos salários ao longo da última de poderem vir a ser indemnizados por
década, em desalinho com os salários despedimento (como num seguro).
exequíveis, gerou um problema sério de Uma política que reduza a precariedade com
competitividade externa e desencadeou um inteligência e eficácia seria a criação de um
aumento assustador da taxa de desemprego. contrato de trabalho único, sem termo, que
Há no Memorando de Entendimento uma eliminasse os contratos a termo e os “falsos
preocupação transversal em conter ou recibos verdes”.
diminuir os custos do trabalho: redução da
taxa social única, redução da remuneração Espera-se que a desvalorização fiscal tenha um
das horas extraordinárias, congelamento efeito benéfico sobre o emprego. Se se utilizar
do salário mínimo e dos aumentos salariais um valor consensual para a elasticidade da
dos funcionários públicos, redução das procura do trabalho, uma diminuição real
indemnizações por despedimento e redução do dos custos de trabalho de 10% poderá, no
montante e duração do subsídio de desemprego. longo prazo, representar um crescimento de
5% do emprego. Isto em equilíbrio parcial
Mas a mudança mais crítica será, porventura, a – que é sempre questionável – uma vez que,
alteração dos mecanismos de determinação dos por exemplo, o aumento do imposto sobre o
salários, através do controlo imposto à extensão consumo levará a um aumento de preços e
dos contratos à generalidade do sector, da consequentemente à diminuição da procura
obrigatoriedade dos negociadores revelarem quem de produtos, e por esta via, da procura de
efectivamente representam e da abertura a que as trabalho. Em todo o caso, o que a literatura
empresas estabeleçam por si só acordos salariais. económica sugere é que o aumento de
Neste domínio, registe-se a perspicácia com que impostos sobre o rendimento do trabalho é
foi detectado o incrível imbróglio legal gerado pela uma arma de destruição maciça de empregos.
prática dos negociadores não revelarem os seus Espera-se legitimamente que o inverso seja
constituintes. verdadeiro.
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Regulação e Concorrência
Vasco Santos

O Memorando de Entendimento aborda • Em relação às recomendações das


aspectos de concorrência de uma forma autoridades reguladoras nacionais sobre
correcta. Não vai, contudo, tão longe quanto políticas de concorrência.
seria desejável.
A escolha dos “especialistas internacionais”
A concorrência entre empresas é um elemento não deverá ser deixada ao livre arbítrio de
fundamental para que uma economia de Portugal. Os seus nomes devem ser propostos
mercado funcione. O Memorando enfatiza por Portugal, com possibilidade de veto pelo
– bem, sublinhe-se – uma série de aspectos FMI/EU/BCE. Só assim fica garantido que o
fundamentais para o funcionamento relatório a elaborar satisfaz os fins últimos que
da regulação económica em Portugal, se propõe atingir. Não fica claro na leitura do
nomeadamente: acordo que será este o caso.
• A necessidade das autoridades reguladoras
serem independentes, tornando a sua Adicionalmente, embora esteja de algum modo
captura pelos regulados ou controlo pelo implícito que as recomendações deste relatório
Governo menos prováveis; serão em larga medida implementadas
• A necessidade das autoridades por Portugal, teríamos preferido que tal
reguladoras terem garantidas as fontes de implementação fosse a priori integralmente
financiamento necessárias para poderem vinculativa, só não o sendo em caso de acordo
exercer de forma eficaz a sua função, entre Portugal e o FMI/EU/BCE.
garantindo que as suas decisões são
correctas do ponto de vista da aplicação Mais importante ainda, as recomendações
da teoria económica, juridicamente sólidas sobre questões de concorrência que
(e por isso dificilmente questionáveis em autoridades reguladoras nacionais
sede de litigância) e ainda tomadas com entendessem por bem fazer, deveriam ser
celeridade. sujeitas automaticamente a “escrutínio
legislativo”, forçando a sua avaliação pelos
Destaca-se no documento a exigência de órgãos de soberania com poderes para
elaboração de um relatório independente, converter tais recomendações em lei. Uma
elaborado por “especialistas internacionais”, das funções fundamentais das autoridades
que explicitará qual deve ser o método de reguladoras nacionais é fazer recomendações
nomeação, as responsabilidades, os recursos sobre questões de concorrência (a Autoridade
disponibilizados e o nível de independência da Concorrência já as faz). Mas se tais
das entidades reguladoras nacionais, tendo recomendações não passarem por escrutínio
como ponto de referência as melhores práticas legislativo, não passarão disso mesmo:
internacionais. recomendações, sem efeito prático. Como diria
qualquer economista… nesse caso geraram
Contudo, o Memorando de Entendimento custos (de concepção e elaboração) sem
deveria ter ido mais longe em dois planos: gerarem benefícios de implementação.
• No que concerne aos especialistas a
contratar e à exigência de implementação Note-se ainda que o Memorando opta por
das medidas que sugiram; manter um oligopólio legal – o das farmácias
– preferindo extrair algumas das rendas
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(lucros anormais) geradas pelo sector para


