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5.

Convites

Ensino Médio. Não mais purgatório, agora era puramente o inferno. Tormento e
fogo...sim, eu tinha os dois.
Eu estava fazendo tudo corretamente agora. Coloquei os pingos nos “i”, cruzei
todos os “t”. Ninguém podia reclamar que eu estava me esquivando das minhas
responsabilidades.
Para agradar a Esme e proteger os outros, eu fiquei em Forks. Voltei para o meu
horário antigo. Eu perseguia não mais do que o resto deles. Todo dia, eu freqüentava o
Ensino Médio e fingia ser humano. Todo dia, eu ouvia cuidadosamente por cada novidade
sobre os Cullen – nunca havia nenhuma novidade. A garota não falou uma palavra sobre as
suas suspeitas. Ela apenas repetia a mesma história de novo e de novo – eu estava parado ao
lado dela e então a tirei do caminho – até que os seus ouvintes ansiosos ficaram entediados
e pararam de procurar por mais detalhes. Não havia perigo. Minha ação apressada não
havia machucado ninguém.
Ninguém além de mim.
Eu estava determinado a mudar o futuro. Não é a tarefa mais fácil de pegar para si,
mas não havia nenhuma outra escolha com a qual eu pudesse viver.
Alice disse que eu não ia ser forte o suficiente para ficar longe da garota. Eu ia
provar que ela estava errada.
Eu pensei que o primeiro dia ia ser o mais difícil. Ao final dele, eu tive certeza de
que esse era o caso. No entanto, eu estava errado.
Tinha aumentado, sabendo que eu ia machucar a garota. Eu me confortei com o fato
de que a dor dela não ia ser nada mais do que uma alfinetada – apenas uma pequena picada
de rejeição – comparada com a minha. Bella era humana, e ela sabia que eu era alguma
coisa a mais, alguma coisa errada, alguma coisa assustadora. Ela provavelmente ficaria
mais aliviada do que magoada quando eu virasse o meu rosto para longe dela e fingisse que
ela não existisse.
“Olá, Edward,” ela havia me cumprimentado, no primeiro dia de volta para
biologia. A voz dela tinha sido agradável, amigável, 180 graus da última vez que eu havia
falado com ela.
Por quê? O que aquela mudança significava? Ela tinha esquecido? Decidido que ela
tinha imaginado todo o episódio? Poderia ela ter me perdoado por não ter ido em frente
com a minha promessa?
As questões me queimaram como a sede que me atacava toda vez que eu respirava.
Apenas um momento para olhar nos olhos dela. Apenas para ver se eu conseguia ler
as respostas ali...
Não. Eu não podia me permitir nem mesmo isso. Não se eu ia mudar o futuro.
Eu movi meu queixo uma polegada na direção dela sem tirar os olhos da frente da
sala. Eu acenei com a cabeça uma vez e virei meu rosto para frente.
Ela não falou comigo novamente.
Naquela tarde, assim que as aulas acabaram, meu papel estava interpretado, eu corri
para Seattle como fizera no dia anterior. Parecia que eu podia lidar com a dor um pouco
melhor quando eu estava voando por cima do chão, transformando tudo em volta de mim
em um borrão verde.
Essa corrida se tornou um hábito diário.
Eu a amava? Eu não achava isso. Ainda não. No entanto, os vislumbres do futuro
que Alice tinha ficaram em mim e eu podia ver quão fácil seria me apaixonar por Bella.
Seria exatamente como cair: sem esforço algum. Não me permitir amar ela era o oposto de
cair – era como me empurrar até o topo de um rochedo íngreme, mão após mão, a tarefa tão
cansativa como se eu não tivesse nada mais que a força mortal.
Mais de um mês passou, e a cada dia ficava mais difícil. Não fazia sentido para mim
– eu ficava esperando superar, de ficar mais fácil. Isso devia ser o que Alice queria dizer
quando ela previu que eu não ia conseguir ficar longe da garota. Ela tinha visto a
intensificação da dor. Mas eu podia lidar com a dor.
Eu não ia destruir o futuro de Bella. Se eu estava destinado a amar ela, então evitá-la
não era o mínimo que eu podia fazer?
Evitar ela era o limite do que eu conseguia agüentar, no entanto. Eu podia fingir
ignorá-la, e nunca olhar para ela. Eu podia fingir que ela não era interessante para mim.
Mas isso era o alcance, apenas pretensão e não a realidade.
Eu ainda me segurava em cada respiração que ela dava, cada palavra que ela dizia.
Eu reparti meus tormentos em quatro categorias.
As duas primeiras eram familiares. O seu aroma e o seu silêncio. Ou, melhor – para
pegar responsabilidade para mim, que é onde ela pertencia – minha sede e minha
curiosidade.
A sede era o mais primário dos meus tormentos. Era um hábito meu agora
simplesmente não respirar em Biologia. Claro, sempre havia exceções – quando eu tinha
que responder uma questão ou algo do tipo, e eu iria precisar respirar para falar. Cada vez
que eu provava o ar próximo à garota, era igual ao primeiro dia – fogo e necessidade e
violência brutal desesperada para se libertar. E, assim como aquele primeiro dia, o monstro
em mim rugia, tão perto da superfície...
A curiosidade era o mais constante dos meus tormentos. A questão nunca saía da
minha mente: O que ela está pensando agora? Quando eu ouvia o quieto suspiro dela.
Quando ela girava um cacho de cabelo em volta do dedo distraidamente. Quando ela jogava
os livros na mesa com mais força do que o usual. Quando ela corria atrasada para a aula.
Quando ela batia o pé impacientemente no chão. Cada movimento pego pela visão
periférica era um mistério enlouquecedor. Quando ela falava com algum outro aluno
humano, eu analisava cada palavra e tom dela. Ela estava falando o que pensava, ou o que
ela achava que deveria dizer? Freqüentemente, parecia que ela estava tentando dizer o que a
audiência esperava e isso me lembrou da minha família e a nossa ilusão de vida diária – nós
éramos melhores nisso do que ela. A não ser que eu estivesse errado sobre isso, apenas
imaginando coisas. Por que ela teria que interpretar um papel? Ela era um deles – uma
adolescente humana.
Mike Newton era o mais surpreendente dos meus tormentos. Quem poderia ter
imaginado que um garoto tão comum e entediante poderia ser tão enfurecedor? Para ser
justo, eu deveria sentir alguma gratidão para com o garoto irritante; mais do que os outros,
ele mantinha a garota falando. Eu aprendi muito sobre ela graças a essas conversas – eu
ainda estava compilando a minha lista – mas, contrariamente, a assistência de Mike com
esse projeto só me deixava mais agravado. Eu não queria que Mike fosse aquele que iria
destrancar os segredos dela. Eu queria fazer isso.
Ajudava que ele nunca percebia as pequenas revelações, os pequenos escorregões
que ela dava. Ele não sabia nada sobre ela. Ele havia criado uma Bella na sua cabeça que
não existia – uma garota tão comum quanto ele era. Ele não tinha observado a falta de
egoísmo e a coragem que separava ela dos outros humanos, ele não ouvia a anormal
maturidade dos seus pensamentos falados. Ele não percebia que quando ela falava da mãe,
ela parecia mais um pai falando de um filho do que o contrário – carinhosa, indulgente,
ligeiramente divertida, e ferozmente protetora. Ele não ouvia a paciência na voz dela
quando ela fingia interesse nas suas histórias desconexas, e ele não adivinhava a bondade
por trás daquela paciência.
