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Resumo
O trabalho analisa os impactos, diretos e indiretos, da globalização na atividade de construção de
edifícios e na sua cadeia produtiva, colocando em perspectiva o papel que a abertura econômica e a
modernização tecnológica desempenha na indústria de construção. Também é investigando como atual
conjuntura econômica e as mudanças culturais no mercado consumidor brasileiro, atreladas ao
processo de globalização, acabam repercutindo no setor de construção.
Palavras-chaves: construção de edifícios, cadeia produtiva da construção, globalização
Abstract
This paper analyses the impacts of the globalisation in the building construction industry and in its
productive chain. It focuses on the role that the economic aperture and the technological
modernisation plays in the industry of construction. It also investigates how the current economic
conjuncture and the cultural changes in the Brazilian consuming market, linked to the globalisation
process, affect the construction sector.
Key-words: building construction, supplay chain, globalisation
1. Introdução
A economia brasileira experimentou na década de noventa um significativo processo de abertura
econômica (com a redução das barreiras as importações) e de estabilização da moeda que abriram
caminho para entrada do país no processo de globalização.
Os efeitos da globalização na economia são expressos pelo extraordinário crescimento dos produtos
importados no mercado doméstico e pela proliferação de investimentos estrangeiros na economia
nacional. Tais investimentos têm provocado um processo de desnacionalização de inúmeras empresas,
ao mesmo tempo que viabiliza uma considerável modernização tecnológica em alguns setores
industriais como os de telecomunicações e automobilístico. Por outro lado, a entrada do país na
globalização ao mesmo tempo que abre espaço para a entrada de importantes investimentos
trasnacionais, também vincula os mercados nacionais, mais estreitamente, aos acontecimentos e
instabilidades externas. Outros acontecimentos típicas do processo de globalização como a fusão de
empresas e a desconcentração regional da indústria, também, surgem como fatos novos no país.
Assim, de qualquer ponto de vista que se enfoque a indústria nacional (econômico, financeiro,
tecnológico, de localização, do mercado consumidor, de emprego e recursos humanos, etc.) é possível
identificar nítidas repercussões associadas ao processo de globalização. Entretanto, essa influência não
se dá de maneira homogênea e linear nos vários setores industriais. As especificidades e características
próprias de cada setor tem um importante papel na configuração das empresas a na delimitação do
papel da globalização nestas empresas e no setor como um todo.
O presente trabalho faz reflexões sobre os impactos diretos e indiretos da globalização no setor de
construção de edifícios e na sua cadeia produtiva, colocando em perspectiva o papel que a abertura
econômica e a modernização tecnológica desempenha na indústria de construção e como as mudanças
culturais no mercado comsumidor brasileiro acabam repercutindo no setor de construção. É analisado
principalmente a atividade de construção e incorporação de edifícios, cuja produção é destinada a
venda de apartamentos e outros tipos de imóveis para clientes individuais privados, não se
considerando a produção sobre encomenda e a promoção pública que cumpre um caracter muito mais
social, nos quais as regras de mercado não podem ser aplicadas.
2. Características e peculiaridades do empreendimento de construção frente as pressões de
globalização
O empreendimento de construção de edifícios é bastante complexo, envolvendo a participação de
diversos agentes com objetivos, portes empresarias e tecnologia incorporada bastante diverso. Num
empreendimento típico de promoção e construção de edifícios pode-se contabilizar a participação dos
empreendedores/incorporadores, de agentes financeiros, das construtoras, dos fornecedores de
materiais e componentes, de serviços subempreitados de obra e dos serviços de planejamento e de
projeto, todos com significativas interferências e responsabilidades.
Por outro lado, características próprias do produto como o longo período de produção do edifícios e a
importância fundiária dão um caráter singular ao produto edifício e ao seu processo produtivo.
Diferentemente de outros produtos, o edifício é constituída não só dos atributos fabricados mas
também do terreno na qual está implantada, ou seja, o preço e a qualidade do empreendimento
imobiliário estão, sobre maneira, vinculados à localização do imóvel (padrão sócio - econômico do
bairro/entorno) e às condições da infra-estrutura e equipamentos urbanos disponíveis na proximidade
(pavimentação; redes de água, luz, telefone; proximidade de escolas; hospitais; comércio; etc.).
Diante da dependência fundiária da atividade de construção parte substancial dos rendimentos advém
do negócio imobiliário - chamado tributo fundiár- LIPIETZ (1982). Assim, a importância do terreno
urbano e das atividades de incorporação (atividades não produtivas) é relativamente expressiva quando
comparadas com a atividade de produção (construção) propriamente.
A necessidade de buscar terrenos bem localizados na malha urbana (para o lançamento de novos
empreendimentos), inibe ainda a atuação de empreendedores externos (de outras regiões ou cidades)
que encontram dificuldades em associarem-se aos proprietários de terra locais; além de não
conhecerem as características e tendências do mercado imobiliário nitidamente regional.