as converter em receita do Estado. Não deixa
de ser curioso verificar que neste caso, a
preocupação (de curto e médio prazo) de
obtenção de receita se sobrepôs ao imperativo
de assegurar, por exemplo, a livre entrada no
sector, de modo a induzir concorrência em
preço na venda de medicamentos. Teríamos
preferido que – mesmo que esta fosse a
solução de curto e médio prazo – ela fosse
imposta de par com a exigência do redesenho
da regulação do sector, de modo a promover a
sua normalização concorrencial.

Talvez porque as questões de concorrência e


regulação são muito jovens no nosso país, os
portugueses tendem a subestimar muitíssimo
o contributo que a concorrência entre
empresas pode dar para o bem-estar social,
quer estaticamente (sob a forma de preços
mais baixos e melhor qualidade dos produtos
e dos serviços presentes no mercado), quer
do ponto de vista dos ganhos de eficiência e
inovação que a concorrência dinamicamente
gera.

Por tudo isto, teria sido desejável que o


Memorando de Entendimento fosse mais longe
do que efectivamente foi.
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Banca
Paulo Soares de Pinho

Da análise da componente do Memorando da posição de liquidez dos bancos. Por outro,


de Entendimento relativamente ao porque se procura incentivar a poupança em
sector financeiro resulta uma conclusão detrimento do crédito interno, originador de
fundamental: o empenho para que a banca endividamento externo.
portuguesa volte a merecer a confiança da
banca internacional, ganhando acesso aos Tais medidas constituem boas notícias
mercados interbancários e de obrigações. para os aforradores e contribuintes, que
Enquanto isto não acontece, o documento beneficiam de um sistema financeiro mais
introduz um mecanismo de garantia do estável. Mas constituem más notícias para
financiamento dos bancos, que lhes permita quem procura crédito, cada vez mais escasso
no curto prazo reduzir a dependência do Banco e caro. E péssimas notícias para os accionistas
Central Europeu. dos bancos, que serão chamados a investir
mais capital num sector que a curto prazo
Com essa finalidade, o Memorando prevê assistirá a uma redução de actividade e de
um significativo reforço da exigência quanto rendibilidade.
aos níveis de solvência da banca nacional.
Exigir um Core Tier I de 10% em 2012 revela-
se bastante exigente, embora não seja ainda
claro qual o conceito de Tier I a ser utilizado.
Se for o previsto em Basileia III, esta exigência
será de difícil alcance por parte dos bancos.
Mas suspeito que o acordo se refere ao menos
exigente conceito utilizado entre nós.

Esse reforço é acompanhado por uma exigência


da intensidade e qualidade do trabalho de
supervisão prudencial do Banco de Portugal.
Para garantir que os bancos poderão satisfazer
aquela exigência introduz‑se um fundo
público para reforço do capital dos bancos.
Conjugadamente, espera-se que estas medidas
permitam uma substancial melhoria da
imagem internacional dos bancos portugueses,
ao mesmo tempo que os preparam para as
consequências adversas da recessão que se
avizinha.