Através das conversas dela com Mike, eu pude adicionar a qualidade mais
importante à minha lista, a mais reveladora de todas elas, tão simples quanto era rara. Bella
era boa. Todas as outras coisas adicionavam àquele inteiro – bondade e modéstia e falta de
egoísmo e carinhosa e corajosa – ela era boa por inteiro.
Essas descobertas úteis não me acalmavam em relação ao garoto, de qualquer modo.
A maneira possessiva como ele via Bella – me provocava quase tanto quanto as fantasias
grosserias que ele tinha sobre ela. Ele estava se tornando mais confidente dela também,
enquanto o tempo passava, pois ela parecia preferir mais ele aos que ele considerava seus
rivais – Tyler Crowley, Eric Yorkie e até, esporadicamente, eu. Ele rotineiramente sentava
ao lado dela na nossa mesa antes da aula começar, batendo papo com ela, encorajado pelos
sorrisos que ela dava. Apenas sorrisos educados, eu repetia para mim. De qualquer modo,
eu freqüentemente me divertia ao imaginar golpeando-o com as costas das minhas mãos
pela sala até a parede mais distante...provavelmente não o machucaria fatalmente...
Mike não pensava freqüentemente em mim como um rival. Depois do acidente, ele
tinha se preocupado que Bella e eu criássemos um laço por causa da experiência
compartilhada, mas era obviamente o oposto que aconteceu. Naquela época, ele tinha se
incomodado com o fato de que eu tinha escolhido Bella por cima das suas demonstrações
por atenção. Mas agora eu a ignorava completamente tanto quanto aos outros, e ele ficou
complacente.
O que ela estava pensando agora? Ela gostava da atenção dele?
E, finalmente, o último dos meus tormentos, o mais doloroso: a indiferença de
Bella. Como eu a ignorava, ela me ignorava. Ela nunca tentou falar comigo de novo. Até
onde eu sabia, ela nunca pensava sobre mim.
Isso talvez tivesse me deixado louco – ou talvez quebrado a minha resolução de
mudar o futuro – exceto que às vezes ela me encarava como o fazia antes. Eu não vi isso
por mim mesmo, pois eu não podia me permitir olhar para ela, mas Alice sempre nos
avisava quando ela estava preste a encarar; os outros ainda estavam cuidadosos com o
problemático conhecimento da garota.
Diminuía um pouco da dor saber que ela me fitava à distância, de vez em quando.
Claro, ela poderia estar apenas pensando que tipo de aberração eu era.
“Bella vai fitar Edward em um minuto. Pareçam normais,” Alice disse uma terça-
feira de março, e todos os outros eram cuidadosos para parecerem inquietos e mudar o peso
do corpo como humanos; quietude absoluta era uma marca do nosso tipo.
Eu prestava atenção a quantas vezes ela olhava na minha direção. Me agradava,
apesar de que não devesse, que a freqüência não diminuía enquanto o tempo passava. Eu
não sabia o que significava, mas me fazia sentir melhor.
Alice suspirou. Eu queria...
“Fique fora disso, Alice,” eu disse por baixo da minha respiração. “Não vai
acontecer.”
Ela fez beiço. Alice estava ansiosa para formar a sua visionada amizade com Bella.
De um modo estranho, ela sentia falta da garota que ela não conhecia.
Eu admito, você é melhor do que eu pensava. Você está com o futuro todo e sem
sentido de novo. Espero que você esteja feliz.
“Faz todo o sentido para mim.”
Ela inalou delicadamente.
Eu tentei calá-la, muito impaciente para conversação. Eu não estava num humor
muito bom – mais tenso do que eu deixava qualquer um deles ver. Apenas Jasper estava
consciente de quão intensamente magoado eu estava, sentindo o estresse que emanava de
mim com a sua habilidade única de tanto sentir quanto influenciar o humor dos outros. Ele
não entendia as razões por trás das emoções, no entanto, e – como eu estava
constantemente com um humor horrível esses dias – ele descuidava isso.
Hoje seria um dia difícil. Mais difícil do que o dia anterior, como se tornava o
padrão.
Mike Newton, o odioso garoto o qual eu não poderia me permitir rivalizar, ia
chamar Bella para um encontro.
Um baile de escolha das meninas estava próximo ao horizonte, e ele tinha andado
esperando muito que Bella o chamasse. Que ela ainda não o tivesse feito, tinha sacudido a
confiança dele. Agora ele estava numa dificuldade desconfortável – eu gostava do
desconforto dele mais do que deveria – porque Jéssica Stanley tinha acabado de convidá-lo
para o baile. Ele não queria dizer “sim”, ainda esperançoso de que Bella fosse escolher ele
(e prová-lo vitorioso sobre os seus rivais), mas ele não queria dizer “não” e acabar
perdendo o baile completamente. Jéssica, magoada pela hesitação dele e adivinhando a
razão por trás disso, estava atirando facas na Bella. Eu entendia o instinto melhor agora,
mas isso apenas fazia ser mais frustrante quando eu não podia agir.
Pensar que chegou a esse ponto! Eu estava completamente fixado nesse
insignificante drama de ensino médio que eu tanto desprezei.
Mike estava trabalhando em cima dos seus nervos enquanto ele caminhava com
Bella até a aula de biologia. Eu ouvia as lutas dele enquanto esperava-os chegar. O garoto
era fraco. Ele tinha esperado por esse baile de propósito, com medo que a sua paixonite
fosse descoberta antes dela mostrar uma preferência marcada por ele. Ele não queria se
fazer vulnerável à rejeição, preferindo que ela desse o último salto.
Covarde.
Ele sentou na nossa mesa de novo, confortável com a longa familiaridade, e eu
imaginei o som que o corpo dele faria se batesse na parede oposta com força o suficiente
para quebrar a maior parte dos seus ossos.
“Então,” ele disse para a garota, os seus olhos no chão. “Jéssica me chamou para o
baile de primavera.”
“Isso é ótimo,” Bella respondeu imediatamente e com entusiasmo. Era difícil não
sorrir enquanto o tom dela afundava na consciência de Mike. Ele havia esperado por
desânimo. “Se divirta muito com a Jéssica.”
Ele lutou pela resposta certa. “Bom...” ele hesitou, e quase se acovardou. Então, ele
se recuperou. “Eu disse a ela que eu precisava pensar sobre isso.”
“Por que você faria isso?” ela perguntou. O tom dela era de desaprovação, mas
havia um fraco toque de alivio ali também.
O que isso significava? Uma fúria inesperada, intensa fez as minhas mãos se
dobrarem em punhos.
Mike não ouviu o alívio. O rosto dele estava vermelho com o sangue – feroz como
eu de repente me sentia, isso parecia um convite – e ele olhou para o chão de novo
enquanto falava.
