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Rodrigo Gredilha ¹,2 , Eduardo Ribeiro Paradela ²,3 , André Luís dos Santos Figueiredo ²,3
1 Fundação Oswaldo Cruz, Instituto Oswaldo Cruz Laboratório de Diptera.
2 DNA Forense – Peritos Associados e Análises Laboratoriais LTDA.
3 Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) – Laboratório VINGENE.
1. Introdução
Atualmente a tecnologia encontrase a disposição da justiça como ferramenta de
auxílio à investigação de crimes através da mão de obra técnica especializada e de
equipamentos científicos de precisão. Desta forma, a ciência passou a ser capaz de fornecer
dados suficientes para indicar vestígios de um crime e supostos criminosos. Entre as
diversas áreas de pesquisa forense, a entomologia vem nas últimas duas décadas
despertando o interesse de peritos e pessoas ligadas a instituições judiciais devido ao fato
de existir uma relação íntima entre esse estudo e as técnicas de investigação em diferentes
casos de morte.
A Entomologia Forense é considerada a ciência aplicada ao estudo dos insetos,
ácaros e outros artrópodes em procedimentos legais. A primeira aplicação da entomologia
forense citada em manuais de medicina legal referese como ocorrida em 1235, na China,
baseado em um manual chinês da autoria de Sung Tzu, intitulado “The washing away of
wrongs”, onde ele citou um caso de homicídio perpetrado com uso de instrumento de ação
cortocontundente, no qual os investigadores, à procura de vestígios na redondeza
encontraram uma foice com moscas sobrevoando ao seu redor, provavelmente pela atração
dos odores exalados de substâncias orgânicas aderidas a lâmina, imperceptíveis a olho nu.
Tal fato desencadeou um interrogatório realizado pela polícia ao proprietário da foice,
levandoo posteriormente a confessar a autoria do crime (OliveiraCosta 2003).
Contudo, essa ciência tornouse mundialmente conhecida somente após 1894, com a
publicação na França do livro “La faune des cadavres” de Mégnin. Os estudos que
resultaram neste livro ainda hoje são utilizados como padrão para os achados de insetos
cadavéricos que se sucedem de modo previsível no processo de decomposição. Contudo,
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esses dados não podem ser aplicados ao Brasil, visto que o clima tropical conduz a um
processo de decomposição mais acelerado em relação ao clima europeu, além das diversas
espécies de insetos que existem no velho mundo (África, Ásia, Europa e Oceania) não
ocorrem no continente americano e viceversa. Esses fatos, portanto se analisados
geograficamente, limitam o estudo correlativo da entomologia forense, embora não queiram
dizer que as metodologias utilizadas devam ser diferentes, ao contrário, diversas técnicas
específicas e padronizadas internacionalmente estão envolvidas para que se possa obter
sucesso nos resultados para fins forenses, principalmente no que se refere ao quadro
policial, na cena do crime. A equipe envolvida nas investigações bem como a conduta
adequada do entomologista são fatores precursores de uma metodologia eficiente (Oliveira
Costa e Lopes 2000, Nortueva 1977).
A fauna entomológica cadavérica no Brasil apresenta uma ampla diversidade de
espécies que se sucedem na carcaça, pois o processo de decomposição oferece condições
ideais ao desenvolvimento (Hobson 1932, Keh 1985). Os estudos em entomologia forense
no Brasil indicam as moscas como os insetos de maior interesse na área, provavelmente
pela diversidade deste grupo em regiões tropicais e sobre tudo pela grande atratividade que
a matéria orgânica em decomposição exerce sobre esses insetos adultos ou larvas,
influenciando no comportamento e dinâmica populacional das várias espécies em nichos
ecológicamente distintos. Os besouros, grupo de insetos pertencentes à ordem Coleoptera,
são o segundo grupo de insetos de maior interesse forense no Brasil, sendo encontrados nas
carcaças tanto em sua fase adulta de desenvolvimento, quanto na fase imatura (larvas)
(Carvalho et al 2000, Barbosa et al 2006). Os insetos associados a cadáveres estão ainda
classificados segundo Keh (1985) da seguinte maneira:
Necrófagos: São determinados insetos imaturos e/ou adultos na sua grande maioria
moscas e besouros (Dípteros Muscóides e Colópteros) que se alimentam de tecido em
decomposição;
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Ominívoros: Insetos com uma dieta alimentar ampla, tanto dos corpos quanto da
fauna associada. Formigas e vespas (Himenópteros) e alguns besouros;
Acidentais: São insetos que se encontram ao acaso no cadáver, explicado muitas
vezes pela freqüência como ocorrem naturalmente em determinadas áreas ecológicas.
Aranhas, centopéias, ácaros e outros artrópodes são exemplos de animais pertencentes a
esta classificação.
2. Aplicações Legais da Entomologia Forense
A entomologia é utilizada em investigação de tráfico de entorpecentes, maus tratos,
danos em bens imóveis, contaminação de materiais e produtos estocados ou morte violenta,
entre inúmeros outros casos que se apresentam no âmbito judicial. Países desenvolvidos
que possuem centros de investigação reconhecidos internacionalmente, como exemplo o
Federal Bureal of Investigation (FBI) nos Estados Unidos da América, já possuem uma
linha de pesquisa em perícia entomológica, seja realizado em parceria com pesquisadores
de universidades ou laboratórios especializados.