Concomitantemente, o Memorando prevê


uma sucessiva desalavancagem do sector,
que terá que ser também realizada através da
redução da relação entre o crédito concedido
e os depósitos captados. Por um lado, porque
tal se revela imprescindível para a melhoria
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Energia
Paulo Soares de Pinho

Para o sector da energia, o Memorando medidas aqui referidas deverá ter impacto
de Entendimento traduz duas principais significativo sobre os consumidores e a
preocupações: aumentar a concorrência e economia. O mercado a grosso, em termos
eficiência do sector energético como factor de ibéricos, já tem a competitividade possível.
competitividade da economia nos mercados Na comercialização, a actual estrutura
internacionais, e aumentar a receita fiscal tarifária já não induz qualquer entrave ao
gerada a partir das vendas do sector. funcionamento do mercado livre, excepto para
grupos de consumidores com forte impacto nas
Começando pelo lado fiscal… o documento exportações que, hoje em dia, beneficiam de
prevê a aplicação da taxa normal do IVA na subsidiação cruzada. A eliminação das tarifas
electricidade (subida de 6% para 23%), assim reguladas não irá, seguramente, beneficiá-los.
como a introdução de um imposto especial
sobre o consumo deste produto. Tal tributação Onde o Memorando de Entendimento se revela
deverá ser neutra para as empresas (que mais ambicioso é no desafio que levanta
deduzirão o IVA), mas terá um significativo relativamente à redução dos sobrecustos
impacto sobre os consumidores domésticos. resultantes de opções de política energética
Como o preço da energia implícito nas pagos por todos os consumidores – estejam no
tarifas de 2011 é cerca de metade do seu mercado livre ou regulado – através das tarifas
efectivo preço de mercado, de que resulta um de acesso às redes. Estes custos representam
significativo desvio tarifário, será razoável cerca de 50% da factura energética de um
prever que a maioria dos consumidores consumidor doméstico. Uma leitura atenta
domésticos enfrentará em 2012 um substancial desta secção do Memorando revela uma crítica
aumento do custo da energia. demolidora às opções de política energética dos
últimos anos. Prevê que se repensem as opções
Para tornar mais competitivo o sector sobre os investimentos em energias renováveis
energético, o Memorando prevê uma “não maduras” – leia-se solar fotovoltaico,
aceleração da liberalização do mercado energia das ondas, entre outras. E para toda
doméstico, traduzida numa eliminação a área das renováveis – incluindo a eólica e
das tarifas reguladas. Prevê ainda o a cogeração – prevê a descida das tarifas a
aprofundamento do mercado ibérico do gás pagar em futuros empreendimentos, assim
(MIBGAS), algo cuja concretização será sempre como (e aqui entra uma corajosa iniciativa) a
difícil, tendo em conta as características muito renegociação das que são pagas aos centros
especiais deste sector e a necessidade de se electroprodutores já existentes. Haja coragem
chegar a acordo com a relutante Espanha. para o fazer.

Adicionalmente, o documento exige a O Memorando prevê igualmente a


transposição até Junho de 2011, do Terceiro renegociação dos CAE (contratos de aquisição
Pacote de Energia da EU. Nessa matéria, de energia) e CMEC (custos de manutenção
é muito clara a intenção do reforço da de equilíbrio contratual). Na prática, estes
independência do regulador sectorial. Com contratos colocam uma componente
excepção desta última – devido a uma certa substancial da produção eléctrica ordinária
sensação de captura regulatória que se vai num regime de (elevada) rendibilidade
sentindo nos dias de hoje – nenhuma das garantida, sem risco. Mesmo que se encontre
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obsoleta e redundante. A sua existência


importa um custo elevado para todos os
consumidores. As empresas invocam direitos
adquiridos para evitar tal renegociação. Por
seu lado, os cidadãos perdem com este acordo
um sem número de direitos adquiridos, pelo
que não se percebe porque haverá de ser
diferente no caso das empresas. Mas quando
se procedeu à substituição de CAE’s por CMEC
no maior produtor nacional, este obteve uma
garantia de cash-flows futuros maior do que
a que resultava dos contratos iniciais. Tudo
por causa do exercício, a custo irrisório, da
opção de extensão da operação das centrais
hidroeléctricas que ali foi discretamente
introduzida.