“Eu estava pensando se...bom, se você estava planejando em me convidar.”
Bella hesitou.
Naquele momento da hesitação dela, eu vi o futuro mais claramente do que Alice
jamais viu.
A garota talvez dissesse sim para a pergunta não dita de Mike agora, e talvez ela
dissesse não, mas de qualquer modo, algum dia cedo ou tarde, ela iria dizer sim para
alguém. Ela era adorável e intrigante, e machos humanos não eram cegos para esse fato.
Quer ela se aceitasse alguém dessa embaçada multidão ou esperasse até estar livre de
Forks, o dia chegaria em que ela iria dizer sim.
Eu vi a vida dela como eu tinha antes – faculdade, carreira...amor, casamento. Eu a
vi nos braços do pai de novo, vestida com um branco leve, o rosto corado de felicidade
enquanto ela se movia ao som da marcha de Mendelssohn.
Essa dor era maior do que qualquer coisa que eu tivesse sentido antes. Um humano
teria que estar a ponto de morrer para sentir essa dor – um humano não poderia viver depois
disso.
E não apenas dor, mas instantaneamente raiva.
A fúria doía por algum tipo de liberação física. Apesar desse garoto insignificante e
desmerecedor talvez não fosse o escolhido para quem Bella diria sim, ansiava por esmagar
o crânio dele com a minha mão, deixá-lo ficar como um representativo para quem quer que
fosse.
Eu não entendia essa emoção – era um entrançado de dor e raiva e desejo e
desespero. Eu nunca havia sentido isso antes; eu não conseguia colocar um nome nisso.
“Mike, eu acho que você deveria dizer sim a ela,” Bella disse em uma voz gentil.
As esperanças de Mike despencaram. Eu teria aproveitado isso em outras
circunstâncias, mas eu estava perdido no pós-choque da dor – e o remorso pelo que a dor e
a raiva haviam feito comigo.
Alice estava certa. Eu não era forte o suficiente.
Nesse momento, Alice estaria assistindo o futuro girar e guinar, se tornando
mutilado de novo. Isso iria agradá-la?
“Você já convidou alguém?” Mike perguntou de repente. Ele olhou para mim,
suspeitando pela primeira vez em muitas semanas. Eu percebi que havia traído meu
interesse; minha cabeça estava inclinada na direção de Bella.
A inveja selvagem nos pensamentos dele – inveja por quem quer que essa garota
preferia a ele – de repente colocou um nome na minha emoção não denominada.
Eu estava com ciúmes.
“Não,” a garota disse com um traço de humor na voz. “Eu não vou ao baile de modo
algum.”
Apesar de todo o remorso e raiva, eu senti alívio pelas palavras dela. De repente, eu
estava considerando meus rivais.
“Por que não?”, Mike perguntou, o seu tom quase rude. Ofendia-me que ele usasse
esse tom com ela. Eu segurei um rosnado.
“Eu vou para Seattle esse sábado,” ela respondeu.
A curiosidade não estava tão viciosa quanto estivera antes – agora que eu estava
inteiramente pretendendo descobrir as respostas para tudo. Eu iria saber os quandos e os
porquês dessa nova revelação sem demora.
O tom de Mike se tornou desagradavelmente persuasivo. “Você não pode ir num
outro fim-de-semana?”
“Desculpa, não.” Bella estava brusca agora. “Então você não deveria fazer a Jess
esperar muito mais – é rude.”
A preocupação dela pelos sentimentos de Jéssica atiçaram as chamas do meu ciúme.
Essa viagem para Seattle parecia suspeita como uma desculpa para dizer não – ela havia
recusado apenas por lealdade a sua amiga? Ela era mais do que abnegada para isso. Ela
realmente desejaria poder dizer sim? Ou os dois palpites estavam errados? Estaria ela
interessada em outra pessoa?
“É, você está certa,” Mike resmungou, tão desmoralizado que eu quase senti pena
por ele. Quase.
Ele baixou seus olhos da garota, cortando a minha visão do rosto dela nos
pensamentos dele.
Eu não ia tolerar isso.
Eu me virei para ler o rosto dela eu mesmo, pela primeira vez em mais de um mês.
Foi um alívio agudo me permitir isso, como respirar com pulmões humanos após um longo
tempo submergido.
Os olhos dela estavam fechados, e as mãos pressionadas contra os lados do seu
rosto. Os seus ombros estavam curvados para dentro de modo defensivo. Ela balançou a
cabeça muito ligeiramente, como se estivesse tentando tirar algum pensamento da sua
mente.
Frustrante. Fascinante.
A voz do Sr. Banner puxou ela do seu devaneio, e os seus olhos abriram lentamente.
Ela olhou pr mim imediatamente, talvez sentindo o meu olhar fixo. Ela me encarou com a
mesma expressão confusa, que tinha me atormentado por tanto tempo.
Eu não senti remorso ou culpa ou raiva naquele segundo. Eu sabia que eles iriam vir
de novo, e logo, mas por esse momento eu tinha uma estranha, nervosa alegria. Como se eu
tivesse triunfado ao invés de perdido.
Ela não desviou o olhar, apesar de eu encará-la com uma intensidade inapropriada,
tentando em vão ler os pensamentos dela através dos seus líquidos olhos castanhos. Eles
estavam cheios de perguntas ao invés de respostas.
Eu podia ver o reflexo dos meus próprios olhos, e eu vi que eles estavam escuros
com a sede. Fazia quase duas semanas desde a minha última viagem de caça; esse não era o
dia mais seguro para a minha força de vontade fraquejar. Mas a escuridão não parecia
assustá-la. Ela ainda não tinha desviado o olhar e um leve, devastadoramente apelativo rosa
começou a colorir a sua pele.
O que ela estava pensando agora?
Eu quase perguntei a questão em voz alta, mas naquele momento o Sr. Banner
chamou meu nome. Eu peguei a resposta certa da cabeça dele enquanto olhei de relance na
sua direção.
Eu inspirei num fôlego rápido. “O ciclo de Krebs.”
A sede chamuscou pela minha garganta – enrijecendo os músculos e enchendo a
minha boca com veneno – e eu fechei meus olhos, tentando me concentrar através do
desejo que o sangue dela esbravejava dentro de mim.
O monstro estava mais forte do que antes. O monstro estava feliz. Ele abraçou esse
futuro duplo que dava a ele uma igualitária, meio a meio chance do que ele queria tão
viciosamente. O terceiro, incerto futuro que eu tentava construir através apenas da força de
vontade tinha sido esmigalhado – destruído por simples ciúmes, de todas as coisas – e ele
estava tão mais perto de atingir seu objetivo.
O remorso e a culpa queimavam com a minha sede, e, se eu tivesse a habilidade de
produzir lágrimas, elas encheriam meus olhos agora.
O que eu havia feito?
Sabendo que a batalha já estava perdida, não parecia haver razão alguma para
resistir ao que eu queria; eu me virei para encarar a garota novamente.
Ela tinha se escondido no seu cabelo, mas eu podia ver através de uma divisória
entre as ondulações do seu cabelo que as bochechas dela estavam dum carmesim profundo
agora.
O monstro gostava disso.