Os conhecimentos entomológicos podem servir de auxílio para revelar o modo e a
localização da morte do indivíduo, além de estimar o tempo de morte ou intervalo pós
mortem (IPM). O conhecimento da fauna de insetos, biologia e comportamento também
podem determinar o local onde a morte ocorreu. Por exemplo, algumas espécies de moscas
são encontradas em centros urbanos e diante deste fato, a associação dessas espécies em
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corpos, encontrados nas áreas rurais, sugerem que a execução do crime não tenha ocorrido
no local onde o corpo foi achado (Wade e Trozzi 2003).
2.1 Aplicações nos casos de morte natural, acidental ou criminal.
OliveiraCosta (2003) cita que a diagnose diferencial da causa jurídica da morte não
é uma tarefa fácil, portanto, somente com conhecimentos entomológicos, difilcilmente
conseguiremos concluila. Entretanto certas considerações auxiliam o rumo correto a ser
seguido. Drogas presentes no cadáver podem indicar uma dose por ingestão letal dessas
substâncias (“over dose”), uma vez que as mesmas interferem no processo de
desenvolvimento dos insetos necrófagos. Cocaína, heroína, “metanfetamina”,
“amitriptilina” e outros narcóticos têm mostrado efeitos adversos que interferem na
velocidade de crescimento das formas imaturas de alguns insetos e também de maneira
intrínseca no processo de decomposição cadavérica. A presença de certas substâncias no
corpo, tais como organofosforados, carbamatos sistêmicos, arseniato de chumbo e
piretroides impedem a colonização de determinados de insetos necrófagos (Leclerq &
Vaillant 1992, OliveiraCosta e Lopes 2000).
2.2 Aplicações nos casos de entorpecentes.
As drogas não sintéticas, comercializadas ilgalmente através da manipulação dos
produtos naturais cultivados ou pertencentes a áreas de extrativismo são acompanhadas de
sua fauna entomológica associada. Como exemplo a identificação de origem da Cannabis
sativa (maconha), com base nos insetos encontrados, que no momento da prensagem do
vegetal, ficaram retidos, traçando a rota do tráfico através da sua distribuição geográfica
(Crosby et al., 1985).
2.3 Aplicação nos casos de contaminação de materiais e produtos estocáveis.
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A presença de insetos em produtos industrializados pode indicar falha no processo
de fabricação ou erros no armazenamento da matéria prima. Esta negligência pode levar
determinados produtos a um nível de infestação consideravelmente perigoso à saúde
humana ou animal, devido ao fato dos insetos carrearem em suas patas, aparelho bucal, e
nos seus excrementos agentes patogênicos de grande importância em saúde pública como
bactérias, fungos e virus (Gredilha et al., 2007; Mello et al 2004; Prado et al; Oliveira et al
2002).
Gredilha et al., 2005 citam que alguns dos insetos encontrados em rações industriais
vendidas em lojas especializadas na cidade do Rio de Janeiro alimentamse das proteínas
contidas nas rações peletilizadas, causando esfarelamento das mesmas diminuindo assim,
os componentes nutricionais indicados nas embalagens. Os alimentos comercializados em
feiras livres e estabelecimentos comerciais podem ser facilmente alvos de insetos, haja vista
o fato da exposição desses produtos, do mau acondicionamento, higiene inadequada dos
manipuladores e principalmente da ineficiência no sistema de fiscalização e vigilância
sanitária, acarretando em possíveis casos de toxiinfecções alimentares que em determinados
indivíduos o agravamento dos sintomas aliados a não realização do atendimento
emergencial levam ao óbito (GuimarãesNeto et al. 2005; Greenberg 1973; Norberg 1999
Tan et al. 1997).
3. O DNA e a Entomologia Forense
Ainda são recentes as aplicações das metodologias existentes no campo da biologia
molecular quanto aos estudos dos insetos, as técnicas moleculares mais difundidas são
utilizadas principalmente na área de sistemática, taxonomia, filogenia e estudos
populacionais de insetos. Na entomologia forense os avanços de técnicas moleculares estão
concentrados na utilização da PCR, com a vantagem de recuperar a identidade do inseto
através de qualquer vestígio morfológico de suas fases do ciclo de vida, seja o ovo, a larva a
pupa ou partes fragmentadas de um adulto.
Os métodos que combinam outras técnicas, como PCRRFLP (reação em cadeia de
polimerasepolimorfismo por comprimento do fragmento de restrição), cromatografia para
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análise de substâncias tóxicas nos insetos têm sido amplamente utilizado para a
identificação de espécies de importância forense (Sperling et al., 1994).
Adicionalmente, alguns estudos demostraram ser possível retirar e identifica DNA
humano a partir de extratos do trato digestivo de larvas decompositoras (Zehner et al.,
2004). Tal aplicação mostrouse útil na resolução de casos envolvendo a identificação de
cadáveres em estado de decomposição.
4. Considerações Finais
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