Veremos se o Estado português terá sabedoria


para aproveitar esta oportunidade que lhe
é dada para estimular a competitividade da
economia, quebrando os “lucros excessivos” da
componente regulatória e economicamente
mais arcaica do sector: a produção.
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Telecomunicações
Steffen Hoernig

As telecomunicações aparecem referidas Um segundo conjunto de medidas tenciona


no Memorando de Entendimento porque remover barreiras à concorrência em vários
constituem um input de importância segmentos. Algumas destas medidas estavam
crescente para a economia Portuguesa. Não já em vias de ser impostas pela Comissão
porque representam oportunidades directas Europeia. As taxas de terminação móvel (pagas
de exportação (afinal, trata-se de serviços entre operadores) por exemplo, entraram
não‑transaccionáveis), ou pelo seu peso no PIB, num caminho de forte redução em Portugal,
mas sim porque constituem um instrumento tal como em toda a Europa: chegarão a 3,5
e custo para a produção de outros bens e cêntimos no final do ano, sendo expectável em
serviços em geral, e para as exportações em 2011 a decisão do ICP-ANACOM recomendando
particular. a continuidade da descida até um valor
próximo de 1 cêntimo (ou menos) em 2015.
O conjunto de medidas propostas em relação
ao sector das telecomunicações visa então Também no segmento móvel, o leilão de
aumentar a competitividade da economia espectro para serviços de 4ª geração (banda
Portuguesa em geral. larga LTE) já estava previsto para este ano.

Um primeiro conjunto de medidas tem como A atribuição do serviço universal – neste


objectivo garantir o bom funcionamento momento ao cargo da Portugal Telecom – e
do regulador sectorial ICP-ANACOM em do contrato de concessão na rede fixa deram
relação à sua independência, autonomia de origem a um braço-de-ferro entre a Comissão
financiamento e transparência de regras no Europeia e Portugal. Neste Memorando de
que diz respeito a um eventual despedimento Entendimento, a Comissão Europeia insiste
do presidente, tal como descrito na Directiva na ideia de um concurso para a concessão,
2009/140 da Comissão Europeia (“Better sublinhando que deve haver concorrência na
Regulation Directive”). atribuição do serviço universal.

Será elaborado um relatório independente que A única medida realmente nova no documento
passará a pente fino a política de nomeações é a facilitação da mudança de operadores na
dos dirigentes, bem como as responsabilidades, rede fixa, ponto onde se acumulam as queixas
independência e recursos da autoridade. dos consumidores. Já a proposta para revisão
Sendo que a nomeação directa dos dirigentes das barreiras à entrada de novos operadores
pelo Governo é menos transparente (e mais neste mercado é talvez menos relevante, já que
susceptível de ser interpretada como “jobs for a existência de duas redes grandes com ofertas
the boys”) do que um processo que envolva o “triple-play” torna o mercado pouco apetecível
Parlamento e/ou nomeação pelo Presidente da a novos operadores.
República, não existem regras a nível Europeu
que imponham outro processo de nomeação.
O financiamento tem por base as taxas
cobradas às empresas reguladas, e nos últimos
anos tem-se revelado mais do que suficiente
(mesmo tendo em conta que suporta parte do
orçamento da Autoridade da Concorrência).
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Administração Local
Susana Peralta