Ela não encontrou meu olhar fixo de novo, mas ela girava uma mecha do seu cabelo
escuro nervosamente entre os dedos. Os seus delicados pulsos, a sua frágil cintura – eles
eram tão quebráveis, procurando por todo o mundo como se apenas minha respiração
pudesse parti-los ao meio.
Não, não, não. Eu não podia fazer isso. Ela era muito quebrável, muito boa, muito
preciosa para merecer esse destino. Eu não podia permitir que a minha vida colidisse com a
dela, para destruí-la.
Mas eu não podia ficar longe dela também. Alice estava certa sobre isso.
O monstro dentro de mim sibilou em frustração enquanto eu oscilei, me inclinando
primeiro para um lado, depois para o outro.
Minha breve hora com ela havia passado muito rapidamente, enquanto eu vacilava
entre a cruz e a espada. O sinal tocou, e ela começou a recolher as suas coisas sem olhar
para mim. Isso me desapontou, mas eu dificilmente poderia esperar outra coisa. O modo
como eu a havia tratado após o acidente era indesculpável.
“Bella?” eu disse, incapaz de me segurar. Minha força de vontade já estava em
pedaços.
Ela hesitou antes de me olhar, quando ela se virou, a sua expressão era resguardada,
desconfiada.
Eu lembrei a mim que ela tinha todo o direito de desconfiar de mim. Que ela
deveria.
Ela esperou que eu continuasse, mas eu apenas olhei para ela, lendo o seu rosto. Eu
expirava em superficiais golfadas de ar em intervalos regulares, lutando contra a minha
sede.
“O quê?” ela finalmente disse. “Você está falando comigo de novo?” Havia uma
ponta de ressentimento no tom dela que era, como a sua raiva, amável. Me fazia querer
sorrir.
Eu não tinha certeza de como responder à questão dela. Eu estava falando com ela
de novo, no sentido que ela queria dizer?
Não. Não se eu pudesse evitar. Eu tentaria evitar.
“Não, não realmente,” eu disse a ela.
Ela fechou os olhos, o que me frustrou. Interrompia a melhor avenida de acesso para
os sentimentos dela. Ela respirou devagar e demoradamente sem abrir seus olhos. O seu
maxilar estava trancado.
Com os olhos ainda fechados, ela falou. Certamente isso não era o modo normal de
um humano conversar. Por que ela fazia isso?
“Então, o que você quer, Edward?”
O som do meu nome nos lábios dela causava coisas estranhas no meu corpo. Se eu
tivesse uma pulsação, teria acelerado.
Mas o que eu iria responder a ela?
A verdade, eu decidi. Eu seria tão confiável quando eu podia com ela, de agora em
diante. Eu não queria merecer a sua desconfiança, mesmo que ganhar a sua confiança fosse
impossível.
“Eu sinto muito,” eu disse a ela. Isso era o mais verdadeiro do que ela jamais
saberia. Infelizmente, eu só podia me desculpar sem perigo pelo trivial. “Eu estou sendo
rude, eu sei. Mas é o melhor jeito, acredite.”
Eu seria melhor para ela se eu pudesse manter, continuar sendo rude. Eu poderia?
Os olhos dela abriram, a sua expressão ainda cuidadosa.
“Eu não sei o que você quer dizer.”
Eu tentei deixar do melhor jeito de um aviso para ela o quanto era permitido. “É
melhor que nós não sejamos amigos.” Certamente, ela podia entender isso. Ela era uma
garota esperta. “Confie em mim.”
Os olhos dela se estreitaram, e eu lembrei que eu já havia dito essas palavras para
ela antes – um pouco antes de quebrar uma promessa. Eu estremeci quando os dentes dela
se bateram – ela claramente lembrava disso, também.
“É uma pena que você não percebeu isso antes,” ela disse furiosa. “Você poderia ter
se poupado de todo esse arrependimento.”
Eu encarei-a em choque. O que ela sabia dos meus arrependimentos?
“Arrependimento? Arrependimento pelo quê?” eu exigi.
“Por simplesmente não deixar aquela van idiota me esmagar!” ela disse
bruscamente.
Eu congelei, atordoado.
Como ela podia estar pensando isso? Salvar sua vida foi a única coisa aceitável que
eu fiz desde que a conheci. A única coisa da qual não me sentia envergonhado. A única e
exclusiva coisa que me fez ficar feliz por existir. Tenho lutado para mantê-la viva desde o
primeiro momento que senti seu cheiro. Como ela podia pensar isso sobre mim? Como ela
ousava questionar meu único bom ato em toda essa bagunça?
“Você acha que me arrependi de salvar sua vida?”
“Eu sei que você se arrependeu,” ela retorquiu.
Sua estima por minhas intenções me deixou irritado. “Você não sabe de nada.”
Quão confusos e incompreensíveis eram os trabalhos da mente dela! Ela não deve
pensar da mesma forma que os outros humanos, nem um pouco. Essa deve ser a explicação
por trás do seu silêncio mental. Ela era inteiramente diferente.
Ela virou rapidamente seu rosto, cerrando seus dentes de novo. Suas bochechas
estavam coradas, de raiva dessa vez. Ela jogou seus livros juntos em uma pilha, os puxando
para seus braços e marchando em direção a porta sem encontrar meu olhar.
Mesmo irritado como eu estava, era impossível não achar sua raiva um pouco
interessante.
Ela caminhou rigidamente, sem olhar para onde estava indo, e seu pé bateram na
borda da passagem. Ela cambaleou, e todas as suas coisas caíram no chão. Ao invés de se
abaixar para pegá-los, ela continuou rigidamente reta, nem mesmo olhando para baixo,
como se não estivesse certa de que os livros valessem a pena serem recuperados.
Eu consegui não rir.
Ninguém estava aqui para me ver; eu flutuei para seu lado, e já tinha colocado seus
livros em ordem antes de ela olhar para baixo.
Ela se abaixou metade do caminho, me viu e então congelou. Eu entreguei seus
livros de volta, tendo certeza de que minha pele gelada nunca tocaria a sua.
“Obrigada,” ela disse de eu uma voz fria, severa.
Seu tom trouxe de volta minha irritação.
“Não foi nada,” eu disse tão friamente quanto ela.
Ela se ergueu bruscamente e saiu pisando duro para sua próxima aula.
Eu assisti até que não pudesse mais ver sua figura enraivecida.
Espanhol passou num borrão. Mrs. Goff nunca questionou minha abstração – ela
sabia que meu Espanhol era superior ao dela, e ela me deu um ótimo acordo de latitude –
me deixando livre para pensar.
Então eu não podia ignorar a garota. Isso já era óbvio. Mas isso significava que eu
não tinha escolha além de destruí-la? Esse não podia ser o único futuro disponível. Tinha
que haver alguma outra escolha, algum equilíbrio delicado. Eu tentei pensar num jeito...
Eu não prestei muita atenção em Emmett até a hora estar próxima de acabar. Ele
estava curioso – Emmett não era super intuitivo sobre as sombras do humor dos outros, mas
ele podia ver a mudança óbvia em mim. Ele se perguntava o que havia acontecido que tinha
removido o incessante olhar ameaçador do meu rosto. Ele lutou para definir a mudança, e
finalmente decidiu que eu parecia esperançoso.