Somado às “barreiras” para a incorporação de edifícios em regiões estranhas ao empreendedor; à
necessidade de adaptar o produto (edifício) às características topográficas, geológicas e climáticas
própria de cada terreno e, às particularidades da legislação de uso e ocupação do solo, em cada cidade;
vão surgir sérias limitações para a padronização e para a ampliação das escalas de produção; inibindo
a expansão (externamente a região de atuação) e o crescimento das empresas de construção e,
dificultando a entrada de empresas estrangeiras no mercado nacional de construção de edifícios.
Assim, a indústria de construção de edifícios é altamente fragmentada, com a participação de uma
infinidade de pequenas e médias empresas espalhadas pelas várias cidades e regiões brasileira e são
rara as construtoras de maior porte que atuam no setor. Com isso, nenhuma empresa construtora
consegue exercer força suficiente para influenciar o mercado de edifícios.
De fato, apesar da existência de algumas filiais de empresas de construção estrangeiras operando no
setor, estas concentram-se no mercado de grandes empreendimentos, em especial empreendimentos
comerciais e industriais, não exercendo um papel significativo no mercado de massa de edifícios.
Além disso, a aquisição ou fusão de construtoras nacionais com estrangeiros é um fenômeno
praticamente inexistente no país.
Outras características diferenciais e bastante significativas do produto edificação, referem-se à
complexidade do produto que demanda significativas quantidades de capitais e de tempo para sua
execução; além do preço relativamente elevado do produto implicar em importantes restrições a
aquisição de imóveis pelos clientes através de pagamento à vista ou em reduzido número prestações,
fazendo com que os negócios, no setor, necessitem de financiamentos de longo prazo para serem
viabilizados.
Com a necessidade de financiamentos de longa duração, quer para a produção, quer para permitir a
aquisição do produto, os custos financeiros são bastante significativos e a existência de linhas de
crédito adequadas - com baixas taxas e longos prazos -, desempenham um papel preponderante na
atividade do setor de construção imobiliária em todo o mudo.
Dessa forma, a entrada de capital internacional para financiar a produção de edifícios nacional é
potencialmente importante uma vez que as reduzidas taxas de poupança interna dificultam a
disposição de recursos necessários para o financiamento das demandas nacionais por novos edifícios,
em especial habitacionais. Entretanto, três dificuldades principais limitam a entrada de capital
internacional para esta finalidade.
Primeiramente, a maior parte da demanda reprimida concentra-se nas camadas mais populares da
sociedade onde não existe sovabilidade suficientes para atrair os investidores. Em segundo lugar,
mesmo para a população de classe média, as altas taxas de juros praticadas no país são proibitivas à
realização de empréstimos a longo prazo com taxas de mercado. Por fim, as condições de instabilidade
dos empréstimos imobiliários, associadas as fragilidade estruturais da economia brasileira e as
dificuldades em executar devedores e reaver os imóveis financiados no âmbito do Sistema Financeiro
da Habitação.
Recentemente, o governo brasileiro instituiu o sistema alternativo de financiamento imobiliário SFI
(Sistema Financeiro Imobiliário) que permite uma maior agilidade na retomada de imóveis dos
mutuários inadimplentes, ampliando as garantias dos investidores, além de permitir que os papeis das
dívidas do sistema sejam negociados no mercado secundário. Apesar da maior atratividade do SFI
para os investidores, as condições de instabilidade e de alta taxas de juros não permitiram, ainda, a
decolada do sistema e a entrada significativa de capital estrangeiro para o financiamento imobiliário.
Embora, exista por parte de grandes e médios escritórios de projetos brasileiros um crescente temor
quanto a possibilidade de entrada no mercado nacional de concorrentes estrangeiros, as evidências
atuais, mostram uma participação muito limitada de escritórios estrangeiros no país. Por sua vez, a
conquista de mercados estrangeiros por escritórios de projeto e engenharia de edifícios brasileiros é
também bastante limitada e não aparece como uma estratégia dos escritórios de projetos nacionais que
orientam sua atuação para o mercado doméstico, na grande maioria, concentrado-se na sua cidade ou
região.
Uma maior internacionalização dos escritórios e empresas de projeto e engenharia é desestimulam
pela existência de uma série de condicionantes regionais à atividade de construção de edifícios, como
as diferentes condições climáticas e de tipologias construtivas de cada país, as normas técnicas
nacionais, as práticas construtivas próprias, etc. Assim, a internacionalização da atividade de projeto e
engenharia de edificações demanda um trabalho prévio de unificação de normas e requisitos
construtivos nacionais. Essa aproximação de requisitos e regulamentações pode ser percebida mais
intensamente em mercados comuns mais maduros como a União Européia, onde existe um trabalho
aproximação e unificação das práticas e normas nacionais (BAZIN, 1998), no entanto, no Mercosul,
embora possa-se prever o crescimento do intercâmbio dentro da indústria de construção, os resultados
da integração ainda não se refletem consideravelmente na atividade de construção e projetos de
edifícios.