O Memorando de Entendimento que impõe delas parece ser plenamente realizada pelo
condições para que Portugal beneficie de sistema de governo autárquico actualmente
ajuda externa inclui três medidas que têm existente no nosso país. Assim, por exemplo,
directamente a ver com os governos locais o governo local não permite uma adequação
(Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia): às preferências por bens públicos locais
• Em primeiro lugar, as câmaras municipais das comunidades que serve, devido à sua
deverão reduzir o pessoal em pelo menos excessiva dependência do governo central
15% até ao final de 2012. e falta de autonomia, quando comparada
• Em segundo lugar, deverá haver uma com os restantes países da OCDE ou da
reorganização administrativa do território, União Europeia. Por outro lado, a população
com vista à diminuição do número de portuguesa tem dificuldade em “votar com os
municípios (actualmente 308, incluindo pés”, ou seja, mover-se para uma localidade
os municípios das regiões autónomas), e com um pacote de bens, serviços e impostos
freguesias (actualmente 4259), que deverá locais mais atractivos, devido à falta de
estar finalizada em Julho de 2012. informação comparativa dos diversos governos
• Finalmente, as competências dos governos locais. Em Portugal, é impossível saber
locais deverão ser revistas, com vista à quanto é que cada governo local gasta em
eliminação de sobreposição de competências educação, saúde, iluminação de ruas, ou polícia
entre o governo local e central, em especial municipal. Algumas despesas ambientais
agências locais do governo central. Pretende- são publicadas pelo INE, mas mesmo aqui
se que estas competências estejam o imbróglio organizacional das empresas
identificadas já no final de 2011. municipais, inter-municipais e serviços
municipalizados não permite saber quanto
Em relação à primeira medida, tendo em conta se gasta de facto, sendo comum encontrar
que as despesas com pessoal são a maior municípios onde uma parte considerável dos
categoria de despesa corrente dos municipios resíduos é recolhida de forma selectiva, sendo
portugueses, pode ser uma fonte de poupanças a despesa reportada de zero!
importantes, que permitirão eventualmente
a libertação de recursos que permita aos Com raras excepções, nomeadamente na
governos locais oferecer um melhor pacote de recolha de lixo e tratamento de água, não
bens e serviços às populações. são publicadas medidas de desempenho
dos governos locais no que diz respeito,
As duas últimas medidas estão definidas de por exemplo, à qualidade das escolas, à
forma bastante vaga. No entanto, abrem a quantidade, qualidade e preço da habitação
porta a uma mudança que pode trazer uma social, ou à existência de equipamentos
verdadeira melhoria de qualidade de vida aos culturais ou desportivos. Esta prática é
residentes em território nacional, ao mesmo comum noutros países – no Reino Unido, o site
tempo que permitem uma racionalização no OnePlace (http://oneplace.audit-commission.
uso dos recursos. gov.uk/Pages/default.aspx) permite obter dados
sobre a performance de todos os governos
De facto, a teoria do federalismo fiscal locais, e compará-los com a média nacional.
aponta diversas vantagens para a existência Esta falta de transparência não permite
de governos locais, sendo que nenhuma a responsabilização dos políticos locais,
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constituindo, desta forma, uma séria limitação mesmos nas áreas em que podem intervir
ao funcionamento da democracia local. • Importar as melhores práticas
internacionais no que diz respeito à
Esta é também limitada pela sobreposição publicação sistemática dos resultados
de competências com o governo central. Por obtidos e dos custos dos mesmos, de
exemplo, no domínio da acção social, a lei forma a que a democracia local possa
estabelece vagamente que os municípios dar um passo em frente na realização do
participam em programas de combate à seu potencial, ao mesmo tempo que se
pobreza e exclusão social em cooperação racionaliza o uso de recursos e se contribui
com o governo central. Mesmo nos casos para o esforço de consolidação orçamental.
em que as competências estão claramente
delimitadas – por exemplo, o governo central Será a agenda deste Memorando de
é responsável pelos professores e médicos, e Entendimento isenta de críticas? Naturalmente
os governos locais pelo pessoal administrativo, que não. Reduções de pessoal podem sempre
pelos edifícios escolares e centros de saúde, e originar consequências sociais gravosas num
pelo transporte escolar – é muito difícil avaliar país em crise, e provavelmente há municípios
em que medida cada um destes elementos com mais pessoal em excesso do que outros
contribui para a educação básica ou para a – teria sido possível, por exemplo, imaginar
saúde das populações. uma regra que fizesse depender a redução
de pessoal a implementar do número de
A lei confere aos municípios competências em empregados municipais per capita.
16 áreas funcionais (que vão do equipamento
rural e urbano, à energia, ambiente, segurança, Fica também muito por fazer no sistema
habitação, acção social, saúde e educação), eleitoral municipal (a co-existência de um
todas elas partilhadas com o governo órgão legislativo e outro executivo, ambos
central, em diferentes graus. Esta confusão eleitos proporcionalmente, não ajuda os
inibe o eleitor de utilizar as eleições para eleitores a identificar os responsáveis pelas
impor disciplina e exigir resultados aos seus políticas e a usar o seu voto em consequência),
governantes locais. bem como na coordenação de políticas entre os
municípios das áreas metropolitanas.
As freguesias são unidades de governo local
com competências e fontes de financiamento Mas pode ser o começo de uma mudança que
extremamente limitadas, muitas delas permitirá uma democracia local de melhor
cobrindo uma população muito reduzida, qualidade, capaz de reflectir a vontade
limitando-se na sua maioria, a uma mera dos eleitores de forma mais eficiente e
lógica de gestão corrente que quase nunca responsável.
assenta em opções políticas reais, pelo que faz
pouco sentido que dependam de eleições.