Esperançoso? Era assim que isso parecia no lado de fora?
Eu poderei a idéia de esperança enquanto nós andávamos até o Volvo, me
perguntando o que eu devia estar esperando, exatamente.
Mas eu não tive muito tempo para pensar. Sensível, como sempre fui, aos
pensamentos sobre a garota, ouvir o nome de Bella na mente de meus... meus rivais, eu tive
de admitir, me chamou a atenção. Eric e Tyler, quando souberam – com muita satisfação –
do fracasso do Mike, começaram a se preparar para agir.
Eric já estava em sua posição, atrás da caminhonete onde ela não poderia o evitar. A
classe de Tyler estava sendo atrasada por receber uma tarefa, e ele estava com uma pressa
desesperadora para alcançá-la antes que ela escapasse.
Essa eu teria de ver.
“Espere pelos outros aqui, ‘tá bem?” Eu murmurei para Emmett.
Ele me olhou, suspeito, mas depois deu de ombros e concordou.
A criança perdeu a cabeça, ele pensou, se divertindo com o meu estranho pedido.
Eu vi Bella saindo do ginásio, e esperei onde ela não me veria enquanto passasse.
Enquanto ela se aproximava da emboscada de Eric, eu me apressei, andando mais rápido
para que eu passasse por eles no momento certo.
Eu a assisti endurecer quando ela viu o garoto esperando por ela. Ela congelou por
um momento, depois relaxou e continuou em frente.
“Olá, Eric.” Ela disse com uma voz simpática.
Eu estava abrupta e inesperadamente ansioso. E se esse garoto descolado de pele
não muito saudável a agradasse de alguma forma?
Eric engoliu alto, seu pomo de adão subindo e descendo, “Olá, Bella.”
Ela pareceu não perceber seu nervosismo.
“E aí?” ela perguntou, destrancando a caminhonete sem olhar para seu rosto
assustado.
“É... eu estava me perguntando... se você gostaria de ir ao baile de primavera
comigo?” A voz dele falhou.
Ela finalmente olhou para cima. Ela estava desconcertada ou contente? Eric não
podia encontrar o olhar dela, então eu não podia ver o rosto dela em sua mente.
“Eu pensei que fosse escolha das garotas,” ela disse, soando alvoroçada.
“Bom, e é.” Ele concordou ordinariamente.
Esse garoto lamentável não me irritava tanto quanto Mike Newton, mas eu não
conseguiria me simpatizar com sua angustia enquanto Bella não o respondesse com uma
voz gentil.
“Obrigada por me perguntar, mas eu estarei em Seattle nesse dia.”
Ele já sabia disso; mesmo assim, foi decepcionante.
“Ah”, ele resmungou. “Fica pra próxima, então.”
“Claro,” ela concordou. E então ela mordeu o lábio inferior, como se estivesse
arrependida por deixá-lo com uma abertura. Eu gostei disso.
Eric saiu do caminho e foi embora, indo na direção contrária a seu carro, seu único
refúgio.
Eu passei por ela naquele momento, e ouvi seu suspiro de alivio. Eu ri.
Ela se virou com o som, mas eu continuei olhando para frente, tentando conter meus
lábios de sorrirem.
Tyler estava atrás de mim, quase correndo na sua pressa de alcançá-la antes que ela
saísse dirigindo. Ele era mais ousado e confiante do que os outros dois; ele tinha esperando
para falar com Bella apenas porque Mike havia pedido antes.
Eu queria que ele conseguisse alcançá-la por duas razões. Se – como eu estava
começando a suspeitar – toda essa atenção era irritante para Bella, eu ia gostar de ver sua
reação. Mas se não fosse – se o convite de Tyler fosse o qual ela estivera esperando – então
eu gostaria de saber também.
Eu avaliei Tyler Crowley como um rival, sabendo que era errado fazê-lo. Ele parecia
tediosamente comum e sem importância para mim, mas o que eu sabia das preferências de
Bella? Talvez ela gostasse de garotos comuns...
Eu estremeci com esse pensamento. Eu nunca seria um garoto comum. Que bobo eu
era de me ver como um candidato de seu amor. Como ela poderia se importar com alguém
que era, por qualquer estimativa, um monstro?
Ela era boa demais para um monstro.
Eu devia deixá-la escapar, mas minha indesculpável curiosidade me impedia de
fazer o que era certo. De novo. Mas e se Tyler perdesse sua chance agora, só para falar com
ela depois quando eu não teria maneiras de saber o resultado? Eu coloquei meu Volvo no
meio da rua, impedindo que ela saísse.
Emmett e os outros estavam a caminho, mas ele havia descrito meu comportamento
estranho para eles, então eles estavam andando devagar, me observando, tentando descobrir
o que eu estava tramando.
Eu olhei a garota pelo meu espelho retrovisor. Ela jogou um olhar ameaçador para o
meu carro sem encontrar meus olhos, parecendo desejar estar dirigindo um tanque ao invés
de um Chevy.
Tyler correu para seu carro e entrou na fila atrás dela, sentindo-se agradecido pelo
meu comportamento inexplicável. Ele a cumprimentou de longe, tentando chamar sua
atenção, mas ela não notou. Ele esperou um momento e então saiu do carro, aparecendo na
janela do passageiro de seu carro. Ele bateu no vidro.
Ela pulou, e então olhou para ele confusa. Depois de um segundo, ela abaixou a
janela manualmente, parecendo ter problemas com isso.
“Desculpe-me, Tyler,” ela disse irritada. “Eu estou presa atrás do Cullen.”
Ela disse meu sobrenome com uma voz áspera – ainda brava comigo.
“Sim, eu sei.” Tyler disse, ignorando seu humor. “Eu só queria te perguntar uma
coisa enquanto estamos presos aqui.”
Seu sorriso era metido.
Eu sorri da sua reação à óbvia intenção do garoto.
“Você vai me convidar para o baile de primavera?” ele perguntou, nenhum
pensamento de derrota em sua mente.
“Eu não estarei na cidade, Tyler,” ela o respondeu, ainda irritada.
“Sim, Mike me contou.”
“Então por que-” ela começou a perguntar.
Ele deu de ombros. “Eu achei que você estava o recusando educadamente.”
Seus olhos reluziram, e então relaxaram. “Desculpe-me Tyler,” ela disse, nenhum
tom de culpa em sua voz. “Eu realmente estarei fora da cidade.”
Ele aceitou a desculpa, sua auto-estima intocada. “Tudo bem. Nós ainda temos o
baile de fim de ano.”
Ele voltou para seu carro.
Eu estava certo em esperar por isso.
A expressão de horror em seu rosto era impagável. Eu disse a mim mesmo que eu
não precisava saber tão desesperadamente – que ela não sentia nada por esses garotos
humanos que queriam cortejá-la.
E também, sua expressão foi provavelmente a coisa mais engraçada que eu já vi.
E então minha família chegou, confusa por eu estar dando risada ao invés de
reclamando de tudo o que eu via.
O que é tão engraçado? Emmett quis saber.