5. Conclusões
A indústria de construção de edifícios vêm enfrentando nas duas últimas décadas um importante e
complexo processo de transformação das condições economia nacionais e da estrutura competitiva do
setor. Tais mudanças apontam para um importante incremento da competitividade entre empresas e
para a valorização do papel do cliente como foco para os empreendimentos de edificações.
Em parte, essas transformações estão ligadas ao contexto econômico brasileiro que vêm sofrendo
profundas mudanças em virtude da abertura econômica e da estabilização da moeda, impondo as
indústrias brasileiras ou instaladas no país um vigoroso processo de reestruturação produtiva visando
atender as novas condições de competitivas do mercado nacional e global.
Essa reestruturação pode ser observada na maioria dos setores indústrias que, embora apresentem
dificuldades e peculiaridades próprias, enfrentam a necessidade de ampliação da produtividade e da
competitividade frente as demandas dos clientes.
Embora, sejam fruto de dinâmicas de mudanças distintas (e em determinados pontos interconectadas);
o fato é que, tanto a indústria manufatureira, como a indústria de construção brasileira, encontram-se
num contexto de busca por maiores patamares de eficiência produtiva, de qualidade de produtos e de
agilidade de adaptação às mudanças de mercado.
Na indústria manufatureira, o impacto da globalização econômica e produtiva, com a eliminação de
barreiras e redução de impostos na importação de bens manufaturados e a entrada de novos
competidores (empresas que instalam-se ou ampliam sua participação no mercado nacional), tem
exposto as empresas à concorrência dos produtos importados e de novos concorrentes que se instalam
no país, impulsionando, vigorosamente, as exigências em relação à preços (em queda) e à qualidade
(em alta); além de provocar profundas transformações e questionamentos em relação à estrutura
industrial brasileira, que podem ser ilustradas pelo crescente fenômeno de privatizações, aquisição e
fusões de empresas nacionais com empresas maiores (em geral, estrangeiras) e pela pressão no sentido
de redução nos custos estruturais da economia brasileira.
Na construção, por outro lado, as dinâmicas de mudança, embora atreladas as macro-alterações por
que passa a realidade sócio-econômica brasileira (cada vez mais influenciada pelo contexto global),
surgem muito mais de alterações internas ao país do que de efeitos diretos da globalização
(concorrência com produtos e empresas internacionais).
Pode-se concluir que, na construção de edifícios, estrito senso, as dinâmicas de mudança são ditadas
por alterações internas ao setor. A escassez de financiamentos habitacionais no final da década de 80 e
início da de 90, as pressões por maior transparência nos contratos públicos e as alterações nas
condições trabalhistas e disponibilidade de mão-de-obra, contribuíram decisivamente para o aumento
da competição no setor (FARAH, 1992; CARDOSO, 1996; SOUZA, 1997).
Diante das profundas mudanças na conjuntura setorial as empresas do setor vêm sendo pressionadas a
alterarem seus processos de produção no sentido de cortar custos e a adequar a realidade dos produtos
ofertados as condições de mercado.
Tais rearranjos nas lógicas de posicionamento das empresas frente ao mercado acabam primeiramente
deslocando o foco da busca de competitividade das atividades imobiliárias a necessidade de ganhar
eficiência produtiva, desencadeando um processo de alterações organizacionais e tecnológicas nas
construtoras.
Assim, mesmo que se possa verificar influencias da globalização na cadeia de fornecedores da
construção de edifícios, como a crescente importação de equipamentos e materiais de construção e a
penetração de projetistas estrangeiros em determinados segmentos do mercado de edifícios, os
impactos destas podem ser considerados marginais quando comparado a inúmeros outros setores da
indústria seriada (como o setor automobilístico e de auto peças, químico, micro-eletrônico, têxtil, etc.)
uma vez que a atividade central da indústria - construção e comercialização de edifícios - permanece
essencialmente dominada por empresas de capital nacional, com mão-de-obra brasileira e utilizando
tecnologia produtiva predominantemente nacional ou rapidamente incorporada a base tecnológica do
país.
Na cadeia produtiva do setor, os impactos da globalização afetam mais diretamente os grandes
industriais fornecedores de materiais e equipamentos que operam no país, em relação as demais
empresas envolvidas nesta cadeia. E, as empresas de construção de subempreita e de projetos tem
relativamente pouco a temer com a globalização, ao mesmo tempo em que, não apresentam
perspectivas consistentes para exploração de mercados internacionais, permanecendo relativamente
hermético a globalização.
Por fim, embora os impactos diretos da globalização no setor de construção podem ser considerados,
relativamente a outros setores, marginais, a influência indireta, atrelada a reestruturação econômica e
do mercado nacional, têm importantes repercussões no setor de construção e tem contribuído
decisivamente à sua modernização.
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