A mudança que agora se impõe pode ser uma


excelente oportunidade para…
• Extinguir uma boa parte das freguesias
(exceptuando aquelas que se situem em
meios urbanos cuja dimensão justifique a
existência de um terceiro nível de governo);
• Repensar o mapa de municípios à luz das
mudanças populacionais ocorridas no país,
com vista a uma maior harmonização da
população coberta por cada município;
• Diminuir o número de áreas em que os
municípios têm competências, ao mesmo
tempo que se aumenta a autonomia dos
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Justiça
Nuno Garoupa

Muitos comentadores viram nas prescrições da Justiça. Quase todas implicam aumento
contidas no Memorando de Entendimento da despesa pública no curto prazo,
uma reforma em grande escala do sistema praticamente não gerando poupanças antes
judicial português. Tenho uma visão distinta, de 2013. A implementação do novo mapa
pois considero que o documento fica aquém do judicial requer um investimento que não foi
que seria necessário para dotar Portugal de um possível efectuar nos últimos 18 meses (daí
sistema judicial razoavelmente eficiente. Além os sucessivos adiamentos). Infelizmente,
disso, considero que as medidas propostas o documento é omisso relativamente à
padecem de lacunas técnicas que procurarei origem dos fundos necessários. Aguardo
explicar. com expectativa informação sobre como
este objectivo será cumprido num quadro
1. É claro que o Memorando de Entendimento de redução da despesa.
não almeja uma reforma completa do
ordenamento jurídico. Essa não é aliás uma 4. O compromisso de acabar com as
competência do FMI ou da UE. As medidas pendências no segundo trimestre de
da troika pretendem apenas aliviar os 2013 é irrealista e irresponsável. Com
aspectos do funcionamento e gestão dos base no número de casos entrados em
tribunais que mais directamente impactam 2010, os tribunais deverão processar
as grandes empresas, os investidores – nos 18 meses que medeiam entre
estrangeiros e as sociedades de advogados. Janeiro de 2012 e Junho de 2013 – 2 a 3
milhões de casos, sensivelmente o mesmo
2. O Memorando de Entendimento parte número registado entre Janeiro de 2005
de uma avaliação da situação fornecida e Dezembro de 2010. Será que alguém
pelo actual Governo. Propõe um conjunto acredita honestamente que a meta
de medidas anunciadas e planeadas, pode ser cumprida? Mesmo com uma
inclusivamente por Governos anteriores. “limpeza” estatística (surpreendentemente
Adopta a reorganização do mapa judiciário admitida explicitamente no Memorando) é
em curso, supondo que esta reorganização irrealizável, a não ser que sejam adoptadas
fechará tribunais em algumas comarcas, outras medidas.
concentrando-os noutras onde são mais
necessários, o que não corresponde 5. Uma melhoria notória do sistema judicial
à realidade do novo mapa judiciário, português requer medidas muitos mais
e considera basicamente as medidas amplas e profundas do que as propostas
anunciadas em Março no PEC IV, embora pelo Memorando de Entendimento. Estas
avançando com o compromisso de as são – pura e simplesmente – insuficientes.
implementar até 2013. A performance requerida é inconsistente
no que diz respeito quer à despesa pública
3. As medidas incluídas no Memorando de exigida, quer à eliminação das pendências.
Entendimento são geralmente positivas no Os pessimistas dirão que é isto, ou nada.
que diz respeito à gestão dos tribunais e à Mas “isto” resolverá bem pouco, como
simplificação do processo cível. Todavia, poderemos constatar em 2013.
essas medidas acarretam um aumento
significativo do orçamento do Ministério
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Economia e Política
José Tavares