Eu simplesmente balancei a cabeça negativamente, ainda rindo enquanto Bella
religava seu motor barulhento, irritada. Ela parecia querer um tanque de novo.
“Vamos logo,” Rosalie disse impaciente. “Pare de ser um idiota, se você conseguir.”
Suas palavras não me irritaram – eu estava muito entretido. Mas fiz como ela pediu.
Ninguém falou comigo no caminho para casa. Eu continuei dando risada de vez em
quando, pensando na cara da Bella.
Enquanto eu acelerava o motor – agora que não haviam testemunhas – Alice
estragou meu humor.
“Então eu posso falar com a Bella agora?” ela perguntou de repente, sem medir suas
palavras antes, para que eu não lesse sua mente.
“Não,” eu disse.
“Não é justo. O que eu estou esperando?”
“Eu não decidi nada, Alice.”
“Tanto faz, Edward.”
Em sua cabeça, os dois destinos de Bella podiam ser vistos de novo.
“Qual é o ponto em querer conhecê-la?” Eu resmunguei, sombrio de repente. “Se eu
vou simplesmente matá-la?”
Alice hesitou por um momento. “Você tem razão,” ela admitiu.
Eu virei a última curva a noventa quilômetros por hora e então freei bruscamente,
parando a milímetros da parede da garagem.
“Aprecie sua corrida,” Rosalie disse afetada enquanto eu me jogava para fora do
carro.
Mas eu não fui correr hoje. Ao invés disso, fui caçar.
Os outros iriam caçar amanhã, mas eu não podia ficar com sede agora. Eu exagerei,
bebendo mais do que o necessário, me saturando de novo – um pequeno grupo de alces e
um urso preto que eu tive sorte de encontrar nessa época do ano. Eu estava tão cheio que
era desconfortável. Porque isso não podia ser o suficiente? Porque sua fragrância tinha de
ser tão mais forte do que qualquer outra coisa?
Eu cacei em preparação para o dia seguinte, mas quando eu me cansei de caçar e o
sol ainda estava bem longe de se pôr, eu soube que o amanhã estava muito longe.
Um lapso de raiva passou por mim novamente quando eu percebi que iria atrás da
garota.
Eu briguei comigo mesmo durante todo o caminho para Forks, mas meu lado menos
nobre ganhou e eu continuei com meu plano invencível. O monstro era incansável, porém
bem-restringido. Eu sabia que manteria uma distância segura dela. Eu apenas queria saber
onde ela estava. Queria ver seu rosto.
Já era quase meia-noite, e a casa de Bella estava escura e silenciosa. Sua
caminhonete estava estacionada perto da calçada, a patrulha de seu pai dentro da garagem.
Não havia nenhum pensamento consciente na vizinhança. Eu olhei para a casa de dentro da
floresta escura por um momento. A porta da frente provavelmente estaria trancada – o que
não era um problema, mas eu não queria deixar uma porta quebrada como evidência atrás
de mim. Eu decidi tentar a janela do andar superior primeiro. Muitas pessoas não se
importariam de instalar uma tranca lá.
Eu atravessei o jardim aberto e escalei a frente da casa em meio segundo. Saindo do
parapeito para a janela com uma mão, eu olhei através do vidro, e minha respiração parou.
Era o quarto dela. Eu podia vê-la na pequena cama de solteiro, as cobertas no chão e
os lençóis enrolados em suas pernas. Enquanto eu a assistia, ela se remexeu inquieta e
jogou um braço em cima da cabeça. Seu sono não era calmo, pelo menos não essa noite.
Será que ela podia sentir o perigo perto dela?
Eu fui rejeitado por mim mesmo enquanto a assistia remexer de novo. Como eu
estaria sendo melhor do que um tarado doentio? Eu não era melhor. Eu era muito, muito
pior.
Eu relaxei meus dedos, pronto para me deixar cair em tentação. Mas antes, eu me
permiti dar uma longa olhada em seu rosto.
Ele não estava pacífico. Havia suor entre suas sobrancelhas, os cantos de seus lábios
estavam virados para baixo. Eles tremeram, e então se abriram.
“Tudo bem, mãe,” ela murmurou.
Bella falava enquanto dormia.
Esplandecido de curiosidade, esqueci o nojo que sentia de mim. A atração daqueles
pensamentos desprotegidos e inconscientemente falados era impossivelmente tentadora.
Eu testei a janela e não estava trancada, porém presa por conta do desuso. Eu a
afastei lentamente para o lado, me contorcendo a cada ruído gritante da estrutura de metal.
Eu teria que arranjar algum óleo para a próxima vez...
Próxima vez? Eu balancei a cabeça, enojado de novo.
Eu me inclinei silenciosamente sobre a janela meio-aberta.
Seu quarto era pequeno – desorganizado, mas não sujo. Haviam livros empilhados
no chão ao lado de sua cama, suas capas viradas para o meu lado oposto, e CDs espalhados
pelo seu CD player barato – o do topo era uma caixa de jóias limpas. Pilhas de papel se
espalhavam em volta do computador que mais parecia pertencer a um museu de tecnologias
obsoletas. Sapatos estavam jogados pelo chão de madeira.
Eu queria muito ler os títulos de seus livros e CDs, mas eu tinha prometido a mim
mesmo que eu manteria distância; ao invés disso, fui sentar na velha cadeira de balanço no
canto mais distante do quarto.
Teria eu pensado sobre sua aparência comum? Eu pensei sobre isso no primeiro dia,
e sobre o nojo que eu tinha dos meninos que estavam tão rapidamente intrigados com ela.
Mas agora, quando lembrei de seu rosto na mente deles, eu não podia entender porque não
a tinha achado linda de imediato. Parecia tão óbvio agora.
Neste momento – com seus cabelos escuros entrelaçados e bagunçados em volta de
seu rosto pálido, vestindo uma camisola furada e calças de agasalho, seu rosto relaxado na
inconsciência, seus lábios cheios levemente entreabertos – ela tirou meu fôlego. Ou teria
tirado, eu pensei direito, se eu estivesse respirando.
Ela não falou. Talvez seu sonho tivesse acabado.
Eu encarei seu rosto e tentei pensar em algum jeito de tornar o futuro mais
suportável.
Machucá-la era insuportável. Será que isso significava que minha única escolha era
tentar ir embora novamente?
Os outros não poderiam discutir comigo agora. Minha abstinência não colocaria
ninguém em perigo. Não haveria nenhuma suspeita, nada para ligar o pensamento de
ninguém com o acidente.
Eu vacilei, como tinha vacilado hoje de tarde, e nada parecia possível.
Eu não podia competir com os meninos humanos, estando ela interessada neles ou
não. Eu era um monstro. Como ela poderia me ver de qualquer outro modo? Se ela
soubesse a verdade sobre mim, ela se assustaria e se afastaria. Como a vítima procurada em
um filme de terror, ela correria para longe, aterrorizada.
Eu lembrei de seu primeiro dia na aula de biologia... e sabia exatamente que essa
seria sua reação.
Era bobagem imaginar que se fosse eu quem a tivesse convidado para aquele baile
bobo, ela teria cancelado seus planos corridos e iria comigo.