A experiência dos países desenvolvidos com • Cortes orçamentais em “tempos difíceis”,


programas de ajustamento orçamental é isto é, em período de recessão, parecem
vasta e muito diversa. Apesar de estruturas induzir uma resposta mais positiva do
económicas semelhantes, mesmo nos países produto;
industrializados a variedade de condicionantes
políticas tem um papel determinante na • Em situações de clara insustentabilidade do
sustentabilidade das correcções orçamentais. défice orçamental, a correcção orçamental
pode em alguns casos gerar efeitos
A extensa literatura de economia política expansionistas.
sugere as linhas de força que condicionam
a probabilidade de sucesso de programas O FMI é chamado a actuar em situações de
orçamentais ambiciosos. Entre elas: mau desempenho da economia e degradação
• A contenção e corte das despesas tem um do acesso aos mercados internacionais e, pela
efeito mais duradouro que o aumento dos sua natureza, tem o mérito de distribuir os
impostos; custos ex-ante e concentrar o esforço em repor
níveis sustentáveis de despesa.
• A distribuição clara dos custos, feita com
antecedência, favorece a equidade e diminui Mas é bom que as receitas de ajustamento
a resistência ao ajuste orçamental; orçamental do FMI não ignorem a importância
dos sinais políticos. Que não esqueçam como
• Os governos de coligação não estão a identidade política de governantes pode
necessariamente associados a ajustamentos transformar-se em elemento de credibilidade.
bem-sucedidos: se por um lado a base de Que não se preocupem exageradamente com
negociação é alargada, também se alarga perdas eleitorais. E que não promovam a todo
o número de intervenientes com poder de o custo coligações contranatura que tanto
veto sobre decisões concretas; dividem as responsabilidades do sucesso como
as culpas do fracasso.
• Os governos podem usar a sua identidade
ideológica para sinalizar a firmeza das Grande parte da economia política dos
suas intenções orçamentais: dessa forma, acordos com o FMI reside na suspensão
governos conotados com a esquerda que da política para redimir a economia. Evite-
cortam na despesa, ou governos conotados se exagerar na primeira até ao ponto de
com a direita que aumentam as receitas prejudicar a segunda.
fiscais tendem a ganhar credibilidade junto
dos eleitores;

• Os ajustes orçamentais não diminuem a


probabilidade de reeleição dos governos
que os iniciam: as conhecidas reticências
em implementar estas políticas estarão
associadas à protecção de interesses
instalados e clientelas políticas, bem como a
comportamentos de aversão ao risco;

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