Eu não era a pessoa a qual ela estava destinada a dizer sim. Era outra pessoa,
alguém humano e quente. E eu não poderia me deixar – algum dia, quando esse sim fosse
dito – caçá-lo e matá-lo, porque ela o mereceria, quem quer que ele fosse. Ela merecia amor
e felicidade com qualquer um que ela escolhesse.
Eu devia a ela fazer a coisa certa agora; eu não podia mais fingir que eu apenas
corria o perigo de amar essa garota.
Afinal, não importava se eu ia embora ou não, porque Bella nunca poderia me ver
do jeito que eu queria ser visto por ela. Nunca me veria como merecedor de seu amor.
Nunca.
Poderia um coração morto e gelado quebrar? Eu senti como se o meu pudesse.
“Edward,” Bella disse.
Eu congelei, encarando seus olhos fechados.
Será que ela estava acordada e havia me visto? Ela parecia estar dormindo, mas sua
voz parecia tão acordada...
Ela suspirou levemente, e então se mexeu inquieta de novo, rolando para o outro
lado – ainda afundada em seu sono e sonhando.
“Edward,” ela murmurou baixinho.
Ela estava dormindo comigo.
Poderia um coração morto e gelado voltar a bater? Parecia que o meu estava prestes
a fazer isso.
“Fique,” ela suspirou. “Não vá embora. Por favor... não vá.”
Ela estava sonhando comigo, e não era um pesadelo. Ela queria que eu ficasse com
ela, lá em seu sonho.
Eu lutei para encontrar palavras que descrevessem meus sentimentos, mas não
haviam palavras para expressá-los. Por um longo momento, eu me afundei neles.
Quando voltei deles, eu não era mais o mesmo homem.
Minha vida era uma interminável e imutável meia-noite. Era preciso, era necessário,
que sempre fosse meia-noite para mim. Então como era possível que agora o sol nascia,
bem no meio da minha meia-noite?
Quando eu me tornei um vampiro, trocando minha alma e minha mortalidade pela
imortalidade na incansável dor da transformação, eu havia realmente congelado. Meu corpo
havia se tornado algo mais como rocha do que pele, endurecida e imutável. O meu eu,
inclusive, tinha congelado – minha personalidade, meus gostos, meus humores e meus
desejos; agora todos estavam de volta.
Eu era o mesmo para todos eles. Nós todos estávamos congelados. Pedras vivas.
Quando a mudança vinha para um de nós, era algo raro e permanente. Eu vi isso
acontecendo com Carlisle, e uma década depois com Rosalie. O amor os havia mudado
permanentemente, de um jeito que nunca falhava. Mais de oitenta anos haviam passado
desde que Carlisle havia encontrado Esme, e ele ainda a olhava com os olhos incrédulos
como se fosse a primeira vez. Seria assim pra sempre para eles.
E seria assim pra sempre comigo também. Eu amaria essa garota humana e frágil
para sempre, pelo resto da minha existência ilimitada.
Eu fitei seu rosto inconsciente, sentindo esse amor por ela se espalhar por cada
centímetro de meu corpo rochoso.
Ela dormia mais pacificamente agora, um sorriso fraco em seus lábios.
Sempre a assistindo, eu comecei a conspirar.
Eu a amava, então eu tentaria ser forte o suficiente para deixá-la. Eu sabia que não
era tão forte naquele momento. Eu trabalharia nisso. Mas talvez eu fosse forte o suficiente
para mudar o futuro de outro jeito.
Alice tinha visto apenas dois futuros para Bella, e agora eu entendia os dois.
Amá-la não me impediria de matá-la, se eu me deixasse cometer erros.
E ainda assim eu não conseguia sentir o monstro agora, não conseguia achá-lo em
lugar nenhum dentro de mim. Talvez o amor tenha o silenciado pra sempre. Se eu a matasse
agora, não seria intencional, apenas um acidente horrível.
Eu teria de ser extremamente cuidadoso. Eu nunca, jamais poderia baixar a guarda.
Eu teria de controlar cada respiração. Eu teria de manter uma distância segura, sempre.
Eu não cometeria erros.
Eu finalmente entendi o segundo futuro. Eu fiquei confuso com essa visão – o que
poderia acontecer para que Bella se tornasse uma prisioneira dessa imortalidade? Agora –
devastado pelo desejo da garota – eu podia entender como eu poderia, com egoísmo
imperdoável, pedir a meu pai esse favor. Pedir a ele que tirasse sua vida e sua alma para que
eu pudesse tê-la pra sempre.
Ela merecia coisa melhor.
Mas eu vi outro futuro, uma linha estreita na qual eu talvez fosse capaz de andar, se
eu conseguisse manter meu equilíbrio.
Será que eu conseguiria? Ficar com ela e deixá-la humana?
Deliberadamente, eu respirei fundo, e então respirei de novo, deixando que sua
fragrância me destruísse como o fogo. O quarto estava coberto com seu perfume, seu cheiro
estava preso em cada superfície. Minha cabeça girou, mas eu lutei contra a tontura. Eu teria
de me acostumar a isso, se eu quisesse tentar qualquer tipo de relacionamento com ela. Eu
então peguei outro fôlego queimante.
Eu a assisti dormir até que o sol nasceu por trás das nuvens carregadas, conspirando
e respirando.

Eu cheguei em casa logo após os outros saírem para a escola. Me troquei


rapidamente, evitando os olhos contestantes de Esme. Ela notou a luz fervorosa em meu
rosto, e sentiu tanto alívio quanto preocupação. Minha melancolia a magoava, e ela estava
feliz que talvez tivesse acabado.
Eu corri para a escola, chegando alguns segundos depois que meus irmãos. Eles não
se viraram, embora Alice, pelo menos, soubesse que eu estava lá na floresta que cercava o
estacionamento. Eu esperei até que ninguém estivesse olhando, e então saí dentre as árvores
casualmente até o estacionamento cheio de carros.
Eu ouvi a caminhonete de Bella rugindo na esquina, e então parei atrás de um
ônibus escolar, onde eu poderia assisti-la sem ser visto.
Ela dirigiu pelo estacionamento, olhando meu Volvo por um longo tempo antes de
estacionar em uma das vagas mais distantes, com uma careta no rosto.
Foi estranho lembrar que ela ainda estava brava comigo, e por uma boa razão.
Eu queria rir de mim mesmo – ou me chutar. Toda a minha conspiração e
planejamento fora completamente em vão se ela não se importasse comigo também, certo?
Seu sonho poderia ter sido sobre algo completamente aleatório. Eu era tão bobo e
arrogante.
Bom, seria tão melhor para ela se ela não se importasse comigo. Isso não me
impediria de persuadi-la, mas eu a daria um ótimo aviso enquanto a persuadisse. Eu devia
isso a ela.
Eu segui em frente silenciosamente, me perguntando qual a melhor maneira de falar
com ela.
Ela facilitou tudo. A chave de sua caminhonete escorregou pelos seus dedos
enquanto ela saia, e caiu dentro de um bueiro fundo.
Ela se agachou, mas eu alcancei o bueiro antes, retirando a chave antes que ela
precisasse por suas mãos na água gelada.
Eu me encostei à porta da caminhonete enquanto ela me encarou, e então se
levantou.
“Como você faz isso?” ela exigiu.
Sim, ela ainda estava brava.
Eu a ofereci a chave. “Faço o quê?”
Ela estendeu a mão, e eu deixei que a chave caísse em sua palma. Eu respirei fundo,
puxando seu cheiro.
“Aparecer do nada,” ela explicou.
“Bella, não é a minha culpa se você é extremamente distraída.” As palavras eram
tortas, quase uma piada. Havia algo que ela não visse?
Será que ela percebeu como minha voz soou seu nome com carinho?
Ela me encarou, sem apreciar meu humor. Seu coração acelerou – de raiva? De
medo? Depois de um tempo, ela olhou para baixo.
“Porque o engarrafamento ontem à noite?” ela perguntou sem me olhar nos olhos.
“Eu achei que você tinha que fingir que eu não existo, sem me irritar até a morte.”
Ainda muito brava. Ia me custar algum esforço para fazer as coisas ficarem certas
com ela. Eu me lembrei de minha solução, de ser sincero com ela...
“Foi pelo bem do Tyler, não meu. Eu tive que dar a ele uma chance.” E então eu ri,
sem poder me conter, da expressão que ela tinha feito ontem.
“Você –” ela ofegou, e então cortou, parecendo furiosa demais para terminar. Ali
estava – a mesma expressão. Eu dei outra risada. Ela já estava brava demais.
“E eu não estou fingindo que você não existe.” Eu conclui. Era melhor manter isso
casual, provocador. Ela não entenderia se soubesse como eu realmente me sentia. Eu a
assustaria. Eu teria de manter meus sentimentos escondidos...
“Então você está tentando me irritar até a morte? Já que a van de Tyler não fez o
trabalho completo?”
Um pequeno lapso de raiva passou por mim. Ela sinceramente acreditava nisso?
Era irracional para mim, ser tão importunado – ela não sabia da transformação que
havia ocorrido naquela noite. Mas eu estava bravo mesmo assim.
“Bella, você é completamente absurda.” Eu disse.
Seu rosto nivelou, e ela deu as costas para mim. Ela começou a ir embora.
Remorso. Minha raiva não fazia sentido.
“Espere,” eu implorei.
Ela não parou, então eu a segui.
“Me desculpe, eu fui grosso. Eu não vou negar que é verdade” - era absurdo
imaginar que eu a queria prejudicar de algum modo – “mas foi rude dizer, de qualquer
modo.”
“Porque você não me deixa em paz?”
Acredite em mim, eu queria dizer, eu tentei.
Ah, e outra, eu estou irrevogavelmente apaixonado por você.
Esconder os sentimentos.
“Eu queria te perguntar uma coisa, mas você me distraiu.” Um lapso de ação me
ocorreu, e eu ri.
“Você tem distúrbio de múltipla personalidade?” ela perguntou.
Parecia que sim. Meu humor estava irregular, então muitas emoções se passavam
por mim.
“Você está fazendo de novo,” eu apontei.
Ela suspirou. “Tudo bem. O que você quer perguntar?”
“Eu queria saber se, a uma semana de sábado...” eu assisti o choque cruzar seu
rosto, e então ri de novo. “Você sabe, o dia do baile de primavera –”
Ela me cortou, finalmente me olhando de volta. “Você está tentando ser
engraçado?”
Sim. “Você pode me deixar terminar?”
Ela esperou em silêncio, seus dentes pressionando levemente seu lábio inferior.
Aquele suspiro me distraiu por um minuto. Estranhas, não familiares reações
mexeram com o meu esquecido coração humano. Eu tentei dissipá-los para que eu pudesse
interpretar meu papel.
“Eu ouvi você dizer que você iria para Seattle no dia, e eu estava me perguntando se
você queria uma carona” eu ofereci. Eu percebi que, além de perguntá-la sobre seus planos,
eu poderia fazer parte deles.
Ela me olhou, surpresa. “O quê?”
“Você quer uma carona até Seattle?” Sozinho num carro com ela – minha garganta
queimou com o pensamento. Eu respirei profundamente. Se acostume com isso.
“Com quem?” ela perguntou, seus olhos arregalados e confusos novamente.
“Eu, óbvio.” Eu disse lentamente.
“Por quê?”
Será que era mesmo tão chocante o fato de eu querer sua companhia? Ela deve ter
interpretado meu comportamento da pior maneira possível.
“Bom,” eu disse o mais casual que eu pude, “eu estava planejando ir para Seattle
nas próximas semanas, e, pra ser honesto, eu não sei se sua caminhonete agüenta.” Parecia
melhor provocá-la do que me permitir ser sério.
“Minha caminhonete funciona perfeitamente, obrigada pela preocupação,” ela disse
no mesmo tom surpreso. Ela começou a andar de novo. Eu a acompanhei.
Ela não tinha recusado, então eu pressionei essa vantagem.
Será que ela iria recusar? O que eu faria se ela recusasse?
“Mas será que sua caminhonete chega lá com apenas um tanque?”
“Eu não vejo como isso pode ser da sua conta,” ela resmungou.
Isso ainda não era um não. E seu coração estava batendo rápido de novo, sua
respiração saindo mais apressada.
“O desperdício de recursos não renováveis são da conta de todos.”
“Honestamente, Edward, eu não te entendo. Eu achei que você não queria ser meu
amigo.”
Um arrepio passou por mim quando ela disse meu nome.
Como esconder meus sentimentos e ser honesto ao mesmo tempo? Bom, era mais
importante ser honesto. Especialmente sobre isso.
“Eu disse que seria melhor se nós não fossemos amigos, não que eu não queria ser.”
“Ah, claro, isso esclarece tudo,” ela disse sarcasticamente.
Ela parou debaixo do teto da cafeteria e encontrou com o meu olhar novamente. As
batidas de seu coração dispararam. Ela tinha medo?
Eu escolhi minhas palavras com cuidado. Não, eu não poderia deixá-la, mas talvez
ela fosse esperta o suficiente para me deixar, antes que fosse tarde demais.
“Seria mais... prudente se você não fosse minha amiga.” Olhando para o profundo
chocolate derretido de seus olhos, eu esqueci de esconder. “Mas eu já me cansei de tentar
ficar longe de você, Bella.” As palavras saíram com muito fervor.
Sua respiração parou e, no segundo que levou para que recomeçasse, eu fiquei
preocupado. O quanto eu teria a assustado? Bom, eu descobriria.
“Você quer ir comigo para Seattle?” eu exigi, vazio.
Ela acenou que sim com a cabeça, seu coração pulsando alto.
Sim. Ela me disse sim.
E então a consciência bateu em mim. O quanto isso custaria a ela?
“Você realmente devia ficar longe de mim,” eu a avisei. Será que ela tinha me
ouvido? Será que ela escaparia o futuro com o qual eu a estava ameaçando? Será que eu
poderia fazer algo para salvá-la de mim?
Esconda seus sentimentos, eu gritei para mim mesmo. “Eu vejo você na aula.”
Eu tive de me concentrar para não correr enquanto fugia.

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